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64 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Unidade II Quando vendemos serviços, tudo o que vimos com relação a produtos fica mais difícil. O motivo é que os serviços são mais concorridos no mercado. Uma das razões é que na área de serviços os investimentos em máquinas, equipamentos e instalações são muito menores que na indústria e a exigência de capital financeiro é muito menor. Então o marketing tem de estar mais afinado com o consumidor. Algumas coisas que são mais bem estabelecidas no mercado de produtos são mais variadas no mercado de serviço. Por exemplo, quanto custa um corte de cabelo? Ou então, quanto de desconto você consegue numa corrida de táxi? A resposta é sempre: “depende”. Essa dificuldade em organizar o mix para os serviços é por causa dessa dependência ou, se formos utilizar a palavra técnica, variabilidade. A percepção de valor de um serviço pode variar por causa de coisas tão instáveis quanto o tempo ou o bom humor do consumidor. Toda vez que alguém reclama alto – “estou pagando!” – é porque o preço cobrado pelo serviço prestado apresentou problemas para o cliente. Um produto fica na prateleira e, se o consumidor mudar de ideia, simplesmente deixa no caixa na hora de pagar. Para os serviços não tem prateleira. Uma vez começado o processo do serviço, ele tem de ser cumprido corretamente até o fim. Isso porque um serviço é um processo de ações. Ele não acaba nem mesmo depois de ter sido prestado. Caso o cliente não indique o serviço para um consumidor potencial, o ciclo não foi bem‑sucedido. Percebendo isso, desenvolveu‑se os 8 Ps (LOVELOCK; WIRTZ, 2007) para o Mix de Serviços. 3 O FLUXO DOS PROCESSOS DE MARKETING O fluxo do processo do marketing de produtos e do Marketing de Serviços apresenta diferenças. O quadro demonstra quais são as etapas: Quadro 3 Marketing de produtos Marketing de serviços Pré‑produção Pré‑produção Pós‑produção Venda Venda Consumo Produção e consumo Fases do marketing de produtos Pré‑produção: • a pré‑produção começa com uma pesquisa de mercado que pretende identificar as necessidades e os desejos dos clientes; 65 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS • depois inicia‑se o desenvolvimento do produto, seu conceito, as formas de fabricação, o preço, a estratégia de distribuição; • a publicidade e a propaganda atuam como carros‑chefe do composto de comunicação − propaganda, promoção, assessoria de imprensa, marketing direto, marketing de relacionamento, merchandising de ponto de venda e internet. Pós‑produção: • possibilitar a degustação ou qualquer outra forma de experiência como um test‑drive permitem ao consumidor testar o produto antes da compra; • pequenas demonstrações em grupos fechados ajudam a avaliar a distância entre aquilo que foi pensado na pré‑produção e o produto final. É necessário perceber quais os pontos fortes do produto acabado, e voltar os esforços de comunicação e marketing para construir o nome da empresa e a imagem do produto, processo chamado de branding. Venda: • para decidir uma compra entre um produto ou outro, ou mesmo entre uma marca e outra, o consumidor leva em conta as informações boca a boca, a publicidade e a propaganda, o design do produto, a eventual degustação no ponto de venda, e certamente a relação custo/ benefício. Consumo: • o consumidor experimenta o produto e tem direito a se arrepender da compra, podendo devolver o produto ou fazer sua troca. Pós‑venda: • após a venda, são oferecidos vários produtos de pós‑venda, dependendo do produto. Pode ser garantia total, parcial, ou manutenção preventiva, como para os automóveis. A ideia geral é manter o cliente satisfeito. Fases do Marketing de Serviços No Marketing de Serviços, a ordem das coisas acaba alterada e resulta numa grande diferença. Pré‑produção: • a pré‑produção começa com uma pesquisa de mercado que pretende identificar as necessidades e os desejos dos clientes. Além disso, a pesquisa também tenta perceber o que falta no serviço concorrente; 66 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II • depois começa o desenvolvimento do serviço, com a preocupação em proporcionar benefício ao cliente. Desde a encomenda do serviço até a entrega, todos os insumos, equipamentos e pessoas necessários à sua execução no prazo ideal são planejados. O resultado final é o desenvolvimento de um processo; • a publicidade e a propaganda atuam como carros‑chefe do composto de comunicação − propaganda, promoção, assessoria de imprensa, marketing direto, marketing de relacionamento, merchandising de ponto de venda e internet, mas dessa vez todos os esforços são no sentido de oferecer uma promessa de satisfação. Divulga‑se a marca da mesma forma que no caso de um produto, porém a reputação da empresa é mais importante para o consumidor, pois é a marca que garante a qualidade do serviço. Venda: • a decisão de compra acontece por impulso, mesmo que o consumidor seja movido pela necessidade: o que faz ele se decidir por um restaurante, ou por um barbeiro? A expectativa estimulada pelo composto de comunicação, pois o consumidor só pode imaginar o serviço que está comprando. Sua satisfação, ou decepção, só acontece depois que a compra for feita. Produção e Consumo: • estas duas fases ocorrem simultaneamente, pois nos serviços observamos este efeito de inseparabilidade das fases de produção e consumo. Para tentar sugerir ao consumidor uma possibilidade de experimentação e eventual demonstração dos benefícios, é necessário prestar o serviço; • durante o consumo deve‑se avaliar a satisfação do cliente, avaliar sua percepção da qualidade do serviço, sua satisfação com a atitude e a aparência dos funcionários, com a facilidade de acesso, com a flexibilidade de horários de atendimento e todos os pequenos detalhes que compõem o desenho do serviço. No caso dos serviços, o pós‑venda é o momento quando a intangibilidade presente na primeira compra não existe mais. O consumidor agora sabe o que esperar do serviço, e o compara com outras experiências similares. A meta é sempre obter a fidelização do cliente, para que sua divulgação boca a boca venha a atestar a excelência do serviço, fazendo dessa divulgação o melhor marketing que existe. 3.1 O Mix de Serviços Os 8 Ps do Mix de Serviços têm todos os nomes em inglês e, portanto, vamos explicar cada um deles: Product elements – elementos do produto: na verdade, é mais fácil pensar um serviço como um produto. Desde o núcleo central do serviço, que é, por exemplo, o corte de cabelo, até as coisas mais 67 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS simples, como os elementos que cercam esse serviço, a temperatura da água para lavar o cabelo, os tipos de xampu, a vaga do estacionamento, a decoração do salão, a qualidade das tesouras e até mesmo a forma com que as pessoas tratam os clientes, tudo isso é de vital importância num serviço. Você tem de pensar como esse serviço atende às necessidades do mercado, com quem ele concorre e como é possível melhorar os pequenos detalhes que vão agradar o consumidor. Place and time – local e horário: a rapidez no atendimento é fundamental para um serviço. Quanto mais rapidamente o cliente é bem servido, mais ele sente que vale a pena pagar por esse serviço. Também a pontualidade em determinadosserviços é crucial para sua vantagem competitiva no mercado. Price and other user outlays – preços e outras