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Francieli Bizatto

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1 
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA – 
ProPPEC 
CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS 
E SOCIAIS – CEJURPS 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIA POLÍTICA – 
CPCP 
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE POLÍTICAS 
PÚBLICAS – PMGPP 
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO – GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS 
 
 
 
 
 
 
A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE E A RESSOCIALIZAÇÃO 
DO APENADO: 
uma reavaliação das políticas existentes no sistema prisional 
 
 
 
 
FRANCIELI A. CORREA BIZATTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
Orientadora: Profa. Dra. Cláudia Roesler 
 
 
Co-Orientador: Prof. Dr. Julian Borba 
 
 
 
 
Itajaí [SC], julho de 2005. 
 2 
 
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI 
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA – 
ProPPEC 
CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS 
E SOCIAIS – CEJURPS 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CIÊNCIA POLÍTICA – 
CPCP 
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM GESTÃO DE POLÍTICAS 
PÚBLICAS – PMGPP 
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO – GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE E A RESSOCIALIZAÇÃO 
DO APENADO: 
uma reavaliação das políticas existentes no sistema prisional 
 
 
Dissertação submetida à Universidade do 
Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito final à 
obtenção de título de Mestre em Gestão de 
Políticas Públicas 
 
 
FRANCIELI A. CORREA BIZATTO 
 
Orientadora: Profa. Dra. Cláudia Roesler 
 
 
Co-Orientador: Prof. Dr. Julian Borba 
 
 
 
Itajaí [SC], julho de 2005. 
 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedicatória 
 
Dedico o presente trabalho a todos aqueles 
que estiveram ao meu lado nos momentos 
difíceis, e não apenas nas horas boas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Agradecimentos 
 
 
Agradeço a Deus e à minha Família todo o 
apoio dispensado. Não podia deixar de citar 
o meu eterno agradecimento a minha Mãe 
Dona Elci Ligowski pelo apoio e incentivo e 
ao meu sogro Dr. José Ildefonso Bizatto 
pelas palavras de incentivo, apoio, 
dedicação e compreensão prestados. 
 5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
"A descentralização social nada mais é do que a 
expressão da ampliação das funções do Estado e a 
devolução, à sociedade, do exercício de funções, 
antes sob sua responsabilidade, que foram sendo 
absorvidas pelo aparelho estatal". 
 
Carlos Vasconcelos Domingues 
 6 
Esta Dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de 
Mestre em Gestão de Políticas Públicas e aprovada, em sua versão final, pela 
Coordenação do Programa de Mestrado em Gestão de Políticas Públicas – 
PMGPP, da Universidade do Vale do Itajaí [PMGPP/ UNIVALI]. 
 
 
Profª. Drª. Cláudia Roesler 
Orientadora 
 
 
Prof. Dr. Julian Borba 
Coordenador do PMGPP 
 
 
 
Apresentada perante a Comissão Avaliadora composta dos Professores: 
 
 
Dr. Drª. Cláudia Roesler 
Orientadora e Presidente da Comissão 
 
 
Dr. Julian Borba 
Membro titular da Comissão 
 
 
Dr. Flávio Ramos 
Membro titular da Comissão 
 
Dr. Raquel Fabiana Lopes Sparemberger 
Membro titular da Comissão 
 
 
 
Itajaí [SC], 18 de julho de 2005. 
 7 
DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE 
 
 
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total respon-
sabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a 
Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI, a Coordenação do Programa de 
Mestrado Profissionalizante em Gestão de Políticas Públicas - PMGPP, a 
Comissão Avaliadora e a Orientadora de toda e qualquer responsabilidade acerca 
do mesmo. 
 
Itajaí [SC], 18 de julho de 2005. 
 
 
Francieli A. Correa Bizatto 
Mestranda 
 8 
ROL DE CATEGORIAS 
 
 
Apenado 
Indiciado condenado em processo penal e que cumpre regularmente a sanção 
aflitiva em estabelecimento penal1. 
 
Egresso 
Entende-se por egresso o detento ou recluso que, tendo cumprido a pena, ou por 
outra causa legal, se retirou do estabelecimento penal. 
 
Execução 
É o poder de decidir o conflito entre o direito público subjetivo e os direitos 
subjetivos concernentes à liberdade do cidadão2. 
 
Execução Penal 
É a atividade desenvolvida pelos órgãos judiciários para dar atenção à sanção, 
que se realiza através dos processos de igual nome, mediante os meios 
executórios de aplicações jurídicas e práticas nele contidas3. 
 
Pena 
Pena "é a sanção aflitiva imposta pelo Estado, mediante ação penal, ao autor de 
uma infração (penal), como retribuição de seu ato ilícito, consistente na 
diminuição de um bem jurídico, e cujo fim é evitar novos delitos"4. 
 
Pena Privativa de Liberdade 
As penas privativas de liberdade são aquelas que afetam a jus libertatis do 
condenado, através de seu enclausuramento em estabelecimento penal. 
 
 
1 SOIBELMAN, Leib. Dicionário Geral de Direito. São Paulo: J. Bushatsky. 1973, v. 2, p. 526. 
2 MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 30. 
3 BENETI, Sidnei Agostinho. Execução Penal. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 43. 
4
 SOLER, Derecho penal argentino, Buenos Aires, Tipografia Editora Argentina, 1970, v. 2, p. 342. 
Apud JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal. 21. ed., São Paulo: Saraiva, 1998, v. 1, p. 
517. 
 9 
Penitenciária 
Presídio especial ao qual se recolhem os condenados às penas de detenção e 
reclusão e onde o Estado, ao mesmo tempo que os submete à sanção das suas 
leis punitivas, presta-lhes assistência e lhes ministra instrução primária, educação 
moral e cívica e conhecimentos necessários a uma arte ou ofício à sua escolha, a 
fim de que assim possam regenerar-se ou reabilitar-se para o convívio da 
sociedade5. 
 
Políticas Públicas 
Política Pública é o processo de estabelecimento de princípios, prioridades e 
diretrizes que organizam o conjunto de programas e serviços para uma 
população6. 
 
Reclusão 
Regime prisional consistente na privação da liberdade pessoal do condenado por 
tempo que varia segundo a natureza ou espécie da infração ou infrações que 
cometeu7. 
 
Regime Penitenciário 
Regime Penitenciário relaciona-se ao local em que se dará o cumprimento da 
sanção penal, bem como às regras a que ficará sujeito o apenado durante a 
execução da pena privativa de liberdade. O regime Penitenciário, não poderá, 
durante a execução, avançar para um regime menos rigoroso (passar do fechado 
para o semi-aberto e deste para o regime aberto). 
 
Ressocialização 
Ato ou efeito de ressocializar, socializar-se novamente. Assistir o preso 
psicológica e profissionalmente, para que possa voltar à sociedade como um 
cidadão útil, após o cumprimento da pena8. 
 
 
5 FELIPPE, Donaldo J. Dicionário Jurídico. 6. ed. Campinas: Julex Livros, 1991, p. 124. 
6 Programa de Qualificação e Conselhos Estaduais de Trabalho (MTb/FLACSO, 1999). 
7 SOIBELMAN, Leib. Dicionário Geral de Direito, p. 509. 
8 XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Língua Portuguesa. 2. ed. reform. São Paulo: 
Ediouro, 2000, p. 815. 
 10 
SUMÁRIO 
 
 
RESUMO ............................................................................................................ ix 
 
ABSTRACT .........................................................................................................x1 INTRODUÇÃO.................................................................................................1 
 
 
2 O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E A NECESSIDADE DA 
PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE................................................... 6 
 
2.1 BREVE HISTÓRICO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE ........................6 
2.2 A PENA DE PRISÃO NO BRASIL..................................................................11 
2.3 TIPOS DE PENA E SUA FUNÇÃO.................................................................17 
2.4 O EGRESSO: características, estigmas, preconceito e reincidências .....26 
2.5.O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E A CRISE FALENCIAL NA 
RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO ............................................................ 33 
2.6.A REALIDADE PRISIONAL: superlotação, precariedade e degradação 
humana .......................................................................................................... 37 
 
 
3 O ESTADO E A EXECUÇÃO PENAL BRASILEIRA..................... 44 
 
3.1 O ESTADO E SUA FUNÇÃO SOCIAL ...........................................................44 
3.2 A LEI Nº 7.210/84: objetivos, filosofia e aplicabilidade social ...................47 
3.3 OS REGIMES PENITENCIAIS DA LEI Nº 7.210/84 .......................................55 
3.4 BENEFÍCIOS DA EXECUÇÃO PENAL NA PENA PRIVATIVA DE 
LIBERDADE .........................................................................................................61 
3.5 O FRACASSO DO SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO NA 
APLICAÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE .................................. 66 
 11 
3.6 A NECESSIDADE DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE E A 
REINSERÇÃO SOCIAL ................................................................................. 69 
 
 
4 POLÍTICAS PÚBLICAS DE REINSERÇÃO SOCIAL DO APENADO 
EM PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE .......................................... 75 
 
