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1 UNIDADE 1 ASPECTOS INTRODUTÓRIOS AO SINDICALISMO E NEGOCIAÇÕES COLETIVAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade você será capaz de: • compreender, diferenciar e definir as relações coletivas de trabalho, deter- minando a sua abrangência e fundamentos, bem como a defesa dos direi- tos e interesses coletivos; • conhecer a Organização Internacional do Trabalho, sua estrutura, funções, as principais convenções coletivas e a sua influência nos estados; • discorrer sobre o sindicalismo e a negociação internacional, especificamen- te quanto à sua evolução, o princípio da liberdade sindical e os sistemas de organização sindical; • analisar as tendências do sindicalismo e negociações coletivas no mundo atual, especificamente quanto aos aspectos de organização sindical, nego- ciação coletiva e direito de greve. Esta unidade está organizada em quatro tópicos e ao final de cada um deles você encontrará atividades que facilitarão a compreensão dos conteúdos apresentados. TÓPICO 1 - AS RELAÇÕES COLETIVAS DE TRABALHO TÓPICO 2 - AS RELAÇÕES COLETIVAS INTERNACIONAIS TÓPICO 3 - O SINDICALISMO E A NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL TÓPICO 4 - TENDÊNCIAS DO SINDICALISMO CONTEMPORÂNEO 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 AS RELAÇÕES COLETIVAS DE TRABALHO 1 INTRODUÇÃO As relações de trabalho são, de modo geral, divididas em dois tipos fundamentais de relações jurídicas, que são as individuais e as coletivas. Com efeito, as individuais têm como sujeitos dessa relação o empregado e o empregador, visando interesses de ambos no desenvolvimento do vínculo de trabalho. Já as coletivas são relações mais amplas e importantes que aquelas e delas se distinguem pelos seus sujeitos, interesses e funções que cumprem no ordenamento jurídico. Neste aspecto, os sujeitos das relações coletivas não são as pessoas individualmente consideradas e determinadas, pois o sujeito que aparece é o grupo, que pode ser maior ou menor e é identificado como um todo (ex.: empregados bancários). No caso, o grupo é constituído de pessoas abstratamente consideradas, o que significa a indeterminação e a não individualização de cada participante, que constituem uma categoria (profissional se formada de trabalhadores e econômica se de empregadores), cujos interesses referem-se à coletividade e são comuns a todos os membros do grupo, com a finalidade de defesa desses interesses. Entretanto, as relações coletivas de trabalho revestem-se de suma importância no processo de produção das normas jurídicas, eis que, ao lado do Estado, constituem uma das mais importantes fontes formais do direito positivo, as quais são reconhecidas pelos ordenamentos jurídicos dos estados. Isto porque, através das suas representações, os grupos direcionam a defesa dos seus interesses de modo que, desses mecanismos de reivindicação, confrontação, negociação, autocomposição ou decisão judicial, resultem normas jurídicas produzidas pelas relações coletivas trabalhistas. NOTA Conforme Maria Helena Diniz, direito positivo é “o conjunto de normas, estabelecidas pelo poder político, que se impõem e regulam a vida social de um dado povo em determinada época”. Portanto, “é mediante normas que o direito pretende obter o equilíbrio social, impedindo a desordem e os delitos, procurando proteger a saúde e a moral públicaS, resguardando os direitos e a liberdade das pessoas”. (2003, p. 8). UNIDADE 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS AO SINDICALISMO E NEGOCIAÇÕES COLETIVAS 4 A propósito, Nascimento (2010, p. 1255) afirma que as relações coletivas: destinam-se a disciplinar os interesses coletivos e têm uma função criadora das normas que regem os próprios grupos, mas também se destinam a constituir normas que vão determinar direitos e obrigações para os contratos individuais de trabalho, de modo que são relações de auto-organização dos grupos e elaboração de normas jurídicas não estatais, surgidas no seio dos próprios grupos de trabalhadores e empregadores. Afinal, nos países democráticos, a responsabilidade de realização da justiça social é não só do Estado, como também dos movimentos sindicais e, como lembra Hannah Arendt (apud MARTINEZ, 2010, p. 42), “quem habita esse planeta não é o Homem, mas os homens”, pois “a pluralidade é a lei da Terra”. 2 DEFINIÇÃO E ABRANGÊNCIA 2.1 DEFINIÇÃO Relações coletivas de trabalho, conforme Nascimento (2010, p. 1253), “são relações jurídicas que têm como sujeitos os sindicatos de trabalhadores e os sindicatos de empregadores ou grupos e como causa a defesa dos interesses coletivos dos membros desses grupos”. Na verdade, estas relações de trabalho, em vista do seu significado social e crescente multiplicação, apesar dos estudos de doutrinadores italianos e franceses, destacando a sua importância, ainda é algo carente de teorização. Tanto que, para melhor caracterizá-las, é preciso delimitar as diferenças entre as individuais e as coletivas, o que, segundo o autor acima, se faz a partir dos sujeitos, dos interesses e da causa final de ambas. Assim, pode-se concluir que nas relações coletivas: os sujeitos são os grupos de trabalhadores e os de empregadores, normalmente, representados pelos sindicatos profissionais e patronais, apresentando-se como relações intersindicais. Os interesses são grupais, referindo-se a uma coletividade e sendo comuns a todos os seus membros; e a causa é a defesa dos interesses grupais, abstrata e geral, possuindo uma dimensão normativa ampla, da qual resultam normas genéricas que são as convenções coletivas de trabalho. Além de, por terem fins estruturais, se destinarem a regular as condições de trabalho e a atividade sindical. Entretanto, finaliza Nascimento (2003, p. 32): “as relações coletivas têm, ainda, finalidade compositiva dos conflitos coletivos. Paradoxalmente, são relações que podem ser de conflito. Delas nasce o conflito e pode surgir, também, a solução do conflito. Daí a sua fisionomia dupla, conflitiva e pacificadora”. TÓPICO 1 | AS RELAÇÕES COLETIVAS DE TRABALHO 5 2.2 AS RELAÇÕES E OS INTERESSES COLETIVOS O termo “interesse” possui muitos significados, embora, no geral, apareça intimamente ligado à noção de necessidade e represente a relação entre uma necessidade do ser humano e uma conduta para satisfazê-la. Contudo, neste contexto, trata-se de interesse que se reporta a pessoas que, por diversas razões, estão em posições sociais homogêneas (ex.: classes), o que facilita a sua aglutinação nos grupos representativos que vão representá-los, defendê-los e fomentá-los, como fazem os sindicatos, associações e outras entidades. Neste aspecto, reportando-se aos interesses presentes nas relações coletivas, Martinez (2010, p. 610) afirma que “quando se fala em relação coletiva, é evidente que o interesse em discussão é de natureza transindividual, na qual se incluem os individuais homogêneos, os coletivos em sentido estrito e os difusos”. Por sua vez, os juristas têm usado a designação de interesses transindividuais como: gênero, cujas espécies são os interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Eis que essa tripartição corresponde à que se tornou clássica e consagrada pelo Código de Defesa do Consumidor. Além de serem interesses juridicamente protegidos, pelo fato de estarem sob a tutela do Estado. Assim, esse diploma (art. 81, parágrafo único) definiu os interesses ou direitos coletivos como: os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica de base. Com efeito, a complexa sociedade moderna,marcada por um processo de produção, de troca e de consumo de massa, o que lhe vale a denominação de “sociedade de massa”, realçou a figura de bens e interesses que não se inserem na titularidade de uma única pessoa e cuja fruição abarca um número ilimitado de sujeitos, transcendendo a simples esfera individual. A propósito, Santos (2008, p. 73) esclarece que: os interesses coletivos são expressão do espírito associativo do homem. Dizem respeito ao homem associado, socialmente agrupado, membro de grupos ou comunidades, com algum grau de organização, que medeiam entre o indivíduo e o Estado. Desvinculam-se dos interesses concretos de cada indivíduo para assumir contornos de um interesse abstrato, da coletividade, do grupo. UNIDADE 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS AO SINDICALISMO E NEGOCIAÇÕES COLETIVAS 6 NOTA Imagine que todos os comerciários de uma cidade sofressem uma redução de salário sem que houvesse qualquer negociação coletiva, o que obrigaria o respectivo sindicato a exigir na Justiça a declaração de nulidade desse ato. O restabelecimento dos salários e o pagamento das diferenças devidas, medida que, devido à ilegalidade, seria vitoriosa e beneficiaria toda a classe. Porém, se houvesse demissão em massa, o sindicato apenas poderia defender o interesse ao pleno emprego, pois isso foge à sua órbita de atuação. Nesse caso, é possível falar de fenômeno coletivo quando, desvanecidos os interesses individuais originários, surge uma nova realidade, chamada por Mancuso (1997, p. 49) de “ideal coletivo”, “alma coletiva”, o que torna o interesse coletivo direto e pessoal para o grupo, legitimando-o a representar essa coletividade como um todo. Portanto, os interesses coletivos valem-se dos grupos como veículos para a sua exteriorização, pois a existência do grupo, pelo fato de presumir um mínimo de coesão de organização e estrutura, possibilita a aglutinação e coesão dos interesses, dando-lhes o caráter coletivo. Deste modo, o autor acima (p. 55) identifica as notas fundamentais que caracterizam um interesse como coletivo: “um mínimo de organização, a fim de que os interesses ganhem a coesão e a identificação necessárias; a afetação desses interesses a grupos determinados ou ao menos determináveis, que serão os seus portadores; e um vínculo jurídico básico, comum a todos os participantes, conferindo-lhe situação jurídica diferenciada”. Com efeito, a partir daí surgem os grupos ou corpos intermediários entre o indivíduo e o Estado: sindicatos, associações, família, partidos políticos etc. Assim, no caso desses interesses coletivos, os detentores da força- trabalho, que na relação capital-trabalho são a parte hipossuficiente ou mais fraca, organizaram-se em sindicatos para defesa dos seus interesses! NOTA A parte hipossuficiente é a que está em posição de inferioridade (mais fraca), hipossuficiência é uma situação que determina a falta de suficiência para realizar ou praticar algum ato, ou seja, é uma situação de inferioridade que indica uma falta de capacidade para realizar algo. FONTE: Disponível em: <www.lfg.com.br/.../20091013194210919_direito-do-consumidor_o-...