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Livro de Corporeidade e Motricidade Humana

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Corporeidade e 
Motricidade Humana
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Autores: Prof. André De Fillipis 
 Prof. Gil Oliveira da Silva Junior
Corporeidade e 
Motricidade Humana
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Professores conteudistas: André De Fillipis / Gil Oliveira da Silva Junior
André De Fillipis
Graduado em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep), em 2007, especialista em 
Educação Física Escolar pela Universidade Nove de Julho, em 2011, e mestre em Educação Física pela Universidade 
Metodista de Piracicaba (Unimep), em 2012. Ministrou o módulo de Recreação e Lazer para o curso de Técnico em 
Hotelaria no Senac/Piracicaba. Possui experiência na área de Educação Física, atuando, principalmente, nos seguintes 
temas: recreação, lazer, motricidade humana e formação profissional. Experiência na área de hotelaria e turismo. 
Atualmente é docente da Universidade Paulista (UNIP) nos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física, 
nas disciplinas de Corporeidade e Motricidade Humana, Recreação e Lazer, Dimensões Filosóficas e História da Educação 
Física, e do Ensino Médio, no Colégio Madre Alix.
Gil Oliveira da Silva Junior
Graduado em Educação Física pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2007) e mestre em Treino Desportivo 
para Crianças e Jovens pela Universidade de Coimbra (2011), em Portugal, tendo o título reconhecido pela Escola de 
Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP). Trabalha no treinamento esportivo de pessoas com 
deficiência e alto rendimento, na modalidade remo. Desde 2012, é docente na Universidade Paulista (UNIP), na disciplina 
de Corporeidade e Motricidade Humana, além de atuar com ensino do esporte, aprendizagem e desenvolvimento 
motor, crescimento e desenvolvimento humano.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Z13 Zacariotto, William Antonio
Informática: Tecnologias Aplicadas à Educação. / William 
Antonio Zacariotto - São Paulo: Editora Sol.
il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2-006/11, ISSN 1517-9230.
1.Informática e tecnologia educacional 2.Informática I.Título
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Ana Fazzio
 Juliana Mendes
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Sumário
Corporeidade e Motricidade Humana
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA ...........................................................................................9
1.1 A corporeidade na história da humanidade .................................................................................9
1.1.1 O pensamento do corpo – da Grécia Antiga à Idade Moderna .......................................... 10
1.1.2 O corpo – Do Renascimento a uma nova concepção com o capitalismo ....................... 17
1.1.3 A corporeidade contemporânea ...................................................................................................... 24
1.1.4 O corpo segundo Foucault .................................................................................................................. 29
2 A MOTRICIDADE HUMANA NA EDUCAÇÃO FÍSICA ........................................................................... 33
3 A CORPOREIDADE NA EDUCAÇÃO FÍSICA E NO ESPORTE .............................................................. 35
4 O PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA E A CORPOREIDADE ...................................................... 42
Unidade II
5 QUALIDADE DE VIDA E SAÚDE................................................................................................................... 50
5.1 A percepção objetiva da qualidade de vida ............................................................................... 54
5.2 A percepção subjetiva da qualidade de vida ............................................................................. 58
5.3 A relação entre as esferas das percepções objetiva e subjetiva ........................................ 60
6 INSTRUMENTO PARA MEDIÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA ............................................................. 63
6.1 Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) ............................................................................... 64
6.2 Os instrumentos WHOQOL-100 e WHOQOL-bref .................................................................... 65
7 QUALIDADE DE VIDA E CORPOREIDADE ................................................................................................ 71
8 EDUCAÇÃO FÍSICA E QUALIDADE DE VIDA ........................................................................................... 76
8.1 Esporte e qualidade de vida ............................................................................................................. 84
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APRESENTAÇÃO
A disciplina Corporeidade e Motricidade Humana tem a finalidade de analisar as vivências da 
corporeidade ao longo da história, por meio da identificação dos paradigmas científicos e das teorias 
que influenciam suas diversas concepções de corpo, trazendo à tona o discurso da corporalidade e a 
vivência das possibilidades de identificar o corpo, de modo sensível e reflexivo, nas relações consigo, 
com o outro e com o mundo como lugar de construção de saberes, abrigo de múltiplas inteligências, 
sensações, emoções e inciativas crítico-criativas.
Os objetivos aqui propostos são estabelecer a compreensão da corporeidade e da motricidade, 
bem como de suas relações em diferentes esferas e épocas da vida humana, os seus desdobramentos 
em concepções atuais, oportunizando a análise das principais características dessas tendências em 
pressupostos que embasam a intervenção profissional na área.
Ao final desta disciplina, com o auxílio deste livro-texto, você será capaz de:
• Conhecer os paradigmas emergentes na ciência – e diversas áreas do conhecimento – e relacioná-los 
à corporeidade.
• Analisar as diferentes correntes de pensamento sobre o corpo.
• Refletir sobre o fenômeno da corporeidade e motricidadehumana como fundamento para uma 
melhor atuação pedagógico-profissional.
• Ter como auxílio em seu trabalho teórico-prático, com a dimensão da corporeidade como 
dinamizadora de aprendizagem, valores e princípios, os quais reagem para uma atuação mais 
humanizada nas inúmeras possibilidades de trabalho com o corpo.
INTRODUÇÃO
Hoje em dia, o corpo pode ser estudado de diversas formas e em variados contextos, principalmente 
na Educação Física, em que as áreas de estudos podem ser divididas em contextos biológicos, psicológicos 
e sociais. Porém a observação do corpo deve ser vista e reconhecida como uma totalidade de aspectos, 
que interagem e se interligam criando uma reflexão de sensações que constituem esse corpo.
Mas, para entendermos essa totalidade, é necessário colocar esse corpo como um sujeito 
(corpo) que pertence a uma cultura e com ela se relaciona e se altera, tendo a absorção de ideias 
e objetos, principalmente mediante ao movimento no espaço. Desta forma, a corporeidade é 
caracterizada pelo preenchimento do espaço pela ação do movimento, criando um homem como 
o ser no mundo, resgatando a ideia de interação do sujeito influenciado pela cultura, e a cultura 
sendo modificada pelo sujeito.
Com isso, faz-se necessário compreender como ocorreu a transformação da conceituação de 
corpo por diversos anos de história da humanidade – da concepção grega de corpo até chegar à 
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Era Contemporânea –, de que maneira a criação do trabalho mecanizado substituiu o trabalho manual 
alterando como o corpo se relaciona com a vida em sociedade e os produtos por ele gerados.
Chegando à abordagem contemporânea, principalmente a Educação Física, abordaremos a concepção 
de como a mídia altera e coloca padrões corporais em relação à cultura a ser seguida e reproduzida, 
trazendo os padrões de beleza e a corpolatria.
Por fim, veremos como a corporeidade e sua relação com a cultura em que o corpo está inserido 
afeta a qualidade de vida do indivíduo e sua motricidade. 
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Unidade I
1 CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Os estudos e as ações do corpo do ser humano são divididos em diversas áreas, principalmente na 
Educação Física, como Psicologia, Anatomia, Biologia, Fisiologia Humana e do Exercício, dentre outras.
Porém essa segregação do corpo humano em partes é incapaz de retratá-lo por inteiro, especialmente 
a interação dessas áreas de estudo com a relação corpo-mente e as influências que o mundo exerce 
sobre esse corpo e essa mente, mas também a força inversa, do corpo e da mente, alterando o mundo 
em que estão inseridos (SCORSOLINI-COMIM, AMORIM, 2008).
Essa dicotomia de corpo e mente não é algo contemporâneo; vem desde o início dos pensamentos do 
ser humano, com os filósofos da Grécia Antiga, passando pela Idade Média e pelo Período Renascentista, 
seguida pela Revolução Industrial na Inglaterra, chegando à modernidade e à contemporaneidade 
(SCORSOLINI-COMIM, AMORIM, 2008).
A forma pela qual o homem lida com sua corporeidade é resultado de uma construção social, 
consequência de um processo histórico em que o contexto social interage de uma forma extremamente 
dinâmica, direcionando e modificando a maneira de o corpo se expressar.
O corpo do ser humano carrega a história acumulada de uma sociedade que contém seus valores, 
suas leis, suas crenças, ou seja, sua base de construção social.
1.1 A corporeidade na história da humanidade
O homem, por toda a sua história, apresenta diversas maneiras de entender e tratar seu corpo, que 
se comporta em determinado contexto social. Gonçalves (2012) retrata que os corpos variam as técnicas 
em relação:
• Aos movimentos das atividades diárias ou às habilidades motoras fundamentais (andar, correr 
e pular).
• Aos movimentos corporais expressivos (gestos, posturas, expressões faciais), que são formas de 
expressão não verbais.
• À ética corporal, que contempla as ideias e os sentimentos sobre a aparência do próprio corpo 
(pudor e ideal de beleza).
• Ao controle de estrutura dos impulsos e das necessidades.
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Unidade I
Apesar de serem contextos comuns, podem se diferenciar nas questões de ordenação e interação 
entre eles, mas também alterar a forma pela qual se manifestam na sociedade conforme características 
sociais, como sexo, idade, religião, ofício, classe social, dentre outros fatores socioculturais.
