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texto scaneado 1 - Representações sociais: um domínio em expansão

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CI
RrpnrsrNrnçórs soclAls:
uM oouÍNto EM rxPnNsÃo
Denise Jodelet
Pt1)1(sst)tít titrrlrrr lrt Lr.rlr tlt't llutrtc.ç Étutlt.ç ut .!t lcrttrr 'lot irrlzr íPoriil
empre hii necessidade clc estarmos inÍ'ormados sobre o
rnnndo ir nossa volta. A1ént dc ttos ajustiLr a ele, precisiimos sabcr
como nos colxportar. dominá-lo l'ísicli ou intelec:lrtzrlmer-rte. identificar e resolver
os ploblemas que se apresentam: é por isso que criamos representações. Frente
a esse irrunclo de objetos, pessous. rLcontecimentos ou rdéias, não somos (apenas)
autolatismos. nem estamos isolados num vazio social: partilhamos esse mulldo
Com oS olttros, que ltos Servem dc apoio, às vezes de forma Collvergel]te' outras
pelo cotiÍ1ito, para compleenclê-lo. adrninistrá-lo ou enfrentzi-lo. Eis por que as
representações são sociais e tão imitortantes na vida cotidiana. Elas tros gtLiiint
no moclo de lomeirr e ciefinit cor.r.juntamentc os diíerelttes aspectos da realrdade
diáriri, no moclo de interpretirr esses aspectos. tomar clecisões e, evelltualmente,
posicionlu'-se tretttc a elcs cle Íbrma deÍ'ensiva.
Com as representações sociais, tratamos de fenômertos observíLvcis
diretamentc ou recoltstruídos por nnr trabalho científico. De alguns allos paril
cá, cstes Í-enômcnos vênt-sc tornanclo um asslll-Ito central para as ciêrlcias
humanas. E,m tortto deles constituitt-se um domínio de pesquisa dotaclo cle
instrumentos conceituais e metoclológicos próprios, qtte illteressa a vítrias
clisciplinas, conto se pocle clcpreender da composição deste Iivro. Este capílulo
esboça um qurrdro clestc clor-nínio e das questões tratadas sobre essas realidirdes
mcntais, cuja cvrdêrtcia ttos é sctlsír'cl cotidianamente.
Na realiclaclc, a observação das rcprescntarções sociais é algo ttatural
em rnírltiplas ocasiões. Elas circrtlam nos discursos. são trirzidas pcliis
palavras e vciculaclas crn rrenstgcns L- imiigens rnidiíiticas,r cristlrlizadas
iE
erilÇ{)n(1u'r.}§efílt
I,illr L-\cilrirlo !tirfir
Dtlisr 
.]orlci':t
oi'iiirlriz;rr'Ôe:i nlltefi:trs c üsiliioiais. I\,iaila ntcllti)r do clue
i llt sl iln'
Ri,iriitrsr,rr'.rar;l,s slt-l \l:l ai() l'R \il.\l-ll()
l:StC Cr,:irl1lli, :a i"t'i'Ct-e AL,.r ÍCnCitlL'fiilS rlle aCJIlllalthrU,ri-tr" tt. itirurO
aios ttll(ls 80. o rirrr:"cciii.ttni,.r ria.{iris 
- lrrinliil'li rioeliÇit ctgits histórias móciic;r
c sociltl sr tlesütt\/,.)l"crurtt.iLlilia:r. A rníCia r i,i:i prts§oils se apoderaram clcrste
nral descc.triteci.i.r c eilr'rurho. cu,jn prorinrid*d: ainda lrão tinha siclo revelada.
A ltr-lsêttcitt dc i'r:ii-r;'.Ârri:i.ls irtér,iicas i'ilr,or"ec.LI Lrn-ra qr-ralificnção social da
dot--i"lçli. Dlcsrl')o conr li per"r-irisslio drL lllrallise rjo ili,ccLrrso da míclia na observaÇato
cle unrir liipii!;i erin-!ugrrciio do pr.;gr'.r:r:,c,,le conirccinrenfos cientííicos c de
itrlitslr-'ltr u()il!ii'Llídil\ it!) c\,1r,'ir pLihlicll i-11'l li-l!:iii riiL AiCs c cle suas r,ítirlas(licrziich t-' Ilict'i'cl. i !)8i"i t. .Aiiit-'s rl!.tc a t,retrr.piisit l.-ioióeii1 troyxessc algr_r1s
r'sclltrec:irl.tr::ltlos sililra il IleturerA ria ,{ir,ls. ts ilrssoils rrlaitot ulirrn teolius
apoiaillis rtos cllLLios tlc .1nt ili:rpirnirriir-t. i'eiliti vos iros portliclores (clrogiLrlos.
lretrtiri'íiicos, holitttssc-rltliis. reci:piot'es,lc li.insftrsÕes) c ac]s vetLlrcs clo r-nal
(sltilgLle, cs1.lt:t'tllit). () rluc se sirbir soLxr-- ii llansinissiÍo tJa cloença c cle suas
Vititnlts i-it\r(ll'L'cLrtt. ctn lirriticirliii. li cclt)sa,.) alu dUlrr) concepções: urlla cle tipo
t-trilral t srlciitl. ()Lltia tlc iipo Liiolri*gif,Lr, co!]i il iiti'iLrêneirL eviciente clc, crcla
ttirra tleilts sL)ittc os cr)iltllortar'lienios, nlrs rL.laÇÕcs írrliilas oLr para Lroil irs
|]ú\(oil: irl'..i;tJ:r: I)t i.r ti, -'irt,r,
No pt'itite'iro tipo ii,,' intctpretaclro. e rlirsi(lerii-sc a Airis uma clocnça-
puniçiio LILIL's(i ablrtc sobrc a lic*lrç;L s,-:,'"uirl. Mlrrkor,a e wijkie (1987)
cl]r-:{.]trtrlrrlit'l't lttus trrei0-{ cÍL: corlLtnicitçiir-. c,-1,1.-,.:ur-5 iili qrre lr Aids e Vistlt
tal qtrltl :L síliiis lQLrcttl. i9E(-. I ccirier t:ltirc ili:- irrl;i socieclade llL-rnlssi\1.
ttttttl ctrt.iill'iliir.i'rr,, I'ri jiiq aoiil!tiLii ilc :;rtel.rrL .t r. t-i11)cr ILl tricli0 pelit
ri't'.:s1l'.lllsiiirili'ill'-lc ..cttiltl t!:lt liuguil rJ,.) airiiil !airr pr.ruuitd(ts "os []ons cristittts
tjLle Ilalll SL)llllliJ-r) ;ilr ru urrlllllr-,i'irii' tltti]''. .-,,1-r ltLilrr .1i:tf vtslict. obserr al1 111
rctornL) llos \.il(r!'.-\ l.tilltlt.it';: tr.,.1i,-r-it.1r:. r ,lLi. lcirt!-\eltt.L sitllr,tltaneantL-lttL-
Itnla gllratllia cii llroil;li!) i a)ttir-,r .L ,li,citç-.i e lr cle l'esti cie ut-ntr orcicnt I't'tot-irl
cor-tservltiloi'il, Dlrí l iiinúni[L ,]lL:- rrtc.iid:Lr tlLic \ rs.ilr] rt it\sL-{Lrrilf nnra r.,icla
scxtttll lir,'re llliis slir-itri. lt,trtreLti.rtrr'icnIt'pelo usti clos ltrescrvatitros. Esta
itlterprctltcito lll(lilli r'sL-rL)nliineir , oi atngrliLrncnte aitcorirjlrcla p..ias instâncius
l'tiigioslts. ltritilack ( I 9SE ) cit;r o excln1tio clo tsr'asrl. oude íl Csnfcrê1cia
i\ar:irrttll ilos Bispo-< sL' le lJ!ti,ori coltrii irs captltigrhirs govL-1tâ11L-ntars cle
l''i-ttttrtlÇilo ilo 1lt'rlser','iiti','o. cltuLliÍicando a Aicls de conseqiiônc:ia cla dccadência
j.iltrl".ll. itt.':itdri cli: [-jeus {)Ll yin!liincit dlt natLrlcza. Nesse citso. ti ltroibiçait
t'eligio:;lr vr:io t'elroiçtir iis []r'L-\,/ençÕcs di." urr-i inlrchisnto ambiente bastantr-
clcsettltrii'ir-io: it iltirtlií'ic.:utilo de irorrrosscrulLl couro clesigraçao Llpcnas claqLrelc
Reprrscnilçõrs socirirr: uil rlonrílio cnr exptnsio
que otrllpit uma poslcão lctninirta: os llarceiros ativos não se sertem atilgidos
pelas medicias ligadar; i) hor.riossexualidadr-:, quc julgam clitamantes parr :i
própri os.
E,sta r''isho rroral faz r.la d,-renÇa um estigma social que pode provocar
ostrttcistlo e rejeiçãto e, {la l,.iirte ciaqueies c1r-le são assinr estigl'natizaflos or-r
exclttícios. subrrrisls;io ou rcvolta. Sui:nrissão do travesti brasileiro. cle quen-r
or-n,i: "Não há precaLrcão a tornar. jri clue é unra cloença moral para punir-o
pecacic. Se ela tem dr: r,ir, ,iem". Revolfa ciiiinte cio r,rso soci;ll cla docnça.
coil-sidelacia em lyS-§, por i0)t dos iromosseruais Íl-anceses" como prerexro
parit coudenar a hornc.ssexr-raiidade iPo1lack. i9S8 j. ilevolta cio cantor b;iscc.,
Cchoa, r"1ue disse, em l9E8. nLlntr eniievista ao.ior-nal Ei Correo, ilr-re..;i Aicls
é un-lir cioença inventitda pirra excli-rir os liurnossexuais, sobretudc nos Estacios
{-inidos, onde corneçilram ii surgir preicitos e canrjiciertos homossexuais ii
eleiçãro presiclencial". Revolta do anligo combatente clo vicnrã. atingrdc; pclir
Aids' declaranclo a Lttn 
.!ornalista nova-iorclr-rinc. "Tenilo essa teolia sobr-e a
Aids: u cioença é têitil p.eic hor.nem: é unra conspira.çtio 
-sovernameptai ern
escala rnundial para externriiiar o indese-ji;.r,*1. .Eies quer.em comcrer url
genocÍdio conosco". Estit intetpretaçÍio política e criininai teiJeto os tulrorel
que imputal,/alr) itr epicielnia à experimentai:íio cie r-lm i»odilto para ir slierra
hacteriológica: exprirne uma posição pess<tai rle r,ítima social marginaiiza6a.
apoiando-se tlum precedente histórico: r-. genocíciio. Tcoriii política e cri1nyr1i
que propagil rulllores de forrlir a reiacionar u origem <lo m1i it experrurcnruçi1o
cle um produio r,rtilizacio parir a guerra biológica.