 
4.1 ESTADO, NEOLIBERALISMO E O PROBLEMA DA EXCLUSÃO SOCIAL .75 
4.2 ESCORÇO HISTÓRICO E CONCEITO DE POLÍTICAS PÚBLICAS .............85 
4.3.DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE COMBATE À EXCLUSÃO SOCIAL E À 
VIOLÊNCIA..................................................................................................... 89 
4.4.DA ATUAL SITUAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS EM RELAÇÃO AO 
APENADO ....................................................................................................... 95 
4.5 POLÍTICAS PÚBLICAS DE RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO: os 
problemas atualmente apresentados e sugestões .................................... 99 
4.5.1 Qualificação dos Agentes Carcerários...................................................100 
4.5.2 Os Estabelecimentos Prisionais .............................................................102 
4.5.3 Da Assistência ao Preso e à sua Família ...............................................104 
4.5.4.O Trabalho Penitenciário e sua Profissionalização como Forma de 
Inclusão Social ......................................................................................... 106 
4.6.AS POLÍTICAS PÚBLICAS COMO FORMA DE EFETUAR A 
RESSOCIALI-ZAÇÃO DO APENADO: uma proposta sob a ótica social. 107 
 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................113 
 
REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS...............................................118 
 
 12 
ÍNDICE DE TABELAS 
 
 
Tabela 01. Presos reincidentes nos últimos anos.................................................29 
Tabela 02.
 População carcerária por regime de condenação...............................37 
Tabela 03.
 População carcerária fora do sistema prisional...................................39 
Tabela 04.
 Total geral - Brasil ...............................................................................40 
Tabela 05.
 Vagas e presos no sistema prisional e na polícia ..........................40/41 
 
 
 13 
RESUMO 
 
 
Trata-se a presente Dissertação de Mestrado de um estudo 
acerca da pena privativa de liberdade no Direito brasileiro, com ênfase na questão 
da aplicação de Políticas Públicas adequadas para a ressocialização do apenado, 
nos moldes idealizados na Lei de Execução Penal. O trabalho está dividido em 
três capítulos, sendo o primeiro, destinado à pena privativa de liberdade, com 
uma abordagem histórica, conceitual e uma breve explicação dos tipos de pena 
existentes no ordenamento jurídico brasileiro, tratando, ainda, da questão do 
egresso e da crise falencial do sistema prisional. O segundo capítulo destina-se 
ao estudo da execução penal brasileira e a função social do Estado, com uma 
abordagem nas espécies de regimes penitenciais e benefícios previstos na Lei de 
Execução Penal, bem como uma análise a respeito da necessidade da pena 
privativa de liberdade e a ressocialização do apenado. Finalmente, no terceiro 
capítulo será dada ênfase às Políticas Públicas de ressocialização do apenado, 
com uma análise destas em relação à exclusão social, à violência e, 
principalmente, em relação ao preso, para, ao final, apresentar propostas de 
melhorias das condições dos presídios frente ao que determina a Lei de 
Execução Penal. 
 14 
ABSTRACT 
 
 
It is treated to present Dissertation of Master's degree of a 
study concerning the private feather of freedom in the Brazilian Right, with 
emphasis in the subject of the application of appropriate Public Politics for the 
resocialization of the prisoner, in the molds idealized in the Law of Penal 
Execution. The work is divided in three chapters, being the first, destined to the 
private feather of freedom, with an approach historical, conceptual and an 
abbreviation explanation of the existent feather types in the Brazilian juridical 
legislation, treating, still, of the subject of the exit and of the crisis of the system of 
prison. The second chapter is destined to the study of the Brazilian penal 
execution and the social function of the State, with an approach in the species of 
penitential regimes and benefits foreseen in the Law of Penal Execution, as well 
as an analysis regarding the need of the private feather of freedom and the 
resocialization of the prisoner. Finally, in the third chapter emphasis will be given 
to the Public Politics of resocialization of the prisoner, with an analysis of these in 
relation to the social exclusion, to the violence and, mainly, in relation to the 
prisoner, for, at the end, to present proposed of improvements of the conditions of 
the prisons front to the that determines the Law of Penal Execution. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 15 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
A prisão é tida, pelo ordenamento jurídico pátrio, como a 
exceção, sendo que a regra geral se constitui na liberdade do indivíduo, tal qual 
consagrado no artigo 5º da Constituição da República Federativa do Brasil de 
1988. Assim, embora o direito à liberdade seja garantia constitucionalmente 
assegurada de todo o cidadão, excepcionalmente a liberdade de ir e vir pode ser 
restringida, no cumprimento da pena privativa de liberdade ou, também, durante a 
investigação criminal. 
 
Destarte, muito tem sido discutido, hodiernamente, sobre a 
pena privativa de liberdade e a forma como a Lei de Execução Penal vem sendo 
aplicada pelos agentes da Administração. 
 
A Lei de Execução Penal brasileira é considerada apta a 
assegurar a ressocialização do apenado, ao mesmo tempo que estabelece a 
observância das garantias fundamentais constitucionalmente asseguradas a 
qualquer cidadão, inclusive ao condenado. 
 
A crítica que tem sido tecida quanto à pena privativa de 
liberdade refere-se à forma como vem sendo cumprida, ou seja, à execução 
administrativa dos estabelecimentos, na condução do Estado, que se demonstra 
eivada de descuidos, vícios, distorções,corrupção, falta de estrutura, de 
funcionários etc. 
 
Diante deste quadro, a doutrina brasileira, bem como os 
órgãos responsáveis, vem reconhecendo que a finalidade da pena, estabelecida 
no Preâmbulo do Código Penal Brasileiro, não está sendo alcançada por omissão 
Estatal. 
 
Considerando isto, a presente Dissertação de Mestrado tem 
por escopo realizar um estudo acerca da pena privativa de liberdade no Direito 
 16 
brasileiro, dando ênfase à questão da aplicação de Políticas Públicas adequadas 
para a ressocialização do apenado, nos moldes idealizados na Lei de Execução 
Penal. 
 
O que se procura estudar, assim, é a forma como o Estado 
vem tratando da questão de políticas públicas de ressocialização do apenado, e 
para tanto, realiza-se a presente pesquisa no sentido de se descobrir o que vem 
sendo feito no que tange às políticas públicas de ressocialização do apenado, 
bem como apresentar sugestões de melhorias. 
 
Estabeleceram-se, aqui, duas espécies de objetivos: o 
institucional e o investigatório. 
 
O objetivo institucional consiste em produzir uma 
Dissertação de Mestrado Profissionalizante, para obtenção do Título de Mestre 
em Gestão de Políticas Públicas pelo Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em 
Ciência Política – CPCP – da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. 
 
Já o objetivo investigatório subdivide-se em geral e 
específico. O geral consiste em pesquisar, na área do Direito brasileiro, sobre a 
ressocialização do apenado submetido à pena privativa de liberdade, 
especificamente no tocante às questões que envolvem as políticas públicas 
pertinentes, fazendo uma reavaliação destas. O específico é assim estabelecido: 
a) sintetizar as etapas históricas da pena privativa de liberdade, na Antigüidade e, 
posteriormente, no Brasil, bem como as regras gerais de direitos humanos 
voltados ao preso; b) promover abordagem panorâmica da ação federal e da 
execução penal, avaliando a função social da pena, confrontando o modelo 
ressocializador atual e procedendo a uma análise da sua eficiência ou falibilidade, 
e c) analisar a questão da política de ressocialização então vigente, apontando as 
deficiências e imperfeições, procedendo uma proposta de um sistema prisional 
mais adequado. 
 
Para a investigação do objeto desta pesquisa, o método a 
 17 
ser utilizado, através da pesquisa bibliográfica, será o indutivo. Este vem a ser um 
processo mental, e por intermédio dele, partindo de dados particulares, 
suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal não 
contida nas partes examinadas. Portanto, o objetivo dos argumentos é levar a 
conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que as premissas nas quais se 
basearam9. 
 
Os dados foram coletados por meio de consultas a 
periódicos, artigos de revistas especializadas no assunto, bibliografia, etc. Os 
dados da pesquisa foram coletados entre o período de agosto de 2004 a maio de 
2005. Para a análise dos dados coletados, utilizou-se a metodologia na análise de 
conteúdo, na modalidade de análise temática. Os resultados são apresentados 
em cinco categorias finais: o sistema prisional brasileiro, a necessidade da pena 
privativa de liberdade, o Estado e a execução penal, a função social da pena e 
políticas públicas de reinserção social. Detectou-se que o Estado não vem 
conseguindo alcançar o seu mister no que diz respeito à ressocialização do 
apenado, na medida em que não possui políticas públicas adequadas para tal 
desiderato, fazendo-se necessário, portanto, a aplicação de políticas eficazes 
para resolver ou minorar os problemas apresentados pelo sistema prisional 
brasileiro. 
 
Decorrente dos mencionados objetivos investigatórios foram 
elaborados três problemas e respectivas hipóteses que serviram de base para o 
desenvolvimento da pesquisa, que serão a seguir analisadas. 
 
Primeiro problema: Qual a origem da pena privativa de 
liberdade e como se processou seu desenvolvimento ao longo da história de 
modo a assumir a matiz atualmente existente? Hipótese: A pena privativa de 
liberdade surgiu do próprio convívio do homem em sociedade, como mecanismo 
de defesa, progresso e interação social, sendo que como é posta atualmente não 
existia nas sociedades antigas. Havia a privação da liberdade, porém, esta 
 
9
 LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos da Metodologia científica. 
5. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 47. 
 18 
apenas era usada para assegurar a execução da pena definitiva, que na sua 
maioria era de morte. Somente com o advento do cristianismo é que assumiu o 
caráter de sanção. 
 
Segundo problema: Qual a função social do Estado frente à 
imposição da pena privativa de liberdade e como este vem desempenhando suas 
atividades de modo a viabilizar o alcance dos objetivos teoricamente 
estabelecidos na legislação pátria? Hipótese: O Estado da atualidade possui a 
função social de pacificar os conflitos, assegurando a continuidade das relações 
sociais de forma harmoniosa e sem afronta às garantias individuais, de modo que 
necessita sopesar, quando da aplicação da pena, a resposta esperada pela 
sociedade com relação ao indivíduo infrator, com as garantias individuais deste 
em receber o tratamento estatal adequado à sua ressocialização. 
 
