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A MULHER PERIFÉRICA E O ATRAVESSAMENTO DE SUAS LUTAS NO DEBATE FEMINISTA DENTRO DO ESPAÇO VIRTUAL FERNANDA NUNES

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO 
Programa da Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana 
 
 
 
 
 
 
 
A MULHER PERIFÉRICA E O ATRAVESSAMENTO DE SUAS LUTAS NO DEBATE 
FEMINISTA DENTRO DO ESPAÇO VIRTUAL. 
 
 
 
 
FERNANDA NUNES MACHADO 
 
 
 
 
Orientador: Profª Drª Giovanna Marafon 
 
Linha de Pesquisa: Formação Humana e 
Cidadania 
 
 
 
 
 
 
2018 
RESUMO 
 
Através de análise histórica, dados factuais e da bibliografia disponível, podemos notar como 
os espaços de discussão se alteram no que se refere à visão da vivência nas periferias urbanas e 
das comunidades que ali surgiram. No que se refere à vivência da mulher periférica, torna-se 
ainda mais específica quais são as problematizações e as referências que se utilizam. Os reflexos 
da antítese entre novos discursos, pautados por certa capilaridade promovida pelas ferramentas 
virtuais - ditas novas mídias -, e os velhos discursos que caracterizam estigmas sociais 
cooptados pelo status quo, também fazem parte dos fenômenos investigados pela pesquisa 
proposta. Serão apresentados tais fenômenos a partir de abordagens tanto teóricas quanto 
empíricas, refletindo sobre os impactos provocados pelo discurso feminista, sua interação com 
o ciberespaço, e sua relação com as pautas da mulher periférica. Do ponto de vista teórico, esta 
pesquisa se apoia nas teorias que estruturam as formações sociais, nas teorias de raça, atravessa 
as teorias de gênero, bem como busca entender a cultura das comunidades virtuais para traçar 
resultados que analisem a convergência desses tópicos de maneira a justificar seus problemas e 
encontrar soluções. 
 
Palavras-chave: mulher periférica; mulher negra; gênero; raça; feminismo; cibercultura; 
ciberativismo. 
 
INTRODUÇÃO 
 
Para falar da mulher periférica, precisamos compreender a periferia e suas 
particularidades. Onde surgiu, quando e por qual razão, quais são as pessoas que ali habitam. 
Há de se convocar os fatos históricos na tentativa de compreender a partir de qual cenário se 
formaram as tendências contemporâneas de ideias e de lugar na sociedade e na cidade. 
A favela exerce um papel essencial para a cidade: geográfico, econômico, social e 
político. Ela é parte da cidade, embora historicamente tenha sido recusada sua existência devido 
a sua imagem negativa, sinônimo de insegurança e violência. Essa visão homogeneizadora e o 
discurso voltado quase que exclusivamente para as ausências, corroboram com a imagem 
construída de não reconhecimento do morador de favela como um agente ativo e atuante, 
inserido no tempo e no espaço da cidade — portanto, cidadão sujeito de direitos. 
(FERNANDES, 2009). 
No contexto humano da periferia, há de se notar a prevalência de características que 
compartilham abandono e exclusão histórica, através de mecanismos engendrados na lógica 
que aduba as desigualdades sociais, e, por sua vez, também étnicas. O povo periférico descende 
do apartheid de raças residual de séculos de escravidão. Sob essa ótica também se constroem 
as mulheridades periféricas, visto que a periferia predomina do povo negro. 
É nesse contexto que se faz necessário voltar o olhar para a experiência da mulher negra 
dentro da sociedade, suas limitações, suas lutas e suas necessidades específicas, dessa maneira 
pode-se compreender seu lugar no universo periférico ao qual se delimita essa pesquisa. 
Também é importante olharmos para como os estudos de gênero e a militância remanescente 
dele tratam a questão da mulher negra, e, por fim, da mulher periférica. 
Compreendendo que o feminismo é um movimento que luta pelos direitos das mulheres, 
bem como combate às desigualdades de gênero institucionalizadas na sociedade, discutindo a 
participação social da mulher, além das complexificações provenientes dessas discussões 
primárias. Este movimento, que tem raízes na revolução francesa, buscou bases no iluminismo 
e adquiriu um caráter emancipacionista profundo, vem quebrando barreiras e se aprofundando 
no debate da representação da mulher e do feminino na sociedade, em diversas instâncias. Num 
contexto atual, essa militância, que sobreviveu a muitos altos e baixos, vem se adequando a 
linguagem e às ferramentas que foram sendo implementadas ao longo da história mais recentes. 
Em tempos de globalização, muito se fala sobre a fundamentalidade da integração dos 
debates sociais e as novas tecnologias de informação e comunicação. A partir dos anos 70, o 
movimento feminista, seguindo o fluxo das ideias de engajamento possibilitada pelo 
encurtamento das distâncias que as ferramentas virtuais propõem, se engaja nessa integração 
entre a militância e as novas tecnologias. 
A internet, ferramenta mais relevante dessas tecnologias, de forma clara tem potencial 
de colaborar na promoção de certas discussões, bem como na participação da construção de um 
pensamento crítico sobre o mundo contemporâneo, estimulando o debate quanto a temas 
criados e pertencentes a ela e trazendo pautas do mundo não virtual de forma relativamente 
mais democrática, pois todos que a ela têm acesso, terão oportunidade de se expressar e de 
formular opiniões sobre os assuntos que lhe interessarem, e este acontecimento nos direciona a 
uma série de questões que passam por profundas transformações na atualidade. 
A partir desse direcionamento, torna-se necessário saber se essas pautas discutidas pelo 
movimento feminista contemplam o perfil dessas mulheres de luta histórica e simbólica, 
delimitado dentro dessa pesquisa, bem como de que forma isso acontece ou necessita acontecer. 
Investigaremos também se essas mulheres se inserem e tem acesso ou não as plataformas 
informatizadas que a noção contemporânea de aldeia global¹ dispõe dentro dos debates de 
gênero, ou mesmo se, frente às urgências específicas das mulheres periféricas, essa é uma pauta 
pertinente e relevante. 
Como justificativa deste trabalho dentro da linha de pesquisa de formação humana e 
cidadania, nota-se a necessidade de preencher lacunas acadêmicas a respeito de um objeto de 
estudo pouco explorado nas literaturas concretas a respeito do atravessamento das questões das 
mulheres periféricas entre a militância feminista e as plataformas de debate do século XXI. 
Acredita-se que o enriquecimento de campo de estudo contribuirá tanto para a cadeia 
de pesquisas humanas e das reflexões acerca das críticas necessárias para o mover estrutural 
sobre as ideias de igualdade social, de gênero e raça, quanto para o arcabouço intelectual de 
recursos para a compreensão de realidades que historicamente são colocadas à margem da 
sociedade. 
Portanto, entende-se que há relevância e necessidade de elucidação dos temas em 
discussão para a academia. 
 
