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Resenha Cores Marcas e Falas

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA (UDESC)
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E DA EDUCAÇÃO (FAED)
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA/ 2012-2
DISCIPLINAS: BRASIL II
PROFESSORA: LUISA TOMBINI
ALUNO: CARLOS ALBERTO LOURENÇO NUNES.
RESENHA
CORES MARCAS E FALAS
SENTIDOS DA MESTIÇAGEM NO IMPÉRIO DO BRASIL
FLORIANÓPOLIS, SC
05/05/2013
Ivana Stolze Lima nasceu em Itapetinga na Bahia. Cursou graduação em História no IFCS-URFJ. Doutorou-se pela UFF. É pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa e professora de História do Brasil na PUC-Rio. Em sua tese de Doutorado Cores, Marcas e Falas: O Sentido da Mestiçagem no Império do Brasil, Ivana Lima traz a problemática das marcas raciais de uma população amalgamada com várias etnias que compunham a massa da população do Império, ou seja, o estereótipo racial com o qual essa população era reconhecida e recebida na sociedade de ideal branco entre as décadas de 1830 e 1860. A mestiçagem dever ser entendida no livro tendo em mente a época imperial o qual a mestiçagem era concebida com “princípio de confusão” (p. 17) onde esse termo incorpora os múltiplos sentidos da mestiçagem. Ivana Lima traz essa expressão do discurso de Nicolau Rodrigues dos Santos França e Leite.
É nesse contexto de “confusão” que Lima procura mostrar a construção das identidades sociais que compõe o Império naquele momento, trazendo a noção de identidade em três pontos: a política, a população e a nação, relacionados à temporalidades distintas entre 1830-1860. Nesse período havia lutas de representação em torno da identidade nacional relacionada à formação da sociedade política.
Nesse período estamos na construção da identidade nacional e é nesse interim que se busca o modelo de “homem” que irá compor essa identidade nacional, onde o homem branco ocupa impreterivelmente a disposição formadora da imagem do Estado/Nação que se constitui após a proclamação de independência em 1822. É num contexto de disputa política e construção da nação em que se começa a pensar quem era o cidadão brasileiro: o português nato, o português nascido no Brasil, como designar os demais? Quem eram eles? Precisou criar nomenclaturas e características morais que compunham esses homens. Não podemos esquecer que esses termos designavam homens livres, a escravidão não estava em questão. Termos serão cunhados oriundos dos embates desses grupos para qualificar esses sujeitos sociais que compõe os que seriam considerados ou não cidadãos.
A imprensa nesse período tem um papel importante, pois é usada como uma “arma” pelos políticos para a difusão de suas ideias e interesses e passa a ser “uma forma de compor a identidade política” e com isso o número de tipografias cresce geometricamente no período de 1830-1860. Em 1830 havia 12 títulos de jornais, já em 1833 temos 51 com os mais variados nomes que procuravam expressar sua posição política: O Lafuente, O Indígena do Brasil, O Cabrito, Verdadeiro Patriota, A Aurora Fluminense, O Jurujuba dos Farroupilhas, O Independente, O Tribuno, A Nova Luz. “Publicar num jornal era uma espécie de batismo político: ganhava-se nome” (p. 40). É nas tensões entre os grupos políticos, que fazem uso do anonimato propiciado pela lei de liberdade de imprensa em seus periódicos, que surgem os termos: mulato, homem de cor, pardo, surgindo às cores dos cidadãos que tinham por objetivo elencar virtudes ou desvirtudes dos homens que poderiam ocupar ou não um posto na sociedade que se formava. O mulato poderia ter ora um sentido ora outro, (p.58e 60), em alguns casos é colocado como talentoso e virtuoso entre os cidadãos, pois aludia à independência da nação, assim era honrado, vitorioso, forte, acima de qualquer suspeita e por isso digno de ocupar uma posição na área militar. Esse homem mulato