Terceiro problema: Existe a necessidade de um novo 
modelo ressocializador para a pena privativa de liberdade e quais são as 
propostas de novas políticas públicas adequadas à efetivação da função 
educacional da pena? Hipótese: O modelo da pena privativa de liberdade 
atualmente estabelecida pelo Estado brasileiro não tem alcançado os seus fins, 
de modo que a função tríplice do encarceramento do infrator encontra-se 
preterida em razão de outras prioridades. O atual modelo de correção não atende 
às exigências sociais e nem individuais do violador da norma legal. A segregação 
não pode ser feita de modo a violentar as garantias constitucionais, donde se faz 
necessária a implementação de novas políticas públicas para enfrentar a 
problemática. 
 
Esta dissertação está dividida em três capítulos. 
 
O primeiro capítulo apresenta uma abordagem histórica da 
pena, bem como da sua evolução no direito brasileiro. Trata, também, dos 
diversos tipos de pena, com breves explicações sobre a função de cada uma 
delas no ordenamento jurídico brasileiro. Ao final, discorre sobre a questão do 
egresso, com explanações sobre características, estigmas, preconceitos e 
 19 
reincidência, culminando com breve análise sobre o sistema prisional brasileiro e 
a crise falencial na ressocialização do egresso. 
 
O segundo capítulo é dedicado ao estudo da função social 
do Estado e a execução penal no Brasil. Abordam-se, ainda, os regimes 
penitenciais brasileiros, bem como a questão dos benefícios da pena privativa de 
liberdade e o fracasso do sistema prisional brasileiro. 
 
O terceiro capítulo faz uma abordagem acerca do 
neoliberalismo, bem como analisa as Políticas Públicas de reinserção do 
apenado, na pena privativa de liberdade, com destaque para o seu conceito e seu 
histórico. Traz, ainda, um estudo a respeito das políticas públicas de combate à 
exclusão social de infratores, como também uma análise sobre a atual situação 
das políticas públicas em relação ao apenado. Por derradeiro, disserta-se acerca 
sobre os problemas que envolvem as políticas públicas de ressocialização e as 
sugestões para o aprimoramento do atual sistema penitenciário brasileiro. 
 
As categorias estratégicas deste trabalho, com seus 
respectivos conceitos operacionais estarão contempladas ao longo da pesquisa, 
sem quaisquer destaques. 
 
Em relação aos procedimentos de pesquisa, optou-se por, 
num primeiro momento, fazer uma análise do histórico das penas, bem comofazer uma explanação sobre elas, para depois, tratar da questão da função do 
Estado neste contexto e, finalmente, fazer uma abordagem sobre as políticas 
públicas atualmente adotadas no que diz respeito à função ressocializadora da 
pena e, só então, trazer sugestões de melhorias no tocante a elas. 
 
 
 20 
2 O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO E A NECESSIDADE DA PENA 
PRIVATIVA DE LIBERDADE 
 
 
2.1 HISTÓRICO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE 
 
A pena privativa de liberdade, como é posta atualmente, não 
existia nas sociedades antigas. Havia a privação da liberdade, porém, esta era 
usada apenas para assegurar a execução da pena definitiva, que na sua maioria 
era de morte. 
 
Explica Oliveira10 que 
 
A Lei Mosaica não mencionava uma única vez a pena detentiva 
de prisão. Se o “Pentateuco”, não previa a pena de prisão, 
posteriormente as “Crônicas” e o “Livro de Jeremias”, em muitas 
passagens, falavam em prisões, fossas e entraves, como medidas 
preventivas em que os acusados aguardavam o julgamento. 
É só no “Livro de Esdras”, que, pela primeira vez, o 
aprisionamento é considerado pena. 
 
O antecedente remoto da prisão era o cárcere que 
significava masmorra, subterrâneo ou torres. Os indivíduos da época viviam 
amontoados aguardando seu julgamento ou pena que eram castigos corporais, 
morte, etc. O cárcere era usado como local de retenção provisória, não era uma 
pena. A pena surgiu na Idade Média por influência da Igreja, sendo aplicada no 
século V11. 
 
Foi na sociedade cristã que a prisão tomou forma de sanção. 
Na Idade Média, o Direito Canônico impunha a reclusão para os clérigos que 
incorressem em infrações eclesiásticas e também para os hereges e delinqüentes 
 
10
 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social. 2. ed. revista e ampliada. Florianópolis: 
Ed. da UFSC, 1996, p. 44. 
11
 SANTOS, Vera Lúcia Silano Domingues dos. O papel desempenhado pelo trabalho do (a) 
preso(a) no seu processo de reinserção social. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, 2003, 
p. 18. 
 21 
julgados pela jurisdição da Igreja12. 
 
A palavra penitência nos primórdios do cristianismo 
significava "volta sobre si mesmo", com o espírito de compunção, para reconhecer 
os próprios pecados ou delitos. Abominá-los e propor-se a não tornar a reincidir13. 
 
Neste período, castelos, fortalezas e conventos mantinham 
espaço como prisão. A Igreja, em suas leis, admitia a pena privativa de liberdade, 
sendo consagrado, nesta época, o termo “penitenciária”14. 
 
No século XVI, surgiram as galés ou galeras. Navios que 
serviam de prisão, onde o preso cumpria a pena de remar, com dura jornada de 
trabalho forçado. Alguns governos da Europa, como a Áustria, vendiam 
condenados a outros países para o trabalho nas galés, pois representava 
apreciável valor econômico. As galés desaparecem com o desenvolvimento da 
navegação15. 
 
Surgiram, também, neste período, as chamadas casas de 
força, que eram destinadas a internar os mendigos, vagabundos, prostitutas e 
jovens entregues à vida desonesta, os quais estavam sujeitos ao regime de 
trabalho obrigatório16. 
 
Em seguida, surgiram os presídios militares, em decorrência 
da necessidade de mão-de-obra para os serviços de fortificações. Depois se 
passou para os presídios de obras públicas com a condenação de réus a 
trabalharem em canais e prédios públicos, presos a correntes, vigiados por 
pessoal armado, permanecendo à noite em barracas ao ar livre. Como havia a 
concorrência ao trabalhador livre, essa tendência não prosperou. Assim, optou-se 
pelo encarceramento dos prisioneiros em velhas edificações que antes serviam 
 
12
 OLIVEIRA, Edmundo. Origem e Evolução Histórica da Prisão, p. 56. 
13
 SANTOS, Vera Lúcia Silano Domingues dos. O papel desempenhado pelo trabalho do (a) 
preso(a) no seu processo de reinserção social, p. 18. 
14
 OLIVEIRA, Edmundo. Origem e Evolução Histórica da Prisão, p. 56. 
15
 OLIVEIRA, Edmundo. Origem e Evolução Histórica da Prisão, p. 58. 
16
 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p. 46. 
 22 
aos religiosos17. 
 
O modelo prisional com caráter reeducacional originou-se na 
Holanda com a criação de casas correcionais para homens e mulheres na cidade 
de Amsterdã, no final do século XVI. Essas prisões destinavam-se, a princípio, a 
ser uma espécie de presídio abrigando vadios, mendigos e prostitutas. 
Posteriormente surgiram em outros países da Europa, no século XVII, 
penitenciárias com a mesma finalidade. Embora esses estabelecimentos se 
destinassem ao específico cumprimento da pena com caráter educativo, é 
importante ressaltar que penas de suplícios continuaram a ser aplicadas em 
grande escala18. 
 
Entre os séculos XVII e XVIII surgiu um grande número de 
estabelecimentos de detenção para os condenados, porém estes não obedeciam 
a nenhum princípio penitenciário, como também não tinham nenhuma forma de 
higiene, pedagogia e moral19. 
 
Em meio aos movimentos de reforma do regime carcerário, 
adveio a Revolução Francesa, época em que o povo de Paris investiu contra a 
Bastilha, que era o símbolo da opressão20. 
 
Houve também, neste período, um grande avanço no Direito 
Penal, especialmente com Cesare Beccaria e John Howard, que causaram uma 
verdadeira revolução no que diz respeito ao direito de punir. Esses autores, em 
suas famosas obras “Dos Delitos e das Penas”, de Beccaria, publicado em 1764, 
e “O Estado das prisões na Inglaterra e País de Gales”, de Howard, lançado em 
 
17
 OLIVEIRA, Edmundo. Origem e Evolução Histórica da Prisão, p. 58. 
18
 ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Secretaria de Estado de Administração Penitenciária. Histórico, 
p. 1. 
19
 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p. 46. 
20
 A Bastilha era uma antiga fortaleza construída em 1370, em Paris, pelo Rei Charles V. A 
fortaleza veio a tornar-se prisão do Estado sob Luis XIII. Tinha capacidade para 42 presos. 
Quando a Revolução Francesa teve início, a primeira coisa que o povo fez foi atacar e destruir a 
Bastilha, no dia 14 de julho de 1789. Nessa ocasião só havia na Bastilha 7 detentos, no entanto, 
a sua tomada pela massa popular foi de vital importância, pois representou a vitória do povo 
sobre o arbítrio da realeza (GRANDE Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo: Nova Cultural, 
1998, V. 3, p. 678. 
 23 
1776, levantaram a questão das concepções pedagógicas de pena naquela 
época, pela grande preocupação que trouxeram no combate aos abusos e 
torturas que eram cometidos em nome do Direito Penal. 
 
