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I- Introdução 1.1) Problematização A origem dessa arte - Parkour - remonta a década de 1960, durante a guerra do Vietnã, quando o soldado francês Raymond Belle utilizava o corpo para transpor obstáculos de forma rápida e fluida para resgatar feridos nas florestas fechadas do País. A inspiração veio do fisiculturismo de Georges Herbert (1875- 1957), o tão conhecido método natural (parkour, 2006). Na década de 80, o filho de Raymond Belle, cujo nome é David Belle, adquirindo o conhecimento do pai, transpôs todos os movimentos e técnicas para as “ruas”, utilizando o mobiliário urbano como possíveis obstáculos. Para isso houve todo um estudo de sua parte para desenvolver o que hoje chamamos de Parkour. David Belle foi um jovem bastante influenciado pela história de sua família. Seu avô, pai e irmão mais velho eram bombeiros em Paris, Como bombeiros, foram sempre reconhecidos por sua coragem nos salvamentos e por suas capacidades atléticas. Inspirado por sua família e principalmente por seu pai, David foi uma criança criada nos ginásios de ginástica, treinou artes marciais e teve sempre como meta o desenvolvimento de seu corpo e a superação constante de seus medos e limites pessoais (belle, 2006). Aos 15 anos, Belle resolve levar essa experiência para as ruas. Com seus amigos de infância, Belle se tornou o principal responsável pela criação de várias técnicas e a sistematização dessa arte do movimento. 9 A partir de então, Belle começa a desenvolver aquilo que anos depois seria conhecido como Parkour. Junto a seus amigos vivenciava as influências do salvamento realizado pelos bombeiros, pelo método natural de treinar e pelas técnicas de fuga criadas na guerra do Vietnã. Fantasiavam situações de emergência onde precisariam realizar salvamentos em lugares de difícil acesso, treinavam suas mentes e corpos para superar qualquer obstáculo que encontrassem pelo caminho. Após dezessete anos, uma disciplina se concretizou e tomou a forma praticada pelas ruas de metrópoles de todo o mundo. Apesar disso, sua filosofia e técnicas ainda são muito abstratas e discutidas por seus praticantes (belle, 2006). Quando os traceurs começam a praticar parkour muitas vezes provocam estranhamento nas pessoas. Seguidos por olhares críticos, frequentemente reconhecidos como vândalos ou como adultos infantilizados, brincando de.pular.muros. Assim, percebem rapidamente que a prática de atividades não convencionais podem gerar preconceitos tolos por parte das pessoas. Felizmente isso não foi à regra, mas uma constante exceção. Ter prazer numa atividade física e recriar o espaço pode ser, para muitos, melhor que repetir a mesma série de exercícios no mesmo lugar. O contato com a natureza, a busca de novos obstáculos, a criação de novas formas de ultrapassá- los e principalmente a mudança de sentido que o parkour dá aos objetos urbanos ensina que os praticantes podem recriar sempre, que podem fazer do mundo aquilo que querem que eles sejam e não aquilo.que.os.outros querem. Ao mesmo tempo, devido à variedade infinita desses objetos e as particularidades 10 de um para outro, nosso corpo é trabalhado por completo na prática do parkour. Todo o desenvolvimento físico e mental que o parkour proporciona deve ser conquistado individualmente, em sua relação pessoal com seus próprios objetivos, sem a fantasia de que qualquer progresso depende de fatores externos, tomando consciência que os objetivos e desafios a.serem.superados.dependem.de.nós. Um praticante de parkour faz da transgressão uma criação. Não teme entrar na mata fechada, prefere conhecê-la antes de recusá-la. Diante de obstáculos difíceis aprende a se aproximar com cautela, mas sem temê-los. Diante de obstáculos intransponíveis aprende a reconhecer e respeitar os limites. Preferem cair e levantar, pois acreditam que a vida é assim. E.BITTEN, (2006). 1.2) Problema Quais os motivos que levam os praticantes do Parkour a escolherem essa atividade? 1.3) Objetivo Geral Compreender o Parkour a partir do universo de seus praticantes. Específico Identificar os motivos que levam os praticantes do Parkour a vivenciar essa atividade. 