era usado pelos liberais para fortalecer a ideia de que os nativos da terra é que detinham o direito de ocuparem os cargos políticos da nação, em oposição aos conservadores que era composto por portugueses ou nativos que se alinhavam a identidade portuguesa. Desses choques de ideais a autora traz o surgimento de um teatro de personagens semifictícios, que na realidade eram caricaturas de autoridades denunciadas pelo seu desleixo e incompetência na administração pública e que assim de forma burlesca traziam as “indefinições da classificação racial, nacional e étnicas. Através do riso, o pasquim tematizava a identidade, explora a incerteza das origens sociais” (p.46). Desta forma os periódicos traziam não apenas notícias alarmantes como a revolução do Haiti (p.34) que trazia grande preocupação para o governo brasileiro, mas “formulava questões sobre como deverá existir a sociedade política, dados os desiguais sentidos de ser brasileiro” (p.47). Nesse primeiro capítulo a autora procura trazer o que é ser brasileiro? Quem são os brasileiros? Isso vai depender de como cada grupo defende seus interesses cunhando os termos que irão identificar homens cuja a cor da pele não é a cor branca, mas são homens que participam e pensam a sociedade brasileira e ocupam cargos públicos e assim são reconhecidos como cidadãos o que diferia do ideal em que só homens brancos comporiam a sociedade brasileira como traz a autora, “´participar da milícia significava ser reconhecido como cidadão”.(p. 55). Era a política que norteava quem era ou não era um brasileiro que possuía virtudes e valor e assim termos como pardo, mulato ou homem de cor eram cunhados e defendidos de acordo com a posição de cada grupo político. Entretanto a autora mostra que havia conflitos raciais que tinham por objetivo ofender e diminuir homens cuja cor de pele não era branca.
“Na troca de insultos, frequentemente se lançava mão de linguagem racial como dispositivo de combate. Para os portugueses, todos os baianos eram cabras ‘indignos da Costa da África’, conforme se queixava-se o ofendido branco baiano Bento França, filho de deputado às cortes, senhor de engenho e marechal de campo Luís Paulino. ‘Cabra’ significava, no vocábulo racial da época, alguém de pele mais escura que um mulato e mais clara que um negro. Brancos reais, brancos sem dúvida, só eles portugueses. Talvez por isso os manifestantes baianos os chamassem de ‘caiados’, gente exageradamente branca como a cal. Ser branco demais virava assim um estigma no discurso patriótico popular, e ‘caiado’ seria, mesmo após a Independência, o insulto racial predileto de negros contra os brancos.” (p.62) Fonte: João José Reis, O jogo duro do Dois de Julho: o “Partido Negro” na Independência da Bahia, in João José Reis e Eduardo Silva, Negociação e conflito, op. Cit., p.85
	Na segunda parte de seu livro Ivana Stolze Lima, traz a preocupação em identificar a composição da nação. Quantos eram os brancos? Quantos eram mestiços? Quantos eram livres? Quantos eram escravos? Começou-se a pensar em se fazer um Censo, muitos na realidade tinham feito um “ensaio”, mas nunca de fato chegaram a ocorrer. O primeiro censo só ocorrerá em 1872, contudo outras tentativas foram feitas para se ter conhecimento da composição da população. Muitos conflitos foram gerados com essas tentativas, pois os cidadãos pensavam se tratar de um reescravização da população não branca (portuguesa) devido aos vários termos de classificação para designar cada grupo. Houve indisposição em se levar em conta a classificação pela cor da população por parte de alguns homens que compunham o governo, mesmo assim foi levado adiante e foi feito um levantamento para se conferir a composição da população e para a grande decepção das autoridades constatou-se que as gentes de cor superavam em muito o número de brancos. Na página 120 temos uma tabela que demonstra uma das contagens feitas.
