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Arquivo2 SOBER 2018 EXPANSÃO DA FRONTEIRA AGRÍCOLA NA AMAZÔNIA VERSUS OS PROJETOS DE ASSENTAMENTOS AGROEXTRATIVISTAS

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Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 
 
 
EXPANSÃO DA FRONTEIRA AGRÍCOLA NA AMAZÔNIA VERSUS OS 
PROJETOS DE ASSENTAMENTOS AGROEXTRATIVISTAS 
 
 
EXPANSION OF THE AGRICULTURAL FRONTIER IN THE AMAZON VERSUS 
AGROEXTRATIVE SETTING PROJECTS 
 
 
Gessiane da Silva Paulino 
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Economia da 
Universidade Federal do Pará 
gessianepaulino18@gmail.com 
 
Armando Lirio de Souza 
Docente do Programa de Pós-Graduação em Economia e da Faculdade de Ciências 
Econômicas da Universidade Federal do Pará 
 armandolirio@gmail.com 
 
Marcílio Alves Chiacchio 
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Economia da 
Universidade Federal do Pará 
marcilio.ac@gmail.com 
 
Severino Félix de Souza 
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Economia da 
Universidade Federal do Pará 
severinofelix@hotmail.com 
 
 
Grupo de Pesquisa: Questão agrária, governança de terras, políticas públicas e 
assentamentos rurais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 
Resumo 
Trata-se de um estudo sobre a modalidade projeto de assentamento agroextrativista (PAE) 
criada em 1996, como proposta de efetivação da reforma agrária no Brasil. A principal questão 
deste trabalho reside em compreender como essa modalidade, que não transfere a posse da 
propriedade, mas somente o direito de uso do solo e dos recursos naturais, a partir da 
regularização de áreas de terras da União, pode significar alterações substanciais na estrutura 
fundiária da Amazônia brasileira, em termos de desconcentração de terra, ou se representa 
apenas a consolidação de assentamentos não reformadores. Sob este contexto, esse trabalho tem 
como objetivo, identificar os fatores determinantes à criação dessa modalidade na Região 
Metropolitana de Belém, que possuí uma região insular, com aproximadamente 50 ilhas, das 
quais 11 são PAE’s. Em termos metodológicos, empregou-se o método histórico indutivo e a 
pesquisa exploratória, onde buscou-se subsídios no debate contemporâneo que apresenta a 
discussão de novas configurações do agrário brasileiro e amazônico. Os resultados apontam 
que a política de assentamentos desenvolvidas na Amazônia está muito aquém da efetivação da 
política nacional de reforma agrária, como garantia da emancipação e consolidação dos PAE’s. 
No entanto, percebe-se a importância de estudos sobre essa modalidade de assentamento, 
enquanto ação de inclusão social de populações tradicionais, onde a terra, também é vista como 
local de moradia e trabalho, por meio da garantia de seguridade frente a disputa e conflito 
agrário nesses territórios. Assim, buscou-se identificar seu significado, também, enquanto, 
mecanismo de desconcentração fundiária aos agentes sociais diretamente envolvidos. 
 
Palavras-chave: Questão Agrária; Reforma Agrária; PAE; fronteira agrícola; posse. 
 
 
Abstract 
This is a study on the modality of agroextractivist settlement (PAE), created in 1996, as a 
proposal for the effective implementation of agrarian reform in Brazil. The main issue of this 
work is to understand how this modality, which does not transfer ownership of property, but 
only the right to use land and natural resources, through the regularization of land areas of the 
Union, can mean substantial changes in the structure land tenure of the Brazilian Amazon, in 
terms of deconcentration of land, or if it represents only the consolidation of nonreforming 
settlements. In this context, the objective of this work is to identify the determinants of the 
creation of this modality in the Metropolitan Region of Belém, which has an island region with 
approximately 50 islands, of which 11 are PAE's. In methodological terms, we used the 
historical inductive method and the exploratory research, where we sought subsidies in the 
contemporary debate that presents the discussion of new configurations of the Brazilian and 
Amazonian agrarian. The results point out that the settlement policy developed in the Amazon 
is far short of the effectiveness of the national agrarian reform policy, as a guarantee of the 
emancipation and consolidation of SAPs. However, we note the importance of studies on this 
modality of settlement, as an action of social inclusion of traditional populations, where land 
is also seen as a place of housing and work, through the guarantee of security in the face of 
dispute and conflict in these territories. Thus, it was sought to identify its meaning, also, as a 
mechanism of deconcentration of land to the social agents directly involved. 
 
Key words: Agrarian Question; Land reform; PAE; agricultural frontier; possession. 
 
 
 
 
 Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 
1. Introdução 
O Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) foi regulamentado no Brasil pela 
Portaria/INCRA nº 268/1996, para substituir os Projetos de Assentamentos Extrativistas. O 
PAE foi decorrente de ações e pressões de movimentos sociais, como o movimento seringalista 
liderado por Chico Mendes. Em 2003, mediante o II Plano Nacional de Reforma Agrária (II 
PNRA) há a integração da população ribeirinhas à esta estratégia de política de Regularização 
Fundiária e Reforma Agrária na Amazônia. As populações ribeirinhas ocupam territórios 
considerados de Patrimônio da União. São áreas inalienáveis, ou seja, não podem ser vendidas, 
alugadas, trocadas e nem ser objeto de usucapião (adquirida pelo tempo de uso). Mas é possível 
o acesso ao solo e aos seus recursos naturais por meio de autorização, cessão de uso do bem, 
mediante, uma negociação das associações de moradores, para a elaboração de um Plano de 
Utilização, com delimitações das regras de convivência e de uso dos recursos, para assim, ser 
regulamentado como um PAE (CORRÊA; PINHEIRO, 2010; OLIVEIRA, 2011). 
Assim, a regularização fundiária possibilitou à população tradicional a legalidade da 
permissão dos recursos naturais e o uso coletivo da terra, fato este inquestionável. No entanto, 
são diversas as posições dos autores que estudam a temática reforma agrária a respeito desse 
processo de regularização fundiária dos PAE’s. Para alguns autores, como Silva (2009 apud 
CORRÊA; PINHEIRO, 2010), a regularização garante segurança à grande parcela da população 
ribeirinha, além de permitir o acesso às políticas de crédito e subsídios dos programas 
governamentais. Assim, estes autores defendem que essa política de inclusão social, inseriu a 
população tradicional na legitimidade do uso da terra e de seus recursos. 
Todavia, há os que afirmam que os assentamentos adotados em terra ribeirinha e seu 
processo de regularização não se caracterizam como reforma agrária, por não alterar a estrutura 
fundiária, sendo um instrumento de legalidade de uma posse preexistente. Assim, a reforma 
propriamente dita não acontece, por não proporcionar a modificação de uma ordem fundiária 
existente, a concentração de terras. Este representa o principal questionamento referente à esta 
modalidade, devido está sendo utilizada para inflar os números da reforma agrária, 
principalmente no ano de 2006 a 2010, em que 80% dos assentamentos criados foram nessa 
modalidade. No entanto, apesar da criação desse tipo de assentamento, o nível de concentração 
de terras foi acentuado, como pode ser visto no Índice de Gini para nível de concentração na 
estruturafundiária, que indicava 0,816 em 2003 e aumentou para 0,838 em 2010 (STÉDILE, 
2013; OLIVEIRA, 2011). 
Assim, mediante este debate, apresenta-se a seguinte indagação: como, em decorrência 
da questão agrária brasileira, os assentamentos agroextrativistas desenvolvem suas 
potencialidades no âmbito da Reforma Agrária? Com base nesse questionamento este trabalho 
tem como objetivo identificar as especificidades da modalidade dos assentamentos 
agroextrativistas da RMB, bem como os fatores que configuraram a formação desses 
assentamentos nessa região, com intuito de entender como esta modalidade adequa-se dentro 
da política de Reforma Agrária brasileira, e assim, verificar o sentido reformador desses 
assentamentos. 
Por fim, o trabalho está dividido em 4 seções. A primeira parte, engloba essa introdução. 
Na seção 2, traz-se o debate contemporâneo sobre a questão agrária brasileira, integrada aos 
estudos da dinâmica agrária amazônica, onde identifica-se os agregados fundamentais de 
caracterização dessa tipologia de reforma agrária. Na seção 3, destaca-se os fatores 
determinantes que configuraram na formação dessa modalidade na RMB, com intuito de 
identificar no processo de formação dos mesmos, as suas potencialidades reformadoras nesse 
espaço. E por fim, na quarta seção, traz-se as considerações finais. 
 