11 1.4) Justificativa e Relevância Este estudo justifica-se por ser uma atividade de recente popularidade no qual os jovens vão se apropriando dos espaços urbanos, nesse sentido vem gerando curiosidade entre os praticantes. É relevante por permitir a divulgação da atividade e a discussão dos resultados com outros interessados na temática. A cada geração que passa os jovens vêem buscando novas formas de se expressar, de buscar sua “liberdade”, porém de uma maneira saudável e não mais como a tempos atrás da forma muitas vezes até rebeldes. Atualmente os jovens buscam compreensão e entendimento através da forma como fala, de como se veste e até mesmo de como se comporta em relação à postura corporal, com isso o parkour entra em peso pra explicar muita dessas mudanças. O Parkour é uma atividade que reúne muitas tribos de jovens diferentes, tem o roqueiro e o pagodeiro, tem o surfista e o skatista e todos convivem em plena harmonia, pois o principal objetivo é estar sempre evoluindo e superando seus desafios, sempre um ajudando o outro. Esses jovens, muitas vezes conseguem as respostas que querem em relação a sua liberdade de expressão devido a um trabalho de visão do espaço urbano. Cada um tem uma visão diferente de se expressar e de se movimentar no espaço urbano, o fato de na tribo do parkour haver esse encontro de culturas, faz com que, por exemplo, o roqueiro enxergue visões e respostas iguais à do pagodeiro e assim consigam respostas muitas vezes inexplicáveis para aquele grupo específico de pessoas. 12 Quem entende esse tipo de processo que ocorre com esse encontro de culturas que é o parkour, pode-se dizer que compreende a real filosofia do mesmo. O parkour ajuda os jovens a se encontrar como pessoas, a entender como a sociedade funciona e que é possível viver em harmonia com todos, basta encontrar algo em comum. Desta forma o parkour acaba criando uma linguagem, gírias e uma postura corporal única, mesmo sabendo que quem a pratica são pessoas completamente diferentes. 1.5) Questões a Investigar Como os praticantes do Parkour interpretam a prática do esporte? Que métodos contribuíram para a prática do Parkour? Que gestos e nomenclaturas o caracterizam? Que motivos levam os praticantes a aderirem à atividade? 13 1.6) Metodologia O estudo tem como utilização uma pesquisa descritiva, pois, JERRY & THOMAS (2002), descreve que esse “tipo de pesquisa é baseado em premissas de que os problemas podem ser resolvidos e as práticas melhoradas por meio de observações, análise e descrição objetivas e completas”. Muitas técnicas ou métodos de resolução de problemas se situam na categoria da pesquisa descritiva. Segundo JERRY & THOMAS (2002), o método descritivo mais comum é o estudo exploratório, por ser amplo e escopo, onde o pesquisador procura determinar as práticas presentes ou opiniões de uma população especificada. Esse método exploratório por possuir essas características foi utilizado inicialmente nessa pesquisa construindo o corpo da pesquisa. É exploratório por familiariza-se com o fenômeno e obter uma nova percepção a seu respeito, descobrindo assim novas ideias em relação ao objeto de estudo. É descritivo por observar, descrever e analisar as características, propriedades ou relações existentes no grupo no qual foi realizada a pesquisa.(MATTOS, ROSSETTO JUNIOR, BLECHER, 2004). A análise das informações coletadas foi feita com base na técnica de análise de conteúdo, referenciada em Bardin e Sá. 14 1.7) População e Amostra A população utilizada nesta pesquisa é constituída por praticantes de Parkour. A amostra é composta por 10 indivíduos denominados traceurs, entre 14 e 30 anos de idade. Os respondentes são estudantes desde o ensino médio a curso superior, trabalhadores de diversas áreas como auxiliar administrativo, técnico em computação, professores de Educação Física e artistas circenses, todos praticantes do esportes há pelo menos um ano. 1.8) Instrumento de coleta de dados O instrumento de coleta de dados utilizado é composto por questionário com perguntas semiestruturadas, feitas aos praticantes onde eles teriam que responder, sobre sua pratica diária do Parkour, como