despesas do cliente: o preço é apenas um detalhe, pois, na compra de um serviço, o cliente também leva em conta outras despesas, tais como o preço do estacionamento ou a dificuldade em estacionar. O preço sempre está ligado à ideia de conveniência e de tempo, portanto, o preço do serviço sofre sempre a influência dessas despesas. Promotion and education – promoção e educação: a promoção deve explicar o serviço, além de anunciá‑lo. Muitas vezes, um novo serviço tem de ser explicado para o mercado, o consumidor deve pensar que vale a pena experimentar uma maneira diferente de fazer alguma coisa. A publicidade de serviços sempre chama a atenção para a forma de fazer as coisas. Não é simplesmente “compre!”, e sim uma descrição do que você, como cliente, pode ganhar se comprar daquele vendedor que faz as coisas de uma determinada forma. Para os serviços, a promoção consiste: na publicidade, na venda pessoal dos funcionários e pessoal de atendimento; nas indicações de outros clientes; nas ações de promoção de vendas; nas relações públicas; nas resenhas dos meios de comunicação e também nas opiniões das redes sociais. Process – processo: o processo é a forma como a empresa organiza todos os elementos do produto/ serviço. Com já dissemos, em um serviço, todas as ações que o compõem são importantes: a forma como a empresa se comporta perante o consumidor, se atende às suas sugestões e reclamações, se conhece os clientes pelo nome, se oferece brindes ou promoções quando comete um erro. Como são feitos os processamentos de pedidos? O cliente sai satisfeito do estabelecimento? Como lembrar ao cliente que ele é especial? Physical Environment – ambiente físico: a aparência do local onde os serviços são fornecidos pode ter um impacto significativo sobre o serviço e a percepção de satisfação do cliente. O local também tem total importância. A escolha do local para montar a empresa ou a franquia será determinante para seu sucesso. Não apenas é necessário prestar atenção ao fluxo de pessoas, mas também organizar o local de forma que seja acessível para os consumidores. A aparência do local faz também toda a diferença para o cliente. Por mais que existam lendas a respeito de restaurantes caros em áreas degradadas das cidades, na prática, os bons restaurantes se estabelecem nos pontos nobres. People – pessoas: o pessoal da linha de frente tem impacto direto na percepção dos clientes. A formação das pessoas que atendem os consumidores, a forma com que dão informações sobre o serviço, o comprometimento com a empresa e a demonstração clara de que estão satisfeitas no trabalho são de crucial importância para a impressão que o cliente terá tanto na entrada quanto na 68 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II saída do estabelecimento. Outra coisa são as relações pessoais de todos os envolvidos no processo. Os funcionários entendem por que têm de fazer aquilo? Eles conseguem substituir um colega que faltou? Productivity and quality – produtividade e qualidade: melhorar a produtividade é um requisito necessário na gestão de custos e também da qualidade. Originalmente se pensava em produtividade e qualidade apenas para produtos, mas pode um restaurante servir mais rapidamente? Será que a cozinha aguenta o ritmo dos pedidos? Será que o cabeleireiro gasta muita água? Vale a pena para o motorista de táxi dar uma volta muito grande para ganhar mais 10% na corrida? Observação Quando vendemos serviços, temos de saber que eles concorrem mais acirradamente no mercado. Então, o marketing tem de estar mais afinado com o consumidor. 3.2 Pensando a estratégia do Marketing de Serviços A estratégia bem‑sucedida de uma empresa de serviços é procurar pelos seus clientes‑alvo, conseguir torná‑los clientes de fato e manter essa clientela por muito tempo. É dessa forma que a maioria das empresas de serviços permanece trabalhando com sucesso. Então, para definirmos melhor o que é esse cliente‑alvo, é necessária, antes de tudo, uma definição do que vem a ser mercado. Segundo Philip Kotler (2000b, p.140), em seu livro Administração de Marketing – A Edição do Novo Milênio, “um mercado é o conjunto de todos os compradores, efetivos e potenciais, de uma oferta ao mercado”. O mesmo autor classifica o mercado como (KOTLER, 2000b, p. 141): • o mercado potencial é o conjunto de consumidores que demonstram um nível de interesse suficiente para um oferta ao mercado. [...] e devem possuir renda suficiente e ter acesso à oferta; • o mercado disponível é o conjunto de consumidores que possuem renda, interesse e acesso a uma determinada oferta; • o mercado‑alvo (também chamado de mercado servido) é a parte do mercado disponível qualificado – o conjunto de consumidores que possuem renda, interesse, acesso e qualificações para a oferta ao mercado. • o mercado penetrado é o conjunto e consumidores que estão comprando o produto da empresa. Entretanto, o Gerenciamento de Serviços não diz respeito apenas às empresas de serviço. Como vimos, muitas empresas de produto acabam precisando gerenciar bem os seus serviços para manter a satisfação do cliente. 69 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS Não adianta querer fidelizar qualquer cliente. Alguns são aqueles que realmente vão permanecer fiéis, pois estarão sempre se sentindo bem‑servidos. Hoje, com a internet e o comércio eletrônico, isso fica mais difícil. Mas existe uma ferramenta, conhecida genericamente como Customer Relationship Management (CRM), que são programas de computador que permitem arquivar todos os acontecimentos de um cliente e também verificar os motivos de sua fidelização. Contudo, antes de utilizar um programa de computador, é necessário pensar na estratégia de como fazer funcionar todo o projeto. A construção de relacionamentos é sempre um desafio. Quando uma empresa tem milhares ou mesmo uma centena de milhares de clientes, como fazer para que cada um deles se sinta especial? Como enviar os e‑mails, como atender no call center e deixar o cliente satisfeito quando tem algum problema? Em outras palavras, como fazer marketing para a massa e permitir que os clientes se sintam indivíduos? No fundo, precisamos apenas satisfazer o cliente o tempo todo. A satisfação do cliente pode ser tanto a sensação de satisfação que ele tem quando usa o nosso serviço quanto a confiança em saber que, sempre que precisar, nós vamos servi‑lo bem. Isso não depende apenas da real satisfação que o cliente sente quando percebe que suas expectativas foram supridas, mas também de ficar encantado quando conseguimos superá‑las. Quando esse movimento de querer bem acontece em relação ao serviço, sabemos que foi criada uma relação de fidelidade, tal como num casamento. Os clientes permanecem comprando por mais tempo, indicam a empresa para outras pessoas e reclamam menos quando a empresa precisa aumentar os preços. Lembrete A estratégia bem‑sucedida de uma empresa de serviços é procurar pelos seus clientes‑alvo, conseguir torná‑los clientes de fato e mantê‑los por muito tempo. 