 
 
 
 Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 
SOBER - Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural 
2. Debate Contemporâneo sobre a Questão Agrária Brasileira: criação dos PAE’s na 
Amazônia 
Durante o Regime Militar (1964-1985), por meio das reformas econômicas realizadas 
no âmbito do Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG) e posteriormente no Milagre 
Econômico (1967-1973), ressalta-se o caráter conservador do modelo econômico adotado 
nesse período no país. A modernização agrícola representou a opção do Governo Militar por 
um desenvolvimento capitalista no campo. Nesse sentido, manteve-se a estrutura fundiária 
anterior, extremamente concentrada, e o movimento social do campo foi reprimido. Além 
disso, destaca-se nesse período a expansão dos latifúndios para a Amazônia e o seu 
revigoramento em áreas até então dominadas pela agricultura familiar (STÉDILE, 2013). 
Posteriormente, na década de 1980, considerada “Década Perdida”, em função do 
esgotamento do modelo de desenvolvimento brasileiro e da crise da dívida, impõe-se como 
ajuste, fortalecer o papel de geração de saldos comerciais crescentes à agricultura. Deste modo, 
o ajuste do modelo de desenvolvimento brasileiro retoma o sentido de vocação agrícola do 
país, algo similar aos processos históricos econômicos anteriores, economia colonial e o 
modelo primário-exportador, mas agora centrado na modernização conservadora da 
agricultura. 
Entre 1990 a 2010 o setor agrícola obteve expressivo ganho de produtividade: a área 
destinada ao cultivo da soja se ampliou de 11.487.303 ha para 23.290.696 ha; a de 
cana-de-açúcar, de 4.272.602 ha para 9.146.615 ha; e o número de cabeças de gado abatidas 
elevou-se de 13.374.663 para 27.974.982. Entretanto, nas lavouras voltadas ao mercado 
interno: arroz, feijão e trigo, a área de cultivo pouco se ampliou. Já que, o avanço da fronteira 
agrícola ocorreu no sentido de uma especialização na produção de gêneros agrícolas com 
preços crescentes no mercado de commodities1 (NAKATANI et al, 2012). 
Esse condicionante externo possibilitou a consolidação do agronegócio no início do 
século XXI. O modelo de produção do agronegócio, representado pelos grandes proprietários 
de terra, bancos, empresas nacionais e transnacionais, se caracteriza sucintamente por: 
organização da produção agrícola na forma de monocultura (soja, milho, cana ou pecuária 
extensiva) em áreas cada vez maiores; uso intensivo de máquinas agrícolas; a prática de uma 
agricultura sem agricultores; e o uso intensivo de agrotóxicos e de sementes transgênicas. Nesta 
perspectiva, tal modelo sob o domínio do capital financeiro e das empresas transnacionais, no 
comando da produção das mercadorias agrícolas, extrapola o processo de modernização da 
agricultura (crescimento agrícola e aumento de produtividade) e, gerencia um aglomerado que 
envolve muito mais que um conjunto de unidades agrícolas, impondo a reprimarização a 
agricultura brasileira (STÉDILE, 2013). 
Para além dos determinantes externos, que impõem a reprimarização da economia 
brasileira, existem condicionantes internos que limitam a possibilidade de uma reforma agrária 
com maior abrangência, sendo a estrutura fundiária a principal condicionante. Segundo o 
DataLuta (2016), no ano de 2014, 36% dos estabelecimentos rurais menores que 10ha, 
ocupavam aproximadamente 1% da área total, ao passo que os 2% dos estabelecimentos 
maiores que 1.000ha concentravam 58% da área total. Isto destaca a perpetuação da relação 
inversa da propriedade da terra, onde em média um número equivalente a mais de 1 milhão de 
 
1 No final do século XX e início do século XXI a participação das commodities na pauta de exportações brasileiras 
subiu de 37% para 51%. Contudo, nesse período, a participação de produtos industrializados de baixa, média e 
alta intensidade na pauta de exportações brasileiras mostrou-se estável com tendência à queda entre 2000 e 2009. 
Nestes termos, o país tem regressado historicamente a caminho da “reprimarização” de sua economia 
(NAKATANI et al, 2012). 
 
 
 
 
 Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 
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imóveis é distribuído em aproximadamente 1% da área total. Enquanto, em média 80 mil 
imóveis possuem aproximadamente metade da área da estrutura fundiária brasileira. Além 
disso, o Índice de Gini de concentração de terras indica um aumento de 0,02 no grau de 
concentração, entre 1998 e 2014. Conforme, destacado na literatura, houve, também nesse 
período, o avanço da posse de terras por empresas estrangeiras: estima-se que as empresas 
estrangeiras devem controlar mais de 30 milhões de hectares de terras no Brasil. O que acentua 
ainda mais a especulação por terras e encarece o modelo de reforma agrária adotado no país 
(Tabela 1). 
 