tomaram conhecimento do esporte, porque resolveram praticar o Parkour, se pratica outro esporte, e qual a contribuição que o Parkour exerce na sua vida, além de documentos retirados da Internet. Em função da complexidade do fenômeno abordado, foi utilizado a técnica projetiva de associação de ideias a partir de cinco palavras indutoras: medo, obstáculo, parkour, limite e cidade. Este recurso pretende acrescentar ao estudo a subjetividade dos atores, captada por convite à expressão espontânea do que a palavra, tomada isoladamente, os fazia lembrar, mediante a associação livre de ideias a fim de buscar outros sentidos não captados diretamente no questionário. Este procedimento favorece a manifestação de laços emotivos latentes, que servem para a interpretação dos sentidos evocados. 15 - Fundamentação Teórica: 2.1 - Descrição do Esporte: Parkour, também conhecido como Arte do Deslocamento, é uma disciplina esportiva, onde os praticantes – conhecidos como traceurs, ou traceuse, no feminino – usam seu corpo para passar obstáculos de uma forma rápida e fluente. No Parkour você aprende técnicas e desenvolve habilidades. Ele consiste em um homem correndo de alguém/algo onde nenhum obstáculo pode pará-lo, porém, não é só isso, além de passar os obstáculos, você deve executar os movimentos da forma mais natural possível usando o obstáculo como se fosse um auxiliar e até mesmo parte do seu corpo. Vale a pena ressaltar que você treina o Parkour para você mesmo e não para impressionar as pessoas, caso faça isso, apesar de ainda praticar o Parkour, não estará usando-o com seu objetivo real e sim apenas para se exibir. (PARKOUR, 2006) A run é a "alma do parkour". Praticando-a você aprende a usar todas as técnicas que você aprendeu. A run consiste em dois pontos, A e B, o praticante corre do ponto A ao B, atravessando todos os obstáculos que encontrar pela frente. Na run você aprende a ter maior visão de como suas “manobras” podem ser aplicadas. Imagine uma pessoa que treine as técnicas por anos, porém, nunca fez uma run, e no momento, tenha que fugir de algo; Ela com certeza em certos momentos vão ter de parar para pensar no que executar para passar certo obstáculo, pois ela ainda não desenvolveu a habilidade de imaginar os movimentos. Ela ainda não desenvolveu uma visão global, estratégica e imediata 16 do ambiente ao seu redor. Esse é um dos motivos pelo qual uma run é importante no Parkour. O traceur treina técnicas e as usa na run, dessa forma pode ultrapassar os obstáculos fácil, rápido e naturalmente. (PARKOUR, 2006). Como no Brasil o Parkour chegou pela internet, muitos começaram a praticar a disciplina após assistir um filme de ficção. Foi dessa forma que o Parkour foi transmitido pelo mundo. Fato esse, que leva cada vez mais o Parkour a distanciar-se da real filosofia para transformar-se em algo para ser mostrado, ser.apreciado.como.um.espetáculo. Mas como reagir diante de um vídeo de David Belle, perfeitamente editado, saltando de prédios, fazendo escaladas, correndo na selva? Essa é uma experiência empolgante, os praticantes se identificam com ele e sentem emoções únicas, querendo sempre repetir aquilo que veem e não o que significa. Surgem assim milhares de vídeos de parkour. Cada grupo que se organiza produz imagens em fotos e vídeos e as divulga na Internet. Repete-se assim a cena que despertou o interesse, só que agora, o protagonista são os próprios praticantes. Diferentemente de esportes como o futebol que as pessoas assistem a um jogo, ou a ginástica que assiste a uma apresentação técnica, no parkour, os praticantes assistem sempre edições dos melhores momentos. Produzir imagens e selecioná-las, decidir sua disposição no vídeo etc, é uma produção carregada de desejos. O que queremos mostrar quando editamos um vídeo? E quando criamos um site? São perguntas do depoimento de um traceur tirados de um site1 1 www.leparkourbrasil.com.br/artigo acessado em 31/04/2007. 