Desde o início. tlt-tt outlo aspecto r.la Arcls accrtolr o público em cheio
- 
slla transnlissho pelo sitltgue e espenrít, danclo ir-rgar a uma visão bioiógicti
rnuito rnais inqllictante: o contiigio pocleria ocorrei também por meic ile
ilutros líquidos corporais além do esilerma. p;rrticularmente il saliva e o;-§Llor
Assirn. reavivavam-se crenÇas antigils, cLr.1o vigor-pulde constatar a pr-opósito
da representaÇão rla, doençii mental (Joderet, lgBg). Estas crenças. cnilc si
crlcoirtram vestígios cia teoria dos hr_rmores, r'ejacicnan-l ocontágio peic..
líquicios cio corpo à srta ost't.tose coirl sangrie e espenrl. Tal como r.rg clso cia
doença r-nental cuia degenercscência afêta os nervos, e o sangue se rr.irrrsr-r.rirc
peia saiir,a e pelo suor. assirn seria corn a Arcls e corrr;r sífilis. ilue poder-n
cotltaminar por mcio do sir-nples contato com rs secreçôes corpurars ou peios
ot-rjetos sobre os quais esrão clepositaclas. Corbin (iL)]7) lembra Llue c:jiíis
crenÇas cotlcir-rzirarn a arbet'l'irçõc's uo círso cla sífliis, mosmo nos meics méciicos
rnais l-enomacios: que eiucuitr-;rções foram tbr.iada.\ a prooósitc da síi'ilis clos
inoccrntes. contarnirados por descuido. As rnesrnas iinteaÇiis se n.:anifcstam
com a Aids:. sabemos os terrorcs cllle inspiraram e continuam u inspir-ar.
apesar dos desmentidos clo corpo rnédico. Este ressur_gimento cle crenças
Denise Jodelet
arcaicas ocorre em virtude da falta de inÍormação. paradoxalmente, isso
faYorece u unla assimilação da Aids a cioenças contagiosas correntes, reforçando
o peso irtquietatlte clesta cloença (Jodelet et al'' 19921) Entretanto' sua força
adr én-i tantbém de seu valor simbólico: c1e scle a Antigtiidade, o perigo do
-, nt.rL.. ;.,rpor.rl ú' um tema Iecorl'elltc do tlisettIso t'ucistlt. que trtiliza u
iei:rencra biológica ptrra funclamentaf a exclrrsão da alteridade (Deiacampagne'
19.i.r]Então,nãoésurpreendenteverLlmmovimentoComoaFrenteNacional
r.rrir,lo sob o mesmo arn/rtema imigrantes e aidéticos, lançar-se contra os
n..os Llc contúgio quc represenlulll esses tr ltimo:. prcconizur pt'ecuuçõc:
obsessivits para as p"srou, que cuidam deles' e' pa'ra o cotpo socierl' medidas
de proteçáo, clreganclo até a criação de espaços reservados, Como o aidetórlo,r
Je conotaçoes sombt'ils,
Detenhamo-llosuminstantenesteexempiohistórico,quetevealguns
claclosrr.rodificadosgraçasàlut;rContraosriscosdeexclusãodaspessoas
irifectadas pelo HIV e os ,is"os de cor-rtá-eio, bem como pela mobllização da
solidarriedade coletiva, ações empreenclidas por cillnpernl-ras de informação e
pelamídia' o que ocorreu.? Um acontecin-retlto Surge no horizonte social, que
nãosepodenlostrtrrinclifereirte:mobilizlltledo,atençãoeumaatil,iclade
cognitiva para compreendê-lo, clominá.lo e clele se deferrder. A faltar cle
infbrn-ração e a incerteza ila ciência favorecem o surgimetlto de rcpresl.-ntrtções
que r,ão circular de boca em boca ou pular cle ut-t.t \eícr'rlo de comutlicaçl-ro
a outl'o. Descle o cartaz brar-rdido nas rlla-§ clos Eslaclos Unidos (Jeanneney'
1987): ,,Deus não criou Adarn e steye" (obset-re-sc u ltnrigetn teleyisiontrdtr
- 
os f.ilhos n. novela "Dinastia", em qlle um. Steve, é homossexuerl - é
elevacla ao nível cra imagem bíbiica do casal Adáo e Eva. parar significar a
ilegitimiclacle cla inversão), ató os jornais, a teleYisão (lnvestidos, alérn drsso,
d. tm papel educativo) e os panfletos políticos ou outros textos alarmisttrs'
Elubo;utlas com o qtle sC ílpl'eSenta. CStitS l'epl'esetttações se itlscl'cvetn
nos cluaclros de pensamento preexistelltes c enr,eredatl por uma moral social -
iaça-se ou não o amálgama erltre perigos físico e moral' A liberdade do sexo
Scgufoseopõeàs.,virtudes,,clatradiçãoeencontfaaíumnovocavalode
batalha. sustentaclo pela irutoriclercie religlosa. vetlores e modelos sociais
.iifresall:} de ccnteúclos diferentes a palavra Aicls, a doençii Lr sutls vítimas'
R.:p.,rJs.nt,rções biológicas corresponclentes a saberes enterrados na memória
._,-i.il re ssurgem, por causa de seu valor sin-rbólico, iis vezes orquestrado cotn
:. :r,..,1íricos e sociiris. Forjam-se palavras portadortrs de rept'esetltaçito:
.- 
-:.., :,.r"t cofllo'-iuclaico", "aidetório" colTlo "sallatório" ou 
"cremltório".'r
i.L rirlrr iirii tilttÍorittnt e airietório (N 'l )
, siir.{rrrro f/r1di./rr? {iudillcoj.'titirtloriLLttt (ridctório)\;T
(\.Llt.ttrrLirrr
Representações sociais: um domínio em expansão ).1
com um poder de evocaçáo tal que induzem a enquadrar 
os doentes numa
categoria à parte e a adotar ou justificar condutas de discriminação'
Assim, duas representações - uma moral e outra 
biológica - são
construídas para acolher um elemento novo: veremos 
que se trata de uma
função cognitiva -uio' da representação socia' O'-UliT;:: "* 
valores
variáveis-segundoo,g*po,sociaisdeondetiramsuassignificações-e
emsaberesanteriores,reavivadosporumasituaçãosocialparticular:e
notaremosquesãoprocessoscentraisnaelaboraçãorepresentativa.Estáo
ligadas tanto a sistemas de pensamento mais amplos' 
ideológicos ou culturais'
a um estado do, 
"o'heciÀentos 
científicos' quanto à condição social e à
"rf"ru 
da experiência privada e afetiva dos indivíduos'
Asinstânciasousubstitutosinstitucionaiseasredesdecomunicação
inforrnais ou da mídia intervêm em sua elaboração' abrindo 
caminho a
processos de influênci a e até mesmo de manipulação 
social 
- 
constataremos
que se trata de fatores determinantes na construção representativa' 
Estas
representações formam um sistema e dão lugar a teorias 
espontâneas' versões
da realidade encarnadas por imagens ou condensadas 
por palavras' umas e
outras carregadas de significações - concluiremot :"" 
t" 
,:lata 
de estados
apreendidos peio estudã científico das representações 
sociais' Finalmente'
por meio destas várias significaçõe'' u' Àp'"'entações expressam aqueles
(indivíduos ou grupos) qi" u' ior111e dáo uma definição específica ao
objero por elas ,"r.ãr"*ru'J"-. Estas definições partilhadas n1|os 
membros de
umrnesmogrupoconstroemumavisãoconsensualdarealidadeparaesse
gr-upo. Esta visão, que pode entrar em conflito com a 
de outros grupos' é um
guia para as ações L trotu' cotidianas - trata-se das funções e da 
dinâmica
sociais das rePresentações'
AsoR»,{cENs oe. NoçÃo DE REPRESENTnçÀo socIAL
Este exemplo mostra' como tantos outros poderiarn 
*,'U':' 
:':^::
representações sociais são fenômenos complexos sempre 
ativados e em açao
na vida social. Em sua tiqrreza como fenômeno' descobrimos 
diversos
elementos (utgun', a' 
'"'"'' 
estudados de modo isolado): informativos'
cognitivos, ideológicos, normativos' crenças' valores' 
atitudes' opiniões'
imagens etc. Contuão, estes elementos sáo oiganizad?.t.t".*qt: 
sob a aparência
de um rub", qu" áiz algo sobre o estado da realidade. É esta totalidade
significanteçlue'emrelaçãocomaação'encontra-senocentrodainvestigação
científica, a qual atribui como tarefa descrevê-la, analisá-la, 
explicá-la em
suas dimensões, formas' processos e funcionamenqotDur'kheim 
(1895) foi o
primeiro a identificar tais objetos como produções mentais sociais' 
extraídos
I
I
1t
fl
?2 Denise Jodelet
deumesrudosobreaideaçáocoletiva.Moscovici(1961)renovouaanálise,
insistindo sobre a especificidade dos fenômenos representativos nas sociedades
contemporâneas. caracterizadas por: intensidade e fluidez das trocas e
comunicações: desenvolvimento da ciência; pluralidade e mobilidade sociais.