Tabela 1: Mudanças da Estrutura Fundiária por Classe de Área - 1998, 2003, 2010 e 2014 - Brasil 
Classes de 
Área (ha) 
1998 2003 
Nº de 
Imóveis 
% Área (ha) % 
Nº de 
Imóveis 
% Área (ha) % 
Menos de 10 1.143.969 32% 5.417.778,90 1% 1.409.797 33% 6.638.598,60 2% 
10 a menos de 100 1.916.127 53% 63.236.811,20 15% 2.289.014 53% 75.782.410 18% 
100 a menos de 1000 468.548 13% 127069767,4 31% 523.335 12% 140.362.235,80 33% 
1000 a mais 57.881 2% 219.824.528,10 53% 68.325 2% 195.700.087,90 47% 
TOTAL 3.586.525 100% 415.548.885,60 100% 4.290.471 100% 418.483.332,30 100% 
ÍNDICE DE GINI 0,838 0,816 
 
Classes de 
Área (ha) 
2010 2014 
Nº de 
Imóveis 
% Área (ha) % 
Nº de 
Imóveis 
% Área (ha) % 
Menos de 10 1.744.540 32% 8.215.336,80 1% 2.208.467 36% 9.713.045,19 1% 
10 a menos de 100 2.709.158 53% 90.005.536,24 16% 3.097.263 50% 103.277.383,22 14% 
100 a menos de 1000 648.651 13% 175.455.369,71 31% 739.358 12% 198.722.833,04 27% 
1000 a mais 79.296 2% 298.064.146,88 52% 95.030 2% 428.688.384,33 58% 
TOTAL 5.181.645 100% 571.740.389,63 100% 6.140.118 100% 740.401.645,78 100% 
ÍNDICE DE GINI 0,838 0,86 
Fonte: DATALUTA, 2016. Elaborado pelos autores. 
Essa condição da estrutura fundiária, em contraponto a criação de diversas modalidades 
na Política de Assentamentos de Reforma Agrária, representa um importante indicador de 
avaliação dessasmodalidades para a efetivação da desconcentração de terras. Já que, por mais 
de um século, as grandes propriedades, a partir do poder que a propriedade de terra representa, 
controlam as políticas de desenvolvimento. Em tese, mesmo com a redemocratização do país 
e a mobilização dos trabalhadores rurais sem-terra, através de manifestações, ocupações de 
terra e dos assentamentos de reforma agrária, a criação de planos e políticas públicas voltadas 
a particularidades de personagens sociais, a partir da desapropriação de terras, não está sendo 
efetiva para a consolidação e emancipação desses espaços, que resultam em nova concentração 
de terras a posteriori. 
Segundo o DataLuta (2016), no Brasil, entre 1988 e 2006, foram realizadas mais de 7 
mil ocupações de terra, das quais participaram cerca de um milhão de famílias acampadas. Em 
resposta, os governos criaram desde então 7.230 assentamentos rurais, cuja área total de 57,3 
milhões de hectares comporta cerca de 900 mil famílias. No entanto, numa análise geográfica, 
 
 
 
 
 Campinas – SP, 29 de julho a 01 de agosto de 2018 
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destaca-se a oposição territorial entre as famílias em ocupações e famílias assentadas: entre 
1988 e 2006, do total das famílias que participaram de ocupações de terra no Brasil, apenas 5% 
o fizeram na região Norte. Porém, entre as famílias assentadas pelos governos no mesmo 
período, 40% receberam lotes na região Norte; Centro-Oeste e Nordeste apresentam equilíbrio 
entre a proporção numérica de famílias em ocupações e famílias assentadas em relação ao total 
brasileiro; já na região Sul e, especialmente a Sudeste, ao contrário do que ocorre no Norte, a 
participação nas ocupações é bem superior ao assentamento de famílias (Figura 1). 
 
 
Figura 1: Perfil da localização da Reforma Agrária no Brasil – 1990-2014 
 
 Fonte: DATALUTA/NERA (2016). 
 
O aspecto mais elementar da concentração das ocupações no centro-sul e em regiões do 
Nordeste é que essas são as regiões em que se concentram os milhões de expropriados e 
trabalhadores rurais em vias de desintegração, devido à modernização da agricultura e 
industrialização do país. Dessa forma, segundo Dataluta (2016), a luta pela terra é desenvolvida 
principalmente nessas regiões de ocupação mais consolidadas, que tem maior potencialidade 
para o desenvolvimento da agricultura familiar. 
Contudo, contrariamente, as famílias são assentadas em regiões de ocupação recente, 
principalmente na fronteira agropecuária, onde a demanda pelos produtos da agricultura 
familiar é menor e a qualidade de vida dos assentados será provavelmente inferior. Além disso, 
a Amazônia tem sido uma área de escape para os conflitos, especialmente com a regularização 
fundiária. Observa-se que a instalação de assentamento da reforma agrária, está extremamente 
concentrada na Amazônia, na região Sudeste do estado do Pará, com repercussões em outras 
regiões do estado paraense. Todavia, a fronteira agrícola tende a se fechar e as terras da União 
não serão suficientes para fazer a reforma agrária, considerada restrita e conservadora, por não 
MAPA 1: NÚMERO DE FAMÍLIAS EM OCUPAÇÕES 1990-2014 MAPA 2: NÚMERO DE FAMÍLIAS ASSENTADAS 1990-2014 
 
 
 
 
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desconcentrar a terra. O que tenderá a acentuação de conflitos nesse espaço (GIRARDI; 
FERNANDES, 2008; FERNANDES, 2015). 
O debate em torno dessas modalidades questiona o quão reformador são essas novas 
modalidades de assentamentos, ou seja, qual o sentido reformador dos diversos tipos de 
assentamentos rurais. Para isso, utiliza-se a classificação de Rocha (2008), de assentamentos 
não reformadores e reformadores. O autor parte do seguinte princípio: para que um 
assentamento seja reformador ele deve alterar a estrutura fundiária da grande propriedade e 
territorializar, na mesma parcela do terreno, a população rural/urbana sem-terra. De modo geral, 
os assentamentos não reformadores são os reconhecimentos de posse, assentamentos criados a 
partir de terras públicas, unidades de conservação sustentáveis e outros projetos de caráter 
ambiental. Estes assentamentos se confundem com as políticas ambientais e de ocupação do 
território e não desconcentra a terra. Desta forma, o reconhecimento de posses e a criação de 
assentamentos em terras públicas são formas que adicionam a estrutura fundiária novas áreas e 
novos detentores, sem que seja necessária uma redistribuição de terra. 
No entanto, vale destacar, que o reconhecimento dessas modalidades, consideradas não 
reformadoras, constituem um passo importante no reconhecimento dos direitos dos povos 
tradicionais, representativos no Norte do país. No entanto, o governo não pode priorizar só a 
criação dessa modalidade, em área relativamente pouco ocupada, e deixar de suplantar a 
reforma nas regiões de ocupação consolidada, onde as ocupações de terras são frequentes. 
Assim, o problema não está na criação dos assentamentos não reformadores, mas sim como 
eles são utilizados como estratégia para não aprofundar a reforma agrária em outras regiões do 
país. Diante dos condicionantes apresentados, não se identifica perspectivas de mudanças do 
modelo econômico atual, devido os limites fiscais e estruturais de nossa economia e a 
necessidade (crescente) de geração de superávits via exportação de commodities. Além disso, 
esta forma de inserção na economia mundial, tem o apoio da força política da bancada ruralista 
e a defesa contundente do atual governo brasileiro. 
Em suma, estes são os principais fatores que configuram o debate sobre a questão 
agrária nacional, no contexto da nova fase da agricultura brasileira, agora dominada pelo capital 
financeiro e pelas empresas transnacionais, em aliança com os grandes proprietários de terra – 
o agronegócio. Este se instalou na década de 1990 e se consolidou de forma mais clara na 
década de 2000, frente à possibilidade de mudanças da estrutura fundiária na 
contemporaneidade, algo tão almejada pelos trabalhadores (as) sem-terra. Sob este contexto, 
são os trabalhadores (as) rurais/urbanos excluído do acesso à terra que tem papel de destaque 
na luta por mudanças do modelo econômico atual, especificamente, no âmbito da reforma 
agrária (STÉDILE, 2013). 
Nesse quadro, pensar a questão da terra no Brasil hoje implica em perceber as novas 
formas assumidas pela propriedade da terra. Há complexas relações entre agronegócio, 
agricultura familiar e as diferentes formas de demanda por terra, pois é nesse campo que ocorre 
a batalha pelo reconhecimento, legitimação e reprodução de determinadas formas de produzir 
e do direito à terra. Assim, a expansão do agronegócio é um aspecto fundamental, embora não 
exclusivos, para pensar os parâmetros atuais do debate sobre a reforma agrária no Brasil 
contemporâneo. Outro aspecto, refere-se às nuances e novas faces que a luta por terra adquiriu, 
trata-se de apontar tanto as implicações da emergência de novos personagens e identidades, 
como é o caso das chamadas populações tradicionais, quanto a crescente valorização da 
agricultura familiar, principalmente da região amazônica, onde essa modalidade se concentra 
desde a última década (MEDEIROS, 2015). 
 
