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O ESTADO E O DIREITO

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TEORIA GERAL DO ESTADO
Prof. Charles Daniel Duvoisin
Aula nº. 1
O ESTADO E O DIREITO
É inegável que a vida em sociedade torna-se cada vez mais complexa e em constante evolução. A globalização, o espantoso avanço dos meios de comunicação e da tecnologia cibernética, propiciaram uma maior intensidade no convívio social. Fatores que aproximaram nações e reduziram-se o distanciamento fronteiriço, cujas vidas muitas vezes transcorriam no mais completo isolamento, divorciados de qualquer compartilhamento cultural, evidenciado um quadro de uma verdadeira comunidade mundial. O desafio é instalar uma ordem neste novo panorama. É fundamental o aperfeiçoamento e o equilíbrio da sociedade, justamente para alcançar uma harmonia. 
O que é e qual a finalidade do “Estado” e do “direito”? Muitas pessoas se questionam sobre conceito e efetividade dos temas, e no que eles impactam em nossas vidas. Trata-se de assuntos da maior relevância. O convívio e a organização de uma sociedade próspera depende, e muito, de sua estrutura física, jurídica e funcional. O respeito e o cumprimento da lei ou do direito configura mais do que um dever, configura a garantia da perpetuação da espécie humana. A organização social e administração pública também é fator decisivo. 
Direito 
O Direito é a normal legal que disciplina a forma de conduta do homem em sociedade. Procura preservar a paz, a serena e frutífera convivência entre os humanos. A palavra “direito” tem sua origem no vocábulo latino: directum ou rectum, que significa “reto” ou “aquilo que é conforme uma régua”. Aos que vinculam a origem da palavra à expressão “jus”, sustentam que esta surge do termo “justum”, que significa “justo”. Por sinal, esse radical irá gerar outras palavras em português como "justiça", "jurídico" ou "juiz". E, segundo a mitologia romana, a deusa da Justiça chamava-se Justitia. 
O direito advém da análise da realidade, do comportamento do homem em conjunto com seus semelhantes, dos fatos e acontecimentos transcorridos ao longo da história. Considera-se o desenvolvimento das idéias no campo social, dos usos e costumes de um povo, sua economia e cultura. A preocupação com a segurança e justiça também foram fomentadores da confecção de regramentos para melhor administrar a sociedade. Esse conjunto de normas pode ao mesmo tempo restringir ou a garantir a liberdade. 
Porém, o Direito só se apresenta se inserido no contexto do brocardo latino “ubi societas ibi jus”�. Isto é, prescinde da vida em coletividade. A construção da sociedade moderna (e de antigamente) sempre foi dependente do direito e de sua vinculação com o Estado. São normas de conduta do cidadão, mas tendo por base os seus próprios anseios. 
São as regras de conduta, de cunho coercitivo. Por força da vida hodierna, o Estado vem sendo constantemente chamado a intervir. São evidências de que Direito e Estado devem e sempre andaram ao lado. A partir do momento em que o cidadão abriu mão de praticar justiça e sentiu a necessidade de melhor se organizar, o Estado foi conclamado a regular a sociedade. 
O direito busca regular a sociedade, mas partindo de critérios morais, analisando os usos e costumes bem como a vontade do cidadão, em sua dinâmica social. Hart�, que escreveu a obra “O Conceito de Direito”, até admite que a moralidade pode orientar decisões ou que direito e a moral andam juntos, mas é categórico em sustentar que as leis não devem prezar pela moral. Procurou explicar o direito enquanto sistema normativo, o qual não pode transformar em crime, situação que na ótica moral é considerado pecado ou injusto.� 
Não muito distante de Hart, Hans Kelsen e Norberto Bobbio e Herbert Hart sustentam o positivismo como fonte conceitual de direito. Procuram diferenciar direito e moral, os quais devem ser entendidos como fenômenos distintos. O Direito, para Bobbio�, é uma construção, um artefato humano fruto da política que produz o Direito Positivo. Requer a razão para pensar, projetar e ir transformando este artefato em função das necessidades da convivência coletiva. O brilhante doutrinador italiano, em sua obra “A era dos direitos” prossegue elencando que “sem direitos do homem reconhecidos e protegidos, não há democracia; sem democracia, não existem as condições mínimas para a solução pacífica dos conflitos.” Bobbio entende que hoje o problema fundamental não é como justificar os direitos do homem, mas sim protege-los ou zelar por sua efetividade. 
Já Kelsen tem seu conceito do direito vinculado à redação da norma jurídica. Vale o que está positivado, descrito nos códigos. A conduta humana encontra-se prescrita em lei e deve ser cumprida, sob pena da coerção e punição do Estado. Carnelutti também enaltece a participação do Estado, ligando-o ao conceito de direito. Ele� menciona que o direito é a armação do Estado. É o instrumento que o povo necessita para que possa alcançar a sua estabilidade. 
A idéia do direito é tornar a convivência em coletividade harmônica e producente, onde se possa ampliar uma melhoria nas condições de vida do ser humano, com seu aprimoramento cultural e profissional. 