17 Pela opinião dele, não se compete no parkour, você produz um vídeo, é admirado pelos que assistem e ficam querendo saber as opiniões. É como a maioria dos artistas que produzem sua arte. Assim como ele pode preferir um grupo de música a outro, pode também gostar mais de um estilo de um traceur que.de.outro. A valorização da imagem no Parkour prioriza a cena, a fantasia. Imagens incríveis que vemos são frutos de muito treinamento. Uma comparação com a ginástica olímpica, por exemplo, pode ser útil. Um atleta de ginástica começará com movimentos simples. São movimentos básicos que devem ser executados com perfeição para que se possa aprender o movimento seguinte. A tendência no parkour é reproduzir aquilo que eles vêem e não o que significa. A produção de imagens tem seu lado negativo principalmente neste ponto. É que mesmo sem técnica é possível saltar de três metros. Ao invés de tentarem melhorar a distância e altura de seus saltos, podem filmar um salto sobre qualquer coisa, ganhamos assim relativa liberdade, mas perdendo ou se atrasando no desenvolvimento pessoal referente ao parkour. As imagens empolgam, inspiram, direcionam o Parkour num sentido artístico, mas se não houver treino perde-se a chance de criar e desenvolver a técnica. E.BITTEN, (2006). 18 2.4 - Método Natural e sua História Qualquer homem, seja quem for, se ele realmente quer viver sua vida ao máximo de suas habilidades, tem à sua frente algumas tarefas físicas a cumprir, assim como tem, em um outro ponto de vista, algumas tarefas morais a executar e umas obrigações sociais a respeitar. Essas tarefas constituem a “moral física”. Elas podem ser encorpadas numa fórmula.dupla:.Desenvolver-se.e.preservar-se." Tendo aparecido na França em 1905 e elaborado por Georges Hébert (1875-1957), o Método Natural é mais que um simples conceito de treinamento para o corpo, é um método genuíno de educação física e moral, baseado na confiável experiência e em mais de um século de história. Segue.aqui.a.definição.do.próprio.inventor: "Uma ação metódica, progressiva/graduada e contínua, da infância à idade adulta, visando assegurar desenvolvimento físico integral; aumentar resistências orgânicas; destacar as aptitudes em todo tipo de exercício indispensável, ambos naturais e utilitários, desenvolver a energia e todas as outras qualidades de ação, finalmente.subordinar.todo.ganho.físico.a.uma.idéia.de.moral.prevalescente: .O.altruísmo. O treinamento pelo Método Natural privilegia o movimento em todas suas formas. Os exercícios são classificados nas 10 famílias que são: andar, Correr, Pular, Escalar,Movimento Quadrúpede, Equilíbrio, Erguer, Arremessar, defesa, nadar. Muitas dessas famílias são a base e a essência do parkour, foram desses movimentos naturais e muitas vezes extintivos que se enxergou a montagem de uma atividade completa, que se trabalha desde todos os movimentos básicos do 19 ser humano, como correr e pular, até os mais complexos, usados para fortalecimento e treinamento corporal. Todos esses exercícios fluem de um ao outro durante uma sessão de 40 a 60 minutos e habilitam desenvolvimento completo e físico utilitário. Mover-se, flexibilidade, liberdade de ação individual, continuidade, alternação de esforço e graduação da intensidade de trabalho são os principais princípios de ensino no método. As sessões acontecem preferencialmente em ambientes externos em espaços construídos especificamente ou não, mas podem também acontecer em ambientes fechados por questões de conveniência. O Método Natural é voltado para pessoas de qualquer condição independente de idade, sexo ou nível de condicionamento. Tem uma aplicação prática e imediata na vida cotidiana, assim como em emergências ou perigo, dando a habilidade de ajudar outros de qualquer.forma. O lema do método, "ser forte para ser útil", é na verdade uma fórmula condensada.da.seguinte.frase: "É preciso ser forte para ser útil, não apenas para si mesmo, mas para outros".HEBERT, (2007) 20 2.5 - Influência do Método Natural de Georges Hébert: Para entender a perspectiva do Parkour, é preciso entender a história do desenvolvimento da atividade, das experiências na infância de Raymond Belle no Vietnam, até as descobertas do Methode Naturelle de Georges Hébert (Método Natural). Raymond tornou-se intimo do método durante sua carreira como soldado e bombeiro, também na educação mental e treinamento