Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Hidrometria Prof. Edmar José Scaloppi Definição: Monitoramento de vazões ou volumes de água armazenados em reservatórios. Importância: a) Indispensável à solicitação e certificação de outorgas e melhoria da eficiência operacional dos projetos de irrigação. b) Viabilizar a cobrança das tarifas de água para uso urbano, industrial e agrícola. Assim, a instalação de um eficiente sistema hidrométrico, capaz de reunir precisão, simplicidade, rapidez e economia, constitui uma exigência cada vez maior em projetos hidroagrícolas, incluindo a irrigação e o abastecimento de água. Localização: As estruturas de medição em projetos hidroagrícolas devem estar localizadas em pontos estratégicos do sistema de condução e distribuição, em geral, nas tomadas de água às parcelas irrigadas, incorporadas às estruturas de derivação existentes nestes locais. Os principais métodos de medição de consumo de água classificam-se em diretos e indiretos. Os métodos diretos mais comuns são os volumétricos e gravimétricos, os vertedores, os medidores Parshall, os orifícios, os rotâmetros, os hidrômetros e as fórmulas empíricas. Os métodos indiretos baseiam-se na equação da continuidade. Conhecendo-se a área da seção transversal (A) e a velocidade média de escoamento (v), pode-se calcular a vazão (Q): Q = v A A determinação da velocidade pode ser obtida por molinetes, tubos de Pitot, flutuadores, uso de corantes e outros produtos químicos. a) Métodos volumétricos e gravimétricos Baseiam-se na determinação do volume ou peso escoado em determinado intervalo de tempo. Portanto, são adequados para pequenas vazões, em condutos livres ou forçados. A determinação do peso, em geral, é mais simples e precisa que a volumétrica. Recomenda-se executar um número razoável de repetições para se obter valores representativos. Ex.: Coletou-se 10 kg de água de um aspersor em 20 segundos. Determinar a vazão em m3/h. V = 10 kg/(1 kg/dm3) = 10 dm3 Q = 10 dm3/20 s = 0,5 dm3/s = 0,5 L/s 0,5 dm3/s 10-3 (m3/dm3/(1/3600)h/s = 1,8 m3/h b) Vertedores São estruturas instaladas na seção de escoamentos livres, como canais, riachos, rios, córregos, etc., onde toda vazão disponível é forçada a escoar através delas. Os vertedores representam os métodos mais antigos, simples e precisos para se avaliar a vazão em condutos livres. Além disso, favorecem a inspeção e eventuais correções operacionais. Baseiam-se nas relações de escoamento livre em regime crítico: Q = √(g A3/B) = A√(g A/B) = A√(g D) ou Q/√g = A√D Q = vazão, m3/s A = área da seção transversal de escoamento, m2 D = A/B = profundidade hidráulica, m g = aceleração gravitacional, 9,80665 m/s2 A base da seção de escoamento denomina-se crista, ou soleira, podendo apresentar espessuras variáveis. Os tipos mais comuns apresentam dimensões pré-estabelecidas, paredes delgadas e três formas principais: retangular, trapezoidal e triangular. O vertedor retangular apresenta as paredes laterais formando um ângulo reto com a crista: Q = 1,838 (L – 0,1 n H) H1,5 Q = m3/s; L = largura da soleira, m; n = número de contrações, H = altura da água sobre a soleira, m. Ex.: L = 0,3 m; n = 2; H = 0,1 m Q = 1,838 (0,3 – 0,1x2x0,1) 0,11,5 = 0,016 m3/s = 58,6 m3/h O trapezoidal Cipolletti, apresenta paredes laterais inclinadas à razão de 0,25:1 (H:V) formando um ângulo de 75,96o em relação ao plano horizontal. Q = 1,859 L H1,5 Q = m3/s; L e H = m Q = 1,859 0,3 0,11,5 = 0,0176 m3/s = 63,5 m3/h O triangular pode apresentar um ângulo variável, porém, o valor mais usual é 90o sendo, portanto, os taludes inclinados 45o em relação a horizontal. Q = 1,343 H2,47 Q = m3/s e H = m Q = 1,343 0,12,47 = 0,00455 m3/s = 16,4 m3/h Recomendações sugeridas para melhorar a precisão dos vertedores: 1) A distância da crista ao leito do canal deve exceder 3 H, mínimo de 20 cm. 2) A distância de leitura deve exceder 4 H a montante do vertedor. 