Estado
Quanto ao Estado, dedica-se todos os demais tópicos para a devida compreensão. Por sinal, a preocupação com o Estado e política (administração da polis, aquilo que é publico, do povo) é antiga e pode ser visualizada em Platão, Aristóteles, Confúcio dentre outros tantos. Antes de iniciarmos o aprofundamento no tema, passa-se a analisar o tema objeto desta disciplina: Ciência Política e Teoria Geral do Estado. 
CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO
A história da humanidade se confunde com a da política e suas relações interpessoais. Desde o momento que o homem passou a viver em grupo as implicações políticas passam a se fazer presente. A evolução do homem é um desabrochar da civilização, e caminham a passos dados. 
A evolução e o desenvolvimento da tecnologia, com as recentes intervenções das redes sociais nunca, ao longo dos séculos aproximou tanto as pessoas, e com isso as diferenças. As fronteiras ou as distâncias estão desaparecendo com a virtualização dos contatos. Um direito pode ser violado a milhares de quilômetros do Brasil. A economia se tornou algo globalizado. Uma crise nos Estados Unidos ou China afetam ao mundo inteiro. A vida em sociedade nunca dependeu tanto da intervenção do Estado, em todas as esferas do convívio humano. 
Desta reflexão percebemos a importância da política e suas ciências, para o progresso e a conquista da felicidade, grandes objetivos sempre visualizados por todos. 
Segundo salienta Bobbio�, os Estados tornaram-se cada vez maiores e sempre mais populosos, e neles nenhum cidadão está em condições de conhecer todos os demais, os costumes não se tornaram mais simples, tanto que os problemas se multiplicaram e as discussões são a cada dia mais espinhosas, as desigualdades de fortunas ao invés de diminuírem tornaram-se, nos Estados que se proclamam democráticos (embora não no sentido rousseaunianismo da palavra), cada vez maiores e continuam a ser insultantes. Invocando Rousseau complementa o doutrinador italiano que “o luxo corrompe ao mesmo tempo o rico e o pobre, o primeiro com a posse e o segundo com a cupidez.” 
O envolvimento com a política se transformou em algo obrigatório em todos os segmentos. Não podemos mais ficar divorciados desta interação. A expressão tantas vezes ouvida “odeio política”, tornou-se démodé. Os cidadãos estão sentindo na pele o quanto impacta as diretrizes (mal) traçadas de um governo. Sentem-se a cada dia mais responsáveis pela gestão pública, o que torna a convivência social harmônica um desafio constante e de intenso debate. 
O exercício das funções públicas e o compreender do Estado deixou o campo do formalismo e do subjetivismo, para embalar passeatas e inspirar lutas sociais. A defesa dos ditames constitucionais ganharam ênfase e notoriedade. E nesse espírito deve-se respeitar as regras, as leis. E regras são feitas de princípios, queigualmente precisam ser valorizados. A observância e respeito da liberdade, da igualdade, da defesa de uma vida digna, busca pacífica da solução de conflitos ou a resolução das controvérsias mediante o diálogo, atinge a todos e são peças fundamentais de um país moderno. 
Essa busca de se entender o Estado e suas formas de interagir com a sociedade, acabou forjando o surgimento da Ciência Política e da Teoria Geral do Estado, como mecanismos de auxílio para tanto. 
A Ciência Política preocupada em estudar o comportamento humano em sociedade e a Teoria Geral do Estado voltada basicamente para investigar a específica realidade da vida estatal seus pontos positivos e negativos, aspirando compreender o Estado em sua estrutura atual, no passado e as tendências de sua evolução. 
Aliás, sociologia e ciência política abordam assuntos bem similares, mas com algumas diferenças. Apesar de ambos estarem inseparavelmente atrelados, de modo que a sociologia, ou seja, simplesmente o estudo da vida em sociedade, engloba a política, pois sua abrangência é limitada fundamentalmente no estudo das relações de poder dentro de uma sociedade�. 
Isso tudo visando traçar uma convivência futura cada vez mais harmônica e solidária entre os homens, garantindo assim o chamado “bem comum” da sociedade.
Desde os tempos da antiguidade clássica o homem vem procurando transmitir por escrito, doutrinas e conhecimentos que transcorriam à época. Esses estudos e considerações, com o tempo reunidos, passaram a ser entendidos como “ciência política”. Mas antes de se abordar o tema, importante esclarecer o que é ciência e o que é política. 
Ciência – a palavra de origem latina, “scientia”, significa “conhecimento”. Saber que se adquire pela leitura e meditação. Conjunto organizado de conhecimentos sobre determinado objeto, em especial os obtidos mediante a observação dos fatos e um método próprio�. Pressupõe pesquisa, investigação e análise de fatos e acontecimentos, através de um método próprio (práticas sistemáticas). 
Para Aristóteles a ciência tem por objeto os princípios e as causas. Os fatos do cotidiano tem explicação na análise e investigação das causas. O filósofo grego que também procurou analisar os trabalhos dos demais colegas, comentando suas obras, enaltece a investigação filosófica e científica. Seu trabalho lhe concedeu até mesmo o título de fundador da “ciência política”. Sua principal obra, “A Política”, cinge-se em analisar e descrever o convívio dos atenienses, em coletividade. 