físico, houve um acréscimo na sua vivência em relação ao trabalho do Hébert. Por meio dessa influência o filho David, Criou e desenvolveu o Parkour (HÉBERT,2006). Raymond Belle era um soldado adolescente na guerra do Vietnã, lutando contra os invasores ocidentais. O denso terreno selvagem significava que o conhecimento local era uma vantagem crucial que a milícia em grande desvantagem de equipamento teria que explorar para qualquer chance de sobrevivência. Raymond Belle e sua unidade tornaram-se extremamente hábeis ao usar o terreno local em sua vantagem, movendo-se rapidamente e silenciosamente pela densa floresta, surpreendendo seus inimigos e depois se retirando com velocidade para evitar serem apanhados. Depois da guerra quando Raymond criava seu novo lar, integrou o regimento parisiense de sapeurs-pompiers militares (bombeiros militares). Foi lá que ele entrou em contato com o “Méthode Naturelle” de Georges Hébert, um programa estruturado de desenvolvimento físico e mental que se tornou padrão e base de treinamento militar internacional. 21 As experiências de Raymond no Vietnam, e seu entendimento pessoal de movimento eficaz e útil, agora tinham uma base na qual poderiam ser desenvolvidos através de refinamento disciplinado da técnica. Em mais de 17 anos de regimento, Raymond praticou atos de altruísmo em incontáveis resgates, e tornou-se a personificação dos sapeurs-pompiers. David Belle cresceu tendo um grande herói como figura paterna o que resultou na continuação do legado de Raymond. O foco de David foi dedicar sua vida à ultrapassagem de obstáculos tanto simbólicos como reais. Com essas atitudes de vida avançou na progressão movimento relacionado à prática do Parkour. Porém o mais importante se aplica à idéia de que todo seu treinamento deve ser aplicado na vida real e servir de ajuda para resolver problemas ou situações extremas HEBERT, (2006). Sabendo de tudo isso, eu (Humberto Côrtes – conhecido como Pulga), um dos percursores e difusores da disciplina no Brasil, criei uma metodologia voltada especificamente para o parkour, com um treinamento que começa de um alongamento de grupamentos musculares específicos, passa para um trabalho de força e resistência, até chegar à parte técnica, onde são passados todos os educativos necessários e divididos em módulos para que os iniciantes e avançados melhorem seu condicionamento físico e técnico, independentemente se treinam juntos. Métodos esses que veem ganhando prestígio e elogios dentro da parte.acadêmica.de.treinamento. 22 2.6 - Gestos e nomenclaturas que caracterizam o esporte: No Parkour existem nomes para todo tipo de movimentação que é feito durante a atividade. Todos os nomes são mera formas de se comunicar com o mundo e a linguagem do praticante, não devendo levar como regra única e sim como uma referência. Cada tipo de evolução feita durante o percurso existe um gesto ou uma nomenclatura: Atterissage / Réception = Landing = É a recepção do salto feito geralmente de maneira agachada e firme, como na posição de cócoras, porém na meia ponta do pé sem que o calcanhar encoste no chão. Costuma-se usar os braços para ajudar na técnica. Roulade = Rolamento usado para dissipar o impacto. Equilibre = Balance = Equilibrar-se em uma superfície seja ela um rail (cano) ou um muro. Équilibre de Chat = Cat Balance = Equilibrar-se em uma superfície qualquer em 4 apoios (Braços e pernas). Tic Tac = Usar o pé para se impulsionar na parede para um outro lado. É a mesma pisada do Passe Muraille. Saut de fond = Gap Jump = Salto de um lugar alto sem o vetor horizontal. 