 
 
 
 
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2.1 Contexto da questão agrária na Amazônia 
 Historicamente, prevaleceu na Amazônia a desigualdade do acessoà terra. Isto 
configurou um quadro de acentuada concentração fundiária, e gerou como resultado o êxodo 
rural e a ocupação das cidades amazônicas, com forte característica de trabalho urbano informal 
e reduzido grau de assalariamento. Nesse sentido, o capital tem se apropriado desse bem da 
natureza, a terra, transformando-o em uma mercadoria, o que secundariza a sua função social 
(POLANYI, 2000). Assim, busca-se contextualizar um conjunto de elementos da história 
agrária da Amazônia, com intuito de entender o processo de ocupação do território nacional, 
que resultou em novas configurações espaciais, como os assentamentos agroextrativistas 
(STÉDILE, 2013; FERNANDES, 2015). 
 Na Amazônia, a conversão da terra em mercadoria impactou na perda, gradativa, de 
“[...] sua característica histórica de terra de trabalho e sustento de caboclos, índios, posseiros, 
moradores, etc., cedendo lugar as atividades lucrativas para o capital (como a pecuária, etc.)” 
(LOUREIRO, 2004, p. 36). O Estado foi o ator principal na incorporação da Amazônia a 
acumulação capitalista brasileira, uma vez que apoiou a entrada do grande capital na região, 
através de ações governamentais baseadas em interesses exógenos. 
 Dessa forma, a formulação de estratégias de integração da Amazônia, perpassa pela 
acumulação capitalista brasileira, onde a Amazônia tem sempre um papel subordinado a 
cumprir. A Amazônia brasileira possui cerca de 419.880 milhões de hectares e, representa a 
maior floresta tropical global, com um imenso acervo de biodiversidade, que chama a atenção 
da economia nacional/mundial por prestar serviços ambientais para a estabilização do clima. 
Assim, a questão agrária na Amazônia envolve desde um conjunto de interesses 
nacional/mundial a serviços ambientais (COSTA, 2005; SOUZA; FILIPPI, 2010). 
Uma das primeiras ações de integração da Amazônia foi a construção da Rodovia 
Belém-Brasília, nos anos 1950, que liga fisicamente o Pará ao Centro-Sul, onde o Estado 
concedeu terras públicas a grupos econômicos de fora da região. Os empresários regionais, com 
o objetivo de manter o seu controle sobre castanhais locais conseguiram, através de contrato – 
aforamento perpétuo, que o Estado lhes transferisse a posse e o direito de exploração destes 
(Lei Estadual nº 913, de 04.12.1954). Contudo, estas concessões representaram apenas o início 
do processo de incorporação da Amazônia à acumulação capitalista brasileira (LOUREIRO, 
2004; MARQUES, 2014). 
 As ações de integração da Amazônia foram intensificadas a partir de 1960, com a 
Operação Amazônia, no regime militar, que além de substituir a Superintendência do Plano de 
Valorização da Amazônia (SPVEA) pela Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia 
(SUDAM), dava apoio a agropecuária, repassando-lhe incentivos fiscais e a concessão de terras. 
No âmbito agrícola, as ações governamentais deram prioridade à grande propriedade, o que 
redesenhou o território, na concentração de terras. Outro ponto de impacto na região, foi a 
criação dos grandes projetos energéticos-minerais, que mudaram a estrutura de poder local, já 
que as instituições locais não foram consideradas neste processo, em que as decisões foram 
feitas fora da região, com uma interligação do Estado brasileiro a empresas nacionais e 
multinacionais (ibidem). 
Portanto, a incorporação da Amazônia ao desenvolvimento capitalista brasileiro, não 
consistiu na simples necessidade da injeção de capitais, mas também, na 
transformação/substituição das relações pré-existentes por outras, onde o desapossamento 
torna-se uma pré-condição dessa transformação. O desapossamento permite ao capital o 
controle sobre as riquezas naturais e, simultaneamente, sobre a força de trabalho das classes 
então desapossadas da terra. Assim, a forma autoritária de ocupação da Amazônia se sustenta 
 
 
 