\osso exemplo permite também a aproximação de uma primeira
caracierizaçãodarepresentaçãosocial,sobreaqualacomunidadecientífica
estádeacordo:éumaformadeconhecimento'socialmenteelaboradae
partilhada, com um objetivo prírtico, e que contribui para a construção de
uma realidade comum a um conju,to social. Igualmente designada como
saber de senso comum ou ainda saber ingênuo' natural' esta forma de
conhecimento é diferenciada, entre outras, do conhecimento científico'
Entretanto,étidacomoumobjetodeestudotãolegítimoquantoeste,devido
à sua importância na vida social e à elucidação possibilitadora dos processos
cognitivos e das interações sociais
. Geralmente, reconhece-se que as representações sociais - enquanto
sistemas de interpretação que regem nossa relação com o mundo e com os
outros 
- 
orientam 
" 
orguni'o- as condutas e as comunicações sociais' Da
mesmaforma,elasintervêmemprocessosvariados'taiscomoadifusãoeaassimilação dos conhecimentos, o desenvolvimento individual e coletivo' a
definiçãá das identidades pessoais e sociais, a expressão dos grupos e as
transformaçÔes sociais.
Comofenômenoscognitivos,envolvemapertençasocialdosindivíduos
comasimplicaçõesafetivasenormativas'comasinteriorizaçõesde
experiênciai, práticas, modelos de condutas e pensamento' socialmente
inculcados ou transmitidos pela comunicação social, que a ela estão ligadas'
por isso, seu estudo constitui uma contriburção decisiva para a abordagem da
vida mental individual e coletiva. Desse ponto de vista, as representações
sociais são abordadas concomitantemente como produto e processo de uma
atir,idade de apropriação da realidade exterior ao pensamento e de elaboração
psicoiógica e social dessa realidade-. Isto quer dizer que nos interessamos por
uma modalidade de pensamento, sob seu aspecto constituinte - os pÍocessos -
e constituído _ os irodutos ou conteúdos. Modalidade de pensamento cuja
especificidade vem de seu caráter social'
De íato, representar ou se representar corresponde a um ato de pensa-
rnento pelo qual um sujeito se reporta a um objeto' Este pode ser tanto uma
pisso3. quanto .,ma.oisa, um acontecimento material' psíqr-rico ou sociai' um
:in.irneno natural, uma idéia, uma teoria etc.; pode sef tanto real quanto
i:li;su-],áno L-)u mítico, mas é sempre necessário. Não há representação sem
:'r;::.- Quinto ao ato de pensamento pelo qual se estabelece a relação entre
ur,-,,. ; ,:':tlr... e le possui características específicas em relação a outras
Representações sociais: um domínio em expansão 23
atividadesmentais(perceptiva,conceitual'mnemônicaetc')'Poroutrolado'
arepresentaçãomental-"o*oapictórica,ateatraiouapolítica-apresenta
ã.* 
"U:"", o substitui, 
toma seu lugar; torna-o presente quando ele está
distanteouausente.Bassimorepresentantementaldoobjetoqueelarestitui
simbolicamente. Além disso, conteúdo concreto do ato de pensamento' 
a
representação mental traz a marcado sujeito e de sua atividade' Este último
aspecto remete às características de construção' criatividade e 
autonomia da
representação,quecomportamumapartedereconstrução,deinterpretação
do objeto e de expressão do sujeito'
Estas características g"ruis do fato de representaçáo explicam os 
focos
daspesquisasquetratamdasrepresentaçõessociais:consideraçãoda
particularidade do1 objetos; dupla centraÇão - sobre conteúdos e sobre processos;
atenção à dimensão sácial suscetível de infletir a atividade representâtiva 
e seu
produto.Partindodariquezafenomênicaobservadaintuitivamente,asdiferentes
abordagens vão recortai objetos que serão colhidos, analisados e manipulados,
graças á procedimentos empíricos comprovados' para desembocar em 
constructos
científicos,sujeitosatratamentoteórico.Ariquezadanoçãoderepresentação
_ como a diversidade das comentes de pesquisa - presta-se a ângulos 
de ataque
e óticas variados no tratamento dos fenôrnenos representativos. 
vamos tentar
seguir algumas pistas rnaiores' Mas antes' uma constatação'
Vlrelloe»e, TRANSVERSALIDADE E coMPLExtDADE
Qualquer pessoa que observe o campo de pesquisa 
hoje cristalizado
em torno da noção de representação social não deixará de notar 
três
particularidades marcantes: vitalidade, transversalidade e complexidade'
A vitalidade: eis uma noçáo doravante consagrada nas Ciências
Humanasporumusoque,.jáháumadécada'tendeasegeneralizar'Ínasque'
desdeDurkheim,temsidoconstante.Rapidamentecaídaemdesuso,anoção
de representação sociai, após ter sido relançada na Psicologia Social 
por
Moscovici,aindatevedepassarporumperíododelatência,antesdemobilizar
uma vasta corrente de pesquisà da qual a bibliografia constante no 
início
deste livro dá uma p.i*"i.a iaeia. Esia intensificação é atestada não só pela
quantidade de publicações, mas também pela diversidade dos países onde 
é
empregada,dosdomíniosondeéaplicada,dasabordagensmetodológicase
teóricas que insPira.
Tal conquista se explica pela supressão de obstáculos de tipo
epistemológico que impediram o dãsdobramento da noção. Sob esse 
ângulo,
Moscovici (cap. 2) aborda a fase que precedeu a retomada da noção de
representação sociuí. para o período seguinte, indiquei em outras obras 
(Jodelet,
Denisc Todeletll
l9t-l e itlsa r arrlno sell desellvolvimento teve cle enfrentar' dentre 
outros' um
11,,n1rr rnr-iirrrt',r11l1ellto. Primeiramente' em Psicoiogia' por causa do 
donlfuio
!!Lrt i! .-r--
ilo n-r..J:1.. L.:h.iriorrsta, que negava qualquer valiclade à 
consideração dos
iit]t.t-t.t.i-t...ll-j.ntiliSede,sua",p".ifi"id..cle.Emsegtrida.nasCiênciasSociais,
:nt rrr.:r-iJ: do clornínio cle ummoclelo marxista. ctljlt eoncepçao 
mecanicista
J.r: l.:11çÕes entre ilfra e superestrLltur;I negava qualquer legitimidade 
a este
rrntpL-r de estuclo, tiàÀ to*o povoado ct" pt-"os rellexos ou suspeito 
de
rje:.1isn-io'Masaevoluçãoclaspesqutsaseitsnruclançasdeparadigrnasl-}as
lir e rsas Ciências Humanas d.uÁ1ue.r,rn à noçiro tocla sua artualidade, 
trbrirtclo
p.r.pa.ti.'", Í'ecunclas, inclusive corn novi-ts pesquisrrs'
Em Psicologia prodr-rziu-se ulra rel'iravolta' clescrita por Markus 
c
Zajonc(1987), q.t" foi ao encontro do ponto de vista clefendido desde 
1961
por Moscovicr. Nos trnos 70' com o cleclínio do Behaviorismo 
e as revoluções
cio rre r.r, look, e,nos anos g0, clo cognitir,ismo. o paradigmar 
estímulo-resposta
(S-R) se enriqueceu progtessiva''Àt"' Em utn primeiro momento' o strieito
- 
denominado o,g"ni"oã - e in'"gtaclo ao esquen-)i1 original como 
instância
rr-rediadora entre o estímulo e a respostll, traduziclo 
peio esquema s-o-R' En-t
um segunclo momellto' levando-se em col-]ta as esrlLtturas mL'lltlri 
s' as
representações - estaclos psicológicos interllos corresponclentes 
Ll unlil
construção cognitiva ativa ào arnbiente, tributária c1e fatores 
inclividr-rais e
sociais-reoebemunlpapelcriaclornoprocessocleelaborirçãodacondutti.
O que o esqllema O-S-O-R exprirle' que' pol'sua \rez coirlcide 
com a proposta
de Moscovici em sua crítica ao esquema- s-R. ero clizer 
que a rept'esetltiLçito
cletermina ao mesmo tempo o estímulo e i1 resposta. é 
que não há "rulltura
elltre o ttniverso extefno e o unir,erso itlterno clo indrr.íduo 
(otr do grupo)',
(1969, P.9)
o conceito, renovaclor em psicologia Social, aparece como 
reuniticador
,ns ciências soci.is A muclança clas concepções cle ideologia 
(transformada'
Coll]ostrabalhosdaescolaalthusseriana,eminstânciirautônoma,contextode
tocltipráticrr'produzincloefeitoscleconhecimentoedotadadeumaeficácia
própria)levirirsupefarasirporiasdarhierarquizrrçãrodosníveisdaestruturzi
socialeareabilitararepresentação,Estaéconcebiclapelohistorradorcomo
rlrn elemento necessário à cadeia conceitual, permitinclo pensar 
"as relirções
-nire o rr-raterii.rl e o mental na evolução clas sociedacles" (Duby' 1978' p" 201'
(--t :Lnrlopólogo lhe confere Lrs seglrintes ptopt-i:111"s: particularizar' 
em ciida
. i:.nriçr-to social. a ordem cultural (Héntier' 1979); ser constittttiva do real e
---: -r'r:r1rizi1ção sociirl (Augé, 1974; Godelier' 1984); ter Lrma ef icácia própria
: . .r.. 'il-11-ser. Para o sociólogo' elir erpiica comportamentos 
políticos
I I _ . .., . Srnror t. lgj j) c religiosos (Maitre, 1912) c apitrecc-. r'irL stt;'t
- : . -.- l'--: lillir'l'lgclll e 511'l lLceitação pelo discurso po1ítico' colrio 
um
Representações sociais: um domínio em expansão Z5
fator de transformaçáo social (Bourdieu, r9B2; Faye, lg73). Desde 1961,
algumas propriedades são atribuídas à representação social 
por Moscovici'
com quem 
"onr"rg"*, fot 
ouoo lado' a.sociologia do Conhecimento elaborada
no quadro do interacionismo simbólico (Berger e Luckman ' 1966)' a
Etnometodologia (Cicourel, 1973) e a Fenomenãtogia (Schutz' 1962)' 
que''relacionam a realidade social a uma construção consensual, 
estabelecida na
interação e na comunicação'
Entretanto, esta dinâmica - que ultrapassa amplamente 
os limites do
domínio psicossocioúil; - não i suficiente para explicar sua fisionomia
atual. É preciso tambeã se reportar à fecundidade da noção, mensurável 
pela
diversidade das perspectivas L dos debates que suscita' 
Uma das razões que
levaram Moscovici õgeg,1gg4) a restabelecer o uso da noção foi a reação
contra a insuficiência dos'conceitos da 
psicologia social, a limitação de seus
objetos e paradigmas' Esta perspectiva ctítica pode provocar uma certa
imprecisão nocional, razáo rlÁbém de fecundidade. Na realidade' autorizou
empreendim"nto,"mpí.icoseconceituaisdiversoseaarticulaçãodaconcepção
psicossociológica à áe outras disciplinas' É também motivo de vitalidade na
medida em que autoriza interpretações múltiplas da noção e 
das discussões
quesãofontedeavançosteóricos.Esteflorescimentoserelacionadiretamente
com outras características que menclonamos: transversalidade 
e complexidade.