> . Acesso em: 20 out. 2012. TÓPICO 1 | AS RELAÇÕES COLETIVAS DE TRABALHO 7 2.3 CLASSIFICAÇÃO DAS RELAÇÕES COLETIVAS DE TRABALHO As relações coletivas laborais podem classificar-se em mais de um tipo, uma vez que apresentam características específicas e diferenciadoras. Assim, levando em conta a realidade jurídico-social, verificada no contexto em que as mesmas se desenvolvem e conforme os sujeitos vinculados, sentencia Nascimento (2010, p. 1258-259) “que há relações coletivas de trabalho sindicais e não sindicais”. Deste modo, as sindicais, na ótica da polaridade dos sujeitos, subdividem- se em bilaterais, que são as que têm em cada lado do polo, patronal e profissional, uma entidade sindical; e unilaterais aquelas em que somente uma das partes é entidade sindical. E, levando em conta o grau das entidades envolvidas, existem relações entre os sindicatos de base e entre estes e entidades sindicais de segundo grau; sendo que, no Brasil, o sistema organizacional é o piramidal, em que a base é composta pelos sindicatos das diversas categorias (ex.: metalúrgicos, ferroviários, bancários etc.), no meio as federações (de segundo grau; no mínimo, soma de cinco sindicatos; ex.: a Federação dos Arquitetos do Estado de São Paulo) e, no alto, as confederações (no mínimo, soma de três federações; ex.: Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria). Quanto ao meio, as relações podem ser de conflito (ex.: greve); de composição, quando, através de negociações coletivas, se alcança o acordo ou, pelo contrário, a greve; formais e não formais, quando se apresentam ou não mediante um instrumento jurídico. E quanto ao objeto podem ser: econômicas, quando versam sobre salários no sentido amplo ou mais restrito se nos dissídios coletivos abrange os conflitos para obter novas normas e condições de trabalho; sociais, quando visam medidas de natureza social para os trabalhadores (ex.: a prestação aos representados de serviços de natureza médica, educacional, hospitalar, ambulatorial etc.); e legais ou ilegais, se observam ou se afastam dos parâmetros fixados pelo sistema legal (ex.: proibição ou participação do exercício de atividade econômica no mundo dos negócios pelo sindicato). De outro lado, as relações coletivas não sindicais apresentam sujeitos não investidos de representação sindical, pois é possível que, por não existirem sindicatos, federações e confederações organizadas, os trabalhadores tenham que se organizar em grupos; e, nos sistemas jurídicos, existem nas empresas representações não sindicais dos trabalhadores e também organizações sindicais. Neste caso, a representação não sindical exercita-se por meio de comissões de representação dos trabalhadores, que tanto podem ser vinculadas a sindicatos como ter total independência deles; mas há países em que têm poderes para negociar acordos coletivos com a empresa, sem a participação do sindicato. UNIDADE 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS AO SINDICALISMO E NEGOCIAÇÕES COLETIVAS 8 Neste aspecto, constata Nascimento (2009, p. 277) “que a representação dos trabalhadores na empresa é instituição antiga e assume modelos diferentes nos vários países, citando-se alguns: comissões internas, na Itália; cogestão, na Alemanha; conselhos de cooperação industrial, na Espanha etc”. No Brasil, há o direito de representação na empresa (CF, art. 11), que assegura, nas de mais de 200 empregados, a eleição de um representante destes com finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores; as comissões de trabalhadores, como a comissão de greve eleita pelos trabalhadores (Lei n◦ 7.783\89, art. 5º); e o direito de participação laboral, de natureza social (art. 10), segundo o qual é assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão. 3 FUNDAMENTOS DAS RELAÇÕES COLETIVAS O fundamento jurídico das relações coletivas é de natureza constitucional, pois a tendência atual é da ‘constitucionalização do direito sindical’, isto é, a inclusão dos modelos de relações coletivas de trabalho nas constituições dos Estados. Com efeito, durante algum tempo houve evidente desequilíbrio entre o direito individual do trabalho e o coletivo, em parte devido às concepções corporativistas que não privilegiaram o último. Nesse sentido, os princípios da liberdade sindical, da autonomiacoletiva dos particulares e do direito de greve passaram a figurar dentre as garantias fundamentais dos trabalhadores, nas constituições dos Estados. O que se justifica pelo fato de constituírem garantias de organização do sistema, definidoras das relações entre a organização sindical e o Estado. Portanto, a declaração desses princípios no próprio texto constitucional ultrapassa os limites do Direito do Trabalho e incorpora o próprio regime democrático vigente. Assim, desde inícios do século XX, destacaram-se constituições, como a mexicana (1917), que asseguravam o direito de organizar sindicatos como expressão da liberdade sindical e não mais do reconhecimento da liberdade de associação, eis que esta foi a pioneira em dispor sobre direito sindical, contrato coletivo de trabalho e greve. Afinal, liberdade sindical significa o livre exercício dos direitos sindicais, que, numa dimensão conceitual, como afirma Nascimento (2010, p. 1264): expressa os níveis por meio dos quais se concretiza a liberdade coletiva, que é a dos grupos formalizados ou informalizados, a liberdade individual, que é das pessoas e o seu direito de filiar-se ou desfiliar-se de um sindicato, e o relacional, no sentido de ser uma liberdade exercida perante o Estado, o empregador e, até mesmo, outras entidades sindicais. TÓPICO 1 | AS RELAÇÕES COLETIVAS DE TRABALHO 9 Entretanto, a garantia do interesse coletivo dos grupos fundamenta-se no princípio da autonomia coletiva dos particulares, que garante a livre atuação dos grupos para que se organizem e regulem os próprios interesses. E, assim, esclarece Nascimento (2003, p. 138): a autonomia coletiva favorece o direito à livre negociação coletiva, a transferência de poder normativo do Estado para a ordem sindical- profissional, o poder, dos grupos sociais, de autoelaboração da regra jurídica, a tutela sindical no lugar da estatal, distinguindo, entre os direitos, aqueles que devem ser protegidos pela lei e aqueles que podem ser negociados pelos sindicatos. 4 A DEFESA DOS DIREITOS E INTERESSES COLETIVOS No círculo das relações coletivas de trabalho, os sindicatos tornaram-se os chamados corpos intermediários, cuja principal atribuição é a defesa de todas as espécies de interesses transindividuais dos trabalhadores ligados direta ou indiretamente às relações de trabalho, o que inclui os interesses coletivos. Com efeito, as relações coletivas têm como sujeitos os grupos de trabalhadores e empregadores, representados pelos sindicatos profissionais e as entidades patronais, em que os grupos são os sujeitos das relações coletivas e os sindicatos atores sociais. Isto porque, esclarece Nascimento (2003, p. 31): [...] no direito sindical há sujeitos coletivos. A expressão refere-se ao grupo. Este, o grupo, é o sujeito. E é coletivo porque é considerado de modo global, como um todo, sem destaque de cada um dos seus participantes. O grupo não tem personalidade jurídica. O ente que o representa, sim, é que a terá formalizado perante o direito. O grupo é simplesmente a unidade representada. Neste contexto, até época recente, a tutela dos interesses coletivos era assegurada, principalmente, pelo dissídio coletivo, caracterizado como uma ação tipicamente coletiva, proposta na Justiça do Trabalho, com a finalidade de fixar normas e condições de trabalho não pactuadas pelas partes conflitantes ou resolver dúvidas quanto à aplicação ou interpretação de determinada norma jurídica. Contudo, essa tutela, usada para substituir negociação coletiva frustrada, limita-se à criação da norma jurídica aplicável aos casos concretos. UNIDADE 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS AO SINDICALISMO E NEGOCIAÇÕES COLETIVAS 10 NOTA O dissídio coletivo é um desentendimento entre os sujeitos da relação coletiva e, segundo Santos (2008, p. 275): um método de solução de conflitos coletivos do trabalho, por meio do