 
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no confisco de terras, consideradas como um espaço vazio demograficamente, e no aparato 
legal que lhe confere apoio (LOUREIRO, 2004; MARQUES, 2014). 
O processo de inserção da Amazônia à dinâmica capitalista brasileira evidencia o papel 
da região como exportadora de matérias-primas e a utilização do seu potencial de geração de 
energia hidráulica, que impacta no aumento do desmatamento. Dessa forma, essa inserção, 
constitui um paradoxo por arriscar, através da degradação dos recursos ambientais, a sua 
riqueza natural que garantiria um futuro melhor para todos, em contraponto a um 
desenvolvimento desigual voltado aos grandes projetos econômicos e para o projeto latifúndio-
monocultura exportador, ao invés de ser indutor de desenvolvimento que corrija as 
desigualdades econômico-sociais (COSTA, 2005; SOUZA; FILIPPI, 2010). 
 A partir da Constituição Federal (1988), que representa o marco inicial das mudanças 
políticas e sociais relevantes que ocorreram no Brasil nas três últimas décadas, há o 
estabelecimento de novas relações entre o Estado e a sociedade civil. Na década de 1990, 
observa-se a criação de espaços de participação social e de instrumentos de políticas públicas. 
Novos atores políticos emergiram e passaram a reivindicar políticas públicas de acordo com 
suas particularidades, construídas sob a compreensão dos grupos sociais sobre sua própria 
condição. A partir desse período, destaca-se o momento de ascensão, de uma das experiências 
mais destacadas na luta pela organização dos assentamentos da reforma agrária no Brasil, do 
MST. Neste contexto, em respostas às pressões de várias mobilizações sociais se criou as 
políticas de assentamentos de reforma agrária, em 1996 (GRISA; SCHENEIDER, 2015). 
O estado do Pará possui 10 modalidades de assentamentos: 60% (668) PA; 30% (321) 
PAE; 2% em Reserva Extrativistas (RESEX); 2% Projeto de Desenvolvimento Sustentável 
(PDS), o mesmo tem ainda as modalidades: Projeto de Assentamento Conjunto (PAC), Projeto 
de Assentamento Casulo (PCA), Projeto de Assentamento Estadual (PE), Projeto Estadual de 
Assentamento Agroextrativista (PEAEX), Projeto Estadual de Assentamento Sustentável 
(PEAS), Projeto Integrado de Colonização (PIC), Florestas Nacionais (FLONA) e Reserva de 
Desenvolvimento Sustentável (RDS), criadas a partir de especificidades locais, das quais 06 
modalidades são direcionadas especificamente para atender as populações tradicionais: PAE, 
PDS, PEAEX, FLONA, RESEX e PEAS (BRASIL, 2016). 
Segundo informações do governo federal, no ano de 2006, criou-se a maior quantidade 
de assentamentos da reforma agrária. No estado do Pará, principalmente na década de 2000, há 
acentuada criação dos PAE’s, cerca de 70% da modalidade de assentamento. Dessa forma, a 
evolução dos assentamentos no estado do Pará, mostra que o PNRA, como política que envolve 
estratégias territoriais, sociais e econômicas, tornou-se uma prática voltada, quase que 
essencialmente, à regularização fundiária, através do PAE’s, por exemplo (Figura 2). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Figura 2 – Evolução dos Projetos de Assentamentos, por modalidade, no estado do Pará (1990 
a 2015) 
 
Fonte: BRASIL, 2016. Elaborado pelos autores. 
 
Neste contexto, na década de 2000, o governo brasileiro reduziu a criação de 
assentamentos destinados às famílias sem-terra, no estado do Pará, na modalidade PA’s. 
Passou-se a reconhecer outras modalidades como os PAE, PDS, entre outros, que são formas 
de regularização fundiária, por meio da concessão de títulos deuso do solo e dos recursos 
naturais, de populações já existentes na área. Além disso, de acordo com o acompanhamento 
das fases dos projetos de assentamentos, por modalidade no estado do Pará, constatou-se que 
dos 1.067 assentamentos criados nos últimos 30 anos, apenas 38 assentamentos estão 
consolidados, enquanto 723 foram apenas criados, dos quais 321 são PAE’s (BRASIL, 2016). 
Assim, a Amazônia representa um mosaico com áreas prósperas, com elevados índices 
de concentração e, áreas protegidas, como pode ser visto, na contextualização dos 
assentamentos agroextrativistas no estado do Pará. Em tese, isto deve garantir um padrão de 
desenvolvimento sustentável na região (SOUZA; FILIPPI, 2010). Diante disso, destacam-se os 
assentamentos agroextrativista instalados, recentemente, a partir de 2005, e representam uma 
nova configuração espacial, específica da região amazônica. No entanto, tais assentamentos 
estão sendo criados em áreas onde existem poucos conflitos com a expansão da fronteira do 
agronegócio na Amazônia, o que reforça o caráter conservador dessa política de reforma 
agrária, o que reforça a importância da caracterização dessa política (GIRARDI; 
FERNANDES, 2008). 
 
3. Caracterização dos Projetos de Assentamentos Agroextrativistas na RMB 
 O PAE foi regulamentado no Brasil pela Portaria/INCRA nº 268/1996, para substituir 
os Projetos de Assentamentos Extrativistas. O PAE foi decorrente de ações e pressões de 
movimentos sociais, como o movimento seringalista liderado por Chico Mendes, o qual 
reivindicavam novas modalidades de reforma agrária que privilegiassem o modo de vida das 
populações tradicionais amazônicas e garantissem seu direito de posse e de acesso aos serviços 
básicos de saúde, educação, infraestrutura, etc. Além disso, esta modalidade sofreu pressão do 
movimento ambientalista, que defendia a preservação da floresta e o combate ao desmatamento 
(ALLEGRETTI, 2008 apud OLIVEIRA, 2011). 
 
 
 
 
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 Inicialmente, essa modalidade foi rejeitada por parte dos seringueiros, o que fez com 
que, as RESEX e as Unidades de Conservação, fossem mais utilizadas na regularização 
fundiária das populações tradicionais. Somente, em 2003, mediante o II Plano Nacional de 
Reforma Agrária (II PNRA), após 7 anos da regulamentação do PAE, que ocorre a integração 
das populações tradicionais ribeirinhas à esta estratégia de política pública de Regularização 
Fundiária e Reforma Agrária na Amazônia. Segundo o governo federal, o II PNRA amplia a 
participação social da população rural beneficiada pelo programa de reforma agrária, o qual 
incluiu agricultores familiares, comunidades tradicionais, populações ribeirinhas, atingidos por 
barragens, ocupantes não índios de terras indígenas, mulheres trabalhadoras rurais e juventude 
rural (BRASIL, 2003). 
A população ribeirinha2, principal beneficiada do PAE, é conhecida como aquela que 
mora às margens do rio ou sobre o mesmo em casas flutuantes. A regularização fundiária nessas 
áreas é bastante complexa, pelo fato destas terras serem patrimônio público (CORRÊA; 
PINHEIRO, 2010). Em 2005, a intensificação na regulamentação dos PAE’s, é decorrente do 
termo de Cooperação Técnica entre a Secretária do Patrimônio da União (SPU) e o Instituto de 
Colonização e Reforma Agrária (INCRA), firmado e publicado no Diário Oficial da União 
(DOU) nº 223/2005. Isto possibilitou a emissão do Termo de Autorização de Uso (TAU)3 pelo 
INCRA de territórios ocupados por populações tradicionais ribeirinhas, visto que, estas 
ocupações são localizadas em áreas consideradas de Marinha e do Patrimônio de Imóveis da 
União que estão na tutela da SPU. 
A modalidade PAE foi primeiramente abordada no documento com o título: Conceito e 
Metodologia para a implantação dos PAE (1996). Esta modalidade é definida como um tipo de 
assentamento destinado às populações tradicionais para a exploração de áreas dotadas de 
riquezas extrativistas economicamente viáveis atreladas ao desenvolvimento sustentável, a ser 
executadas pelas populações que ocupam ou venham a ocupar essas áreas, mediante concessão 
de uso, em um regime comunal. Além disso, proporciona facilidade de acesso a créditos pelos 
moradores às atividades rurais, assistência técnica e o acesso a outros programas e ações, como 
o Bolsa Família, a emissão de documentação civil, programas de saúde, inclusão no programa 
de aposentadoria do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), entre outros (BRASIL, 2010). 
Assim, essa modalidade busca reconhecer e fortalecer a identidade das populações 
tradicionais, através da seguridade fundiária e dos recursos naturais à essa população, uma vez 
que, a mesma está inserida em um cenário de disputas pelo acesso à terra e seus recursos. Os 
PAE’s são lócus ocupados por uma diversidade de atores sociais que disputam seus recursos 
naturais, não somente os ribeirinhos, pois é um cenário de disputas que envolvem madeireiros, 
herdeiros de engenhos, de antigos barracões da época da borracha e da recente prática do 
aviamento, de donos de olarias e dos criadores de animais. 
Atualmente, o PAE é o principal instrumento de regularização fundiária e de reforma 
agrária às comunidades ribeirinhas. As populações ribeirinhas ocupam territórios considerados 
 
