Buscar

educacao difusa

Prévia do material em texto

Educação Difusa: a tradição oral 
 
 
“A educação existe onde não há escola e por toda parte 
podem haver redes e estruturas sociais de transferência de 
saber de uma geração a outra, onde ainda não foi sequer 
criada a sombra de algum modelo de ensino formal e 
centralizado. Porque a educação aprende com o homem a 
continuar o trabalho da vida”. 
 Carlos Rodrigues Brandão/ O Que É Educação 
 
 
A educação está de uma maneira geral relacionada à organização econômica, política 
e social de cada povo, ou seja, ao seu projeto societário, sendo assim, podemos 
compreender porque ela se apresenta de maneira diferente em cada grupo social. 
 
Portanto, mesmo nas sociedades tribais não podemos generalizar apresentando um 
único modelo de organização social e educacional para todos os povos com este tipo 
de organização, embora, em grande parte isso aconteça em função da precariedade 
de conhecimento acerca desses povos, no passado e no presente. 
 
Um outro elemento importante no estudo das sociedades tribais está relacionado aos 
conceitos de atraso e desenvolvimento ou civilizados e selvagens, que durante muito 
tempo esteve presente no debate que envolvia as pesquisas acerca desses povos. Na 
atualidade, esses conceitos estão superados na teoria, porém ainda muito presentes 
na prática cotidiana. Até porque, foram elaborados, na maioria das vezes, com o 
objetivo de reafirmar a superioridade de determinados povos sobre outros, que para 
além da força física, também utilizavam e utilizam a ideologia como forma de 
dominação e exploração. 
 
As sociedades tribais do passado e do presente não devem ser tratadas como 
inferiores, mas sim como diferentes, tendo suas próprias necessidades e direitos, 
inclusive, o de permanecer organizadas dessa maneira. O respeito à diferença é o 
primeiro passo contra os preconceitos e extermínios, que em muitos casos são 
banalizados em função do não reconhecimento do outro como diferente, mas sim, 
como inferior. 
 
De maneira geral, as sociedades tribais são essencialmente míticas e de tradição oral, 
pois o grupo social que as compõem tem necessidade de compreender os fenômenos 
que ocorrem à sua volta: sua atuação tanto individual quanto social exige um 
conhecimento do mundo que as rodeiam. Segundo Melatti (1972, p.125): 
 
Os mitos são antes de tudo narrativas. São narrativas de 
acontecimentos cuja veracidade não é posta em dúvida 
pelos membros de uma sociedade. Muita gente pensa 
que os mitos nada mais são do que descrições 
deturpadas de fatos que realmente ocorreram. Na 
verdade, porém, tudo 
indica que os mitos têm mais a ver com o presente do 
que com o passado de uma sociedade. Embora as 
narrativas míticas sempre coloquem os acontecimentos 
de que tratem em tempos pretéritos, remotos, elas não 
deixam de refletir o presente, seja no que toca aos 
costumes, seja no que toca a elementos tão palpáveis 
como os artefatos. 
 
 
 
Sabemos que esses grupos são extremamente dependentes do meio ambiente, o seu 
cotidiano está voltado para a sobrevivência, dessa forma todos os sentidos e o seu 
pensamento estão voltados para isso. Assim, criam um conjunto de símbolos para 
representar a realidade; as magias, os mitos os totemismos, nada mais são do que 
uma expressão desse esforço de compreensão do mundo. Portanto todo o grupo 
humano no seu enfrentamento com o mundo cria cultura, isto é, cria objetos, para 
satisfazer as suas necessidades físicas e materiais, e cria ideias, para satisfazer as 
suas necessidades intelectuais. 
 
Os mitos são narrativas que falam das origens do universo da humanidade e da forma 
como uma sociedade pode se organizar. Logo, o mito é uma explicação do mundo. 
Uma explicação que incorpora todos os fenômenos em um contexto heroico, divino, 
mágico. É uma explicação do mundo compartilhada por todos os elementos do grupo, 
onde o regime de propriedade é coletivo, sem dominação de um ou outro segmento. 
Assim, mesmo que a divisão das tarefas faça com que as pessoas realizem funções 
diferentes, o trabalho e o seu produto são sempre coletivos. 
 
Os mitos têm uma relação muito estreita com os ritos e em função disso, se relaciona 
com todo o sistema social, uma vez que todas as relações sociais têm seu aspecto 
ritual. Vale lembrar, no entanto, que esta questão não se reporta apenas às 
sociedades tribais, ela está presente praticamente em todas as formas de sociedade. 
Por exemplo, podemos citar o rito do matrimônio, que em toda sociedade, tribal ou 
não, se faz presente. 
 
Os mitos e os ritos, nas comunidades tribais, são transmitidos oralmente, as crianças 
aprendem imitando os gestos dos adultos, tanto nas atividades cotidianas como nas 
cerimônias e nos rituais. 
 
No Brasil, por exemplo, as crianças ocupam um espaço privilegiado nessas 
comunidades. São tratadas de forma carinhosa e “são criadas com muita liberdade, 
sem imposições, e são geralmente bem comportadas. À medida que crescem os 
adultos passam a pedir-lhes pequenos serviços, buscar água, vigiar a comida que está 
no fogo, chamar uma pessoa etc.”. (MunduruKu,2006,p.49) 
 
Segundo Aranha, “nas comunidades tribais, as crianças aprendem imitando os gestos 
dos adultos nas atividades diárias e nas cerimônias dos rituais. (...) Sem que alguém 
esteja especialmente destinado para a tarefa de ensinar”. (2000,p.27) 
 
Na tribo, os castigos não fazem parte do processo educacional. A criança é tratada 
com respeito pelos adultos, que de maneira geral, participam ativamente na formação 
das crianças, facilitando assim, a aquisição de usos e valores do grupo. Não havendo, 
portanto, um espaço próprio para se aprender. Nesse tipo de sociedade não existe o 
modelo de escola que conhecemos, por isso, a educação é denominada, difusa. 
 
 
 Crianças Yanomamis 
 
No texto abaixo, retirado do livro: “História dos povos indígenas.500 anos de luta no 
Brasil, organizado pelo CIMI – Conselho Indigenista Missionário, você poderá observar 
como as sociedades tribais cuidam e educam sua crianças. 
 
festa de ta de ritmos, transmissão da cultura dos antepassados 
e o retrato do dia-a-dia nas aldeias africanas. dos povos 
africanos em plena festa de ta de ritmos, transmissã o da 
cultura dos antepassados e o retrato do dia-a-dia nas aldeias 
africanas.
A dança como força de expressão dos rituais, era chamada em 
todas as ocasiões, como ponto de partida para qualquer 
cerimônia.
 
 
 
 1 
 
 
 
1
 CIMI – Conselho Indigenista Missionário “História dos povos indígenas.500 anos de luta no Brasil. 
 
 
 
 
Referências Bibliográficas: 
 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 
2000. 
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Que É Educação. 48ª ed. São Paulo: Brasiliense, 
2006. 
CIMI – Conselho indigenista missionário “História dos povos indígenas.500 anos de 
luta no Brasil. 
MELATTI, Julio Cezar. Índios do Brasil. 2ª ed. Brasília:Editora de Brasília, 1972

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes