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CI RrpnrsrNrnçórs soclAls: uM oouÍNto EM rxPnNsÃo Denise Jodelet Pt1)1(sst)tít titrrlrrr lrt Lr.rlr tlt't llutrtc.ç Étutlt.ç ut .!t lcrttrr 'lot irrlzr íPoriil empre hii necessidade clc estarmos inÍ'ormados sobre o rnnndo ir nossa volta. A1ént dc ttos ajustiLr a ele, precisiimos sabcr como nos colxportar. dominá-lo l'ísicli ou intelec:lrtzrlmer-rte. identificar e resolver os ploblemas que se apresentam: é por isso que criamos representações. Frente a esse irrunclo de objetos, pessous. rLcontecimentos ou rdéias, não somos (apenas) autolatismos. nem estamos isolados num vazio social: partilhamos esse mulldo Com oS olttros, que ltos Servem dc apoio, às vezes de forma Collvergel]te' outras pelo cotiÍ1ito, para compleenclê-lo. adrninistrá-lo ou enfrentzi-lo. Eis por que as representações são sociais e tão imitortantes na vida cotidiana. Elas tros gtLiiint no moclo de lomeirr e ciefinit cor.r.juntamentc os diíerelttes aspectos da realrdade diáriri, no moclo de interpretirr esses aspectos. tomar clecisões e, evelltualmente, posicionlu'-se tretttc a elcs cle Íbrma deÍ'ensiva. Com as representações sociais, tratamos de fenômertos observíLvcis diretamentc ou recoltstruídos por nnr trabalho científico. De alguns allos paril cá, cstes Í-enômcnos vênt-sc tornanclo um asslll-Ito central para as ciêrlcias humanas. E,m tortto deles constituitt-se um domínio de pesquisa dotaclo cle instrumentos conceituais e metoclológicos próprios, qtte illteressa a vítrias clisciplinas, conto se pocle clcpreender da composição deste Iivro. Este capílulo esboça um qurrdro clestc clor-nínio e das questões tratadas sobre essas realidirdes mcntais, cuja cvrdêrtcia ttos é sctlsír'cl cotidianamente. Na realiclaclc, a observação das rcprescntarções sociais é algo ttatural em rnírltiplas ocasiões. Elas circrtlam nos discursos. são trirzidas pcliis palavras e vciculaclas crn rrenstgcns L- imiigens rnidiíiticas,r cristlrlizadas iE erilÇ{)n(1u'r.}§efílt I,illr L-\cilrirlo !tirfir Dtlisr .]orlci':t oi'iiirlriz;rr'Ôe:i nlltefi:trs c üsiliioiais. I\,iaila ntcllti)r do clue i llt sl iln' Ri,iriitrsr,rr'.rar;l,s slt-l \l:l ai() l'R \il.\l-ll() l:StC Cr,:irl1lli, :a i"t'i'Ct-e AL,.r ÍCnCitlL'fiilS rlle aCJIlllalthrU,ri-tr" tt. itirurO aios ttll(ls 80. o rirrr:"cciii.ttni,.r ria.{iris - lrrinliil'li rioeliÇit ctgits histórias móciic;r c sociltl sr tlesütt\/,.)l"crurtt.iLlilia:r. A rníCia r i,i:i prts§oils se apoderaram clcrste nral descc.triteci.i.r c eilr'rurho. cu,jn prorinrid*d: ainda lrão tinha siclo revelada. A ltr-lsêttcitt dc i'r:ii-r;'.Ârri:i.ls irtér,iicas i'ilr,or"ec.LI Lrn-ra qr-ralificnção social da dot--i"lçli. Dlcsrl')o conr li per"r-irisslio drL lllrallise rjo ili,ccLrrso da míclia na observaÇato cle unrir liipii!;i erin-!ugrrciio do pr.;gr'.r:r:,c,,le conirccinrenfos cientííicos c de itrlitslr-'ltr u()il!ii'Llídil\ it!) c\,1r,'ir pLihlicll i-11'l li-l!:iii riiL AiCs c cle suas r,ítirlas(licrziich t-' Ilict'i'cl. i !)8i"i t. .Aiiit-'s rl!.tc a t,retrr.piisit l.-ioióeii1 troyxessc algr_r1s r'sclltrec:irl.tr::ltlos sililra il IleturerA ria ,{ir,ls. ts ilrssoils rrlaitot ulirrn teolius apoiaillis rtos cllLLios tlc .1nt ili:rpirnirriir-t. i'eiliti vos iros portliclores (clrogiLrlos. lretrtiri'íiicos, holitttssc-rltliis. reci:piot'es,lc li.insftrsÕes) c ac]s vetLlrcs clo r-nal (sltilgLle, cs1.lt:t'tllit). () rluc se sirbir soLxr-- ii llansinissiÍo tJa cloença c cle suas Vititnlts i-it\r(ll'L'cLrtt. ctn lirriticirliii. li cclt)sa,.) alu dUlrr) concepções: urlla cle tipo t-trilral t srlciitl. ()Lltia tlc iipo Liiolri*gif,Lr, co!]i il iiti'iLrêneirL eviciente clc, crcla ttirra tleilts sL)ittc os cr)iltllortar'lienios, nlrs rL.laÇÕcs írrliilas oLr para Lroil irs |]ú\(oil: irl'..i;tJ:r: I)t i.r ti, -'irt,r, No pt'itite'iro tipo ii,,' intctpretaclro. e rlirsi(lerii-sc a Airis uma clocnça- puniçiio LILIL's(i ablrtc sobrc a lic*lrç;L s,-:,'"uirl. Mlrrkor,a e wijkie (1987) cl]r-:{.]trtrlrrlit'l't lttus trrei0-{ cÍL: corlLtnicitçiir-. c,-1,1.-,.:ur-5 iili qrre lr Aids e Vistlt tal qtrltl :L síliiis lQLrcttl. i9E(-. I ccirier t:ltirc ili:- irrl;i socieclade llL-rnlssi\1. ttttttl ctrt.iill'iliir.i'rr,, I'ri jiiq aoiil!tiLii ilc :;rtel.rrL .t r. t-i11)cr ILl tricli0 pelit ri't'.:s1l'.lllsiiirili'ill'-lc ..cttiltl t!:lt liuguil rJ,.) airiiil !airr pr.ruuitd(ts "os []ons cristittts tjLle Ilalll SL)llllliJ-r) ;ilr ru urrlllllr-,i'irii' tltti]''. .-,,1-r ltLilrr .1i:tf vtslict. obserr al1 111 rctornL) llos \.il(r!'.-\ l.tilltlt.it';: tr.,.1i,-r-it.1r:. r ,lLi. lcirt!-\eltt.L sitllr,tltaneantL-lttL- Itnla gllratllia cii llroil;li!) i a)ttir-,r .L ,li,citç-.i e lr cle l'esti cie ut-ntr orcicnt I't'tot-irl cor-tservltiloi'il, Dlrí l iiinúni[L ,]lL:- rrtc.iid:Lr tlLic \ rs.ilr] rt it\sL-{Lrrilf nnra r.,icla scxtttll lir,'re llliis slir-itri. lt,trtreLti.rtrr'icnIt'pelo usti clos ltrescrvatitros. Esta itlterprctltcito lll(lilli r'sL-rL)nliineir , oi atngrliLrncnte aitcorirjlrcla p..ias instâncius l'tiigioslts. ltritilack ( I 9SE ) cit;r o excln1tio clo tsr'asrl. oude íl Csnfcrê1cia i\ar:irrttll ilos Bispo-< sL' le lJ!ti,ori coltrii irs captltigrhirs govL-1tâ11L-ntars cle l''i-ttttrtlÇilo ilo 1lt'rlser','iiti','o. cltuLliÍicando a Aicls de conseqiiônc:ia cla dccadência j.iltrl".ll. itt.':itdri cli: [-jeus {)Ll yin!liincit dlt natLrlcza. Nesse citso. ti ltroibiçait t'eligio:;lr vr:io t'elroiçtir iis []r'L-\,/ençÕcs di." urr-i inlrchisnto ambiente bastantr- clcsettltrii'ir-io: it iltirtlií'ic.:utilo de irorrrosscrulLl couro clesigraçao Llpcnas claqLrelc Reprrscnilçõrs socirirr: uil rlonrílio cnr exptnsio que otrllpit uma poslcão lctninirta: os llarceiros ativos não se sertem atilgidos pelas medicias ligadar; i) hor.riossexualidadr-:, quc julgam clitamantes parr :i própri os. E,sta r''isho rroral faz r.la d,-renÇa um estigma social que pode provocar ostrttcistlo e rejeiçãto e, {la l,.iirte ciaqueies c1r-le são assinr estigl'natizaflos or-r exclttícios. subrrrisls;io ou rcvolta. Sui:nrissão do travesti brasileiro. cle quen-r or-n,i: "Não há precaLrcão a tornar. jri clue é unra cloença moral para punir-o pecacic. Se ela tem dr: r,ir, ,iem". Revolfa ciiiinte cio r,rso soci;ll cla docnça. coil-sidelacia em lyS-§, por i0)t dos iromosseruais Íl-anceses" como prerexro parit coudenar a hornc.ssexr-raiidade iPo1lack. i9S8 j. ilevolta cio cantor b;iscc., Cchoa, r"1ue disse, em l9E8. nLlntr eniievista ao.ior-nal Ei Correo, ilr-re..;i Aicls é un-lir cioença inventitda pirra excli-rir os liurnossexuais, sobretudc nos Estacios {-inidos, onde corneçilram ii surgir preicitos e canrjiciertos homossexuais ii eleiçãro presiclencial". Revolta do anligo combatente clo vicnrã. atingrdc; pclir Aids' declaranclo a Lttn .!ornalista nova-iorclr-rinc. "Tenilo essa teolia sobr-e a Aids: u cioença é têitil p.eic hor.nem: é unra conspira.çtio -sovernameptai ern escala rnundial para externriiiar o indese-ji;.r,*1. .Eies quer.em comcrer url genocÍdio conosco". Estit intetpretaçÍio política e criininai teiJeto os tulrorel que imputal,/alr) itr epicielnia à experimentai:íio cie r-lm i»odilto para ir slierra hacteriológica: exprirne uma posição pess<tai rle r,ítima social marginaiiza6a. apoiando-se tlum precedente histórico: r-. genocíciio. Tcoriii política e cri1nyr1i que propagil rulllores de forrlir a reiacionar u origem <lo m1i it experrurcnruçi1o cle um produio r,rtilizacio parir a guerra biológica. Desde o início. tlt-tt outlo aspecto r.la Arcls accrtolr o público em cheio - slla transnlissho pelo sitltgue e espenrít, danclo ir-rgar a uma visão bioiógicti rnuito rnais inqllictante: o contiigio pocleria ocorrei também por meic ile ilutros líquidos corporais além do esilerma. p;rrticularmente il saliva e o;-§Llor Assirn. reavivavam-se crenÇas antigils, cLr.1o vigor-pulde constatar a pr-opósito da representaÇão rla, doençii mental (Joderet, lgBg). Estas crenças. cnilc si crlcoirtram vestígios cia teoria dos hr_rmores, r'ejacicnan-l ocontágio peic.. líquicios cio corpo à srta ost't.tose coirl sangrie e espenrl. Tal como r.rg clso cia doença r-nental cuia degenercscência afêta os nervos, e o sangue se rr.irrrsr-r.rirc peia saiir,a e pelo suor. assirn seria corn a Arcls e corrr;r sífilis. ilue poder-n cotltaminar por mcio do sir-nples contato com rs secreçôes corpurars ou peios ot-rjetos sobre os quais esrão clepositaclas. Corbin (iL)]7) lembra Llue c:jiíis crenÇas cotlcir-rzirarn a arbet'l'irçõc's uo círso cla sífliis, mosmo nos meics méciicos rnais l-enomacios: que eiucuitr-;rções foram tbr.iada.