3.3 A fidelidade do cliente de serviços Fidelidade é uma palavra antiga que tem sido tradicionalmente usada para descrever a devoção de um cidadão por um país ou por um time de futebol ou por uma relação com um parceiro. Essa palavra tem sido utilizada também no mundo do marketing para descrever a disposição de um cliente em apoiar a empresa. Quando um cliente é fiel a uma pizzaria, não vai comprar de outra, mesmo que seja mais barata. Ele esperaaquela pizza, com aquele gosto que ele já conhece e quer sentir de novo. A lealdade do cliente se estende a tudo que tem a ver com a empresa. Eles gostam dos serviços, dos produtos, quando é o caso, e do atendimento. Poucas empresas pensam na fidelidade dos clientes, mas é necessário levar isso a sério, por causa de uma regra que foi percebida pelo matemático e economista italiano Vilfredo Pareto. Pareto observou que, na sociedade italiana da época, as pessoas eram divididas naturalmente entre poucos que tinham muito e muitos que tinham pouco. Ele fez as contas e percebeu dois grupos de proporção 80‑20. Ele 70 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II observou que 20% da população possuíam 80% de tudo e que os outros 80% da população possuíam apenas 20% dos bens e da produção do país. Esses números são arbitrários e podem exibir uma variação. A Lei de Pareto (também conhecido como princípio 80‑20) afirma que, para muitos fenômenos, 80% das consequências advêm de 20% das causas. A lei foi sugerida por Joseph M. Juran, que deu o nome em honra ao economista italiano. O Diagrama de Pareto permite que se descreva um fenômeno e depois ele seja examinado. O Princípio de Pareto tem sido aplicado com sucesso na política e na economia. Ele se aplica em geral na distribuição dos recursos naturais e riqueza global. Uma das aplicações deste Princípio ou Regra de Pareto é sua utilização na análise de vendas. As empresas que utilizam essa regra conferem que cerca de 80% do volume de negócios depende de 20% dos clientes. Nem sempre as conclusões são exatas, mas servem bem como indicador no caso do marketing. A Regra de Pareto também é utilizada para entendermos o fluxo de vendas dos produtos de uma empresa: 80% do volume de negócios vêm de 20% dos produtos oferecidos. Em geral, a Regra de Pareto serve para analisar uma situação e facilitar a tomada de decisões estratégicas de trabalho com dados reais. Esse conceito, 80‑20, também é útil no planejamento da distribuição, quando os produtos são agrupados ou classificados por nível de vendas. Isso é chamado em logística de Distribuição ABC. Os primeiros 20% são chamados de produto A; os 30% seguintes, de produto B; e os restantes são produtos C. Cada categoria pode ser distribuída ou armazenada de forma diferente. O mesmo acontece com os serviços. Essa regra é tão poderosa que o McDonald’s a estampa em seu cardápio. Agora você sabe por que os lanches são classificados de número 1, número 2 etc. Eles espelham em parte a quantidade de pedidos feitos para cada lanche. Figura 30 − Se existe uma referência mundial em prestação de serviços hoje em dia, ela tem nome e marca forte Quando uma loja controla 20% dos produtos armazenados, está ao mesmo tempo controlando cerca de 80% do valor do estoque. A classificação ABC dos produtos também é utilizada para 71 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS agrupar os itens dentro da loja em um número limitado de categorias quanto a seu controle do nível de disponibilidade. O controle de qualidade, que acabamos de ver que foi incorporado aos princípios de Marketing de Serviços, também permite a utilização dessa regra. Com ela, descobrimos que 80% das falhas ou defeitos exibidos em nossa empresa ou numa loja são devidos a 20% dos processos que devem ser executados. Assim fica mais fácil identificar quais são os problemas que realmente produzem o maior percentual de erros. Portanto, a fidelização do cliente nada mais é do que tentar fazer crescer a proporção de clientes. Se no início temos 100 clientes, 20 deles serão nossos clientes fidelizados. Para o negócio crescer, precisamos fazer um plano para que tenhamos cerca de 1.000 clientes e, dessa forma, teremos 200 clientes fidelizados. Esses 200 clientes vão permitir que nós tenhamos 80% do nosso faturamento aumentado. Lembrete Segundo a Regra de Pareto, 80% do volume de negócios dependem de 20% dos clientes. 3.4 Descobrindo o público‑alvo Nos serviços, a fidelização dos clientes é muito importante. Mas como descobrir quem são os clientes que devem ser fidelizados e quem são clientes eventuais? Devemos, de alguma forma, beneficiar os clientes fiéis e tratar de qualquer jeito os que são eventuais? Na verdade, todos os clientes são importantes, pois mesmo aqueles que não são clientes fiéis podem levar no boca a boca a qualidade dos seus serviços. O sistema de indicação boca a boca é o mais importante que existe, e toda a internet funciona com esse sistema. São as indicações que permitem o sucesso do comércio eletrônico. Portanto, é a indicação que acaba sendo o grande instrumento de divulgação dos serviços, pois a esmagadora maioria dos negócios na internet são serviços. A forma de descobrir o seu público‑alvo varia de serviço para serviço, mas existem algumas regras que facilitam essa busca. Por exemplo, podemos descobrir ou comprar pesquisas de mercado que explicam como se comporta a clientela que nós desejamos para o nosso negócio. Por exemplo, um espectador de cinema não se desloca mais de três quilômetros para ir ao cinema nas grandes cidades. Já no interior, os espectadores são capazes de viajar 20 km na estrada para irem ao cinema. Dependendo da moda, a maioria dos homens mantém seus cabelos curtos. Eles cortam então o cabelo a cada 30 dias em média. Mas dificilmente um homem pega um carro para ir até o salão do barbeiro. A mesma coisa acontece com clientes da padaria: mesmo que eles se desloquem de automóvel em algumas cidades, na maioria das cidades a padaria atende às pessoas que se deslocam a pé. Fatos similares acontecem com todos os serviços. Qual a distância média que uma pessoa percorre para ir a um restaurante, até um pet shop ou a 72 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II um banco? É por isso que encontramos todos esses locais de serviços espalhados pelas cidades. Quando uma empresa de serviços cresce e precisa de um público que venha até a loja, prefere espalhar filiais ou franquias pela cidade a tornar a loja maior. As lojas de serviço só crescem quando cresce também o público que as frequentam. Então, quando verificamos o público‑alvo do nosso negócio, precisamos antes verificar qual é a forma usual que esse público já adotou para o tipo de serviço que nós vamos oferecer. Figura 31 − A grande densidade populacional impulsionou a utilização das estatísticas no comércio Isso depende muito do hábito. É por isso que as pessoas que interpretam as estatísticas são geralmente aquelas com formação em Sociologia. Os sociólogos entendem melhor o comportamento de grupos humanos. Se muita gente diz que prefere tomar café com açúcar, fica claro que o público‑alvo que consome açúcar também bebe café. Dependendo do local onde as pessoas bebem café com açúcar, eventualmente também usam um guardanapo. E possivelmente também comem alguma coisa junto com o café, dependendo da hora do dia em que o consomem. Então, se você pretende abrir uma loja para vender café, sabe que vai precisar atender a todos esses hábitos. Entretanto, todas as lojas pertencem ao setor de serviços e existem há muito mais tempo do que os conceitos de marketing. Como é que antigamente, antes de existir pesquisa de público‑alvo, as pessoas sabiam que podiam abrir uma loja? Diz um velho ditado que o melhor lugar para abrir uma loja que vende meias é numa rua cheia de lojas que vendem meias. Em outras palavras, seja