	Na terceira parte ela aborda outra questão para a construção do Estado/Nação brasileiro: A Língua. No contexto em que a miscigenação da população já causava grandes choques de concepções e interesses a língua vinha como outro problema: Como deveria se chamar a língua falada no Brasil? Língua brasileira ou língua portuguesa? Para osportugueses a língua falada no Brasil não poderia ser reconhecida como a língua portuguesa falada em Portugal, pois a consideravam como uma “geringonça luso-africana” devido a tantos termos e pronúncias inexistentes na língua falada pelos Portugal.
 É a literatura que vai legitimar a língua falada no império através dos seus escritores que cunharão e explicarão as palavras e as pronúncias existentes na língua falada no Brasil. À imprensa ajudou no processo de divulgação de termos dessas palavras que só existiam em terras brasileiras, mas é a literatura é que vai dar forma a língua e construir essa unidade. Dois homens são o destaque desse processo: Gonçalves Dias e José de Alencar, os dois escritores indianistas. Contudo nesse processo começa a haver uma tensão entre a língua falada pelo povo e a língua literária. Esses dois ícones da literatura brasileira é que defenderão que nossa língua continua sendo a língua portuguesa, contudo procuram explicar o porquê das variações e usam o que para nós hoje parece ilógico, mas que eram alternativas cabíveis à época para explicar tais variações. Estes procuravam justificar tais mudanças como sendo naturais e aceitáveis visto a diferença de clima e a distância, inclusive usando frutas como as responsáveis pela pronúncia diferente das palavras. (p.168). Outro aspecto em se levar em conta era o nome da língua: Língua portuguesa. Para muitos nacionalistas não seria conveniente que ela se chamasse língua portuguesa, mas sim língua brasileira (p.151). O povo, entretanto era desconsiderado na formulação da língua falada no império, pois os homens responsáveis reconheciam que cabia a pessoas capacitadas a construção da língua e não ao vulgo. O que distanciou a língua falada pela elite e a do povo. 
Havia muitas rusgas e choques com os escritores brasileiros e os lusos, visto que os segundos ridicularizavam a língua escrita pelos primeiros e não a consideravam como língua portuguesa e chamava a língua falada aqui de língua de negros, pardos e índios e inferior a língua portuguesa. Há numa fonte colocada pela a autora em seus livros que demonstra como era esses contato entre as duas línguas.
“É verdadeiramente lastimosa a linguagem ou geringonça luso-africana de muita gente nossa, e não só do mençalho, como até de hierarquia elevada. Já não tratarei da prosódia ou acentuação da voz, pela qual entendem tudo que deve ser breve, e formam desta arte uma linguagem tão morosa que enfastia e que quase dá sono. Vemos muitas vezes uma menina galante, viva e espirituosa. Mas em falando é uma miséria; e o mais é que, se alguém lhe diz que se corrija de falar tão descansada e preguiçosamente, arrebita o nariz, chofra-se e responde desdenhosa: ‘Eu nasci no Brasil, e não sei falar língua de marinheiro’” p.150 (Lopes Gama, O carapuceiro, p. 421.).
	É nesse contexto de confusão, na amálgama de etnias que formavam a população brasileira e na polissemia que cada termo cunhado para identificar um sujeito dessa miscigenação e a sua contribuição na formação etino cultural do império que Ivana Lima traz elementos dos mais variados para contribuir na compreensão da identidade do nosso país e das suas cores marcas e falas que formaram e formam o nosso país nos dias de atuais.
REFERÊNCIAS
 LIMA, Ivana Stolze. Cores, marcas e falas: sentidos da mestiçagem no Império do Brasil. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003. 226p
.
Plan1
	RAÇAS
	DOS HOMENS	DAS MULHERES
	Brancos	Pardos	Pretos	caboclos	Brancas	Pardas	Pretas	Caboclas
	Município neutro	96,255	22,762	14,198	665	55,544	22,083	14,278	258
	Império	1,971.77	1,673.97	472,008	200,948	1,815.52	1,650.31	449,142	186,007
Plan2
Plan3

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