EXPOSIÇÃO DO TEMA E REFERÊNCIAS TEÓRICAS 
 
No Brasil, o crescimento vertiginoso das favelas pode-se relacionar diretamente ao 
processo de urbanização internamente ligado aos momentos de intensa industrialização que se 
viveu particularmente nas décadas de 50 a 70. Entretanto, as favelas surgem em momento muito 
anterior ao de concentração urbana no país. De acordo com Rocha (2010), a favela que emerge 
no fim do século XX, antes da abolição da escravidão, acontece devido à desterritorialização 
dos negros alforriados por terem combatido na Guerra do Paraguai (1865-1870), que não tinham 
para onde ir nem para onde voltar e passaram a residir nos morros. 
O nome “favela” surge em primeira instância buscando representar a aglomeração de 
casebres em locais sem infraestrutura. Deve-se isso ao fato dos ex-combatentes da Guerra de 
Canudos, perto de 1895, terem ocupado o Morro da Providência, que até hoje é consideradaa 
primeira favela do Rio de Janeiro, com o objetivo de pressionar o Ministério da Guerra a lhes 
pagar os soldos devidos. 
[...] Essa ocupação fez o Morro da Providência tornar-se conhecido como 
Morro da Favela, através das seguintes versões: a existência no Morro da 
Providência “da mesma vegetação que cobria o morro da Favella no 
Município de Monte Santo, na Bahia” e o papel representado na Guerra de 
Canudos “pelo morro da Favela de Monte Santo, cuja feroz resistência 
retardou o avanço final do exército da República sobre o arraial de Canudos” 
(Ibid.: p. 9). Posteriormente, sobretudo a partir dos anos 1920, os demais 
aglomerados de casas rústicas que surgiram em condições semelhantes às do 
Morro da Providência ou Morro da Favela passaram a ser denominados favela, 
cada uma com seu nome específico. (BANDEIRA, 2013, p. 6) 
 
Historicamente, é difícil falar da formação das favelas sem falar da abolição da 
escravatura e dos negros que, sem qualquer tipo de assistência ou perspectiva proposta pelo 
Estado, foram injetados nas ruas das cidades. Quando em 1888 a lei áurea foi assinada, e os 
negros deixaram de ser oficialmente escravos, com alguns dos poucos trabalhos temporários 
que os eram oferecidos com remuneração ínfima, eles conseguem “apropriar-se de uma parte 
do produto de seu trabalho, a qual lhe permitirá arcar com as despesas de sua própria 
manutenção”. (GOMES, 1990, p. 10). A partir dessa remuneração inadequada, os negros 
conseguiram ter acesso a moradia, ainda que em lugares afastados do centro, ou seja, nas regiões 
periféricas. 
Lojas, porões, cortiços, barracos construídos na periferia da cidade passam 
então a ser alternativas encontradas pelo escravo para construir um espaço de 
vida para si, independente do controle do senhor. [...] Além disto, o ganho 
ensejava ao cativo a possibilidade de gerir seu próprio tempo e seu ritmo de 
trabalho, permitindo também o reagrupamento daqueles que possuíam as 
mesmas origens étnicas e culturais. (GOMES, 1990, p.10) 
 
