Buscar

Disciplina HISTORIA DA IDADE MEDIA ORIENTAL AULA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 45 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

HISTORIA DA IDADE MEDIA ORIENTAL
Aula 01 A Idade Média Oriental/A Desagregação do Império Romano
A Idade Média Oriental é uma disciplina que visa estudar as ocorrências históricas  circunscritas  à parte do  mundo  resultante  da  separação  do Império Romano  em duas  porções  e  de  áreas  não  atingidas por ele ao longo de sua atividade expansionista nos continentes europeu, africano e asiático.
Estudaremos povos pouco citados pela historiografia tradicional como os mongóis e húngaros e alguns, cujas tradições influenciaram em maior ou menor medida, o mundo cristão, caso dos muçulmanos.  
Para empreendermos essa jornada, serão necessários alguns recuos cronológicos. Relembraremos questões como a expansão macedônia, o Helenismo e os elementos que  contribuíram para a desagregação do Império Romano. Tais elementos são necessários para entendermos características assumidas em algumas áreas que são nosso objeto de estudo.
O conceito de Idade Média Oriental.
Como vimos na introdução, entendemos que Idade Média Oriental engloba os eventos e estruturas relacionados a toda a porção do mundo conhecido pelos romanos que não ficou à mercê da atuação e sucesso dos ocupantes germânicos, além de regiões nunca agregadas pelos “senhores“ da Antiguidade.
Para nós, historiadores, essa divisão é apenas ideológica, ou seja, refere-se a um contexto cronológico muito específico. Se aqueles que dedicam seu olhar à Geografia Física podem estabelecer limites rígidos para essa fronteira, nós procuramos não fazê-lo. Tal preocupação se deve ao uso pejorativo  atribuído,  por vezes,  ao termo Oriente.
O intelectual palestino Edward Said, em uma festejada obra, O Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente, advoga a tese de que a concepção que divide o mundo em “oriente” e “ocidente”, sob a máscara de uma distinção didática, na verdade serve para enfatizar diferenças.
Mais do que isso, para, veladamente, estabelecer uma hierarquia cultural, o que dificulta qualquer tentativa de aproximação.
Sua obra é engajada visto,  ter defendido por toda a vida, a causa Palestina, ou seja, a criação do Estado Palestino, nas fronteiras com o Estado de Israel. No entanto, sua reflexão pode ser maximizada e estendida para todos os povos que vivem além das fronteiras do dito mundo ocidental como: chineses, indianos, árabes, mongóis etc. Por muito tempo foi criada uma falsa hierarquia de civilidade, destacando sempre a inferioridade desses indivíduos. Tal postura justificou as maiores atrocidades da História.
Mais uma prova de como esse conceito é ideológico, não real; ressaltamos o tópico de que essa disciplina está abordando o que os romanos e, mais tarde, a Igreja Católica, entenderam como Oriente. Os próprios romanos, assim como os gregos, acreditavam-se superiores a vários povos situados a leste.  A Igreja Católica defendeu a supremacia de sua fé, em detrimento das crenças judaicas e islâmicas.
Esclarecido esse ponto, vamos relembrar as relações estabelecidas ao longo da Antiguidade entre essas frações do mundo e criar o arcabouço para o entendimento de nosso curso.
HELENISMO
Como estudamos em Antiguidade Ocidental, os gregos, após uma série de lutas fratricidas (a Guerra do Peloponeso), ficaram tão fragilizados que se tornaram “presa fácil” para as incursões macedônias.
“No século V a.C, a Macedônia era ainda um conglomerado de 
tribos, vivendo da agricultura e da pastorícia, governados mais ou 
menos, firmemente por seus reis. Os círculos da corte, 
especialmente na  Macedônia, mantinham contatos militares e 
econômicos com o  mundo grego e as classes superiores cada vez 
mais se tornaram gregas na sua cultura”
O historiador norte-americano nos mostra que os macedônios, 
comparados aos habitantes da maioria das poleis gregas no mesmo 
período, estavam em certa desvantagem no que tange à organização 
sociocultural. No entanto, possuíam uma característica muito 
peculiar: a unidade territorial em torno de um monarca.
Lembre-se de que os gregos viviam em comunidades – pólis- 
fragmentadas politicamente e, por vezes, rivais.
Com a ascensão de Filipe II ao trono da Macedônia, esse reino ganhou mais poder: seu exército foi reorganizado, suas táticas militares revalidadas. Em suma, o descompasso dos macedônios em relação aos gregos no século V a.C foi suplantado no século seguinte por uma liderança com tendências expansionistas. Graças a esse fator e à já citada desunião das poleis gregas, Felipe II e seu sucessor Alexandre conseguem ampliar as fronteiras da Macedônia para essa região.  
Após a morte de Alexandre, houve um “esfacelamento interno” do reino macedônio. Sem herdeiros possíveis, suas conquistas foram repartidas entre os generais que lhe assessoravam. Os três principais reinos surgidos foram: Macedônia – nas mãos dos Antigônidas; Ásia – Selêucidas e Egito – Lágidas e outros, de menor expressão.  Pouco tempo depois,  esses reinos começaram a lutar para expandir territórios, por vezes, às expensas dos antigos aliados.
E qual a relação entre os eventos aqui narrados e o Helenismo?
Alexandre e seus sucessores, em seu processo expansionista e dominador, fundaram cidades ou reativaram antigos centros, usando como referência o modelo políade grego. Implantaram instituições tradicionais como a Ágora, os templos, os conselhos e muitos tipos de magistraturas.
Os dominadores, bem como seus descendentes, só se expressavam em grego. Como disse o historiador Claude Mossé:
“De fato, os soberanos helenísticos, que pertenciam à antiga aristocracia macedônica, por serem descendentes dos companheiros de Alexandre, consideravam-se acima de tudo e antes de mais nada representantes do Helenismo. Atraíram gregos para sua corte, povoaram de gregos as cidades que, à imagem do conquistador, fundaram no território de seus reinos, cercaram-se de soldados e administradores gregos. […] Assim, a cultura grega espalhou-se pelo Mediterrâneo”.
Obviamente que esse processo teve uma contrapartida: a expansão helenística também foi influenciada pelas realidades  dos povos da bacia oriental do Mediterrâneo. 
Segundo o supracitado autor: 
“No plano religioso, assim como no plano artístico, havia no Egito, na Síria, na Palestina e na Ásia Menor tradições que a dominação greco-macedônica não poderia suprimir.” (MOSSÉ, 1998, p.161)
As áreas dominadas ocupavam um espaço geográfico muito maior do que costumeiramente ocupavam as poleis, logo, era por vezes inviável reproduzir os modelos gregos em realidades tão díspares. 
A solução mediadora foi, adaptar os elementos dos regimes monárquicos que eram o modelo tradicional dessas áreas ocupadas, aos elementos advindos da cultura grega.
O Helenismo é fruto dessa mistura, desse hibridismo.
Como veremos a seguir, os romanos continuaram essa política de expansão da cultura grega com a incorporação de novos elementos.
Expansionismo territorial romano:
Vamos continuar relembrando os processos que culminaram nas estruturas do Medievo  Oriental.
Pois bem, após a dominação macedônia sobre as poleis gregas, houve a constituição de um efêmero reino, esfacelado como vimos, em consequência da morte de Alexandre.
Essa fragmentação vulnerabilizou a região e a tornou suscetível às invasões. Paralelo a isso, Roma, que no século VIII a. C era apenas uma vila perdida no meio do Lácio, conquistara, com o passar dos séculos, inúmeros domínios, dentre eles os “escombros” das conquistas de Alexandre.
Segundo a historiadora Norma Musco Mendes: “A expansão territorial romana é revestida de características próprias que a diferenciam dos processos de expansão dos outros povos da Antiguidade.
Foi um fenômeno de longa duração com ritmos de intensidade variada, que se estendeu desde o século V a.C, até o século II d.C, com as campanhas de Trajano.
Roma atingiu, sob esse imperador, a extensão máxima de seu império, através da anexação da Dácia, da Armênia, da Mesopotâmica e da Arábia.” 
(MENDES,  2008, p.29)
Ao anexar áreas tão diferenciadas, os romanosque já tinham contato com a cultura grega desde à época em que eles fundaram colônias no sul da Península Itálica, ampliaram essa relação.
O helenismo passou a fazer parte do mundo romano e de todos os seus domínios.
O processo expansionista, contudo, trouxe consequências, não necessariamente positivas para Roma. 
Se por um lado representou abundância em relação ao quantitativo de mão de obra escrava entrante, à arrecadação de tributos, à exploração de matéria-prima; por outro lado, revelou incongruências significativas.
Dentre essas incongruências citamos o fato do expansionismo não ter “socializado” as benesses, em suma, a população em geral não experimentou, a não ser de forma incidental, as vantagens advindas com os êxitos romanos. 
Ainda nessa linha de análise, as próprias estruturas tradicionais romanas não estavam preparadas para as transformações socioeconômicas verificadas. A  República, a partir do século II a.C, começa a entrar em “colapso”.
Após sucessivas disputas intestinas de poder, com a ascensão dos generais e a criação dos triunviratos, forma-se um poder que, sob a ótica da já citada Norma Mendes, é um híbrido:
PRINCIPADO ALTO IMPÉRIO
Para muitos estudiosos, dentre eles Nicolet, o Principado poderia ser caracterizado pela centralização administrativa e pelo militarismo. Em relação a esse particular, houve uma significativa transformação.
No final da República, o exército era custeado pelos generais com recursos particulares e, obviamente, com os resultados das conquistas militares empreendidas. Tal dinâmica era utilizada por esses líderes para ampliar substancialmente seu poder pessoal.
Como sabemos, o surgimento dessas lideranças autônomas foi uma das razões para os problemas no final da República. Afim de neutralizá-las, já a partir de Otaviano, os imperadores romanos capitanearam essa prática tornando-se chefes absolutos dos exércitos. “Os legionários estavam isolados politicamente, separados dos seus generais e ligados apenas ao chefe do governo e, através dele a Roma, personificado na pessoa do imperador. Isso ficou ainda mais evidente quando o imperador Otávio Augusto, no ano 6, criou a Teocracia Militar, sob  sua administração direta. 