1.1.1 O pensamento do corpo – da Grécia Antiga à Idade Moderna
Os primeiros pensadores da Era Antiga, como os filósofos Heráclito de Éfeso (540 – 470 a.C.), Parmênides 
de Eleia (530-460 a.C.) e Empédocles de Agrigento (490-435 a.C.), mais precisamente da Grécia Antiga, tida 
como o berço do pensamento ocidental (CESTARI, 2002), não tinham a preocupação ou não colocavam em 
questão a dicotomia entre corpo e alma – entendida como mente (CARDIM, 2009).
Na concepção desses pensadores, essa separação não existia, pois corpo e mente são concebidos de 
modo harmônico, compondo um ser único, indivisível e visível. O corpo, para os gregos, era considerado 
uma forma bem abrangente, denominando soma (corpo), quantidade de matéria, psique (alma) e 
pneuma (sopro), que daria vida a essa quantidade de matéria definida (GALLO, 2006).
Para exemplificar como o corpo não era visto de uma maneira segregada da mente (alma), em 
Ilíada, de Homero (séc. VIII a.C.), e Antígona, de Sófocles (496 – 406 a.C.), ocorrem dois episódios 
de morte, nos quais fica claro que o corpo na sociedade grega tinha muita importância, pois era 
necessário enterrá-lo para que a alma pudesse se separar desse ser humano, que perdera a vida, para 
juntar-se ao reino das sombras.
Além disso, as obras gregas apresentam a representação do corpo nas pinturas, nos afrescos e nas 
esculturas, com grande detalhe e fidelidade às formas do ser humano (CARDIM, 2009).
Logo, soma e psique, ou seja, corpo e alma, não eram realidades segregadas ou separadas, mas ao 
contrário, se completavam (GALLO, 2006).
O filósofo grego Platão (429-347 a.C.) dá início ao platonismo, com o gesto teórico de fundação da 
oposição entre corpo e alma, considerados um contrário ao outro, obtendo, dessa forma, um dualismo 
(CARDIM, 2009; CAVALCANTI, 2005).
Platão desenvolveu uma visão fundamentada em uma divisão do mundo: real e ideal (GALLO, 2006):
• Mundo sensível: uma realidade sensível, captada pelos sentidos compostos de matéria, que é dado 
à corrupção. Os objetos produzidos nesse mundo são cópias das ideias (mundo ideal) perfeitas, 
porém a matéria é corroída pelo tempo e está fadada ao desaparecimento.
• Mundo inteligível: uma realidade ideal, captada somente pelo intelecto – a última verdade de todas 
as coisas –, perfeito e eterno, sem transformações, pois as coisas serão como sempre foram.
O ser humano é composto por um corpo; porção de matéria que habita o mundo real ou sensível, 
portanto corrupto e que tende à morte, e por uma alma, que é pertencente ao mundo ideal, logo 
perfeita e imortal.
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
O mundo das ideias
Para Platão, o conhecimento 
verdadeiro é dividido
O mundo inteligível
• Eterno e imutável
• Onde reside a verdade
• Perfeito
Mundo da razão = causa de 
tudo o que existe
Prevalecem as aparências = 
enganosas
Verdade absoluta Reflete a opinião
O mundo sensível
• Percebido pelos sentidos
• Universo material
• Cópiasfísicas do inteligível
Figura 1 – Representação dos mundos, segundo Platão
Para Platão, a alma comandava e polarizava todas as ações do corpo, ou seja, movia o corpo do seu 
interior, sendo ela o princípio do movimento; o corpo, que é movido pela alma, é ao mesmo tempo a 
prisão da alma e seu túmulo. Mesmo com essa afirmação, o homem não é somente corpo físico ou alma, 
mas necessariamente uma junção dessas duas realidades (GALLO, 2006).
Com essa separação, a alma acaba assumindo um papel de uma “quase divindade” imortal, tendo a 
capacidade de pensar, denotando um ser único e com identidade. Em contrapartida, o corpo é tido como 
mortal, assumindo várias formas, desprovido de inteligência, sujeito ao processo de decomposição, por 
isso nunca permanecerá idêntico (CARDIM, 2009).
O homem é composto por três tipos de alma que, segundo Platão, são distintos, dois de natureza 
inferior, totalmente ligados ao corpo, portanto imperfeitos e mortais, e o terceiro, ligado a uma natureza 
superior, ao mundo ideal, ou seja, perfeito e imortal (GALLO, 2006).
Corpo
Alma superior
Almas inferiores Alma irascível
Figura 2 – Separação dos tipos de alma, segundo Platão
A alma superior está ligada à racionalidade, é responsável pelos pensamentos e, segundo o filósofo, 
está localizada na cabeça. As almas inferiores, ligadas a bens materiais e à luxúria – responsável pelos 
desejos –, têm sua localização na região abaixo do abdome. Por fim, a alma irascível, responsável pelas 
emoções e paixões, encontra-se no peito do ser humano (GONÇALVES, 2012).
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Unidade I
 Observação
Alma: identificação de diversas faculdades, das mais simples para as 
mais complexas.
Faculdade sensitiva: função de sentir dor e prazer.
Figura 3 – Platão 
Com essa separação entre corpo e alma, é interessante observar, como dito anteriormente, a noção 
de imortalidade da alma e a relação do homem com as divindades gregas, pois era por meio da alma que 
os homens se relacionavam com os deuses e estes os influenciavam. “Por ser intermédio do corpo que a 
alma dá expressão ao que quer manifestar” (CARDIM, 2009, p. 25).
Tendo essa ideia de corpo controlado pela alma, Platão afirma que existem três tipos de temperamento 
ou caráter, que advêm dessas almas, os quais determinavam a ordem social e educacional da Grécia 
Antiga (GALLO, 2006):
• Caráter concupiscível: a alma inferior é predominante e faz tomar decisões com base nos desejos.
• Caráter irascível: a alma que predomina marca as decisões do ser humano com base nas emoções.
• Caráter racional: a alma superior predomina, e as decisões são funamentadas na racionalidade ou 
no uso da razão.
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Alma racional 
ou intelectual
Alma irascível
Alma concupiscente
Figura 4 – Localização das almas, segundo Platão
Na obra República, Platão (2000) descreve que os tipos de caráter determinam como seria a educação 
das crianças, a partir da identificação da alma predominante, uma vez que essa identificação direciona 
para o lugar na sociedade. 
Para as pessoas com caráter concupiscível, eram destinados os trabalhos como artesão, aos indivíduos 
com caráter irascível, a função de guerreiros e guardiões da cidade, e por último, os cargos de filósofos, 
magistrados e governantes das cidades, às pessoas com predominância de caráter racional. 
 
O Estado assume o papel 
da educação
Educação para todos até os 
20 anos de idade
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O Estado orienta a eugenia 
(reprodução humana) 
1º: 20 anos – pessoas com 
caráter concupiscível – 
trabalhos de artesão
2º: 30 anos – pessoas 
com caráter irascível – 
guardiões e guerreiros
3º: 50 anos – pessoas com 
caráter racional – governo 
da cidade
Figura 5 – Separação dos indivíduos na sociedade, segundo os tipos de alma
Para Platão, o corpo era algo tão insignificante que ele considerava que a alma de um filósofo deveria 
afastar-se do corpo, pois atrapalhava os raciocínios, impedindo a percepção da verdadeira realidade, 
pelos sentidos e sensações do corpo, como a visão, a audição ou a dor (QUEIROZ, 2008).
Os olhos e os ouvidos transmitem alguma verdade ou os poetas têm razão 
em repetir sem cessar que nada ouvimos ou vemos? Visto que, se estes dois 
sentidos são inseguros, então os outros o serão ainda mais, uma vez que são 
inferiores a eles [...] quando não é perturbada pela vista, nem pela audição, 
nem pela dor, nem pela volúpia e, encerrada em si mesma, deixe que o corpo 
lide com essas coisas sozinho [...] (PLATÃO, 1999, p. 126).
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Unidade I
O corpo, na ótica platônica, acaba causando guerras, sendo corrupto, e a inteligência ou a alma é a 
única esfera em que se deve investir para ter conhecimento total do mundo em que se vive (QUEIROZ, 
2008; CARDIM, 2009).
Figura 6 – Escola de Atenas
É importante deixar claro que essa relação que Platão impõe da alma sobre o corpo está 
estreitamente ligada à visão de uma compreensão total do mundo e da humanidade. Esta visão, 
principalmente sobre o aspecto da imortalidade da alma, tem uma forte relação do homem com o 
divino, no caso, os deuses da Antiga Grécia, pois, por intermédio da alma, os deuses influenciavam 
os homens, os quais devem ser justos e dominar a si mesmos, tendo uma harmonia do corpo, 
dando qualidade à alma (CARDIM, 2009).
Foi desenvolvido por Platão esse dualismo, tendo a concepção de que corpo e alma 
possuem realidades completamente diferentes, porém estão relacionadas, necessariamente. 
Se o corpo é mortal e imperfeito, faz-se necessário que a alma seja exercitada, para que o 
indivíduo se aproxime cada vez mais da perfeição que está muito distante do mundo físico 
(GONÇALVES, 2012).