Na literatura que contextualiza esse projeto, de acordo com o artigo de Vinicius 
Bandeira (2013) “Favelas da cidade do Rio de Janeiro: uma síntese histórica e psicossocial.”, 
compreendemos que a favela não nasce da intenção ou do desejo em se formar uma comunidade 
marginalizada às cidades compreendidas como civilizadas. É sabido que, justamente por que 
dezenas, centenas e, com o tempo, milhares de pessoas não tinham condições econômicas de 
habitar nessa cidade dita civilizada, acabaram se vendo obrigadas a criar uma outra cidade para 
si: a cidade-favela. 
A princípio as favelas eram isoladas e não comportavam os mais básicos serviços 
públicos, sendo consideradas lugar vetor de marginalidade e criminalidade. Com o tempo, foi 
criando-se uma integração entre os moradores da favela e a cidade, principalmente através dos 
empregos subalternos que socialmente se destinavam à essas pessoas. Porém essa integração 
não indica que as necessidades dos moradores de favela estejam sendo atendidas, embora a 
intensidade das carências não seja a mesma que a das primeiras origens das favelas. 
Se remontarmos à origem das favelas, perceberemos que elas foram formadas 
por pessoas/famílias que não tiveram condições de se inserir na sociedade 
formal, pelo fato de não poderem comprar nem alugar um imóvel. Então, a 
opção compulsória foi ocupar terrenos, geralmente sem proprietários privados 
e quase sempre localizados em morros, com a finalidade de construir um 
imóvel em precárias condições, muitas vezes de madeira, zinco e/ou papelão; 
algumas vezes de alvenaria inacabada, sem pintura, instalação elétrica e 
esgoto, até pela falta de infraestrutura estatal para prover esses ocupantes de 
luz, água e esgotamento sanitário. Não obstante essa adversidade, as favelas 
têm sido uma oportunidade de sobrevivência para quem não pode viver na 
sociedade formal. Uma oportunidade levada a efeito pelos próprios ocupantes, 
sem ajuda estatal, e que se foi multiplicando ao longo das décadas. [...] A rigor, 
as favelas são, ao longo de décadas, produto de uma ausência contínua de 
políticas públicas em favor da população mais desfavorecida 
economicamente. São a marca mais gritante da brutal desigualdade 
socioeconômica que vem sendo uma constante na formação social brasileira. 
(BANDEIRA, 2013, p. 4-5) 
 
Dentro do espaço urbano, a favela foi se consolidando e concomitantemente entrando 
em contradição com a cidade do “asfalto”1. Ao mesmo tempo em que o poder público buscava 
controlar a existência das favelas sem maiores transtornos, as pessoas se organizavam para 
legitimar esse espaço de convivência. Mendes (2014) em “O uso contemporâneo da favela na 
cidade do Rio de Janeiro”, citando Gonçalves (2013) apresenta uma visão em que coloca que 
as particularidades das regras das favela se estabeleciam uma espécie modus vivendi que 
permitia a sobrevivência dessas áreas, e que parecia se encaixar com a política de tolerância 
adotada pelo poder público. 
Surgia assim uma condição em que moradores garantiam sua permanência 
dentro da cidade e que, ao mesmo tempo, o poder público poderia exercer seu 
controle sobre essa população, dispondo de uma margem de manobra que era 
estabelecida informalmente por esse pacto de convivência, e que poderia ser 
manipulada de acordo com os interesses de cada época, sem maiores 
transtornos e perdas para o poder público. Esse fator, portanto, ao mesmo 
tempo em que garante uma permanência, ainda que muito insegura, nas áreas 
de maior desenvolvimento urbano da cidade, está também na base da 
construção das fronteiras da segregação que conheceremos posteriormente. 
(MENDES, 2014, p, 40) 
 
Como bem levanta Telles (1999), a favela se torna uma paisagem pública incômoda de 
horizonte simbólico que expressa as questões sociais e projeta a pobreza, e termina por se 
estruturar ao redor as principais tramas sociais, sendo essa uma maneira de encarar a pobreza 
como algo externo a vida em sociedade, que não se conecta com os autores e suas 
responsabilidades. 
Sob a visão do status quo, pobres, negros(as) em sua maioria, carregados de estigmas 
relacionados à violência e falta de instrução; a imagem de subalternidade emerge de uma 
mentalidade ainda escrita em castas, mesmo que veladamente. É, por fim, um modo de imputar 
julgamentos éticos, deliberações políticas e ações responsáveis que preencham as lacunas que 
a sociedade prefere se colocar a parte. 
Ao falar da favela contemporânea, temos que permanecer ressaltando os resquícios 
históricos sob o qual elas foram construídas. A negritude abrangente no contingente humano 
da favela, espelha muito do que a sociedade contemporânea precisa historicamente superar mas, 
ao contrário disso, trata com paliativos. O racismo e o elitismo, seja ele sutil ou evidente, trata 
muito da formação do caráter público de grande parte dos moradores de favela, como podemos 
ver no texto de Jurandir Araújo (2014) em “Racismo, violência e direitos humanos: pontos para 
o debate.”: 
 