Uma das primeiras vozes a repercutir na consciência pública 
para a reforma da sistemática penal foi de Césare Beccaria. A partir deste 
momento, os primeiros indícios de respeitabilidade dos direitos indisponíveis do 
condenado, proclamadas nos princípios adotados pela Declaração dos Direitos do 
Homem21. 
 
Na França, em 1819, o rei Luis XVIII criou o “Conseil 
Supérieur des Prisons” (Conselho Superior das Prisões). Com a criação desse 
conselho, vários procedimentos de investigação foram instaurados, no sentido de 
sanar as mazelas e improbidades, nos estabelecimentos franceses destinados a 
receber presos e infratores submetidos à medida de segurança por enfermidade 
mental22. 
 
Com a morte de Howard, suas idéias tiveram 
prosseguimento por meio do criminalista e filósofo inglês Jeremy Bentham, que 
apresentou um modelo de estabelecimento prisional de forma diferente, 
conhecido como panóptico. Essa nova concepção penitenciária mereceu 
destaque pelo seu correcional apresentado, com a separação dos presos por 
sexo, a importância de adequada alimentação, vestuário, limpeza, trabalho, 
assistênciaà saúde, educação e ajuda aos liberados23. 
 
O Panóptico era uma espécie de prisão celular de forma 
radial, de modo que uma só pessoa, colocada em um ponto estratégico, poderia 
fazer a vigilância de todas as celas, sendo que os aprisionados nada podiam ver 
nem mantinham contato com os companheiros de celas vizinhas. Nenhum tipo de 
projeto, influência, contágio e outras barbáries havia possibilidade de serem 
 
21
 ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Secretaria de Estado de Administração Penitenciária. Histórico, 
p. 1. 
22
 OLIVEIRA, Edmundo. Origem e Evolução Histórica da Prisão, p. 60. 
23
 OLIVEIRA, Maria Odete de. Prisão: um paradoxo social, p. 46. 
 24 
executadas. Por abrigar apenas um prisioneiro em cada cela, todas voltadas para 
o centro do pavilhão, contendo neste uma torre de vigia, eram eles guardados 
com maior segurança e economia. 
 
Explica Foucault24 que o desenho do sistema panóptico 
permitia um controle global do espaço à sua volta, poder esse que incide sobre os 
homens e suas relações, através de intervenções psíquicas, com objetivo de 
“desmanchar suas perigosas misturas” sem fechar os condenados em 
instituições. 
 
O funcionamento era automático e considerava o indivíduo 
como objeto observável e não sujeito da relação de dominação. O sistema 
panóptico permitia a transferência da vigilância para o vigiado, reduzindo custos 
com ferramentas de controle: “o detento nunca deve saber se está sendo 
observado; mas deve ter certeza de que sempre pode sê-lo”25. 
 
Já no século XX, destaca-se um período triste da história da 
humanidade, o qual Oliveira26 chama de “o quadro marcante da desmoralização 
da prisão” retratada nos desumanos campos de concentração projetados, na 
Europa, pelo plano nazista do Terceiro Reich, liderado por Adolf Hitler, em nome 
de horrenda política anti-semita. Auschwitz, na Polônia, que funcionou de 1940 a 
1945, foi um dos grandes campos de concentração para encarcerar e exterminar, 
em câmaras de gás e fornos crematórios, milhares de judeus. 
 
Nos dias atuais, apesar dos avanços, a prisão continua 
sendo como um meio segregatório pouco eficaz na ressocialização do 
delinqüente. O que mais se vê são casos trágicos, causados pelas pressões, das 
quais se destacam: a morte de 43 presos, por policiais, na Penitenciária de Attica, 
em Nova Iorque, em dezembro de 1971; o motim, em fevereiro de 1995, na 
Penitenciária Central de Argel, que culminou com a morte, por policiais, de 96 
presos liderados por ativistas pertencentes ao grupo islâmico que lutava contra o 
 
24
 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1990. 174. 
25
 FOUCALT, Michel. Vigiar e punir, p. 178. 
26
 OLIVEIRA, Edmundo. Origem e Evolução Histórica da Prisão, p. 60. 
 25 
Governo da Argélia; o massacre da Prisão de Carandiru, São Paulo, em 2 de 
outubro de 1992, resultando na morte de 111 presos, por integrantes da Polícia 
Militar de São Paulo; a matança, por policiais, de 290 presos ligados ao 
Movimento Sendero Luminoso, em abril de 1986, no Peru, nas Prisões de Santa 
Bárbara, San Pedro e El Frontón27. 
 
 
2.2 A PENA DE PRISÃO NO BRASIL 
 
Antes do descobrimento do Brasil, entre os habitantes que 
aqui viviam, há registros da aplicação da pena corporal como forma de punição, 
conforme explicação de Gonzaga28, segundo o qual 
 
As penas corporais foram comumente empregadas, embora não 
se tenha notícias de métodos torturantes. A pena de morte era 
executada com o uso do tacape, recorrendo-se também a 
venenos, sepultamento de pessoas vivas, especialmente crianças, 
e enforcamento. Menciona ainda como forma de execução capital 
o enforcamento. A pena de açoites é também referida, mas a 
privação da liberdade existia como forma de prisão semelhante à 
atual “prisão processual”, destinando-se à detenção de inimigos, 
em seguida à captura, ou como recolhimento que antecipava a 
execução da morte. 
 
Já a partir do descobrimento, a história do sistema prisional 
brasileiro começa a se difundir com a de Portugal, lugar onde, naquele período, 
vigoravam as Ordenações Afonsinas, promulgadas em 1446, sob o reinado de D. 
Afonso V, influenciadas pelo direito romano e canônico29. 
 
Assim, como nos demais países do mundo dessa época, a 
prisão era vista como uma medida preventiva, com o escopo de evitar a fuga do 
delinqüente até o seu julgamento, sendo que em raras hipóteses figurava como 
 
27
 OLIVEIRA, Edmundo. Origem e Evolução Histórica da Prisão, p. 60. 
28
 GONZAGA, João Bernardino. O Direito penal indígena: à época dos descobrimentos do Brasil. 
São Paulo: Max Limonad, s.d., p. 171. 
29
 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial. 3. ed. rev. e ampl. São 
Paulo: Saraiva, 2003, vol. 2, p. 26. 
 26 
um modo de coerção para obrigar o autor ao pagamento da pena pecuniária30. 
 
Com a promulgação das Ordenações Manoelinas, em 1521, 
por determinação de D. Manuel I, manteve-se o sistema da legislação anterior, 
com a previsão da prisão com o caráter coercitivo até o julgamento e a 
condenação do delinqüente31. 
 
Apesar de estar vigente à época do descobrimento, as 
Ordenações Afonsinas não tiveram influência no Brasil, pois, neste período, que 
vigorava o regime das capitanias, o arbítrio dos donatários é que impunha as 
regras jurídicas. Tal poder tinha respaldo nas cartas de doação, que lhes davam 
competência para o exercício da justiça32. 
 
Bitencourt33 afirma que com estes donatários se instalou um 
regime jurídico despótico, sustentado em um neofeudalismo luso-brasileiro que, 
distantes do poder da coroa, possuíam um ilimitado poder de julgar e administrar 
os seus interesses e que desta forma, essa fase colonial brasileira reviveu os 
períodos mais obscuros, violentos e cruéis da História da Humanidade, vividos em 
outros continentes. 
 
Com o advento dos governos-gerais, a legislação 
portuguesa tornou-se mais efetiva, haja vista o caráter administrativo que então 
se implantou, de modo centralizado, o que propiciava uma justiça mais 
disciplinada34. 
 
Consoante Dotti35, as Ordenações Filipinas, em vigor a partir 
de 1603, foram as que mais tiveram aplicação no Brasil e acresceram o elenco de 
infrações e reações tratadas no diploma anterior. Nesse ordenamento, penas 
 
30
 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de pena. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 1998, p. 42. 
31
 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, p. 43. 
32
 PIERANGELI, José Henrique. Códigos Penais do Brasil: evolução histórica. 2. ed. Revista dos 
Tribunais, 2001, p. 7. 
33
 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial, p. 27. 
34
 PIERANGELI, José Henrique. Códigos Penais do Brasil: evolução histórica, p. 7. 
35
 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, p. 45. 
 27 
extremamente graves eram cominadas aos infratores. 
 
Essas Ordenações, assim como as anteriores, desvendaram 
durante dois séculos a “face negra” do Direito Penal e um dos clássicos exemplos 
deste período é a sentença de Tiradentes, que revela toda a crueldade deste 
período da história. Com a Proclamação da Independência do Brasil, em 1822, 
inúmeras mudanças ocorreram em diversos campos do Direito. A Constituição de 
25 de março de 1824 foi uma delas, ao declarar, em seu artigo 179, a 
inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos, tendo por base a 
liberdade, a segurança individual e a propriedade. Previu, também, a organização 
urgente de um código criminal “fundado nas sólidas bases de justiça e 
eqüidade”36. 
 
Em 1832, os estudiosospreocupavam-se em melhorar a 
sorte dos presos, até então ninguém se preocupava. A segurança nas prisões 
precisava de atenção pública, pois a preocupação era dos especialistas no Brasil 
- colônia, o Código Penal de 1830, não estabelecia um regime penitenciário, nem 
se referia a tipos especiais de presídios, prevalecendo a confusão de detentos e a 
promiscuidade, desobedecendo qualquer princípio de ordem, higiene e moral37. 
 
A partir deste período, grandes mudanças ocorreram em 
matéria criminal. O Código Criminal do Império do Brasil foi sancionado pelo 
Imperador D. Pedro I, em 16 de dezembro de 1830 e seguiu o exemplo das idéias 
liberais que dominavam a Inglaterra, França, os Estados Unidos e outros países38. 
 