por sorte ou por observação, alguns comerciantes descobriram qual era olugar certo para instalar seu negócio. Perto de toda estação de trem há um hotel simples para receber os viajantes. Dentro de todo aeroporto moderno há uma locadora de veículos. Os motoristas de táxi preferem trabalhar nos pontos das rodoviárias e dos aeroportos, porque sabem que em determinadas horas do dia chegarão clientes com certeza. Então esse tipo de percepção sempre existiu. Mas hoje, com a sofisticação dos serviços, algumas dúvidas acabam surgindo. Por exemplo, onde abrir uma oficina de costura? Onde montar uma loja para consertar sapatos? Onde montar uma lan house? Como prosperar fazendo páginas e sites para a web? Mesmo nas ruas em que há muitos restaurantes, como saber se o seu vai dar certo? Do ponto de vista do negócio, o restaurante tem de apresentar um diferencial, que pode ser elaborado a partir de uma pesquisa que o próprio empreendedor pode fazer. Por exemplo, se num local há muitos restaurantes italianos, é 73 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS melhor fazer mais um restaurante italiano ou um restaurante japonês? Para esse tipo de pesquisa, o mais importante é conhecer o fluxo de pessoas daquele local. Quem são as pessoas que passam por aquela rua às oito horas da manhã, todos os dias, ao meio‑dia nos dias de semana, às seis horas da tarde nos dias de semana, e nos domingos e feriados? As pessoas que vêm aos sábados utilizam carro ou transporte público? Tudo isso faz parte da pesquisa de público‑alvo. É sabendo quem passa por um determinado local, a que horas e em que dias que começamos a verificar a possibilidade de um negócio dar certo. Por causa disso é que foram criados os shopping centers, que na tradução significa centros de compras. Os centros de compras existem desde o século XVIII. Eles nasceram em Paris, em torno do Palácio Real, na forma de galerias de lojas. Depois, tornaram‑se centros comerciais, que ainda existem nas grandes cidades, principalmente nos centros. Em seguida, vieram as lojas de departamentos, que são lojas grandes onde o consumidor pode encontrar uma enorme variedade de produtos. E, por fim, nasceram os shoppings, onde muitas lojas pequenas e especializadas vendem seus produtos a um fluxo de pessoas que vem visitar o ambiente que o shopping proporciona. Hoje em dia, os shoppings são especializados nos diversos segmentos da sociedade, que são aqui no Brasil as classes A, B, C, D e E. Essa divisão das classes surgiu também inspirada no Princípio de Pareto. Em quase todos os outros países, as classes são divididas por nomes: classe alta, classe média alta, classe média, proletariado e lumpemproletariado. Observação Segundo a doutrina marxista, lumpemproletariado é a camada social do proletariado que vive na miséria e que se caracteriza pela ausência da consciência de classe. Do alemão Lumpenproletariat, seção degradada e desprezível do proletariado, de Lumpen (trapo; farrapo) + Proletariat (proletariado). Figura 32 − Quando os reis construíam palácios não existiam os conceitos de classe A, B e C Apesar de o Princípio de Pareto estar presente no mundo real, no mundo virtual (no comércio eletrônico), os matemáticos vêm encontrando outra relação: no comércio eletrônico e na internet, aparentemente, 5% dos clientes fazem 80% do faturamento. Nesse tipo de modalidade, as empresas encontraram uma forma 74 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II de expandir seus negócios, oferecendo de graça alguns serviços. Os mais populares são os antivírus. Como os usuários precisam proteger‑se quando navegam na internet, os grandes fabricantes de antivírus oferecem de graça aos consumidores os programas mais simples. Contudo, para aqueles que querem proteção maior, seja porque o fluxo de usuários é muito grande seja porque seus clientes precisam de uma proteção maior, como clientes de um banco, o serviço de antivírus é vendido. Ainda não sabemos se esta relação de 5/80 vai se manter na internet, mas certamente a ideia de fazer com que o cliente se acostume a utilizar o serviço de graça, até precisar de um serviço melhor, deve manter‑se por muito tempo. Então, realmente precisamos descobrir para quem nós vamos vender. Isso facilitará que o negócio esteja pronto desde o primeiro momento para atender aos consumidores. Mas a história famosa sobre descobrir para quem vender e manter o negócio funcionando é a da Victoria’s Secret. Roy Raimond, um recém‑formado estudante da Stanford Graduated School of Business, que morava em São Francisco, nos Estados Unidos, queria uma loja onde ele pudesse entrar e comprar roupas íntimas para a namorada. Todas as outras lojas de roupas íntimas exclusivamente para mulheres o deixavam constrangido. Desse modo, ele construiu o conceito (lojas em que homens entram para comprar lingerie) e abriu a loja num shopping center. Logo depois, ele expandiu o conceito para mulheres que gostam de comprar lingerie para agradar os homens. Depois da loja aberta, ele começou a vender por catálogo, entregando pelo correio. Quatro anos depois, ele vendeu suas seis lojas e o negócio pelo correio para outro empresário, que fez o negócio crescer em cima da segunda ideia: roupas íntimas que agradam os homens, mas são compradas pelas mulheres. Mas como isso pode acontecer? Na verdade, a grande decisão tomada por Raimond foi abrir sua primeira loja num shopping center, numa época em que a liberdade sexual atingia o seu auge. Não existia a aids, e as pessoas estavam gostando de poder ter liberdade sexual, o que permitia tanto que um homem comprasse uma roupa íntima para sua namorada quanto sua namorada usasse uma roupa sexy para ele. Entretanto, o número de homens dispostos a comprar era menor do que o número de mulheres; e, como a loja ficava num lugar mais frequentado por mulheres do que por homens, não foi difícil que elas descobrissem o local. A inteligência foi depois usar esse dado a respeito dos clientes para expandir seus negócios. Figura 33 − Sempre é mais vantajoso abrir uma loja num shopping? 75 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS Será que isso significa que é sempre melhor abrir uma loja num shopping do que em outro lugar? Depende. A grande vantagem das lojas nos shoppings é que, antes de serem construídas, os empresários pesquisam o perfil socioeconômico do lugar. Eles sabem quantas pessoas das classes A, B e C moram em volta. Depois que o shopping começa a funcionar, os administradores controlam com detalhes todas as pessoas que vão passear por lá. Contam os carros que entram no estacionamento e verificam quantas e quais pessoas esses carros transportam. Contam também o fluxo de pessoas em cada andar, quem sobe pelo elevador e quem sobe pela escada rolante. Fazem pesquisa para saber quanto cada cliente gasta em média em cada loja, e quantas lojas são visitadas a cada vez por cada tipo de consumidor. Assim, depois de inaugurado o shopping center, os gestores de marketing sabem exatamente qual é o fluxo de pessoas e qual a qualidade desse fluxo. O gestor de marketing de um shopping tem como tarefa principal descobrir quais são as lojas que mais agradam e as que devem ser trocadas. Às vezes, basta que se troque uma loja de lugar para que ela aumente seu faturamento. Outras vezes, é preciso não renovar o contrato de aluguel de uma loja, para que outra, com uma característica muito diferente, venha para o seu lugar. Com