\ a prooósitc da síi'ilis clos inoccrntes. contarnirados por descuido. As rnesrnas iinteaÇiis se n.:anifcstam com a Aids:. sabemos os terrorcs cllle inspiraram e continuam u inspir-ar. apesar dos desmentidos clo corpo rnédico. Este ressur_gimento cle crenças Denise Jodelet arcaicas ocorre em virtude da falta de inÍormação. paradoxalmente, isso faYorece u unla assimilação da Aids a cioenças contagiosas correntes, reforçando o peso irtquietatlte clesta cloença (Jodelet et al'' 19921) Entretanto' sua força adr én-i tantbém de seu valor simbólico: c1e scle a Antigtiidade, o perigo do -, nt.rL.. ;.,rpor.rl ú' um tema Iecorl'elltc do tlisettIso t'ucistlt. que trtiliza u iei:rencra biológica ptrra funclamentaf a exclrrsão da alteridade (Deiacampagne' 19.i.r]Então,nãoésurpreendenteverLlmmovimentoComoaFrenteNacional r.rrir,lo sob o mesmo arn/rtema imigrantes e aidéticos, lançar-se contra os n..os Llc contúgio quc represenlulll esses tr ltimo:. prcconizur pt'ecuuçõc: obsessivits para as p"srou, que cuidam deles' e' pa'ra o cotpo socierl' medidas de proteçáo, clreganclo até a criação de espaços reservados, Como o aidetórlo,r Je conotaçoes sombt'ils, Detenhamo-llosuminstantenesteexempiohistórico,quetevealguns claclosrr.rodificadosgraçasàlut;rContraosriscosdeexclusãodaspessoas irifectadas pelo HIV e os ,is"os de cor-rtá-eio, bem como pela mobllização da solidarriedade coletiva, ações empreenclidas por cillnpernl-ras de informação e pelamídia' o que ocorreu.? Um acontecin-retlto Surge no horizonte social, que nãosepodenlostrtrrinclifereirte:mobilizlltledo,atençãoeumaatil,iclade cognitiva para compreendê-lo, clominá.lo e clele se deferrder. A faltar cle infbrn-ração e a incerteza ila ciência favorecem o surgimetlto de rcpresl.-ntrtções que r,ão circular de boca em boca ou pular cle ut-t.t \eícr'rlo de comutlicaçl-ro a outl'o. Descle o cartaz brar-rdido nas rlla-§ clos Eslaclos Unidos (Jeanneney' 1987): ,,Deus não criou Adarn e steye" (obset-re-sc u ltnrigetn teleyisiontrdtr - os f.ilhos n. novela "Dinastia", em qlle um. Steve, é homossexuerl - é elevacla ao nível cra imagem bíbiica do casal Adáo e Eva. parar significar a ilegitimiclacle cla inversão), ató os jornais, a teleYisão (lnvestidos, alérn drsso, d. tm papel educativo) e os panfletos políticos ou outros textos alarmisttrs' Elubo;utlas com o qtle sC ílpl'eSenta. CStitS l'epl'esetttações se itlscl'cvetn nos cluaclros de pensamento preexistelltes c enr,eredatl por uma moral social - iaça-se ou não o amálgama erltre perigos físico e moral' A liberdade do sexo Scgufoseopõeàs.,virtudes,,clatradiçãoeencontfaaíumnovocavalode batalha. sustentaclo pela irutoriclercie religlosa. vetlores e modelos sociais .iifresall:} de ccnteúclos diferentes a palavra Aicls, a doençii Lr sutls vítimas' R.:p.,rJs.nt,rções biológicas corresponclentes a saberes enterrados na memória ._,-i.il re ssurgem, por causa de seu valor sin-rbólico, iis vezes orquestrado cotn :. :r,..,1íricos e sociiris. Forjam-se palavras portadortrs de rept'esetltaçito: .- -:.., :,.r"t cofllo'-iuclaico", "aidetório" colTlo "sallatório" ou "cremltório".'r i.L rirlrr iirii tilttÍorittnt e airietório (N 'l ) , siir.{rrrro f/r1di./rr? {iudillcoj.'titirtloriLLttt (ridctório)\;T (\.Llt.ttrrLirrr Representações sociais: um domínio em expansão ).1 com um poder de evocaçáo tal que induzem a enquadrar os doentes numa categoria à parte e a adotar ou justificar condutas de discriminação' Assim, duas representações - uma moral e outra biológica - são construídas para acolher um elemento novo: veremos que se trata de uma função cognitiva -uio' da representação socia' O'-UliT;:: "* valores variáveis-segundoo,g*po,sociaisdeondetiramsuassignificações-e emsaberesanteriores,reavivadosporumasituaçãosocialparticular:e notaremosquesãoprocessoscentraisnaelaboraçãorepresentativa.Estáo ligadas tanto a sistemas de pensamento mais amplos' ideológicos ou culturais' a um estado do, "o'heciÀentos científicos' quanto à condição social e à "rf"ru da experiência privada e afetiva dos indivíduos' Asinstânciasousubstitutosinstitucionaiseasredesdecomunicação inforrnais ou da mídia intervêm em sua elaboração' abrindo caminho a processos de influênci a e até mesmo de manipulação social - constataremos que se trata de fatores determinantes na construção representativa' Estas representações formam um sistema e dão lugar a teorias espontâneas' versões da realidade encarnadas por imagens ou condensadas por palavras' umas e outras carregadas de significações - concluiremot :"" t" ,:lata de estados apreendidos peio estudã científico das representações sociais' Finalmente' por meio destas várias significaçõe'' u' Àp'"'entações expressam aqueles (indivíduos ou grupos) qi" u' ior111e dáo uma definição específica ao objero por elas ,"r.ãr"*ru'J"-. Estas definições partilhadas n1|os membros de umrnesmogrupoconstroemumavisãoconsensualdarealidadeparaesse gr-upo. Esta visão, que pode entrar em conflito com a de outros grupos' é um guia para as ações L trotu' cotidianas - trata-se das funções e da dinâmica sociais das rePresentações' AsoR»,{cENs oe. NoçÃo DE REPRESENTnçÀo socIAL Este exemplo mostra' como tantos outros poderiarn *,'U':' :':^:: representações sociais são fenômenos complexos sempre ativados e em açao na vida social. Em sua tiqrreza como fenômeno' descobrimos diversos elementos (utgun', a' '"'"'' estudados de modo isolado): informativos' cognitivos, ideológicos, normativos' crenças' valores' atitudes' opiniões' imagens etc. Contuão, estes elementos sáo oiganizad?.t.t".*qt: sob a aparência de um rub", qu" áiz algo sobre o estado da realidade. É esta totalidade significanteçlue'emrelaçãocomaação'encontra-senocentrodainvestigação científica, a qual atribui como tarefa descrevê-la, analisá-la, explicá-la em suas dimensões, formas' processos e funcionamenqotDur'kheim (1895) foi o primeiro a identificar tais objetos como produções mentais sociais' extraídos I I 1t fl ?2 Denise Jodelet deumesrudosobreaideaçáocoletiva.Moscovici(1961)renovouaanálise, insistindo sobre a especificidade dos fenômenos representativos nas sociedades contemporâneas. caracterizadas por: intensidade e fluidez das trocas e comunicações: desenvolvimento da ciência; pluralidade e mobilidade sociais. \osso exemplo permite também a aproximação de uma primeira caracierizaçãodarepresentaçãosocial,sobreaqualacomunidadecientífica estádeacordo:éumaformadeconhecimento'socialmenteelaboradae partilhada, com um objetivo prírtico, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conju,to social. Igualmente designada como saber de senso comum ou ainda saber ingênuo' natural' esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras, do conhecimento científico' Entretanto,étidacomoumobjetodeestudotãolegítimoquantoeste,devido à sua importância na vida social e à elucidação possibilitadora dos processos cognitivos e das interações sociais . Geralmente, reconhece-se que as representações sociais - enquanto sistemas de interpretação que regem nossa relação com o mundo e com os outros - orientam " orguni'o- as condutas e as comunicações sociais' Da mesmaforma,elasintervêmemprocessosvariados'taiscomoadifusãoeaassimilação dos conhecimentos, o desenvolvimento individual e coletivo' a definiçãá das identidades pessoais e sociais, a expressão dos grupos e as transformaçÔes sociais. Comofenômenoscognitivos,envolvemapertençasocialdosindivíduos comasimplicaçõesafetivasenormativas'comasinteriorizaçõesde experiênciai, práticas, modelos de condutas e pensamento' socialmente inculcados ou transmitidos pela comunicação social, que a ela estão ligadas' por isso, seu estudo constitui uma contriburção decisiva para a abordagem da vida mental individual e coletiva. Desse ponto de vista, as representações sociais são abordadas concomitantemente como produto e processo de uma atir,idade de apropriação da realidade exterior ao pensamento e de elaboração psicoiógica e social dessa realidade-. Isto quer dizer que nos interessamos por uma modalidade de pensamento, sob seu aspecto constituinte - os pÍocessos - e constituído _ os irodutos ou conteúdos. Modalidade de pensamento cuja especificidade vem de seu caráter social' De íato, representar ou se representar corresponde a um ato de pensa- rnento pelo qual um sujeito se reporta a um objeto' Este pode ser tanto uma pisso3. quanto .,ma.oisa, um acontecimento material' psíqr-rico ou sociai' um :in.irneno natural, uma idéia, uma teoria etc.; pode sef tanto real quanto i:li;su-],áno L-)u mítico, mas é sempre necessário. Não há representação sem :'r;::.