Kant, por sua vez, foge desse entendimento onde acaba por reprovar essa distinção entre o conhecimento científico e filosófico. Para o doutrinador a ação intelectual dos positivistas e evolucionistas torna cada vez mais preciso o conceito de ciência, designando-o como o conhecimento das relações entre coisas, fatos ou fenômenos.
Enfim, “tudo o que possa ser objeto de certeza apodítica� é ciência” (Kant). 
Para Pedro Sabino de Farias Neto, ciência em geral significa o conjunto consubstanciado de conhecimento revelados pertinentes a fatos da realidade que sejam percebidos e observados. Nesses termos, os conhecimentos são verdades ora reveladas sobre os fatos da realidade. A ciência expressa distinta dimensão que fica manifesta, finita e temporária da realidade multiforme que é absoluta, infinita e eterna. Essa dimensão manifesta da realidade é objeto de enfoque da ciência então identificada.�
Definir ciência nunca foi tarefa fácil, visto que se leva muito em conta a realidade, a dimensão em que o homem se encontra. Como o mundo está em constante evolução e a tecnologia em ritmo acelerado na produção de inovações, a sociedade é prova viva de que o conceito de ciência além de sua amplitude, ainda é volátil . 
Ciência / Experiência
A caracterização da ciência implica, segundo inumeráveis autores, a tomada de determinada ordem de fenômenos, em cuja pluralidade se busca um princípio de unidade, investigando-se o processo evolutivo, as causas, as circunstâncias, as regularidades observadas no campo fenomenológico. 
Formas de conhecimento (segundo Herbert Spencer): 
conhecimento empírico ou vulgar;
conhecimento científico (aquilo que é comprovado, demonstrável);
conhecimento filosófico (parte de raciocínios lógicos, abstração). 
Conceituado “ciência” segue o raciocínio para o entendimento do que seja “política”, para então passarmos a discutir “ciência política”.
Política (polis – cidade).
Já o vocábulo política (feminino substantivo de político) possui, na atualidade contemporânea, as mais diversas acepções, que vão desde a designação ampla da ciência dos fenômenos referentes ao Estado (tradução de ciência política) até a correspondente habilidade no trato das relações humanas, com vista à obtenção dos resultados desejados, passando por acepções variadas como, por exemplo:
- o sistema de regras respeitantes à direção dos negócios públicos; 
- a arte de bem governar os povos; 
- o conjunto de objetivos que informam determinado programa de ação doutrinário que caracteriza a estrutura constitucional do Estado; 
- a posição ideológica a respeito dos fins do Estado; 
Podemos afirmar que a “política” configura uma verdadeira ciência do poder. Este conceito deve-se ao fato de estar analisando o exercício e os efeitos práticos do poder do Estado perante a sociedade. Esse trabalho é fator determinante para o progresso de uma nação. 
A Política, assim pois, refulge mais do que nunca no mundo conturbado em que vivemos, e por ela, podemos penetrar nas estruturas de sociedade contemporânea, melhor entendendo, para melhor criticar estas mesmas estruturas, assim como a ninguém seria dado compreender os fundamentos da sociedade feudal se se ignorasse os fatores de natureza religiosa, que, marcadamente, os influenciariam.�
A importância do tema foi muito bem destacada na obra “Por que as nações fracassam”, de autoria dos professores da Universidade de Havard, Daron Acemoglu e James Robinson. Destacam na obra que o grande diferencial para o sucesso ou fracasso de um país não está na sua situação geográfica, clima ou religião adotada, mas sim na “política”. Os governos que gerenciam os Estados são os grandes responsáveis pelo progresso de uma nação, como pode se observar do exemplo das duas Coréias (Sul e Norte). Uma, desenvolvida, com alto índice de renda per capita, em franco progresso (Coréia do Sul – influência do mundo ocidental capitalista) e outra com evidente estágio de estagnação econômica, desemprego e retrocesso, sofrendo sérios problemas sociais (Coréia do Norte – influência comunista). 
A política, a “administração da cidade ou Estado” é algo a ser compreendido e valorizado em uma sociedade. É tema a ser discutido, debatido, todos os dias. Jamais poderia ser sinônimo de ojeriza ou crítica, de onde provém o que muitos atestam com ênfase “ah, odeio política!”. Esse sentimento é equivocadamente internacionalizado, mas deveria ser devidamente equacionado. O que se deve tergiversar, odiar, não é a política e sim a forma malévola de conduzir de tal função. A famigerada corrupção, a degeneração das entidades públicas e a incompetência de se administrar recursos em prol da saúde, educação e demais estruturas básicas de um Estado, fomentam no povo brasileiro ânsia e revolta. Fatos que não outorgam à sociedade razão para se desviar do conceito de política, muito menos se opor ao tema. 
Para tanto, passa-se a discutir e conceituar melhor o tema. 
Ciência Política
A Ciência Política busca empregar esforços e recursos disponíveis para a concretização do bem comum em sociedade. Parte do estudo dos problemas vivenciados em sociedade e dos anseios da população para então converter em medidas públicas administrativas. É a ciência da observação dos trâmites públicos, do poder. Alguns avaliam a ciência política como uma maneira de se estudar as formas de governo, detentora de um vasto objeto de apreciação.