1 “Asfalto” é a forma como comumente moradores das periferias se referem às zonas urbanas fora das favelas, 
principalmente às privilegiadas sócio-economicamente. 
Nos bairros populares, nas favelas e nos lugares onde os serviços urbanos são 
mais deficientes a taxa de violência é expressivamente maior e atinge, 
principalmente, a população jovem, negra e pobre, a exemplo da taxa de 
homicídio, os índices de violência letal são maiores para os negros em 
comparação com os brancos. Portanto, no Brasil, a violência atinge com maior 
intensidade a população pobre, em particular, a população jovem, 
especificamentea juventude negra, vulnerável as desventuras que a vida lhe 
oferece. (ARAÚJO, 2014, p. 81) 
 
Atualmente, não se vive um consenso sobre o que é a favela. Muito além de 
compreender seu papel na estética urbana, ou as relevâncias que a elas são imputadas ou 
retiradas, há de se compreender que a multiplicidade de interpretações leva à necessidade de 
um mapeamento das definições culturais que permeiam seus moradores, e, levando em conta 
que as condições sociais, de instrução e de renda, entre os moradores das favelas são 
similares, o favorecimento da criação de relações interpessoais entre as pessoas que ali 
habitam, traçam uma importante noção de grupo e de cooperação dentro da sociedade 
estabelecida nas favelas. 
A favela propicia uma comunidade onde se pode contar com amigos e 
vizinhos para favores recíprocos; sempre existe alguém com quem deixar as 
crianças; há um vizinho com geladeira, onde o leite do bebê pode ser 
conservado fresco no verão; alguém tem uma máquina de costura para um 
conserto rápido. Além disso, é possível comprar mantimentos a crédito nos 
comerciantes locais (ainda que por preço mais alto), de maneira que,mesmo 
se o dinheiro faltar, é possível alimentar a família (PERLMAN, 1981, p. 236) 
 
Adiante, pensando na experiência da mulher nesse contexto de marginalização e 
exclusão que decai sobre as favelas, temos por Nilza Nunes (2017) em “Mulher de favela: 
atuação de um sujeito político no enfrentamento às múltiplas violências em espaços populares.” 
uma definição de “Mulher de favela” que amplia o horizonte das discussões sobre as 
mulheridades periféricas. 
A “Mulher de favela” é um constructo teórico que se refere a um sujeito 
político, histórico, expresso no singular mas que é coletivo por natureza. 
Como tal, entendemos que as moradoras de favelas que encarnam este 
conceito são agentes sociais e políticos que reúnem o que Gramsci (1999) 
chamaria de consciência “em si” e “para si”. Adicionalmente, arriscamos 
supor que este sujeito se constrói também a partir de uma consciência “de si” 
e “para o outro”, a partir da solidariedade horizontal. [...] Estes sujeito político 
vem se construindo, principalmente, a partir da década de 1990 e 
geopoliticamente se refere aos territórios de segregação sócio espacial que se 
classificam como favelas no Rio de Janeiro. No interior desses espaços 
populares elas são (re)conhecidas como liderança comunitária, porque seu 
lugar é de destaque social e político. O compromisso com a transformação 
social está no horizonte da reflexão dessas mulheres que se constrói com 
práticas e atitudes, articuladas em rede, ocupando espaços de participação 
social, seja nos movimentos da sociedade civil, seja através dos conselhos de 
direitos ou mesmo de suas organizações de base comunitária. Difere-se da 
moradora da favela que tem sua vida baseada nas relações cotidianas e de 
vizinhança, mas estas não se engajam na busca de transformação de um 
coletivo que transcende suas relações pessoais. (NUNES, 2017, p.2) 
 