qual a Justiça do Trabalho aprecia e julga o conflito com fulcro no poder normativo, isto é, com o estabelecimento de normas e condições de trabalho para reger as relações individuais de trabalho entre trabalhadores e empregadores; resolve controvérsias a respeito da aplicação ou interpretação de determinada norma jurídica; ou decide sobre as repercussões jurídico-materiais decorrentes de um movimento grevista. Deste modo, na atualidade houve considerável ampliação dos instrumentos de tutela dos interesses coletivos dos trabalhadores, e podem os sindicatos valer-se dos meios de defesa dos interesses transindividuais, que são a ação civil pública, as ações coletivas do Código de Defesa do Consumidor, o mandado de segurança coletivo e o mandado de injunção coletivo. Além de outros instrumentos processuais de tutela coletiva. Assim, conforme Santos (2008, p. 258), “pode-se afirmar que existem duas esferas de atuação sindical para a tutela de direitos coletivos dos trabalhadores, a já clássica e consagrada via do dissídio coletivo e os veículos de defesa de direitos do Código de Defesa do Consumidor e da Lei da Ação Civil Pública”. Entretanto, existe legitimidade concorrente do Ministério Público do Trabalho e dos sindicatos para a propositura da ação civil pública, embora exista diferença no prisma em que cada um deles defende os interesses coletivos. No caso, afirma Martins Filho (apud SANTOS, 2008, p. 258) que: [...] o sindicato tem, como objetivo primordial, a defesa dos trabalhadores que a ordem jurídica protege (art. 8, III, CF\88), ao passo que o Ministério Público defende a própria ordem jurídica protetora dos interesses coletivos dos trabalhadores (art. 127, CF\88). TÓPICO 1 | AS RELAÇÕES COLETIVAS DE TRABALHO 11 LEITURA COMPLEMENTAR RELAÇÕES INDIVIDUAIS, SINDICAIS E COLETIVAS DO TRABALHO Luciano Martinez Durante o transcurso do século XVIII, justamente no período em que apareceram as primeiras normas protetivas laborais, concluíram, quase que simultaneamente, fatos históricos de relevante importância para o fortalecimento do movimento operário: os sindicatos representativos de classe iniciaram procedimento de organização, as ideias baseadas nas lutas de classe começaram a se difundir a partir de um modelo ideológico orientado por Karl Marx e até mesmo a Igreja Católica, que tradicionalmente não se envolvia em contendas sociais, publicou, como reação ao socialismo iminente, a Encíclica Rerum Novarum, em 1891, para conclamar a harmonia entre o capital e o trabalho em virtude da evidência dos novos tempos. Diante do conteúdo acima exposto, é possível elaborar um cronograma histórico do direito do trabalho em quatro fases: A 1ª fase, entendida como de FORMAÇÃO, estende-se do início do século XVIII, com a publicação das primeiras normas trabalhistas, em 1802, até o instante de efervescência, coincidente com a publicação do Manifesto Comunista, em 1848. A 2ª fase, compreendida como de EFERVESCÊNCIA, estende-se da publicação do Manifesto Comunista, em 1848, até a edição da Encíclica Rerum Novarum, em 1891. Nessa fase, o desenvolvimento do espírito sindical muito cooperou para que os trabalhadores se colocassem na posição de pleito quanto às vantagens decorrentes da prestação de seus serviços, notadamente no que dizia respeito ao direito de coligação, à limitação de jornada, à contraprestação mínima e às inspeções de oficina. No contexto de muitas greves, foram criadas novas organizações operárias. A 3ª fase, intitulada CONSOLIDAÇÃO, estende-se da edição da Encíclica Rerum Novarum, em 1891, até a celebração do Tratado de Versailles, em 1919. A4ª fase, denominada APERFEIÇOAMENTO, teve início com a celebração do Tratado de Versalhes e chegou ao máximo com o boom do constitucionalismo social. As agitações e a palavra dos doutrinadores faziam compreender, mesmo aos que por interesses pessoais se deviam opor às pretensões dos trabalhadores, que estes tinham direito à vida e que ao Estado cabia velar por eles. Reconhecia-se, conforme acentuou Segadas Vianna, que o dever da prestação do salário não se podia resumir ao pagamento de algumas moedas que apenas permitissem não morrer rapidamente de fome; que o trabalho UNIDADE 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS AO SINDICALISMO E NEGOCIAÇÕES COLETIVAS 12 excessivo depauperava a saúde do operário e que isso impediria a existência de um povo fisicamente forte; compreendia-se que a velhice, a invalidez e a família do trabalhador deviam ser amparadas, porque ele poderia melhor empregar sua capacidade produtora tendo a certeza de que, à hora amarga da decrepitude, do infortúnio ou da morte, velava por ele e pelos seus o Estado, através de uma legislação protetora. Segundo o pré-citado doutrinador, a guerra teve importância fundamental no sentido de demonstrar a igualdade entre as partes componentes dos grupos sociais. A Primeira Grande Guerra Mundial (1914-1918) levou às trincheiras milhões de trabalhadores e, pondo-os lado a lado com soldados vindos de outras camadas sociais, fê-los compreender que, para lutar e morrer, os homens eram todos iguais, e que deveriam, portanto, ser iguais para o direito de viver. Os direitos sociais ingressaram, então, na tônica do discurso político pós- guerra, integrando a plataforma mínima de múltiplos ordenamentos jurídicos. FONTE: MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho: relações individuais, sindicais e coletivas do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2010. 13 Neste tópico você viu que: ● As relações coletivas de trabalho destinam-se a disciplinar os interesses coletivos e têm uma função criadora no processo de produção das normas jurídicas que regem os próprios grupos, as quais são reconhecidas pelos ordenamentos jurídicos dos estados. ● As relações coletivas de trabalho são relações jurídicas que têm como sujeitos os sindicatos de trabalhadores e os sindicatos de empregadores ou grupos e como causa a defesa dos interesses coletivos dos membros desses grupos. ● As relações coletivas de trabalho diferenciam-se das individuais pelos sujeitos, pelos interesses e pelas funções que cumprem: nelas os sujeitos são os grupos de trabalhadores e os de empregadores, representados pelos sindicatos profissionais e patronais; os interesses são grupais e referem-se a uma coletividade, sendo comuns a todos os seus membros; e a função é a defesa dos interesses grupais, inclusive com a produção de normas genéricas destinadas a regular as condições de trabalho e a atividade sindical. ● O Código de Defesa do Consumidor (art. 81, parágrafo único) definiu os interesses ou direitos coletivos como “os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica de base”; tal definição tornou-se clássica e parâmetro para todas as áreas do direito. ● Os interesses coletivos valem-se dos grupos como veículos para a sua exteriorização, pois a existência destes faz presumir um mínimo de organização e estrutura, possibilita a aglutinação dos interesses, dando-lhes o caráter coletivo; além de que, tal configuração gera um vínculo jurídico comum a todos os participantes, que faz surgir os grupos ou corpos intermediários entre o indivíduo e o Estado (sindicatos, partidos políticos etc.). ● As relações coletivas laborais podem classificar-se em sindicais e não sindicais: as primeiras têm em cada lado do polo, patronal e profissional, uma entidade sindical; e as não sindicais apresentam sujeitos não investidos de representação sindical, que formam comissões de representação dos trabalhadores, das quais são exemplo as das empresas e, no Brasil, há o direito de representação na empresa (CF, art. 11); e as comissões de greve eleitas pelos trabalhadores (Lei n◦ 7.783\89, art. 5º) etc. ● O fundamento jurídico das relações coletivas é de natureza constitucional, pois os princípios e as garantias fundamentais dos trabalhadores passaram a figurar nas constituições dos Estados (liberdade sindical, autonomia coletiva RESUMO DO TÓPICO 1 14 dos particulares e direito de greve); o que se justifica pelo fato de constituírem garantias de organização do sistema, definidoras das relações entre a organização sindical e o Estado. ● Os sindicatos têm como principal atribuição a defesa de todas as espécies de interesses transindividuais dos trabalhadores ligados, direta ou indiretamente, às relações de trabalho, o que inclui os interesses coletivos. ● Na atualidade existem duas esferas de atuação sindical para a tutela de direitos coletivos dos trabalhadores: a já clássica via do dissídio coletivo e podem os sindicatos valer-se dos meios de defesa dos interesses transindividuais, que são a ação civil pública, as ações coletivas do Código de Defesa do Consumidor, o mandado de segurança coletivo e o mandado de injunção coletivo, além de outros instrumentos processuais de tutela coletiva. 15 Para melhor fixação do conteúdo, responda às seguintes questões: 1 Defina relações coletivas de trabalho. 2 Como se distinguem as relações coletivas de trabalho das individuais? Explique. 3 O que são interesses ou direitos coletivos? 4 Quais as características fundamentais de um interesse coletivo? 5 O que são relações coletivas não sindicais? Exemplifique. 6 Por que o fundamento jurídico das relações coletivas é de natureza constitucional? Justifique. 7 Qual a principal atribuição dos sindicatos? 