3) O comprimento da crista deve exceder 3 H, mínimo de 20 cm. 4) O valor de H deve estar entre 5 e 60 cm. 5) A velocidade de aproximação inferior a 0,15 m/s. 6) A base e as paredes laterais devem ser delgadas e perpendiculares à direção do escoamento. 7) Nos vertedores retangulares a base deve estar em nível e as paredes na direção vertical. 8) Evitar contração do escoamento e procurar um trecho retilíneo na aproximação do vertedor. 9) O escoamento através do vertedor deve permitir a entrada de ar sob a lâmina (não afogado). Exercícios: 1) Determinar a vazão em um vertedor retangular com 80 cm de largura da crista, com duas contrações laterais, sendo 50 cm a altura da lâmina líquida sobre a soleira. Q = C Lc H a C = 1,838 L = 0,8 m Lc = L - 0,1 n H = 0,8 – 0,1 2 0,5 = 0,7 m H = 0,5 m a = 1,5 Q = C Lc H a = 1,838 0,7 0,51,5 = 0,455 m3/s 2) Determinar a lâmina líquida em relação à soleira de 80 cm de um vertedor trapezoidal Cipoletti, para medir a vazão calculada no ítem anterior (Q = 0,455 m3/s). Q = C L Ha C = 1,859 L = 0,8 m a = 1,5 H = [Q/(C L)]1/1,5 = [0,455/(1,859 0,8)]1/1,5 = 0,454 m 3) Determinar a vazão em um vertedor triangular 90º com 50 cm de lâmina líquida em relação ao vértice. Q = C tg(α/2)Ha = 1,343 tg(90/2)0,52,47 = 0,242 m3/s = 873 m3/h Medidores ou calhas Parshall São estruturas de medição da vazão em canais, que também utilizam a condição de regime crítico. Consistem de três seções principais: seção convergente à montante, seção contraída ou garganta, intermediária, e seção divergente à jusante. Os medidores Parshall podem ser construídos em tamanhos variáveis, para um grande intervalo de vazões, desde 0,8 L/s, até 80 m3/s ou superiores. A largura da seção contraída, ou garganta, designa o tamanho do medidor. Os valores usuais são 3, 6 e 9 polegadas, e 1, 1,5, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8 pés. A vazão máxima correspondente a um medidor de 8 pés está em torno de 4 m3/s (SCS, 1973). Para vazões superiores, utilizam-se medidores com gargantas superiores a 8 pés (2,44 m) até 50 pés (15,24 m) para vazões em torno de 80 m3/s. Os medidores Parshall devem ser instalados, preferencialmente, próximos aos pontos de derivação, em trechos retilíneos do canal, evitando-se regiões de turbulência. São considerados precisos, desde que adequadamente construídos e instalados, requerendo perdas de carga hidráulica relativamente reduzidas. Um único medidor pode ser empregado para um grande intervalo de vazões. A geometria do medidor confere maiores velocidades na garganta, impedindo a deposição de sedimentos. Por outro lado, são usualmente mais caros que os vertedores, e não podem ser integrados às estruturas de derivação, como os vertedores, devido às exigências de escoamento uniforme e relativamente tranquilo. Além disso, devem ser construídos rigorosamente dentro das especificações técnicas para permitir um desempenho satisfatório. Limites de aplicação recomendados para calhas Parshall (SCS, 1973). Larg. garganta Vazão mínima Vazão máxima pés (m) L/s L/s 0.25 (0.0762) 0,8 53 0.50 (0.1524) 1,4 111 0.75 (0.2286) 2,5 251 1.0 (0.3048) 3,1 456 1.5 (0.4572) 4,2 697 2.0 (0.6096) 11,9 937 3.0 (0.9144) 17,3 1427 4.0 (1.2192) 35,7 1923 5.0 (1.5240) 43,9 2424 6.0 (1.8288) 74,5 2931 7.0 (2.1336) 85,5 3438 8.0 (2.4384) 98,0 3950 Valores de (C) e (a) para cálculo da vazão em calhas Parshall com escoamento livre. Garganta, pés (m) C a 0.25 (0.0762) 0,176 1,547 0.50 (0.1524) 0,381 1,580 0.75 (0.2286) 0,535 1,530 1.0 (0.3048) 0,691 1,522 1.5 (0.4572) 1,056 1,538 2.0 (0.6096) 1,428 1,550 3.0 (0.9144) 2,184 1,566 4.0 (1.2192) 2,953 1,578 5.0 (1.5240) 3,732 