Situadanainterfacedopsicológicoedosocial,estanoçãointeressaa
todas as ciências Humanas: é encontrada em sociologia, Antropologia 
e
História, estudada em suas relações com a ideologia, os sistemas 
simbólicos
e as atitudes sociais refletidas peías mentalidades' Sperber 
(cap' 4) e Laplantine
(cap. 13) ilustram assim a oieracionalidade da noção e seu enriquecimento
emAntropologia.Elaalcançaigualmente,viaprocessoscognitivosenvolvidos,
o campo da Psicologia Coinitiva' da cognição socialrcom ig'Doise 
(cap'
10 e 16), Semin i"up ii) e Hewstone (cap' 12) examinam algumas
articulações.n"-"t"'Ooaumaformadepensamento'seu"iTdodizrespeito
tambémàlógicaabordadasobseuu,p""tonatural,porGrize(cap.6),ou
social, por Windish (cap' 7)' Ainda não é tudo' Como mostram Kaês (cap'
3), Chombart de Lauwe e Feuerhahn (cap' 15)' pode-se observar na produção
representativa o jogo da fanrasmagoria individual e do imaginário social, o
qrr" no, remete à psicanálise. Da mesma forma, o papel da linguagem 
nos
fenômenosrepresentativosanalisadosporHarré(cap.5)envolvetambéma
reflexão dos reóricos da linguagem (Fodor, 1981; searle' 1983). Esta
multiplicidade de relações coà disciplinas próximas confere ao tratamento
psicossociológico da iepresentação um estatuto tt1"ty:--nue interpela e
articula diversos 
"u1npo, 
de pesquisa, reclamando náo uma justaposição' mas
uma real coordenação de seus pontos de vista' Sem dúvida' nessa
t
I
Z() Denise Jodeiet
transversalidaderesideumadasConüibuiçõesmaispfomissorasdessecampo
de estudo'
Portanto' a noçáo de representação 
social apresenta' "?T: "t 
fenômenos
qu""rup"ài,",'"T3,T#[kti*#;;#;Iü?#T"":";]"i"":'
tratamento. "Sua postçaY ""']^^I^-,.^." (Moscovici. I976, 1
sociológicos 
" 
o" 
"i'illi''"'' n'l""ro*t""'': 
(ü;;o'i"i' rqro' !' 39) implica
sua relaçáo 
"o*,.oã,o, 
a. aina*i"u. ,o"iut e psíquica 
e Com a elaboraçao
de um sistema t"ó'i""";;Jém "ompi"xl'-pot '*-lado' 
deve-se levar em'
consideraçá" " 
t n"i J,;;;;; ""r"ul:;,; ;" |"= jil:"TiJ,",1ilil;+!lü
*:i; *';:::nx "H:":,T: "=,fi ; ã''i' n'" 
d as rep re s entaç õ e s
;;;,;"are,adasH'^[.1,.":"*if fi*t;"+il,r-+]:',""'Jq{Ti
áe já efetivado. es 
esrudadas articulandllr=.'"I.*"n,os 
af,etivos. mentars e
l*: 3il:#J;""1; t"- áu ""e"iiá"' da linguag"i":{:J:T:#;::X:
- 
a consideruçao O'l '"üOUt' 
sociais que' aletam as representaç'
marerial, social e ,â'"iH;;r" u quui "t", 
,áã o" lnter'iiE nessa perspectlva
que Moscov'"' 
'"'*"i"' 
-t 
dt"n'olut'"=;;;;a tcf' principalmente 
1976'
1981, I 982 e 
'';;;-q]l" 
constitui 
"o*;;;"tativa 
sistemática e globat
existenre r'ro3" 
"*"ãiu,ll"-o 
t"*ura Kerzlich {1912)' 
- entre os pólos
De fato' ;"*^ exploraçáo em 
permanente tensao
psicológico"'" 
j''*i:""'"àit"1""""'ú"i;;'Ji'"tl]1:;il*H:::"'H;
em campo ti'"tu* freqüentement^e s:u 
foco' por preocupaçac
;;;;;"T""lTJ'#[§:*X*í;'lm:*';,n]"?liiiJlllil
às vezes, o rlsco
los em ,.o.",,u,"",0,"ã;;;; * 
JH;.ã.ã",.""olvimento teórico 
da
noção poa" pua"""' O" f*ituções 
e 
'"ã"lonl'*os' 
o que é preciso evitar'
como sublinha Doise:
Apluraiidadedeabordagensdanoçãoeadiversidadedesignificaçõesqueveiculam
fazem dela um insrrumen,o 
o" nuoor"nl i,,tttt ot manipular' Mas 
a própria riqueza
eavariedadedostrabalhosin'pi'udo'porelafazemcomquesehesiteemfazê-
laevoluirpoÍumreducionismoq*p,luir"-'iuaa.porexemplo,umaabordagem
exclusivamentepsicológicaou,o.,I,ã,,.u'-s..i*exatamentetirar-lhesuafunçáo
de articulaçáo de diferentes 
sistemas elplicativos' \ão se pode 
eliminar da noçáo'
d",.p.","ntoçãosocial^,,*"*".,^saosmúltiplosprocessosindividuais,'
interindividuais,intergrupaiseideológicosquefreqüentementereagemmutuamente
unsaosoutrosecujasdinâmicasdeJonluntoresultamnessasrealidadesvivasque
sáo'emúltimainstântiu'o"tpt""';;üttsociais(Doise'i986'pp.19-83)'
Representações socÍais: um dornínio em expansão
Além disso, deve-se desenvolver a teoria em uma abordagem que
respeite a complexidade dos fenômenos e da noção, mesmo que isso pareça
um grande desafio.
O esreço DE ESTUDo DAS REPRESENTAÇoES socIAIS
Durante mais de vinte anos, constituiu-se, particularmente em Psicologia
Social, um campo, objeto de matórias de revistas e de comentários diversos
(Codol, 1969;Farr, 1977, lg84 e 1987;Hané, 1984;Herulich, 1972; Jodelet'
1984; Potter e Litton, 1985), cujas conquistas apresentam nítidas
convergências. Entretanto, a multiplicidade das perspectivas desenha territórios
mais ou menos autônomos, em função da ênfase dada a aspectos específicos
dos fenômenos representativos. Daí resulta um espaço de estudo
multidimensional que vamos tentar balizar, com o auxflio do quadro 1, que
sintetiza as problemáticas e seus eixos de desenvolvimento'
No centro desse quadro figura o esquema de base, que caractenza a
representação como uma forma de saber prático ligando um sujeito a um
objeto. Todos os territórios se reúnem nesse esquema, mesmo que confiram
a seus termos um alcance e implicações variáveis. Nele encontramos elementos
e relações, já mencionados, cujas modalidades as pesquisas buscam especificar
e explicar. Vejamos quais são, antes de examinar as pesquisas:
. a representação social é sempre representação de alguma coisa (objeto)
e de alguém (sujeito). As características do sujeito e do objeto nela
se manifestam;
. a--re.p,r9sen-tação social tem c9m §-sÀp.uetq,!Lr"I1ê- rel-49ãs,dc§t4[búe94o.
(substituindo:o) e de inteqpretação (conferindq:lhq,signf!çaçÕes)'
Estas significações resultam de uma atividade q]dle faz da representação
uma construção e uma expressão do sujeito. Esta atividade pode remeter
a processos cognitivos 
- 
o sujeito é então considerado de um ponto de
vista epistêmico 
-, assim como a mecanismos intrapsíquicos (projeções
fantasmáticas, investimentos pulsionais, identitários, motivações etc.)
- 
o sujeito é considerado de um ponto de vista psicológico. ffis a
particularidade do estudo das representações sociais é o fato de iitegrar
na análise desses processos a pertença e a participação,'sociais ou
culturais, do sujeito.lÉ o que a distingue de uma perspectiva puramente
cognitivista ou cÍiiiica. Por outro lado, ela também pode relacionar-se
à atividade mental de um grupo ou de uma coletividade, ou considerar
essa atividade como o efeito de processos ideológicos que atravessam
os indivíduos. Mais adiante voltaremos a esses pontos essenciaisl
2.7
v.
Dcntse Torlelet
' forma de saber: a representllção 
será apresentada como Llma
rr-roclelizirçãocioobjetodiretamentelegírelem|ouinferidade)diversos
sr-lportes lingüísticos' colxportament]rs ou 
nraterjtris' Todo estudo de
represetrtarçã" ;;;;;u-;"; uma, aná1ise das 
características li gaclas ao
fato de qu" 
"t" 
é uma forma cle collhecitnento'' qualificar esse- sabet de 
priitico 
" 
''"tt" 
i\ experiência a partir dar
Llual ele ó produzrdo' tlos contextos 
e condições em que ele o é e'
sobretudo, ao iato de qr-re a representação 
serve para.irgir sobre.o
mundo e o outro, o que clesemboca 
e m :r-r-is funções e eficácla soclals'
A posição ocupada peia represeni"f"' no 
aiustamento prático do
sujeito tr seu meio fará com qr- ..,. cFralificada 
por alguns cie
comProt-uisso Psicossocial'
Asquestõeslevantadaspelaarticuil-tc|t....1.-:ticot.tjl.rt-rtocleelenrentose
clerelaçõespoclemserconcletlsadasna,.....i,-,,.iorn.rr.tl:tçáo:..Quemsabee
de oncle sabe?"; ''-;;;;"";mo.'"t'"?'' 