No pensamento a respeito dessa relação corpo e alma, na Grécia Antiga, deve-se citar 
o filosofo Aristóteles, que sustenta um pensamento diferente do platonismo, uma vez que 
coloca a alma como uma forma interior da vida, mas que está inteiramente ligada ao corpo 
(CARDIM, 2009).
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Figura 7 – Aristóteles 
De acordo com Aristóteles, o homem deve investigar a realidade da natureza e o corpo pertencente à 
natureza, contemplando essa realidade, em um mundo que já é o ideal. A alma deve ser entendida como 
um princípio vital de todo ser vivo, como um ato do corpo organizado (CARDIM, 2009).
Aristóteles também criou a Teoria do Hilemorfismo, considerando que o conteúdo (alma) não poderia 
ser separado da forma (alma), pois um fazia parte do outro, ou seja, o corpo era uma extensão, uma 
realidade física limitada por uma superfície (MOREIRA, 2006). Portanto, corpo e alma são dois aspectos 
distintos, porém inseparáveis, de uma mesma realidade.
A alma era responsável por conservar e reproduzir a vida por meio das faculdades de nutrição e 
reprodução, além das faculdades sensitivas, que eram divididas progressivamente pelos sentidos, dos 
mais simples, como o tato, até os mais complexos, como paladar, olfato, audição e visão, além da função 
de sentir dor e prazer (GALLO, 2006).
Era inconcebível e sem sentido, para Aristóteles, uma visão dualista de separação entre corpo e alma, 
pois só é possível as ações das faculdades anímicas com uma relação entre corpo e alma (GALLO, 2006).
 Observação
Faculdades anímica: nutrição, reprodução, sensação, imaginação– 
movimentos que tornam a vida dinâmica.
Mediante essa relação colocada por Aristóteles, a alma é aquilo que anima o corpo gerando o 
movimento, ou seja, qualquer movimento físico só é realizado por intermédio da alma. O pensamento 
também só é realizado porque é uma faculdade da alma, uma vez que temos o corpo estabelecendo 
uma dependência entre ambos.
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Unidade I
A preocupação desse filósofo com o corpo fica clara quando Aristóteles recomenda às mulheres que, 
durante a gravidez, não fiquem ociosas, se alimentem bem, exercitem o corpo e mantenham o equilíbrio 
espiritual para um bom desenvolvimento de suas crianças (MOREIRA, 2006).
Para Aristóteles, é importante que o corpo se mantenha ativo e seja educado desde a infância, porém 
sem excessos e esgotamentos físicos, evitando problemas, inclusive danos físicos (GALLO, 2006). 
Na Idade Média, período que é compreendido do século V ao século XV, o corpo acaba sofrendo um 
processo de descorporalização, em que se tem uma evolução contínua da racionalização, ideia muito 
semelhante à do filósofo grego Platão (GONÇALVES, 2012).
Para se entender isso, a maioria das ações do homem em sua vida cotidiana estava ligada a atividades 
corporais, e o seu corpo era instrumento de trabalho, sustento e comunicação com a sociedade. 
Segundo Gonçalves (2012), o corpo tinha a característica para as ações humanas de noção de tempo, 
personalidade e economia.
As ações humanas relacionadas à noção de tempo estão ligadas ao desenrolar natural do tempo, às 
estações do ano que vão determinar os períodos de plantar e colher, que, por sua vez, estão relacionadas 
com o crescimento das plantas e o ritmo de reprodução dos animais.
A ideia de personalidade sobre as ações do corpo no homem está ligada ao sistema de castas imposto 
pela Idade Média, em que o indivíduo nascia “dentro ou fora dos muros”, e dessa condição ele não 
poderia sair. A personalidade da pessoa era renegada em razão das características do sistema feudal, que 
era fundamentado em um princípio de trabalho, domínio e prazer.
Figura 8 – Representação da sociedade feudal, durante a Idade Média, com separação em classes sociais, 
que determinava como o corpo e as ideias iriam se apresentar
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A economia, por sua vez, era orientada para a subsistência, ou seja, os indivíduos tinham 
atividades, como a agricultura, para seu sustento e o de sua família. As sensações de fome e sede 
regiam a relação econômica; quase não se conhecia a necessidade de planejamento e cálculos 
com ideias monetárias. Logo, a economia estava ligada à satisfação das necessidades básicas 
(HUIZINGA, [s.d.]).
Essa descorporalização se dá principalmente por questões religiosas impostas na Idade Média, uma 
vez que a Igreja tinha grande influência no sistema social, comercial e político nessa época (DUBY, 2011).
Um dos responsáveis pela concepção de corpo na Igreja foi Santo Agostinho, que o definiu como 
um cárcere da alma, sendo uma parte orgânica, concebida ao homem, como forma de punição 
(SILVA, 2013).
Essas ideias vão ao encontro do conceito platônico e acabaram sendo um dos fundamentos da 
Igreja, aplicando esse dualismo, que tinha a oposição entre bem e mal, graça e pecado, corpo e matéria, 
Deus e homem e, principalmente, luz divina e trevas eternas (ALMEIDA; PETRAGLIA, 2008).
Agostinho tinha um pessimismo em relação ao corpo do ser humano, às sensações que ele produzia 
e às criações terrenas, que poderiam ser belas e atraentes, mas que não passavam de objetos sem valor 
(AGOSTINHO, 1996).
A alma deveria governar e manter vigilância constante sobre o corpo e seus sentidos para 
que estes não impedissem que se conhecesse a verdade divina e somente a alma pudesse salvar o 
corpo, colocado no caminho da divindade (AGOSTINHO, 1996; QUEIROZ, 2008). Essa visão dualista 
e negativa do corpo, primeiramente proposta por Platão e incorporada aos ensinamentos da 
Igreja, teria reflexos sociais, políticos e educacionais por muitos séculos seguintes (ALMEIDA; 
PETRAGLIA, 2008).
1.1.2 O corpo – Do Renascimento a uma nova concepção com o capitalismo
A partir do Renascimento, foi favorecida a racionalidade, apoiada em uma série de avanços 
científicos e técnicos, tendo uma valorização do trabalho, principalmente do intelecto e da 
capacidade de criação e transformação do mundo, modificados conforme a necessidade do 
homem (NASCIMENTO; BAUAB, 2010; GONÇALVES, 2012). Isso traz a ideia de que o homem é 
um animal racional, junto a um esquema mecanicista, que é utilizado em todas as experiências 
(CARDIM, 2009).
No campo do pensamento do local ou lugar que o corpo e a alma ocupam, o filósofo francês René 
Descartes (1596-1650) tem na base de seu pensamento a importância do método como ponto principal 
para a construção do saber (CARDIM, 2009).
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Unidade I
• Não aceitar uma verdade cuja evidência 
não se conheça.
• Dividir as possibilidades em quantas partes 
forem possíveis.
• Conduzir os pensamentos por ordem, em 
etapas – do simples para o composto
• Fazer enumerações completas e revisões 
para não se omitir nada.
Evidência
Análise
Síntese
Exaustivo
Figura 9 – O ordenamento do método, segundo Descartes
Esse método, desenvolvido por Descartes (2009), é a única maneira de obter o entendimento do 
conhecimento e da ciência, aplicando-se em todas as perspectivas da sociedade, até mesmo para o 
próprio corpo, ao considerar “um pensamento puro a correspondência ou adequação da ideia ao ideado, 
do sujeito e objeto, a existência e a veracidade divinas [...] e a distinção real entre alma e corpo” (CARDIM, 
2009, p. 30).
 Lembrete
Método: instrumento que ajuda a controlar cada um dos passos dados 
e a deduzir algo desconhecido de algo conhecido.
Figura 10 – René Descartes 
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Descartes estabelece a subjetividade entre o que ele chama de coisa-pensamento – o sujeito –, 
em oposição radical ao corpo – objeto, separando assim o sujeito do objeto, o espírito da 
matéria, estabelecendo a oposição entre o homem e a natureza e todo o pensamento posterior 
sobre corpo e corporeidade com uma concepção separatista e redutora (QUEIROZ, 2008; 
GONÇALVES, 2012).
Essa separação proposta por Descartes pode parecer semelhante ao proposto por Platão, que 
também apresentava uma separação entre o sensível (corpo) e o inteligível (alma/mente), porém nesta 
nova forma de se separar corpo e alma é colocada uma concepção cartesiana – quase matemática – em 
que a alma é o pensamento e o corpo é somente uma extensão da alma – um não depende do outro 
(CARDIM, 2009).
Sob essas circunstâncias, o corpo-máquina é manipulado e dominado 
tendo em vista o modelo mecanicista: é o modelo da máquina que torna 
possível a compreensão do corpo. [...] por um lado, o homem sabe usar 
as palavras, por outro, ele age tendo em vista o conhecimento (CARDIM, 
2009, p. 32).
O ser humano é composto por duas substâncias: o corpo é a substância, ou a coisa extensa, e a alma 
é a substância pensante, ou a coisa pensante. Assim, Descartes (2009) confere ao corpo e à alma uma 
autonomia completa e independente; apesar de a alma estar inserida no corpo, o pensamento (alma) e 
a extensão (corpo) não estão ligados.