- Quinto ao ato de pensamento pelo qual se estabelece a relação entre ur,-,,. ; ,:':tlr... e le possui características específicas em relação a outras Representações sociais: um domínio em expansão 23 atividadesmentais(perceptiva,conceitual'mnemônicaetc')'Poroutrolado' arepresentaçãomental-"o*oapictórica,ateatraiouapolítica-apresenta ã.* "U:"", o substitui, toma seu lugar; torna-o presente quando ele está distanteouausente.Bassimorepresentantementaldoobjetoqueelarestitui simbolicamente. Além disso, conteúdo concreto do ato de pensamento' a representação mental traz a marcado sujeito e de sua atividade' Este último aspecto remete às características de construção' criatividade e autonomia da representação,quecomportamumapartedereconstrução,deinterpretação do objeto e de expressão do sujeito' Estas características g"ruis do fato de representaçáo explicam os focos daspesquisasquetratamdasrepresentaçõessociais:consideraçãoda particularidade do1 objetos; dupla centraÇão - sobre conteúdos e sobre processos; atenção à dimensão sácial suscetível de infletir a atividade representâtiva e seu produto.Partindodariquezafenomênicaobservadaintuitivamente,asdiferentes abordagens vão recortai objetos que serão colhidos, analisados e manipulados, graças á procedimentos empíricos comprovados' para desembocar em constructos científicos,sujeitosatratamentoteórico.Ariquezadanoçãoderepresentação _ como a diversidade das comentes de pesquisa - presta-se a ângulos de ataque e óticas variados no tratamento dos fenôrnenos representativos. vamos tentar seguir algumas pistas rnaiores' Mas antes' uma constatação' Vlrelloe»e, TRANSVERSALIDADE E coMPLExtDADE Qualquer pessoa que observe o campo de pesquisa hoje cristalizado em torno da noção de representação social não deixará de notar três particularidades marcantes: vitalidade, transversalidade e complexidade' A vitalidade: eis uma noçáo doravante consagrada nas Ciências Humanasporumusoque,.jáháumadécada'tendeasegeneralizar'Ínasque' desdeDurkheim,temsidoconstante.Rapidamentecaídaemdesuso,anoção de representação sociai, após ter sido relançada na Psicologia Social por Moscovici,aindatevedepassarporumperíododelatência,antesdemobilizar uma vasta corrente de pesquisà da qual a bibliografia constante no início deste livro dá uma p.i*"i.a iaeia. Esia intensificação é atestada não só pela quantidade de publicações, mas também pela diversidade dos países onde é empregada,dosdomíniosondeéaplicada,dasabordagensmetodológicase teóricas que insPira. Tal conquista se explica pela supressão de obstáculos de tipo epistemológico que impediram o dãsdobramento da noção. Sob esse ângulo, Moscovici (cap. 2) aborda a fase que precedeu a retomada da noção de representação sociuí. para o período seguinte, indiquei em outras obras (Jodelet, Denisc Todeletll l9t-l e itlsa r arrlno sell desellvolvimento teve cle enfrentar' dentre outros' um 11,,n1rr rnr-iirrrt',r11l1ellto. Primeiramente' em Psicoiogia' por causa do donlfuio !!Lrt i! .-r-- ilo n-r..J:1.. L.:h.iriorrsta, que negava qualquer valiclade à consideração dos iit]t.t-t.t.i-t...ll-j.ntiliSede,sua",p".ifi"id..cle.Emsegtrida.nasCiênciasSociais, :nt rrr.:r-iJ: do clornínio cle ummoclelo marxista. ctljlt eoncepçao mecanicista J.r: l.:11çÕes entre ilfra e superestrLltur;I negava qualquer legitimidade a este rrntpL-r de estuclo, tiàÀ to*o povoado ct" pt-"os rellexos ou suspeito de rje:.1isn-io'Masaevoluçãoclaspesqutsaseitsnruclançasdeparadigrnasl-}as lir e rsas Ciências Humanas d.uÁ1ue.r,rn à noçiro tocla sua artualidade, trbrirtclo p.r.pa.ti.'", Í'ecunclas, inclusive corn novi-ts pesquisrrs' Em Psicologia prodr-rziu-se ulra rel'iravolta' clescrita por Markus c Zajonc(1987), q.t" foi ao encontro do ponto de vista clefendido desde 1961 por Moscovicr. Nos trnos 70' com o cleclínio do Behaviorismo e as revoluções cio rre r.r, look, e,nos anos g0, clo cognitir,ismo. o paradigmar estímulo-resposta (S-R) se enriqueceu progtessiva''Àt"' Em utn primeiro momento' o strieito - denominado o,g"ni"oã - e in'"gtaclo ao esquen-)i1 original como instância rr-rediadora entre o estímulo e a respostll, traduziclo peio esquema s-o-R' En-t um segunclo momellto' levando-se em col-]ta as esrlLtturas mL'lltlri s' as representações - estaclos psicológicos interllos corresponclentes Ll unlil construção cognitiva ativa ào arnbiente, tributária c1e fatores inclividr-rais e sociais-reoebemunlpapelcriaclornoprocessocleelaborirçãodacondutti. O que o esqllema O-S-O-R exprirle' que' pol'sua \rez coirlcide com a proposta de Moscovici em sua crítica ao esquema- s-R. ero clizer que a rept'esetltiLçito cletermina ao mesmo tempo o estímulo e i1 resposta. é que não há "rulltura elltre o ttniverso extefno e o unir,erso itlterno clo indrr.íduo (otr do grupo)', (1969, P.9) o conceito, renovaclor em psicologia Social, aparece como reuniticador ,ns ciências soci.is A muclança clas concepções cle ideologia (transformada' Coll]ostrabalhosdaescolaalthusseriana,eminstânciirautônoma,contextode tocltipráticrr'produzincloefeitoscleconhecimentoedotadadeumaeficácia própria)levirirsupefarasirporiasdarhierarquizrrçãrodosníveisdaestruturzi socialeareabilitararepresentação,Estaéconcebiclapelohistorradorcomo rlrn elemento necessário à cadeia conceitual, permitinclo pensar "as relirções -nire o rr-raterii.rl e o mental na evolução clas sociedacles" (Duby' 1978' p" 201' (--t :Lnrlopólogo lhe confere Lrs seglrintes ptopt-i:111"s: particularizar' em ciida . i:.nriçr-to social. a ordem cultural (Héntier' 1979); ser constittttiva do real e ---: -r'r:r1rizi1ção sociirl (Augé, 1974; Godelier' 1984); ter Lrma ef icácia própria : . .r.. 'il-11-ser. Para o sociólogo' elir erpiica comportamentos políticos I I _ . .., . Srnror t. lgj j) c religiosos (Maitre, 1912) c apitrecc-. r'irL stt;'t - : . -.- l'--: lillir'l'lgclll e 511'l lLceitação pelo discurso po1ítico' colrio um Representações sociais: um domínio em expansão Z5 fator de transformaçáo social (Bourdieu, r9B2; Faye, lg73). Desde 1961, algumas propriedades são atribuídas à representação social por Moscovici' com quem "onr"rg"*, fot ouoo lado' a.sociologia do Conhecimento elaborada no quadro do interacionismo simbólico (Berger e Luckman ' 1966)' a Etnometodologia (Cicourel, 1973) e a Fenomenãtogia (Schutz' 1962)' que''relacionam a realidade social a uma construção consensual, estabelecida na interação e na comunicação' Entretanto, esta dinâmica - que ultrapassa amplamente os limites do domínio psicossocioúil; - não i suficiente para explicar sua fisionomia atual. É preciso tambeã se reportar à fecundidade da noção, mensurável pela diversidade das perspectivas L dos debates que suscita' Uma das razões que levaram Moscovici õgeg,1gg4) a restabelecer o uso da noção foi a reação contra a insuficiência dos'conceitos da psicologia social, a limitação de seus objetos e paradigmas' Esta perspectiva ctítica pode provocar uma certa imprecisão nocional, razáo rlÁbém de fecundidade. Na realidade' autorizou empreendim"nto,"mpí.icoseconceituaisdiversoseaarticulaçãodaconcepção psicossociológica à áe outras disciplinas' É também motivo de vitalidade na medida em que autoriza interpretações múltiplas da noção e das discussões quesãofontedeavançosteóricos.Esteflorescimentoserelacionadiretamente com outras características que menclonamos: transversalidade e complexidade. Situadanainterfacedopsicológicoedosocial,estanoçãointeressaa todas as ciências Humanas: é encontrada em sociologia, Antropologia e História, estudada em suas relações com a ideologia, os sistemas simbólicos e as atitudes sociais refletidas peías mentalidades' Sperber (cap' 4) e Laplantine (cap. 13) ilustram assim a oieracionalidade da noção e seu enriquecimento emAntropologia.Elaalcançaigualmente,viaprocessoscognitivosenvolvidos, o campo da Psicologia Coinitiva' da cognição socialrcom ig'Doise (cap' 10 e 16), Semin i"up ii) e Hewstone (cap' 12) examinam algumas articulações.n"-"t"'Ooaumaformadepensamento'seu"iTdodizrespeito tambémàlógicaabordadasobseuu,p""tonatural,porGrize(cap.6),ou social, por Windish (cap' 7)' Ainda não é tudo' Como mostram Kaês (cap' 3), Chombart de Lauwe e Feuerhahn (cap' 15)' pode-se observar na produção representativa o jogo da fanrasmagoria individual e do imaginário social, o qrr" no, remete à psicanálise. Da mesma forma, o papel da linguagem nos fenômenosrepresentativosanalisadosporHarré(cap.5)envolvetambéma reflexão dos reóricos da linguagem (Fodor, 1981; searle' 1983). Esta multiplicidade de relações coà disciplinas próximas confere ao tratamento psicossociológico da iepresentação um estatuto tt1"ty:--nue interpela e articula diversos "u1npo, de pesquisa, reclamando náo uma justaposição' mas uma real coordenação de seus pontos de vista' Sem dúvida' nessa t I Z() Denise Jodeiet transversalidaderesideumadasConüibuiçõesmaispfomissorasdessecampo de estudo' Portanto' a noçáo de representação social apresenta' "?T: "t fenômenos qu""rup"ài,",'"T3,T#[kti*#;;#;Iü?