"§'rfLi Lr que sabe e com que
efeitos?". Rstas pergunttrs desembocam 
em três orilerls de probtemáticas
apresentada,, ao 
"'qt'JJ" 
p"'o a chreita' rro qut'l'o t .i' t"']11::'"'t de produção
e de circulirção; b) pl'ocessos " "'t^do'' c) 'st'1tl1tLr 
epistemológico das
representaçõ"' 
'o"i"ii' 
iu"'nt"o'"*:1.::t t'" inter'1:p'er.rclentes e abrangem
o, ,"trrr,, áos trabalhos teóricos e emplrlct)\
Se accmpanh;;"; o histórico ds ç'rnrnLr '1: 
pc'qulsa' teremos de nos
voltar à relação da representação con-i 
.r".i t-,a" '. ,,'totitdode' De fato'
quando Moscovici t"'ol'ot't o i9nt"it1 
iie Dr-rikhertt.t trao foi apenas truma
perspectiva crítica, que tinha' ""u'lllT.'l],ltitntttt' 
to"'rutiva: dar à Psicologia
social objetos 
" '"tt""'tos conceituais 
clue }t-t-"'-lt:'l:um conhecimento
cumulatir.o,emcontatodiretocomasler.l:1..]eil-.rsql'restõescolocadaspela
vidasocialAobraA,tsiccrnúlise'stt(L'"t't'"'''s, itp'Liblico'seguindoa
derir,a cle uma,"o,l^ tián'ffica - a Psicanirhtc - 
i medldL-que penetrava nà
sociedade, 
"n,",ai"-".,tar 
contribuitltit.. L1JL.1 Ll1ll.1 pslcossociologia 
do
conhecinrento"ntaoi,"xistente'aoladod.u,-,-,.>t].101ogit]clocorrhecimento
florescenteecieumaeprstemologiaclosensoç.CI1-}LlIlltecém-nascida(Heider.
1958)' Este estudo do choclue entre utlla teori'lL 
I os rrloclos de pensamento
próprlos o alt"'"nt"'*f"fot"o"iui' clelimitai r Jtrlllrr 
tt otl"^tl"u tlansformação
de um saber (cientifijojnum outro (setlso cLrtllLllllr' 
\1ce-veISa' Dois eixos
Lt- preocr-rpação esrão aí associaclo'- "-f1]]:''l: :;,:lii:i:tfi:tfl.l""rXil
;:*;: ill'Ji:#il'[ :' Jl;:ii:":,1".i::' :]''' "' " ;;"' d"' " "'"'ter ístic as
'll.:lntirrsaop",,,on-,el]tonatul.tllenlrelitçitoilopellsamentocientífico
\i,-'sirrtcl e Heu'stone' 1983 e 1984)' O 'eg'-rnclo eiro 
cliz respeito à dlfusão
Representações sociais: um domfuio em expansão
dos conhecimentos a que fazem referência schiele e Boucher (cap. 19). Ecoa
nos trabalhos que examinam, além da interdependência entre os processos
de representaçáo e de vulgarização (Ackermann et al'' 1963' l97l e 1973-
74;Barbichon,l9TZ;Roqueplo,lg74),aênfasedada'comumainsistência
crescente, em didática dàs ciências e formação de adultos, ao papei das
representações sociais como sistema de acolhimento' podendo criar
obstáculos ou servir de ponto de apoio pafa a assimilação do saber científico
e técnico (Albertini e Dussault, 1984; Astolfi, Giordan etal.,1978 Audigier
et al., 1986).
Estas duas óticas convergem em relação ao fato de que o conhecimento
ingênuo não deve ser invalidado como falso ou enviesado, o que vai ao
encontro de certos postulados cognitivistas, segundo os quais existiriam vieses
naturais, inerentes ao funcionamento mental espontâneo (por exemplo, na
atribuição de causalidade). Trata-se de um conhecimento "outro", diferente
da ciência, mas que é adaptado à ação sobre o mundo e mesmo corroborado
por ela. Sua espLcificidade, justificada por formação e finalidades sociais,
constitui-se em objeto de estudo episternológico não apenas legítimo mas
necessário para compreender plenamente os mecanismos do pensamento, além
de ser pertinente para trataÍ do próprio saber científico, exemplificado por
Palmonari e Zani (cap. 14) no campo da Psicologia'
Assim, aproximamo-nos de um postulado fundamental no estudo das
representações iociais: o da inter-relação, da correspondência, entre as formas
de organização e de comunicação sociais e as modalidades do pensamento
social, considerado sob o ângulo de suas categorias, de suas operações e de
sua lógica. Sua primeira formulação foi feita por Durkheim' que insistia no
isomorfismo entre representações e instituições: as categorias, que servem à
classificação das coiias, são solidárias às formas de agrupamento social; as
relações entre classes o são face àquelas que organizam a sociedade' O
postulado foi diferentemente desenvolvido, segundo os autores tenham dirigido
sua atenção sobre o vínculo existente entre comunicação social de um lado
ou estrutura social de outro, e representações'
SosRe o PAPEL oe corvtuNtcRçÃo
o postulado visto acima é uma hipótese forte em Moscovici, que explica
os fenômenos cognitivos a partir das divisões e interações sociais. Por diversas
razóes, insistiu particularmente no papel da comunicação social: primeiro,
trata-se de um objeto próprio da Psicologia Social que contribui, de modo
original, para a abordagem dos fenômenos cognitivos' Em seguida' a
comunicação desempenha um papel fundamental nas trocas e interações que
?o
:
i
t{
30 Denise Jodelet
concoÍrem para a criação de um universo consensual' 
Finalmente' remete a
fenômenosdernfluênciaedepertençasociaisdecisivosnaelaboraçáodos
sistemas intelectuais e de suas formas' :1rr três níveis:
A incidência da comunicação é examinada 
por Moscovrcr e
1) Ao nível da emergência das representações cujas 
condições afetam
os aspectos cogniti'os' O"í"" ""u' condições' 
encontram-se: a di'sp-er§ão-e
a defasagem Oa' i'-ttã'*ações relativas ao 
objeto representado e que sao
desigualmenle acessíveis de acordo com os 
grup-:s' ojo": 
:":T^:"n"t 
aspectos
do objeto, em funçao dos interesses e da implicaçt: 
O-":-::l:itos; a pressao
à inferêaç,ia ref-erenre à necessidade de 
agir'-àe tomar T:'::: ":i" :?:: :
reconhecimento e a adesão dos outros - 
elementos que vão diferenctar o
pensamento natural em suas operações' sya lOSlc]-e^":t-1"::::"'
2) Ao nível dos processos de formação dai reprqsentilll,]: 3'"bj:t:li:i;:"
e a ancoragu* Oo" 
"*'pli"u* 
u interdependência entre-1::t.:Oud" cognltlva
esuascondiçõessociaisdeexercício,nosplanosdaorganlzaçáodosconteúdos,
das significações e da utilidade que the são 
conferidas;
3) Ao nível das dimensões das representações relacionadas 
à edificação
da conduta: opiniao, aiituJe e estereótipo' 
sobre os quais intervêm os sistemas
de comunicação midiáticos. Estes, segundo 
pesquisas dos efeitos sobre sua
audiência, tc* proprJades estruturais diferent"r. 
.o."tpondentes à difusão'
à propagaçã" 
" 
à ;;;;;ganda' A difuúo é reiacionada com 
a formação das
opiniões; u p,opurffi'""o* u formação das atitudes 
e a propaganda com a
dos estereótiPos'
Assim, a comunicação social' sob seus aspectos 
interindividuais'
institucionaisemidiáticos'aparececomocondiçãodepossibilidadeede
determinação das representações e do pensamento 
sociais' Numerosos autores
desenvolver"* 
"'"i;;';;;;à"' de. 
tal-estat":- ?Í."-lY e neste livro)
relaciona os processos de esquema ttzaçáodas 
representações e as propriedades
da lógica nu"'ui"J' 
'"'"iâ"t de influência 
envoli''id:: 
,1"t 
situações de
interlocução, influência essa que visa a fazer 
de suas idéias evidências
objetivas. Da mesma forma' as relaçOes de influência 
fundamentam o papel
dacomunicaçãonosmeioscientíficos(Knorr-Cetina,1981),quandoSetrata
da fabricação da ciência e de seus fatos:
De todas as atividades humanas' a fabricação 
dos latos é a mais intensamente
social:foiessaevirlênciaquepemitiurecentementeàsociologiadasciências
desenvolver-seOdestinodeumenunciadoestá'literalmente'nasmãosdeuma
multidão:cadaumpodeesquecê-lo.contradizê-lo.traduzi-lo,modificá-lo,Representações sociais: um domínio em expansão
transformá-lo em artefato, escarnecer dele, introduzi-lo num outro contexto a
título de premissa, ou, em alguns casos, verificá-lo, comprová-lo e passá-lo tal
qual a outra pessoa, que, por sua vez, o passará adiante. A expressão "é um fato"
não define a essência de certos enunciados, mas alguns percursos pela multidão
(Latour, 1983).
ii Este percurso náo diz respeito apenas ao fato científico: está na base
i de muitas produções mentais institucionais. Isso é particularmente visível nas
i comunidades urbanas ou rurais, cujas unidade e identidade são asseguradas
pelas trocas informais estabelecidas entre os grupos "co-ativos" (Maget, 1955)
que as compõem. Eles partilham o mesmo tipo de atividade, constituindo, de
modo dialógico, o sistema normativo e nocional que rege sua vida profissional
e cotidiana. Este processo aclara os obstáculos encontrados pela transferência
e pela mudança tecnológica exemplificada por Darré (1985), a propósito da
criação de animais no meio camponês.
Existem igualmente causas emocionais na fabricaçáo dos fatos. Dessa
forma, a comunicação serve de válvula para liberar os sentimentos disfóricos
suscitados por situações coletivas ansiógenas ou mal toleradas. É o que ocorre
com os fenômenos de boatos que surgem f,reqüentemente no rneio urbano por
ocasião de crises ou conflitos intergrupais (Morin, 1970). O medo e a rejeição
da alteridade, entre outros, suscitam trocas que dão corpo a informações ou
acontecimentos fictícios. Assim, criam-se verdadeiras "lendas urbanas"
(Brunvand, 1 981 ), cujos temas apresentam uma notável estabilidade no ternpo
e no espaço (Campion-Vincent, 1989). A atuação do imaginário coletivo na
comunicação é também ilustrada pelo discurso sobre a insegurança
(Ackermann, Dulong, Jeudy, 1983). Os relatos que as vítimas de agressão
(roubos, ataques etc.) fazem do que lhes aconteceu seguem ao pé da letra um
mesmo roteiro, retomado coletivamente, e permitem situar-se numa mesma
categoria vitimada, forma de uma nova solidariedade social. Encontramos
fenômenos semelhantes em relação à Aids.