Corpo
Espírito
Figura 11 – Mesmo tendo passado muito anos, ainda existe o dualismo corpo e mentePara esse filósofo, fica claro que é o pensamento que controla a extensão, ou seja, o corpo não é 
capaz de se movimentar, sentir e pensar, mas é movido por algo que lhe é tocado, no caso, o que move 
o corpo é a alma (GALLO, 2006).
Logo, o corpo é movido, porém não por si, trazendo a ideia de corpo-máquina, que é manipulado e 
dominado tendo em vista um modelo mecanicista (GALLO, 2006; CARDIM, 2009).
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Unidade I
Quadro 1 
Mente Corpo
Consciência pura Sensações
Pensamento Movimentos
Vontade Emoções e paixões
Não biológica Biológico
Compreensão/vontade Áreas confusas entre mente e corpo 
(emoções e percepções)Julgamento
A filosofia cartesiana proposta por Descartes toma como verdade a alma em detrimento do corpo, 
por causa da busca do conhecimento verdadeiro, e a única forma de obter e produzir esse conhecimento 
é pela razão, que é uma faculdade da alma, enquanto o corpo, por meio dos sentidos e das sensações, 
como sede, é capaz de enganar o ser humano.
Com esse pensamento, Descartes foi um dos precursores da Era Moderna com o paradigma cartesiano 
(VILELA; MENDES, 2003), pelo qual se julgava que a única forma de se adquirir conhecimento era por 
meio da razão e do pensamento intelectual.
O pensamento científico acelerou o surgimento de diversas áreas da ciência, de como o trabalho era 
executado, principalmente em virtuda da Revolução Industrial na Inglaterra, onde ocorreu a mecanização 
do trabalho e da mão de obra, sendo o corpo reduzido a um mero instrumento da alma. Porém deveria 
ser exercitado para cumprir as ordens da alma (GONÇALVES, 2012).
Além da racionalidade, a crescente ideia do capitalismo mudou como o corpo é visto e encarado, 
pois ele perde a ideia de proibição que era proposta pela Igreja, na Idade Média (CAVALCANTI, 2005).
Na perspectiva científica, o corpo passa a ser um objeto de estudo em diversas áreas, 
principalmente pela medicina, nos estudos da anatomia, chegando-se ao ponto de submeter 
pessoas, ainda vivas, a estudos anatômicos para tentar compreender como o comportamento 
do corpo junto à alma acontecia, uma vez que a vida estava ligada à presença de uma alma 
(CAVALCANTI, 2005; CARDIM, 2009). 
Com o surgimento de uma nova visão do corpo como um objeto científico, o capitalismo coloca 
uma nova percepção de encarar o corpo na sociedade, haja vista a religião não apresentar mais tanta 
legitimidade sobre essa perspectiva.
Porém, em oposição a como o corpo era tratado e encarado, e principalmente contrário aos 
pensamentos cartesianos propostos por Descartes, o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900) 
descarta a ideia de que o corpo é mera extensão controlável da alma (GALLO, 2006).
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Figura 12 – Friedrich Nietzsche
Nietzsche trata o corpo vivo como uma perspectiva ambiente, ou seja, o corpo em um contexto 
social no qual é inserido, diferentemente da visão platônica e religiosa, que despreza o corpo e o 
mundo em que ele está presente, isto é, a vida em detrimento do mundo inteligível ou perfeito. O 
filósofo investiga os estados de saúde e doença, bem como a vida afetiva e fisiológica que dominam 
as experiências de um homem vivo.
O corpo humano, no qual tanto o passado mais longínquo quanto o mais 
próximo de todo o devir orgânico torna-se de novo vivo e corporal, por meio 
do qual, sobre o qual e no qual e para além do qual parece fluir uma torrente 
imensa e inaudível: o corpo é um pensamento mais espantoso que a antiga 
alma (NIETZSCHE, 2011, p. 202).
Com essas palavras, o filósofo inverte as concepções anteriores segundo as quais alma se sobrepõe 
ao corpo e o substitui, como era abordado pela religião, pelo corpo vivido, que interage interna e 
externamente por meio de seus sentidos e sensações.
A partir dessa perspectiva de corpo vivo, Nietzsche reconhece que é necessário interpretar o que o 
corpo faz, decifrando a linguagem que ele transmite, pois é por meio do corpo que se conhece a alma, 
e não o inverso (CARDIM, 2009).
O corpo é uma grande razão, uma mesma multiplicidade com um único 
sentido, uma grande guerra e uma paz, um rebanho e um pastor. Instrumento 
do teu corpo também a tua pequena razão [...]. Há mais razão no teu corpo 
do que na tua pequena sabedoria (NIETZSCHE, 1987, p. 51).
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As ideias de um corpo único promovem uma nova visão sobre o 
entendimento do corpo e de suas relações internas e externas.
Na mesma concepção de um corpo interagir com o meio em que vive, Karl Marx (1818-1883), 
com o recurso de seus sentidos, e não apenas em seu pensamento, observa que o trabalho é a ideia 
central para se entender o homem e sua corporeidade, pois no trabalho o homem exerce movimentos 
que pertencem à sua corporalidade – braços e pernas, entre outras partes – com o objetivo de alterar 
e utilizar a matéria natural para sua utilidade, assim o corpo se torna humano por sua atividade 
produtiva (GONÇALVES, 2012). 
Figura 13 – Karl Marx
Porém, com a concepção capitalista – produção em massa e linhas de produção –, o processo de 
criação e produção por esse corpo foi alienado, sendo somente um mero reprodutor de movimentos 
produtivos, tratando o trabalhador como uma mercadoria (GONÇALVES, 2012).
No livro Manifesto Comunista (MARX; ENGELS, 1998, p. 15), os autores condenam com veemência 
a exploração do corpo do trabalhador, de sua força de trabalho, em que as características corporais do 
ser humano, como idade e sexo, não possuem valor ou significado, ou seja, “diferenças de sexo e idade 
não têm qualquer relevância social para a classe trabalhadora, só instrumento de trabalho, cujo preço 
varia conforme a idade e o sexo”.
Aquele corpo vivo, participante do processo de criação e produção, transformou-se em um corpo 
mecanizado, diferentemente da ideia de Descartes, principalmente após a Revolução Industrial, na qual 
é inserida a mecanização, a automatização das tarefas, tendo a mínima participação criativa e corporal 
do homem.
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O corpo do trabalhador não é somente alienado, mas é um corpo deformado 
pela mecanização e pelas condições precárias de realização de movimentos. 
Enquanto o trabalho com máquinas agride o sistema nervoso ao máximo, 
ele reprime o jogo polivalente dos músculos e confisca toda a livre atividade 
corpórea e espiritual (GONÇALVES, 2012, p. 63).
Figura 14 
Figura 15 – Revolução Industrial na Inglaterra, no século XVIII, onde se iniciaram a automatização 
e a mecanização do processo produtivo
 Saiba mais
Para entender um pouco mais como a Revolução Industrial, além de 
transformar a economia da época, alterou a forma do corpo de se relacionar 
com o trabalho e a sociedade, assista ao filme:
TEMPOS modernos. Direção: Charles Chaplin. Estados Unidos: 1936. 
89 minutos.
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Unidade I
Figura 16 – Cena do filme Tempos Modernos 
Quadro 2 – Os filósofos e suas concepções a respeito do corpo
Filósofo Concepção sobre o corpo
Platão
Platão baseava suas reflexões na concepção de dois mundos, o mundo inteligível e o 
mundo real, cujo corpo fazia parte do mundo real, sendo este imperfeito, corruptível 
e suscetível a erros. Já a alma pertencia ao mundo inteligível, perfeito, sem errose 
imortal. Traçando assim uma divisão entre corpo e alma, renegando a vida que ocorre 
no mundo real, em detrimento da busca do mundo perfeito ou inteligível.
Aristóteles
Diferentemente de Platão, não considerava corpo e alma dois seres distintos, mas que 
a alma era a vida do corpo, sendo observado como um complemento do outro, tendo 
como pensamento-chave a observação da vida.
Santo Agostinho
O corpo era o cárcere ou a prisão da alma, o qual levava a alma, que era pura e perfeita, 
ao pecado e, consequentemente, à morte, sendo um dos preceitos da Igreja, como 
forma de controle e doutrinamento na Idade Média.
Descartes
O corpo era formado por duas substâncias, uma material e outra pensante, na qual a 
alma, que é a substância pensante, controla o corpo. A razão era a única forma de se 
adquirir conhecimento, implementando, assim, o pensamento ou a ideia cartesiana de 
que a razão sempre será a razão e controlará o corpo.
Nietzsche
Contrário à ideia cartesiana de Descartes, não acreditava que o corpo fosse somente 
um máquina controlada pela alma, e o conhecimento, adquirido apenas pela razão, mas 
que o corpo interagisse com o ambiente, a sociedade em que ele está inserido. Só seria 
possível entender a alma conhecendo o corpo primeiramente, e não o contrário.
Karl Marx
O trabalho era a ideia-chave para entender como a corporeidade do homem se 
expressava, pois o seu corpo era utilizado para construir e alterar a natureza para o 
seu uso, porém o ideal capitalista deforma e desfigura o corpo tornando-o totalmente 
alheio à produção e ao processo criativo.