A população que vive nas favelas, território de atuação das “mulheres de favela” aqui 
definidas, experimenta sistematicamente condições de subalternidade social e econômica que 
são determinadas por um conjunto de desigualdades manifestas por sua construção sócio 
histórica. Sofrendo múltiplas violências, é desse lugar que se anunciam as práticas dessas 
lideranças femininas, cuja estratégias de enfrentamento às múltiplas violências e violações se 
constroem no cotidiano através de suas territorialidades/redes. (NUNES, 2017) 
Compreendendo que, na posição de “mulher de favela” - liderança - ou moradora de 
favela - base comunitária - não há graduação de sua valiosidade para a subjetivação do espaço 
da favela, podemos começar a enxergar que existe mover nas estruturas das favelas que 
projetam o rosto de mulheres de favela em liderança e representação de suas moradoras. 
Mulheres que se propõe a ser o corpo da coletividade e da resistência que ali se faz necessária, 
e que através da transformação em sujeito político atua de forma ampla no conjunto das 
demandas sociais que se expressam no cotidiano da favela. 
Com uma agenda política própria, demonstram, a partir de suas ações, que possuem um 
projeto de cidade, mas com uma escolha radical pelo território da favela, o seu lugar de vida e 
de luta. À medida que colocam o foco na favela, elas focalizam também a complexidade da 
vida nos espaços de pobreza, e por isso dialogam com tamanha capilaridade e transversalidade 
pelas questões que emanam da sua condição de mulher; de mulher em contexto de 
subalternidade e de mulher de favela. 
Assim como cabe à essa movimentação das “mulheres de favela”, igualmente 
poderíamos pontuar essas questões dentro da militância feminista. Interessa-nos saber no que 
essas pautas se integram e como coexistem com as realidades que existem entre a vivência da 
“mulher de favela”, principalmente no que relaciona à potência contemporânea das ferramentas 
online para a discussão de ambas as pautas. 
Primeiramente, falando sobre esse movimento secular que visa a equidade de gênero e 
para uma compreensão mais ampla sobre as prioridades que atravessam a militância feminista, 
Simone de Beauvoir, grande nome das pesquisas sobre gênero, em o Segundo Sexo, inicia 
criticando primordialmente a posição de desvalor no qual a mulher nasce perante as sociedades, 
e na relação de poder que o os homens constroem por seus privilégios. 
Um homem não começa nunca por se apresentar como um indivíduo de 
determinado sexo: que seja homem é natural. [...] A relação dos dois sexos 
não é a das duas eletricidades, de dois pólos. O homem representa a um tempo 
o positivo e o neutro, a ponto de dizermos "os homens" para designar os seres 
humanos, tendo-se assimilado ao sentido singular do vocábulo vir o sentido 
geral da palavra homo. A mulher aparece como o negativo, de modo que toda 
determinação lhe é imputada como limitação, sem reciprocidade.” (DE 
BEAUVOIR, p.8). 
 
Nessa linha de pensamento, a autora acrescenta que “a função da mulher está submetida 
ao crivo masculino de tal forma, que a objetificação da figura feminina é mascarada na tentativa 
de parecer uma exaltação à mulher”. A figura do feminino, desde o momento em que o livro 
foi escrito até os tempos presentes, ainda é representada como um tipo de imagem servida ao 
gosto dos homens. No texto intitulado “O feminino e as novas tecnologias de comunicação e 
informação” (2004), a autora Elaine Zancanela expõe: 
Essa supervalorização da aparência do feminino é facilmente identificada ao 
se levantar determinadas funções realizadas por mulheres nas mídias de 
massa, o que pode ser apontado por meio de três exemplos que se seguem. 
Primeiramente, as pinups se destacam como imagens vendedoras de produtos 
de consumo e justapõe a mulher com a própria mercadoria a ser consumida. 
Isto segundo Morin, cria um processo de identificação sedutor para as 
mulheres, na qual a mercadoria faz o próprio papel de mulher desejável, e 
afirma para os homens uma condição de consumidor do objeto mulher. 
Lipovetsky (2000, p. 169-188) vem confirmar a objetificação da mulher nesta 
época, pois observa que a pin-up se constitui a partir de uma lógica tradicional, 
em que prevalece a imagem da mulher-objeto definida por atrativos eróticos 
em excesso; apesar de adicionar à essa erotização uma conotação moderna e 
jovial se comparada a épocas anteriores. Uma segunda forma de representação 
do feminino são as divas do cinema cuja imagem é associada a aspirações 
consumistas, valores de felicidade, bem-estar, amor e beleza. Como esclarece 
Morin (p.108), “a publicidade, apoderando-se das estrelas para fazer delas 
modelos debeleza (maquilagens de Elizabeth Arden, de Max Factor), 
confirma explicitamente seu papel exemplar. (ZANCANELA, 2004, p. 2 e 3). 
 