8 Como podem os sindicatos defender os direitos coletivos dos trabalhadores? AUTOATIVIDADE 16 17 TÓPICO 2 AS RELAÇÕES COLETIVAS INTERNACIONAIS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A Associação Internacional dos Trabalhadores, conhecida como Primeira Internacional, foi criada em setembro de 1864, em Londres, a qual desapareceu após realizar alguns congressos, logo sendo organizada a Segunda Internacional, em 1889, em Paris. E, a partir daí, várias organizações sindicais se formaram e conferências internacionais se realizaram, o que denota que, desde a sua origem, os movimentos reivindicatórios dos trabalhadores, em todos os continentes, tenderam ao cunho internacional. Assim, já no começo do século XIX despontava a ideia de uma legislação internacional do trabalho, que teve como precursores dois industriais, um inglês e um francês, os quais se dirigiram aos governantes da época, sugerindo uma ação internacional destinada a melhorar a sorte dos trabalhadores, bem como a adoção de uma legislação internacional do trabalho. Com efeito, Nicolas Valticos, estudioso do direito internacional do trabalho, ao justificar as razões que determinaram a criação da Organização Internacional do Trabalho, aduz que “a Primeira Guerra Mundial produziu profundas modificações na posição e no peso da classe trabalhadora das potências aliadas”. (apud NASCIMENTO, 2009, p. 137). Neste aspecto, no plano internacional, institucionalizaram-se organizações de trabalho com abrangência e finalidades diversas, havendo as gerais (ONU e OIT) ou regionais (União Europeia, Mercosul), as que têm função do tipo arbitral ou jurisdicional (Tribunal de Justiça da Comunidade Europeia) e as que desenvolvem atividades que, além do cunho científico e de estudos, também possuem aregulamentar e normativa. Mas a criação da OIT teve em vista a realização da justiça social entre os povos, condição básica para a manutenção da paz internacional, promoção e harmonização das normas trabalhistas internacionais, tendo na sua evolução incluído temas mais amplos, de política social e direitos humanos e civis. A Organização Internacional do Trabalho foi fundada em 1919, quando, já findo o conflito armado da 1ª Grande Guerra Mundial, os representantes dos países vitoriosos reuniram-se no Palácio de Versalhes, em Paris (França), produzindo o Tratado de Versalhes. A importância deste Tratado para o Direito do Trabalho foi a elaboração do projeto para a Organização Internacional do Trabalho – a OIT. UNIDADE 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS AO SINDICALISMO E NEGOCIAÇÕES COLETIVAS 18 2 A ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO 2.1 A OIT, SUA ESTRUTURA E FUNÇÕES Neste contexto, a parte XIII do Tratado de Versalhes é apontada como a constituição jurídica da OIT, posteriormente complementada pela Declaração de Filadélfia, em 1944, que incluiu temas mais amplos de política social e direitos humanos e civis, e pelas reformas oriundas da Reunião da OIT em Paris realizada em 1945. E, pelo acordo de 30 de maio de 1946, as Nações Unidas reconheceram a OIT como: organismo especializado competente para empreender a ação que considere apropriada, em conformidade com o seu instrumento constitutivo básico, para cumprimento dos propósitos nele expostos. FONTE: Disponível em: <http://www.nehscfortaleza.com/projetos_pesquisas_arquivos/projetos_ pesquisas_012.htm>. Acesso em: 22 out. 2012. Assim, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) tornou-se o primeiro órgão especializado das Nações Unidas, organismo que procura fomentar a justiça social e os direitos humanos e laborais reconhecidos mundialmente, eis que tem como objetivos, segundo a Constituição de 1919, a paz universal, a justiça social e melhores condições de trabalho. Nestes termos, é o órgão especializado em matéria laboral, competente para estabelecer normas internacionais trabalhistas, fixando padrões mínimos de respeito ao trabalhador em sua dimensão humana, com o propósito de difundi-los e de torná-los universalmente aceitos e praticados. Nesse sentido, aceitos por todos os seus membros fundadores e logo tornados efetivos, os princípios e direitos enunciados em sua Constituição assumiram com a Organização, mesmo que não tenham ratificado as convenções, o compromisso de respeitar, promover e realizar, de boa fé e em conformidade com a Constituição, os princípios relativos aos direitos fundamentais que delas são objeto. Para tanto, esses princípios e direitos foram expressos na forma de direitos e obrigações específicos em Convenções, reconhecidos como fundamentais dentro e fora da Organização. Entretanto, desde sua criação, a OIT e suas estruturas formaram um sistema de normas internacionais, das quais as mais importantes são as Convenções, que exigem ratificação dos Estados Membros para fins de exigibilidade, e por meio delas são fixados referenciais, princípios e comportamentos mínimos a serem observados pela legislação interna dos seus subscritores. E, no caso da sua recepção, existe uma dupla obrigação para os Estados que as ratificam: cumprir e aplicar as disposições nelas estabelecidas e aceitar os mecanismos de supervisão e de controle internacionais, segundo os procedimentos adotados pela OIT. TÓPICO 2 | AS RELAÇÕES COLETIVAS INTERNACIONAIS 19 Quanto à sua estrutura, Martinez (2010, p. 75): informa que a OIT é dirigida por um Conselho de Administração, que se reúne três vezes ao ano, em Genebra (Suíça), e é o órgão executivo com as atribuições básicas de elaboração e controle de execução das políticas e programas, sendo também o responsável pela eleição do Diretor Geral e pela elaboração da proposta de programa e orçamento bienal. As atribuições deliberativas cabem à Conferência Internacional do Trabalho, que funciona como um fórum internacional e reúne-se anualmente em junho para discutir temas diversos, adotar e revisar normas internacionais do trabalho e aprovar as políticas gerais, os programas e o orçamento da OIT, financiado por seus Estados Membros; e o Secretariado ou Repartição Internacional do Trabalho é mais um dos órgãos fundamentais da OIT, com função operadora e por isso concentra atividades de administração, de pesquisa, de produção de estudos\publicações e de controle das reuniões. NOTA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT) Conselho de Administração – órgão executivo Conferência Internacional do Trabalho – órgão deliberativo Secretariado ou Repartição Internacional do Trabalho – função operadora Além disso, existem ainda escritórios regionais e de área, equipes técnicas multidisciplinares de apoio aos escritórios e correspondentes nacionais que sustentam, de forma parcialmente descentralizada, a execução e a administração dos programas, projetos e atividades de cooperação técnica e de reuniões regionais e nacionais. FONTE: Disponível em: <http://www.nehscfortaleza.com/projetos_pesquisas_arquivos/projetos_ pesquisas_012.htm>. Acesso em: 22 out. 2012. A propósito, Nascimento (2010, p. 135) acrescenta que “há um princípio básico que preside toda a organização e ação da OIT, o princípio do tripartismo, segundo o qual as questões trabalhistas devem ser resolvidas de modo conjunto entre o governo, os trabalhadores e os empregadores. Por tal motivo, as delegações que comparecem aos congressos da OIT representando os seus respectivos países obrigatoriamente terão composição tripartite”. 2.2 AS PRINCIPAIS CONVENÇÕES COLETIVAS A função normativa da OIT se expressa por meio de recomendações e convenções: as primeiras, que não são objeto de ratificação pelos Estados-Membros e apenas valem como sugestão, indicam diretrizes para a política nacional e têm UNIDADE 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS AO SINDICALISMO E NEGOCIAÇÕES COLETIVAS 20 função orientadora da prática laboral nos países. E as convenções são decisões da Conferência da Organização Internacional do Trabalho aprovadas por um plenário internacional e têm por objetivo determinar regras gerais obrigatórias para os estados que as ratificarem, passando a integrar o seu ordenamento jurídico interno. Portanto, é destacada a importância das Convenções da OIT e, ante a tendência de formação de blocos ou comunidades supranacionais, é fundamental a compatibilização das normas trabalhistas, como a Comunidade Europeia e o Mercosul. Afinal, as normas da OIT são pertinentes às relações de trabalho, tanto individuais como coletivas, quer desempenhando um papel integrativo de lacunas, quer atuando como diretrizes para o legislador ou, ainda, pela aplicação direta de princípios que devem presidir o sistema. Assim, há convenções que integram o núcleo dos direitos fundamentais do trabalhador porque se referem: à liberdade sindical (nº 87), à proteção aos representantes dos trabalhadores nas empresas (nº 96 e 135), à abolição do trabalho forçado (nº 29 e 105), à proibição da discriminação no emprego (nº 100 e 111) e à proibição do trabalho infantil (nº 138 e 182). Com efeito, até 2007, a OIT aprovou 188 convenções, sendo que o Brasil apenas não ratificou uma das convenções sobre direitos fundamentais, a de nº 87 sobre liberdade sindical, que não foi incorporada ao nosso ordenamento jurídico. (NASCIMENTO, 2010, p.136 e 185). Neste aspecto, citam-se algumas importantes convenções da OIT, no âmbito do direito coletivo do trabalho: - Convenção nº 11 (1921), sobre direito de associação na agricultura. - Convenção nº84 (1947), sobre direito de associação em territórios metropolitanos. - Convenção nº 87 (1948) sobre liberdade sindical e