O exército passou a depender exclusivamente do Estado e, por conseguinte, do Imperador”. (MENDES, 2008, p.32)
Após séculos de relativa calmaria, (como estudamos em Antiguidade Ocidental, a Pax Romana) o Império começou a vivenciar problemas muito sérios. O século III é marcante para a história romana no que tange à desagregação de sua extensão geográfica. 
Vários estudiosos defendem, inclusive,  que esse foi o marco para o desligamento das porções Ocidente e Oriente.
Nesse contexto, caracterizado pela historiografia como crise do século III, evidenciam-se problemas negligenciados nos séculos passados. Grande parte deles se relacionava à estagnação expansionista, provedora de elementos essenciais à sobrevivência do Império.
Dentre esses problemas, podemos citar a questão da mão de obra escrava. Visto que grande parte dos escravos era resultado de capturas em batalhas, inicia-se um processo de escassez que vai obrigar os romanos a instituir novas formas de trabalho.
Outra questão sistêmica era o déficit econômico vivido por Roma. As despesas para a manutenção do Império Romano aumentavam cada vez mais. 
Manter exércitos protegendo as fronteiras, custear  a política de apaziguamento das massas demandava a renovação constante de recursos e isso não estava ocorrendo. 
Os problemas de corrupção nas províncias e disputas pelo poder complementavam o quadro de crise.
Na tentativa de minimizar a situação, algumas políticas foram implementadas. A primeira delas, a instituição da tetrarquia em 286, um governo composto dois Augustos e dois governantes secundários, os Césares.  Segundo o historiador Michael Grant: “(…) embora a tetrarquia multiplicasse a autoridade, não a dividiu, oficialmente; o império ainda era uma unidade indivisível. A legislação era expedida em nome de todos os quatro, a lei de um dos Augustos era a lei do outro, e os dois Césares eram obrigados a obedecer a ambos.” 
Após a abdicação de Diocleciano, o modelo de tetrarquia desmoronou.
A DESAGREGAÇÃO DO IMPÉRIO ROMANO
Quase um século depois, em 395, Teodósio partilhou o Império entre seus dois filhos: Honório e Arcádio. 
Tal decisão mostrou-se irremediável visto que, seria a partir dela que o Império Romano do Oriente, que já divisava características muito particulares, busca o afastamento das questões ocidentais.
Os povos germânicos que já haviam empreendido avanços significativos nos limes desde o século IV ampliaram sua atuação e tal processo culmina na desagregação do lado Ocidental.
O Império Romano do Oriente, apesar de ter sofrido tentativas de incursões, consegue subsistir a essa fase e aflora como herdeiro de Roma.
Aula 02 - O IMPÉRIO BIZANTINO
Aula 03 Bizâncio e Justiniano
Como  vimos na aula passada, em 518 inicia-se a Dinastia Justiniana, com a subida ao trono do soldado Justino. Segundo a historiografia, o governo era exercido de fato por seu sobrinho, Pedro Sabático. O jovem viria a sucedê-lo sob o nome de Justiniano.
Ao longo das primeiras dinastias, o Império Romano do Oriente preservou a essência dos elementos romanos, mantendo, inclusive, o latim como idioma oficial. Em termos de estruturas político-administrativas, essa lógica se repetiu.  A partir do século VII, as contribuições gregas e asiáticas passam a prevalecer, o que alguns entendem como uma “orientalização” ou “helenização” do Império.
Justiniano (527-565) era casado com uma mulher de origem humilde chamada Teodora. Ao contrário da maioria das mulheres de seu tempo, relegadas a um papel secundário pelos narradores, ela foi diversas vezes citada por seu papel significativo no governo do esposo. Teria influenciado decisivamente em questões de foro político e religioso.    
Logo no início de seu governo de fato, o imperador Justiniano tentou solucionar uma questão que se arrastava por décadas, o Primeiro Cisma da Igreja Católica. Mas o que foi esse Cisma? Em primeiro lugar, a palavra Cisma é empregada em vários contextos históricos, com o sentido de separação.
Você deve se lembrar do Cisma ocorrido entre as 12 tribos hebraicas que originou a formação de dois reinos: o Reino de Israel e o Reino de Judá, conteúdo estudado em Antiguidade Oriental.  
Em 478, o Patriarca de Roma tomou uma atitude extrema ao excomungar o líder religioso Oriental, o Patriarca de Constantinopla.
Desde o Concílio de Niceia, em 325, a Igreja estava subdividida em cinco domínios: o de Roma, o de Constantinopla, o de Jerusalém, o de Alexandria e o de Antioquia. Havia, no entanto, uma maior ascendência do Patriarca romano.
Isso ocorreu porque ele não tomara atitudes para coibir uma heresia, o Monofisismo, cujo número de adeptos era significativo no Egito, Síria e na Terra Santa. Os monofisistas defendiam que a natureza de Cristo era una, ou seja, era apenas espiritual.
Após a excomunhão, o imperador bizantino apoiou o Patriarca, enquanto os poderes então estabelecidos em Roma ficaram ao lado do Papa, levando à desvinculação momentânea das Igrejas Ocidental e Oriental.  Com o projeto de reunir novamente Ocidente e Oriente, Justiniano se comprometeu a proteger a ortodoxia da Igreja e passou a perseguir as heresias, a despeito de sua esposa, que seria adepta do Monofisismo.
Administração e economia
A administração do Império Bizantino foi aos poucos se baseando na lógica do Cesaropapismo, ou seja, o imperador assumiu o poder secular e o poder religioso. Na prática, ele poderia ingerir sobre a doutrina e a sociedade cristã, o que seria, teoricamente um atributo dos membros do clero.
A Igreja passou a ser subordinada ao Estado enquanto o imperador era considerado um representante de Deus na terra. Essa premissa não era uma novidade, visto que desde o governo de Constantino a prática jáocorria. O imperador bizantino deveria, no entanto, respeitar e preservar os privilégios do clero.   Baseado em uma autocracia, esse líder era assessorado por uma complexa rede de funcionários.
A economia do Império Bizantino acompanhava a tendência natural da região. Sempre utilizada como entreposto comercial, manteve essa característica, conectando-se ao Oriente e Ocidente por terra e mar.   
Foi desenvolvido também um significativo setor artesanal, organizado em corporações comandadas e organizadas pelo Estado. As propriedades rurais estavam concentradas nas mãos de poucos indivíduos, sendo a agricultura fundamental para o abastecimento interno.
A política externa de Justiniano apresentou duas posturas: em alguns momentos conciliatória e em outros belicista. Um exemplo da primeira conduta foi a assinatura do tratado de paz com o rei persa em 532. O objetivo era apaziguar as fronteiras orientais do Império. Para tanto, Justiniano se comprometeu a pagar anualmente tributos à dinastia reinante, os sassânidas.
Em relação ao Ocidente, sua postura foi diferenciada. Com objetivo de “reconstruir” o Império Romano, empreendeu batalhas em várias frentes, começando pelo norte da África. Essa região estava sob domínio dos vândalos, um dos povos que ocuparam os domínios romanos após a desagregação do Império. A empreitada foi bem sucedida e o domínio sacramentado em 548.  
Política externa de Justiniano
Continuando seu expansionismo, sob a tutela de seu general de confiança, Belisário, Justiniano retomou dos godos a Sicília, Ravena, Nápoles e Roma e, dos visigodos, partes da Península Ibérica conforme observamos no mapa:
Apesar de seu governo ser conhecido como a época de ouro do Império Bizantino, suas conquistas mostraram-se efêmeras. Mantê-las representava um ônus muito significativo para as receitas imperiais, pois demandavam exércitos para preservá-las sob jugo. Além disso, essas áreas, em sua maioria, apresentavam-se financeiramente inviáveis. Em suma, redundavam em prejuízo e acabaram precipitando problemas internos como veremos a seguir.  
Justiniano, para fazer frente a tantos gastos com os exércitos expansionistas, empreendeu uma reforma de cunho fiscal que representou um acréscimo significativo na tributação interna. Esse foi um dos motivos para o início da Revolta de Nika (ou Nike), ocorrida em 532, e que terminou com a morte de milhares de manifestantes. O fim do conflito representou a consolidação do poder de Justiniano.
Outro motivo alegado para o início do movimento, que durou aproximadamente uma semana e chegou a investir outro imperador no cargo, foi a opressão de Justiniano sobre o monofisismo.
O palco da revolta foi um lugar muito apreciado pela população: o hipódromo. Esse local era um centro de lazer, mas também palco da vida social e de disputas religiosas e políticas.  Lá, reuniam-se as facções desportivas divididas por cores e também por ideias.
 Eram quatro equipes: os azuis, os verdes, os vermelhos e os brancos. Os mais beligerantes eram os primeiros grupos, sendo que a equipe Azul refletia os interesses dos grandes proprietários e da tradição religiosa. Já os Verdes representavam artesãos, comerciantes, altos funcionários provinciais, além de adeptos do monofisismo.
A situação foi precipitada por uma divergência acerca do cavalo vitorioso em um páreo. Justiniano, contrariando a lógica de apoiar uma facção para enfraquecer outra, recusou-se a fazê-lo, o que gerou um efeito rebote: Azuis e Verdes uniram-se contra ele.
Como vimos, não foi um motivo bobo como o resultado de uma corrida, que desembocou no movimento e sim um acúmulo de questões.
Política interna de Justiniano
Os sediciosos tomaram quase toda a capital. Segundo o historiador Procópio de Cesareia, Justiniano cogitou a fuga e foi contido por sua esposa Teodora, que teria dito:
Os sediciosos tomaram quase toda a capital. Segundo o historiador Procópio de Cesareia, Justiniano cogitou a fuga e foi contido por sua esposa Teodora, que teria dito:
 
"Ainda mesmo que a fuga seja a única salvação, não fugirei, pois aqueles que usam a coroa não devem sobreviver à sua perda. Se queres fugir, César, foge; eu ficarei, pois a púrpura é uma bela mortalha."
A partir de então os revoltosos foram visceralmente retaliados pelo general de confiança de Justiniano, Belisário, e a situação contornada com a utilização dos impostos para a reconstrução dos monumentos depredados durante o movimento.
A cultura no império de Justiniano
Falando da arte bizantina propriamente dita, observamos que a multiplicidade de influências, ou seja, romana, grega e oriental gerou um produto novo, rico no que tange a cores, estilos e formas. 