Ou seja, de diversas formas a mulher vem sendo alocada em papel de objeto a serviço 
dos interesses masculinos, ainda que por muitas vezes aceite esse papel através de artifícios que 
sejam suficientemente convincentes para que a posição pareça minimamente confortável no 
contexto social. Esse desvalor que vem sendo tratado, fala de mulheres em um contexto geral, 
e, dentro da situação que se propõe investigar nesta pesquisa, pode se aplicar de forma mais ou 
menos intensa na realidade das mulheres moradoras de favela, bem como podem haver 
aprofundamento nas discussões que absorvam novos questionamentos surgidos de demandas e 
pautas únicas das vivências manifestadas por essas mulheres. 
Em relação a mulher periférica, o desvalor e a objetificação tendem a se projetar de 
forma ainda mais delicada. Através de um olhar histórico, nota-se com clareza que há uma etnia 
predominante na população de favela, e igualmente às mulheres que ali habitam: a negra. Ainda 
que a questão de classe também deva ser relacionada às condições sociais a que estão 
submetidas desde sempre as mulheres pobres, brancas e negras, deve-se reconhecer que o 
trabalho da “mulher de favela” que carrega no corpo a representação de todos os elementos que 
foram transmutados no imaginário coletivo da sociedade para representar o favelado, tem um 
impacto expressivo na representação do que se integra à essas comunidades, principalmente no 
que concerne aos conceitos criados pelo status quo. Ao homologar a “mulher de favela” falamos 
da mulher negra, como sujeito político totalmente unido a ela. 
As mulheres negras, desde a época da escravatura, têm a incumbência da servidão em 
aspecto mais restrito, violento e dominado que as mulheres brancas. Ângela Davis em “Mulher, 
raça e classe” explicita um ensaio para contextualização histórica. 
Proporcionalmente mais mulheres negras sempre trabalharam fora de casa do 
que as suas irmãs brancas. O enorme espaço que o trabalho ocupou na vida 
das mulheres negras, segue hoje um modelo estabelecido desde o início da 
escravatura. Como escravas, o trabalho compulsoriamente ofuscou qualquer 
outro aspecto da existência feminina. Parece assim, que o ponto de partida de 
qualquer exploração da vida das mulheres negras sob a escravatura começa 
com a apreciação do papel de trabalhadoras. (DAVIS, 1981, p. 10) 
 
Nessa perspectiva, entende-se como a identidade social das mulheres negras pautou-se 
no trabalho, enquanto as mulheres brancas, principalmente por volta do século XIX, estavam 
ocupando o lugar da feminilidade validada pela sociedade patriarcal de mães cuidadoras, esposa 
dóceis e donas de casa submissas, transformando a existência das mulheres negras em 
praticamente uma anomalia. A mulher negra, em vias de regra, nunca foi considerada como 
“sexo fraco”. (DAVIS, 1981) 
No contexto da escravidão, da mesma forma que os rapazes negros tinham que trabalhar 
desde cedo, assim acontecia com as moças negras. Eram mandadas para o trabalho no campo 
sem distinção de gênero. Quando mais velhas, por vezes também poderiam trabalhar servindo 
a casa e aos filhos dos senhores. As violências que sofriam, ainda que em algumas ocasiões 
fossem de mesmo cunho que a dos homens negros, em muitas outras eram violências que 
atingiam diretamente a existência feminina dessas mulheres. As violências sexuais e outros 
maus tratos que só podem ser afligidos a mulheres, eram consequências naturais de ser um 
corpo feminino escravizado por homens. Sistematicamente, as mulheres negras eram corpos 
servidos: enquanto rentáveis, o trabalho braçal sem distinção de gênero, e quando castigadas, a 
punição poderia vir da violação mais profunda que só se consegue fazer a um corpo feminino. 
Punição essa que muito se traduzia para expressão o domínio econômico dos donos de escravos 
e para o controle dos capatazes das mulheres negras como trabalhadoras. 
Há de se pontuar que essas mulheres, que gozavam de igualdade na opressão entre seus 
pares masculinos, também tinham certa equidade entre seus pares domésticos, já que 
conseguiam compartilhar muitas vivências através da escravidão. Dessa forma, comumente 
travavam resistência sistemática contra a instituição da escravatura. Muitas delas se revoltaram, 
resistiram aos assaltos sexuais, envenenavam seus donos; outras resistiam de forma sutil, 
buscando adquirir conhecimentos e competências, mas os casos de escravas sucumbiam ao 
destino que lhe vestiram eram mais exceções do que regra. A partir desse olhar histórico, 
podemos notar o caminho de percalços e contínua resistência demandado das mulheres negras. 
Resistência essa que até os tempos atuais precisa ser mantida, mesmo que em outras 
configurações. 
Paralelo aos problemas enfrentados pelas mulheres negras através da raça, havia a 
insurgência feminina que procurava estabelecer a libertação dos grilhões que as prendiam sob 
o júdice dos homens. De acordo com Alves e Pintanguy (1981), no livro “O que é o 
feminismo?” a América do século XVII já era impregnada por ideias de insubordinação e por 
mudanças concretas na organização social do país. Na França, Olympe de Gouges, redigia “Os 
direitos da mulher e da cidadã”, e depois de uma onda severa de repressão às primeiras ideias 
feministas, em meados do século XIX, os “Sufrágios Femininos”2 começam a se estruturar. 
 No Brasil essa movimentação se destaca com Nísia Floresta escrevendo “Direitos das 
mulheres e injustiça dos homens”, primeiro livro publicado por Nísia em 1832. Já no século 
XX, quando tardiamente começamos a reconhecer a mulher como cidadã pertencente à esfera 
política, as insubordinações femininas contra a dominação patriarcal, os estudos sobre gênero 
e suas representações começaram a se aprofundar para dar base ao que refletimos hoje em dia 
nas relações de gênero. 
 O grande porém nesta situação, é que desde o século XVII até os maiores nomes dos 
estudos feministas do século passado, essa camada da militância dialoga diretamente com 
mulheres brancas. As pautas que libertam as mulheres brancas, são pautas que raramente 
percorrem o universo da mulher negra nessa cronologia histórica aqui descrita. Como já citou 
Ângela Davis, a mulher negra sempre esteve distante dessa ideia de mulher como “sexo fraco”. 
A estas mulheres sempre foi cobrado o trabalho e o instinto de resistência necessário para 
sobreviver, incompatível com a fragilidade subserviente que caracteriza a feminilidade que o 
patriarcado impõe às mulheres brancas: suas esposas, mães e filhas. 
 Portanto, o feminismo negro, que vem sendo traçado de tempos bastante recentes, ainda 
tomando forma, traz questões latentes que só podem ser compreendidas a partir da vivência da 
mulheridade negra, que transcorre desde a vivência das escravas, até a das “mulheres de favela”, 
liderando suas iguais, sendo o corpo e a resistência que busca quebrar o apagamento secular de 
suas necessidades. O combate ao racismo empreendido pelas mulheres negras através de suas 
vivências ao longo da história, é vital para a rede do feminismo negro. Sua frente busca a real 
 