direito de sindicalização. - Convenção nº 91 (1951), sobre negociação coletiva. - Convenção nº 92 (1952), sobre conciliação e arbitragem. - Convenção nº 98 (1949), sobre direito de sindicalização e negociação coletiva. - Convenção nº 113 (1960), sobre consulta às organizações de empregadores e trabalhadores pelas autoridades públicas. - Convenção nº 135 (1971), sobre a proteção aos representantes dos trabalhadores na empresa. - Convenção nº 142, desenvolvimento dos recursos humanos. - Convenção nº 151 (1978), sobre proteção do direito de sindicalização e procedimentos para determinar condições de emprego na administração pública. - Convenção nº 154, sobre desenvolvimento da negociação coletiva. FONTE: Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/node/397>. Acesso em: 23 out. 2012. Entretanto, a Convenção nº 87 (1948) é, sem dúvida, a mais importante, na medida em que consagra e afirma o princípio da liberdade sindical e a autonomia do sindicato perante o Estado, cujos princípios foram declarados também no TÓPICO 2 | AS RELAÇÕES COLETIVAS INTERNACIONAIS 21 Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, aprovado pela Organização das Nações Unidas (1966). Com efeito, tem como principal finalidade fixar os parâmetros de relacionamento entre os sindicatos e o Estado, com vistas a garantir a liberdade de associação dos trabalhadores para organizar a classe ou profissão, a autonomia interna dos sindicatos para a sua gestão, e de respeito ao direito individual de livre filiação e desfiliação sindical. Neste contexto, como a OIT incentiva a prática da negociação coletiva como a melhor forma de composição dos interesses nas relações de trabalho, assinala-se a importância da Convenção nº 98 (1949), que dispõe sobre medidas adequadas às condições de cada país, para incentivar a fixação das normas e condições de trabalho pelos contratos coletivos. E a Convenção nº 154, que altera a anterior, define negociação coletiva como procedimento destinado à elaboração de contratos coletivos de trabalho, tendo por fim fixar as condições de trabalho e emprego, e regular as relações entre empregadores e trabalhadores ou entre as suas organizações representativas. Além disso, declarações internacionais contêm preceitos sobre critérios de justiça que devem inspirar as bases de um sistema jurídico: - Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), que também proclama direitos trabalhistas. - Carta Social Europeia (1965), declaração que contém princípios, dentre outros, direito sindical e direito de negociação coletiva. - Carta Internacional Americana de Direitos Sociais [...], que é uma amplíssima declaração internacional de direitos do trabalho para os Estados americanos, e quanto ao direito coletivo consta reconhecimento das convenções coletivas, da liberdade de associação profissional e garantia de permanência do empregado durante o exercício de função sindical e direito à greve. 2.3 O IMPACTO DAS CONVENÇÕES COLETIVAS A Organização Internacional do Trabalho tem como uma das suas funções essenciais editar convenções sobre relações de trabalho, as quais, após aprovadas pela Assembleia Geral, são informadas e é estabelecido um prazo para que os países as ratifiquem ou não. No caso, quando ratifica a convenção, o país está obrigado a cumpri-la, a apresentar relatórios regulares sobre as medidas adotadas para a sua aplicação, tanto na legislação como na prática, bem como enviar cópias às organizações de trabalhadores e de empregadores para delas receber comentários. Na verdade, como observa Nascimento (2010, p. 185): UNIDADE 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS AO SINDICALISMO E NEGOCIAÇÕES COLETIVAS 22 O impacto das normas internacionais do trabalho no direito interno de cada país depende de vários fatores, dentre os quais: os políticos, os econômicos, as condições sociais, a cultura jurídica, os componentes históricos e o modelo de ordenamento jurídico adotado, sendo maior nos sistemas desregulamentados, assim considerados aqueles nos quais o espaço ocupado pela lei é reduzido, o que abre caminho para a integração das lacunas pelas normas internacionais [...]. E complementa o autor, a respeito das acepções que a expressão impacto tem para os fins desta análise: - primeira, a ratificação da Convenção pelo governo de um país; - segunda, a efetiva incorporação, no país, das diretrizes estabelecidas pela convenção; - terceira, mesmo sem ratificação de um país, a aceitação de princípios declarados pelas convenções com a sua incorporação espontânea na legislação do direito interno. Entretanto, os estados não são obrigados a ratificar as convenções e estas não se incorporam de imediato ao ordenamento jurídico de cada país, pois, dependendo das suas disposições constitucionais, há necessidade de ratificação, que é o ato formal de um Estado- Membro pelo qual decide adotar uma convenção internacional e incorporá-la ao seu ordenamento interno. E, em caso positivo, o Estado deverá comunicar à OIT e adotar todas as medidas necessárias ao seu cumprimento, uma vez que é exercido controle e, anualmente, deverá ser apresentado relatório dando conta da execução das determinações. Porém, os estados podem denunciar uma convenção, ou seja, findo o prazo de vigência, poderão comunicar à OIT a sua disposição de não continuar aplicando as disposições da convenção, sob pena de ocorrer a prorrogação automática e passar a vigorar por tempo indeterminado. Ainda que não ratifiquem alguma convenção, os membros da OIT devem realizar, de boa fé e em conformidade com a Constituição, os princípios relativos aos direitos fundamentais que são objeto dessas convenções. No intuito de que consigam fazê-lo, a OIT assume a obrigação de ajudá-los, promovendo políticas sociais sólidas, a justiça e instituições democráticas. TÓPICO 2 | AS RELAÇÕES COLETIVAS INTERNACIONAIS 23 LEITURA COMPLEMENTAR CONVENÇÃO N.º 87/OIT CONVENÇÃO SOBRE A LIBERDADE SINDICAL E A PROTECÇÃO DO DIREITO SINDICAL Convocada em São Francisco pelo Conselho de Administração da Repartição Internacional do Trabalho, e reunida naquela cidade em 17 de junho de 1948 em sua trigésima primeira reunião. Depois de haver decidido adotar, sob a forma de convenção, diversas propostas relativas à liberdade sindical e à proteção ao direito de sindicalização, questão que constitui o sétimo ponto da ordem do dia da reunião. Considerando que o preâmbulo da Constituição da Organização Internacional do Trabalho enuncia, entre os meios suscetíveis de melhorar as condições de trabalho e de garantir a paz "a afirmação do princípio da liberdade de associação sindical". Considerando que a Declaração de Filadélfia proclamou novamente que "a liberdade de expressão e de associação é essencial para o progresso constante". Considerando que a Conferência Internacional do Trabalho, em sua trigésima reunião, adotou por unanimidade os princípios que devem servir de base à regulamentação internacional. E considerando que a Assembleia Geral das Nações Unidas, em seu segundo período de sessões, atribuiu a si mesma estes princípios e solicitou da Organização Internacional do Trabalho a continuação de todos seus esforços com o fim de possibilitar a adoção de uma ou várias convenções internacionais, adota, com data de 9 de julho de mil novecentos e quarenta e oito, a seguinte convenção, que poderá ser citada como a convenção sobre a liberdade sindical e a proteção aodireito de sindicalização, 1948: PARTE I LIBERDADE SINDICAL Artigo 1 Todo membro da Organização Internacional do Trabalho para quem esteja em vigor a presente convenção se obriga a pôr em prática as seguintes disposições: Artigo 2 Os trabalhadores e os empregadores, sem nenhuma distinção e sem autorização prévia, têm o direito de constituir as organizações que estimem convenientes, assim como o de filiar-se a estas organizações, com a única condição de observar os estatutos das mesmas. UNIDADE 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS AO SINDICALISMO E NEGOCIAÇÕES COLETIVAS 24 Artigo 3 1. As organizações de trabalhadores e de empregadores têm o direito de redigir seus estatutos e regulamentos administrativos, o de eleger livremente seus representantes, o de organizar sua administração e suas atividades e o de formular seu programa de ação. 2. As autoridades públicas deverão abster-se de toda intervenção que tenha por objetivo limitar este direito ou entorpecer seu exercício legal. Artigo 4 As organizações de trabalhadores e de empregadores não estão sujeitas a dissolução ou suspensão por via administrativa. Artigo 5 As organizações de trabalhadores e de empregadores têm o direito de constituir federações e confederações, assim como de filiar-se às mesmas, e toda organização, federação ou confederação tem o direito de filiar-se a organizações internacionais de trabalhadores e de empregadores. Artigo 6 As disposições dos artigos 2, 3 e 4 desta convenção aplicam-se às federações e confederações de organizações de trabalhadores e de empregadores. Artigo 7 A aquisição da personalidade jurídica pelas organizações de trabalhadores e de empregadores, suas federações e confederações, não pode estar sujeita a condições cuja natureza limite a aplicação das disposições dos artigos 2, 3 e 4 desta convenção. Artigo 8 1. Ao exercer os direitos que lhes são reconhecidos na presente convenção, os trabalhadores, os empregadores e suas organizações respectivas estão obrigados, assim como as demais pessoas ou coletividades organizadas, a respeitar a legalidade. 