#T"":";]"i"":' tratamento. "Sua postçaY ""']^^I^-,.^." (Moscovici. I976, 1 sociológicos " o" "i'illi''"'' n'l""ro*t""'': (ü;;o'i"i' rqro' !' 39) implica sua relaçáo "o*,.oã,o, a. aina*i"u. ,o"iut e psíquica e Com a elaboraçao de um sistema t"ó'i""";;Jém "ompi"xl'-pot '*-lado' deve-se levar em' consideraçá" " t n"i J,;;;;; ""r"ul:;,; ;" |"= jil:"TiJ,",1ilil;+!lü *:i; *';:::nx "H:":,T: "=,fi ; ã''i' n'" d as rep re s entaç õ e s ;;;,;"are,adasH'^[.1,.":"*if fi*t;"+il,r-+]:',""'Jq{Ti áe já efetivado. es esrudadas articulandllr=.'"I.*"n,os af,etivos. mentars e l*: 3il:#J;""1; t"- áu ""e"iiá"' da linguag"i":{:J:T:#;::X: - a consideruçao O'l '"üOUt' sociais que' aletam as representaç' marerial, social e ,â'"iH;;r" u quui "t", ,áã o" lnter'iiE nessa perspectlva que Moscov'"' '"'*"i"' -t dt"n'olut'"=;;;;a tcf' principalmente 1976' 1981, I 982 e '';;;-q]l" constitui "o*;;;"tativa sistemática e globat existenre r'ro3" "*"ãiu,ll"-o t"*ura Kerzlich {1912)' - entre os pólos De fato' ;"*^ exploraçáo em permanente tensao psicológico"'" j''*i:""'"àit"1""""'ú"i;;'Ji'"tl]1:;il*H:::"'H; em campo ti'"tu* freqüentement^e s:u foco' por preocupaçac ;;;;;"T""lTJ'#[§:*X*í;'lm:*';,n]"?liiiJlllil às vezes, o rlsco los em ,.o.",,u,"",0,"ã;;;; * JH;.ã.ã",.""olvimento teórico da noção poa" pua"""' O" f*ituções e '"ã"lonl'*os' o que é preciso evitar' como sublinha Doise: Apluraiidadedeabordagensdanoçãoeadiversidadedesignificaçõesqueveiculam fazem dela um insrrumen,o o" nuoor"nl i,,tttt ot manipular' Mas a própria riqueza eavariedadedostrabalhosin'pi'udo'porelafazemcomquesehesiteemfazê- laevoluirpoÍumreducionismoq*p,luir"-'iuaa.porexemplo,umaabordagem exclusivamentepsicológicaou,o.,I,ã,,.u'-s..i*exatamentetirar-lhesuafunçáo de articulaçáo de diferentes sistemas elplicativos' \ão se pode eliminar da noçáo' d",.p.","ntoçãosocial^,,*"*".,^saosmúltiplosprocessosindividuais,' interindividuais,intergrupaiseideológicosquefreqüentementereagemmutuamente unsaosoutrosecujasdinâmicasdeJonluntoresultamnessasrealidadesvivasque sáo'emúltimainstântiu'o"tpt""';;üttsociais(Doise'i986'pp.19-83)' Representações socÍais: um dornínio em expansão Além disso, deve-se desenvolver a teoria em uma abordagem que respeite a complexidade dos fenômenos e da noção, mesmo que isso pareça um grande desafio. O esreço DE ESTUDo DAS REPRESENTAÇoES socIAIS Durante mais de vinte anos, constituiu-se, particularmente em Psicologia Social, um campo, objeto de matórias de revistas e de comentários diversos (Codol, 1969;Farr, 1977, lg84 e 1987;Hané, 1984;Herulich, 1972; Jodelet' 1984; Potter e Litton, 1985), cujas conquistas apresentam nítidas convergências. Entretanto, a multiplicidade das perspectivas desenha territórios mais ou menos autônomos, em função da ênfase dada a aspectos específicos dos fenômenos representativos. Daí resulta um espaço de estudo multidimensional que vamos tentar balizar, com o auxflio do quadro 1, que sintetiza as problemáticas e seus eixos de desenvolvimento' No centro desse quadro figura o esquema de base, que caractenza a representação como uma forma de saber prático ligando um sujeito a um objeto. Todos os territórios se reúnem nesse esquema, mesmo que confiram a seus termos um alcance e implicações variáveis. Nele encontramos elementos e relações, já mencionados, cujas modalidades as pesquisas buscam especificar e explicar. Vejamos quais são, antes de examinar as pesquisas: . a representação social é sempre representação de alguma coisa (objeto) e de alguém (sujeito). As características do sujeito e do objeto nela se manifestam; . a--re.p,r9sen-tação social tem c9m §-sÀp.uetq,!Lr"I1ê- rel-49ãs,dc§t4[búe94o. (substituindo:o) e de inteqpretação (conferindq:lhq,signf!çaçÕes)' Estas significações resultam de uma atividade q]dle faz da representação uma construção e uma expressão do sujeito. Esta atividade pode remeter a processos cognitivos - o sujeito é então considerado de um ponto de vista epistêmico -, assim como a mecanismos intrapsíquicos (projeções fantasmáticas, investimentos pulsionais, identitários, motivações etc.) - o sujeito é considerado de um ponto de vista psicológico. ffis a particularidade do estudo das representações sociais é o fato de iitegrar na análise desses processos a pertença e a participação,'sociais ou culturais, do sujeito.lÉ o que a distingue de uma perspectiva puramente cognitivista ou cÍiiiica. Por outro lado, ela também pode relacionar-se à atividade mental de um grupo ou de uma coletividade, ou considerar essa atividade como o efeito de processos ideológicos que atravessam os indivíduos. Mais adiante voltaremos a esses pontos essenciaisl 2.7 v. Dcntse Torlelet ' forma de saber: a representllção será apresentada como Llma rr-roclelizirçãocioobjetodiretamentelegírelem|ouinferidade)diversos sr-lportes lingüísticos' colxportament]rs ou nraterjtris' Todo estudo de represetrtarçã" ;;;;;u-;"; uma, aná1ise das características li gaclas ao fato de qu" "t" é uma forma cle collhecitnento'' qualificar esse- sabet de priitico " ''"tt" i\ experiência a partir dar Llual ele ó produzrdo' tlos contextos e condições em que ele o é e' sobretudo, ao iato de qr-re a representação serve para.irgir sobre.o mundo e o outro, o que clesemboca e m :r-r-is funções e eficácla soclals' A posição ocupada peia represeni"f"' no aiustamento prático do sujeito tr seu meio fará com qr- ..,. cFralificada por alguns cie comProt-uisso Psicossocial' Asquestõeslevantadaspelaarticuil-tc|t....1.-:ticot.tjl.rt-rtocleelenrentose clerelaçõespoclemserconcletlsadasna,.....i,-,,.iorn.rr.tl:tçáo:..Quemsabee de oncle sabe?"; ''-;;;;"";mo.'"t'"?'' "§'rfLi Lr que sabe e com que efeitos?". Rstas pergunttrs desembocam em três orilerls de probtemáticas apresentada,, ao "'qt'JJ" p"'o a chreita' rro qut'l'o t .i' t"']11::'"'t de produção e de circulirção; b) pl'ocessos " "'t^do'' c) 'st'1tl1tLr epistemológico das representaçõ"' 'o"i"ii' iu"'nt"o'"*:1.::t t'" inter'1:p'er.rclentes e abrangem o, ,"trrr,, áos trabalhos teóricos e emplrlct)\ Se accmpanh;;"; o histórico ds ç'rnrnLr '1: pc'qulsa' teremos de nos voltar à relação da representação con-i .r".i t-,a" '. ,,'totitdode' De fato' quando Moscovici t"'ol'ot't o i9nt"it1 iie Dr-rikhertt.t trao foi apenas truma perspectiva crítica, que tinha' ""u'lllT.'l],ltitntttt' to"'rutiva: dar à Psicologia social objetos " '"tt""'tos conceituais clue }t-t-"'-lt:'l:um conhecimento cumulatir.o,emcontatodiretocomasler.l:1..]eil-.rsql'restõescolocadaspela vidasocialAobraA,tsiccrnúlise'stt(L'"t't'"'''s, itp'Liblico'seguindoa derir,a cle uma,"o,l^ tián'ffica - a Psicanirhtc - i medldL-que penetrava nà sociedade, "n,",ai"-".,tar contribuitltit.. L1JL.1 Ll1ll.1 pslcossociologia do conhecinrento"ntaoi,"xistente'aoladod.u,-,-,.>t].101ogit]clocorrhecimento florescenteecieumaeprstemologiaclosensoç.CI1-}LlIlltecém-nascida(Heider. 