Pelos conceitos de ciência e política percebe-seque o termo “ciência política” contempla complexidade e um vasto campo de atuação. E, considerando o fato de que se estuda o comportamento humano em sociedade e a sua relação com o poder, a dimensão do tema é fascinante. 
O brilhante doutrinador italiano, Norberto Bobbio�, em sua obra que contempla uma coleção de trabalhos literários, define ciência política como o “estudo dos fenômenos políticos realizado com a metodologia das ciências empíricas e com o uso das técnicas de investigação da ciência do comportamento.” 
Analisa-se a organização e o comportamento do homem em sociedade, entrelaçado com a figura do Estado, que por sua vez tem a incumbência de coordenar as diretrizes jurídicas e funcionais do país, manter a ordem interna e externa. 
Quanto maior o índice de consciência ética, política e cultural, maior o desenvolvimento social e coletivo. Cabe à ciência política buscar mecanismos para aprimorar este estágio evolucionista, impingindo a cada qual uma responsabilidade individual e ao mesmo tempo coletiva. O homem deve buscar sempre o seu aprimoramento, em todos os sentidos, mas sem esquecer de que convive em ambiente coletivo e a excelência encontrada no seu íntimo só garantirá uma vida plena se a sociedade como um todo, também evoluir. 
Para o mestre Dalmo de Abreu Dallari� “a Ciência Política faz o estudo da organização política e dos comportamentos políticos, tratando dessa temática à luz da Teoria política, sem levar em conta os elementos jurídicos. Tal enfoque é de evidente utilidade para complementar os estudos de Teoria do Estado, mas, obviamente, é insuficiente para a compreensão dos direitos, das obrigações e das implicações jurídicas que se contêm no fato político ou decorrem dele.”
A Ciência Política ocupa-se primordialmente desta análise ou estudo do comportamento do homem em sociedade, onde os aspectos práticos do exercício do poder são de grande relevância. Cuida do papel dos cidadãos e do governo, nas tomadas de decisões de cada qual. Os grupos de pressão, os atos públicos e as decisões políticas carecem de análise da Ciência Política. O objetivo é avaliar e se aproximar ao máximo da compreensão do efetivo e real funcionamento o governo. 
Estuda-se o poder político e sua aplicabilidade e receptividade junto à sociedade. O conceito passa por uma avalição do Estado no contexto do “ser” e não do “dever ser”. Temas bem trabalhados por Aristóteles (“ser”) e Platão (“dever ser”). 
O objeto da ciência política é considerado tão vasto quanto a natureza do governo ou poder. Ela estuda o papel dos cidadãos na tomada de decisões, influência de grupos de pressão, criação e funcionamento de partidos políticos, o papel da imprensa no processo político, etc. É um constante observar da sociedade e sua forma de agir e coordenar atividades. Analisa-se de forma preocupada e atenta o comportamento humano, onde carrega uma grande tarefa de melhor equacionar a interação entre os homens e suas crenças, ideologias, religião e pensamentos.
A história moldou e forjou a “ciência política”, tendo o homem como principal personagem, o qual através de sua conduta transformou o mundo. E agora precisa ajustar esta forma de conviver social dentro de uma máquina denominada Estado. Tarefa árdua e complexa, em face das dificuldades que nos deparamos, quando se trata regulamentar formas de ser e de agir do homem. 
Por sinal, a escola alemã contribuiu para uma importante conquista do período contemporâneo, na qual prega-se a desvinculação da pessoa física do rei com a figura do Estado (pessoa jurídica). Várias consequências decorrem da institucionalização do Estado como ente jurídico. A principal foi a desvinculação da figura do governante do próprio Estado, o que permitiu o controle do poder e das autoridades governamentais e fortaleceu o Legislativo e a identificação do Direito à legalidade formal. 
Teoria Geral do Estado 
Partindo-se da premissa defendida por alguns doutrinadores de que a Ciência Política é mais ampla que a Teoria Geral do Estado, seria lícito concluir que o objeto da Ciência Política é o estudo da convivência humana em coletividade – especialmente a mais complexa delas, que é o Estado; ao passo que o objeto da Teoria Geral do Estado limitar-se-ia ao Estado em si mesmo, ainda que de forma abrangente a incluir o exame de sua totalidade material, formal e teleológica.� 
Para Dalmo de Abreu Dallari quanto ao objeto da Teoria Geral do Estado “pode-se dizer, de maneira ampla, que é o estudo do Estado sob todos os aspectos, incluindo a origem, a organização, o funcionamento e as finalidades, compreendendo-se no seu âmbito tudo o que se considere existindo no Estado e influindo sobre ele.”�
Segundo Darcy Azambuja�, a Teoria Geral do Estado é uma verdadeira ciência pois estuda como aparece o Estado, os diversos tipos que apresenta através da história, a sua estrutura, a sua forma, os seus objetivos.