23 Saut de détente = Gap Jump = Salto de um lugar alto com o vetor horizontal. Geralmente acompanhado de um Roulade (rolamento). Passe Muraille = Wall Run = Subida em uma superfície vertical (Um muro, por exemplo). Saut de Précision = Precision / Rail Precision = Salto de um ponto a outro ponto restrito usando as pernas juntas como um salto de Canguru. Saut de Brás = Cat Leap = Pulo com a recepção do salto feita com as mãos e pernas. “Posição do landing na parede” (“agarrar no muro”) Dismount = É se soltar de um determinado lugar. Pode ser feito parado (Depois de um Turn Vault) ou em movimento (Em árvores e barras). Saut Dans La Barre = Underbar = Passar entre um espaço pequeno. Pode ser feito reto ou com o giro de 360º (Underbar 360). Saut de Chat = Monkey / Kong = Passar um obstáculo usando os braços e passando as pernas no momento que os braços saem na direção onde eles se encontravam na saída do obstáculo. Em francês independe da distância é tudo saut de Chat. Passement de barrière 360° = Reverse Vault = Passar um obstáculo fazendo um giro de 360º. Passement de barrière 180° ou Demitour = Turn Vault = Passar um obstáculo fazendo um giro de 180º que geralmente é acompanhado de um Laché (Dismount). Saut de Voleur = Speed Vault / Lazy Vault = Passar um obstáculo de maneira rápida apenas encostando a mão no obstáculo e passando o seu corpo de 24 maneira lateral. O Speed usa uma mão. O Lazy troca de mão no meio do obstáculo. 25 Capítulo III 3.1) Análise dos dados Analisando todas as respostas de todos os respondentes do questionário sobre o Parkour, foi percebida que a maneira mais comum de tomar conhecimento do esporte aqui na cidade do Rio de Janeiro é através da mídia como TV, jornal, revista. E também pela internet com os sites de relacionamento e de entretenimento, acontece também casos isolados de um amigo apresentar o esporte a outro e passar de boca em boca,mas a partir do momento que uma pessoa toma conhecimento do esporte corre imediatamente para a internet e a mídia como jornal e revista. No Rio de Janeiro as pessoas de uma forma geral resolvem praticar o Parkour principalmente para melhoria do condicionamento físico, também por ser um esporte onde a superação psicológica esta em conjunto com a superação física e por proporcionar uma sensação forte de liberdade. Foi perguntado se alguém praticava outro esporte além do Parkour. Os respondentes acham a modalidade completa que trabalha o corpo e a mente, desse modo encontram no parkour elementos que precisam para suprir suas necessidades, por isso, a grande maioria não pratica nenhuma outra atividade esportiva. Alguns praticantes usam da ginástica olímpica, Kong fu, capoeira, etc. para aperfeiçoar suas técnicas, pois são esportes de muita disciplina, concentração e força, elementos bastante utilizados para o domínio da técnica do Parkour. Quando foi perguntado sobre a contribuição que o Parkour traz para a vida de quem pratica, foi visto que a comparação de superar obstáculos da vida e associar com obstáculos de concreto foi um grande diferencial para todos os 26 entrevistados. Outros praticantes sentem que a melhor contribuição para suas vidas foi o condicionamento físico, a melhora da coordenação motora e conhecer os limites do corpo. Para alguns respondentes, a maior dificuldade do praticante de Parkour com certeza é o medo, pois está presente a cada segundo da prática. O medo é um fator que está presente no discurso dos praticantes de Parkour, pois é por ele que sabemos nosso limite e até onde podemos trabalhar nosso psicológico sem que nada de errado aconteça. Além do medo outras dificuldades podem ser citadas, como a dificuldade do controle do corpo e do equilíbrio e também está sempre trabalhando para ter um bom condicionamento físico, ganho de força, de resistência, explosão muscular, que são fundamentais para uma evolução mais rápida das técnicas. Quanto melhor preparado tecnicamente estiver seu corpo, mais fácil ficará ultrapassar os obstáculos e mais tranquila estará sua mente. O Parkour traz diversos benefícios para vida de seus praticantes, aqui foram citadas com ênfase, a melhoria do condicionamento físico, o autoconhecimento do corpo e da mente, da agilidade corporal, perda dos medos e uma constante sensação de liberdade. Mesmo o Parkour sendo considerado um esporte de risco calculado, podemos concluir que para a maioria dos praticantes do Rio de Janeiro não se tem registros de acidentes com gravidade, apenas algumas escoriações e torções normais em qualquer atividade esportiva urbana. Esses praticantes alegam que o motivo para haver poucos acidentes sérios no Parkour, é que todos os movimentos e evoluções, são bem estudados e calculados, onde um praticante 27 somente executará certo tipo