Com a Proclamação da República, em 1889, e, em 
conseqüência da recém abolição da escravidão, que acarretou algumas 
modificações no Código, com a supressão de algumas figuras delituosas, houve a 
necessidade da elaboração de um novo diploma criminal. Assim, em 1890 foi 
 
36
 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, p. 49-50. 
37
 SANTOS, Vera Lúcia Silano Domingues dos. O papel desempenhado pelo trabalho do (a) 
preso(a) no seu processo de reinserção social, p. 23. 
38
 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, p. 51. 
 28 
expedido o Decreto 817 que mandava observar o novo Código Penal39. 
 
O Código Penal de 1890 foi mais avançado quanto as 
penitenciárias agrícolas, mas o sistema adotado não foi posto em execução, pois 
as colônias agrícolas, estágio para a obtenção do livramento condicional, 
regulamentado pelo decreto 16.665 de 06/11/1924, não foram estabelecidas, 
continuando as penas, sem distinção, cumprindo-se em cadeias e presídios, 
havendo desrespeito à pessoa do preso, o que feria a própria Constituição de 
198140. 
 
Este diploma previa as seguintes modalidades de penas 
privativas de liberdade: a) prisão celular, aplicável a quase todos os crimes e 
algumas contravenções, tendo como característica o isolamento celular com 
obrigação de trabalho, a ser cumprida “em estabelecimento especial”; b) reclusão, 
executada em fortalezas, praças de guerra ou estabelecimentos militares; c) 
prisão com trabalho obrigatório, cominada para os vadios e capoeiras a serem 
recolhidos às penitenciárias agrícolas destinadas para tal fim ou aos presídios 
militares; d) prisão disciplinar destinada aos menores até a idade de 21 anos, a 
ser executada em estabelecimentos industriais especiais41. 
 
Em 1921 foi inaugurada a “Penitenciária do Estado”, no 
Carandiru, que durante muito tempo foi considerada modelo quanto aos aspectos 
arquitetônico e administrativo. Ali, desde o seu princípio, foi implementado o 
“sistema celular e progressivo”, sendo que esta progressão estava adaptada às 
condições brasileiras42. 
 
Ocorre que este “modelo de penitenciária” denominada 
Carandiru, aos poucos foi esmorecendo, chegando a pontos críticos nos seus 
últimos anos de funcionamento, tendo como um de seus destaques o massacre 
ocorrido em 2 de outubro de 1992, com a morte de 111 presos, por integrantes da 
 
39
 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, p. 54. 
40
 SANTOS, Vera Lúcia Silano Domingues dos. O papel desempenhado pelo trabalho do (a) 
preso(a) no seu processo de reinserção social, p. 23. 
41
 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, p. 55. 
42
 FALCONI, Romeu. Sistema presidial: reinserção social? São Paulo: Ícone, 1998, p. 55. 
 29 
Polícia Militar de São Paulo. 
 
Com o advento do Código Penal Brasileiro de 1940 veio a 
simplificação, com a classificação das penas em duas categorias: principais e 
acessórias. Aquelas subdivididas em reclusão, detenção e multa. Estas, em perda 
da função pública, interdição de direitos e publicação das sentenças. Neste 
período já existia em alguns lugares, principalmente nos Estados-membros mais 
ricos, alguma estrutura apta para observar as distinções introduzidas pelo então 
recente Código Penal, que aclarava os conceitos e aplicações das penas de 
reclusão e detenção, além de estabelecer o sistema progressivo em quatro 
períodos: isolamento, trabalho, remoção para a Colônia Agrícola e livramento 
condicional43. 
 
Com o passar dos anos, o Código Penal Brasileiro de 1940 
foi se desatualizando e várias foram as tentativas de melhorar a legislação penal. 
Em 1957 foi criada a Lei nº 3.274, em 02 de outubro, dispondo sobre o regime 
penitenciário. Com esta lei declarou-se expressamente a necessidade de se 
garantir a individualização das penas, a classificação dos delinqüentes, a 
separação dos presos provisórios e dos condenados, a concessão do trabalho e a 
percepção do salário, a educação moral, intelectual, física e profissional dos 
sentenciados, a assistência social aos condenados, aos egressos, e às suas 
famílias e às famílias das vítimas44. 
 
Nos anos 60, vinte anos após a publicação do Código Penal, 
a doutrina e a jurisprudência reconhecem e proclamam as dificuldades e o 
desprestígio da execução das penas privativas de liberdade. 
 
O Decreto-lei nº 1.004, de 21 de outubro, ou Código Penal 
de 1969, como ficou conhecido, foi uma dessas tentativas de melhorar a 
legislação penal, porém nem chegou a entrar em vigor devido às grandes 
dificuldades de natureza político-institucional e obstáculos burocráticos, tendo 
 
43
 FALCONI, Romeu. Sistema presidial: reinserção social?, p. 55. 
44
 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, p. 71. 
 30 
sido revogado pela Lei nº 6.578/78, constituindo o exemplo tragicômico da mais 
longa vacacio legis45 de que se tem notícia46. 
 
Finalmente, em 1984, foi promulgada a Lei nº 7.209, de 11 
de julho, que deu nova redação à Parte Geral do Código Penal Brasileiro. Essa lei 
manteve a pena privativa de liberdade, nas suas duas modalidades, reclusão e 
detenção, como também trouxe algumas modificações, tais como: o repúdio à 
pena de morte, novas penas patrimoniais, a extinção das penas acessórias e a 
revisão das medidas de segurança47. 
 
Também em 11 de julho de 1984 foi promulgada a Lei nº 
7.210 (Lei de Execução Penal), que buscava trazer avanços no que diz respeito 
ao tratamento dado aos condenados. 
 
Com a promulgação da Constituição da República 
Federativa do Brasil, em 1988, um novo tratamento foi dado aos autores de 
crimes hediondos, através da Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990. Esta lei 
estabeleceu que estes crimes, bem como a prática de tortura, o tráfico ilícito de 
entorpecentes e o terrorismo são insuscetíveis de indulto, graça, anistia, fiança e 
liberdade provisória, devendo a pena ser cumprida integralmente em regime 
fechado48. 
 
Poucos anos depois, em 1995, a Lei nº 9.099, de 26 de 
setembro, que trata dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais trouxe um novo 
tratamento às infrações penais de menor potencial ofensivo, ou seja, as 
contravenções penais e os crimes cominados com pena máxima não superior a 
 
45
 Vacacio legis: Dispensa ou isenção da lei (vacância). SOIBELMAN, Leib. Dicionário Geral de 
Direito, p. 526. 
46
 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial, p. 28. 
47
 DOTTI, René Ariel. Bases e alternativas para o sistema de penas, p. 93-100. 
48
 Art. 2º. Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas 
afins e o terrorismo são insuscetíveis de: 
I - anistia, graça e indulto; II - fiança e liberdade provisória. § 1º A pena por crime previsto neste 
artigo será cumprida integralmente em regime fechado. § 2º Em caso de sentença 
condenatória, o juiz decidiráfundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade. § 3º A 
prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei nº 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes 
previstos neste artigo, terá o prazo de trinta dias, prorrogável por igual período em caso de 
extrema e comprovada necessidade. 
 31 
um ano49. 
 
Esta lei foi um grande avanço em matéria penal, haja vista a 
simplicidade e desburocratização processual, além de ser uma nova oportunidade 
aos autores de pequenas infrações, sem a necessidade do prejudicial 
encarceramento. 
 
Atualmente o sistema prisional brasileiro passa por múltiplas 
crises, com presídios e penitenciárias que não oferecem segurança, tampouco 
ressocializam os detentos. 
 
O grande avanço vislumbrado neste escorço histórico diz 
respeito às infrações de menor potencial ofensivo, que agora têm um tratamento 
diferenciado, sem a necessidade da privação da liberdade do indivíduo. 
 
A pena privativa de liberdade não tem cumprido o seu 
mister, de modo que a busca por penas substitutivas para aqueles crimes de 
menor potencial ofensivo pode ser a chance da uma melhora no sistema prisional, 
que há tempos vem mostrando sinais de falência. 
 
 
2.3 TIPOS DE PENA E SUA FUNÇÃO 
 
As discussões doutrinárias e jurisprudenciais acerca das 
espécies de pena estão concentradas na utilidade de cada uma delas. Entendem 
os doutrinadores que a pena não pode ser uma vingança do Estado em relação a 
um mal praticado. A pena tem uma razão filosófica em si mesma: reeducar para 
reinserir o infrator ao meio social. O Código Penal Brasileiro, em seu artigo 32, a 
respeito das espécies de pena, dispõe que: 
 
Artigo 32. As penas são: 
 
49
 
Artigo 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta 
Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a um 
ano, excetuados os casos em que a lei preveja procedimento especial. 
 32 
I - privativas de liberdade; 
II - restritivas de direitos; 
III - de multa. 
 
No que tange às penas privativas de liberdade, estas podem 
ser de reclusão e de detenção. A pena de reclusão deve ser cumprida em regime 
fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto ou aberto, 
salvo necessidade de transferência para o regime fechado (artigo 33 a 36, do 
Código Penal Brasileiro). 
 
O artigo 33, §1º do Código Penal Brasileiro também explica 
que se considera regime fechado a execução da pena em estabelecimento de 
segurança máxima ou média; regime semi-aberto, a execução da pena em 
colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar e regime aberto a execução 
da pena em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado. 
 