1.1.3 A corporeidade contemporânea 
A visão dualista, desenvolvida principalmente pelos filósofos Platão e René Descartes, é antiga, 
porém ainda permanece fortemente no homem e na sociedade.
Pensadores, como Nietzsche e Marx, mudam a forma de ver o homem e, principalmente, como o 
corpo é observado, pois no pensamento dualístico e cartesiano o corpo sempre é oprimido, ou pela alma, 
ou pela razão.
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Porém, no pensamento contemporâneo se tem dado uma atenção especial – já vindo de Nietzsche e 
Marx – para a importância do corpo dentro de uma visão mais complexa do que é o ser humano e sua 
relação com o mundo.
Michel Foucault (1926-1984) e Maurice Merleau-Ponty (1908 – 1961), pensadores contemporâneos, 
podem ser destacados por terem uma visão complexa e abrangente das relações do corpo com o mundo, 
alterando o próprio mundo e o próprio corpo.
Figura 17 – Maurice Merleau-Ponty 
O filósofo Merleau-Ponty traz em seus trabalhos a ideia totalmente contrária ao dualismo, visão 
cartesiana e mecanicista introduzida por Descartes, ao afirmar que o homem é um ser vivo, inserido 
em um meio definido, que parte de um desenvolvimento de projetos e atua na mudança desse meio 
(QUEIROZ, 2008).
Figura 18 – Michel Foucault
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Unidade I
 Michel Foucault trata o corpo como uma esfera política, alvo de relações de poder na sociedade 
moderna, utilizado desde a Idade Média, por intermédio de castigos corporais e torturas, até a Idade 
Moderna e a Pós-Moderna (contemporânea), tendo um corpo treinado, submisso e dócil, passível de 
controle e manipulação (QUEIROZ, 2008).
 O corpo segundo Merleau-Ponty
O filósofo francês Maurice Merleau-Ponty dá início a uma nova época na filosofia para a vida, à 
historicidade, à subjetividade e à cultura do indivíduo e da sociedade cujo corpo tem sua plenitude em 
subjetividade e é recortado pela história, sendo o corpo presente nesse elo entre o indivíduo e a história, 
que irá refletir em decisões teóricas e práticas da vida e do conhecimento (NÓBREGA, 2007).
 Saiba mais
Leia o artigo a seguir para compreender a trajetória de Merleau-Ponty:
 NOBREGA, T. P. Merleau-Ponty: o filósofo, o corpo e o mundo de toda a 
gente! CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 15., 2007, Recife. 
Anais eletrônicos... Recife: Conbrace, 2007. Disponível em: <http://www.cbce.
org.br/docs/cd/resumos/129.pdf>. Acesso em: 3 nov. 2016.
O ponto marcante da concepção de Merleau-Ponty sobre o corpo é a exclusão da ideia cartesiana e 
da separação, ao eliminar os pensamentos do empirismo e do racionalismo, em que é preciso escolher 
um dos lados, o racional, e tem como julgamento o saber ou a coisa como consciência (GONÇALVES, 
2012; CARDIM, 2009).
 Observação
O pensamento empírico, ou empirismo, toma o mundo com a realidade 
em si, sem reflexão. O racionalismo reduz todos os fenômenos do mundo a 
uma validação do conhecimento racional.
Merleau-Ponty apresenta uma visão diferente a respeito do corpo, ao encarar a percepção como 
algo distinto das sensações, mesmo sendo uma casualidade na questão de uma resposta condizente 
com um estímulo dado pelo mundo (NÓBREGA, 2008).
Por conseguinte, as sensações são fundamentais para a percepção, uma vez que a sensação 
não é um estado ou uma qualidade, nem consciência ou estado de qualidade, mas, sim, 
compreendida como um movimento da percepção, que, por sua vez, é uma atitude corpórea, 
tendo um pensamento diferente do empirismo ou do racionalismo, em que se considera somente 
a relação estímulo-resposta. Assim, a percepção é a apreensão do sentido ou dos sentidos que se 
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faz através do corpo, pelo corpo, sendo este uma expressão criadora, com diferentes formas de 
observar o mundo e interagir com ele (NÓBREGA, 2007; 2008).
Esse pensamento tem como objetivo buscar a compreensão do homem de uma forma integral, 
desenvolvendo a ideia de um “ser no mundo”, o qual recebe um caráter ambíguo, sem a separação de 
corpo e alma, corpo e objeto, ao pensar no corpo sob a experiência do próprio corpo, em uma relação 
com o mundo ou outro corpo (GONÇALVES, 2012; CARDIM, 2009).
O corpo é tratado como um campo criador de sentidos, porque a percepção não é uma representação 
da mente, mas, sim, acontecimento da corporeidade. O corpo sensível, que é feito da mesma matéria 
que o mundo, pode interagir com ele, dando sentido aos seus acontecimentos, e ao mesmo tempo tem 
a difícil tarefa de escolher e tomar decisões (NÓBREGA, 2007; 2008).
Dessa forma, é interessante observar um ponto principal de o corpo ter uma intencionalidade, 
refletida pelo movimento, que é uma concepção principal, trazendo a ideia de que a percepção do corpo 
é uma inabilidade na falta de movimento.
Com essa realidade do corpo, ou a sua intencionalidade, que é refletida pelo movimento, é 
permitido a esse corpo sentir e perceber o mundo, os objetos e os outros corpos, possibilitando ao 
indivíduo imaginar, sonhar, desejar e pensar em outras características do corpo e do sujeito. Esse 
comportamento é reconhecido como exercício da corporeidade (MERLEAU-PONTY, 2006; NÓBREGA, 
2007; 2008; MACHADO, 2010).
Tenho consciência de meu corpo através do mundo e tenho consciência do 
mundo devido a meu corpo [...]. O corpo é o veículo do ser do mundo, e ter 
o corpo é, para uma pessoa viva, juntar-se a um meio definido, confundir-se 
com alguns projetos e engajar-se continuamente neles. O corpo é o lugar 
onde a transcendência do sujeito articula-se com o mundo (GONÇALVES, 
2012, p. 66).
Essa realidade e intencionalidade, ou seja, a subjetividade de Merleau-Ponty, está ligada à noção 
de liberdade, em que o mundo existe independentemente das formulações individuais do homem a 
respeito dos fatos, porém o mundo não está totalmente constituído e construído, dependendo das 
ações individuais e coletivas.
Logo,liberdade é a interação entre o interior e o exterior do ser humano e as escolhas, que são feitas 
em determinadas situações, resultado de estrutura psicológica e histórica, tendo uma mistura entre 
tempo natural, tempo afetivo e tempo histórico.
O gosto pessoal, as preferências, as rejeições e os desejos são confundidos por uma análise subjetiva, 
na qual se relaciona com o tempo vivido, o corpo, a sociedade, os objetos e os outros corpos. Esse 
comportamento é dirigido para as ações do corpo no mundo, porque essas ações subjetivas têm seu 
início no mundo, sendo significativas no conjunto de relações com o mundo vivido.
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Merleau-Ponty também considera, do que ele chama de campo da subjetividade, o contexto 
histórico, as relações sociais e o diálogo em relação à afetividade do sujeito. Já a experiência corporal e 
não intelectual é conquistada pelo movimento e pela percepção:
A percepção sinestésica é regra, e, se não percebemos isso, é porque o 
saber científico desloca a experiência e porque desaprendemos a ver, a 
ouvir e, em geral, a sentir para deduzir de nossa organização corporal e do 
mundo tal como concebe o físico aquilo que devemos ver, ouvir e sentir 
(MERLEAU-PONTY, 1994, p. 308).
Considerando, dessa forma, que o homem desaprendeu a conviver com a realidade do corpo e a 
experiência que os sentidos trazem, sempre privilegiando a razão ou o intelecto (NÓBREGA, 2008).
 Saiba mais
A respeito da relação entre a corporeidade e a subjetividade desenvolvida 
por Merleau-Ponty, leia:
DENTZ. R. A. Corporeidade e Subjetividade em Merleau-Ponty. Intuitio, 
v. 1, n. 2, p. 298-307, 2008. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.
br/ojs/index.php/intuitio/article/view/4238/3356>. Acesso em: 3 nov. 2016.
Merleau-Ponty não concebe o corpo em partes, ou um conjunto de órgãos de sentido com funções 
e atitudes passivas de somente captar os estímulos, mas o corpo de um indivíduo/sujeito que olha, 
observa e sente. Essa experiência faz que o corpo reconheça o espaço como expressivo e simbólico. 
Esse comportamento é o potencial da atividade do ser humano criativo, sendo o principal constructo 
da capacidade de superar e criar estruturas nas experiências vividas pela percepção (MACHADO, 2010; 
NÓBREGA, 2008).
Os significados, trazidos pela percepção do mundo, expressam realidades estruturais que são 
manifestadas na corporeidade. Pelo corpo do ser humano, de forma sensível, ele se efetiva no mundo, 
que envolve toda percepção do ser humano e de seu corpo. O ser no mundo é reconhecido no corpo 
de forma sensível, não se reduzindo aos dados sensíveis, revelando propriedades do objeto ao mesmo 
tempo que revelam o caráter inesgotável das coisas (MACHADO, 2010). 