2 A população ribeirinha na Amazônia refere-se ao modo de sua interação com a natureza: mata, rios, igarapés e 
lagos, definindo lugares e tempos de vidas. O uso dos recursos naturais está presente nos seus modos de vida, 
enquanto dimensões fundamentais que atravessam as gerações e fundam uma noção de espaço, seja como 
patrimônio comum, seja como de uso familiar ou individualizado pelo sistema de posse. Além disso, destaca-se a 
forte relação da mesma com a água, visto que esta é utilizada tanto como meio de circulação quanto de subsistência 
(através da pesca, por exemplo) (CASTRO, 1997 apud CRUZ, 2005, p.07). 
3 O Termo de Autorização de Uso não transfere a posse da terra. Permite o reconhecimento do direito à ocupação 
e à exploração sustentável das áreas de várzeas, bem como promove a legalização de atividades tradicionais típicas 
da Amazônia (desbaste de açaizais, colheita de frutos, manejo de outras espécies) (BRASIL, 2010). 
 
 
 
 
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de Patrimônio da União. São áreas inalienáveis, ou seja, não podem ser vendidas, doadas, 
alugadas, trocadas e nem ser objeto de usucapião (adquirida pelo tempo de uso). Mas, é possível 
o acesso ao solo e aos seus recursos naturais por meio de autorização, cessão de uso do bem. 
Isto mediante negociação das associações de moradores, para a elaboração de um Plano de 
Utilização, com delimitações das regras de convivência e de uso dos recursos, para assim, ser 
regulamentado como um PAE. Dessa forma, o associativismo é condição fundamental para a 
viabilidade e sucesso do PAE, tendo as organizações econômicas locais o papel de 
intermediadora entre os moradores do assentamento e o órgão regulador dessa modalidade 
(CORRÊA; PINHEIRO, 2010). 
Pode-se constatar a importância da atividade agroextrativista como alternativa para os 
projetos de assentamentos, de modo particular na Amazônia, onde os PAE se concentram. A 
política de regularização das terras de ilhas e várzea na Amazônia iniciou no Pará em 2003. Em 
2004, regularizou-se os primeiros assentamentos no Estado, mas o processo intensificou-se a 
partir de 2005 com o Projeto Nossa Várzea:Cidadania e Sustentabilidade na Amazônia para 
regularização da população ribeirinha no Marajó. Em 2009, o projeto foi estendido para outros 
estados da Amazônia: Amazonas, Acre, Maranhão, Amapá e Tocantins, como garantia de 
cidadania das comunidades ribeirinhas tradicionais, em consonância com uma política de 
desenvolvimento sustentável. 
Os primeiros PAE’s no estado do Pará surgiram no município de Abaetetuba, em 2004, 
cerca de uma década depois da regulamentação desta modalidade pela portaria 268/1996: o 
PAE Nossa Senhora do Livramento na Ilha da Tabatinga e o PAE São João Batista na Ilha de 
Campompema. Após esse período, houve uma intensificação na regulamentação dessa 
modalidade, resultado do termo firmado entre o INCRA e o SPU, com a criação de 318 PAE’s 
(99% dos assentamentos agroextrativistas foram criados entre o período de 2005-2015). 
Destaca-se o ano de 2006, no qual foi regulamentado 43% do total desses assentamentos criados 
no Pará, bem como, houve o maior número de famílias assentadas (43%) (Tabela 2) 
(BRASIL,2015). 
 
Tabela 2: PAE’s Regulamentado por ano no estado do Pará - 1996 a 2015 
ANO 
Nº 
PAE'S 
% 
FAMÍLIAS 
PAE'S 
% ÁREA (HA) 
ÁREA (HA) / 
FAMÍLIA 
1996-2003 - - - - - - 
2004 2 1% 426 1% 694,97 1,63 
2005 19 6% 14.049 18% 429.431,39 30,57 
2006 139 43% 34.242 43% 786.396,73 22,97 
2008 62 19% 11.643 15% 709.793,83 60,96 
2009 38 12% 11.486 14% 647.506,66 56,37 
2010 11 3% 2.548 3% 216.416,14 84,94 
2011 27 8% 2.955 4% 405.376,81 137,18 
2012 5 2% 397 0% 30.103,19 75,83 
2013 3 1% 167 0% 54.832,84 328,34 
2014 13 4% 1.238 2% 46.651,37 37,68 
2015 1 1% 200 0% 5.577,35 27,89 
TOTAL 
GERAL 
320 
100% 
79.351 
100% 3.332.781,29 
42 
Fonte: BRASIL, 2016. Organizado pelos autores. 
 
 
 