1958)' Este estudo do choclue entre utlla teori'lL I os rrloclos de pensamento próprlos o alt"'"nt"'*f"fot"o"iui' clelimitai r Jtrlllrr tt otl"^tl"u tlansformação de um saber (cientifijojnum outro (setlso cLrtllLllllr' \1ce-veISa' Dois eixos Lt- preocr-rpação esrão aí associaclo'- "-f1]]:''l: :;,:lii:i:tfi:tfl.l""rXil ;:*;: ill'Ji:#il'[ :' Jl;:ii:":,1".i::' :]''' "' " ;;"' d"' " "'"'ter ístic as 'll.:lntirrsaop",,,on-,el]tonatul.tllenlrelitçitoilopellsamentocientífico \i,-'sirrtcl e Heu'stone' 1983 e 1984)' O 'eg'-rnclo eiro cliz respeito à dlfusão Representações sociais: um domfuio em expansão dos conhecimentos a que fazem referência schiele e Boucher (cap. 19). Ecoa nos trabalhos que examinam, além da interdependência entre os processos de representaçáo e de vulgarização (Ackermann et al'' 1963' l97l e 1973- 74;Barbichon,l9TZ;Roqueplo,lg74),aênfasedada'comumainsistência crescente, em didática dàs ciências e formação de adultos, ao papei das representações sociais como sistema de acolhimento' podendo criar obstáculos ou servir de ponto de apoio pafa a assimilação do saber científico e técnico (Albertini e Dussault, 1984; Astolfi, Giordan etal.,1978 Audigier et al., 1986). Estas duas óticas convergem em relação ao fato de que o conhecimento ingênuo não deve ser invalidado como falso ou enviesado, o que vai ao encontro de certos postulados cognitivistas, segundo os quais existiriam vieses naturais, inerentes ao funcionamento mental espontâneo (por exemplo, na atribuição de causalidade). Trata-se de um conhecimento "outro", diferente da ciência, mas que é adaptado à ação sobre o mundo e mesmo corroborado por ela. Sua espLcificidade, justificada por formação e finalidades sociais, constitui-se em objeto de estudo episternológico não apenas legítimo mas necessário para compreender plenamente os mecanismos do pensamento, além de ser pertinente para trataÍ do próprio saber científico, exemplificado por Palmonari e Zani (cap. 14) no campo da Psicologia' Assim, aproximamo-nos de um postulado fundamental no estudo das representações iociais: o da inter-relação, da correspondência, entre as formas de organização e de comunicação sociais e as modalidades do pensamento social, considerado sob o ângulo de suas categorias, de suas operações e de sua lógica. Sua primeira formulação foi feita por Durkheim' que insistia no isomorfismo entre representações e instituições: as categorias, que servem à classificação das coiias, são solidárias às formas de agrupamento social; as relações entre classes o são face àquelas que organizam a sociedade' O postulado foi diferentemente desenvolvido, segundo os autores tenham dirigido sua atenção sobre o vínculo existente entre comunicação social de um lado ou estrutura social de outro, e representações' SosRe o PAPEL oe corvtuNtcRçÃo o postulado visto acima é uma hipótese forte em Moscovici, que explica os fenômenos cognitivos a partir das divisões e interações sociais. Por diversas razóes, insistiu particularmente no papel da comunicação social: primeiro, trata-se de um objeto próprio da Psicologia Social que contribui, de modo original, para a abordagem dos fenômenos cognitivos' Em seguida' a comunicação desempenha um papel fundamental nas trocas e interações que ?o : i t{ 30 Denise Jodelet concoÍrem para a criação de um universo consensual' Finalmente' remete a fenômenosdernfluênciaedepertençasociaisdecisivosnaelaboraçáodos sistemas intelectuais e de suas formas' :1rr três níveis: A incidência da comunicação é examinada por Moscovrcr e 1) Ao nível da emergência das representações cujas condições afetam os aspectos cogniti'os' O"í"" ""u' condições' encontram-se: a di'sp-er§ão-e a defasagem Oa' i'-ttã'*ações relativas ao objeto representado e que sao desigualmenle acessíveis de acordo com os grup-:s' ojo": :":T^:"n"t aspectos do objeto, em funçao dos interesses e da implicaçt: O-":-::l:itos; a pressao à inferêaç,ia ref-erenre à necessidade de agir'-àe tomar T:'::: ":i" :?:: : reconhecimento e a adesão dos outros - elementos que vão diferenctar o pensamento natural em suas operações' sya lOSlc]-e^":t-1"::::"' 2) Ao nível dos processos de formação dai reprqsentilll,]: 3'"bj:t:li:i;:" e a ancoragu* Oo" "*'pli"u* u interdependência entre-1::t.:Oud" cognltlva esuascondiçõessociaisdeexercício,nosplanosdaorganlzaçáodosconteúdos, das significações e da utilidade que the são conferidas; 3) Ao nível das dimensões das representações relacionadas à edificação da conduta: opiniao, aiituJe e estereótipo' sobre os quais intervêm os sistemas de comunicação midiáticos. Estes, segundo pesquisas dos efeitos sobre sua audiência, tc* proprJades estruturais diferent"r. .o."tpondentes à difusão' à propagaçã" " à ;;;;;ganda' A difuúo é reiacionada com a formação das opiniões; u p,opurffi'""o* u formação das atitudes e a propaganda com a dos estereótiPos' Assim, a comunicação social' sob seus aspectos interindividuais' institucionaisemidiáticos'aparececomocondiçãodepossibilidadeede determinação das representações e do pensamento sociais' Numerosos autores desenvolver"* "'"i;;';;;;à"' de. tal-estat":- ?Í."-lY e neste livro) relaciona os processos de esquema ttzaçáodas representações e as propriedades da lógica nu"'ui"J' '"'"iâ"t de influência envoli''id:: ,1"t situações de interlocução, influência essa que visa a fazer de suas idéias evidências objetivas. Da mesma forma' as relaçOes de influência fundamentam o papel dacomunicaçãonosmeioscientíficos(Knorr-Cetina,1981),quandoSetrata da fabricação da ciência e de seus fatos: De todas as atividades humanas' a fabricação dos latos é a mais intensamente social:foiessaevirlênciaquepemitiurecentementeàsociologiadasciências desenvolver-seOdestinodeumenunciadoestá'literalmente'nasmãosdeuma multidão:cadaumpodeesquecê-lo.contradizê-lo.traduzi-lo,modificá-lo,Representações sociais: um domínio em expansão transformá-lo em artefato, escarnecer dele, introduzi-lo num outro contexto a título de premissa, ou, em alguns casos, verificá-lo, comprová-lo e passá-lo tal qual a outra pessoa, que, por sua vez, o passará adiante. A expressão "é um fato" não define a essência de certos enunciados, mas alguns percursos pela multidão (Latour, 1983). ii Este percurso náo diz respeito apenas ao fato científico: está na base i de muitas produções mentais institucionais. Isso é particularmente visível nas i comunidades urbanas ou rurais, cujas unidade e identidade são asseguradas pelas trocas informais estabelecidas entre os grupos "co-ativos" (Maget, 1955) que as compõem. Eles partilham o mesmo tipo de atividade, constituindo, de modo dialógico, o sistema normativo e nocional que rege sua vida profissional e cotidiana. Este processo aclara os obstáculos encontrados pela transferência e pela mudança tecnológica exemplificada por Darré (1985), a propósito da criação de animais no meio camponês. Existem igualmente causas emocionais na fabricaçáo dos fatos. Dessa forma, a comunicação serve de válvula para liberar os sentimentos disfóricos suscitados por situações coletivas ansiógenas ou mal toleradas. É o que ocorre com os fenômenos de boatos que surgem f,reqüentemente no rneio urbano por ocasião de crises ou conflitos intergrupais (Morin, 1970). O medo e a rejeição da alteridade, entre outros, suscitam trocas que dão corpo a informações ou acontecimentos fictícios. Assim, criam-se verdadeiras "lendas urbanas" (Brunvand, 1 981 ), cujos temas apresentam uma notável estabilidade no ternpo e no espaço (Campion-Vincent, 1989). A atuação do imaginário coletivo na comunicação é também ilustrada pelo discurso sobre a insegurança (Ackermann, Dulong, Jeudy, 1983). Os relatos que as vítimas de agressão (roubos, ataques etc.) fazem do que lhes aconteceu seguem ao pé da letra um mesmo roteiro, retomado coletivamente, e permitem situar-se numa mesma categoria vitimada, forma de uma nova solidariedade social. Encontramos fenômenos semelhantes em relação à Aids. Em seu capítulo, Sperber insiste sobre a importância de considerar a circulação das representações culturais. Sua observação vai além da Antropologia. As pesquisas que abordam as representações como formas de expressão cultural remetem mais ou menos diretamente a tais processos de difusão, quer se trate de códigos sociais, que servem para interpretar as experiências do indivíduo em sociedade - por exemplo, a da doença (Herzlich, 1969) -, quer se trate de valores e modelos que servem para definir um estatlrto social - por exemplo, a mulher, a criança (Chombart de Lauwe, 1963 e 1911) - ou, ainda, a dos símbolos e invariantes que servem paÍa pensaÍ entidades coletivas - por exemplo, o grupo (Kaês, 1976) e a loucura (Schurmans' 1985). 