Foi uma arte extremamente ligada à funcionalidade, visto que servia essencialmente à religião.
Em relação à arquitetura, quase nada temos de construções mundanas, no entanto, muitos templos ainda testemunham essa arte. 
Era a tônica das igrejas bizantinas, a aplicação de abóbodas e cúpulas.
Durante os anos de seu governo, Justiniano implementou uma série de grandes construções, das mais diferentes naturezas: desde de fortalezas até suntuosas igrejas, sendo a mais conhecida, a Basílica de Santa Sofia.
Essa obra arquitetônica, também conhecida como Hagia Sofia, foi transformada em mesquita por volta de 1453, quando os turcos otomanos seljúcidas dominaram o Império.  No século XX, tornou-se um museu.
Na decoração interior, era largamente empregado o mosaico. O mosaico bizantino tinha como objetivo ornamentar os templos, mas também o lado proselitista, ou seja, de divulgação dos valores cristãos entre os fiéis.
Dessa forma, eram retratados episódios da vida de Cristo e de seus seguidores. Em termos de técnicas, o dourado era muito utilizado dado o seu simbolismo e os personagens sempre retratados frontalmente, sem nenhuma preocupação com os planos ou a perspectiva.  
A pintura seguia a rigidez dos mosaicos e era manifestada através de afrescos com imagens de anjos, apóstolos e santos. Nos séculos seguintes, a questão da representação de seres humanos ou de Deus redundaria em uma polêmica conhecida como Questão Iconoclasta.
Assunto que trataremos nas próximas aulas.
A produção literária em Bizâncio foi igualmente profícua. Com o passar dos séculos, o latim foi sendo totalmente substituído pelo grego nas composições. Era muito comum os manuscritos serem decorados com as chamadas iluminuras.
O Corpus Iuris Civilis
o longo do governo de Justiniano, foram implementadas várias modificações no âmbito legal. A primeira delas, no ano de 529, foi uma revisão do até então utilizado Código legal romano. Para tal tarefa foram designados dez homens proeminentes. Alguns anos mais tarde, essa obra foi revista e complementada materializando do Corpus Iuris Civilis. Essa foi a base legislativa do Império Bizantino até sua desagregação.
A preocupação de Justiniano com a reformulação do Direito é facilmente compreensível; seria uma maneira de legitimar e consolidar o poder imperial e estabelecer um sistema jurídico eficaz para o Estado.
Esse documento foi subdividido em quatro livros: Codex, Digesto (também conhecido como Pandectas) Institutas e Novelae, cada um deles com características particulares. Segundo a historiadora do Direito Flavia L. Castro: “O Codex foi completado em 529 e reúne a coleção completa das Constituições Imperiais, o Digesto é a seleção das obras dos jurisconsultos, as Institutas são um manual de Direito para estudantes e as Novelae são a publicação das leis do próprio Justiniano”. (CASTRO, F.L. História do Direito Geral e do Brasil. Rio de Janeiro:
Lumen Iuris, 2007, p. 86)
Um dos elementos dignos de menção no Código Justiniano foi sua percepção acerca dos judeus. Foram criadas várias normas que hoje qualificaríamos como anti-semitas, mas que adequavam à lógica de aproximação com a Igreja adotada pelo imperador. 
Dentre essas medidas podemos citar: proibição de relações sexuais entre judeus e cristãos, os judeus estavamproibidos de exercer qualquer cargo público, jamais poderiam testemunhar contra cristãos e, tampouco, ler a Bíblia em hebraico.
Alguns historiadores do Direito, como L. Genicot, identificam nesse documento a base para a tradição jurídica ocidental, visto que muitos de seus fundamentos se aplicam nos dias atuais. Princípios tais como: não há crime sem lei anterior que o defina e em caso de dúvida o réu deve ser beneficiado já estavam esboçados nesse compêndio.
Apesar das tentativas, os problemas religiosos, as pendências econômicas, a corrupção e a falência militar se acentuaram. 
O Império Bizantino passou então a administrar conflitos de maior ou menor expressão. Já no século VII, enfrentou um vivaz adversário, a expansão islâmica, assunto da próxima aula. 
Até lá!
Aula 04 Mundo Árabe pré-islâmico/ O Islã em seus primórdios
A arábia pré-Islamica
Os muçulmanos costumam denominar o período anterior ao surgimento do Islamismo de Jahiliyah, ou seja, Idade da Ignorância. A  região da Península Arábica não possuía centralização política, visto que estava subdividida em várias comunidades independentes.
Em termos geográficos, podemos dividir a península em duas grandes porções: ao norte uma área bastante inóspita, com clima semi-árido e ao sul, de clima mais ameno, ocupada hoje pelo Yemen. Observe nos mapas que é banhado pelo Mar Vermelho e o Golfo Pérsico.
Antes de Maomé e a difusão do Islamismo,  o que prevalecia era a ética tribal. 
Cada indivíduo buscava estabelecer vínculos sanguíneos e de parentesco, por meio de um ancestral comum, formando um clã. Os clãs interagiam ligando-
-se em tribos (qawm).
“Era essencial cultivar uma ardente e absoluta lealdade ao qawm e seus aliados. Somente a tribo poderia garantir a sobrevivência dos indivíduos […] Para cultivar esse espírito comunitário, os árabes desenvolveram uma ideologia chamada muruwah […] A muruwah implica coragem na batalha, paciência e resistência ao sofrimento, dedicação às obrigações cavalheirescas de vingar o mal feito à tribo, proteger os mais fracos e afrontar os fortes.”    
ARMSTRONG, K. Uma biografia do Poeta. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 70.]
Várias tribos viviam de forma nômade, peregrinando pelo deserto, praticando o pastoreio e utilizando os oásis como entrepostos. Eram conhecidos como beduínos. Em contrapartida, também existiam tribos sedentarizadas, ocupantes das regiões mais próximas da costa, caso daquelas que se fixaram em Meca e Yatrib. Os dois grupos se relacionavam através de interações comerciais.  
No norte da Península, alguns grupos estabeleceram reinos de duração variável. Como exemplos podemos 
citar os gassânidas, que firmaram, com o passar do tempo, relações com o Império Bizantino e o reino de 
Hira, que pendia para o lado do Império Persa.Esses dois Estados serão, posteriormente, os primeiros 
alvos da expansão islâmica. Na região conviviam também pequenos grupos judaicos e cristãos, no entanto, o grosso dos habitantes da Península era politeísta. Possuíam diversos santuários, sendo que o mais  importante era a Caaba, situada na cidade de Meca. A redor do santuário ficavam depositadas imagens de vários ídolos, cerca de 360, 
epresentando as várias tribos da Península. Era tradição que peregrinos fossem anualmente ao local e realizassem sete voltas, a tawwaf, em torno do monumento. No interior da Caaba ficava a Pedra Negra, provavelmente, um meteorito. Segundo a tradição islâmica seria uma pedra enviada dos céus. Originalmente era branca, mas teria enegrecido por absorver os pecados da humanidade.
Para entendermos o surgimento do Islamismo precisamos conhecer alguns detalhes da biografia do profeta Maomé. A data de seu nascimento é motivo de controvérsia; varia entre  570 e 576. Seu pai faleceu pouco antes do parto e a mãe, quando contava apenas seis anos. Por conta dessas adversidades, passou a viver com seu avô paterno. É importante lembrar que sua família era da tribo dos coraixitas (Quraysh), grupo que administrava a cidade de Meca no período em que o Islamismo nasceu. Apesar disso, como veremos à frente, Maomé enfrentou várias adversidades até que suas ideias vigorassem.
Já adulto foi empregado como chefe de caravana de uma rica viúva, Khadidja. Apesar da significativa diferença de idade, após alguns anos se casaram. O enlace acarretou para Maomé uma ascensão econômica e social em sua comunidade. Dessa união nasceram sete crianças, sendo que apenas quatro meninas vingaram: Roqaia, Ummu Keltsum, Zeineb e Fátima, a única que lhe deixará  descendentes.
Por conta de sua atividade profissional, Maomé viajava muito e, segundo seus biógrafos, essas viagens teriam facilitado a ele o contato com grupos adeptos do Judaísmo e do Cristianismo. Tais relações se manifestam quando percebemos elementos desses credos na lógica do Islã.
Por volta do ano de 610, Maomé, que desenvolvera o hábito de longos retiros e jejuns, teria recebido uma mensagem angelical para que iniciasse sua pregação.
 MAOME E O INICIO DO ISLAMISMO
Por algum tempo, Maomé relutou em acreditar no que vivenciara. Achava que havia sido tomado por um jinni (gênio mau). Seu círculo mais próximo, composto de sua esposa, seu genro, seu futuro sogro e alguns amigos, no entanto, o estimularam a divulgar as revelações que recebera. Após iniciar sua pregação pública, Maomé recebeu a adesão de várias pessoas da cidade. Essa nova crença foi batizada de Islão, que significa submissão a Allah (Deus).
A região de Meca e as lideranças locais enriqueceram pelo comércio movimentado por peregrinos. A Caaba atraía indivíduos de diferentes tribos, pois reunia em seu exterior imagens de vários ídolos e a Pedra Negra. Por conseguinte, era comum que para lá afluíssem centenas de pessoas.
Alguns anos após o início de sua pregação e a ampliação do número de convertidos, o próprio Maomé foi ameaçado.
Sem opção, ele retirou-se com um grupo de seguidores para uma cidade relativamente distante de Meca, a cidade de
Yatrib (mais tarde rebatizada de Medina, cidade do Profeta).Esse episódio, datado de 622e denominado Hijra (Hégira),tornou-se o marco do Islamismo.
O ano de 622, ou seja, Hijra representa o início do calendário islâmico. Esse calendário é baseado nos ciclos da lua e possui 354 dias. São 12 meses de 29 ou 30 dias.
Por vezes traduzido como fuga, a Hégira representou, na verdade, uma retirada estratégica de Maomé. Em Medina ele encontrou algumas comunidades judaicas e grupos árabes politeístas, bem como indivíduos que aderiram à sua mensagem. O ambiente era, definitivamente, menos hostil que em sua cidade natal.