Alguns doutrinadores encaixam a Teoria Geral do Estado como um ramo da Ciência Política, a qual procura compreender e retratar a realidade de um país, através do conhecimento do fenômeno político e sua relação com o poder. 
Entende-se também Teoria Geral do Estado como um conjunto de direitos ordenados, sistematizados e explicados, que se sucedem na estrutura do poder, regulando a sociedade que compõem o Estado. 
Para Aderson de Menezes� "a Teoria Geral do Estado é a ciência geral que, na análise dos fatos sociais, jurídicos e políticos do Estado, unifica esse tríplice aspecto e elabora uma síntese que lhe é peculiar, para estudá-lo e explicá-lo na origem, na evolução e nos fundamentos de sua existência".
Estado: “relação de dominação do homem sobre o homem”. “Monopólio do uso legítimo da violência física – Direito à violência” (Max Weber).
O Estado é uma instituição social e jurídica e esta natureza justifica a maneira de indagá-lo. 
Segundo Dallari, pode-se dizer que, assim como a ciência política, a noção de Teoria Geral do Estado envolve uma disciplina que sistematiza e contempla conhecimentos jurídicos, filosóficos, sociológicos, políticos, históricos, antropológicos, econômicos, psicológicos, valendo-se de tais conhecimentos para buscar o aperfeiçoamento do Estado, concebendo-o, ao mesmo tempo, como um fato social e uma ordem, que procura atingir os seus fins com eficácia e com justiça.
Atesta-se ainda que a Teoria Geral do Estado configura a parte geral do Direito Constitucional, a sua estrutura teórica. Não se limita a estudar a organização de um único Estado, mas os princípios essenciais que regem a formação e a organização de todos os Estados, seja no campo sociológico, axiológico ou político. Pedro Calmon, citado por Maluf enumera que a Teoria Geral do Estado é exatamente a mais sociológica, a mais histórica, a mais variável das esferas reservadas à compreensão do fenômeno da ordem coletiva.�.
É imperioso reconhecer a importância e amplitude da disciplina: “O de que mais se precisa no preparo dos juristas de hoje é fazê-los conhecer bem as instituições e os problemas da sociedade contemporânea, levando-os a compreender o papel que representam na atuação daqueles e aprenderem as técnicas requeridas para a solução destes”�. 
Há três pontos que devem ser ressaltados: 
	a) é necessário o conhecimento das instituições, pois quem vive numa sociedade sem consciência de como ela está organizada e do papel que nela representa não é mais do que um autômato, sem inteligência e sem vontade; 
	b) é necessário saber de que forma e através de que métodos os problemas sociais deverão ser conhecidos e as soluções elaboradas, para que não se incorra no gravíssimo erro de pretender o transplante, puro e simples, de fórmulas importadas, ou a aplicação simplista de idéias consagradas, sem a necessária adequação às exigências e possibilidades da realidade social;
	c) o conhecimento da estruturação do ordenamento jurídico e aspectos que irão influir na própria elaboração do direito.
A matéria políticaé preponderante na Teoria Geral do Estado. Para Aristóteles: “Política é a Ciência do Estado”. 
Teoria Geral do Estado – “Ciência Cultural, de fundo eminentemente sociológico, com a finalidade precípua de investigar a específica realidade da vida estatal, nas suas amplas conexões.”
Teoria Geral do Estado – Tríplice aspecto: analisa o poder na sua realidade social, política e jurídica. 
Fontes da Teoria Geral do Estado: os dados e os fatos que compõe a história. 
A Teoria Geral do Estado, então, preocupa-se em estudar o fenômeno político por excelência, qual seja, o Estado, como pessoa jurídica dotada de um poder soberano e de um ordenamento jurídico visando o bem comum, a Ciência Política, por sua vez, preocupa-se com os aspectos práticos do exercício do referido poder. Isso considerando que o Estado é mero instrumento para se alcançar o bem comum da sociedade. 
Como disciplina jurídica, estudada em universidades da Europa, sua origem é incutida ao doutrinador alemão Georg Jellinek. Na condição de professor titular da Universidade de Heidelberg, Jellinek é o precursor da “Teoria Geral do Estado” como matéria a ser aplicada em sala de aula, contemplando no estudo do Estado questões de cunho filosófico, sociológico, político, antropológico, dentre outros aspectos. 
O fato da Alemanha ainda estar se consolidando como “Estado”, contribuiu para que Jellinek escrevesse sua principal obra, em 1900. A unificação dos estados alemães ocorreu em 1871, mas ainda carecia de melhor organização política, em torno do poder central.
No Brasil não havia uma uniformidade sobre o assunto. Algumas faculdades ensinavam TGE como matéria inserida em “Direito Constitucional I”. 
Somente em 30/12/1994, por intermédio do então Ministro da Educação, Murilo de Avellar Hingel, instituiu-se a disciplina, como algo normatizado. Na oportunidade englobou Ciência Política e Teoria Geral do Estado como um único instituto. Através da promulgação da Portaria 1.886, no seu artigo 6º, assim foi estabelecido: 
“O conteúdo mínimo do curso jurídico, além do estágio, compreenderá as seguintes matérias, que podem estar contidas em uma ou mais disciplinas do currículo pleno de cada curso:
I) Fundamentais: Introdução ao Direito, Filosofia (geral e jurídica), ética geral e profissional), Sociologia (geral e jurídica), Economia e Ciência Política (com Teoria do Estado).” 