Cardim (2009, p. 89) relata que “não podemos abrir mão, nem do ponto de vista subjetivo, nem 
do objetivo. O homem é simultaneamente sujeito e objeto, ativo e passivo”, em uma tensão dialética 
(GONÇALVES, 2012).
A experiência do corpo consigo mesmo é fundamental para o entendimento na relação 
homem-mundo, uma vez que nessa experiência existe a ambiguidade do corpo vidente e visível, 
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“sentiente” e sensível. Quando a mão toca algum objeto, ao mesmo tempo, ela é tocada, ou seja, tem-se 
a existência de uma exploração do mundo com o conhecimento do corpo. 
A reflexão não é constituída por uma consciência pura, mas, sim, enraíza-se 
na experiência sensível, na qual se encontram a gênese do sentido e o 
fundamento do mundo cultural [...]. A reflexão nunca abarca a realidade 
em sua totalidade, mas permanece aberta para novas significações 
(GONÇALVES, 2012, p. 68).
A vivência na percepção e na motricidade é a intencionalidade do corpo pelo movimento, o 
pensamento e as relações do homem com os outros e o mundo que o cerca. Tal vivência ocorre bem 
antes do que a dicotomia ou a separação entre o mundo e o ser humano, sujeito e objeto, como foi 
proposto por Platão e Descartes.
As experiências corporais só poderão ser devidamente compreendidas quando for superada a 
separação do sujeito-objeto, aceitando-se que o corpo sinérgico não é mero objeto, composto por 
partes com receptores sensíveis, como olhos e mãos, mas uma estrutura reflexiva do corpo. Não se pode 
cometer o erro de pensar que o corpo é somente corpo, nem somente espírito, e, sim, a união dessas 
estruturas contrárias.
O pensamento de Merleau-Ponty é composto de uma ambiguidade de um ser humano com 
uma intencionalidade – não somente uma máquina de representação da alma, mas também com 
consciência e corpo –, tendo uma unidade de raiz sensível, corpórea e da experiência original de 
ser no mundo.
1.1.4 O corpo segundo Foucault
A constituição do trabalho de Michael Foucault na concepção do homem moderno está ligada ao 
estudo das relações entre o poder, o saber e o corpo (SILVEIRA; FURLAN, 2003). 
A história dos seres humanos é criada por diversos meios, e esse corpo reflete a cultura em que está 
inserido, tornando-se sujeito, em três linhas conceituais (ALMEIDA; BELLO, 2015):
• O sujeito produtivo.
• Como o sujeito se constitui ao longo da vida, por questões internas e externas.
• A forma pela qual o ser humano torna-se sujeito.
O corpo sofre os efeitos do poder, e os principais procedimentos de como o poder é manifestado 
sobre o corpo são a disciplina e a regulamentação (CARDIM, 2009). O poder intervém no indivíduo 
materialmente, refletindo no sujeito, em seu corpo, ou seja, em sua corporeidade, seus hábitos, 
sentimentos, emoções e ações (SILVEIRA; FURLAN, 2003).
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Esse poder que interfere materialmente na realidade mais concreta do sujeito – o seu corpo, 
o corpo social, adentrando sua vida cotidiana, é caracterizado como micropoder ou subpoder 
(SILVEIRA, 2007).
O controle que Foucault retrata em seus trabalhos não está relacionado ao poder político 
governamental, como disseminado pela filosofia marxista, mas em todos os locais – esferas sociais – e 
atinge todas as pessoas no processo de instalação de relações, na ação ou no conjunto de ações de um 
indivíduo sobre o outro.
Assim, estabelece não um poder único, mas diversas práticas de um poder cotidiano, que abrange 
todas as estruturas socias, por algum mecanismo de poder no qual se destaca a disciplina. Esta, por 
sua vez, instaura uma política do corpo humano por meio de uma série de intervenções e controles 
reguladores, sendo uma biopolítica da população, um controle de massa, e não individual, como era 
realizado na Antiguidade por meio de penitências e suplícios, portanto em uma microestrutura e em 
uma macroestrutura (ALMEIDA; BELLO, 2015; CARDIM, 2009).
Dentre as práticas disciplinadoras, podem-se ilustrar e enumerar a imposição de gestos, atividades, 
usos, repartições espaciais, cálculo de tempo e os sistemas disciplinadores – prisões, hospitais e escolas 
–, que são formas pelas quais o poder se constitui sobre o corpo na Idade Contemporânea.
Figura 19 – Ambiente escolar, onde os corpos são disciplinados
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Figura 20 – A escola tradicional moldando a corporeidade pelo uso da disciplina 
Figura 21 – O sistema prisional é utilizado para uma doutrinação, por meio de uma disciplina punitiva, 
para os sujeitos que não têm ações condizentes com as estruturas sociais vigentes
Figura 22 – A cultura de uma pessoa perpassapelo corpo
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Unidade I
Um corpo disciplinado significa aquele mantido sob controle, que, por sua vez, torna um corpo 
introjetado, ou seja, sem a consciência de questionamento pelo indivíduo. Essa disciplina leva a um 
autocontrole, sem necessitar de comando externo (GALLO, 2006).
Esse corpo dócil está relacionado a uma política de controle da energia produtiva individual cuja 
disciplina se baseia em quatro elementos (ALMEIDA; BELLO, 2015):
• A distribuição dos corpos em função predeterminada.
• O controle da atividade individual mediante reconstrução do corpo como portadores de forças dirigidas.
• Organização da formação pela internalização e aprendizagem de funções.
• Composição das forças pela articulação funcional das forças corporais em aparelhos eficientes.
Segundo Foucault (1987), a origem da disciplina se configura por meio de três formas de adestramento 
do corpo: a vigilância hierárquica, as sanções normalizadoras e o exame.
1.1.4.1 Vigilância hierárquica
Um sistema de controle sobre o corpo, que integra uma rede de controle vertical (hierarquia), 
utilizando-se de meio de observação e conferindo o efeito de fiscalização de produção, principalmente 
em sistemas produtivos, tendo como objetivo o lucro (por exemplo, as fábricas).
Figura 23 – Os sistemas produtivos utilizam-se da hierarquização da disciplina, para a fiscalização 
do processo de produção, otimizando os lucros 
1.1.4.2 Sanção normalizadora
Um sistema duplo de recompensa e punição, com o objetivo de corrigir e minimizar os desvios 
do sujeito na sociedade onde vive, tendo como premissa a micropenalidade, com base em tempo e 
comportamento, fundamentando-se em leis, programas e regulamentos.
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Figura 24 – Caso o indivíduo não tenha atitudes condizentes com as normas 
e as lei sociais, ele acaba marginalizado e punido
1.1.4.3 Exame
Relacionado com as duas técnicas anteriores (vigilância e sanção) cujas relações de poder constroem 
o saber e constituem o sujeito de relações de poder e saber.
Esses são mecanismos de disciplina com os quais o poder, utilizado sobre o corpo, torna-o objeto e 
alvo de submissão. Por isso a disciplina tem como objetivo fabricar corpos exercitados para desempenhos 
e tarefas específicas, aumentando, assim, a força dos corpos em questões econômicas de utilidade, mas 
ao mesmo tempo diminuindo o corpo em termos políticos de obediência (SANTIN, 2008; MOREIRA, 
2008; ALMEIDA; BELLO, 2015).
Foucault compreende o fenômeno corpóreo do ponto de vista bélico, como um jogo de forças, 
por meio do disciplinamento do corpo por uma força política, tendo a disciplina novas relações 
nos meios em que ela ocorre – tanto com barreiras arquitetônicas quanto escolares e instituições 
com níveis sociais.
Assim o corpo é educado, com relação à sua expressividade, sensibilidade e criatividade, tendo uma 
reflexão sobre os poderes e as práticas que moldam esse corpo na idade atual.
O corpo até hoje não alcançou uma libertação, pois sempre esteve preso a esquemas que o 
controlassem, desde um corpo manchado, que continha uma alma purificada, até um corpo sujeito de 
poder, que perpassa pela docilidade proposta por Foucault. Hoje o corpo esportivizado pode ser a última 
forma de uma imagem corporal – belo e forte –, pela qual se pode ter a ideia de mente sã em corpo são, 
criando os padrões de beleza atuais.
2 A MOTRICIDADE HUMANA NA EDUCAÇÃO FÍSICA
O corpo em movimento sempre foi e será um dos encantos para a Educação Física, independentemente 
de que área ou esfera esse movimento seja executado: um jogo recreativo, um ambiente escolar, uma 
dança ou no contexto de esporte de alto rendimento.
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Unidade I
Porém, se a compreensão desse movimento for realizada de uma maneira segregada – por exemplo, 
somente nos aspectos fisiológicos, como a via energética utilizada, ou nos aspectos psicológicos, como 
a aferição dos níveis de estresse ou ansiedade –, será que os seus resultados irão se expressar de maneira 
geral e completa?
Em muitos casos, a Educação Física acaba por ter uma visão reducionista do homem em movimento, 
sem o entendimento das necessidades do corpo ou do ser humano em movimento, pois acaba por 
excluir a complexidade de um ser ou um corpo físico, psicológico, cultural, econômico e político, ou seja, 
uma interação complexa e interdependente (ZOBOLI; BARRETO, 2011).