Ainda que informalmente, Maomé passou a exercer uma liderança na localidade e mediar os conflitos existentes.  Realizou importantes alianças através dos casamentos de suas filhas e de novas núpcias contraídas por ele próprio. Organizou vários ataques a caravanas oriundas de Meca até que o conflito tornou-se flagrante.
No ano de 630, Maomé teria marchado para Meca e tomado a cidade sem novos derramamentos de sangue visto que a liderança aceitou a rendição. O primeiro ato de Maomé teria sido aproximar-se da Caaba e destruir todos os ídolos lá existentes, deixando apenas a Pedra Negra intacta. O Islão estabelecera sua base.
OS PILARES DO ISLAMISMO
Para os seguidores do Islamismo, os muçulmanos ( cujo significado é “aquele que se submete”), existem algumas premissas básicas que são conhecidas como os pilares da religião. São cinco:
Dar constantemente o testemunho de que a única divindade que merece ser adorada é Allah e que Maomé (Muhammed) é seu Shahadah, ou seja, seu Profeta.
Realizar as cinco orações obrigatórias em direção ao solo sagrado de Meca.
Doar esmolas (Zakaah) aos pobres no valor de, aproximadamente, 2,5% dos seus bens.
Praticar o jejum no mês sagrado do Ramadã (estariam isentos do jejum os enfermos, as lactentes, os idosos, as grávidas e as mulheres no período menstrual).
Realizar a peregrinação (Haij) à Meca, pelo menos uma vez na vida, desde que a pessoa possuíssemeios para fazê-lo.
O ISLAMISMO: FONTES PRINCIPAIS
Os muçulmanos, como os cristãos e os judeus, também possuem um Livro Sagrado, o Corão ou Alcorão. Está subdividido em
114 capítulos, também conhecidos como Suras e teria sido concebido ao longo dos 23 anos de pregação do Profeta.
Segundo a historiadora Karen Armstrong:
“(...) o Corão não apresenta as várias suras na ordem em que foram proferidas por Maomé. Quando a primeira compilação
oficial foi feita, por volta de 650, cerca de vinte anos após a morte de Maomé, os editores colocaram as suras mais longas no
começo e as mais curtas, que incluem as primeiras reveladas pelo Profeta, no final.”
ARMSTRONG, K. Uma biografia do Poeta. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 61.
Em relação à figura de Maomé, os muçulmanos tinham uma preocupação especial. Jamais idealizar sua figura e muito menos adorá-lo.Ele foi o Profeta como Abraão, Moisés, João Batista e Jesus, mas não deve ser divinizado. Ele é, sim, um modelo a ser seguido.  “Maomé é um homem como qualquer outro, mas é como uma joia entre as pedras. Enquanto as pedras comuns são opacas e pesadas, a joia é translúcida, transpassada pela luz que transfigura. […] Sua carreira profética foi um símbolo, uma teofania, que não só mostra a atividade de Deus no mundo, mas também ilustra a perfeita sujeição humana a Deus.”
 ARMSTRONG, K. Uma biografia do Poeta. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 294.
O Alcorão prega, dentre outras coisas, o Monoteísmo absoluto, onde existe apenas um Criador, sábio e misericordioso que punirá os pecadores e abençoará os dignos de mérito na vida eterna. Acreditam em Jesus como um Profeta anterior a Maomé, mas não em sua morte na cruz como redenção para a humanidade. É pecado mortal modificar, sujar ou adulterar de qualquer forma o Alcorão. Além disso, antes de tocá-lo, os fiéis fazem um ritual de purificação.
 A segunda fonte da lei islâmica utilizada pelos muçulmanos é a Suna que significa “caminhos trilhados pelo Profeta”. Seria o conjunto das falas, práticas e juízos emanados pelo Profeta. As Haddits, ou seja, os registros validados desse conjunto são a base para a conduta do bom muçulmano.
 Quando falamos de mundo islâmico temos que citar ainda a Sharia, o conjunto de leis que regem a vida dos muçulmanos. Seria composta pela combinação de diversas origens: o Alcorão, as Sunas e os Fatwas, decisões dos sábios do Islão sobre questões do dia a dia, sempre amparadas. A Sharia é a materialização da Lei de Allah.
Outro elemento do Islão, que é alvo de muita polêmica e má interpretação, é o conceito de Jihad. Usualmente é traduzido como Guerra Santa. Na verdade, como você estudará em História da Idade Média Ocidental, a expressão foi usada primeiramente pelos cristãos ao tentar reconquistar os territórios da Terra Santa das mãos dos seguidores do Islamismo.
A tradução mais correta para o termo é empenho. Costuma-se dividir a Jihad em dois tipos: a Jihad Maior e a Jihad Menor. 
A Maior seria um embate pessoal, o indivíduo em busca do controle de sua alma, do domínio de si mesmo. A Menor se relaciona ao empenho dos muçulmanos em levar seu credo para outras pessoas, ou seja, exercer o proselitismo.
A historiadora Karen Armstrong resumiu de forma bastante precisa o que é o Islamismo:
“O Islã é uma fé prática e realista que vê a inteligência humana e a inspiração divina trabalhando harmoniosamente lado a lado. […] O sucesso político da umma (comunidade – grifo nosso) tornara-se quase um sacramento para os muçulmanos: era um sinal externo da presença invisível de Deus em seu meio.  A atividade política continuaria a ser uma responsabilidade sagrada, e o sucesso futuro do império muçulmano era um “sinal” de que a humanidade como um todo poderia ser redimida.”
O INICIO DA EXPANSSÃO DO ISLAMISMO
Maomé foi o articulador de uma união até então inexistente na Península Arábica. Para obter êxito, além de ser um convincente líder religioso, precisou de sua capacidade de articular acordos e também do uso das armas.
Até o ano de 632 quando faleceu, Maomé havia reunido praticamente toda a Península Arábica sob a égide do Islamismo. Muitas tribos beduínas haviam se submetido ao Profeta, mas não haviam se convertido de fato. Prova disso é que, logo após a morte do Profeta, muitas romperam os acordos firmados.
Havia o risco real de que toda a tecitura política urdida por Maomé se rompesse, ainda mais porque ele não deixara nenhum indício ou indicação de quem deveria sucedê-lo na liderança da umma. Esse é o assunto da próxima aula. 
Aula 05 O Islamismo e as Dinastias Omíadas e Abássidas
A morte de Maomé e o futuro Islão
Vimos na aula passada que a morte de Maomé foi um grande obstáculo para a manutenção da unidade da Península Arábica através do Islamismo. Entenderemos agora as razões dessa afirmação.
Maomé, ao começar sua pregação, enfrentou diversos obstáculos, não necessariamente religiosos. Questões políticas e econômicas emergiram. Com disciplina, sapiência e, por vezes, o uso da força, conseguiu “apaziguar” relativamente a situação. No entanto, muitos de seus aliados se aproximaram do Islão, mais por interesse do que por uma real conversão.
O Profeta tinha consciência de que a batalha do Islamismo não estava ganha e defendia essa premissa junto aos seus seguidores. Segundo Karen Armstrong:
“O desafio de concretizar a Palavra de Deus na história humana jamais teria fim: sempre haveria novos perigos e problemas por resolver. Algumas vezes os muçulmanos teriam de lutar; outras, poderiam viver em paz. [...] Até hoje os muçulmanos levam essa vocação muito à sério.”
RMSTRONG, K. Uma biografia do Poeta. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 282.
Ainda assim, a insegurança se manifestou quando a confirmação do óbito de Maomé foi realizada.Em vida, ele não deixara explícito quem o substituiria como guia do povo muçulmano. 
Para muitos, isso gerou questionamentos tais como:
O Islamismo deveria sobreviver a Maomé?
OS RASHIDUM (CALIFAS ORTODOXICOS)
Alguns indivíduos abraçaram a causa do Islamismo de forma intensa, desde o início das explanações do Profeta. Esses homens eram Abu Bakr, Umar, Uthman e Ali que estavam unidos a Maomé por laços de casamento e por afinidade espiritual.  Eles compreenderam a essência de sua mensagem e se tornaram homens de confiança.
Conforme dito anteriormente, o nome de quem o substituiria não foi revelado por Maomé. Logo, em um primeiro momento, houve uma certa polêmica. Esses fiéis de primeira leva foram imediatamente mencionados, sem que houvesse consenso em torno de um indivíduo.  
Abu Bakr, sogro de Maomé a partir de seu matrimônio com Aisha, tomou a palavra  logo após a morte do genro e recebeu o apoio de grande parte da comunidade. Outro grupo pretendia que o substituto do Profeta fosse alguém com maior proximidade sanguínea, ou seja, Ali, seu genro, casado com a única filha que lhe restara do primeiro matrimônio, com Kadhija. 
A proposta desse grupo pautava-se no fato de Fátima ter dois filhos, o que asseguraria a continuidade da linhagem do Profeta. (Em sociedades patriarcais, a linhagem deve ter sequência a partir de um descendente do sexo masculino e, preferencialmente, fruto da primeira união do indivíduo).
A postura de Abu Bakr diante da morte do Profeta, impressionou a comunidade (umma). Ele mostrou-se seguro, capaz de assumir a liderança e acabou sendo escolhido pelo grupo. A partir dele, os líderes muçulmanos não eram apenas chefes religiosos. O comando político e militar foi cada vez mais enfatizado. O posto passou a receber um nome específico – califa.
O governo de Abu Bahr durou apenas dois anos, sendo substituído por Umar, Uthman e, por fim, Ali. Esses indivíduos passaram para a história do Islamismo com o título de Rashidum. “(...) os califas corretamente guiados por terem governado segundo os princípios de Maomé.” ARMSSTRONGS, K.
Ao longo de seu breve comando, Abu Bahr enfrentou a dissensão de várias tribos beduínas que, como vimos anteriormente, haviam se aliadoa Maomé por conveniência. Contou com o auxílio de um experiente general, Khalid Ibn Al-Walid, que submeteu os insurretos e consolidou o domínio sobre as áreas de Omã e Iemen.
Seu sucessor, Umar (634-644), prossegue a política expansionista do Islão. Seus generais ocupam regiões do atual Iraque, Síria, Israel (Jerusalém), Antioquia (Turquia), Irã (Kum, Kazvin) e Egito.
Segundo o factualista Mario Curtis Giordani:
“Da Arábia, o Islã estendeu-se por todos os países adjacentes e só se deteve diante dos obstáculos naturais: montanhas de Tauro, do Irã Oriental,da Abissínia, deserto de Cirenaica.”  