As penas restritivas de direitos, de acordo com a nova 
redação dada ao artigo 4350 e seguintes do Código Penal Brasileiro, pela Lei nº 
9.714/98, dividem-se em cinco modalidades: prestação pecuniária, perda de bens 
e valores, prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas, interdição 
temporária de direitos e limitação de fim de semana. 
 
A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro 
à vítima, a seus dependentes ou a entidade social pública ou privativa com 
destinação social, de importância fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo 
nem superior a trezentos e sessenta salários mínimos51. 
 
 
50
 Artigo 43. As penas restritivas de direitos são: 
I – prestação pecuniária; II – perda de bens e valores; III – (VETADO); IV – prestação de serviço 
à comunidade ou a entidades públicas; V – interdição temporária de direitos; VI – limitação de 
fim de semana. 
51
 Código Penal Brasileiro, Artigo 45. (omissis) 
§ 1º A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes 
ou a entidade pública ou privada com destinação social, de importância fixada pelo juiz, não 
inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O 
valor pago será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se 
coincidentes os beneficiários. (Incluído pela Lei nº 9.714/98) 
 33 
A perda de bens e valores consiste na subtração de bens 
pertencentes aos condenados em favor do Fundo Penitenciário Nacional, e seu 
valor terá como teto o montante do prejuízo causado ou do provento obtido pelo 
agente ou por terceiro, em conseqüência da prática do crime52. 
 
A prestação de serviços à comunidade ou a entidades 
públicas, aplicável a condenações superiores a seis meses de privação de 
liberdade, consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao condenado53. 
 
As penas de interdição temporária de direitos, dependendo 
do delito praticado pelo condenado são: proibição do exercício de cargo, função 
ou atividade pública, bem como de mandato eletivo; proibição do exercício de 
profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou 
autorização do poder público; suspensão de autorização ou de habilitação para 
dirigir veículo e proibição de freqüentar determinados lugares54. 
 
Finalmente, a limitação de fim de semana consiste na 
obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por cinco horas diárias, em 
casa do albergado ou outro estabelecimento adequado, sendo que durante a 
permanência poderão ser ministrados ao condenado cursos e palestras ou 
atribuídas atividades educativas55. 
 
No que tange à pena de multa, esta consiste no pagamento 
ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa, 
sendo, no mínimo, de dez, e, no máximo, de trezentos e sessenta dias-multa56. 
 
A respeito da função da pena, há que se dizer que no Direito 
Penal é quase unânime o entendimento de que esta se justifica por sua 
necessidade. No entanto, existem diversas teorias que tentam explicar o sentido, 
a função e a finalidade da sanção penal. Entre estas se destacam algumas mais 
 
52
 Artigo 45, §3º, Código Penal Brasileiro (Incluído pela Lei nº 9.714/98). 
53
 Artigo 46, Código Penal Brasileiro, com redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998. 
54
 Artigo 46, Código Penal Brasileiro, com redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998. 
55
 Artigo 48, Código Penal Brasileiro, com redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984. 
56
 Artigo 49, Código Penal Brasileiro, com redação dada pela Lei nº 7.209, de 1984. 
 34 
importantes: teorias absolutas ou retributivas, teorias relativas (prevenção geral e 
prevenção especial) e teorias unificadoras ou ecléticas. 
 
De acordo com a teoria absoluta, a finalidade da pena é 
simplesmente o castigo pelo mal praticado, com isso havendo a reparação 
moral57. 
 
Esta teoria advém do Estado absolutista, que considerava 
que o poder soberano era-lhe concedido diretamente por Deus. A idéia que se 
tinha da pena era a de ser um castigo com o qual se expiava o mal (pecado) 
cometido58. 
 
Foi neste período que teve origem a teoria do “contrato 
social”, segundo a qual aquele que contrariasse esse contrato social era tido 
como traidor, haja vista que sua atitude não cumpria o compromisso de conservar 
a organização social59. 
 
O grande idealizador desta teoria foi Jean-Jacques 
Rousseau (1712-1778). Para ele, que era avesso ao absolutismo, a solução dos 
problemas estatais residia na conferência de toda legitimidade da ação política à 
vontade geral (povo). Daí se extrai que para Rousseau a soberania estava no 
povo e não no Estado, portanto, aquele poderia rebelar-se contra este. 
 
Rousseau60, em sua obra “Do contrato Social” defendia que: 
 
Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja de 
toda a força comum a pessoa e os bens de cada associado, e 
pela qual, cadaum, unindo-se a todos, só obedeça, portanto, a si 
mesmo, e permaneça tão livre como antes. É esse o problema 
fundamental para o qual o contrato social dá a solução. 
Desta forma, para Rousseau61, 
 
57
 SILVA, Jorge Vicente. Execução penal. 2. ed. 3. tir. Curitiba: Juruá, 2003, p. 12. 
58
 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial, p. 42. 
59
 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial, p. 43. 
60
 ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social: princípios do direito político. SABINO JR, 
Vicente (trad.), São Paulo: CD, 2003, p. 30. 
 35 
 
As cláusulas desse contrato são de tal maneira determinadas pela 
natureza do ato que a menor alteração as tornaria vãs e de defeito 
nulo; de sorte que, embora jamais tenham sido formalmente 
enunciadas, são as mesmas em todas as partes, tacitamente 
admitidas e reconhecidas em todas as partes; até que, violado o 
pacto social, cada um retorne então aos seus primeiros direitos e 
retorne a sua liberdade natural, perdendo a liberdade 
convencional pela qual ele renunciou. 
 
Bobbio62 afirma que tanto Hobbes quanto Rousseau 
concebem o contrato social como um “contrato de alienação” dos próprios direitos 
(tratando-se, portanto, de um verdadeiro pactum subiectioneis), que é exatamente 
a vontade dos indivíduos contraentes. No entanto, diferentemente da renúncia de 
Hobbes, que leva a abandonar a liberdade natural para obter a servidão civil, a 
renúncia de Rousseau deveria levar a abandonar, sim, a liberdade natural, mas 
para reencontrar uma liberdade mais plena e superior, que é a liberdade civil, ou 
liberdade no Estado. 
 
Destarte, para Rousseau63, “a liberdade consiste na 
obediência à lei que prescrevemos a nós mesmos”, possuindo a teoria 
absolutista, neste sentido, cunho meramente vingativo. 
 
De acordo com o esquema retribucionista, a pena tem como 
único fim a realização da justiça, nada mais. A culpa do autor deve ser 
compensada com a imposição de um mal, que é a pena. 
 
Destacam-se como principais representantes desta teoria, 
Kant e Hegel, havendo, no entanto, uma diferença entre a formulação de um e 
outro: enquanto em Kant a fundamentação é de ordem ética, em Hegel é de 
ordem jurídica64. 
 
61
 ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social: princípios do direito político. SABINO JR, 
Vicente (trad.), São Paulo: CD, 2003, p. 30. 
62
 BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no pensamento de Emanuel Kant. FAIT, Alfredo (trad.). 4. 
ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1997, p. 46-47. 
63
 ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social: princípios do direito político, p. 58. 
64
 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial, p. 43. 
 36 
 
A teoria relativa vê na pena cunho exclusivamente 
preventivo, valendo a segregação como forma de proteção da sociedade, além de 
oportunidade de ressocializar o criminoso65. 
 
De acordo com as teorias preventivas a pena não visa 
retribuir o fato delitivo cometido, mas sim prevenir a sua prática. Esta teoria 
divide-se em duas direções: prevenção geral e prevenção especial. A prevenção 
geral fundamenta-se em duas idéias básicas: a idéia de intimidação ou a 
utilização do medo, e a ponderação da racionalidade do homem. Já a prevenção 
especial procura evitar a prática do delito, mas, ao contrário da prevenção geral, 
dirige-se exclusivamente ao delinqüente em particular, objetivando que este não 
volte a delinqüir66. 
 
Para a teoria mista, a sanção penal por sua própria natureza 
é castigar o infrator pelo mal praticado, porém, tem a finalidade também de 
prevenir educando e corrigindo-o67. 
 
Esta teoria tenta agrupar em um conceito único os fins da 
pena, buscando recolher os aspectos mais destacados das teorias absolutas e 
relativas. 
 
No âmbito político atual, está na pauta do dia a discussão 
sobre as funções manifestas e latentes (reais) do poder punitivo estatal, no qual 
aquilo que parece estar se concretizando é um absoluto predomínio da utilização 
– com fins políticos – da pena privativa de liberdade em suas funções não 
declaradas, portanto latentes, sobre aquelas funções cujos fins estão 
pretensamente legitimados pela doutrina penal e que estão inseridos no conceito 
do jus puniendi, as funções manifestas ou reais68. 
 
65
 SILVA, Jorge Vicente. Execução penal, p. 12. 
66
 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial, p. 43. 
67
 SILVA, Jorge Vicente. Execução penal, p. 12. 
68
 ZAFFARONI, Eugênio Raul et al, apud GUIMARÃES, Carlos Alberto Gabriel. Revisão crítica da 
pena privativa de liberdade: uma aproximação democrática. Disponível em 
 37 
 
Neste sentido, Mir Puig69 faz uma aproximação axiológica 
entre os fins da pena e os fins do Estado que, para ele, deve ser Social e 
Democrático de Direito o que, em última instância, fará com que os fins da pena 
estejam intimamente ligados aos fins pugnados pelo Estado. 
 
Destarte, afasta-se a absolutização das penas fundadas em 
uma concepção metafísica de justiça desvinculada dos fins políticos garantidos 
pela Constituição do Estado Social e Democrático de Direito, garantindo-se desse 
modo, uma correta e fundamentada aplicação das sanções punitivas70. 
 