Tojal (2011) tem como base a obra do filósofo português Manuel Sérgio, na qual a motricidade 
emerge com um sinal da corporeidade de quem está no mundo para alguma coisa ou um objetivo. Com 
esse pensamento, o movimento está relacionado ao entendimento de uma compreensão e interação 
com o mundo e do mundo com o corpo/sujeito em respeito à complexidade do ser humano.
A motricidade representa a vocação de abertura do homem aos outros e ao 
mundo, funcionando, em certo sentido, como provocação (pro-vocação) que 
o liberta da solidão, para inseri-lo no plano da convivência. É ela também a 
verdade da percepção, entendendo esse perceber com o sentido de tornar 
presente qualquer coisa com ajuda do corpo (TOJAL, 2011, p. 27).
De acordo com Sérgio (1986, p. 11), “não estou diante do meu corpo, estou no meu corpo, sou o meu 
corpo”. Com isso, tem-se a ideia de uma linha complexa entre os componentes internos, como o sistema 
nervoso, e dos componentes externos, como a cultura captada a partir das experiências do sujeito, 
conferindo, deste modo, uma intencionalidade.
Filosofia
Antropologia
Desporto
História Sociologia
Epistemologia
Fisiologia
Dança
Psicologia
Biomecânica
Reabilitação
Etc.
Educação 
Física
Ergonomia Circo Etc.
Áreas científicas
Domínios de atividade e de estudo
Motricidade Humana
(objeto de estudo)
Figura 25 – A motricidade humana envolve diversos aspectos e áreas de estudos do ser humano
Assim, a motricidade revela a intencionalidade operante do homem de se movimentar com sentido 
e conteúdo, relacionado à existência do ser humano, que tem como objetivo sempre se superar, e não 
apenas uma mera reprodução de movimentos preestabelecidos (TOJAL, 2011).
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Com esse pressuposto, a motricidade irá evidenciar a busca da superação de algo que interessa ao 
sujeito, que é particular, tendo como foco o seu máximo (TOJAL, 2011).
A educação não pode observar o corpo somente como uma estrutura composta por músculos, 
esqueleto e articulações, que compõem o sistema locomotor, ou seja, não deve se preocupar somente 
com o movimento produzido, mas também com o sujeito, o ser humano que produz o movimento 
(MOREIRA; NÓBREGA, 2008).
A motricidade representa um significado para o próprio corpo, pois apresenta um sentido, refletindo 
e manifestando a intenção do próprio corpo, aumentando o entendimento da percepção, que é a ligação 
entre o corpo e o mundo (MOREIRA; NÓBREGA, 2008).
Dessa forma, motricidade é muito mais do que um organismo, composto por um conjunto de 
conceitos, é o homem integral em movimento, expressando a sua corporeidade nos belos movimentos 
corporais, sempre com intencionalidades, em consonância com o mundo, relacionando-se com as coisas 
e inserindo o ser humano em um processo construtivo.
O homem tem suas primeiras experiências de exploração do mundo pelo movimento – motricidade –, 
constituindo um processo de humanização,pois a aprendizagem de cada indivíduo ocorre em sua 
relação com o meio social.
A motricidade humana é um fenômeno com extrema complexidade, pois ela não nasce pronta, 
não tem uma ordem cronológica, nem estágio que acontece, pois é influenciada pelo meio social, 
dependendo de uma interação. Apesar de se observar o ser humano como uma única expressão, esse 
ser unitário apresenta múltiplas dimensões que vão influenciar a sua motricidade; decorrente disso, a 
construção pode ser feita de uma infinidade de possibilidades.
 Lembrete
A motricidade é a corporeidade representada pela intencionalidade de 
movimento.
3 A CORPOREIDADE NA EDUCAÇÃO FÍSICA E NO ESPORTE
Qual o foco dos estudos da Educação Física? Como a Educação Física compreende e intervém nele?
A resposta, para parte dessas perguntas, é que o principal objetivo dos estudos e da compreensão da 
Educação Física é o corpo do ser humano, que é estudado de uma maneira segregada e esquadrinhada 
em diversas áreas de atuação, como Anatomia, Fisiologia Humana, Biologia e Psicologia.
Existe uma tendência a uma visão dualista do homem na Educação Física, principalmente pelas 
pesquisas realizadas, cuja procura estava relacionada a constatações de corpos medidos, comparados, 
desmembrados em variáveis e tipologias (GONÇALVES, 2012).
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Essa separação em áreas é ruim para a compreensão do corpo do ser humano? Depende. Como foi 
discorrido até agora, percebe-se que a separação acaba por não entender o corpo como um ser único e 
indivisível, mesmo que, para um pensamento racional e científico, seja interessante o aprofundamento 
do conhecimento específico de cada área, e isso é muito válido.
[...] é fundamental que os especialistas não percam de vista a totalidade 
do ser humano. [...] as diferentes áreas do saber são apenas perspectivas, 
parcialização do homem, que, embora cooperem para o seu conhecimento, 
não desvelam seu ser total, mascarando muitas vezes sua essência 
(GONÇALVES, 2012, p. 140).
A Educação Física está relacionada à corporeidade e ao movimento do ser humano, ou seja, na 
intencionalidade do homem de um ser corpóreo e motriz, tendo como abrangências as diversas formas 
de atividades físicas, por exemplo, as ginásticas em geral, os jogos e as manifestações rítmicas, que 
incluem diversos tipos de danças, e os esportes em geral (GONÇALVES, 2012).
Essas formas de atividades físicas representam a cultura ou os fenômenos culturais de determinada 
região ou sociedade, e isso corresponde a uma apropriação pelo sujeito ou pelo homem, integrando a 
sua história, ao ser uma realidade sócio-histórica pertencente ao processo de formação da história da 
humanidade.
Por conseguinte, a Educação Física tem de tratar o conceito de corpo-objeto para o corpo-sujeito, 
aquele que apresenta uma intencionalidade, o que irá caracterizar a corporeidade, como apresentado 
na ideia de Merleau-Ponty (MOREIRA; SIMÕES, 2013).
Diferentes discussões envolvem a corporeidade, em diversas perspectivas teóricas que têm o objetivo 
de restabelecer a relação entre o corpo e a mente, ou seja, a corporeidade se apresenta como uma 
proposta de superar a visão mecanicista ou a dicotomia fragmentadora de uma unidade do ser humano. 
Dessa forma, o movimento passa a ser o reflexo ou a intencionalidade de um corpo com dimensões 
indissociáveis na constituição do sujeito (JOÃO; BRITO, 2004).
Mesmo por meio da ciência, na tentativa de compreensão do ser humano em suas diversas facetas, 
ele como um ser no mundo, que necessita ter o seu relacionamento com o meio em que se desenvolve 
para que lhe confira um significado, dentro da Educação Física, ainda se discute a abordagem de que 
o corpo é tratado com uma máquina de reprodução de movimentos preestabelecidos e determinados, 
muitas vezes chamados de técnicas, retratando um mecanizado.
A ideia de corpo-máquina, ou corpo-objeto, foi desenvolvida por Descartes, para quem corpo é 
concebido com o cárcere da alma ou da mente e só se movimenta pela ação da mente, sem nenhum 
tipo de reflexão ou intencionalidade.
Descartes relaciona o corpo-máquina a um relógio, que realiza um trabalho mecânico sem reflexão 
nem intencionalidade, o qual, caso apresente qualquer defeito, pode ser consertado, ou suas peças, 
substituídas, e voltar a funcionar corretamente (MOREIRA; SIMÕES, 2013).
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Figura 26 – Corpo-máquina: o corpo é tratado como um objeto, que pode ser reparado e modificado, 
sem considerar o contexto individual e cultural em que foi desenvolvido
Essa visão de corpo-objeto pode ser encontrada em conceitos estéticos das sociedades modernas, 
em que se tem um padrão a ser seguido na questão corporal segundo um modelo preestabelecido, por 
exemplo: se estão faltando seios, implanta-se organismos não pertencentes ao corpo; falta volume nas 
nádegas, também se implanta, tratando o corpo como um objeto passível de manipulação em busca de 
uma beleza padronizada (MOREIRA; SIMÕES, 2013).
O corpo-objeto participa de um mundo objetivo de trocas, e a sua realidade é determinada pelos 
interesses de um sistema social, uma vez que sua divisão possibilita ao corpo transformar-se em um 
objeto, uma mercadoria, que obedecerá a uma lógica de sistema. Logo, o corpo nunca será real, mas 
haverá modelos em que a realidade corporal deverá se ajustar com as suas transições e mudanças. 
Segundo Melani (2011), esses modelos instigam e forçam o consumo de bens do corpo real para se 
atingir o corpo ideal, porém são normalmente inatingíveis, gerando um fracasso e, consequentemente, 
uma angústia.
Deste modo, o corpo-máquina ou corpo-objeto é conhecido e trabalhado em seus mínimos detalhes 
e “mecanismos”, manipulando suas partes, ajustando, moldando e ditando seu funcionamento. Por isso 
está relacionado à Educação Física com uma abordagem mais biológica, pertinente à manutenção da 
saúde corporal, à conquista de aptidão física, que está envolvida com o desenvolvimento de capacidades 
físicas, habilidades motoras e desempenho esportivo (GONÇALVES, 2012). 