1,587 6.0 (1.8288) 4,519 1,595 7.0 (2.1336) 5,312 1,601 8.0 (2.4384) 6,112 1,607Exercício: Calcular a vazão em um canal onde se encontra instalado um medidor Parshall com 5 pés de largura. A altura da água no ponto de medição é 0,46 m. Solução: Através da equação Q = C ha sendo os coeficientes C= 3,732 e a = 1,587 (Tabela) Q = 3,732 0,461,587 1,088 m3/s Métodos indiretos (determinação de seção e velocidade) Estes métodos baseiam-se na seguinte forma da equação da continuidade: Q = A v onde Q = vazão, m3/s, A = área da seção transversal de escoamento, m2, v = velocidade média do escoamento na seção considerada, m/s. Em canais naturais ou construídos A área da seção transversal de escoamento é facilmente determinada em canais com formas geométricas conhecidas. Em seções irregulares, pode ser determinada por partes (batimetria), e posteriormente integradas pela conhecida regra do trapézio. A distribuição de velocidade na seção de escoamento é variável: aumenta das margens ao centro e da superfície até o ponto correspondente a 0,8 vezes a profundidade, decrescendo deste ponto, até chegar a um valor mínimo na base da seção de escoamento. A velocidade média encontra-se localizada a, aproximadamente, 0,4 vezes a profundidade, representando a média aritmética entre as determinações efetuadas a 0,2 e 0,8 vezes a profundidade. Esta velocidade, equivale a 0,8 e 0,95 da velocidade superficial. Quando se requer precisão, deve- se determinar a velocidade correspondente a cada seção transversal considerada. Determinação da velocidade média com molinete hidráulico Molinete é um dispositivo constituído por uma hélice que gira em função da velocidade de escoamento do fluido e um registrador de rotação. Os molinetes comerciais são calibrados na origem. As fábricas, em geral, fornecem as informações para se proceder ao cálculo das vazões, a partir das leituras de velocidade efetuadas. Deve-se observar, que os pontos de determinação da velocidade estão associados às seções de escoamento correspondentes. O posicionamento correto do molinete, durante as leituras, é decisivo para obtenção de valores confiáveis e representativos. Hidrometria em tubulações Medidores de pressão diferencial (venturi, orifícios e bocais): São dispositivos instalados nas tubulações, que apresentam uma contração da seção de escoamento, com a finalidade de provocar um aumento da velocidade média de escoamento na seção contraída. Admite-se que a maioria das medições de vazão existentes seja efetuada por este método. Os medidores diferenciais de pressão, em geral, apresentam um elemento primário e outro secundário. O primário causa um aumento na energia cinética, que determina o diferencial de pressão na tubulação. O elemento secundário mede o diferencial de pressão que pode fornecer um sinal convertido em unidades de vazão. Os orifícios representam os medidores mais populares empregados atualmente. Consistem de uma placa metálica plana tendo um orifício concêntrico ou não, com dimensões especificadas. As tomadas de pressão devem ser feitas a 1 diâmetro à montante da entrada da placa e ½ diâmetro à jusante da entrada da placa. Os medidores venturi têm a vantagem de medir grandes vazões com pequenas perdas de carga piezométrica devido aos reduzidos ângulos de convergência na seção montante (21o) e de divergência na seção jusante (15o) ambas em relação ao eixo longitudinal da tubulação. A velocidade média na seção contraída deve exceder 6 m/s. Consequentemente, aplicando-se uma forma elementar da equação da continuidade, onde a velocidade média de escoamento é substituída pelo valor 6, pode-se calcular o diâmetro máximo da seção contraída, pela expressão: A = Q/v e, portanto, d2 = 4Q/(6π) d = 46√Q d = cm; Q = m3/s ou d = 0,768 √Q d = cm; Q = m3/h A