2 Sufrágio Feminino: Movimento social, político e econômico de reforma onde as mulheres denunciavam nesse 
momento suas reivindicações contra às exclusões das esferas públicas por elas sofridas. Se pautavam, tanto na luta 
por melhores condições de trabalho quanto pelos direitos de cidadania. 
inserção nos movimentos sociais já existentes, questionando as desigualdades existentes entre 
brancos e negros dentro do conceito de cidadania, que de certo não as tem contemplado.Em tempos atuais, todas essas discussões que vêm sendo travadas por esses 
atravessamentos de militâncias, ganham potências pontuais através da tecnologia. Internet, 
ferramentas online, redes sociais: afunilamentos de um dos recursos que facilitaram a 
visualização do conceito de aldeia global, do teórico Marshall McLuhan. 
Segundo esse conceito, McLuhan defende que a partir do advento e do desenvolvimento 
tecnológico dos novos meios de comunicação (como a TV e o telefone, por exemplo), o mundo 
se interligaria completamente, havendo, assim, uma intensa troca cultural entre os diversos 
povos, aproximando-os como se estivessem numa grande aldeia inteiramente conectada. Dentre 
os fenômenos que sustentaram o conceito de McLuhan, a internet é o mais surpreendente do 
século XX. O termo “globalização” foi mais fortemente reconhecido e exemplificado após o 
advento da internet e, a partir dele, a intensidade das relações intercontinentais se fortaleceu, 
tendo em vista, inclusive, as outras tecnologias criadas para suplementar a conexão. Os 
gadgets3, muito comuns na atualidade, trazem as transformações das relações humanas para 
outro patamar da informatização das sociedades. O smartphone, o wi-fi, e, inclusive, as ideias 
que conceituam a web 4.04, propõem maneiras de capilarizar as dinâmicas sociais mais diversas 
de maneira cada vez mais instantânea. 
 Nesse contexto, sabendo que no mundo contemporâneo há a possibilidade se viver uma 
cibercultura5, como a definida por Pierre Levý em “Cibercultura” (1999) Henry Jenkins, autor 
de “Cultura da Convergência” (2009) cria o conceito da cultura participativa, onde pontua que, 
cada vez mais o indivíduo irá interagir com a mídia de forma ativa, criando seu próprio 
conteúdo e compartilhando-o de forma coletiva. Este livro aborda três conceitos bases para a 
compreensão da comunicação midiática contemporânea: a convergência dos meios de 
comunicação, a cultura participativa e a inteligência coletiva. Estes três conceitos implicam na 
forma como a construção da comunicação do indivíduo de hoje está imersa na cultura digital, 
e que o desdobramento dessa imersão sugere a convergência das mídias tradicionais para a 
 