isso, cada shopping acaba espelhando uma realidade socioeconômica diferente. Os shoppings servem de grande referênciapara os bairros onde estão instalados: podemos aprender olhando para as suas lojas, como é aquela redondeza, quem são as pessoas que as frequentam e como gastam seu dinheiro. Alguns shoppings cobram pelo estacionamento. Isso acontece em parte pelo faturamento a mais que o estacionamento proporciona. Mas, na verdade, o maior motivo é forçar a velocidade no fluxo de clientes dentro do shopping. Se alguém sabe que vai pagar caro por cada hora estacionada, vai tentar fazer suas compras dentro de um espaço de tempo menor por causa do preço do estacionamento, o que cria outra oportunidade de serviço para determinadas lojas. Os supermercados instalados dentro dos shoppings acabam pagando pelo estacionamento dos seus clientes, desde que as compras superem um valor determinado. Outras lojas pagam o estacionamento para os clientes desde que comprem mais do que um valor estipulado pela gerência. Mas, na prática, a grande vantagem é sempre poder contar com um fluxo estável de consumidores. A ideia de fluxo estável também é utilizada em vários outros tipos de negócio. Sabemos que na porta dos estádios de futebol são montadas barraquinhas para vender comida em dia de jogo. Quando não há jogo, não há barraquinhas. Então, a observação do fluxo de pessoas acaba por facilitar a compreensão de quem é nosso público‑alvo. Perguntas que normalmente não fazemos são constantes na pesquisa do público e de seu fluxo. Por exemplo, quem compra as cuecas do marido num casal, ela ou ele? E as meias? Como na maioria das vezes essas compras são feitas por esposas ou mães, é muito difícil encontrar meias e cuecas em lojas masculinas, em tanta variedade e quantidade como nos grandes magazines onde as roupas de homens, mulheres e crianças são vendidas todas juntas. Algumas ruas, como a 25 de Março em São Paulo, se especializam em vender em grande quantidade. Como o fluxo é grande, outros lojistas acabam tornando‑se fornecedores das mesmas mercadorias em menor quantidade. Outras lojas têm preços muito diferentes, com variação de até 30%, para vendas no varejo e vendas no atacado. E lá as oportunidades dos serviços para agradar os clientes são muitas: algumas lojas servem café da manhã para quem chega cedo, outras guardam as compras dos clientes porque sabem que vieram de longe e não têm como carregar, outras até mandam entregar as compras no hotel em que o cliente está hospedado. Tudo isso só para manter o fluxo de pessoas entrando nas lojas o tempo todo. 76 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Contudo, apenas com o fluxo não temos como saber exatamente quem são os nossos consumidores potenciais. Precisamos examinar esse fluxo para saber quem exatamente está se movimentando. Para isso vamos pensar na segmentação. Observação Devemos fazer pesquisas de mercado que nos indiquem o gênero das pessoas para quem queremos vender, sua classe social, seus hábitos, os lugares que frequentam e como elas fazem suas compras. 3.5 A segmentação do mercado Vou contar uma história que tem tudo a ver com a segmentação, mas não tem nada a ver com negócio. Ou será que tem? Quando os pescadores amadores de todo o país vão para os grandes rios do Mato Grosso pescar, eles sabem quais são os peixes que existem nos rios. Para cada espécie de peixe, eles levam um tipo de anzol e de isca. Alguns chegam a levar tipos de varas de pescar diferentes. Mas, quando chegam na beira do rio, não montam a vara simplesmente esperando que o tipo de isca e de anzol façam o serviço. É mais difícil do que isso. Eles precisam procurar a ajuda dos barqueiros, que conhecem os hábitos dos peixes na região. Os barqueiros é que dizem a que horas os cardumes estão nadando e em que lugar. Assim, além da isca e do anzol, é preciso saber onde cada tipo de peixe está nadando para que a pescaria tenha sucesso. Os pescadores são grandes especialistas em segmentação na hora do lazer. Figura 34 − Uma pescaria se assemelha à segmentação no marketing: cada peixe precisa de um anzol, isca e vara diferentes 77 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS Kotler e Keller (2006) definem segmentação de mercado da seguinte forma: Os mercados não são homogêneos. Uma empresa não pode atender a todos os clientes em mercados amplos ou diversificados. Os consumidores diferem entre si em muitos aspectos, em geral, podem ser agrupados segundo uma ou mais características. A empresa precisa identificar os segmentos de mercado a que poderá atender com eficácia. Essas decisões requerem um profundo entendimento do comportamento do consumidor e uma cuidadosa análise estratégica. Às vezes, equivocadamente, os profissionais de marketing perseguem o mesmo segmento de mercado em que várias empresas já atuam, negligenciando outros segmentos potencialmente mais lucrativos (KOTLER; KELLER, 2006, p. 236). Segmentação é justamente saber qual peixe e a que hora ele pode ser pescado com uma determinada isca e anzol. Segmento é isso, uma parte do todo. Em Gerenciamento de Serviços temos de saber que precisamos de isca e de anzol para cada tipo de cliente a quem queremos servir. Ao decidir segmentar o mercado, a empresa dispõe de poucas variáveis que estão sob seu controle. Segundo Richers (1991, p. 22), a empresa deve enfocar suas opções de segmentação sob quatro ângulos distintos: • setor, que é um problema de concorrência; • segmentos, que são um problema de oportunidade; • produtos, que são um problema de adaptação; • distribuição e comunicação, que são um problema de escolha. O objetivo básico da segmentação é concentrar esforços de marketing em determinados alvos, favoráveis para serem explorados, de maneira mais adequada. Cada segmento deverá ser constituído por grupos de consumidores que apresentem o mínimo de diferenças entre si, do ponto de vista das suas características, permitindo conhecer melhor as suas necessidades e desejos. No quadro a seguir, são apresentadas algumas das formas de segmentação do mercado: Quadro 4 – Segmentação de mercado Modalidades Critérios Geográfica Extensão do mercado potencial, concentração geográfica, transporte e acesso, polarização, bairros e ruas, tráfego, centros de compras Demográfica Idade, sexo, domicílio, família, ciclo de vida (jovem, adulto, idoso) Socioeconômica ou psicográfica Classe de renda, instrução, ocupação, status, migração, mobilidade social Padrões de consumo ou comportamental Frequência de compra, local de compra, lealdade a marcas, heavy & light users, curva abc Benefícios procurados Satisfação sensual, prestígio social, emulação‑preço favorável, qualidade/durabilidade, redução de custos, atendimento/serviços 78 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Estilos de vida Expectativas de vida, uso do tempo, interesses predominantes, participação em eventos e agrupamentos sociais, uso do dinheiro, amizades e relações pessoais Personalidade Bases culturais, atitudes e valores, liderança, agentes de mudanças Caracterização econômica Setor de atividade, tamanho das empresas, atuação dos concorrentes, acessibilidade, usos e aplicações, unidade de decisão de compra, demanda derivada Os dados para segmentar mercado podem ser obtidos de: • Fontes internas – informações sobre clientes existentes e potenciais que estão imediatamente disponíveis para as empresas e podem ser extremamente valiosas no