2. A legislação nacional não menoscabará nem será aplicada de forma que menoscabe as garantias previstas nesta convenção. Artigo 9 1. A legislação nacional deverá determinar até que ponto aplicar-se-ão às forças armadas e à polícia as garantias previstas pela presente convenção. 2. Conforme os princípios estabelecidos no parágrafo 8 do artigo 19 da Constituição da Organização Internacional do Trabalho, a ratificação desta convenção por um membro não deverá considerar-se que menoscaba em modo algum as leis, sentenças, costumes ou acordos já existentes que concedam aos membros das forças armadas e da polícia, garantias prescritas na presente Convenção. TÓPICO 2 | AS RELAÇÕES COLETIVAS INTERNACIONAIS 25 Artigo 10 Na presente convenção, o termo organização significa toda organização de trabalhadores e de empregadores que tenha por objeto fomentar e defender os interesses dos trabalhadores e dos empregadores. PARTE II PROTEÇÃO DO DIREITO DE SINDICALIZAÇÃO Artigo 11 Todo membro da Organização Internacional do Trabalho para o qual esta convenção esteja em vigor obriga-se a adotar todas as medidas necessárias e apropriadas para garantir aos trabalhadores e aos empregadores o livre exercício do direito de sindicalização. PARTE III DISPOSIÇÕES DIVERSAS Artigo 12 1. Respeito dos territórios mencionados no artigo 35 da Constituição da Organização Internacional do Trabalho, emendada pelo Instrumento de Emenda à Constituição da Organização Internacional do Trabalho, 1946, exceção feita dos territórios a que se referem os parágrafos 4 e 5 do citado artigo, de acordo com a emenda, todo membro da Organização que ratifique a presente Convenção deverá comunicar ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho, no prazo mais breve possível, após sua ratificação, uma declaração na qual manifeste: a) os territórios a respeito dos quais se obriga a que as disposições da convenção sejam aplicadas sem modificações; b) os territórios a respeito dos quais se obriga a que as disposições da convenção sejam aplicadas com modificações, junto com os detalhes dessas modificações; c) os territórios a respeito dos quais é inaplicável a Convenção e os motivos pelos quais é inaplicável; d) os territórios a respeito dos quais reserva sua decisão. 2. As obrigações a que se referem os apartados a) e b) do parágrafo 1 deste artigo considerar-se-ão parte integrante da ratificação e produzirão os mesmos efeitos. 3. Todo Membro poderá renunciar, total ou parcialmente, por meio de uma nova declaração, a qualquer reserva formulada em sua primeira declaração em virtude dos apartados b), c) ou d) do parágrafo 1 deste artigo. 4. Durante os períodos em que esta Convenção possa ser denunciada, de acordo com as disposições do artigo 16, todo Membro poderá comunicar ao Diretor Geral uma declaração pela qual modifique, em qualquer outro aspecto, os termos de qualquer declaração anterior e na qual indique a situação dos territórios determinados. UNIDADE 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS AO SINDICALISMO E NEGOCIAÇÕES COLETIVAS 26 Artigo 13 1. Quando as questões tratadas na presente Convenção sejam da competência das autoridades de um território não metropolitano, o membro responsável das relações internacionais deste território, de acordo com o governo do território, poderá comunicar ao Diretor Geral da Repartição Internacional do Trabalho uma declaração pela qual aceite, em nome do território, as obrigações da presente convenção. 2. Poderão comunicar ao Diretor Geral da Repartição Internacional do Trabalho uma declaração pela qual aceitem as obrigações desta Convenção: a) dois ou mais Membros da Organização, a respeito de qualquer território que esteja sob sua autoridade comum; ou b) toda autoridade internacional responsável pela administração de qualquer território em virtude das disposições da Carta das Nações Unidas ou de qualquer outra disposição em vigor, referente a dito território. 3. As declarações comunicadas ao Diretor Geral da Repartição Internacional do Trabalho, de conformidade com os parágrafos precedentes neste artigo, deverão indicar se as disposições da Convenção serão aplicadas no território interessado com modificações ou sem elas; quando a declaração indique que as disposições da Convenção serão aplicadas com modificações, deverá especificar em que consistem as citadas modificações. 4. O Membro, os Membros ou a autoridade internacional interessados poderão renunciar, total ou parcialmente, por meio de uma declaração ulterior, ao direito de invocar uma modificação indicada em qualquer outra declaração anterior. 5. Durante os períodos em que esta convenção possa ser denunciada de conformidade com as disposições do artigo 16, o membro, os membros ou a autoridade internacional interessados poderão comunicar ao Diretor Geral uma declaração pela qual modifiquem, em qualquer outro aspecto, os termos de qualquer declaração anterior e na qual indiquem a situação no que se refere à aplicação da convenção. PARTE IV DISPOSIÇÕES FINAIS Artigo 14 As ratificações formais da presente Convenção serão comunicadas para seu registro ao Diretor Geral da Repartição Internacional do Trabalho. Artigo 15 1. Esta Convenção obrigará unicamente aqueles Membros da Organização Internacional do Trabalho cujas ratificações houver registrado o Diretor Geral da Repartição Internacional do Trabalho. TÓPICO 2 | AS RELAÇÕES COLETIVAS INTERNACIONAIS 27 2. Apresente convenção entrará em vigor doze meses após a data em que as ratificações de dois membros tiverem sido registradas pelo Diretor Geral. 3. A partir daquele momento, esta convenção entrará em vigor, para cada membro, doze meses após a data em que tiver sido registrada sua ratificação. Artigo 16 1. Todo Membro que tiver ratificado esta convenção poderá denunciá-la à expiração de um período de dez anos, a partir da data em que tiver entrado inicialmente em vigor, mediante ata comunicada, para seu registro, ao Diretor da Repartição Internacional do Trabalho. A denúncia não terá efeito até um ano após a data em que tiver sido registrada. 2. Todo membro que tiver ratificado esta convenção e que no prazo de um ano depois da expiração do período de dez anos mencionado no parágrafo precedente, não fizer uso do direito de denúncia previsto neste artigo, ficará obrigado durante um novo período de dez anos, e no sucessivo poderá denunciar esta convenção à expiração de cada período de dez anos, nas condições previstas neste artigo. Artigo 17 1. O Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho notificará a todos os membros da Organização Internacional do Trabalho o registro de quantas ratificações, declarações e atas de denúncia lhe sejam comunicadas pelos Membros da Organização. 2. Ao notificar aos Membros da Organização o registro de segunda ratificação que lhe tiver sido comunicada, o Diretor Geral informará aos membros da Organização sobre a data em que esta Convenção entrará em vigor. Artigo 18 O Diretor Geral da Repartição Internacional do Trabalho comunicará ao Secretário Geral das Nações Unidas, para efeitos de registro e de conformidade com o artigo 102 da Carta das Nações Unidas, uma informação completa sobre todas as ratificações, declarações e atas de denúncia que houver registrado de acordo com os artigos precedentes. Artigo 19 Cada vez que o estime necessário, o Conselho de Administração da Repartição Internacional do Trabalho apresentará à Conferência Geral uma memória sobre a aplicação da Convenção e considerará a conveniência de incluir na ordem do dia da Conferência a questão de sua revisão total ou parcial. Artigo 20 1. Em caso de que a Conferência adote uma nova convenção que implique uma revisão total ou parcial da presente, e a menos que a nova convenção contenha disposições em contrário: UNIDADE 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS AO SINDICALISMO E NEGOCIAÇÕES COLETIVAS 28 a) a ratificação por um Membro da nova convenção revisora implicará, ipso jure, a denúncia imediata desta convenção, não obstante as disposições contidas no artigo 16, sempre que a nova convenção revisora tiver entrado em vigor; b) a partir da data em que entre em vigor a nova convenção revisora, a presente convenção cessará de estar aberta à ratificação pelos membros. 2. Esta convenção continuará em vigor em todo caso, em sua forma e conteúdo atuais, para os Membros que a tiverem ratificado e não ratifiquem a convenção revisora. Artigo 21 As versões inglesa e francesa do texto desta Convenção são igualmente autênticas. FONTE: Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/conv_oit_87_dir_sindical. htm>. Acesso em: 22 jun.2011. 