Apesar da pequena obscuridade, as faculdades de direito não tiveram dúvidas e incluíram, numa mesma disciplina, os dois temas. 
A interdisciplinaridade 
Não há como negar a dimensão interdisciplinar da ciência política, principalmente no que tange às ciências sociais e humanas, destacando aqui a influência da sociologia, filosofia, história, geografia, administração, economia e psicologia. O direito, por sua vez, é a principal fonte e que mais contribui para a disciplina. Mas o caráter interdisciplinar é fator marcante e que merece destaque. 
Bobbio, por exemplo, enaltece muito a chamada “filosofia política” onde o doutrinador destaca não apenas o “ser” mas como então “deveria ser” o Estado. Um aprimoramento técnico do que Platão pregava na sua obra “A República”. 
No início não havia distinção maior entre filosofia e ciência. A separação conceitual se deve a idade moderna. De um lado tinha-se a atitude escolástica, espiritualista, de raízes cristãs, aristotélicas e platônicas. De outro, o começo da atitude que seculariza o pensamento filosófico em escolas recentes, as quais só chegam, no entanto, ao pleno amadurecimento de suas teses mais destacadas e tidas como antiespiritualista, depois da abertura de horizontes pela filosofia Kantiana.
Conclusão: 
Assim, pode-se afirmar que a Ciência Política está preocupada com o real e efetivo funcionamento do governo ou exercício do poder político. Não busca idealizar um governo justo ou perfeito. A República, de Platão, é um exemplo de “filosofia política”, porque nela ele descreve o Estado ideal e suas funções. Outros filósofos políticos foram: o orador romano Cícero, autor de outra “República”, Santo Agostinho, com a sua “A cidade de Deus”, Tomás de Aquino e Dante, ambos escrevendo sobre a monarquia, dentre outros. 
A ciência política, desta feita, preocupa-se com os aspectos práticos do exercício do poder. A forma de se portar o homem em sociedade. Já a Teoria Geral do Estado preocupa-se com a estruturação do Estado em si. 
Por fim, ressalta-se que a partir de 1994 o Governo Federal exigiu junto as faculdades de direito a existência da disciplina de “Ciência Política”, a qual era contemplada quando se abordava sobre “Teoria Geral do Estado”, gerando uma certa confusão. Provavelmente a intenção era deixar claro que o conteúdo deveria ser aplicado como disciplina isolada, e não vinculada ao Direito Constitucional, como ocorria em algumas faculdades. 
CIÊNCIA POLÍTICA – Visão Crítica
A evolução da humanidade caminha a passos largos. É fácil observar que o extraordinário avanço das ciências e das tecnologias de comunicação e de transporte transformou radicalmente o padrão de relações sociais, principalmente nos últimos 40 anos, onde o homem além de conquistar o espaço desenvolveu-se tecnologicamente de forma assustadora. 
No entanto, a despeito de toda essa evolução científica, das descobertas e inovações, o desemprego, a pobreza, o medo e a violência mancham o tecido social e reduzem drasticamente o acesso aos benefícios do progresso. A marginalização social é presente em nosso país, que por sua vez acaba por gerar um sistema econômico injusto, desigual e instável. Mesmo aqueles que mantêm um bom padrão de vida não conseguem gozá-la em sua plenitude, pois o cotidiano de sucesso acaba sendo convivido com medo e insegurança. O receio de um sequestro, roubo ou até a perda da vida compromete todo um trabalho conquistado com muito esforço e dedicação. 
É possível afirmar então que a ciência e a tecnologia não elevaram o grau de qualidade de vida da maioria da população, que permanece em grande parte submetida à corrupção, à burocracia e à hegemonia dos interesses privados, sob governos que aprofundam o fosso de históricas desigualdades. E mais, cabe concluir que o século 20 chegou ao fim sem ter criado condições para aplacar um dos principais males; a pobreza. Nações marcadas por sua inserção na periferia do capitalismo, como o Brasil, convivem com o problema sem buscar maiores alternativas para o combate da referida mazela. 
Não se realizaram as expectativas que o modelo de desenvolvimento industrial propunha. A recente abertura do mercado interno para a produção e o capital internacional prometia benefícios ao Brasil, como estratégia de uma suposta globalização tecnológica.
As evidências indicam, ao contrário, a existência de um processo de especialização e diferenciação crescente dos sistemas de mudança técnica das nações, conseqüência do processo de globalização.
Na atualidade tão conturbada, é difícil entender por que a maior parte dos cientistas políticos mantém-se distante dos debates sobre políticas de educação, ciência e tecnologia, e ausente das avaliações de ações governamentais. Ou será que são mantidos à distância? É certo que a ciência política pode de fato contribuir para uma sociedade mais feliz e justa. Vale a pena refletir um pouco sobre essas questões. A ciência política é uma ferramenta essencial na construção de um mundo melhor. E, se é tão pouco utilizada, talvez seja porque a política é uma ciência que incomoda.
