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DISCOS VOADORES: VISITANTES DO ESPAÇO EXTERIOR? SETEMBRO DE 1974 "A senhora acredita em discos voadores?" Há anos que repetidamente venho ouvindo esta extraordinária pergunta, às vezes de gente de toda parte onde ando, às vezes das poucas pessoas cuja apaixonada curiosidade se mantém viva, mesmo na ausência de novas e espetaculares aparições divulgadas pela imprensa, por livros populares ou por cientistas sérios reunidos em conclaves para debater o problema. O interesse pelos objetos voadores não identificados sempre oscila na medida em que o número de notícias sobre aparições cresce e diminui. Mas poucas pessoas observaram que, nos últimos anos, as massas de aparições parecem ter vindo em ondas, ora em uma parte do mundo, ora em outra - do Extremo Norte à Antártida, nas Américas do Norte e do Sul, na Europa e no Oriente, e até na remota Nova Guiné Papua. Em 1939 e 1946 a Escandinávia parece ter sido um centro de atividade dos UFOs. Em 1947, 1950 e 1952 o maior número de comunicações ocorreu nos Estados Unidos. Em 1954 uma onda espalhou-se a partir da França, estendendo-se pela Europa Ocidental e alcançando a África. A onda seguinte, em 1957, começou na América do Sul e pareceu propagar-se ao mundo inteiro, atingindo um ápice de aparições nos. Estados Unidos. Depois houve uma pausa. Novos casos minguaram, pilhérias sobre discos saíram de moda e o povo esqueceu - até1967, quando novas ondas ressurgiram e continuaram, ora aqui, ora ali, quase até o presente. Com tudo isso, as pessoas ainda se perguntam: "Você acredita em discos voadores?" A mim me parece uma pergunta tola, nascida de uma confusão. Acreditar tem a ver com matérias de fé. Nada tem a ver com conhecimentos baseados na investigação científica. Não devemos classificar os UFOs na categoria dos anjos e arcanjos, dos duendes e demônios. Mas é exatamente o que fazemos quando perguntamos às pessoas se "acreditam" em discos - como se a sua existência fosse um artigo de fé. Alguém acredita no solou na lua ou na mudança das estações ou na cadeira em que está sentado? Se queremos entender algo estranho, algo previamente desconhecido a todos, temos de começar por um conjunto totalmente diferente de perguntas: O que é? Como funciona? Há regularidades recorrentes? Partindo desta forma com uma mente aberta, podemos encarar objetivamente os elementos de prova. Podemos peneirar os rumores vagos, as imposturas, os erros óbvios de interpretação, os detalhes bordados pela fantasia, as mistificações e distorções introduzidas tanto pelos que desejam ansiosamente crer como pelos que estão decididos a descrer de tudo. Partindo desta forma, podemos responder à pergunta que a maioria das pessoas realmente tem em mente:Sim, existem objetos voadores não identificados. Existem fenômenos que as investigações mais cautelosas e meticulosas não conseguem explicar. Pelo menos isto temos de aceitar. Milhares de observações têm sido relatadas, e não apenas por pessoas que, sozinhas e à noite, defrontaram o espetáculo assombroso de um disco iluminado pairando sem ruído acima das árvores, ou aparentemente avançando em direção a elas numa estrada de rodagem, ou pousando e em seguida decolando verticalmente a uma tremenda velocidade. Há relatos freqüentes de pilotos, e muitos aviões os têm perseguido sempre inutilmente. Pessoas estranhas entre si têm descrito fenômenos idênticos observados numa mesma noite ou dia. Por vezes um grande número de pessoas tem assistido atônito a um mesmo evento da espécie. Em 1954, durante a grande onda de aparições na Europa, milhares de pessoas em Roma viram um objeto em forma de charuto - simultaneamente rastreado pelo radar do aeroporto - executando evoluções sobre a cidade durante mais de uma hora. Registros de radar não são raros, e ocasionalmente imagens fugidias têm sido captadas por câmeras fotográficas. . As aparições parecem tornar-se mais freqüentes nas ocasiões em que nós, na terra, inauguramos uma nova etapa na direção do espaço. Em 1897, quatro anos antes do primeiro vôo de um dirigível na França, o aparecimento de aeronaves fantasmas - nunca satisfatoriamente explicado - despertou uma comoção febril na América do Norte, nos vinte estados onde ocorreu. Nos últimos tempos da Segunda Grande Guerra, tripulações de esquadrilhas de bombardeio em vários teatros de guerra descreveram estranhos "globos de luz", que