3 “Gadgets” (do francês gachette) é uma gíria tecnológica sobre um equipamento complexo criado para facilitar 
uma função específica e útil no cotidiano, como por exemplo, dispositivos eletrônicos portáteis (PDAs, celulares, 
leitores de MP3) que possuem inovação tecnologia, produzido de modo inteligente ou com design mais avançado. 
Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Gadget > 
4 A Web 4.0, de acordo com os teóricos da tecnologias de informação, será como uma teia de leitura, gravação e 
execução simultâneas com interações inteligentes, mas ainda não há uma definição mais aprofundada sobre esse 
conceito. A Web 4.0 é também entendida como web simbiótica, onde mente humana e máquinas poderão interagir 
em simbiose. 
5 Pierre Lévy, em “Cibercultura” (1999), afirma que, indiretamente, o desenvolvimento das redes digitais 
interativas favorece outros movimentos de virtualização que não da informação propriamente dita. O ciberespaço 
encoraja um estilo de relacionamento quase independente dos lugares geográficos e da coincidência dos tempos. 
internet, ou seja, as formas de se expressar e se comunicar estão sendo redirecionadas cada vez 
mais para o ambiente virtual. Criam-se comunidades virtuais, que são construídas sobre 
afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos mútuos, em um processo de 
cooperação ou de troca, independentemente das proximidades geográficas e das filiações 
institucionais. Bem como comunidades de ação no mundo offline, as comunidades virtuais 
também comportam as militâncias e seus debates até certo ponto. 
Lemos (2004) expõe que “no ciberativismo, o espaço eletrônico é utilizado de forma 
complementar ao espaço de lugar, complexificando-o. Assim, essa forma de atuação 
caracteriza-se por redes de cidadãos que criam arenas, até então monopolizadas pelo Estado e 
por corporações, para expressar suas ideias e valores, para agir sobre o espaço concreto das 
cidades ou para desestabilizar instituições virtuais através de ataques pelo ciberespaço 
(hacktivismo).”. 
Esse novo tipo de protesto tem como um de seus objetivos combater certo marasmo que 
eventualmente causa desinteresse por questões de cunho público em alguns segmentos da 
sociedade, usando o ciberespaço na tentativa de criar canais de participação autênticos para 
agregar as pessoas em torno de uma ideia, bem como trocar informações e organizar ações que 
beneficiem a militância. 
O que emerge da contextualização das mulheres desenhadas no perfil dessa pesquisa, é 
a questão do acesso. É dessa investigação que poderá se compreender como essas ferramentas 
de informatização, em especial a internet e suas redes de debate, estão sendo utilizadas para 
esmiuçar as complexidades das questões de gênero no contexto da mulher periférica. 
Sabendo quem é a mulher periférica, qual sua herança histórica, e o que ela tem a 
levantar sobre sua inserção no debate de gênero, é necessário, posteriormente, compreender se 
essa pulverização do discurso que está compreendida no poder das ferramentas online é capaz 
também de atingi-las, e assim comunicar de maneira mais democrática as indicações de luta 
que existem na caracterização da “mulher de favela” que lidera e representa a vivência 
periférica dessas mulheridades, bem como se esse é um debate proveitoso e plausível dentro da 
realidade que será pesquisada. 
 
OBJETIVOS 
 
Objetivo geral 
- Investigar de que maneira a vivência da mulher periférica atravessa a militância feminista e 
se isso se expressa na amplitude que o debate ganha nas novas mídias de comunicação online. 
 
Objetivos específicos 
- Conhecer e compreender um pouco a periferia, os tipos humanos e suas vivências através de 
um olhar histórico e de observação de sua dinâmica contemporânea. 
- Pesquisar as mulheridades da periferia, quem são, quais são suas lutas e como e se elas se 
organizam para o debate de gênero em suas comunidades. 
- Compreender a militância feminista e como ela suas discussões podem ou não agregar a 
mulher periférica e suas particularidades 
- Correlacionar a vivência da militância feminista com a experiência de ser mulher periférica 
para entender como os atravessamentos se integram de forma mais ou menos democrática a 
medida em que se notam as semelhanças e diferenças entre as demandas. 
 
METODOLOGIA 
 
- Pesquisa bibliográfica com a finalidade de fazer aprofundamento no assunto pesquisado e para 
conhecimento das reflexões realizadas anteriormente sobre o assunto. 
- Observação da atividade dos grupos feministas em redes sociais, blogs entre outras formas 
virtuais em que o movimento se manifesta. 
- Inserção de campo e integração com o ambiente da periferia visando a observação e a troca 
de relatos de experiência das mulheres que motivam essa pesquisa. 
- Reflexão do produto da pesquisa bibliográfica e da percepção obtida da inserção de campo 
citada acima. 
 
CRONOGRAMA 
 
ATIVIDADES/SEMESTRES 1º 2º 3º 4º 
Levantamento bibliográfico X 
 
Reflexão sobre os dados históricos e a bibliografia X 
 
Elaboração de planejamento de pesquisa de campo 
etnográfica. 
 
X 
 
Ida à campo para pesquisa etnografica. 
 
X 
 
Reflexão sobre os resultados obtidos na ida a campo 
 
X 
 
Produto final do percurso de pesquisa proposto pelo projeto 
- Finalização de dissertação 
 
X 
 
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