desenvolvimento de compostos de marketing customizados. O Departamento de Vendas pode servir como referência paraa estruturação dessa fonte de dados. • Fontes externas – são as informações coletadas de empresas e órgãos privados e públicos que publicam dados para as empresas que querem segmentar seus mercados. Lembrete Segmentar é descobrir o que vender, para quem vender, como vender e quando vender. Esses dados muitas vezes estão disponíveis nas associações de empresas. Estas são as associações comerciais, sindicatos patronais e organismos de governo, tais como as secretarias de estado e os ministérios. Também o sistema S – Sesc, Senai e o Sesi – fornece informações importantes. As empresas de pesquisa e estatística também vendem dados específicos para qualquer negócio. O Ibope, por exemplo, publica informações sobre o potencial de consumo de todos os municípios do Brasil. Também a TV Globo disponibiliza informações sobre onde é possível saber quem compra automóveis, pasta de dente, arroz, sabonete e muitos outros produtos, por município. Com um investimento a mais, também conseguimos do Ibope uma pesquisa específica sobre o serviço que queremos constituir. Claro que esses custos são altos, e a maioria das empresas, que são as pequenas e microempresas, não tem como pagar por esse tipo de pesquisa. Mas é possível coletar dados pessoalmente ou com a ajuda de seus sócios, para descobrir como funciona uma determinada praça ou um ponto comercial. Os dados históricos, aqueles que conseguimos de graça nesses órgãos citados, já são um importante ponto de partida para sabermos se um bairro da cidade tem uma população majoritariamente da classe A, B ou C, se a maioria dessas pessoas vai trabalhar de carro ou de transporte público. Também é possível saber se naquela localidade há estabelecimentos ou serviços parecidos com o que estamos pensando em abrir. 79 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS Saiba mais Verifique as diversas informações sobre potencial de consumo no site: <http://www.ibope.com>. Leia também os textos a seguir: FLORENZANO MARKETING. IPC Florenzano. 2008. Disponível em: <http:// www.florenzano.com.br/ipc/produtos.htm>. Acesso em: 15 dez. 2014. NEGÓCIOS GLOBO. Atlas de cobertura. [s.d.]. Disponível em: <http:// comercial2.redeglobo.com.br/atlasdecobertura/Paginas/Home.aspx>. Acesso em: 15 dez. 2014. O próximo passo é investigar os arredores. Olhando para o tipo de casa ou prédio que existe à volta, podemos perceber onde as pessoas das classes sociais estão concentradas. Quantas padarias, bancas de jornal, lanchonetes, salões de cabeleireiro e lava‑rápido existem. Como são esses estabelecimentos, quanto eles investem em decoração, que tipo de comida servem, como os funcionários estão vestidos. Aqui eu quero contar outra história. Conheci há anos uma dupla de jovens empresárias que queria abrir uma confecção numa área da cidade famosa por ter pequenas confecções. É o bairro de Pinheiros, em São Paulo. Elas pesquisaram as outras confecções e o entorno. Descobriram que a maioria dos empregados das lojas daquele bairro estava muito malvestida, sem roupas profissionais. Mudaram a confecção para fabricar uniformes profissionais para lanchonetes, padarias, restaurantes. Rapidamente a empresa se tornou um sucesso, pois era fácil trazer os proprietários para dentro da confecção e demonstrar as vantagens do uniforme profissional. Muitas vezes levamos grandes sustos quando comparamos os dados das pesquisas com a realidade do entorno. Meu exemplo favorito é o bairro carioca de São Conrado. Esse bairro nasceu espremido entre um clube de golfe, com seus enormes gramados, e a praia. Primeiro foram construídas casas de uma forma que hoje em dia chamamos de condomínio fechado. Na época eram denominadas de “ruas particulares”. Depois vieram grandes empreendimentos de prédios de luxo com vista para o mar. Mas enquanto tudo isso se desenvolvia, crescia também a favela da Rocinha. Se formos olhar apenas as estatísticas, encontraremos naquele bairro uma quantidade esmagadora de pessoas das classes C e D, mas também uma quantidade pequena de pessoas da classe A. A classe B é praticamente inexistente nesse bairro. Se nós fôssemos confiar nesses dados frios, jamais poderíamos pensar que lá está um dos shoppings mais exclusivos do Rio de Janeiro. Por outro lado, a criminalidade da favela da Rocinha não permite ainda que se crie ali também um grande shopping direcionado para a classe C. Quando a Rocinha estiver pacificada, logo surgirá um empresário que, assim como eu, também percebe essa oportunidade. Estou dando esse exemplo porque a criminalidade do local faz com que essa região exiba um comportamento atípico. Se a questão fosse apenas a convivência das diferentes classes sociais numa mesma região, coisa comum nas cidades brasileiras, seria muito provável que já existisse lá um grande centro de comércio para aproveitar os 120 mil moradores da Rocinha. 80 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Entretanto, nem sempre são apenas as diferenças de classe social que oferecem oportunidades. Os hábitos locais são também determinantes. Por exemplo, se eu resolvesse abrir uma assistência técnica para conserto de barcos de lazer, eu abriria em Brasília. No lago de Brasília, chamado Paranoá, está metade de todos os barcos de lazer do Brasil! Isso porque faz parte do hábito das classes mais ricas daquela cidade ter um barco. No Rio de Janeiro, Santos, Salvador ou Recife, os barcos não estão entre as preocupações dos mais ricos. Muitos dos ricos dessas cidades preferem ter uma casa de campo ou uma fazenda. Ainda no tema de hábitos locais, em São Paulo, o dia de comer feijoada é o sábado. No Rio de Janeiro, o domingo. No Rio Grande do Sul, qualquer coisa é motivo para fazer um churrasco com a família ou com os amigos. Já em Curitiba, São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, os consumidores preferem ir a uma churrascaria com o sistema de rodízio. É por isso que um dos 8 Ps de Marketing de Serviços indica que a promoção inclui a educação. Há vinte anos quase ninguém comia comida japonesa. Ninguém gostava da ideia de comer peixe cru. Hoje, com a educação do mercado, a maioria dos restaurantes de comida japonesa não tem nenhum descendente de japonês trabalhando, nem mesmo nenhum dos proprietários descendente de japonês. O mercado brasileiro aprendeu a comer comida japonesa. São muitos os fatos pitorescos que se podem contar a respeito da educação do mercado. Há trinta anos, os supermercados usavam sacos de papel para embalar as compras. Eram sacos de papel kraft, marrom escuro. Então alguns supermercados resolveram copiar outros países e introduziram o saco plástico. Alguns anos depois o governo passou a obrigar que todo lixo jogado fora fosse embalado em sacos de plástico. Esses sacos ainda existem e são vendidos nas cores azul, para uso interno nas residências e escritórios, e preta, para serem colocados na rua. Ora, muito rapidamente as donas de casa passaram a usar os sacos de compra do supermercado como sacos de lixo. Mas hoje os consumidores aprenderam que os sacos de plástico são um grande problema para o meio ambiente. Além de dificultarem a decomposição de lixo nos aterros sanitários, eles entopem bueiros e, quando chegam ao mar, matam os peixes que confundem plástico com alimento. Portanto, hoje há uma grande campanha no Brasil para que não se utilizem mais