(GIORDANI, Mario Curtis. História do mundo árabe medieval. Petrópolis: Editora Vozes, 1995,p.64)
Para gerenciar esse território crescente, Umar instituíra o posto de wali (governador com poder político e militar) e de amil, um encarregado das questões financeiras. Além, claro, de estabelecer bases militares e a criação do calendário muçulmano, iniciado na Hijra, ano de 622.
Uthman, o terceiro califa ortodoxo, pertencia a um tradicional clã de Meca, os Omíadas. Ao assumir, prossegue a prática belicista de seu antecessor. No entanto, ele realiza um feito de grande ousadia nessa área; avança em direção ao Mar Mediterrâneo.  
O inusitado de sua ação foi o fato de conseguir romper com a hegemonia bizantina na região. A partir desse momento, a história do Islã se liga irremediavelmente à história do mundo cristão.
Esse fato, como veremos nas próximas aulas, vai gerar muitas batalhas ao longo dos séculos.
Apesar de seu ímpeto, Uthman esteve longe de ser um consenso: certas decisões suas suscitaram grande insatisfação interna. Dentre elas podemos citar: sua prática nepotista de distribuição de funções importantes na organização territorial e ainda, o crescente desperdício e corrupção na gestão do dinheiro coletivo.
Somando-se a isso, sua permissividade em relação às conversões do gentio conquistado causava desconforto aos verdadeiros fiéis. Eles desconfiavam, com razão, da veracidade dessa mudança.
O arrefecimento das críticas e denúncias contra Uthman levou um grupo de soldados a invadir sua casa  e assassiná-lo. No mesmo dia, o genro de Maomé, Ali, foi declarado califa. Como ele fora um dos opositores declarados de Uthman, muitos indivíduos começaram a considerá-lo
mentor de sua morte. Um dos mais ativos inimigos de Ali era Moawiya, governador da província da Síria. Ele clamava pela punição dos assassinos do primo Uthman, incitando a população a lutar contra o califa. Ali, em contrapartida, decidiu retirá-lo do cargo.  Essa intransigência gerou uma batalha descrita de forma interessante pelo já citado factualista Mario Curtis Giordani:
“A luta desenrolava-se favorável a Ali, quando Amr, partidário de Moawiya, ordenou que se pendurassem folhas do Corão nas pontas das lanças exigindo assim um julgamento de Alá. Essa atitude de Amr impressionou os partidários de Ali que o forçaram à interrupção da batalha […] Quando o exército de Ali se retirava, um bom número de seus partidários […] arrependeram-se e pretenderam obrigar o califa a retomar a luta. Diante da recusa de Ali, esses descontentes se separaram […] Formaram um grupo conhecido como Kharidjitas, o primeiro cisma muçulmano. 
GIORDANI, Mario Curtis. História do mundo árabe medieval. Petrópolis: Editora Vozes, 1995, p.68.
Ali acabou morto em 661 por um jovem Kharidjitas. Sua morte brutal levou um grupo de indivíduos a cultuá-lo formando uma nova cisão do Islamismo. Esses homens se denominavam Shiah-Ali, ou seja, o partido de Ali. De acordo com os xiitas (aportuguesamento da expressão), os seguidores do Islamismo deveriam ser guiados por descendentes de Maomé, os únicos com a sabedoria necessária. Não foi o que ocorreu após a morte de Ali que acarretou em grande conturbação interna.
Você já deve ter ouvido falar sobre a divergência entre xiitas e sunitas no mundo muçulmano. Além de defenderem que os líderes do Islã devem ter parentesco com Maomé, os xiitas também afirmam que o alcorão deve ser interpretado de forma mais rígida. Representam uma minoria, enquanto os sunitas somam pelo menos 80% da população muçulmana.
Após a morte de Ali, tem início a dinastia Omíada (661-750). O primeiro califa dessa dinastia é exatamente o primo de Uthman, que rivalizara com o Ali desde o início de seu governo, ou seja, Moawija.
Dentre as atitudes tomadas pelos Omíadas, é importante destacar a mudança da capital de Medina para Damasco, na Síria. Muitos historiadores entendem que essa atitude, em conjunto com outras, representaria a adoção de um Estado laico, ou seja, busca pelo distanciamento do centro administrativo do centro religioso.
Realizaram uma significativa centralização político-administrativa, colocando o califa em uma posição incontestável, embora existisse um conselho (Shura) para assessorá-lo. A sucessão hereditária é estabelecida. A justificativa utilizada foi a de evitar os conflitos oriundos da incerteza de quem substituiria o califa após a sua morte.
A expansão territorial prossegue com os Omíadas. Ocorrem em três direções: Constantinopla, ameaçando áreas do Império Bizantino; África do norte e Península Ibérica e Ásia Central.
Ao longo dessa dinastia, os xiitas e kharidjitas, grupos que possuíam seguidores sobretudo no Iraque, ameaçaram com frequência a estabilidade interna. No governo de Moawija, o primeiro califa Omíada, houve um grande levante xiita. Hassan, filho de Ali, era considerado o legítimo sucessor do pai pelos xiitas do Iraque. Sob pressão, declinou do posto e acabou envenenado. Esse fato alimentou a oposição ao califa Omíada.
Anos mais tarde, Yazid, filho de Moawija, ascende ao posto de liderança do Império Islâmico. Dessa vez, o segundo filho de Ali, Hussein, manifesta a recusa em reconhecê-lo e avança  em direção ao Iraque. Na batalha de Karbala (Kerbela), Hussein é derrotado e morto, sendo a seguir, degolado.
Abd Al-Malik (685-705) foi um dos califas mais conhecidos dessa dinastia. Em seu governo foram realizadas obras magníficas como a Mesquita da Cúpula da Rocha de Jerusalém.
Segundo a tradição, ela foi erguida sobre a rocha onde Abraão teria levado seu filho Isaac para o sacrifício ordenado por Deus. Em termos políticos, sua localização representava o poder dos muçulmanos sobre os “povos do livro” (expressão usada para designar os católicos e judeus). Os Omíadas promoveram também o avanço das ciências através da tradução de tratados médicos gregos. A língua árabe é tornada a oficial do califado e a moeda é unificada.   
Nos anos seguintes, a dinastia foi enfraquecendo por seguidas dissensões. Em 750, um grupo liderado por descendentes do tio de Maomé, Abbas, destituíram o califa e inauguraram uma nova dinastia, a Abássida, que lidera o mundo muçulmano até 1258.
Abu-al-Abbas-al-Saffa foi o primeiro califa da dinastia Abássida. Seu domínio concentrou-se no Oriente, pois  os governantes da Península Ibérica não reconhecem sua autoridade e rompem a unidade islâmica. 
Em virtude de sua ostensiva perseguição e assassinato dos remanescentes do clã Omíada, Abd el-Rahman foge para Andaluzia, sul da Espanha. Lá, se intitula Emir e estabelece o Emirado de Córdoba.  
No Oriente, os Abássidas escolhem Bagdá como sede de seu califado. Apesar de longeva, a dinastia foi perdendo o poder de fato com o passar dos séculos. 
Vários sultões acabaram exercendo um poder local significativo. Podemos citar como exemplo os Fatímidas do Egitoe os Ayyubidas da Síria.
Sua administração copiou características bizantinas e persas. Eles instituíram o cargo de vizir, uma espécie de primeiro ministro. A burocratização foi ampliada e o comércio, bastante estimulado, especialmente com as áreas mais orientais.
Em termos políticos, eles substituíram a premissa de um governo laico inaugurada pelos Omíadas pelo retorno da ideia de que os califas eram enviados de Alá, homens especiais. Houve uma grande perseguição aos não sunitas.
Como vimos há pouco, um elemento do clã Omíada migra para Córdoba e funda um Emirado. Recebe apoio da população localconvertida ao Islão e dos habitantes da região cristã basca.  
O antigo governante da Andaluzia, Ibn-el-Arabi, destituído pelo Omíada, busca apoio no cristão Carlos Magno, rei franco, para  retomar o poder. Seu intento é mal sucedido e o Emirado se consolida. Séculos mais tarde, as tentativas cristãs contra os muçulmanos serão retomadas e conhecidas como Reconquista.
Mas, isso é um assunto para as próximas aulas. 
AULA 06 As novas forças do Oriente
Esta unidade é uma das mais fantásticas do curso. Mergulharemos em um mundos pouco conhecidos. Nessa postura eurocêntrica que aprendemos nas escolas, o resto do mundo parece que nunca existiu. China, Japão, Índia, Norte e Leste europeu, África ficam sem muito estudo no mundo ocidental.
Por vontade, teríamos um curso muito mais amplo, falaríamos sobre os Xás de Cabul, das divisões chinesas, os impérios do sudeste asiático, da conquista da Austrália.  Para isso, precisaríamos de muito tempo. Como não é possível, fizemos uma seleção.  
 Conheceremos um pouco sobre os húngaros, búlgaros e os mongóis que tiveram grande relação com os bizantinos e o mundo islâmico.
-Professor, se eu quiser saber mais como faço?
-Pesquise, historiador, pesquise, sabendo que história não é decorar dados, momentos, mas discutir, compreender, influenciar e notar que as sociedades estão em constantes transformações. 
-Sendo assim, meu querido aluno, não tenha medo de inovar, buscar, perguntar, estudar, pois a história é muito mais densa, muito mais ampla do que o que te foi ensinado. Leve isso no seu coração, o mundo ainda precisa de muitas perguntas para se transformar.
HÚNGAROS
Quem são os húngaros?  Quando começamos a estudar Idade Média, falamos de Átila, o Huno, e sua incursão pelo norte da Europa.
Os húngaros vieram, provavelmente, das planícies situadas entre a China e a Rússia. Eram cavaleiros que tinham no saque e na incorporação de novos grupos, suas principais características. Vindos da mesma região que os citados hunos, foram batizados de novos hunos, magiares ou húngaros. A partir de 833, voltaram a pressionar os reinos europeus. Partindo da Rússia, contornando o Mar Negro, chegaram aos limites de um importante protetorado bizantino, os Búlgaros.