3r I I I ,i I t'Z Denise Jodelet Destes exemplos' sobressai a importância primordial da comunicação nos fenômeno, '"p'"*ntativos' Primeiro' ela é o '":t 1:-:1,*smissão da lingua-eem,portadoraemsimesmaderepresentações'Emseguida'elaincide sobre os aspectos estrÚurais e formais do pensamento social' à medida que engaja processos a" ini"'uçao sociaf influência' coRsenso ou dissenso e polêmica. Finalmente,'"f' "à'"iUui para forjar representações que' apoiadas numa energética sociatr' são pertinentes para a vida ptát'ica e afetiva dos grupos. Energética e pertinência sociais que explicam' juntamente com o poder performático àui putu"us e dos.dis"u"oi' a força-com a qual as representaçõ"s instatiil?"0"' da realidade' comuns e partilhadas' O soct.ql: DA PARTILHA A vlDA coLETIVA Há quem credite todo seu alcance àpartilha t""iil1i:^t:presentações' Seu caráter é freqfientemente reduzido à dimensão extensiva no seio de um grupo ou da sociedade' o que dá margem a algumas críticas (Harré' 1985)' aliás, formutuAu' porUoscàvici desde i96i' Este critério corre o risco de ser puramenteformalereducionistasenãoseconsideraradinâmicasocialque o sustenta. Na rearidade, pode-se dizer que se partilha_uma mesma to:_t1:: representação, como se partilha um mesmo destino? Náo me parece' pols a ,"p r", "r, ui ao,"p o J o'i'.r.: :: * ::^ i*,ff ;: "ff::ff ã:#:: : r"::ffi# crença. Como observa Veyne a proposl sociais do conhecimento náo se piendem tanto à sua distribuição entre vários indivíduos, e sim à questão de que "o pensamento de cada,um deles é' de diversas maneiras,;;;;p.ro iuto de os outros pensarem da mesma forma sobre aigo" (1g14, p'14)' Sem receto' pode-se acreditar no que dizem os especialistas: não se ioa" uoqoirir o_conhecimento por uma espécie de "divisão do trabalho fingiii'tiJ' (Puinam' lg15)' Além do mais' a interiorização do outro favorece .,a edificação de castelos de cartas (onde cada indivíduo ó uma carta) que desmoronam um beio dia' porque o apoio de uns sobre os outros desabou" (VeYne, idem' P' B0)' Certamente, t'a t"p'"'"ntações que cabem em nós como uma luva ou que atravessam os indivíduos: as impostas pela ideologia dominante ou as que estão ügadas; ;" condição definida 'o .seio Oa e1111ura social' Mas' mesmo nestes "^ot u nurtilha implica uma dinâmica social que explica a especificidade das ãpresentações' ! o Oue vêm desenvo.lvendo as pesquisas que relacionam o c'atâter sÁcial du '"p'"'""tação à inserção social dos indir'íduos. O r,,gut,l io'içao social que eles ocuparn * ": y::::::: assumemdetermrnamosconteúdosrepresentacionaisesuaorganflaçao,por meio da relação ideológica que mantêm com o mundo social (Plon' 1917)' __'"4"*-'.,,nto_ @Àa-Ào ---pnocEssosEESrADosDAS DASREPRESENTAÇÕES SOCIAIS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS --- ESrA@ REPRESEI'IIAÇÕES soclAIS Cultura (coletiva / de gruPo) " valores " modelos " invariantes Linguagem e Comunicação . interpessoal . institucional . midiática Sociedade . partilha e víuculo social . contexto ideológico, histórico . inscrição social - posição - lugar e função sociais - pertença gruPal . organização social instituições , \,ida dos grupos suportes conteúdos estrutura Processos 1ógica Valor de verdade . relações entre Pensamentos natural e cientíltco . difusão dos conhecimentos " tÍansformação de um saber em outro ' epistemologia do senso comum Representação e Ciência EóRMApESAãRl modelização rconstrução lsu.lBrroL- I epistêmico Ipsicologico I interyretÀção hununo social Representâção e Real Defasagem . distorção . subtração . suplementação Valor de realidade social expressáQ coletivo ideal mâterial compromisso Psicossocial PRÁTICA Experiêrcia Açáo Função das reprcsentações sociais Eficácia das representàçoes sôclaIs Quem sabe e de onde sabe? O que e como sabe? Quadro 1. O esPaço de estudo das Sobre o que sabe e com que efeitos? representações sociais 34 Denise Todelet aSnorTnasinstitucionaiseosmodelosideológicosaosquaisobedecem.Gilly (cap. 12) examina a articulação entre estes elementos no caso do sistema educacional. Vergàs (cap' 18) analisa sob uma ótica semelhante os componentes e determinantes das representações econômicas' Outros trabalhos, como o de Kaôs (1968) e o de Larrue (1912) sobre as representaçO"s Oo cultura' ilustram o fato de que partilhar uma mesma condição social (a condição operária) - que é acompanhada de uma reração com o mundo, valores, moderos de vida, imposições ou desejos específicos - produz efeitos sobre o modo de conceber a cultura' O mesmo éválidopaÍaapressãoexercidapelaideologiadifundidapelosaparellros de Estado, como o Judiciário (Robert e Faugeron' 1978)': qu" estrutura' por meio das atitudes sociais' os campos de represeutação relativos aos diferentes domíniose atores do sistema penal. Em todos estes casos, a partilha social se refere a um mecanismo de determinações ligadas à estrutura e às relações sociais' Entretanto,mesmonessescasosdedeterminaçáo'emqueapaltilhll dasrepresentaçõesérrmdadopreexistenteàcomunicação,podem-seobservirr fenômenos de aderência às formas de pensamento da classe' do meio ou do grllpoaquesepertence,porCausadasoltdariedadeeclaafiliaçãosociais. Partilharumaidéiaouumalinguagemétambémafirmarumvínculosocial e uma identrdade. Não faltam exemplos de que essa função é evidente, quanto mais náo tbsse na esfera religiosa ou poiítica' A partrlha serve à afirmação simbólica de uma unidade e de uma pertença. A adesão coletiva contribui paraoestabelecimentoeoreforçodovínculosocial'Ora'comoobserva Douglas (1986), nas Ciências Sociais prendemo-nos pouco "ao papel da cognição na formação do vínculo social" 1p 19) Acrescenta que se leva pouco em consideraçao o que se sabe muito bem: "Os gfllpos têm lnfluôncia sobre o pensamento de seus membros e desenvolvem ató mesmo estilos de pensamentodistintivos"(p21)'Olhandopeloângulodasrepresentaçõese dassolidariedadesqueelasengendram,estamosprontosaelucidarosaspectoS cognitivos que constituem a matérra e a trama da vida social' Assim' a capacidade de extensão das representações permite captar' ao nível dos atributos intelectuais de uma coletividade, u "*pr"srão de sua particularidade' É o que mostrou Moscovici a propósito das represetltações da Psicanálise' pelasquaisosdiÍ.erentesgrllposdefinemseusColltornosesuaiderrtrdade.A expressão identitária 1a t'a'iu sido sublinhada por Durkheim: "O que ars ."irerentoções coletivas traduzem é o modo como o glllpo se pensa em suas relações com os objetos clue o irfetam" (1895' p' xvii)' ilcprcsentaçõcs sociats: unt domírlio cnl erpltnsãc FL NCor.S S( )ClÂlS L Rl-.LÀÇÃo c( )l\l Í ) l{E \L Compreencie-se que a representação preer-rcha certas furlções nA 11ltlnu- renÇão cla ideltidade social e clo eqr-ri1íbrio sociocognitivo a ela ligacios. Basta observar as defesas rnobilizirdas pela lrrupção da r-rovidade. Quando a Pslcanáiise apareceli, foi sentida como uma ameaça, porcJue infringia valoles e modelos de pensantento vigentes em diferentes grupos religiosos ou poiíticos' Da mesma forma, vêem-se agrllpamelltos políticos considerarem como perigoso o fato de se informar sobre a teoria marxista ou de faiar delii. como Se, Conl isso, corressem o IiSco c1e perturl-,ar Seus esqLlemas melltl'.is. Toclaviir. qullndo a novidacle é incontornável, à iiÇão de evitá-la segue-se um trabalho de ancoragenl. com o obietivo de torníi-ltr famtiiar e transformá- tra para integrá-lar no universo cle oensr-tt.nento preexistr:nte. Este é urn tr;rbaiho que corresponde a uma função cognitlva essencial da l'epresentaçlto u- clrpltz r,amttém de se referir a toclo elemento estl'anho ou desconhecido no alnlliente social ou rdeal. A prcpósito clas represelltllÇões cla inteligêrlcia. Mrlgny e Carugati 119E5) fazern rlma anliiise suiil desta dialética. A dispariclade de rnteligêltcla ilparece. clltrlncio não sa ciispÕe de inforrração sobre suas cattsiis sociais (herança cLIltllral, papel diferetlciador da escola), como algo cstranho qlle chiimil a àtençalo e leva a busci.lr explicações na ideologia do dom. mascarando e naturalizando as clesigr-ralclades socitiis. Esta ideolo-gia atende it r-rm llrincípio de econolrii-l co-snitivrl t é tanto mais Í'acilmente illvocada lXuanro a iclentidacie sociai é posta em qlleslão pelirs diferenÇas de inteligência" corxlo ó o caso para pais e ploÍ-eSSoreS. DeSSe inodo, acrescenta-Se à funçãc' cognitivii Llma funÇão de proteçào c de leuitimzrçiio' Trata-se de processo-" ig'lalnletlie obsen'áveis em escala coletiva' 'iíl mostrei i1985) qlle, ltuma comr-tniciacie rurai onde vivem doentes metttais em liberdade. ir popr-rlação constrói llm si-\temii de representações da loucurar qtie 1he permite não só gerenciar slla interacão cotidiantr com eles, mzrs também se deiênder de uma presençáà que jui-sa peli-uosa pi-rra slut itnrrgetn e sua integridade. Tepe ser assimilada aos doentes e llilo pocie aceitall que sejarn integrados, conl plenos clireitos" no teciclo sociai. Desellvcive ume representação da ioucura" postulando uma insuficiência do controie cerebral sobrc o ir-irtcictratlretrio orgânico e mental, que criaria um impeciirnento à retomada cie r-rnla atlYtdacie e cle um lugar sociais normais. Assinr. é possír'e1 manter os cioetltes tlntll estatuto irlienado e restritivo, opor-se a quirlquer reivindicirção de inserção, enr pé de igualcletde, uLr localidade, uo que a represe niaçtio assentelha-se à icieoicgiri. Estas fur-rções se acresceffr iis cie orrentaÇao cias cot]dutils e comutlicaçõcs. cie -ir-rstificaÇão antecipada ou rerrospectiva cias inierrÇões sociais ou relaçties intergrupais (Doise. 