os sacos plásticos. Mas como substituir a sua praticidade? Espero que em breve alguém perceba que é possível baixar o custo de papel reciclável, que hoje em dia é utilizado em grandes compostos industriais e em cadernos e caixas vendidas como produtos caros e diferenciados. Assim, os velhos sacosde papel voltarão a tomar o lugar dos velhos sacos de plástico. Mas as culturas locais variam muito, e hoje em dia temos cidades que praticamente aboliram o uso dos sacos plásticos, e outras que insistem em utilizá‑los. Figura 35 − Sacos plásticos são uma ameaça à natureza e sua utilização está sendo discutida em todo mundo 81 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS Voltando aos serviços, quando finalmente reunimos todas essas informações – dados históricos, dados específicos e hábitos locais −, estamos prontos para avançar na previsão de sucesso do nosso empreendimento. Mais um exemplo: no passado, aqui no Brasil, existiam lojas de animais que vendiam desde cobra até passarinho. Hoje, com a educação a favor da preservação das espécies, só é possível encontrar lojas de animais com animais domésticos em pontos muito específicos. Neste momento, conseguimos realmente ter informações de como funciona a segmentação do mercado para aquilo que vamos tentar implementar. Por exemplo, quantas pessoas têm gatos, quantas têm cachorro ou outro tipo de animal de estimação? Os cachorros e gatos comem os restos de comida dos donos (o que era comum no passado e ainda é no interior) ou comem uma ração recomendada pelo veterinário? Por outro lado, todos os produtos que facilitam a vida dos donos de animais, tais como casinhas de cachorro, colchões para gato, comida de peixe, são vendidos em grandes lojas especializadas. Então, se estivermos pensando em fazer alguma coisa com animais, temos de verificar como as pessoas da redondeza tratam os seus bichos. Algumas lojas dão banho nos gatos e nos cachorros. Outras têm convênio com o veterinário para dar as vacinas corretas. Outras são simplesmente depósitos de ração, pois a clientela não paga por esses serviços aos animais. Então podemos prever que num local onde as pessoas estão educadas para cuidar melhor de seus animais, os serviços podem ser sofisticados, e nos locais onde esse cuidar ainda não existe, o melhor é vender ração. Isso não tem a ver com promoção, mas com educação. Podemos verificar se com um pouco de propaganda e com a ajuda de clientes mais conscientes nós podemos criar o mercado. Vamos imaginar uma cidade de 500 mil habitantes no Brasil. A maioria das pessoas mora em casa própria, recebe salário, e temos uma população majoritária formada pelas classes B e C. Portanto, há dinheiro para pagar pelos cuidados com os animais. Só precisamos descobrir como ensinar isso para os consumidores potenciais – os donos de animais. A técnica mais simples é a top‑down. Top‑down significa “de cima para baixo”. Essa técnica foi percebida por Taylor e também por Weber. Quer dizer, primeiro temos de convencer as pessoas mais ricas e instruídas da sociedade local. Depois que elas adquirirem o hábito de levar seus animais de estimação ao pet shop, as outras pessoas da cidade acabarão adotando esse costume. Essa forma de escolher as pessoas para quem queremos vender serviços significa uma escolha entre todas as pessoas que moram naquela cidade. Dos 500 mil habitantes, escolhemos inicialmente os mais ricos e instruídos para se tornarem clientes. A ideia de começar a vender para grupos escolhidos se chama segmentação. Não é possível ter sucesso tentando vender tudo para todo mundo. É necessário começar por um segmento ou uma fatia do mercado. Os especialistas de marketing sugerem que as estratégias de marketing são diferentes e uma classificação dessas estratégias é a seguinte: Marketing de massa Marketing de massa é indiferenciado, tentando alcançar todo mundo ao mesmo tempo. Esse tipo de procedimento é a mais antiga das estratégias de marketing. Ela ainda é muito utilizada, principalmente no varejo, pois nesse contexto não podemos gastar muito tempo tentando verificar quais os segmentos 82 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II que melhor respondem aos apelos de venda dos produtos. Isso acontece porque um supermercado ou um shopping center acaba oferecendo uma variedade muito grande de produtos, que atingem muitos segmentos do mercado ao mesmo tempo. Em alguns supermercados, encontramos a oferta de todo tipo de comida, produtos de limpeza, utensílios diversos, eletrodomésticos e até mesmo acessórios de automóveis. Então é mais barato fazer um marketing que simplesmente chame o consumidor para dentro da loja ou do shopping em vez de tentar segmentar a estratégia de marketing para alcançar apenas alguns clientes. Por outro lado, no momento da propaganda, a promoção pode ser dirigida apenas a um determinado segmento. Por exemplo, quando o shopping faz uma promoção para o Dia das Mães, está se dirigindo às pessoas que prezam comprar um presente para suas mães. O marketing de massa é o que mais precisa de bom acompanhamento das estatísticas, porque, se um supermercado tem várias filiais numa cidade e faz uma campanha na televisão, rádio e jornal, além da internet, a direção de marketing não pode antever qual das lojas vai receber mais clientes. Por outro lado, um shopping center que faz uma campanha em todas as mídias precisa que os moradores e consumidores potenciais que moram a uma distância máxima de 5 km compareçam para ver as novidades anunciadas. Para um shopping, a propaganda para toda a cidade exibe certo desperdício, já que, numa grande cidade com muitos shoppings, o consumidor dificilmente vai atravessar a cidade e enfrentar o trânsito para ir até lá. Nem mesmo num domingo. Por causa disso é que quando é utilizado o marketing indiferenciado, ou marketing de massa, os gestores de marketing precisam medir quanto dos consumidores potenciais que eles precisavam que fossem atingidos pela propaganda realmente se dispuseram ir até o ponto de venda para fazer uma compra. Também determinados produtos acabam se utilizando do marketing de massa porque são distribuídos em tantos pontos de venda que não podem privilegiar apenas alguns. Refrigerantes, sorvetes, chocolates, franquias de lanchonetes, como as do McDonald’s, e muitas outras acabam fazendo um marketing de massa para atrair todos os segmentos de mercado que compram seus produtos. Alguns chegam a fazer campanhas promocionais nacionais para estimular que os consumidores de todo o país procurem seus produtos nos pontos de venda. Marketing diferenciado O marketing diferenciado é a estratégia utilizada por quem deseja tornar‑se líder de um determinado mercado. As instituições financeiras são muito zelosas quando buscam seus clientes. Nessas instituições, há uma especialização que aborda diferentes clientes que podem proporcionar ganhos diferenciados para a instituição. Sabemos que os cartões de crédito apresentam cores diferentes, prata, ouro e platina, por exemplo. Cada cor exibe a capacidade de crédito do cliente. Também determina a lucratividade diferente que cada categoria de cliente pode trazer. O marketing diferenciado é também aquele que é utilizado por negócios que são direcionados a clientes específicos. Uma loja que vende o “dia da noiva”, que é uma empresa que faz massagem, penteia, maquia e veste a noiva para ir se casar, precisa descobrir quem são as moças casadouras