de movimento se ele estiver fisicamente e psicologicamente preparado, o Parkour é feito em cima dos limites de cada um. Como o Parkour permite e possibilita um campo de imensa liberdade, foi inevitável que com os anos houvesse uma adaptação e a inclusão de saltos, acrobacias e piruetas dentro dos percursos, vistos que são movimentos que também exigem muito do preparo físico e mental, força, equilíbrio. Desta forma os saltos, piruetas e mortais são tratados com o mesmo objetivo de superar seus medos e limites. Eles usam dessas “firulas” para estarem evoluindo, se superando dentro até mesmo do Parkour. Foi visto que todos os praticantes sabem que as acrobacias não fazem parte da essência do Parkour, porém todos acham interessante, bonito, estético e são a favor, desde que não atrapalhe a fluidez da run. (percurso). Mantendo a linha de curiosidades e dúvidas, foi perguntado aos entrevistados se eles participariam de um campeonato de parkour. Ao ser perguntado aos praticantes sobre se ele participaria de algum campeonato de Parkour, a maioria dos respondentes disseram que não. Para eles a competição do Parkour é a sua própria superação (você compete com você mesmo), e também que o parkour respeita o limite de cada um e que uma competição vai contra tudo isso. Outros disseram que participariam sim, para uma maior divulgação do esporte, integração social e por que toda competição feita corretamente é saudável e faz com que o esporte evolua mais rapidamente. Para a interpretação da associação de idéias houve a necessidade de Usarmos a técnica projetiva, a associação livre de ideias a cinco (5) palavras indutoras, obstáculo; medo; limite; parkour e cidade. A técnica projetiva é utilizada 28 pela psicanálise com a finalidade de estudar as associações mentais, ajudando a penetrar na subjetividade do sujeito. Estes recursos ajudam na pesquisa captando a subjetividade dos jovens possibilitando mergulhar no mundo linguístico desse grupo. Para esta análise, os jovens são convidados a expressar verbalmente uma palavra que imediatamente surgisse em sua mente, diante das palavras indutoras. Caso não lhe venha nenhuma palavra o jovem levanta a mão passando para a próxima palavra. Estes procedimentos favorecem a manifestação dos laços emotivos latentes que servem para a interpretação dos sentidos. Deste modo, podemos encontrar os não-ditos dos discursos dos jovens praticantes de Parkour. Consideramos as cognições que foram prontamente lembradas, adotando-se os critérios de natureza coletiva (frequência de indicação). Foram levantadas as categorias semânticas que receberam associações comuns a grupos imagéticos indutores pelos 10 praticantes de parkour, bem como as categorias com associações não comuns. Os sentidos apresentados por estes praticantes encontram-se aqui listados em ordem de frequência. A partir dessa ordenação podemos traçar a construção de uma constelação de sentidos elaborados por esses praticantes. Associação comuns Associação não comuns Superação 07 Parkour 05 Liberdade, Obstáculo, Temporário 03 Esporte, Ultrapassagem, Medo, Sensatez 02 Rua, alvo, meta, mente, vida, visão, inimigo, treinamento, meus caminhos, play ground, alcançável, desconhecido, 01 As associações comuns superação/Parkour nos dão ideia de como o esporte é abraçado por eles pode ultrapassar seus limites. Para esses jovens 29 praticantes de Parkour o treinamento da mente e do corpo nos dão forte indícios do modo de como eles querem ultrapassar os seus obstáculos na vida. A cadeia semântica em torno de Liberdade/Obstáculo, vem carregada de energia que ao ultrapassar seus obstáculos esse grupo o faz com liberdade. Liberdade essa demonstrada no esporte por eles escolhido, a cidade para eles é o símbolo da autonomia, os obstáculos vêm carregados de incertezas mas que lhes dão a sensação de liberdade quando o domínio do movimento, faz surgir o autocontrole. Finalizando a associação de ideias comuns encontramos Esporte/ Ultrapassagem/ Temporário/ Medo, com uma incidência menor, mas com significação ao serem analisados isoladamente, porque nos levam a acreditar na dimensão dos limites que esses jovens desejam superar. Outro grupo