Em seu capítulo, Sperber insiste sobre a importância de considerar a
circulação das representações culturais. Sua observação vai além da
Antropologia. As pesquisas que abordam as representações como formas de
expressão cultural remetem mais ou menos diretamente a tais processos de
difusão, quer se trate de códigos sociais, que servem para interpretar as
experiências do indivíduo em sociedade 
- 
por exemplo, a da doença (Herzlich,
1969) 
-, quer se trate de valores e modelos que servem para definir um estatlrto
social 
- 
por exemplo, a mulher, a criança (Chombart de Lauwe, 1963 e 1911)
- 
ou, ainda, a dos símbolos e invariantes que servem paÍa pensaÍ entidades
coletivas 
- 
por exemplo, o grupo (Kaês, 1976) e a loucura (Schurmans' 1985).
3r
I
I
I
,i
I
t'Z Denise Jodelet
Destes exemplos' sobressai a importância 
primordial da comunicação
nos fenômeno, 
'"p'"*ntativos' 
Primeiro' ela é o 
'":t 1:-:1,*smissão 
da
lingua-eem,portadoraemsimesmaderepresentações'Emseguida'elaincide
sobre os aspectos estrÚurais e formais do pensamento 
social' à medida que
engaja processos a" ini"'uçao sociaf influência' coRsenso 
ou dissenso e
polêmica. Finalmente,'"f' 
"à'"iUui 
para forjar representações que' apoiadas
numa energética sociatr' são pertinentes para 
a vida ptát'ica e afetiva dos
grupos. Energética e pertinência sociais que explicam' 
juntamente com o
poder performático àui putu"us e dos.dis"u"oi' a 
força-com a qual as
representaçõ"s instatiil?"0"' da realidade' comuns e partilhadas'
O soct.ql: DA PARTILHA A vlDA coLETIVA
Há quem credite todo seu alcance àpartilha t""iil1i:^t:presentações'
Seu caráter é freqfientemente reduzido à dimensão 
extensiva no seio de um
grupo ou da sociedade' o que dá margem a algumas 
críticas (Harré' 1985)'
aliás, formutuAu' porUoscàvici desde i96i' Este critério 
corre o risco de ser
puramenteformalereducionistasenãoseconsideraradinâmicasocialque
o sustenta. Na rearidade, pode-se dizer que se 
partilha_uma mesma to:_t1::
representação, como se partilha um mesmo destino? 
Náo me parece' pols a
,"p r", 
"r, 
ui ao,"p o J o'i'.r.: :: * ::^ i*,ff ;: "ff::ff ã:#:: : r"::ffi#
crença. Como observa Veyne a proposl
sociais do conhecimento náo se piendem tanto 
à sua distribuição entre vários
indivíduos, e sim à questão de que "o pensamento 
de cada,um deles é' de
diversas maneiras,;;;;p.ro iuto de os outros pensarem da 
mesma forma
sobre aigo" (1g14, p'14)' Sem receto' pode-se acreditar no que dizem 
os
especialistas: não se ioa" uoqoirir o_conhecimento 
por uma espécie de "divisão
do trabalho fingiii'tiJ' (Puinam' lg15)' Além do mais' a interiorização 
do
outro favorece 
.,a edificação de castelos de cartas (onde cada indivíduo ó 
uma
carta) que desmoronam um beio dia' porque o apoio de 
uns sobre os outros
desabou" (VeYne, idem' P' B0)'
Certamente, t'a t"p'"'"ntações que cabem em nós 
como uma luva ou
que atravessam os indivíduos: as impostas pela 
ideologia dominante ou as
que estão ügadas; ;" condição definida 'o .seio Oa e1111ura 
social' Mas'
mesmo nestes 
"^ot u nurtilha implica 
uma dinâmica social que explica a
especificidade das ãpresentações' ! o Oue vêm desenvo.lvendo 
as pesquisas
que relacionam o c'atâter sÁcial du '"p'"'""tação 
à inserção social dos
indir'íduos. O r,,gut,l io'içao social que eles ocuparn * ": y:::::::
assumemdetermrnamosconteúdosrepresentacionaisesuaorganflaçao,por
meio da relação ideológica que mantêm com o 
mundo social (Plon' 1917)'
__'"4"*-'.,,nto_
@Àa-Ào ---pnocEssosEESrADosDAS
DASREPRESENTAÇÕES SOCIAIS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
--- ESrA@
REPRESEI'IIAÇÕES soclAIS
Cultura (coletiva / de gruPo)
" valores
" modelos
" 
invariantes
Linguagem e Comunicação
. interpessoal
. institucional
. midiática
Sociedade
. partilha e víuculo social
. contexto ideológico, histórico
. inscrição social
- 
posição
- 
lugar e função sociais
- 
pertença gruPal
. organização social
instituições
, \,ida dos grupos
suportes
conteúdos
estrutura
Processos
1ógica
Valor de verdade
. relações entre Pensamentos
natural e cientíltco
. difusão dos conhecimentos
" tÍansformação de um saber em
outro
' epistemologia do senso comum
Representação e Ciência
EóRMApESAãRl
modelização
rconstrução
lsu.lBrroL-
I
epistêmico Ipsicologico I
interyretÀção
hununo
social Representâção e Real
Defasagem
. distorção
. subtração
. suplementação
Valor de realidade
social expressáQ
coletivo
ideal
mâterial
compromisso Psicossocial
PRÁTICA
Experiêrcia Açáo
Função das reprcsentações sociais
Eficácia das representàçoes sôclaIs
Quem sabe e de onde sabe? O que e como sabe?
Quadro 1. O esPaço de estudo das
Sobre o que sabe e com que efeitos?
representações sociais
34
Denise Todelet
aSnorTnasinstitucionaiseosmodelosideológicosaosquaisobedecem.Gilly
(cap. 12) examina a articulação entre estes elementos no caso do sistema
educacional. Vergàs (cap' 18) analisa sob uma ótica semelhante os
componentes e determinantes das representações econômicas'
Outros trabalhos, como o de Kaôs (1968) e o de Larrue (1912)
sobre as representaçO"s Oo cultura' ilustram o fato de 
que partilhar uma
mesma condição social (a condição operária) - que é acompanhada de
uma reração com o mundo, valores, moderos de vida, 
imposições ou desejos
específicos - produz efeitos sobre o modo de conceber 
a cultura' O mesmo
éválidopaÍaapressãoexercidapelaideologiadifundidapelosaparellros
de Estado, como o Judiciário (Robert e Faugeron' 1978)': qu" estrutura'
por meio das atitudes sociais' os campos de represeutação 
relativos aos
diferentes domíniose atores do sistema penal. Em todos 
estes casos, a
partilha social se refere a um mecanismo de determinações 
ligadas à
estrutura e às relações sociais'
Entretanto,mesmonessescasosdedeterminaçáo'emqueapaltilhll
dasrepresentaçõesérrmdadopreexistenteàcomunicação,podem-seobservirr
fenômenos de aderência às formas de pensamento da classe' 
do meio ou do
grllpoaquesepertence,porCausadasoltdariedadeeclaafiliaçãosociais.
Partilharumaidéiaouumalinguagemétambémafirmarumvínculosocial
e uma identrdade. Não faltam exemplos de que essa função 
é evidente, quanto
mais náo tbsse na esfera religiosa ou poiítica' A partrlha serve 
à afirmação
simbólica de uma unidade e de uma pertença. A adesão coletiva 
contribui
paraoestabelecimentoeoreforçodovínculosocial'Ora'comoobserva
Douglas (1986), nas Ciências Sociais prendemo-nos pouco "ao papel 
da
cognição na formação do vínculo social" 1p 19) Acrescenta que se leva
pouco em consideraçao o que se sabe muito bem: "Os gfllpos 
têm lnfluôncia
sobre o pensamento de seus membros e desenvolvem ató 
mesmo estilos de
pensamentodistintivos"(p21)'Olhandopeloângulodasrepresentaçõese
dassolidariedadesqueelasengendram,estamosprontosaelucidarosaspectoS
cognitivos que constituem a matérra e a trama da vida social' 
Assim' a
capacidade de extensão das representações permite captar' ao 
nível dos
atributos intelectuais de uma coletividade, u "*pr"srão 
de sua particularidade'
É o que mostrou Moscovici a propósito das represetltações da Psicanálise'
pelasquaisosdiÍ.erentesgrllposdefinemseusColltornosesuaiderrtrdade.A
expressão identitária 1a t'a'iu sido sublinhada por Durkheim: 
"O que ars
."irerentoções coletivas traduzem é o modo como o glllpo se 
pensa em suas
relações com os objetos clue o irfetam" (1895' p' xvii)'
ilcprcsentaçõcs sociats: unt domírlio cnl erpltnsãc
FL NCor.S S( )ClÂlS L Rl-.LÀÇÃo c( )l\l Í ) l{E \L
Compreencie-se que a representação preer-rcha certas furlções nA 11ltlnu-
renÇão cla ideltidade social e clo eqr-ri1íbrio sociocognitivo a ela ligacios. Basta
observar as defesas rnobilizirdas pela lrrupção da r-rovidade. Quando a
Pslcanáiise apareceli, foi sentida como uma ameaça, porcJue infringia valoles
e modelos de pensantento vigentes em diferentes grupos religiosos ou poiíticos'
Da mesma forma, vêem-se agrllpamelltos políticos considerarem como
perigoso o fato de se informar sobre a teoria marxista ou de faiar delii. como
Se, Conl isso, corressem o IiSco c1e perturl-,ar Seus esqLlemas melltl'.is.