Todo o discurso penal tradicional hoje pode ser condensado 
em um discurso militar, ou seja, na guerra contra o crime. É bom que se lembre, 
na guerra não há leis, ou melhor, há a lei da guerra, segundo a qual tudo é 
permitido para vencer o inimigo. 
 
Destarte, mister que se erija um novo pensamento, fundado 
no reconhecimento dos efeitos degradantes da prisão, da seletividade do sistema 
penal como realidade incontestável, do fenômeno da prisionização, da existência 
da cifra negra da criminalidade oculta, do poder descontrolado das agências 
executivas do sistema penal, do pequeno poder que detêm as agências judiciais 
frente aos sistemas penais paralelos e subterrâneos. 
 
Enfim, uma nova teoria da pena passa necessariamente 
pela desconstrução do que está posto, pela oposição a todo um discurso que 
impõe o consenso como forma de manutenção do poder, já que 
 
pretender conservar um poder exercido mediante um discurso 
falso, quando se sabe que este legitima – e sustenta – um poder 
diverso exercido por outros, que custa vidas humanas, que 
 
<http://www.pgj.ma.gov.br/ampem/artigos/artigos2005/cadowr9p.pdf>. Acesso em 10 jun 2005, 
p. 1. 
69
 MIR PUIG, Santiago, apud GUIMARÃES, Carlos Alberto Gabriel. Revisão crítica da pena 
privativa de liberdade: uma aproximação democrática, p. 1. 
70
 GUIMARÃES, Carlos Alberto Gabriel. Revisão crítica da pena privativa de liberdade: uma 
aproximação democrática, p. 2. 
 38 
degrada um grande número de pessoas (tanto aquelas que o 
sofrem quanto as que o exercem) e que se trata de uma constante 
ameaça aos âmbitos sociais de auto-realização, é, a todas as 
luzes, eticamente reprovável71. 
 
Uma das mais atualizadas teorias críticas sobre as funções 
da Pena denomina-se “Teoria negativa ou agnóstica da pena”, que se resume em 
não acreditar que a pena possa cumprir – na grande maioria dos casos – 
nenhuma das funções manifestas a ela atribuídas. 
 
Esta teoria, segundo Guedes72 trata de 
 
toda e qualquer coerção que impõe uma privação de direitos ou 
uma dor, sem reparar nem restituir, nem tampouco deter as lesões 
em curso ou neutralizar perigos eminentes, sendo, na verdade, 
uma manifestaçãodo poder punitivo que abrange diversas formas 
de coerção, tais como o poder de vigiar, observar, controlar 
movimentos e idéias, obter dados da vida privada dos cidadãos, 
processá-los e arquivá-los, impor restrições à liberdade sem 
controle judicial. 
 
Em razão de negar os possíveis efeitos positivos da pena, a 
teoria agnóstica se volta para a contenção do poder punitivo, da violência a ele 
imanente, dirigindo todos os seus esforços para as agências judiciais, como 
possíveis instâncias de contenção da criminalização desenfreada e de seus 
efeitos nefastos73. 
 
Diferentemente das demais correntes de pensamento, a 
teoria negativa é constituída não com o escopo de justificar o poder punitivo, mas 
sim de contê-lo. A função do Direito Penal deixa de ser retributiva ou preventiva, 
passando a ser garantista, não lhe cabendo “fazer justiça” ou “coibir a prática de 
 
71
 ZAFFARONI, Eugênio Raul et al, apud GUIMARÃES, Carlos Alberto Gabriel. Revisão crítica da 
pena privativa de liberdade: uma aproximação democrática. 
72
 GUEDES, Guilherme. Releitura Democrática da legitimação das conseqüências jurídicas do 
delito. Disponível em O Direito.com. <http://www.odireito.com>. Publicado em 09 fev. 2005. 
Acesso em 14 jun 2005, p. 1. 
73
 GUIMARÃES, Carlos Alberto Gabriel. Revisão crítica da pena privativa de liberdade: uma 
aproximação democrática, p. 1. 
 39 
delitos” (já que para isto mostrou-se incapaz), mas sim neutralizar a constante 
ameaça dos elementos do estado de polícia74. 
 
Assim, concebe-se a pena como toda e qualquer “coerção 
que impõe uma privação de direitos ou uma dor, mas não repara nem restitui, 
nem tampouco detém as lesões em curso ou neutraliza perigos eminentes”. Em 
outros termos, para a teoria negativa, a pena passa a ser compreendida como 
mero ato de poder que só tem explicação política, sendo uma manifestação do 
poder punitivo que abrange diversas formas de coerção, tais como o poder de 
vigiar, observar, controlar movimentos e idéias, obter dados da vida privada dos 
cidadãos, processá-los e arquivá-los, impor restrições à liberdade sem controle 
judicial75. 
 
Em relação ao fundamento da pena, sustenta-se que a 
sanção punitiva não deve “fundamentar-se” em nada que não seja o fato 
praticado, qual seja, o delito. Em resumo, esta teoria aceita a retribuição e o 
princípio da culpabilidade como critérios limitadores da intervenção da pena como 
sanção jurídico penal. A pena não pode, pois, ir além da responsabilidade 
decorrente do fato praticado76. 
 
A Lei de Execução Penal, em seu artigo 1º, dispõe que: 
 
Artigo 1º A execução penal tem por objetivo efetuar as 
disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar 
condições para a harmônica integração social do condenado e do 
internado. 
 
No entanto, conforme assevera Silva77, não se pode deixar 
de questionar a instituição da prisão na medida em que atribui à pena uma dúplice 
 
74
 GUEDES, Guilherme. Releitura Democrática da legitimação das conseqüências jurídicas do 
delito, p. 1. 
75
 GUEDES, Guilherme. Releitura Democrática da legitimação das conseqüências jurídicas do 
delito, p. 1. 
76
 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial, p. 44. 
77
 SILVA, Franciny Abreu de Figueiredo e. Crimes hediondos: o regime prisional único e suas 
conseqüências práticas no sistema punitivo de Santa Catarina. Florianópolis: OAB/SC Editora, 
2003, p. 23. 
 40 
função: ressocializadora e retributiva. 
 
A respeito deste assunto, Bitencourt78 assevera que 
 
A pena privativa de liberdade não ressocializa, ao contrário, 
estigmatiza o recluso, impedindo sua plena reincorporação ao 
meio social. A prisão não cumpre uma função ressocializadora. 
Serve como instrumento para a manutenção da estrutura social de 
dominação. 
 
Deste modo, pode até ser que a pena possa curar ou 
reeducar, mas não se pode afirmar que a pena por si só sirva ou possa servir 
para reeducar o apenado, principalmente na realidade brasileira. A verdade é que 
a pena constitui uma reação da sociedade que, frente ao delito, reage de forma 
vingativa, voltando-se contra o réu e desejando sua punição e castigo. Assim, a 
pena reforça no cidadão uma atitude de fidelidade à lei, apesar de não ser este o 
“fim oficial” da pena privativa de liberdade79, isto porque ela possui função 
ressocializadora. 
 
É preciso reavaliar as verdadeiras finalidades da pena 
privativa de liberdade, pois, da forma como ela está sendo colocada atualmente 
não está se prestando aos fins a que se destina, fazendo-se necessária, portanto, 
uma mudança drástica no sistema prisional brasileiro. 
 
 
2.4 O EGRESSO: características, estigmas, preconceito e reincidências 
 
Entende-se por egresso o detento ou recluso que, tendo 
cumprido a pena, ou por outra causa legal, se retirou do estabelecimento penal. 
 
A lei fala em “assistência ao egresso”, abrangendo, de 
acordo com a concepção moderna de execução da pena, tanto o “egresso 
 
78
 BITENCOURT, Cezar Roberto. O objetivo ressocializador na visão da criminologia crítica. 
Revista dos Tribunais. SP, V. 662, p. 247 – 255, dez. 1990, p. 250. 
79
 SILVA, Franciny Abreu de Figueiredo e. Crimes hediondos: o regime prisional único e suas 
conseqüências práticas no sistema punitivo de Santa Catarina, p. 24. 
 41 
definitivo”, como o “egresso provisório”. 
 
Nesse conceito de “egresso definitivo” deve-se entender o 
liberado definitivamente, que já cumpriu completamente a sua pena em 
estabelecimento prisional, ou que já ultrapassou o período de provas da liberação 
provisória ou condicional. Já o “egresso provisório” é aquele que se encontra sob 
livramento condicional ou em qualquer modalidade do regime aberto: prisão-
albergue, trabalho externo, etc. 
 
Rosa80 faz uma interessante explanação sobre a condição 
do egresso através dos tempos dizendo que uma das penas mais usadas no 
Direito Penal antigo e medieval era a chamada “perda da paz”, com a “interdição 
à água e ao fogo”, muito conhecida dentre os romanos. Através dela o condenado 
era proscrito da sociedade e considerado um fora da lei. 
 
O fora da lei poderia ser morto por qualquer um, pois “pode 
ser morto meritoriamente, sem a proteção da lei, o que não viver conforme a lei” – 
dizia a lei. Bastava que o grupo retirasse a sua mão protetora do delinqüente para 
sua vida correr perigo. Para quem perdia a paz deixava de existir o benefício da 
solidariedade e ficava aberto o caminho para as forças destruidoras que viviam a 
seu redor. Da destruição do que perdia a paz se encarregavam os espíritos, os 
inimigos e aos animais ferozes81. 
 