A ciência política analisa fatos – ações – e o funcionamento de instituições; avalia os resultados das ações, das políticas implementadas. Ela não busca intenções. Através dos fatos, descreve os vários interesses que justificam e orientam as ações em um sentido, e não em outro, em determinado momento histórico e em contexto específico. Demonstra, então, a rede de relações de poder que vai sendo tecida no jogo de interesses que ora se articulam, ora se afastam, que às vezes negociamentre si e outras vezes disputam em terrenos radicalmente opostos.
Por definição, a política é uma ciência crítica da realidade, que mantém a utopia como referência. Tem por objeto o estudo dos acontecimentos, das instituições e das idéias políticas, tanto em sentido teórico (doutrina) como em sentido prático (arte), referido ao passado, ao presente e às possibilidades futuras.
Envolve o estudo da sociedade, chegando a constatações curiosas como o de que na Grécia Antiga para cada homem livre havia cinco escravos. E hoje, será que na sociedade contemporânea, capitalista, este número não dobrou?
Para uns ciência política é a “ciência do poder”, para outros é a “ciência do Estado”. Dentro da “política científica” discute-se, segundo Max Weber� “a racionalização do poder, a legitimação das bases sociais em que o poder repousa: inquire-se ali da influência e da natureza do aparelho burocrático; investiga-se o regime político, a essência dos partidos, sua organização, sua técnica de combate e proselitismo, sua liderança, seus programas; interrogam-se as formas legítimas de autoridade, como autoridade legal, tradicional e carismática; indaga-se da administração pública, como nela influem os atos legislativos, ou como a força dos parlamentos, sob a égide de grupos sócio-econômicos poderosíssimos, empresta à democracia algumas de suas peculiaridades mais flagrantes.”
É uma espécie de investigação no campo da vida. Tal investigação, por sinal, ganha campo todos os dias, em face do apoio irrestrito dos instrumentos de comunicação ou transmissão de dados. Daí porque se diz que o estudante ou o jovem de hoje está politicamente informado, orientado, mais consciente da importância do seu governo e do seu dever de cidadão, não só no sentido de votar mas de cobrar providências e promessas de campanha. Vivemos numa sociedade que evolui no aspecto crítico e fiscalizador. 
Muitos doutrinadores enxergam a ciência política com olhos sob o prisma sociológico. Seria uma teoria do Estado predominantemente social. Já Jellinek, outro clássico da Ciência Política, acrescenta uma visão dualística, envolvendo o binômio direito e sociedade (voltado para o direito). E há um terceiro aspecto dentro da ciência política, defendida por Duverger, Vedel, dentre outros, onde acrescenta-se a filosofia. 
No que tange aos seus objetivos, a ciência política abrange um campo muito vasto. Trabalha e se envolve com assuntos relacionados à origem e desenvolvimento do Estado, na descrição, análise e comparação de suas instituições atuais. Parte para a análise das estruturas governamentais, processos políticos e sistemas de direito, sem contar a preocupação e estudo das relações sociais e educação. Cumpre ressaltar, ainda, as relações mantidas nos campos da economia, cultura e ideologia. Enfim, é muito difícil, para não dizer impossível, delimitar o campo da ciência política. Não há como estudar a matéria sem relacionar-se com questões históricas, filosóficas, legais, econômicas. 
Dentro da evolução histórica pode-se afirmar que Platão foi o pai da “teoria” política e Aristóteles� o da “ciência” política, ao menos para a civilização ocidental. 
Por derradeiro, é bom lembrar que o homem é um ser complexo e obstinado, e que estamos ainda longe de explicar sequer as fases do seu comportamento político. Firmar entendimento sobre homo oeconômicus dos economistas clássicos, o “homem razoável e prudente” dos juristas ou ainda o homo politicus, para definir a natureza do ser humano é complicado. 
Os modernos pensadores políticos, com poucas exceções, reconhecem que cada método ou perspectiva tem seu uso e valor. A disposição da ciência política a aprender quanto possível dos outros ramos do conhecimento humano, sem pretender, como o fazem outras ciências afins, chegar a princípios definitivos, é a prova mais convincente da sua vitalidade e contínuo progresso. Nesse sentido, pode-se afirmar que a maior virtude da ciência política é a humildade. 
https://www.youtube.com/watch?v=GyCAq6pYpJ0 (mundo jurídico – musica U2)
� O direito é fenômeno social e é norma. Impossível é pretender separar um do outro. Não há relação social alguma que não apresente elementos de juridicidade, segundo o velho brocardo, ubi societas ibi jus, mas, por outro lado, não é menos verdade que não existem relações jurídicas sem substractum social e, então, se disse: ubi jus, ibi societas. REALI. Miguel. Teoria do Direito e do Estado. Editora Saraiva. 5ª. Edição. São Paulo, 2000.
� HART, Herbert L. A. O conceito de direito. Trad. Armindo Ribeiro Mendes, 3ª edição, Fundação Calouste Gulbenkian - Lisboa. 2001.