ficaram conhecidos como "foo fighters". Serviços de informações, nossos e outros, imaginaram tratar-se de engenhos secretos inventados pelo inimigo; quando se apurou não ser este o caso, nenhuma outra explicação pôde ser sugerida. Outra onda de aparições em escala mundial ocorreu em 1957, quando a Rússia e os Estados Unidos lançaram os primeiros satélites. E, mais recentemente, no outono de 1973, quando a nave espacial americana não tripulada Pioneer 10 se preparava para passar por Júpiter e deixar o sistema solar, nova onda começou. Muitas explicações são possíveis. A mais simples – e mais provável - para responder pela coincidência das aparições com novos eventos na terra é a nossa percepção amplificada. A cada incremento na expectativa do que os seres humanos possam inventar para alçar-se da superfície da terra, mais pessoas passaram a aceitar o testemunho dos próprios olhos quando viam objetos não identificados cruzando o céu. E, muito razoavelmente, alguns relacionavam o que viam com objetos sobre os quais haviam lido ou ouvido falar - aeronaves na passagem do século, e, em 1957, satélites que um dia poderiam levar o homem à lua, ou até, num grande esforço de imaginação, para além da nossa Via-láctea e à nebulosa de Andrômeda, distante centenas de milhares de anos-luz. E o que um homem via, outros podiam aceitar com seus próprios olhos. Que haja ondas de "visitas" de UFOs parece incontestável. Mas que as aparições sejam muito mais maciças quando estamos entrando numa nova fase da exploração espacial pode ser decorrência do nosso interesse acrescido e de idéias mais rebuscadas sobre o que é possível. O falecido Carl Jung, em seu livro Flying Saucers, publicado em 1959, acrescentou uma outra dimensão. Ele não rejeitava nem aceitava a realidade dos UFOs. O que ele sugeriu foi que existe também um componente psicológico – a que chamou mito vivo ou boato visionário - que é potencialmente partilhado por todos os seres humanos num período de grandes transformações e de forte ansiedade' em torno do futuro. Os UFOs, especula ele, poderiam ser uma projeção visualizada e mundialmente propagada desse estado psíquico de desassossego. Por outro lado ele conjectura que essas duas incógnitas - os UFOs e as nossas projeções humanas visualizadas - poderiam simplesmente "coincidir de um modo significativo". Uma explicação muito diferente é a de que os discos voadores, embora vistos em todas as partes do mundo, não passem de uma gigantesca fraude. Não faz muito tempo uma enorme multidão viu um "UFO" flutuar sobre um estádio. Realmente era uma fraude - um balão iluminado por uma vela. Argumentou-se então que, se uma aparição era uma fraude, todas as aparições devem ser fraudes. Nesse modo de ver, todos os indícios até hoje acumulados são negados. Numerosos relatos falam de aparições acompanhadas de interferências e às vezes pane temporária de motores de automóveis e aviões, aparelhos de comunicação e linhas de transmissão. Mas, se um grande objeto luminoso deslocando-se no céu pode ser simulado, será que algum dispositivo causador de distúrbios eletromagnéticos é parte da burla? Argumentos desta espécie dirigidos contra os UFOs não são mais válidos que as impugnações de fraude que pretendem demolir a evidência de fenômenos psíquicos. O fato defalsos médiuns sentados em salas escuras induzirem incautos a apertar mãos frias feitas de luvas de borracha cheias de areia não é razão para negarmos a realidade de fenômenos psíquicos que ainda não sabemos explicar. Inegavelmente, esses argumentos têm um grande poder de sedução. A tentação de pregar peças e a tentação de acreditar que tudo que é estranho e incompreendido seja mistificação são ambas fraquezas humanas. Assim, exatamente nesses campos em que os seres humanos estão explorando possibilidades que assustam a mente, é muito provável que algumas pessoas perpetrem fraudes, e que outras, como um dos modos de proteger-se da ansiedade, desconfiem de estar sendo engazopadas. Mas isto não significa que a coisa toda seja um embuste. Significa apenas que uma reação freqüente ao medo do desconhecido é a insistência em que tudo não passa de truque. É certo que muita gente se deixa amedrontar pela idéia de que em algum lugar do espaço exterior (antes imaginávamos algum lugar do nosso próprio sistema solar) existamseres tecnologicamente mais avançados do que nós. Hoje, ao que parece, são justamente