1973). i.[o que chegan-ios ii iima o]-lil'a especificaçãcr do i) 16 Delise Jodelet Çarírtú social das representações' com duas conseqüências maiores' embora diferentes. uma diz àrp"rto ao estudo das representações: o social não é unidimensionalnasrepresentaçõesepode-seesperarterderepottá-lo,segundo oSCaSoS,àparlilhayoua,determinações,e/ouàsfunçõessociaisdarepresentação. A segunda conseqüência remete ao estatuto epistemológico da representação. Do que u"ábu'no' de ver' ressalta seu caráter prático' isto é' orientado para a ação e paru a gestão da relaçáo com o mundo' Como diz Piaget (1g76), ela p"rmun"ce um modo de conhecimento sociocêntrico' a serviço das necessidades, desejos e interessel do, gruPo -'-1li^t,'"'Oade e o fato de a representação ser uma reconstruçáo do objeto' expressiva do sujeito' provocamurnadefasagememreiaçãoaseureferente.Estadefasagempode serdevidaigualmenteàintervençãoespecificadoradosvaloresecódigos coletivos,dasimplicaçõespessoaisedosengajamentossociaisdosindivíduos. produz três tipos de eieito ao nível dos conteúdos representativos: distorções, suplementações e subtrações' No caso da distorção, todos os atributos do objeto representado estão presentes, porém acentuados ou atenuados' de modo específico' Assim ocorre com as transformações na avaliação das qualidades de um obJeto' de um ato' para reduzir uma dissonância cognitiva (Festinger' 1957)' Outro exemplo' tomado de chombart de Lauwe (1gg4): a representação de categorias sociais dominadas(criançasoumulheres),queéelaboradatendocomoreferência uma categoria dominante (adultos ou homens)' Os dominados têm traços semelhantes aos dos dominantes de quem são, entretanto, copiados de duas maneiras: seja por um mecanismo de redução - presença das mesmas características, mas sob forma atenuada' de menor qualidade; na imagem que a mídia apresenta clas crianças, as meninas se comportam como os meninos' mas sua autonomia em relação ao entorno é menor, seja por um mecanismo de inversão - o dominado apresenta as características inversas às do dominante; assim, a imagem da criança autêntica é o reflexo invertido da imagem do adulto em sociedade. Asuplementaçào,queconsisteemconferiratributoseconotaçõesque não the são próprias ao objeto representado' resulta de um acréscimo de significaçõesdevidoaoinvestimentodosujeitonaquiloeaS.euimagrnárlo. Analisando o "preconceito em ação"' Doise (1980) lembra resultados experimentaisquecolocamemevidênciaumatendênciaaprojetaremoutra pessoa traços que se possui, sobretudo se acreditamos que esses traços são avaliados desfavoravelmente: a projeção sobre outro serve para restaurar a auto-estima, uma representação do outro conforme a si mesmo valoriza sua própria imagem, construída a partir de grupos de referência' Nurn estudo sobre o rneio ambiente, Lugasiy (1970) ilustra esse aumento conotativo a Representações sociais: um domínio em expansão 37 I i propósito das representações da naturezae da floresta. A primeira estácarÍegada de significações opostas às da cidade, espaço de pressões sociais;a segunda, de imagens infantis que remetem ao corpo e à sexuaridade.Enfim, a subtração corresponde à supressão dà atributos pertencentesao objeto: na maior parte dos .u.or, resurta do efeito repressivo das normassociais. Encontramos uma ilustração doravante clássica rÀ "rqr",,u tigurativoda teoria psicanarítica, destacado por Moscov ici (1976). A representaçãocomporta conceitos centrais: consciente, inconsciente, .ácdqre, comprexo,mas exclui um conceito, também central, a libido, por causa de sua associaçãocom a sexualidade, sobre a qual pesa, no momento do estudo, um veto social.Da mesma forma, veremos a sexualidade dos deficientes mentais representadade modo radicalmente diferente por seus educadores e por seus pais, devidoaos respectivos papéis, de sua recusa comum de se identificar com eles. osprimeiros atribuem às crianças uma sexualidade selvagem, brutar e semafetividade, ao passo que os segundos têm de seus filhos uÃa visão assexuada,mas transbordante de afetividade (Giami et al., 19g3). Esre»os E pRocEssos REpRESENTACToNAIS _- A relação a um referente objetivo está sintetizada na parte centrar doquadro 1: os estados. e processos que caracterizam a representação comoforma de saber. significa terminar nor.o p"."rrso no que está no cerne detodas as pesquisas: o fenômeno cognitivo, após ter situ;do o que define seuaspecto social e funcional, as condiçOes que regem ,uu gêr"r", ,",funcionamento e sua eficâcia. o estudo do fenômeno cognitivo se faz a partir dos conteúdosrepresentativos, tomados de diferentes suportes: ringuagem, discurso,documentos, práticas, dispositivos materiais, sern prejurgui no'"uro de algunsautores' a existência correspondente de eventos intra-individuais ou de hipóstasescoletivas (espírito, consciência de grupo). Trabarhar sobre conteúdos objetivadospermite não sobrecarregar a pesquisa de debates que o trabarho empÍrico nãopode resolver. Isso resulta numa primeira diferença "o* ^ psicologia cognitiva,no rnodo de abordar a representação como saber. Esta se refere a objetos e ' processos hipotéticos ou apreendidos indiretamente por meio da rearizaçáo detarefas intelectuais ou provas de memorização, poi "*"-pro. A abordagemsocial das representações trata de uma maténaconcreta, direámente observáver,mesmo que a organização ratente de seus erementos t"nt u ,iào ;j;;; ;;reconstrução por parte do pesquisador. Nesse modo de apreender o§otrt'lÍdo-das representações - tratado sejacomo campo estruturado, seja como núcreo estruturante -, duas orientações, Denise Jodelet 38 náo excludentes, destacam-se' No primeiro "u,to' ot--:onstituintes das representações (informações' imagens'.-crenças' valores' opinióes' elementos culturais, ia"orogi"o' "t"')' Bsta anaiis" ài-"n'ional ó completada pela pesquisa do princípio de coerência. que estrutura os campos de representação: organizadores socroculturais' atitudes' modelo-s 1:rmativo:-::l ainda esquemas cognitivos. Estes campos são geraimente colhidos por meio de mótodos de enqueteporquestionário,entrevistaoutratamentodematerialverüalregistraclo em documento' t'"' "n bibliografia os. textos que se relacionam às imagens de objetos socialmente valorizados' tais como o corpo' a cultura' a criança' a mulher, o grupo, a doença' a Psicologia' a saúde' o trabalho etc')' Também sãoabordadosdopontodevistasemântico,conjuntos.designificações identificadosComaajudadediferentesmétodosdeassociaçãodepalavras (Di Giacom", 19;;"'it-5' Le Bouedec, 1984; Ga11i e Nigro. 1986)' Nesse úrltimo caso, as pesquisas se aproxlmam da segunda orientação' que busca destacarasestrr-rttrraselementaresemtol.nodascluaissecristalizamossistemas 'de representuçao' Àtti" (cap' B) e Flament (cap' q) desenvolvem um modelo teórico que distingue elementos - centrais dà periféricos' de onde tiram importantes i*pii"u'ç0", do ponto de vista tanto da estabilidade e da mudança das representações qual to À" 'uo relação com a ptâtica' Estas propriedacles estrutllÍals são examinadas em representaço:: li constituídas' Mas, para explicar a emergência das estruturas' é prectso se reportar uo, ptu"""os qlre presidem a cJn";3 d* t"pl:::ltaÇões' Esta pode ser analisada ievando-se em conta as aprendizagens sociats que intervêm no' decorrer ao a"r.nrorvimento infantil 1bur,""n " r-toya, 1986 e 1988; Emler e Dickenson, ]985; Emler, ohana, Moscovlci, 1987; ver tambén.r os capítulos da present" ob'u' de Chombart de Lauwe e Doise)' Entretanto' independent"-*"dosaspectosdedesenvolvimento,osprocessosdeformação. '.:dasrepresentaçõesexplicamsuaestfl]tuÍação.Istovaleparticularmenteparaa ;,- objetivação, p'o"""o "'idenciado pot Mo"ouici e ilustrado e enriquecido por diversosautores'Oprocessoédecompostoemtrês,fasellonslnlçãoseletiva' --., , "rn;,'e;;;;;;; esrruturante " nat *lirução. As duas ptimeiras, sobretud-o' maniÍ.estam,comotivemoSaopoÍfunldadedeobservar,oefeitodacomuntcaçao e das pressões, ügadas à pertença social dos t'::tt:::-:?bre a escolha e a organização dos elementos constitutivos da representaçao' Conteúdoseestruturasãolrlfletidosporumoutroprocesso,aal]Corageml .