29 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você viu que: ● A criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), pelo Tratado de Versalhes, em 1919, teve em vista a realização da justiça social entre os povos, condição básica para a manutenção da paz internacional, promoção e harmonização das normas trabalhistas internacionais, incluídos, na sua evolução, temas de política social e direitos humanos e civis. ● Em 1946, a Organização Internacional do Trabalho tornou-se o primeiro órgão especializado das Nações Unidas, competente para estabelecer normas internacionais trabalhistas, fixando padrões mínimos de respeito ao trabalhador em sua dimensão humana, com o propósito de difundi-los e de torná-los universalmente aceitos e praticados. ● A OIT tem como estrutura: um Conselho de Administração, que a dirige e se reúne três vezes ao ano, sendo o órgão executivo com atribuições de elaboração e controle de execução das políticas e programas e responsável pela eleição do Diretor Geral; a Conferência Internacional do Trabalho, com atribuições deliberativas, funciona como um fórum internacional e reúne-se anualmente em junho para discutir temas diversos, adotar e revisar normas internacionais do trabalho, aprovar as políticas gerais, os programas e o orçamento da OIT; e o Secretariado ou Repartição Internacional do Trabalho, com função operadora, concentra atividades de administração, de pesquisa, de produção de estudos\ publicações e de controle das reuniões. ● O princípio básico que preside toda a organização e ação da OIT é o princípio do tripartismo, segundo o qual as questões trabalhistas devem ser resolvidas de modo conjunto entre o governo, os trabalhadores e os empregadores. ● A função normativa da OIT se expressa por meio de recomendações e convenções: as primeiras não são objeto de ratificação pelos Estados-Membros, valem como sugestão, indicam diretrizes para a política nacional e têm função orientadora da prática laboral nos países; e as convenções são decisões da Conferência da Organização Internacional do Trabalho, aprovadas por um plenário internacional, e têm por objetivo determinar regras gerais obrigatórias para os Estados que as ratificarem, passando a integrar o seu ordenamento jurídico interno. ● Dentre as Convenções, a nº 87 (1948) é muito importante, pois tem como finalidade fixar os parâmetros de relacionamento entre os sindicatos e o Estado, afirmando o princípio da liberdade sindical e a autonomia do sindicato, com 30 vistas a garantir a liberdade de associação dos trabalhadores para organizar a classe ou profissão, a autonomia interna dos sindicatos para a sua gestão, e de respeito ao direito individual de livre filiação e desfiliação sindical. ● Os Estados não são obrigados a ratificar as convenções e estas não se incorporam de imediato ao ordenamento jurídico de cada país, pois, dependendo das suas disposições constitucionais, há necessidade de ratificação, que é o ato formal de um Estado-Membro pelo qual decide adotar uma convenção internacional e incorporá-la ao seu ordenamento interno. 31 Para melhor fixação do conteúdo, responda às seguintes questões: 1 Quais os principais motivos que justificaram a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT)? 2 Quando e como surgiu a Organização Internacional do Trabalho (OIT)? 3 Quais os órgãos que formam a estrutura da OIT e as respectivas atribuições? 4 Qual o princípio que preside toda a organização e ação da OIT e em que consiste? 5 O que são recomendações da OIT? 6 O que são convenções da OIT? 7 Por que a Convenção nº 87 é tão importante para os sindicatos? 8 O que é ratificação de uma convenção? AUTOATIVIDADE 32 33 TÓPICO 3 O SINDICALISMO E A NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A instituição sindical teve as suas origens na Inglaterra, após a Revolução Industrial do século XVIII. O que ocorreu com o reconhecimento do direito de associação dos trabalhadores e afirmou-se com o surgimento das primeiras entidades destinadas à proteção dos seus interesses. Com efeito, as crises que geraram a extinção das corporações de ofício acabaram criando condições favoráveis ao surgimento dos sindicatos, que, conforme Santos (2008, p. 34): é fruto do fenômeno econômico da Revolução Industrial e da questão social com ele advinda. É expressãodo espírito de associação do homem, uma vez que finca raízes nos mesmos sentimentos de solidariedade, mutualismo, defesa e cooperação que nutrem os demais agrupamentos humanos. Nesse sentido, com o crescimento das indústrias, a expansão do comércio e dos meios de transporte, deu-se grande concentração operária nas cidades, que não possuíam estrutura para comportar o grande número de migrantes, o que os sujeitava a viver em condições precárias e promíscuas. De outro lado, vigorava a lei da oferta e da procura e o regime liberal, firmado com a ideia de não interferência do Estado na economia, acentuava cada vez mais o desequilíbrio nas relações jurídicas e econômicas entre empregadores e trabalhadores, submetidos estes a condições subumanas de trabalho e de vida. No entanto, chegando ao limite extremo da condição humana, a exploração sistematizada e organizada dos operários teve como resultado a formação de duas classes antagônicas: a proletária e a capitalista, o que funcionou como gatilho capaz de disparar o conflito industrial. Assim, ao discorrer sobre as condições para a coalizão dos trabalhadores e o despertar do espírito associativo, assinala Nascimento (2003, p. 40): 34 UNIDADE 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS AO SINDICALISMO E NEGOCIAÇÕES COLETIVAS mais forte foi, no entanto, a gravidade da questão social, o desequilíbrio nas relações jurídicas e econômicas entre o trabalho e o capital, a formação do proletariado, a acentuação da indignidade das condições de vida, fatos que influíram na sua reação, pela procura das condições de trabalho mais dignas, da consolidação crescente da ideia da união e da defesa dos direitos comuns. Enfim, para Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino (apud NASCIMENTO, 2003, p. 37): O sindicalismo nasceu como reação dos trabalhadores, fundado, de um lado, na solidariedade e defesa dos interesses dos trabalhadores, e, de outro, na revolta contra o modo de produção capitalista. Para outros, o sindicalismo foi uma forma de enfrentar os efeitos, na ordem social, do liberalismo político, econômico e jurídico, inspirado nos princípios da Revolução Francesa de 1789. 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA A Inglaterra foi berço tanto da Revolução Industrial quanto do sindicalismo, tendo lá surgido, em 1720, a primeira associação de trabalhadores, que objetivava melhorias nas condições de trabalho. A propósito, afirma Nascimento (2009, p. 443) que “o sindicalismo da Inglaterra é considerado o mais antigo do mundo e é denominado trade-unionismo (1720), associações de trabalhadores de Londres que se formaram visando a reivindicações salariais e de limitação da jornada de trabalho”. Neste contexto, Santos (2008, p. 36) pontua que o movimento sindical, desde a formação da classe trabalhadora até o seu desenvolvimento e reconhecimento como direito fundamental, “percorreu longo caminho, sofrendo as influências das concepções político-ideológicas de cada época e lugar, até sua legitimação como ente associativo e representativo dos trabalhadores”. Com efeito, na França, a Lei Chapelier (1791) iniciou o ciclo, que se propagou por todo o mundo, das leis proibitivas da formação de associações de trabalhadores e empregadores, sendo, inclusive, considerada como delito. Entretanto, por força da ação direta dos trabalhadores e do surgimento das doutrinas sociais, diversos países, embora não admitissem expressamente o direito de sindicalização, passaram a tolerar a existência de sindicatos, como a França (1864), a Alemanha (1864), a Holanda (1872), a Itália (1890) etc. Todavia, ainda no século XIX iniciou-se a fase de reconhecimento do direito de constituição de associações profissionais nos ordenamentos jurídicos, o qual ficou marcado na história do sindicalismo como o período em que surgiram várias tendências de caráter teórico ou organizativo do movimento. A propósito, Nascimento (2003, p. 44) esclarece que: TÓPICO 3 | O SINDICALISMO E A NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL 35 os sindicatos de trabalhadores seguiram três tendências diferentes, uma liberal, outra socialista e outra nacional-cristã, e foram filiadas a entidades internacionais que correspondiam a essas tendências. Os empregadores uniram-se, desde 1890, em associações patronais. Em 1912, tinham uma central. Afinal, nos âmbitos internacional e regional, surgiram diversos movimentos e entidades sindicais: a Primeira Internacional (1864); o Primeiro Congresso Internacional Operário (1866); a Segunda Internacional Socialista (1889); a Terceira Leninista (1914); Confederação Internacional dos Sindicatos Cristãos (1920) etc. Todavia, o reconhecimento acabou por submeter os sindicatos ao controle do Estado, tanto que, segundo Santos (2008, p. 40), nessa fase distinguem-se dois modos de incorporação: “o reconhecimento sob controle do Estado, que ocorreu nos estados corporativistas e no sistema soviético; e o reconhecimento com liberdade das entidades sindicais, encontrado nos países de regime democrático”. No entanto, com o constitucionalismo social, esse direito foi previsto nas constituições de vários países, iniciado com a Constituição Mexicana (1917) e a de Weimar (1919), as primeiras a permitir expressamente a liberdade associativa dos trabalhadores, às quais se seguiram outras. Neste aspecto, destaca-se a importância da Conferência da Paz, que se seguiu à Primeira Guerra Mundial, para a criação da Organização Internacional do Trabalho (1919) e o direito de associação, previsto expressamente no texto da sua criação. Com isto, as atividades da OIT foram fundamentais para a consolidação dos direitos sindicais no mundo. Além de terem seu espaço em diversas declarações e normas internacionais, como a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948). Mas foi a OIT que determinou as linhas mestras sobre o direito de livre sindicalização e que devem reger a atividade sindical na sua Convenção n°87, de 1948. E sintetiza Santos (2008, p. 40): A história dos sindicatos é uma história de lutas, de reivindicações, de perseguições, de frustrações e de sucessos. É uma história de vinculações sociais e políticas, envolvendo, através dos tempos, as imensas coortes de trabalhadores, parcelas largamente majoritárias das populações, que, esparsos, não poderiam ter veiculadas as suas pretensões, nem satisfeitos os seus indispensáveis meios de subsistência com dignidade. 