os mais informados sobre as nossas capacidades tecnológicas - funcionários do governo cientistas e membros das forças armadas - que mais se inquietam com a idéia de que seres tecnologicamente superiores de algum planeta desconhecido estejam interessados por razões inexplicadas - no nosso planeta Terra. Em conseqüência, temos de tempos em tempos relatórios oficiais de grupos como o Project Grudge, o Project Blue Book e o Colorado UFO Project chefiado pelo Dr. Edward Condon interpretando os indícios. As observações de UFOs são explicadas como raios-bolas, descargas elétricas, bandos de gansos, a estrela da manhã ou da tarde, inversões atmosféricas que produzem estranhos reflexos, satélites artificiais, . mistificações, alucinações de indivíduos perturbados, e assim por diante. Estas são, ou podem ser, as explicações para muitas observações. Mas, no final, mesmo esses relatórios geralmente baseados em amostragem de observações de apenas umas poucas áreas, de modo que os dados sobre regularidades em escala mundial se perdem - chegam sempre a uma mesma conclusão: existem objetos voadores não-identificados. Ou seja, existe um núcleo sólido de casos - talvez 20 a 30 por cento em diferentes estudos - para os quais não há explicação. Mesmo assim as negações continuam. Enquanto alguns cientistas sondam o espaço procurando indícios de inteligências extraterrenas, outros negam que quaisquer criaturas pudessem construir um veículo capaz de chegar aqui vindo de qualquer ponto do espaço. Mas uma reflexão serena deveria convencer-nos de que, sabendo o que sabemos sobre tecnologia espacial, a capacidade de alcançar a Terra a partir de algum ponto depende apenas de que outros tenham feito avanços no desconhecido que ultrapassam as nossas presentes aptidões. Claro, sempre houve os que negaram a possibilidade de qualquer novo avanço. Trens, automóveis, aviões, viagens à lua. Mas outros cientistas e inventores foram em frente e tornaram factível o que antes se demonstrara impossível. As perguntas seguintes são as mais fascinantes. Se os discos voadores - os genuinamente inexplicadas, não identificados mas bem autenticados - são, de fato, veículos vindos de grandes distâncias, com ou sem vida inteligente a bordo, o que estão fazendo? Por que não se dão a conhecer? Estas questões introduzem um elemento de suspense quase insuportável. Se essas criaturas - sejam quem forem - vêm vindo aqui ou enviando veículos não tripulados há uma centena de anos (ou, segundo alguns investigadores, há milhares de anos), com que fim o fazem? Naturalmente, não há a menor evidência de que "eles" jamais tenham feito qualquer coisa. Existem alguns possíveis indícios de aterragens ocasionais. Há uma cratera gigante na União Soviética que não pode ser explicada por nenhum conhecimento geológico ou meteorológico existente. E há relatos inexplicados de breves aterragens. Mas isso é tudo. Quanto ao mais, só podemos tentar imaginar o propósito que estaria por trás das atividades desses silenciosos e inofensivos objetos volantes que, de tempos em tempos, vêm rondar a terra. A explicação mais provável, a meu ver, é que eles simplesmente vigiam o que andamos fazendo - que uma sociedade responsável de fora do nosso sistema solar está nos mantendo de olho e cuidando que não venhamos a desencadear uma reação em cadeia que poderia ter repercussões muito além do nosso sistema. É um pensamento plausível de atribuir a esses viventes extraterrenos - tão plausível quanto qualquer outro que presentemente sejamos capazes de idear. Mas, de um modo ou de outro, não há indícios, que eu saiba, da existência ou não de vida inteligente a bordo dos UFOs. Podem ser naves não-tripuladas, controladas de algum ponto do espaço. Nós mesmos estamos aprendendo rapidamente a controlar sondas espaciais e a obter por meio delas informações progressivamente mais complexas. E existe um UFO que nós conhecemos em todos os detalhes. A Pioneer 10, que está avançando lentamente para as .profundezas do espaço, será um dia um objeto voador não identificado para os seres inteligentes de algum outro planeta, em algum outro sistema solar. MEAD, Margaret. Discos voadores: visitantes do espaço exterior? In: MEAD, Margaret, METRAUX, Rodha. Aspectos do presente. Tradução de João A. Guilherme Linke. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982. p. 37-42
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