Toclaviir. qullndo a novidacle é incontornável, à iiÇão de evitá-la segue-se
um trabalho de ancoragenl. com o obietivo de torníi-ltr famtiiar e transformá-
tra para integrá-lar no universo cle oensr-tt.nento preexistr:nte. Este é urn tr;rbaiho
que corresponde a uma função cognitlva essencial da l'epresentaçlto u- clrpltz
r,amttém de se referir a toclo elemento estl'anho ou desconhecido no alnlliente
social ou rdeal. A prcpósito clas represelltllÇões cla inteligêrlcia. Mrlgny e
Carugati 119E5) fazern rlma anliiise suiil desta dialética. A dispariclade de
rnteligêltcla ilparece. clltrlncio não sa ciispÕe de inforrração sobre suas cattsiis
sociais (herança cLIltllral, papel diferetlciador da escola), como algo cstranho
qlle chiimil a àtençalo e leva a busci.lr explicações na ideologia do dom.
mascarando e naturalizando as clesigr-ralclades socitiis. Esta ideolo-gia atende
it r-rm llrincípio de econolrii-l co-snitivrl t é tanto mais Í'acilmente illvocada
lXuanro a iclentidacie sociai é posta em qlleslão pelirs diferenÇas de inteligência"
corxlo ó o caso para pais e ploÍ-eSSoreS. DeSSe inodo, acrescenta-Se à funçãc'
cognitivii Llma funÇão de proteçào c de leuitimzrçiio'
Trata-se de processo-" ig'lalnletlie obsen'áveis em escala coletiva' 'iíl
mostrei i1985) qlle, ltuma comr-tniciacie rurai onde vivem doentes metttais em
liberdade. ir popr-rlação constrói llm si-\temii de representações da loucurar qtie
1he permite não só gerenciar slla interacão cotidiantr com eles, mzrs também se
deiênder de uma presençáà que jui-sa peli-uosa pi-rra slut itnrrgetn e sua integridade.
Tepe ser assimilada aos doentes e llilo pocie aceitall que sejarn integrados, conl
plenos clireitos" no teciclo sociai. Desellvcive ume representação da ioucura"
postulando uma insuficiência do controie cerebral sobrc o ir-irtcictratlretrio
orgânico e mental, que criaria um impeciirnento à retomada cie r-rnla atlYtdacie
e cle um lugar sociais normais. Assinr. é possír'e1 manter os cioetltes tlntll
estatuto irlienado e restritivo, opor-se a quirlquer reivindicirção de inserção, enr
pé de igualcletde, uLr localidade, uo que a represe niaçtio assentelha-se à icieoicgiri.
Estas fur-rções se acresceffr iis cie orrentaÇao cias cot]dutils e comutlicaçõcs.
cie 
-ir-rstificaÇão antecipada ou rerrospectiva cias inierrÇões sociais ou relaçties
intergrupais (Doise. 1973). i.[o que chegan-ios ii iima o]-lil'a especificaçãcr do
i)
16 Delise Jodelet
Çarírtú social das representações' com duas conseqüências maiores' embora
diferentes. uma diz àrp"rto ao estudo das representações: o social 
não é
unidimensionalnasrepresentaçõesepode-seesperarterderepottá-lo,segundo
oSCaSoS,àparlilhayoua,determinações,e/ouàsfunçõessociaisdarepresentação.
A segunda conseqüência remete ao estatuto epistemológico da
representação. Do que u"ábu'no' de ver' ressalta seu caráter 
prático' isto é'
orientado para a ação e paru a gestão da relaçáo com o mundo' 
Como diz
Piaget (1g76), ela p"rmun"ce um modo de conhecimento sociocêntrico' a
serviço das necessidades, desejos e interessel do, gruPo 
-'-1li^t,'"'Oade 
e o
fato de a representação ser uma reconstruçáo do objeto' expressiva do sujeito'
provocamurnadefasagememreiaçãoaseureferente.Estadefasagempode
serdevidaigualmenteàintervençãoespecificadoradosvaloresecódigos
coletivos,dasimplicaçõespessoaisedosengajamentossociaisdosindivíduos.
produz três tipos de eieito ao nível dos conteúdos representativos: distorções,
suplementações e subtrações'
No caso da distorção, todos os atributos do objeto representado estão
presentes, porém acentuados ou atenuados' de modo específico' Assim 
ocorre
com as transformações na avaliação das qualidades de um obJeto' 
de um ato'
para reduzir uma dissonância cognitiva (Festinger' 1957)' Outro exemplo'
tomado de chombart de Lauwe (1gg4): a representação de categorias sociais
dominadas(criançasoumulheres),queéelaboradatendocomoreferência
uma categoria dominante (adultos ou homens)' Os dominados têm traços
semelhantes aos dos dominantes de quem são, entretanto, copiados 
de duas
maneiras: seja por um mecanismo de redução - presença das mesmas
características, mas sob forma atenuada' de menor qualidade; na 
imagem que
a mídia apresenta clas crianças, as meninas se comportam como 
os meninos'
mas sua autonomia em relação ao entorno é menor, seja por um mecanismo
de inversão 
- 
o dominado apresenta as características inversas às do dominante;
assim, a imagem da criança autêntica é o reflexo invertido da imagem 
do
adulto em sociedade.
Asuplementaçào,queconsisteemconferiratributoseconotaçõesque
não the são próprias ao objeto representado' resulta de um acréscimo de
significaçõesdevidoaoinvestimentodosujeitonaquiloeaS.euimagrnárlo.
Analisando o "preconceito em ação"' Doise (1980) lembra resultados
experimentaisquecolocamemevidênciaumatendênciaaprojetaremoutra
pessoa traços que se possui, sobretudo se acreditamos que esses traços 
são
avaliados desfavoravelmente: a projeção sobre outro serve para restaurar a
auto-estima, uma representação do outro conforme a si mesmo valoriza 
sua
própria imagem, construída a partir de grupos de referência' Nurn estudo
sobre o rneio ambiente, Lugasiy (1970) ilustra esse aumento conotativo a
Representações sociais: um domínio em expansão
37
I
i
propósito das representações da naturezae da floresta. A primeira estácarÍegada de significações opostas às da cidade, espaço de pressões sociais;a segunda, de imagens infantis que remetem ao corpo e à sexuaridade.Enfim, a subtração corresponde à supressão dà atributos pertencentesao objeto: na maior parte dos .u.or, resurta do efeito repressivo das normassociais. Encontramos uma ilustração doravante clássica rÀ 
"rqr",,u tigurativoda teoria psicanarítica, destacado por Moscov ici (1976). A representaçãocomporta conceitos centrais: consciente, inconsciente, 
.ácdqre, comprexo,mas exclui um conceito, também central, a libido, por causa de sua associaçãocom a sexualidade, sobre a qual pesa, no momento do estudo, um veto social.Da mesma forma, veremos a sexualidade dos deficientes mentais representadade modo radicalmente diferente por seus educadores e por seus pais, devidoaos respectivos papéis, de sua recusa comum de se identificar com eles. osprimeiros atribuem às crianças uma sexualidade selvagem, brutar e semafetividade, ao passo que os segundos têm de seus filhos uÃa visão assexuada,mas transbordante de afetividade (Giami et al., 19g3).
Esre»os E pRocEssos REpRESENTACToNAIS 
_-
A relação a um referente objetivo está sintetizada na parte centrar doquadro 1: os estados. e processos que caracterizam a representação comoforma de saber. significa terminar nor.o p"."rrso no que está no cerne detodas as pesquisas: o fenômeno cognitivo, após ter situ;do o que define seuaspecto social e funcional, as condiçOes que regem ,uu gêr"r", ,",funcionamento e sua eficâcia.
o estudo do fenômeno cognitivo se faz a partir dos conteúdosrepresentativos, tomados de diferentes suportes: ringuagem, discurso,documentos, práticas, dispositivos materiais, sern prejurgui no'"uro de algunsautores' a existência correspondente de eventos intra-individuais ou de hipóstasescoletivas (espírito, consciência de grupo). Trabarhar sobre conteúdos objetivadospermite não sobrecarregar a pesquisa de debates que o trabarho empÍrico nãopode resolver. Isso resulta numa primeira diferença 
"o* ^ 
psicologia cognitiva,no rnodo de abordar a representação como saber. Esta se refere a objetos e
' 
processos hipotéticos ou apreendidos indiretamente por meio da rearizaçáo detarefas intelectuais ou provas de memorização, poi 
"*"-pro. A abordagemsocial das representações trata de uma maténaconcreta, direámente observáver,mesmo que a organização ratente de seus erementos t"nt u ,iào ;j;;; ;;reconstrução por parte do pesquisador.
Nesse modo de apreender o§otrt'lÍdo-das representações 
- 
tratado sejacomo campo estruturado, seja como núcreo estruturante 
-, duas orientações,
Denise Jodelet
38
náo excludentes, destacam-se' No primeiro "u,to' 
ot--:onstituintes das
representações (informações' imagens'.-crenças' valores' 
opinióes' elementos
culturais, ia"orogi"o' "t"')' Bsta anaiis" ài-"n'ional 
ó completada pela
pesquisa do princípio de coerência. que estrutura 
os campos de representação:
organizadores socroculturais' atitudes' modelo-s 1:rmativo:-::l 
ainda esquemas
cognitivos. Estes campos são geraimente colhidos 
por meio de mótodos de
enqueteporquestionário,entrevistaoutratamentodematerialverüalregistraclo
em documento' t'"' 
"n 
bibliografia os. textos que se relacionam às imagens
de objetos socialmente valorizados' tais como o corpo' 
a cultura' a criança'
a mulher, o grupo, a doença' a Psicologia' a 
saúde' o trabalho etc')' Também
sãoabordadosdopontodevistasemântico,conjuntos.designificações
identificadosComaajudadediferentesmétodosdeassociaçãodepalavras
(Di Giacom", 19;;"'it-5' Le Bouedec, 1984; Ga11i e Nigro. 1986)' 
Nesse
úrltimo caso, as pesquisas se aproxlmam da 
segunda orientação' que busca
destacarasestrr-rttrraselementaresemtol.nodascluaissecristalizamossistemas
'de representuçao' Àtti" (cap' B) e Flament (cap' q) desenvolvem um modelo
teórico que distingue elementos 
- 
centrais dà periféricos' de onde tiram
importantes i*pii"u'ç0", do ponto de vista tanto da 
estabilidade e da mudança
das representações qual to À" 'uo relação com 
a ptâtica'
Estas propriedacles estrutllÍals são examinadas em representaço:: li
constituídas' Mas, para explicar a emergência 
das estruturas' é prectso se
reportar uo, ptu"""os qlre presidem a cJn";3 d* t"pl:::ltaÇões' 
Esta pode
ser analisada ievando-se em conta as aprendizagens 
sociats que intervêm no'
decorrer ao a"r.nrorvimento infantil 1bur,""n " 
r-toya, 1986 e 1988; Emler
e Dickenson, ]985; Emler, ohana, Moscovlci, 1987; ver 
tambén.r os capítulos
da present" ob'u' de Chombart de Lauwe e Doise)' Entretanto'
independent"-*"dosaspectosdedesenvolvimento,osprocessosdeformação.