OS ATAQUES AOS HUNGAROS 
Os húngaros, em 896, ultrapassam os Cárpatos e se estabelecem no Danúbio Médio aproveitando-se da desorganização dos grupos eslavos que ocupavam de maneira confusa a região, em especial desde que Carlos Magno no século anterior havia conseguido vencer os Avaros.
A organização húngara fica entre dois mundos: saques sobre a Germânia e norte da Itália e a centralização política-administrativa bizantina tão próxima.
Segundo Marc Bloch, o avanço húngaro teve seu fim quando “(...) em 10 de agosto de 955, o rei da França Oriental, Otão, o Grande, advertido de uma incursão sobre a Alemanha do Sul, combateu, nas margens do Lech, um bando húngaro que ia de regresso. Venceu-os, depois de um sangrento combate e tirou partido da perseguição. A expedição de pilhagem, castigada desse  modo, seria a última.
Graças a Otão, rei do Sacro Império Romano Germânico, os húngaros ficaram confinados aos limites da Baviera. Com suas vitórias sobre os saqueadores húngaros, forçou que outra parte desse povo consolidasse sua sedentarização.
 O PAPEL DA IGREJA NO ASSENTAMENTO HUNGARO
A Igreja teve papel importante no assentamento húngaro, a ponto de entre 1012 e 1015, um sínodo proibir que os guerreiros de uma determinada paróquia se afastassem a uma determinada distância da Igreja Matriz, dando assim fim à prática do saque em grandes cavalarias. Lembramos que é uma Igreja com uma relação intensa com a bizantina.
Assim se perdia o costume das cavalgadas.  Segundo Bloch, “estas modificações no gênero de vida harmonizavam-se com profundas mudanças políticas, favorecidas aquelas talvez pela absorção, na massa magiar, de elementos estrangeiros - tribos eslavas de há muito quase sedentárias; cativos oriundos das velhas civilizações rurais do Ocidente".
OS BÚLGAROS
A organização dos Bálcãs passa pela organização dos búlgaros.  Devemos destacar que a região não fora claramente ocupada por um grupo, são no seu sentido pleno uma série de conjuntos clânicos que iam desde macedônios, passando por grupos que alguns chamam de Trácios. Estes grupos que eram utilizados constantemente como força de batalha dos bizantinos passam por uma transformação intensa quando uma nova leva de "eslavos do sul" inicia uma organização política que força os bizantinos a terem que negociar.
A CRISTIANIZAÇÃO BÚLGARA
Para termos uma boa ideia de sua organização, é bastante interessante observar o processo de cristianização búlgaro, trabalhado por Paul Johnson em seu A História do Cristianismo. Em torno de 850, a organização búlgara emergente temia tanto o imperialismo dos carolíngios quanto dos bizantinos, em especial pós-organização da dinastia dos macedônios.
Neste momento, tudo indica a direção de um curso pró-franco e, no princípio da década de 860, tudo indicava que o Rei Búlgaro, Bóris I, aceitaria o Cristianismo romano. Lembremos que a religião é um símbolo do poder. Em 864, uma poderosa demonstração militar e naval por parte de Bizâncio provocou uma mudança de rumos.
O clero ortodoxo penetrou em quantidades gigantescas em seus territórios e essa rápida introdução de novos costumes provocou uma revolta da antiga aristocracia búlgara, que Bóris debelou com violência.  Em consequência, ele escreveu ao patriarca de Constantinopla, Fócio, solicitando uma Igreja autônoma, - isto é, um patriarcado equivalente aos cinco já existentes - Roma, Constantinopla, Jerusalém, Antioquia e Alexandria - reparem o que a proposta explicita, a leitura que o poder local tinha de sua organização.  A resposta de Fócio, que ainda existe, foi longa, mas insatisfatória e em 866, Bóris ensaiou um movimento em direção a Roma enviando ao Papa uma carta pedindo respostas a 106 perguntas.  O Papa Nicolau I ficou deliciado, despachou dois bispos e respondeu a todas as indagações.  
A resposta que chegou até nós é um dos documentos mais fascinantes de toda a Idade Média, segundo Paul Johnson. Bóris não levantou nenhuma questão teológica. Estava preocupado com o comportamento, não com a crença.  Suas dúvidas refletem as tensões criadas na sociedade búlgara pela recepção do cristianismo e, particularmente, pelo ritualismo rigoroso dos gregos ortodoxos.  Os bizantinos estavam certos em proibir os búlgaros de tomar banho às quartas e sextas-feiras?  Em tomar a comunhão sem usar cinto?  Em comer a carne de animais mortos por eunucos?  Era verdade que nenhum leigo podia conduzir orações públicas pedindo por chuva ou fazer um sinal da cruz sobre a mesa antes da refeição?  
As interrogações de Bóris aproximam-nos mais das realidades do impacto cristão sobre a sociedade pagã, sobremaneira na vida cotidiana, de que qualquer outro documento que tenha sobrevivido.
Bóris também desejava saber a posição de Nicolau sobre os costumes búlgaros que os Bizantinos proibiram.  Podia-se usar um rabo de cavalo como estandarte; procurar augúrios, enfeitiçar, executar cânticos e danças cerimoniais antes das batalhas e fazer juramento sobre uma espada? Pedras milagrosas podiam curar ou amuletos de pescoço podiam proteger contra a doença?  
O culto aos ancestrais era permitido. Dentre os costumes aprovados por Nicolau estavam comer aves e animais mortos sem derramamento de sangue; a prática do governante de comer sozinho, a uma mesa elevada; diversos costumes de vestuário: Nicolau não fez objeção ao uso de calças.
 A CONSEQUÊNCIA DA LUTA PELA ALMA DA BULGÁRIA
O CLERO GREGO : A luta pela alma da Bulgária envenenou as relações entre Roma e Constantinopla.  Primeiro, o clero Bizantino, e depois, em resposta ao latino, foram expulsos da sede uma da outra. Não era a primeira luta entre as sedes, mas as acusações iam ficando mais sérias.
AS ACUSAÇÕES AOS BULGAROS : Fócio, entre outras acusações, muitas falsas, dizia que: incluíam-se o jejum aos domingos, uma Quaresma mais curta, oclero celibatário e a estranha teoria que somente os bispos podiam confessar.
A ACUSAÇÃO DO PAPA A contenda tornou-se jurisdicional, com base em fronteiras provinciais que foram, outrora, parte do sistema romano de governo e agora estavam desprovidas de qualquer significado.  O papado acusava os gregos de recorrer ao suborno em larga escala entre os búlgaros.  Isso pode muito bem ter sido verdade.
FATORES QUE DETERMINAM A LEALDADE BULGARIA : Para os búlgaros, Bizâncio parecia muito mais rica e poderosa que Roma; também era mais próxima.  Esses fatores determinaram as lealdades búlgaras, acompanhadas, no tempo oportuno, por praticamente a totalidade do mundo eslavo. Este exemplo nos dá base para compreendermos a organização social entre os Bálcãs e o mundo em seu contexto.
A DISNATIA SONG
Nas fronteiras da China nasce uma forte e poderosa organização: os mongóis.
Para falar dos mongóis, precisamos nos livrar de nosso vício em estados modernos, onde um grande poder está marcado pelo controle direto de seu território, pela pressão e o tesouro que este poder tem em si.  Não estamos falando de estados modernos, precisamos pensar que o modelo de governo em torno dos mongóis é completamente diferente.  Os mongóis, mesmo no seu auge, estabeleciam o controle em torno de práticas nômades e seminômades.
A origem dos mongóis é difícil de precisar, sabe-se de relatos na China dos cavaleiros das estepes, e a Europa conheceu muito bem um dos grupos que provavelmente pertencem ao tronco familiar dos mongóis, os Hunos.
Mas a força adquirida pelos mongóis pode ser precisada a partir da organização política do Grande Khan.  No ano de 1206, o grande Kuriltai,  que é a assembleia dos líderes clânicos, escolhe Temujim para assumir a condição de líder do conselho.  É em torno de seu governo que Temujim reorganiza as tribos, criando uma hierarquia social entre os clãs.   Outra característica que ganha força é a incorporação dos grupos dominados, estabelecendo sistemas de impostos, incorporando guerreiros, estabelecendo lideranças locais.  Este processo é tão denso que permite que grandes senhores militares em muito pouco tempo assumissem a condição de liderança política.
Temujim assume o nome de Grande Líder clânico, Gêngis Khan, aquele que deveria ser diferenciado entre os demais, teria o direito a mais mulheres que qualquer um dos seus auxiliares.  A política de absorção permitiu a sucessão do Império chinês ao sul, dominando territórios que iam do sudeste asiático até o limite do Império árabe-islâmico no Afeganistão.
Os sucessores de Gengis Khan, Hulagu Khan e Kublai Khan, se tornam os dois principais líderes, mas para que o chicote mongol estalasse com força contra o Islão, foram necessários homens como Guo Kan, chinês, mestre de sítio que vence Bagdá.  
A expansão: China - a partir de 1215, a China foi intensamente conquistada pelos mongóis, absorvendo as fragilidades, incorporam a dinastia Chin e Si´Há. Em 1279, com Ogodai e Kublai Khan, os mongóis já tinham recebido forte influência chinesa, criando inclusive uma dinastia própria.  Lembremos que é sempre uma influência parcial, pois há uma contínua movimentação militar, negando as práticas sedentárias.
Os netos de Gengis Khan causam um grande abalo no mundo islâmico. Em um sistema de saques sistemáticos e cercos, dominam em 1258 a cidade de Bagdá. Nos anos que se seguiram, causaram verdadeiro horror em europeus e no mundo Islâmico pela força dos seus arqueiros, pela sua cavalaria rápida e arrasadora.
Para o domínio destas províncias distantes, foram organizadas as chamadas Tamma, um sistema em que os guerreiros procedentes de diferentes tribos se mantinham nas áreas conquistadas para patrulhar o seu domínio mantendo a lei e a hegemonia local.  Esse grupo seria modificado a cada necessidade de expansão, mantendo uma intensa circulação.
Outras áreas foram marcadas pela expansão mongol. Na Rússia, a organização da Horda de Ouro é uma linha de estabelecimento dos grupos mongóis. Na Índia, a descendência mongol ganha a derivação para Mogol, se tornam os senhores da Índia, deixando histórias bem interessantes como a do príncipe Shah Jahan e o Taj Majal.