 
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Além disso, destaca-se a concentração desses PAE’s nas microrregiões banhadas pelo 
rio Pará e Tocantins, onde destaca-se a Região Metropolitana de Belém (RMB)4, que possui 
aproximadamente 50 ilhas. A RMB tem como característica socioespacial a insularidade, 
distribuída na Baía de Guajará, com confluência dos rios Pará e Guamá. Grande parte das terras 
dessa região é composta por diversas ilhas que apresentam um processo antigo de ocupação, 
desde a primordial presença indígena até a colonização portuguesa. Essas ilhas foram utilizadas 
entre os séculos XVI e XIX como esconderijo de indígenas, escravos africanos fugitivos e 
foram utilizadas para o cultivo de cana-de-açúcar, cacau, arroz, urucum, baunilha, etc. Outras 
se tornaram sede de olarias e engenhos. Foi somente no século XIX que parte delas foi sendo 
povoada por meio de projetos do governo, como Caratateua (Outeiro). Em finais do século XIX 
e durante o século XX, algumas ilhas adquirem um novo significado na região, como 
importantes áreas de turismo e lazer (veraneio). As ilhas de Outeiro, Mosqueiro, Onças, 
Cotijuba e algumas outras se tornaram locais favoritos para a elite estrangeira e os novos ricos 
pela comercialização do látex, da castanha e das madeiras (MEIRELES FILHO, 2014; HORA, 
2014; GONÇALVES et al, 2016; BRASIL, 2016). 
Neste contexto, os PAE’s emergem como uma possibilidade de ação governamental, 
que visa proporcionar a segurança e garantia de suporte para as famílias e povos tradicionais 
que vivem localizados principalmente nas ilhas que rodeiam o município de Belém e sua região 
metropolitana. Já que, estas ilhas localizadas na RMB, abrigam inúmeras famílias ribeirinhas, 
que dada a proximidade com importantes centros urbanos, enfrentam problemas típicos das 
cidades, como a contaminação das águas e a criminalidade (inclusive pirataria). 
A RMB tem atualmente 17 assentamentos, em três modalidades: o Projeto de 
Assentamento Federal (4 PA’s), o Projeto de Assentamento Agroextrativista (11 PAE’s) e o 
Projeto de Assentamento Casulo (2 PCA’s), com 1.967 famílias assentadas em uma área de 
22.196ha, com a predominância de regulamentação na década de 2000. Assim, o contexto dos 
assentamentos de reforma agrária da RMB é recente, onde se destacam os PAE, o que 
demonstra a dimensão dessa política de regularização fundiária na RMB, já que, 65% dos 
assentamentos presentes neste lugar são assentamentos agroextrativistas, localizados em sua 
maioria, na região insular de Belém e Ananindeua (BRASIL, 2016). 
A RMB possui 11 PAE’s, localizados predominantemente no território insular do 
município de Belém e Ananindeua, com 1.121 famílias assentadas, numa área de 10.938,26ha. 
Segundo a Tabela 3, os dois PAE’s mais expressivos em termos de extensão são: o João Pilatos, 
criado em 2005 no município de Ananindeua, que possui 35% da área total dos assentamentos 
agroextrativistas, sendo este o maior PAE da RMB, com 18% das famílias assentadas; e o PAE 
Ilha do Combu, criado em 2006, assentamento mais expressivo do município de Belém, com 
14 % da área total dos PAE’s e 21% das famílias assentadas (GONÇALVES et al, 2016). 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 A RMB é formada pela capital do Estado do Pará, Belém e seis municípios próximos: Ananindeua, Benevides, 
Castanhal, Marituba, Santa Bárbara do Pará e Santa Izabel, situados na foz do rio Pará e do rio Guamá, sendo 
ainda cortada por vários rios e igarapés que formam uma grande área de várzea e ilhas (MEIRELES F., 2014). 
 
 
 
 
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Figura 03: Projetos de Assentamentos Agroextrativistas da RMB 
 
 
 
Fonte: Acervo Fundiário do INCRA, 2017. Elaborado pelos autores 
O PAE João Pilatos está localizado na maior ilha do município de Ananindeua e, é o 
maior PAE em extensão territorial da RMB, com aproximadamente 200 famílias regularizadas, 
distribuídas em sete comunidades, das quais, a João Pilatos, Igarapé Grande e Nova Esperança, 
concentram a maioria da população. A ocupação da ilha de João Pilatos remonta ao século 
XVIII, quando, juntamente com as ilhas vizinhas de Sororoca e Santa Rosa, com o cultivo de 
cana-de-açúcar supria o engenho da ilha de São Pedro (HORA, 2014). 
As comunidades de João Pilatos e Igarapé Grande foram criadas há aproximadamente 
100 anos e possuem uma história em comum: advêm de uma família que comprara uma área na 
ilha para estabelecer uma fazenda e, ao longo do tempo, essa família dividiu o espaço em 
unidades familiares, o qual formou-se esses dois povoados. Enquanto a comunidade Nova 
Esperança é mais recente, de fins da década de 1990, formada por famílias advindas da região 
periférica do município de Ananindeua, estes desconhecem os sistemas de uso tradicionais da 
terra, bem como, não apresentam os conhecimentos necessários relacionados ao modo de vida 
ambientalmente sustentável. Neste contexto, como garantia para a posse do solo e dos recursos 
naturais, os seus moradores se mobilizaram para a regularização desse espaço. Em 2005, a SPU 
e o INCRA viabilizaram a criação do PAE João Pilatos (BRASIL, 2010; HORA, 2014). 
É importante destacar que a criação do PAE João Pilatos, em 2005, possibilitou o acesso 
de famílias aos créditos do Programa Nacional de Reforma Agrária, principalmente, o crédito 
de habitação, para construção de casas de alvenaria, em substituição as antigas – a maioria de 
madeira, coberta de palha. Apesar deste acesso ao crédito habitação, há muita precariedade na 
infraestrutura social como: ausência de assistência a alguns serviços básicos, como saúde, não 
há um posto médico na ilha; gravesproblemas de segurança, devido furtos de piratas; 
dificuldade de acesso à transporte público, que garanta mobilidade dos moradores à outras ilhas 
e a parte continental do município de Ananindeua (HORA, 2014). 
 
Projeto de Assentamento Rural 
 
Projeto de Assentamento Agroextrativista 
 
 
 
 
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Em termos de atividade econômica, há aproximadamente 20 anos foi incentivada a 
extração do açaí para a comercialização, pelo Festival do Açaí. Esta festividade itinerante das 
ilhas de Ananindeua, iniciada pelas associações comunitárias da ilha de João Pilatos, busca 
conscientizar ambientalmente a população ribeirinha e evitar ações de desmatamento e 
derrubada dos açaizais para extração do palmito. Além disso, há um processo de diversificação 
econômica na ilha, para além do extrativismo vegetal e a pesca, com a atividade de roçado e o 
cultivo de frutíferas, como o cupuaçu (HORA, 2014). 
Enquanto a Ilha de João Pilatos é somente um PAE, com as especificidades destacadas 
acima. A Ilha do Combu não é somente uma PAE ela é, também, uma área de Proteção 
Ambiental (APA) (Lei estadual no 6.083/1997). Isto caracteriza a existência de sobreposição de 
projeto de assentamento e de unidade de conservação, instituídos respectivamente pela União 
e pelo estado do Pará, em uma mesma área. Provavelmente, sem qualquer diálogo entre os 
órgãos gestores, sobre os aspectos distintos de cada modalidade (LIMA, 2010). 
O PAE Ilha do Combu localiza-se na área insular do município de Belém, às margens 
do rio Guamá. Sua população está organizada em 4 comunidades: Igarapé do Combu, Igarapé 
do Periquitaquara, Furo São Benedito e Beira Rio. A principal atividade econômica, e de 
autoconsumo dessas comunidades, é a pesca artesanal (peixe e camarão), o extrativismo 
vegetal, principalmente do açaí, do qual são extraídos o fruto e o palmito. Há, também, 
produção regular do cacau5, do cupuaçu e da pupunha. Destaca-se também, atividade de 
turismo, organizada por empreendimentos particulares. Isto acentua a especulação das áreas de 
moradia e incentiva a venda de terrenos por ribeirinhos, por exemplo, para construção de 
restaurantes (GONÇALVES et al, 2016). 
Em 2006, a regularização fundiária da Ilha do Combu, como modalidade de 
assentamento agroextrativista, garantiu a seguridade de posse e uso dos recursos naturais pela 
população ribeirinha. Uma vez que, no final da década de 1980, uma parte da ilha do Combu, que 
abrangia a comunidade do Igarapé, foi leiloada pelo governo do estado do Pará. Segundo Gonçalves 
(2015), as famílias que habitavam a ilha passaram a ser “vigilantes” das terras do novo “dono”, 
com a obrigação de proteger a área de posseiros e pagar pelo uso do solo, através da divisão de 
sua produção com o patrão. Posteriormente, as famílias ribeirinhas obtiveram informações de 
que estas terras eram de domínio público. Organizaram um movimento de negociação com o 
INCRA e o SPU, e assim, criaram o assentamento agroextrativista, por meio do qual os 
moradores passaram a acessar recursos para construção/reforma de suas casas e aquisição de 
equipamentos de trabalho. 
Atualmente, um dos principais desafios para a SPU, na ilha do Combu, é conter a venda 
ilegal de terrenos pelos moradores locais. Além disso, a população enfrenta dificuldades com o 
abastecimento de água, precariedades no serviço de educação, demora na liberação das licenças 
para manejo dos açaizais, processo de regularização fundiária inacabado, entre outros. Além 
disso, o intercâmbio dos PAE’s com a RMB acelera o uso e ocupação do território e aumenta o 
impacto ambiental. A intensificação da extração vegetal e a construção de espaços para o 
turismo, de maneira desordenada, evidencia na prática, a difícil conciliação entre garantir a 
subsistência das famílias e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente. 
Outra dificuldade identificada, diz respeito as regras inerentes ao projeto de 
assentamento agroextrativista. Normalmente, criam-se critérios que são introduzidos de forma 
 