� Hart chegou a ser citado na famosa discussão sobre não criminalização do aborto ou interrupção da gravides de feto anencéfalo, proferida pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, em 12 de abril de 2012, onde citou-se o doutrinador, visando diferenciar questões éticas ou religiosas, das questões legais: “Portanto, evidentemente as preocupações do Direito, como área do conhecimento humano aplicado, não se confundem com aquelas pertinentes às ciências, sejam elas sociais ou naturais. Os conceitos e a linguagem do Direito devem dar conta, de uma maneira coerente e inteligível, de fenômenos ligados à regulação do agir humano e, por isso, têm uma função própria e um uso próprio que determina, pragmaticamente, a sua semântica.”
Na sequência, percebe-se que o Relator do Acórdão, Ministro Marco Aurélio, ainda menciona que “o conceito de vida no Direito há de ser discutido de acordo com sua significação própria no âmbito da dogmática jurídica, da legislação e da jurisprudência. Entendimento diverso que vincule o saber jurídico ao saber médico ou a um conceito único de vida só faz confundir os campos do conhecimento empírico com o campo da ação humana. Além do mais, a negação dessas considerações só pode ser baseada em uma postura dogmática e autoritária injustificável, e não é outra a consequência da falácia naturalista.
Isso não quer dizer, é necessário ficar claro, que o Direito não deva ou não possa se valer de outros ramos do conhecimento ou da regulação da ação (da ciência e da ética de uma maneira geral). Significa, apenas, que nenhum deles determina o Direito ou o seu conteúdo como condição necessária, como algo que vincule as decisões jurídicas. E é também importante deixar muito claro que toda essa discussão não pretende colocar o Direito como alheio, intangível ou superior no que se refere aos outros saberes, mas apenas estabelecer os seus pressupostos e necessidades próprios.
� BOBBIO. Norberto. A era dos direitos. Tradução Carlos Nelson Coutinho. Apresentação Celso Lafer. Editora Campus. Rio de Janeiro. 2004. 
� CARNELUTTI. Franceso. A arte do direito. Editora Bookseller. 4ª edição. Campinas-SP. 2005. 
� BOBBIO. Norberto. O futuro da democracia. Trad. Marco Aurélio Nogueira. Editora Paz e Terra Ltda. São Paulo. 2000. Pág. 54. 
� DOEHRING, Karl. Teoria do Estado. Editora Del Rey. Belo Horizonte. 2008. Pág. 14 e 15. 
� Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Novo Dicionário da Língua Portuguesa, 2ª edição, Rio de Janeiro, Nova Fronteira. 1986
� Apodictico – diz-se do que é evidente, pode ser demonstrado.
� FARIAS NETO, Pedro Sabino de. Ciência Política: enfoque integral avançado. Editora Atlas. São Paulo. 2011. 
� SALVATTI NETTO. Curso de Ciência Política – Vol I. 2ª edição. Hameron Editora. São Paulo. 1977. Pág. 2. 
� BOBBIO. Norberto. O filósofo e o político - Antologia. Editora Contraponto. Rio de Janeiro. 2003. 
� DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 31ª. Edição 2012 – Editora Saraiva, São Paulo
� FRIEDE, Reis. Curso de Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Editora Forense Universitária. Rio de Janeiro. 2ª edição, 2002. 
� DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. Editora Saraiva. 18ª edição. São Paulo. 1994. 
� AZAMBUJA. Darcy. Teoria Geral do Estado. 46ª. Edição. Editora Globo. São Paulo. 2008.� MENEZES. Aderson. Teoria Geral do Estado. 6ª edição. Editora Forense. Rio de Janeiro. 1999.
� MALUF. Sahid. Teoria Geral do Estado. Editora Saraiva. 26ª edição. São Paulo. 2003. Pág. 10. 
� BODENHEIRMER. Edgar. Ciência do direito: filosofia e metodologia jurídicas, tradução de Eneas Marzano. Rio de Janeiro. 1966. Pag. 383
� WEBER, Max. Ciência e Política; duas vocações. São Paulo. Editora Cultrix. 16ª ed. 2000. 
� Na divisão tripartida das ciências propostas por Aristóteles, a política era classificada como ciência “prática”, distinguindo-se das ciências teóricas e produtivas. Aristóteles, além disso, foi o criador do método científico; estudou os governos da época e pretendeu basear suas conclusões sobre suas observações empíricas. Nem Platão nem Aristóteles compreenderam o ideal da democracia. A república ideal de Platão deveria ser sabiamente dirigida por filósofos. O melhor “estado prático” de Aristóteles deveria basear-se em uma combinação de oligarquia e democracia, deveria ter um certo potencial demográfico mas tal que não comprometesse a riqueza da população. Ambos rejeitaram a noção de igualdade humana; e a pouca conta em que tinham a massa lhes fora sugerida e confirmada pelo ciclo de governos infelizes e instáveis da antiga Atenas, onde a democracia degenerada em “mobocracia’ e daí em tirania.” (RODEE, Carlton Clymer. TOTTON, James Anderson. CHRISTOL, Carl Quimby. Introdução à Ciência Política – Tomo I. Tradução Maria da Glória Nin Ferreira. Editora Agi. Rio de Janeiro. 1959.)
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