Dá um gostinho de quero mais, não é verdade?  Então, não pare, busque sobre os Samurais, o Império Mongol, os russos, Patchenegs, a origem dos afegãos e por aí vai!  Essa é a beleza da História...
AULA 07 O Império Bizantino dos séculos VIII – XI
Vimos na aula três que o Império Bizantino, após a separação do lado Ocidental, passou por momentos de grande desenvolvimento, recuperando inclusive, sob o governo de Justiniano, áreas conquistadas pelos povos germânicos.
A partir do século VIII, no entanto, há um processo de retrocesso. O Império Bizantino não consegue manter suas fronteiras e vinha continuamente sendo assediado pelas novas forças emergentes no período.
A dinastia reinante no século VII foi a Heráclida que tentou, com seu último governante, aumentar a tributação da aristocracia local, o que gerou crescente insatisfação. Justiniano II acabou sendo deposto no ano de 711 e institui-se uma nova dinastia: a Isáurica. Foi um período de grandes problemas externos, oriundos de várias frentes como os árabes e os búlgaros.
Ganhos e perdas foram processados; ora as fronteiras do Império recuavam, ora expandiam-se. No entanto, nunca foi recuperado o apogeu do período de Justiniano. Compare os mapas abaixo e observe essas variações:
A QUESTÃO ICONOCLASTA
Antecedentes:
Não é possível tratarmos da Questão Iconoclasta, ocorrida no Império Bizantino do século VIII, sem entendermos seus antecedentes, conhecermos alguns elementos de História da Arte e, sobretudo, dominarmos o significado do conceito ícone.  
A palavra ícone tem sua origem no grego eikon, termo que pode ser traduzido grosseiramente por imagem e que adquiriu expressividade na representação religiosa. Em outras palavras, ícone seria a imagem, a projeção que é feita de alguma situação ou de alguém.
No que diz respeito à arte religiosa, temos referências de que os primeiros cristãos tinham o costume de adornar as catacumbas onde se reuniam nas fases de perseguição, com símbolos. Um dos símbolos mais utilizados era do peixe, que significava o reconhecimento dos seguidores de Jesus.  
Os antigos cristãos utilizam símbolos
Conheça agora os SÍMBOLOS CRISTÃOS
A palavra peixe em grego significa ICHTHYS, cujas iniciais  poderiam ser traduzidas como IESUS CHRISTUS THEOS YIOS SOTER (“Jesus Cristo, filho do Deus Salvador”).
Temos ainda relatos da existência de algumas esculturas e estátuas retratando santos, anjos, ainda nos séculos II e III.
Em termos de História da Arte, as cores dos ícones possuem significados especiais e não são meras escolhas aleatórias. Toda vez que era empregado o azul, a intenção era mostrar o transcendental, o imanente;  o verde, a natureza, a criação de Deus; o branco mantém sua significância, a paz, a harmonia; o vermelho, a cor de maior humanidade, representa a concepção de martírio.  Era  muito comum também a utilização do dourado para destacar roupas, coroas e bordas.
As primeiras basílicas
Devemos destacar também que não houve, desde os primórdios, um consenso sobre a pertinência ou não dessas representações. No caso das primeiras basílicas, o ponto era se deviam decorá-las e como. Segundo o historiador da arte Gombrich:
“Num ponto quase todos os primeiros cristãos estavam de acordo: não devia haver estátuas na Casa do Senhor. As estátuas pareciam-se demais com as imagens esculpidas de ídolos pagãos que a Bíblia condenava. Colocar uma figura de Deus, ou de um dos seus santos, no altar parecia estar inteiramente fora de questão. Pois, como iriam os míseros pagãos recém-convertidos à nova fé aprender a distinguir entre suas antigas crenças e a nova mensagem, se vissem tais estátuas nas igrejas?” (GOMBRICH, E.H. A História da Arte. Rio de Janeiro:LTC, 2008, p.135)
Em relação às pinturas, houve, inicialmente, uma tolerância maior dada à sua funcionalidade lembrada, sobretudo, pelopapa Gregório Magno no final do século VI. Ele:
“(...) lembrou àqueles que eram contra qualquer pintura que muitos membros da Igreja não sabiam ler, nem escrever, e que para ensiná-los, essas imagens eram tão úteis quanto os desenhos de um livro ilustrado para crianças. Disse ele: A pintura pode fazer pelos analfabetos o que a escrita faz pelos que  sabem ler.”
Ideias monofisistas
Como vimos na aula três, em algumas áreas do Império Bizantino, avolumou-se o número de seguidores das ideias monofisistas. Um de seus principais líderes, Severo de Antioquia, era visceralmente avesso a qualquer representação de Cristo, de Maria ou dos santos e suas ideias foram seguidas por muitos indivíduos.
Outro dado curioso sobre o nascimento e desenvolvimento da Iconoclastia, ou seja, movimento contra a criação e adoração de imagens sagradas, é sua localização geográfica. A Iconoclastia foi muito mais intensa em regiões fronteiriças com comunidades islâmicas.
Por serem contrários a essa prática, conforme vimos na aula cinco, muitos imperadores bizantinos, em nome de uma boa convivência com os árabes, “fecharam os olhos” para o movimento.   
A Questão Iconoclasta:
Como observamos, a questão da Iconoclastia (contrária à criação e adoração de imagens) e da Iconofilia (favorável à criação e adoração de imagens) se arrastava há séculos no Império Bizantino com revezes e vitórias para os dois lados.
No século VIII, no entanto, a questão ganhou um novo e expressivo capítulo que passou a ser denominado Questão Iconoclasta.
Já estudamos, no Império Bizantino, que o governante gozava de um poder bastante extenso, o Cesaropapismo. Na prática, o governante assumia o poder temporal e religioso ingerindo, inclusive, questões doutrinárias. No ano de 730, o imperador Leão III estabeleceu que não deveria ocorrer nas terras do Império qualquer tipo de adoração às imagens icônicas.
Seguiu-se uma verdadeira caça aos iconófilos e seus símbolos, com a destruição de grande quantidade de ícones, pinturas, enfeites, sendo uma lamentável perda cultural. O imperador seguinte, Constantino V, após o Concílio de Hieria do ano de 754, oficializou a Iconoclastia. Todos os que se mantinham idolatrando as imagens foram perseguidos e punidos, particularmente os religiosos.
A opção  da Igreja pela Iconoclastia
Essa opção pela Iconoclastia foi totalmente unilateral, ou seja, os bispos ocidentais não participaram do Concílio e nem concordavam com a decisão. Mais uma vez a Igreja Ocidental e a Oriental discordavam sobre questões dogmáticas. Foi o ensejo para um pequeno Cisma, só amainado 23 anos depois quando a Imperatriz Irene aprovou o dogma da Iconofilia.
É necessário salientar que outros Concílios e Imperadores posteriores voltaram atrás nessa decisão, afastando cada vez mais os lados ocidental e oriental da Igreja, a ponto de  culminar no rompimento final, como veremos à frente.
As “outras” causas da Questão Iconoclasta:
“Muitos estudiosos entendem que a questão da adoração ou não de imagens transcendiam em muito a problemas meramente dogmáticos. Um dos motivos seria a preocupação com a grande ingerência da Igreja dentro do Império.  
Ela adquirira grandes propriedades. O número de mosteiros se ampliara, logo sua influência junto ao povo também. Além disso, a riqueza e a influência que os mosteiros amealharam eram cobiçadas pelos imperadores. Como grande parte desse patrimônio era oriunda da confecção e venda dos ícones, uma maneira de enfraquecê-la era proibir sua fabricação e circulação comercial, além de confiscar propriedades dos iconófilos.
Outra teoria defendida refere-se a questões de ordem administrativa. Em algumas áreas do Império Bizantino, ou ainda em seus limites, existiam comunidades seguidoras do Islamismo e do Judaísmo, opostas à prática da adoração de imagens. Abolir tal dogma seria um caminho plausível para a convivência e até mesmo dominação desses povos.
De qualquer forma, muito dessa tradição se perdeu, ganhando novo fôlego apenas no século XII quando o emprego de materiais mais sofisticados tornou-se regra. É dessa época e de períodos póstumos a maior parte dos elementos de que dispomos.  
O CISMA DO ORIENTE
SURGE A IGREJA CATÓLICA ORTODOXICA : O ano de 1054 foi marcante para a história da Igreja Católica. Esse foi o momento do rompimento definitivo entre o lado oriental e o lado ocidental. Surgiram a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Católica Ortodoxa.
A DIVERGENCIA ENTRE OS DOIS LADOS DA IGREJA: Essa data, na verdade, foi apenas o marco para um distanciamento gestado há séculos. Como vimos, em diversas situações, os dois lados da Igreja divergiram e chegaram a apartar-se, mas sempre recuando na separação. A importância desse período, no entanto, encontra-se no fato da volta, ainda que tentada, jamais ter ocorrido como outrora.
A DIVERGENCIA ENTRE AS PRATICAS RELIGIOSAS Desde a separação do Império Romano, no século IV, os dois lados começam a ganhar contornos muito particulares que, obviamente, se refletiram em sua prática religiosa. O lado oriental foi muito influenciado pela tradição helenística, enquanto o Ocidente, recebeu uma multiplicidade de elementos.
Embora a Igreja Oriental guardasse respeito à autoridade de Roma como centro religioso, a política de seus imperadores acabava sendo paradoxal. Como harmonizar o respeito a Roma e o Cesaropapismo, ou seja, um imperador que ingeria na dogmática? Outro ponto de divergência foi a citada Questão Iconoclasta que jamais fora digerida na porção ocidental.
A questão dogmática emerge
Em 1043, uma nova questão dogmática emerge: dessa vez, sobre a natureza teológica do divino Espírito Santo.
O patriarca da capital do Império Bizantino, Miguel Cerulário, bem como todos os membros da Igreja Bizantina, foi excomungado e, em retaliação, o patriarca excomungou o papa Leão IX  e os membros do Ocidente.
Algumas infrutíferas tentativas de reunificação persistem até os dias atuais. Só para se ter uma ideia, a revogação das mútuas excomunhões só ocorreu a partir da iniciativa do Papa Paulo VI e do Patriarca Atenágoras I, no ano de 1966.   