'.:dasrepresentaçõesexplicamsuaestfl]tuÍação.Istovaleparticularmenteparaa
;,- objetivação, p'o"""o 
"'idenciado 
pot Mo"ouici e ilustrado e enriquecido por
diversosautores'Oprocessoédecompostoemtrês,fasellonslnlçãoseletiva'
--., , 
"rn;,'e;;;;;;; 
esrruturante 
" 
nat *lirução. As duas ptimeiras, sobretud-o'
maniÍ.estam,comotivemoSaopoÍfunldadedeobservar,oefeitodacomuntcaçao
e das pressões, ügadas à pertença social dos 
t'::tt:::-:?bre a escolha e a
organização dos elementos constitutivos da representaçao'
Conteúdoseestruturasãolrlfletidosporumoutroprocesso,aal]Corageml
.- que intervém uo 
'o'lro 
do processo de formàçáo das representaçóes' "t"'^lt*:
r.. sua incorporaçáo ao"so"ia1. por um lado, a ancoragelr 
enraíza a representaÇao
_. e seu objeto numa rede c1e significações que permrte situá-los 
em relação ao-s
r.alores sociais e dar-lhes cÀerência. Entretanto, nesse 
nível, a ancoragem
desempenhaumpapeldecisivo.essenciaimentenoqtreserefereàrealização
Representações sociais: um domínio em expansão
de sua inscrição num sistema de acolhimento nocional, um já pensado. Por um
trabalho da memória, o pensamento constituinte apóia-se sobre o pensamento
constituído para enquadrar a novidade a esquemas antigos, ao já conhecido.
Por outro lado, a ancoragem serve para a instrumentalizaçáo do saber,
conferindo-lhe um valor funcional para a interpretação e a gestão do ambiente.
Assim, dá continuidade à objetivação. A naturalização das noções thes dá,
valor de realidades concretas, diretamente legíveis e utilizáveis na ação sobre
o mundo e os outros. De outra parte, a estrutura imagética da representação
se torna guia de leitura e, por generalizaçáo funcional, teoria de referência
para compreender a realidade.
Estes processos generativos e funcionais, socialmente marcados,
permitem que nos aproximemos das representações em diferentes níveis de
complexidade. Desde a palavra até a teoria, que serve de versão do real;
desde os conceitos ou categorias até as operações de pensamento, que os
relacionam, e à lógica natural, característica de um pensamento orientado à
comunicação e à ação. Permitem igualmente explicar o caráter ao mesmo
tempo concreto e abstrato das representações e de seus elementos, que têm
um estatuto misto de fenômeno percebido e de conceito. Estatuto ligado
também ao fato de que o pensamento social remete a eventos concretos da
prática social e deve, para ser comunicado, permanecer vivo na sociedade,
ser um pensamento em imagem, como destacava Halbwachs a propósito da
mernória social:
Não há idéia sem imagens: mais precisamente, idéia e imagem não designam dois
elementos 
- 
um social e outÍo individual 
- 
de nossos estâdos de consciência, mas
dois pontos de vista de onde a sociedade pode examinar os objetos, ao mesmo
tempo em que os situa no conjunto de suas noções, ou em sua vida e sua história
(i925" p. 281)"
Moscovici (1981) demonstrou a importância dessas idéias-imagens na
mobilização psicológica das multidões. Com a ancoragem das representações
na vida coletiva, voltamos à questão de sua eficácia. Há aí um caráter distintivo
do pensamento social que chama particularmente a atenção das Ciências
Sociais. O papeldas representações no devir social se anuncia como um
objeto de estudo estimulante no futuro.
CoruclusÃo
Concluir um percurso necessariamente incompleto e freqüentemente
dernasiado alusivo nos faz avaliar, espero, a especificidade da abordagem das
39
40 Denise Todelet
representaçóes sociais e sua originalidade' Suas superposições 
com o modo
pelocluaiaPsicologiaCognitiva-easCiênciasSociaistratamarepresentação
deixam-se facilmente entrever; suas divergências também'
H,ncontram-se objetos comuns com o estudo cognitivo do saber: 
estudo
do conteúdo do p"nruí"nto, o saber declarativo e processual 
(saber o quê e
ocomo);análisedessesaberemtermosdeestruturaedememória'Contudo,
remeter suas características estruturais e processuais 
às condições sociais de
produção, de circulaçao e à finalidade das representações 
cria uma diferença
radical.Conhecimentoderivadotantoquantoinferido,arepresentaçãosocial
náo pode ser pensada de acordo com o modeio dominante 
do tratamento da
informação.SeuestudopermiteContornarasdificuldadesqueestetratamento
levanta, a saber: o risco àe reduzir o funcionamento mental 
ao funcionamento
do computador, como diz Anderson (1gg3), para quem os "sistemas 
de
produção", 
"rru, 
o.gunizações de conteúdo onde são detectados os mecanismos
e processos cognitivos, sío ambíguos pelo fato de serem 
em parte linguagens
de programação para computador e' em parte' teorias 
psicológicas' Risco
lembrado por Ehrlich, putu quem a informática' embora respondendo 
à
p."o"rpuçao de objetivaium funcionamento subjetivo' permanece' entretanto'
criticávelpeia..sujeiçãodosmodelosdefuncionamentodosujeitoaos
princípios àe funcionaàento do computador e à problemática 
dos tratamentos
de textos pelas máquinas" (1985' p' 286)' A1ém disso' o fato d5:: T:"^lt::
pela função da representação e por sua relaçáo a um referente 
e. à comunlcaçao
permiteesclareceroqtteui'-'durestadaszonasobscurasnaabordagemcognitive
da representação: a dL seus ftrncionamenros e de suas funções 
(Ehrlich, idem);
a da formação e da transformação dos esquemas cognitivos'-de 
sua reiação
com a linguagem (Arnault de La Menardiàre e de Montmollin' 1985)'
Na verdade, pensar a cognição como algo social abre novos 
caminhos
de pesquisa. O mesmo se dá cÀm as Ciências Sociais' que não integram' 
em
sua abordagem do pensamento social' a dimensão Oroqrlame;rtt" ::t::::
e não estão 
"* "o,áições 
de pensar o social como cognitivo' Isso se lmpoe
como uma necessidade para aiguns' como Douglas' que thes 
dá como tarefa
identificar os "processos cognitir''os que fundam a ordem social"' 
estudar
como.,asinstituiçõespensam,,eComo'.oproCessocogrritivoindividual
maiselementardepeniledasinstltuiçõessociais,,(1986,p45)Porisso,
juntamo-nos a Piaget (1967), que vê a Psicologia e a Sociologia como
..duasdisciplinasq"uetratamdomesmoobjeto,':..oconjuntodascondutas
humanas q.," 
"o-po'tam, 
cada uma delas' desde o nascimento e em graus
dir,ersos, um aspecto mental e um aspecto social" (p 1g), afirmando que
..ohomeméumequetodassuasfunçõesmentalizadassãoigualmente
socializadas" (P 20).
Representações sociais: um domínio em expa.nsão
É nessa perspectiva que se desenvolvem as pesquisas sobre as
representações sociais. Cada uma contribui com uma pedra para a construção
de uma ciência psicológica e social do conhecimento. Alguns pensam que
seria desejável estabelecer um modelo unitário, uma "concepção
multicompatível" (Le Ny, 1985) da representação, devido, principalmente, às
exigências da transdisciplinaridade e da existência de uma ..solidariedade
entre os conhecimentos e representações elementares de um indivíduo e os
sistemas teóricos autônomos" (Morfl 1984, p.425). Não haveria nesse caso
riscos de reducionismo e não seria demasiado cedo? A julgar pelo domínio
que acabamos de sobrevoar, parece necessário aprofundar a reflexão a partir
de territórios autônomos, abordando, cada um à sua maneira, a interface do
psicológico e do social, tendo como única condição o acesso dos pesquisadores
a um arsenal de estil0s de argumentação que transcenderá o que cada uma das
disciplinas tradicionais propõe. Essa é a esperança no que se refere ao recente
interesse pelo desenvolvimento de uma ciência cognitiva (Fodor, 19g1, p. 19).
o que vemos atualmente? um espaço de pesquisa que se vem ampliando
há vinte anos, com: uma multiplicação dos objetos de representação tomados
como temas de pesquisa; abordagens metodológicas que se vão diversificando
e fazem um recorte de setores de estudo específicos; problemáticas que visam
a delimitar melhor certos aspectos dos fenômenos representativos; a
emergência de teorias parciais que explicam estados e processos definidos;
paradigmas que se propõem a elucidar, sob certos ângulos, a dinâmica
representacional. Tudo isso leva a constituir campos independentes e dotados
de instrumentos conceituais e empíricos sólidos, onde florescem trabalhos
coerentes.
Tudo isso dá a impressão de um universo em expansão no qual se
estruturam galáxias de saber. Ao contrário do paradigma informático, que
recobre todo o esforço científico sob a capa de uma mesma fôrma, o modelo
das representações sociais impulsiona a diversidade e a invenção, ÍÍaz o
desafio da complexidade. E, se é verdade o que diz Aron:...É explorando um
mundo por essência equívoco que se tem a oportunidade de alcançar a verdade.
o conhecirnento não é inacabado porque nos falta a omnisciência, mas porque
a riqueza das significações está inscrita no objeto" (1955, p. 167), não
terminarnos de explorar sua fecundidade.
41
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