Por exemplo, correr em volta da quadra, realizar movimentos preestabelecidos de alongamento sem 
saber o motivo e quais as funções desse movimento em processo repetitivo, em alguns casos até a 
exaustão, e, quando não se consegue obter os resultados esperados, apela-se para o uso de anabolizantes 
com o intuito de passar o limite imposto pelo corpo (MOREIRA; SIMÕES, 2013).
É o corpo-máquina, por isso mesmo acrítico, que busca, nas academias de 
ginásticas – templos modernos de adoração ao corpo –, modelar a massa 
muscular, espelhado em “Rambos” ou em atrizes e modelos famosos 
(MOREIRA; SIMÕES, 2013, p. 99).
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Tem-se na concepção de corpo-máquina as ideias desenvolvidas de um corpo dócil, um 
objeto de poder, pois pode ser manipulado, modelado, treinado, sendo o homem passivo perante 
o mundo real, e o ato de se obter conhecimento é uma mera adequação à realidade vivente, ou 
seja, um conformismo.
Assim, traz a ideia de um corpo-mercadoria, um corpo que pode ser comprado, modificado e 
trocado de acordo com ondas de modismos da cultura social vigente, relacionada com o capitalismo 
de consumo exagerado e desenfreado. Isso pode ser observado em diversas ações de marketing para 
padrões e expressões corporais da “atualidade” que têm resultado econômico extremamente vantajoso 
para quem controla as tendências vendendo ideias distorcidas (MORAIS, 2008).
Essa ideia de corpo-mercadoria, que vive de conceitose padrões preestabelecidos pela cultura social 
vigente, como visto anteriormente, pode afetar o corpo e a corporeidade dos indivíduos de uma maneira 
danosa e prejudicial. Segundo Saikali et al. (2004), as questões culturais que determinam as normas 
sociais de relacionamento com o corpo, ditando práticas de beleza, manipulação e mutilação, têm um 
significado superficial e simbólico.
Em algumas sociedades, alterações no formato do corpo, no tamanho e na aparência têm papéis 
importantes, pois esses aspectos comunicam as informações sobre a posição/classe social a que o sujeito 
pertence. Ao longo do tempo, o corpo vem sofrendo alterações; por exemplo, até o início do século XX, 
a mulher tinha o corpo com mais concentração de gordura nos quadris, nas coxas, no abdome e no 
seios, pois na Era Pré-Industrial, em razão dos períodos de escassez de alimento, presumia-se que essas 
mulheres tivessem uma força de trabalho maior (BOSI et al., 2006).
No decorrer do século XX, principalmente após 1960, o padrão vem se alterando: busca-se um corpo 
magro com forma definida, adotada como um padrão de beleza e boa aceitação pela sociedade, que 
passa a constituir um corpo-objeto de consumo, levado em consideração um mercado crescente (BOSI 
et al., 2006; SAIKALI et al., 2004). 
Tal busca pelo padrão de corpo ditado pela sociedade pode acarretar alguns problemas, como uma 
visão deturpada da imagem corporal, que é uma figura do próprio corpo, construída na mente, em 
relação ao tamanho, à imagem e às formas, haja vista que essa formação inclui processos que podem ser 
influenciados por fatores como crenças e valores inseridos pela cultura (RIBEIRO; VEIGA, 2010; SCHERER 
et al., 2010).
De acordo com Saikali et al. (2004), o conceito de autoimagem ou imagem corporal envolve três componentes:
• Perceptivo: relacionado à forma precisa da aparência física, que envolve estimativa do tamanho e 
do peso corporal.
• Subjetivo: relacionado à satisfação da aparência, associado à preocupação e à ansiedade.
• Comportamental: relacionado a situações de fuga pelo indivíduo, por ter momentos de desconforto 
ligados à aparência corporal.
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
Essa construção da autoimagem e, principalmente, dos comportamentos relacionados a ela são 
acentuados por meio do reforço social, que é o processo de internalização de atitudes e comportamentos, 
mediante a aprovação dos outros, e da modelagem, em que se observa o comportamento de outras 
pessoas e, a partir disso, tenta-se reproduzi-lo ou imitá-lo.
Buscando essa afirmação pela sociedade, acaba-se gerando uma insatisfação com o próprio corpo, 
“frequentemente associada a uma discrepância da percepção e do desejo relativo a um tamanho e uma 
forma corporal” (BOSI et al., 2006, p. 109).
Com essa percepção deturpada da autoimagem, podem ocorrer os transtornos de conduta alimentares, 
como a anorexia nervosa e a bulimia, que têm as mulheres como principal vítima, acarretando problemas 
clínicos de comprometimento da saúde, levando ao afastamento de atividades profissionais e, em casos 
extremos, à morte (RIBEIRO; VEIGA, 2010).
A anorexia ou autoinanição pode ser fatal, e os indivíduos acometidos por esse transtorno têm uma 
imagem corporal distorcida; embora, geralmente, estejam abaixo do peso ideal, acreditam que estejam 
gordos ou obesos. 
Figura 27 – A anorexia leva o indivíduo a ter uma imagem corporal distorcida
Os primeiros sinais da anorexia estão relacionados à realização de dietas determinadas e 
secretas, à insatisfação após perda de peso, às metas de peso mais baixas após atingir o peso 
inicial desejado, ao excesso de exercício e, nas mulheres, à interrupção da menstruação (PAPALIA; 
FELDMAN, 2013).
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Unidade I
Já a bulimia está ligada ao consumo elevado de uma grande quantidade de alimento em um curto 
período de tempo e à eliminação desse alimento ingerido, principalmente, por indução do vômito, 
dietas rigorosas ou jejum, exercícios de altíssima intensidade ou laxantes e diuréticos. As pessoas com 
bulimia geralmente não estão acima do peso, porém têm uma preocupação com a boa forma e a sua 
manutenção (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Figura 28 – Apesar de ser um transtorno alimentar, uma pessoa 
que tem anorexia não necessariamente terá bulimia
Apesar de as mulheres serem mais suscetíveis à anorexia e à bulimia, os homens não estão isentos 
de apresentar algum tipo de transtorno de imagem corporal. 
Ocorre uma grande pressão, principalmente por parte da mídia e da sociedade, em relação ao 
melhoramento corporal, vinculando o corpo perfeito à prática de atividade física como uma promoção 
da saúde e da credibilidade social, porém o excesso de atividade física pode acarretar riscos à saúde e 
desenvolver o transtorno de imagem corporal, como a dismorfia muscular (LIMA; MORAES; KIRSTEN, 
2010; DEZAN; MACHADO, 2011).
Essa dismorfia muscular é um tipo de transtorno de imagem corporal em que o indivíduo tem a 
percepção de que é fraco e pequeno em relação à quantidade ou ao tamanho de sua massa muscular, 
mas na verdade apresenta uma musculatura desenvolvida em níveis acima da média populacional 
(FEITOSA FILHO, 2008).
A partir desse tipo de transtorno, é apresentada a vigorexia em que os indivíduos demonstram a 
descrição anteriormente relatada, manifestando uma preocupação anormal com a massa muscular, 
que pode levar ao excesso de atividades de força (musculação), práticas de dietas hiperproteicas 
(quantidades elevadas de proteínas), hiperglicídicas (quantidade elevada de carboidratos), hipolipídicas 
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CORPOREIDADE E MOTRICIDADE HUMANA
(pouca quantidade de lipídios e gorduras), uso de suplementos proteicos e, em casos extremos, 
consumo de esteroides anabolizantes (CAMARGO et al., 2008).
Em contrapartida, pessoas com vigorexia não fazem atividades com características aeróbias, pois 
acreditam que esse tipo de atividade acarrete perda de massa muscular, além de evitar a exposição de 
seus corpos, por sentirem vergonha (CAMARGO et al., 2008; DEZAN; MACHADO, 2011).
Para homens, a principal faixa etária acometida pela vigorexia é entre 18 a 35 anos, porém as 
mulheres que realizam atividades esportivas, principalmente musculação de forma intensa e contínua, 
sem respeitar as características de descanso e recuperação, com a intensão de aumentar a massa 
muscular e ter maior definição muscular possível, não se importam com as consequências da rotina de 
atividade ao sacrificar a vida social, os relacionamentos e o emprego, não estão isentas de apresentarem 
esse quadro (DEZAN; MACHADO, 2011).
Pope Junior, Phillips e Olivardia (2000) listam uma série de sinais de uma pessoa com vigorexia:
• Preocupação frequente de que seu corpo não seja magro e musculoso.
• Perda de oportunidades sociais, que teria usufruído em outras circunstâncias, especialmente por 
estar na academia.
• Gastar muito dinheiro em alimentos especiais ou suplementos dietéticos para aumentar a musculatura.
• Evitar a exposição do corpo, principalmente em situação em que possam vê-lo, como piscina, 
praia e vestiários.
• Realizar atividades físicas em situações de restrição médica e/ou de lesão.
• Ingerir drogas, como anabolizantes.
As principais causas na alteração da percepção da imagem corporal é uma imposição, pela mídia, 
pela sociedade e pelo meio esportivo, de um padrão considerado ideal e de que sem ele o indivíduo não 
terá sucesso e felicidade, tornando o corpo prisioneiro de um sistema de poder, ditado e modificado por

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