semântico que se organizou em torno das palavras indutoras são rua/ alvo/ meta/ mente/ vida/ visão/ sensatez/ inimigo/ treinamento/ meus caminhos/ play ground/ todos têm/ alcançável/ desconhecido, desse modo esses atores parecem diversificar a sua visão em torno da atividade do Parkour pela cidade. Algumas ideias nos dão retorno as palavras indutoras, como limite que nos faz retornar ao Parkour fazendo-nos pensarque para esse grupo jovem o Parkour é o limite, e limite é o Parkour. Cabe-nos comentar que podemos somar a emoção da pratica do Parkour os jovens se vestem de coragem necessária para transpor aqueles obstáculos superando seus próprios limites. A cidade como palavra indutora nos retorna ao obstáculo, já que para os atores de que utilizam o palco da cidade muitas vezes tornando-se num obstáculo inigualável para transpor. 30 3.2) Conclusão O que podemos perceber no decorrer desse trabalho, é que desde a criação e o desenvolvimento dessa disciplina no final dos anos 80 até os dias de hoje, que são em torno de 21 anos, ainda se mantêm a essência e o objetivo real do Parkour em encurtar caminhos, facilitando seus trajetos e sempre superando seus medos e limites e paralelamente estar sempre associando a situações da vida, do cotidiano. Graças à imensa dedicação e anos de estudo de seu criador, David Belle, o Parkour pode ter influências consideráveis do método natural, de treinamento de guerra e de salvamento dos bombeiros, o que fez com que essa nova disciplina possuísse uma gama de conhecimentos corporais, mentais e filosóficos. Outro ponto importante desse trabalho e um dos focos do estudo foi perceber como essa disciplina, hoje tratada como um esporte, devido sua organização, disciplina de treinos e dedicação, chegou a se espalhar no Brasil. Através do meio de comunicação, como jornais, revistas, TV, internet e outros o Parkour chegou como uma novidade e rapidamente virou febre entre os jovens do País inteiro, devido sua diversidade de movimentos e por utilizar o corpo como único instrumento. A pergunta que se faz como objetivo do trabalho é como e porque esses jovens escolhem o parkour como a principal atividade corporal. Observamos que devido a diversos fatores tanto sociais quanto psicológicos, os jovens encontram no Parkour as respostas que precisam e que jamais os adultos entenderiam como 31 a liberdade de expressar o corpo e as palavras, superar alguns desafios pessoais, como o medo, visão do espaço ao seu redor, relacionamento com outras pessoas de culturas diferentes, buscando assim um amadurecimento não só pessoal, mas geral com relação a todos que convivem a sua volta. Concluímos que o parkour é uma disciplina corporal completa na visão de quem pratica, pois trabalha o corpo de uma forma geral como saúde e condicionamento físico e prepara a mente para novos desafios e obstáculos não só concretos, mas da vida também, pois permite que os jovens se sintam mais à vontade para expressar suas sensações de liberdade, felicidade ou até mesmo de alguma frustração ou angústia, canalizando diretamente essas sensações na forma de movimentos durante a prática do Parkour. 32 Referências: -BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Rio de Janeiro: Edições 70, 2006. -BELLE, D. Disponível em: http://www.parkour.net/artigos.htm Acesso em: 20 set. 2006. -BITTEN, Eduardo. Parkour, Filosofia e Intervenção Urbana. Disponível em: http://www.leparkourbrasil.com.br/artigos.htm Acesso em: 15 de mar. 2007. -BITTEN, Eduardo. Parkour, imagem e internet. Disponível em: http://www.leparkourbrasil.com.br/artigos.htm Acesso em: 15 de mar. 2007. -COSTA, M.R.M. Aventura e Risco no Skateboard-street: um estudo do imaginário social se jovens skatistas. Dissertação de Mestrado. PPGEF-UGF. Rio de Janeiro. 2004. -COSTA, M.R.M. e COSTA, V.L.M. A Re-Apropriação da Cidade: um estudo do imaginário social do Le Parkour. Memórias do FIEP-Rio. Congresso Carioca de Educação Física. Rio de janeiro. 2006. pág 104. -HÉBERT, Georges. Disponível em: http://www.parkour.net/artigos.htm Acesso em: 27 de set. 2006. -HEBERT, Georges. Sua História, Sua Origem. 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