equação aplicável aos medidores de pressão diferencial é: Q = Cd Ac √{2 g δH/[1 - (Dc/Dt) 4]} em que Q – vazão em m3/s; Ac = área da seção contraída do medidor, m2; g – aceleração gravitacional terrestre, 9,81 m/s2; δH – diferencial de carga manométrica no medidor, m; Dc e Dt – diâmetros da seção contraída e da tubulação, respectivamente, m. Rotâmetro A altura de um flutuador suspenso pelo fluido em movimento corresponde à determinada vazão, com leitura direta em uma escala gravada no aparelho previamente calibrado. O princípio de funcionamento baseia-se na força de arraste que o fluido exerce sobre um flutuador móvel que se desloca no interior de uma seção variável de escoamento. Como o peso do flutuador é constante, o aumento da vazão requer um aumento proporcional na área de escoamento, uma vez que a perda de carga através do flutuador permanece constante. A variação da vazão é acompanhada por uma variação proporcional na área de escoamento do fluido entre o tubo e o flutuador. A equação aplicável é: Q = vmax (π/4)(Dt 2 – Df2) onde Q = vazão, L/s, vmax = velocidade máxima admitida pelo rotâmetro, dm/s, Dt e Df = diâmetros do rotâmetro e do flutuador, respectivamente, dm2. O custo é relativamente reduzido, porém sua aplicação fica restrita a um intervalo reduzido de vazões. Os desvios admissíveis não devem exceder cerca de 5%. Deve ser instalado com o escoamento ascendente na posição vertical. A presença de sedimentos pode comprometer a precisão das leituras. Medidores ultrasônicos Estes medidores podem ser classificados em dois grupos: efeito Doppler (água com descontinuidades - impurezas) ou tempo de percurso (água limpa). Os primeiros medem o deslocamento da frequência causado pelo escoamento. Dois transdutores são montados em uma caixa colocada sobre a parede externa da tubulação. Operação efeito Doppler: Um sinal com frequência conhecida é enviado ao líquido a ser medido. A presença de sólidos, bolhas, ou qualquer descontinuidade no líquido causa reflexão do pulso que é detectado pelo elemento receptor, localizado lateralmente ao elemento transmissor. Devido ao movimento do líquido que causa a reflexão, a frequência do pulso retornado é deslocada proporcionalmente à velocidade do líquido. Operação tempo de percurso: Neste equipamento o tempo de percurso do ultrassom é avaliado a favor e contra a corrente. Quanto maior a velocidade de escoamento maior o intervalo de tempo entre essas duas determinações. Medidores eletromagnéticos Princípio de operação: A água sendo um líquido eletricamente condutor sofre o fenômeno de indução eletromagnética. Segundo a lei de Faraday, dois eletrodos instalados na parede externa do tubo detectam a voltagem que será medida pelo elemento secundário. Quando um condutor se movimenta perpendicularmente ao campo magnético criado por bobinas energizadas, localizadas na parte externa ao tubo, haverá a formação de uma corrente induzida, cuja intensidade (voltagem) será proporcional à velocidade (vazão) naquele condutor. Os medidores podem ser inseridos entre flanges existentes na tubulação, com o mínimo de perda de carga. São medidores volumétricos, sem partes móveis, elevada precisão, com resultados analógicos lineares, insensíveis às variações de temperatura, pressão, viscosidade e aceleração gravitacional. A equação aplicável é: E = v B D onde E = voltagem gerada pelo condutor (volts), v = velocidade do condutor (m/s), B = intensidade do campo magnético (ampère/m), e D = comprimento do condutor (distância entre os eletrodos) expresso em metros. Caso o medidor abrace o tubo, o campo magnético será gerado através de toda seção transversal do tubo. Caso o medidor seja inserido na parede do tubo, o campo magnético será irradiado a partir do ponto de inserção.
Compartilhar