- que intervém uo 'o'lro do processo de formàçáo das representaçóes' "t"'^lt*: r.. sua incorporaçáo ao"so"ia1. por um lado, a ancoragelr enraíza a representaÇao _. e seu objeto numa rede c1e significações que permrte situá-los em relação ao-s r.alores sociais e dar-lhes cÀerência. Entretanto, nesse nível, a ancoragem desempenhaumpapeldecisivo.essenciaimentenoqtreserefereàrealização Representações sociais: um domínio em expansão de sua inscrição num sistema de acolhimento nocional, um já pensado. Por um trabalho da memória, o pensamento constituinte apóia-se sobre o pensamento constituído para enquadrar a novidade a esquemas antigos, ao já conhecido. Por outro lado, a ancoragem serve para a instrumentalizaçáo do saber, conferindo-lhe um valor funcional para a interpretação e a gestão do ambiente. Assim, dá continuidade à objetivação. A naturalização das noções thes dá, valor de realidades concretas, diretamente legíveis e utilizáveis na ação sobre o mundo e os outros. De outra parte, a estrutura imagética da representação se torna guia de leitura e, por generalizaçáo funcional, teoria de referência para compreender a realidade. Estes processos generativos e funcionais, socialmente marcados, permitem que nos aproximemos das representações em diferentes níveis de complexidade. Desde a palavra até a teoria, que serve de versão do real; desde os conceitos ou categorias até as operações de pensamento, que os relacionam, e à lógica natural, característica de um pensamento orientado à comunicação e à ação. Permitem igualmente explicar o caráter ao mesmo tempo concreto e abstrato das representações e de seus elementos, que têm um estatuto misto de fenômeno percebido e de conceito. Estatuto ligado também ao fato de que o pensamento social remete a eventos concretos da prática social e deve, para ser comunicado, permanecer vivo na sociedade, ser um pensamento em imagem, como destacava Halbwachs a propósito da mernória social: Não há idéia sem imagens: mais precisamente, idéia e imagem não designam dois elementos - um social e outÍo individual - de nossos estâdos de consciência, mas dois pontos de vista de onde a sociedade pode examinar os objetos, ao mesmo tempo em que os situa no conjunto de suas noções, ou em sua vida e sua história (i925" p. 281)" Moscovici (1981) demonstrou a importância dessas idéias-imagens na mobilização psicológica das multidões. Com a ancoragem das representações na vida coletiva, voltamos à questão de sua eficácia. Há aí um caráter distintivo do pensamento social que chama particularmente a atenção das Ciências Sociais. O papeldas representações no devir social se anuncia como um objeto de estudo estimulante no futuro. CoruclusÃo Concluir um percurso necessariamente incompleto e freqüentemente dernasiado alusivo nos faz avaliar, espero, a especificidade da abordagem das 39 40 Denise Todelet representaçóes sociais e sua originalidade' Suas superposições com o modo pelocluaiaPsicologiaCognitiva-easCiênciasSociaistratamarepresentação deixam-se facilmente entrever; suas divergências também' H,ncontram-se objetos comuns com o estudo cognitivo do saber: estudo do conteúdo do p"nruí"nto, o saber declarativo e processual (saber o quê e ocomo);análisedessesaberemtermosdeestruturaedememória'Contudo, remeter suas características estruturais e processuais às condições sociais de produção, de circulaçao e à finalidade das representações cria uma diferença radical.Conhecimentoderivadotantoquantoinferido,arepresentaçãosocial náo pode ser pensada de acordo com o modeio dominante do tratamento da informação.SeuestudopermiteContornarasdificuldadesqueestetratamento levanta, a saber: o risco àe reduzir o funcionamento mental ao funcionamento do computador, como diz Anderson (1gg3), para quem os "sistemas de produção", "rru, o.gunizações de conteúdo onde são detectados os mecanismos e processos cognitivos, sío ambíguos pelo fato de serem em parte linguagens de programação para computador e' em parte' teorias psicológicas' Risco lembrado por Ehrlich, putu quem a informática' embora respondendo à p."o"rpuçao de objetivaium funcionamento subjetivo' permanece' entretanto' criticávelpeia..sujeiçãodosmodelosdefuncionamentodosujeitoaos princípios àe funcionaàento do computador e à problemática dos tratamentos de textos pelas máquinas" (1985' p' 286)' A1ém disso' o fato d5:: T:"^lt:: pela função da representação e por sua relaçáo a um referente e. à comunlcaçao permiteesclareceroqtteui'-'durestadaszonasobscurasnaabordagemcognitive da representação: a dL seus ftrncionamenros e de suas funções (Ehrlich, idem); a da formação e da transformação dos esquemas cognitivos'-de sua reiação com a linguagem (Arnault de La Menardiàre e de Montmollin' 1985)' Na verdade, pensar a cognição como algo social abre novos caminhos de pesquisa. O mesmo se dá cÀm as Ciências Sociais' que não integram' em sua abordagem do pensamento social' a dimensão Oroqrlame;rtt" ::t:::: e não estão "* "o,áições de pensar o social como cognitivo' Isso se lmpoe como uma necessidade para aiguns' como Douglas' que thes dá como tarefa identificar os "processos cognitir''os que fundam a ordem social"' estudar como.,asinstituiçõespensam,,eComo'.oproCessocogrritivoindividual maiselementardepeniledasinstltuiçõessociais,,(1986,p45)Porisso, juntamo-nos a Piaget (1967), que vê a Psicologia e a Sociologia como ..duasdisciplinasq"uetratamdomesmoobjeto,':..oconjuntodascondutas humanas q.," "o-po'tam, cada uma delas' desde o nascimento e em graus dir,ersos, um aspecto mental e um aspecto social" (p 1g), afirmando que ..ohomeméumequetodassuasfunçõesmentalizadassãoigualmente socializadas" (P 20). Representações sociais: um domínio em expa.nsão É nessa perspectiva que se desenvolvem as pesquisas sobre as representações sociais. Cada uma contribui com uma pedra para a construção de uma ciência psicológica e social do conhecimento. Alguns pensam que seria desejável estabelecer um modelo unitário, uma "concepção multicompatível" (Le Ny, 1985) da representação, devido, principalmente, às exigências da transdisciplinaridade e da existência de uma ..solidariedade entre os conhecimentos e representações elementares de um indivíduo e os sistemas teóricos autônomos" (Morfl 1984, p.425). Não haveria nesse caso riscos de reducionismo e não seria demasiado cedo? A julgar pelo domínio que acabamos de sobrevoar, parece necessário aprofundar a reflexão a partir de territórios autônomos, abordando, cada um à sua maneira, a interface do psicológico e do social, tendo como única condição o acesso dos pesquisadores a um arsenal de estil0s de argumentação que transcenderá o que cada uma das disciplinas tradicionais propõe. Essa é a esperança no que se refere ao recente interesse pelo desenvolvimento de uma ciência cognitiva (Fodor, 19g1, p. 19). o que vemos atualmente? um espaço de pesquisa que se vem ampliando há vinte anos, com: uma multiplicação dos objetos de representação tomados como temas de pesquisa; abordagens metodológicas que se vão diversificando e fazem um recorte de setores de estudo específicos; problemáticas que visam a delimitar melhor certos aspectos dos fenômenos representativos; a emergência de teorias parciais que explicam estados e processos definidos; paradigmas que se propõem a elucidar, sob certos ângulos, a dinâmica representacional. Tudo isso leva a constituir campos independentes e dotados de instrumentos conceituais e empíricos sólidos, onde florescem trabalhos coerentes. Tudo isso dá a impressão de um universo em expansão no qual se estruturam galáxias de saber. Ao contrário do paradigma informático, que recobre todo o esforço científico sob a capa de uma mesma fôrma, o modelo das representações sociais impulsiona a diversidade e a invenção, ÍÍaz o desafio da complexidade. E, se é verdade o que diz Aron:...É explorando um mundo por essência equívoco que se tem a oportunidade de alcançar a verdade. o conhecirnento não é inacabado porque nos falta a omnisciência, mas porque a riqueza das significações está inscrita no objeto" (1955, p. 167), não terminarnos de explorar sua fecundidade. 41 ACKERMANN, W' et ú' lmaginaires de l'insécurité'Paiis: Klinksieck' 1983' ALBERTINI, J._M. " pJssai_nr, G. ,,Représentarions et initiation scientifique et technique"' In: BELISLE' C' e SCHIELE' B' (orgs')' Les savoirs dans les pratiques quotidiennes' Lyon: CNRS' 1984' ARON, R. L'opium des intelte'ctuels' Paris: Calmann-Lévy' 1955' ASToLFI,J'-P'eGIoRDAN'A.Quelleédu,cationscientifiquepourquellesociété. Paris: PUF, 1973' AUGÉ, M. 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