5Há a experiência de uma unidade familiar que produz chocolate artesanal, orgânico, regularizada nesse 
assentamento (SOUZA, 2016a; SOUZA, 2016b). 
 
 
 
 
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imperativa, que nem sempre as famílias tradicionais estão preparadas para acatar ou mesmo são 
orientadas sobre as origens e efeitos da normatização. Isto implica em várias limitações como: 
uso dos recursos, quanto ao tamanho da terra; distância das margens dos rios permitidas para o 
cultivo; restrições impostas quanto ao modo de lidar com a terra e com o rio. Em geral, são 
normatizações contrárias à tradição e cultura destes assentados e lhes acarretam mudanças 
profundas no modo de vida. Observa-se que os moradores possuem pouco conhecimento e 
identidade sobre o que representa esta nova configuração do uso e apropriação dos recursos 
deste território insular. 
Neste sentido, pode-se afirmar que a política de regularização fundiária e reforma 
agrária, adotada na Amazônia a partir do II PNRA provocou mudanças consideráveis às 
populações das ilhas da RMB. Intensifica-se a relação rural-urbano, ou campo-cidade, em 
condições, na maioria das vezes desfavoráveis as populações desse território das ilhas, que 
extrapolam a definições administrativas do município de Belém ou da própria RMB, porque há 
conexões com territórios de outros municípios como Acará e Barcarena, por exemplo. Portanto, 
identifica-se a diversidade de modos de vidas e a convivência de grupos tradicionais, como 
ribeirinhos, quilombolas, caboclos e outros grupos sociais, num ambiente pressionado pela 
urbanização e uso pela população urbana. 
As ilhas são fonte de suprimentos alimentícios para a cidade e, também são áreas de 
expansão urbanísticas como possibilidade de crescimento da cidade (com destaque para a 
Comunidade Nova Esperança do PAE João Pilatos). Por sua vez, os serviços ofertados pela 
cidade são intensamente usados pelos ribeirinhos, que a ela se dirigem para escoar a produção, 
fazer compras, ir ao médico, frequentar a rede escolar e utilizar outros serviços, como 
abastecimento de água potável. Apesar desse quadro de aproximação com a cidade, prevalecem 
ainda práticas de comercialização que remontam ao sistema de aviamento, com destaque ao 
papel do atravessador. Portanto, é mantida a reduzida apropriação da renda gerada pelas 
atividades econômicas tradicionais, assim como, elevado grau de dependência político-social 
(MACHADO, 2013). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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4. Considerações Finais 
A evolução da concentração na estrutura fundiária, em contraponto a criação de diversas 
modalidades de Assentamentos de Reforma Agrária, representa um importante indicador de 
avaliação dessas modalidades para a efetivação da desconcentração de terras. Por mais de um 
século, as grandes propriedades, a partir do poder que a posse de terra representa, controlam as 
políticas de desenvolvimento. O quadro da estrutura fundiária brasileira, no período de 1998 
para 2014, indica, por meio do Índice de Gini da concentração de terras fundiária, uma 
acentuação de 0,02 de um período para o outro, com a perpetuação da relação inversa da 
propriedade da terra emrelação ao tamanho da área. Portanto, tais indicadores demonstram que 
a estrutura agrária pouco se alterou no Brasil, nos últimos anos, a concentração fundiária 
prevalece. 
Além disso, na análise geográfica, destaca-se a oposição territorial entre as famílias em 
ocupações e famílias assentadas: entre 1988 e 2006. Observa-se que do total das famílias que 
participaram de ocupações de terra no Brasil, apenas 5% o fez na região Norte. Porém, entre as 
famílias assentadas pelo governo federal no mesmo período, 40% receberam lotes na região 
Norte; enquanto, a região Sul e, especialmente a Sudeste, ao contrário do que ocorre no Norte, 
a participação nas ocupações é bem superior ao assentamento de famílias. 
Assim, pode-se concluir previamente que essa modalidade de assentamentos, os PAE’s, 
não têm potencialidades que impactam na desconcentração de terra e são não-reformadores. No 
entanto, considera-se o processo de formação dos assentamentos na RMB importante, enquanto 
ação de inclusão social e produtiva, uma vez que garante a seguridade de terras, através da 
concessão de uso do solo e dos recursos naturais. Dessa forma, a crítica não é ao PAE, mas sim, 
na configuração que a reforma agrária vem sendo conduzida pelo governo brasileiro, por um 
lado, avança em áreas da Amazônia brasileira - um novo movimento de fronteira agrícola -, 
particularmente nessa modalidade de caráter ambiental. Por outro lado, mantêm a estrutura 
fundiária nas outras regiões, principalmente no Sudeste e Centro Oeste, como garantia ao 
desenvolvimento do agronegócio. Todavia, a fronteira agrícola da Amazônia pode entrar em 
situação de estrangulamento, em decorrência de conflito e impacto ambiental, portanto, 
desestruturação do ecossistema amazônico. As terras da União não serão suficientes para a 
continuação do governo com esse modelo de reforma agrária, considerada restrita e 
conservadora por não desconcentrar a terra, o que tenderá a acentuar os conflitos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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