Tratamento parecido é dispensado ao egresso até os dias 
de hoje. O delinqüente, depois que paga pelo seu crime, ao ingressar novamente 
na sociedade sofre diversos tipos de preconceitos. 
 
D’urso82 avalia que um dos maiores desafios da sociedade 
moderna é assistir ao homem que enfrenta os problemas advindos do 
encarceramento, quer durante o cumprimento da pena de prisão, quer após esta, 
 
80
 ROSA, Antônio José Miguel Feu. Execução penal, p. 118-119. 
81
 ROSA, Antônio José Miguel Feu. Execução penal, p. 119. 
82
 D’URSO, Luiz Flávio Borges. O egresso do cárcere. Disponível em <www.noticias-
forenses.com.br/artigos/nf188/luiz-durso-188.htm. Acesso em 11 de agosto de 2004, p. 2. 
 42 
quando esse homem é devolvido à liberdade. 
 
O egresso vem do sistema prisional brasileiro que hoje conta 
com aproximadamente 230 mil presos, os quais estão acomodados em pouco 
mais de 100 mil vagas, levando a um “déficit” de aproximadamente 130mil vagas 
e a sua superlotação inimaginável. Além disso, há a crueza do sistema que impõe 
as sevícias físicas e sexuais ao encarcerado, num contingente que hoje tem 30% 
de infectados com AIDS e 70% de portadores do bacilo da tuberculose83. 
 
Ao sair para a sociedade, muitas vezes, cheio de doenças e 
problemas, o egresso encontra pessoas arredias e temerosas de dar-lhe uma 
chance. A assistência da família, que se constitui num importante pilar, às vezes 
também lhe é negada. 
 
Ademais, o egresso também tem que enfrentar os próprios 
medos, pois, ao sair do presídio, sente a angústia de ter que deixar um mundo 
isolado para enfrentar novamente aquela sociedade que o segregou. Às vezes é 
difícil para este administrar tal situação, levando-o, na maioria das vezes, a 
delinqüir novamente. 
 
D’Urso84 assevera que de nada adianta todo o esforço para 
melhorar o sistema prisional brasileiro, se ao libertar-se o homem, a sociedade o 
rejeita, o estigmatiza, o repugna e o força a voltar à criminalidade por absoluta 
falta de opção. 
 
Relatos de ex-presos colhidos em entrevista feita por Saint-
Clair85, em reportagem para a Revista Época demonstram a angústia que os ex-
detentos têm que passar para conseguir sobreviver sem ter que voltar a 
criminalidade. Transcrevem-se abaixo alguns depoimentos colhidos: 
 
83
 D’URSO, Luiz Flávio Borges. O egresso do cárcere, p. 1. 
84
 D’URSO, Luiz Flávio Borges. Liberdade de volta: Ex-presidiário precisa de apoio da sociedade. 
Disponível em <http://www.suigeneris.pro.br/direito_dp_liberdadevolta.htm>. Acesso em 12 de 
agosto de 2004, p. 01. 
85
 SAINT-CLAIR, Clóvis. A pena perpétua. Disponível em <http://revistaepoca.globo.com-
/Epoca/0,6993,EPT369288-1664-1,00.html>. Acesso em 12 de agosto de 2004, p. 02. 
 43 
 
Já paguei meus cinco anos por tráfico de drogas e não volto 
nunca mais para a prisão. Já trabalhei em oficina mecânica e sei 
tudo de pintura de carros. Ninguém pinta melhor do que eu. É 
claro que estou meio desatualizado com as cores, mas ainda sei 
que táxis levam o amarelo-java e o azul-báltico. Tentei, mas 
ninguém dá emprego a ex-presidiário. Graças a Deus consegui 
licença para montar esta barraca de doces aqui no Centro do Rio, 
com um empréstimo de R$ 100 no Banco da Providência. Pago 
ainda R$ 10 por dia para dormir numa pensão e outros R$ 3 para 
almoçar. Quase não sobra dinheiro para repor mercadoria, mas 
vou levando. A vida aqui está dura, mas é pior na cadeia. 
 
Verifica-se com este relato que, às vezes, mesmo possuindo 
qualificação, o ex-apenado sofre discriminação, que dificulta o seu reingresso no 
mercado de trabalho, obrigando-o a partir para o mercado informal, se não quiser 
voltar à criminalidade. 
 
A matéria relata ainda que de cada dez presos nas cadeias 
brasileiras, entre cinco e sete já passaram pelas mãos do Estado. A maioria é de 
pequenos assaltantes ou traficantes sem poder na hierarquia da bandidagem e 
mesmo depois de cumprir pena e acertar as contas com a Justiça, dificilmente 
voltam a conseguir um emprego e acabam retornando ao banditismo. E revela 
mais: 34% dos ex-detentos tornam a cometer crimes em menos de seis meses; 
12%, entre seis meses e um ano; e 10%, entre um ano e um ano e meio86. 
 
Pode-se verificar que a estatística apresentada pela matéria 
espelha, sem sombra de dúvidas, a realidade prisional. De acordo com a tabela 
abaixo, que apresenta dados prisionais do Estado do Rio de Janeiro, percebe-se 
que os índices de reincidência são bastante alarmantes, e aumentam a cada dia 
que passa. 
 
Tabela 01. PRESOS REINCIDENTES NOS ÚLTIMOS ANOS 
2000 2002 2003 
Homens 26% Homens 27% Homens 32% 
 
86
 SAINT-CLAIR, Clóvis. A pena perpétua, p. 02. 
 44 
Mulheres 22% Mulheres 37% Mulheres 18% 
Fonte: Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro. Disponível em 
<www.supersaude.rj.gov.br/pesquisas/resumo_pit_2003.pdf>. Acesso em 14 nov. 2004. 
 
De acordo com estes dados, verifica-se que, entre a 
população carcerário masculina, mais de 28% são reincidentes, e entre a 
população feminina este índice é menor, mas não menos alarmante, pois passa 
dos 25%. 
 
Este fato provoca grande preocupação, tendo em vista que, 
entres os homens e mulheres que cometem infração e são presos, mais de um 
quarto volta a delinqüir novamente, e isto se atribui, muitas vezes, ao tratamento 
dispensado ao egresso, ao sair da prisão. 
 
Dentre tantos problemas enfrentados pelo egresso, o mais 
grave inconveniente é a sua marginalização. Muito embora ele possa ter 
possibilidades de ser reintegrado ao convívio da comunidade, com o seu 
afastamento da sociedade o mesmo passa a encontrar resistências que dificultam 
ou impedem a sua reinserção social87.Outro egresso relata, na mesma 
reportagem, o seguinte: 
 
Ainda tenho quatro anos e meio de condicional a cumprir. Fui 
condenado a 12 anos por assalto. Sou eletricista formado, já 
espalhei meu currículo, mas ainda não consegui nada. Enquanto 
estive no regime aberto, e dormia na prisão, trabalhei para a 
Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos), no Rio. Tirava 
R$ 350 por mês cavando buracos na rua. Quando ganhei 
liberdade condicional, perdi o emprego. Junto comigo foram uns 
200 ex-detentos. No presídio tem gente que nem quer sair do 
regime aberto para não perder o trabalho. Outros, que saem, 
cometem pequenos delitos só para voltar. Eu não volto. Já fiz 
muita gente sofrer. Meus filhos mudaram de escola porque eram 
discriminados por colegas e até professores88. 
 
Pelo depoimento deste egresso pode-se observar, com 
 
87
 MIRABETE, Júlio Fabrinni. Execução Penal, p. 84. 
88
 SAINT-CLAIR, Clóvis. A pena perpétua, p. 03. 
 45 
clareza, que a sociedade não aceita o ex-presidiário junto aos demais no mercado 
de trabalho. Outro fato triste, mas não raro, é a discriminação sofrida pela família 
do condenado. 
 
Percebe-se assim, que mesmo o condenado que cumpriu 
completamente a sua pena e agora está definitivamente liberado, ou seja, pagou 
integralmente a sua dívida para com a sociedade, que nada mais pode reclamar 
dele, não tem a recepção necessária para manter-se dentro do convívio com os 
demais. O auxílio ao egresso, previsto na Lei de Execução Penal é, portanto, algo 
somente teórico, que não condiz com realidade dos fatos. 
 
O egresso, ao sair da prisão, tem a necessidade, de ajuda e 
assistência, para poder retomar a sua vida normal, mas, diante de tantas falhas 
apresentadas pelo sistema, este dever do Estado é praticamente nulo. Aliás, o 
simples fato de conseguir um emprego torna-se uma missão quase impossível 
para quem carrega o estigma de criminoso: “Quando ficam sabendo que você tem 
a ficha suja, a fisionomia até muda. Dizem que vão te ligar e não ligam nunca 
mais”89. 
 
Disso se depreende que há um grave preconceito por parte 
da sociedade quando o assunto é reintegrar um ex-detento. A maioria tem muito 
medo e não quer se incomodar com os problemas alheios, haja vista que, na 
maioria das vezes, os egressos são provisórios, que ainda estão em liberdade 
condicional. 
 
Outro problema enfrentado pelo egresso é a própria polícia, 
que na maioria das vezes trata o ex-presidiário como se este ainda fosse um 
criminoso, como se pode observar pelo depoimento colhido por Saint-Clair90: 
 
Peguei seis anos por assalto. Minha pena acaba em março de 
2003. Faço curso de computação com a ajuda da Arquidiocese do 
Rio, mas cheguei a trabalhar um mês como faxineiro. Tinha até 
 
89
 SAINT-CLAIR, Clóvis. A pena perpétua, p. 03. 
90
 SAINT-CLAIR, Clóvis. A pena perpétua, p. 02.

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