A Área de Atuação da Igreja Católica
AULA 08 A Diplomacia Bizantina e os Comnenos
 
AS CRUZADAS
 (ASSISTIR O FILME CRUZADA )
 
 
AS PRIMEIRAS FRENTES EUROPEIAS A NA AÇÃO POLÍTIOCA DE URNABO II
 
A POSSIBILIDADE DE RECUPERAR OS ANTIGOS TERRITORIO MUITAS BATALHAS SANGRENTAS FORAM VENCIDAS
 
AULA 09 A CHEGADA DOS FRANJ
 AS CRUZADAS AOS OLHOS DOS ISLÃO
No estudo dirigido anterior, compreendemos a dinâmica das Cruzadas. Estudamos suas principais características e algumas consequências desse processo. No entanto, todo relato foi feito com base em fontes cristãs, ou seja, sob um prisma. Agora veremos o outro lado da moeda, a percepção dos muçulmanos acerca do ataque cristão.
O ISLAMICO NO SECULO X E XI
O mundo islâmico nos séculos X e XI viveu seu auge cultural. Tornou-se, nesses séculos, o principal centro de difusão de saberes em várias áreas como: medicina, astronomia e cartografia. Suas escolas eram referência.
A literatura por eles produzida era admirada inclusive pelos bizantinos.  Sua cultura era formada por uma mistura de elementos islâmicos, gregos, romanos, persas, hindus e até chineses.
Um dos maiores centros se encontrava na Casa da Ciência, em Bagdá.  Lá foram traduzidos documentos importantes da tradição grega. Portanto, se nós possuímos muitas dessas referências, devemos a esse momento especial do mundo islâmico.
No entanto, politicamente, viviam um quadro de fragmentação política, uma vez que era prática da política Abássida esta permissividade. Um dos mais famosos centros de resistênciaestava na organização do Egito.  
Um califado xiita, conhecido como Fatímida, desafiava a maioria sunita. 
Ainda nesse contexto, muitos grupos passaram por conversões. Em virtude disso, tornaram-se membros do universo islâmico. Um dos mais famosos é, sem dúvida, o grupo dos turcos.
Originários das estepes russas, estabeleceram os primeiros contatos com os muçulmanos no fim do século X.  Depois de uma série de batalhas, se converteram após a vitória sobre a cidade de Nixapur, e neste momento, se tornaram a guarda pessoal do sultão de Bagdá.
O GRUPO DOS TURCOS
Como braço militar de Bagdá, os turcos vencem os bizantinos na  batalha de Manzikert, criando o Sultanato Rum (romana). Sua poderosa força aumentou o temor de bizantinos e principalmente de Fatímidas, uma vez que poderiam utilizar a religião como pretexto para atacar as férteis terras do Egito.
Boa parte dos cronistas árabes neste momento falam que bizantinos e fatímidas firmaram um acordo para conter o avanço dos turcos seldjúcidas. Eis que Alexis I Conmeno decide pedir auxílio de mercenários para combatê-los.
Turcos Seljucidas 1100 d.C
A seita dos assassinos
Muita gente, erradamente, apresenta a seita dos assassinos como os primórdios do terrorismo no Islão. Mais do que qualquer coisa, precisamos entendê-los como um grupo político. Ouçamos as palavras do especialista.
Com a morte de Zinki, assume Nuredin, senhor de Damasco, conhecido por sua fama de intelectual.
Ele foi um dos principais responsáveis pelo fortalecimento do discurso de união, de reunião de forças contra os reinos cristãos. O discurso da Jihad passa a ser difundido. O seu atabeg tinha o nome de Saladino. Em seu objetivo de unir o mundo islâmico, Nuredin amplifica o poder do atabeg Saladino. A cidade do Cairo, cercada, pede apoio de Nuredin, que manda seus homens sob a liderança daquele que se tornaria um mito.
Reconquista
A expressão Reconquista já nos induz ao seu significado. Trata-se de um movimento de recuperação, no caso, das terras cristãs, “perdidas” para os muçulmanos no território da Península Ibérica.
Alguns estudiosos costumam chamá-la também de Cruzada Ocidental porque, tal qual a sua congênere no Oriente, trazia como justificativa uma ideologia de Guerra Santa – mundo cristão contra os infiéis islâmicos. Essa leitura é póstuma, pois em termos de cronologia podemos indicar a Reconquista como uma predecessora das Cruzadas. (Elas teriam se iniciado no século VIII e as Cruzadas, no século XI).
O EXPANCIONISMO MULÇUMANO 
No século VIII, como vimos, o expansionismo muçulmano atingiu a região da Península Ibérica. Curiosamente, o povo que ali habitava, os visigodos, facilitou o acesso. Com a morte do rei Vitiza e a impossibilidade de seus herdeiros menores governarem, começa um problema de sucessão dinástica. Esse embate interno fragilizou a já combalida monarquia visigoda e viabilizou a empreitada islâmica.
Os muçulmanos, já balizados no noroeste africano, transpõem o Mediterrâneo e tomam, em 716, grandes extensões da Península.
Para facilitar o domínio na região, eles adotam uma política de tolerância em termos religiosos. Ninguém seria obrigado à conversão ao Islão, desde que pagassem tributos. E aqueles que se convertessem seriam tratados da mesma maneira  que os nascidos no berço da religião.  
Uma região, no entanto, não foi conquistada pelos muçulmanos, as Astúrias. Um nobre visigodo, povo germânico convertido ao catolicismo, iniciou uma série de razias contra os ocupantes, sem muito êxito. 
A partir de 756, Aldebarão vai para a região da Península Ibérica e se coloca como governante. 
O domínio na região cabe a um Califado Omíada (756-1031), tomando como base a região de Córdova. Em termos administrativos, a área foi subdividida em províncias, chamadas de Kuwar e conselhos.
Depois de séculos de estabilidade e com poucas incursões cristãs, no século XI, os problemas internos se evidenciam. Rivalidades levam à fragmentação geográfica formando vários reinos independentes. 
Esse processo permite o reinício das investidas cristãs. 
No ano de 1146, o Papa Eugênio III conclama a Segunda Cruzada, usando como ponto de pregação duas frentes de luta contra os muçulmanos, o Oriente e a Península Ibérica.   Aproveitando os já citados problemas do Califado, os cristãos empreendem uma série de ataques     vitoriosos.  Ao poucos a Península Ibérica vai sendo retomada. 
Após as primeiras campanhas e êxitos, surgem alguns reinos cristãos: as Astúrias, Leão e Navarra. A Reconquista teve seu capítulo final no século XV, mais precisamente em 1492, quando os cristãos expulsaram os muçulmanos de Granada, seu último reduto na Europa.   
 
Agora veja nos mapas abaixo as etapas da recuperação das terras cristãs “perdidas” para os muçulmanos no território da Península Ibérica. 
Os efeitos das Cruzadas: 
O EFEITO DAS CRUZADAS : Para analisarmos os efeitos das Cruzadas, devemos ter como referência os dois lados da questão, ou seja, as consequências para o mundo Oriental e o mundo Ocidental. 
AS CRUZADAS INCREMENTAM A ECONOMIA EUROPEIA Em relação ao Ocidente, há um consenso de que as Cruzadas incrementaram a economia europeia. Os saques realizados nas cidades permitiram grande afluxo de moedas alimentando o comércio então abastecido de produtos orientais.
O DESENVOLVIMENTO DE NOVAS VIAS DE COMERCIO Com o desenvolvimento de novas vias de comércio, algumas comunidades viraram entroncamentos importantes. As cidades cresceram e houve, inclusive, muitas trocas no âmbito cultural.
MOVIMENTO CRUZADISTA Ideologicamente falando, o movimento cruzadista evidenciou o sentimento de intolerância religiosa. Podemos mesmo afirmar que houve uma exacerbação das perseguições aos muçulmanos e judeus dentro da Europa.
AULA 10 OS NOVOS DONOS DO ORIENTE
O Império Bizantino e sua desagregação
Introdução:
O Império Bizantino, por séculos, representou a joia do entroncamento Europa, Ásia, África. Dada à sua posição geográfica, foi sistematicamente assediado e, bravamente, resistiu a essas incursões, não sem perdas, obviamente. Nada disso é novidade para você! Estudamos esses fatos em aulas passadas.
Saiba como a estrutura do Império Bizantino, montada há séculos, sucumbiu
Neste estudo dirigido, no entanto, nos deteremos a detalhar como essa estrutura, montada há séculos, sucumbiu finalmente aos constantes assédios e o que é mais surpreendente, como aqueles, que supostamente poderiam acorrer em seu auxílio, exacerbaram sua fragilização, ou seja, os Cruzados.
Apesar de todas as querelas, dissensões dogmáticas e, até mesmo o Cisma do século XI, a ação predatória dos Cruzados, ou parte deles na Quarta Cruzada, é digna de menção e estudo detalhado.
A Quarta Cruzada: 
Leia a notícia abaixo e compreenda a atualidade do tema da Quarta Cruzada:
PAPA DEVOLVE RELÍQUIAS PARA IGREJA ORTODOXA. (27/11/2004. Site Terra)
“O papa João Paulo II, numa tentativa de melhorar relações com os cristãos ortodoxos, devolveu hoje os restos mortais de dois dos mais importantes santos da Igreja Ortodoxa. Os ossos foram retirados de Constantinopla pelos cruzados há 800 anos. Próximo de Bartolomeu I, o patriarca de Constantinopla e líder espiritual dos 300 milhões de cristãos ortodoxos do mundo, o pontífice de 84 anos renovou apelos para unidade entre as alas da Igreja, que se separaram no Grande Cisma de 1054. […] "Este gesto fraternal da Igreja da Velha Roma confirma que não há problemas insuperáveis na igreja de Cristo", afirmou Bartolomeu. […]
Desde sua eleição em 1978, o papa fez da reconciliação com os cristãos ortodoxos uma prioridade de sua agenda. Durante uma visita a Atenas, em 2001, o papa pediu a Deus para perdoar os católicos romanos por mil anos de pecados contra os cristãos ortodoxos.
Ele também pediu perdão aos muçulmanos pelos cruzados, que tentaram reconquistar a Terra Santa, e aos judeus por séculos de antissemitismo. Alguns relatos históricos afirmam que os restos de Nazianzen e de Crisóstomo foram levados em 1204 durante

Outros materiais