36 UNIDADE 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS AO SINDICALISMO E NEGOCIAÇÕES COLETIVAS 3 OS SISTEMAS DE ORGANIZAÇÃO SINDICAL Os sistemas ou modelos de organização sindical correspondem à estrutura que orienta e regula a atividade das entidades representativas de trabalhadores e de empregadores. Todavia, os padrões de organização desses sistemas levam em conta os sindicatos de trabalhadores. Eis que estes somente alcançam posição de ente coletivo através de suas organizações associativas de caráter profissional. Enquanto os empregadores, que tanto podem agir isoladamente como representados por entidades sindicais, são definidos como empresários e, por isso, organizadores dos meios de produção, o que os torna seres que na sua dinâmica de existência no mercado econômico e laborativo possuem aptidão natural de produzir atos coletivos. A propósito, afirma Nascimento (2003, p. 159) que: há sistemas jurídicos nos quais em uma mesma base territorial a lei permite apenas um sindicato representativo do mesmo grupo, enquanto em outros é facultada a constituição, no mesmo grupo, de mais de um sindicato, denominando-se o primeiro sistema ‘unicidade sindical’ ou sistema do ‘sindicato único’, como no Brasil, e o segundo, ‘pluralidade’ ou ‘pluralismo sindical’,como na França. Neste caso, dois sistemas se contrapõem, havendo, de regra, a opção legal pela unicidade ou pelo pluralismo, questão que tem ensejado acirrados debates. Desta forma, conforme Martinez (2010, p. 625-626): o sistema organizacional da unicidade sindical é o que “autoriza a existência de apenas uma entidade representativa de categoria profissional ou econômica dentro de determinada base territorial”. Já o sistema organizacional da pluralidade sindical é o que “autoriza a coexistência de mais de uma entidade sindical dentro da mesma base territorial ou dentro da mesma categoria profissional ou econômica”. Com efeito, na unicidade, a lei prevê a existência de um único sindicato representativo dos trabalhadores, seja por empresa, por profissão ou por categoria profissional, e há monopólio de representação sindical dos sujeitos trabalhistas. E no sistema do pluralismo, a estrutura e organização interna dos sindicatos, ao invés de ser regulada por lei, é decidida e estabelecida pelos próprios sindicatos. Neste aspecto, ao referir-se aos dois modelos, Nascimento (2010, p. 1269- 1270): esclarece que os opostos à unicidade prendem-se à restrição que se impõe à livre constituição de sindicatos pelos interessados, o que deixa a representação dos interesses canalizada para uma única organização; enquanto os adeptos afirmam que o sindicato único promove melhor a unidade do grupo e a união indispensável para que as suas reivindicações tenham condições de influir. Por sua vez, a maior crítica à pluralidade é a divisão do interesse coletivo devido TÓPICO 3 | O SINDICALISMO E A NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL 37 à existência de mais de um sindicato na mesma base territorial para a representação do grupo, o que enfraquece o poder de reivindicação. Já os adeptos defendem a posição de que o pluralismo convive melhor com a democracia e garante melhor a liberdade dos sindicatos. NOTA Existem dois métodos de regulamentação das relações de trabalho, o autoritário e o democrático, pontuando Oliveira (2000, p. 477) que “a unicidade sindical imposta por lei é própria dos regimes autoritários, onde o sindicato funciona como instrumento do Estado e não dos trabalhadores, e contraria tendência universal perseguida pela Organização Internacional do Trabalho através da Convenção 87”. Entretanto, a Convenção n◦ 87, aprovada pela Organização Internacional do Trabalho e ratificada por mais de 100 países e que não foi ratificada pelo Brasil, como aduz Saraiva (2010, p. 473): [...], embora não imponha o pluralismo sindical, determina que o sistema legal dos países que a ratificaram faculte aos empregadores e trabalhadores, se desejarem, a constituição de outro(s) sindicato(s) da mesma categoria, empresa, profissão ou ofício, na mesma base territorial do já existente. E este é o sistema da liberdade sindical preconizado pela convenção, em que seria livre a criação de tantos sindicatos quantos fossem os interessados, sem quaisquer restrições. Os sistemas ou modelos de organização sindical correspondem à estrutura que orienta e regula a atividade das entidades representativas de trabalhadores e de empregadores. LEITURA COMPLEMENTAR O SINDICALISMO APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL A SUBSTITUIÇÃO DO INTERVENCIONISMO PELA LIBERDADE SINDICAL Amauri Marcaro Nascimento [...] Com o término da guerra e a divisão da Alemanha cindiu-se, consequentemente, o movimento sindical, desdobrando-se em modelo soviético e modelo autônomo, correspondendo às duas diferentes áreas de ocupação do país, 38 UNIDADE 1 | ASPECTOS INTRODUTÓRIOS AO SINDICALISMO E NEGOCIAÇÕES COLETIVAS com a República Democrática da Alemanha (zona soviética) e a República Federal da Alemanha (zona americana). Nesta, cresceu um sindicalismo de elevado poder econômico, organizado por setores de atividade industrial e por diversos tipos de profissões. Restabeleceram- se as negociações coletivas, desenvolveu-se o direito de greve, foi aprovada a lei de organização social da empresa (1952) e foram criados Conselhos de Fábrica que exerceram papel de relevo, influindo na experiência alemã, bem-sucedida, da cogestão da empresa. A tal ponto chega a relação entre sindicato e empresa que o sindicato é um complemento do Comitê de empresa. A Constituição de 1949 declarou o princípio da liberdade sindical, já previsto na Constituição de 1919, e as diferentes constituições estaduais passaram a ter disposições semelhantes. Após a Segunda Guerra Mundial, o sindicalismo desenvolveu-se. O modelo corporativista foi substituído pelo democrático na Itália, Espanha e Portugal, crescendo a ideia de autonomia coletiva e independência entre o Estado e os sindicatos. Nos Estados Unidos da América, em 1955, fundiram-se duas centrais sindicais antes separadas, a AFL e a CIO, surgindo a central única AFL-CIO, como meio de pacificação na luta entre sindicatos pela preferência entre os trabalhadores. A AFL- CIO não interferiu na atividade dos sindicatos. Ofereceu-lhes assistência técnica e exigiu do governo federal a promulgação das leis de interesse dos trabalhadores. Essa central foi sediada em Washington, com ramificações nos Estados. Na América Latina, uma ilustrativa experiência de modelo sindical sem controle do Estado é a do Uruguai, que tem como documento jurídico básico a Convenção nº 87 da Organização Internacional do Trabalho, sobre liberdade sindical, bem como a Convenção nº 98 da mesma organização. A Argentina, com a Lei de Organização Sindical de março de 1988, deu um passo no sentido da modernização do seu sistema, bastante criativo em diversos aspectos, embora não conseguindo desprender-se totalmente das características que sempre marcaram o modelo. A lei assegura o direito de criar organizações sindicais sem necessidade de prévia autorização do Estado, cabendo às respectivas associações determinar o seu âmbito de representação e atuação territorial, devendo o poder público abster-se de limitar a autonomia sindical. Os sindicatos de trabalhadores são constituídos por setor de atividade ou setores afins, por ofício, profissão ou categoria, ainda que seus integrantes desempenhem atividades distintas, e por empresa. Há sindicatos, uniões, federações e confederações. Os sindicatos podem representar os interesses coletivos quando não houver na mesma atividade ou categoria associação com personalidade sindical. Desse modo, existem associações sem e associações com personalidade jurídica sindical, que é obtida pela entidade, em seu âmbito territorial e pessoal de atuação, quando se caracterizar como a associação mais representativa e se encontrar inscrita perante a autoridade administrativa. TÓPICO 3 | O SINDICALISMO E A NEGOCIAÇÃO INTERNACIONAL 39 Um amplo estudo publicado em 1993 pela Fundación de Cultura Universitária, do Uruguai, sobre organização sindical, negociação coletiva e greve na América Latina, mostrou o agudo intervencionismo limitativo da autonomia sindical, da autonomia coletiva e da autonomia que marca o sistema latino- americano, a excessiva regulamentação legal, salvo do Uruguai, caracterizando-se pela heteronomia, que tem como causas fatores de ordem econômica do sistema de produção, fatores de natureza histórico-cultural, dentre os quais as origens romano-germânicas do direito escrito e legislado, que influiu na formação dos nossos ordenamentos jurídicos, e fatores de caráter político, como o controle dos sindicatos pelo Estado e a própria fragilidade do sindicalismo. Essas conclusões continuam de certo modo atuais, mas poderiam ser
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