daquela cidade ou daquele bairro. Um pet shop também sabe que é muito difícil vender serviços para quem mora do outro lado da cidade; outra impossibilidade é vender serviços para quem não tem animal em casa. 83 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS Na internet, todo marketing é diferenciado. Todas as campanhas de internetvisam aos consumidores potenciais de determinado produto e serviço. Quando uma empresa tenta fazer uma campanha de propaganda usando a estratégia de marketing de massa, a quantidade de reclamações no site da empresa pode trazer problemas. Ninguém gosta de receber mensagens de compra de ração canina se não tem um cachorro. Assim como ninguém quer receber uma mensagem de um remédio contra verrugas se não tem verrugas. Por esse motivo, o marketing da internet é sempre diferenciado. Fazer marketing de massa na internet é geralmente um esforço inútil, com um custo que geralmente não compensa. Marketing concentrado O marketing concentrado tem muitas utilidades. A ideia por trás desse tipo de marketing é se concentrar nos segmentos específicos onde as vendas realmente podem acontecer. O marketing concentrado é muito utilizado por quem vende produtos exclusivos e de luxo. Não adianta fazer propaganda de televisão para vender iates de luxo, passagens de primeira classe, nem mesmo joias caras ou quadros de pintores famosos. Os compradores desses produtos são poucos e muito específicos. Eles podem até morar em diferentes bairros da cidade, mesmo assim sabem quais são as lojas que vendem produtos de luxo que só eles podem comprar. Restaurantes caros, por exemplo, só querem fazer promoção nas revistas e nos sites que são vistos por clientes ricos. O marketing concentrado permite que sejam criadas promoções e peças publicitárias específicas para cada cliente. Isso também é conhecido como marketing one to one ou marketing personalizado. Esse tipo de abordagem é muito utilizado em serviços. Clínicas médicas e escritórios de advocacia que desejam conquistar determinados clientes se esforçam para desenvolver campanhas específicas apenas para eles. Redes de supermercado também se utilizam do marketing concentrado para conquistar determinados segmentos de clientes. Em algumas lojas, são colocadas promotoras de venda em locais estratégicos, junto com displays, para que os clientes possam experimentar vinhos, energéticos, achocolatados, sorvetes, ou mesmo produtos para tirar manchas de roupas para demonstrar a consumidores que realmente poderão ser tornar clientes. Também podemos contar na categoria do marketing concentrado os produtos de marca própria do supermercado que têm destaque nos cartazes internos da loja. Essas marcas próprias geralmente têm um preço melhor do que as marcas comerciais normais e proporcionam para o supermercado, por vezes, um lucro maior do que o das outras marcas. A melhor demonstração de marketing concentrado são as promoções pontuais que as lojas de rua ou mesmo os supermercados fazem, utilizando a presença de um locutor como promoção de vendas. Quando a loja está cheia, o locutor passa a anunciar um desconto especial em determinados produtos com o perfil dos consumidores que estão na loja naquele momento. O gerente autoriza então um desconto especial para um determinado tipo de produto: só agora e nos próximos cinco minutos arroz em sacos de 5 quilos por apenas R$ 3,00! Mas só nos próximos cinco minutos e no máximo dois pacotes por cliente! A utilização desse tipo de promoção diz respeito ao marketing concentrado, pois é o olho do gerente que decide que produto deve ser promovido naquele momento. A decisão de promoção vai sempre ficar 84 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II limitada ao fluxo de pessoas dentro da loja naquele momento. A experiência do gerente vai dizer que tipo de consumidor ele tem na loja e que tipo de produto pode ser oferecido para aquelas pessoas. É tudo muito rápido e, algumas vezes, quando a percepção do gerente está correta, ele consegue vender todo o estoque disposto nas prateleiras num tempo mínimo. Uma característica do marketing concentrado para as outras estratégias é que nesta estratégia você geralmente trabalha com pessoas que já são clientes da sua empresa. O locutor de promoções funciona porque os consumidores já estão dentro da loja, demonstrando que são clientes daquela loja. 3.6 A previsão de vendas Uma vez identificado o segmento, é necessário descobrir qual o volume de vendas que vamos conseguir alcançar. Quando o serviço diz respeito à alimentação, à hospedagem e ao transporte, é mais fácil antever qual pode ser a previsão de vendas. Os dados históricos sempre nos ajudam para que possamos verificar qual foi o comportamento de vendas de um serviço. Vamos imaginar uma cidade à beira‑mar que recebe turistas nos fins de semana e nas férias de julho e janeiro. Não é difícil contar quantos habitantes moram nessa cidade e quantas casas ou apartamentos são ocupados parcialmente numa semana e nas férias. Também a polícia rodoviária pode apresentar dados específicos de quantos veículos passaram em média num determinado posto de controle. Então, se sabemos quantas pessoas chegam de automóvel, quantos ônibus chegam à cidade e quantas casas e apartamentos existem ali, podemos estimar quantas pessoas a cidade pode abrigar num fim de semana e nas férias. Por exemplo, vamos supor que essa cidade tenha uma população de 20 mil habitantes e quarenta mil imóveis no total. Pesquisando as informações que conseguimos junto ao IBGE, vamos descobrir também nessa cidade um perfil de família. Esse perfil vai demonstrar como a cidade se organiza demograficamente. Talvez vivam ali dois mil aposentados sozinhos em suas casas. Então os outros habitantes se organizam em famílias, por exemplo, quatro habitantes em média por residência. Assim, podemos supor que as famílias da cidade ocupem no máximo 6 mil imóveis: 2 mil ocupados por aposentados e 4 mil ocupados pelas famílias. Então encontramos nessa cidade algo em torno de 34 mil imóveis vazios. Numa pesquisa junto à companhia de água da cidade, vamos descobrir a variação da utilização da água nos meses comuns e nos meses de férias. Pela média de utilização de água por residência, saberemos logo quantas pessoas ocupam as casas de veraneio nas férias e, com isso, estabeleceremos qual a estimativa da população eventual, também conhecida por população flutuante da cidade. Por hipótese, vamos imaginar que o consumo de água indique que no verão a cidade chega a receber por volta de quatro pessoas por residência. Isso significa que a cidade chega a ter mais de 136 mil pessoas nos meses de férias (multiplicamos 34 mil residências vezes quatro pessoas). Então, em dois meses no ano, a cidade tem a população de 136 mil turistas, mais 20 mil habitantes, num total de 156 mil pessoas. Ora, se resolvemos abrir um restaurante nessa cidade, podemos pensar que os moradores locais que exibem uma renda de mais de 3 salários mínimos virão ao restaurante, no máximo, uma vez por ano, em qualquer época do ano. Já os turistas que vierem apenas por um curto período, 85 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS vão eventualmente almoçar fora pelo menos uma vez, porque estão de férias e não querem fazer todas as tarefas domésticas. Observação Quanto maior o tempo de retorno de um investimento, mais caro se torna o capital investido. Se isso for mais ou menos correto, podemos prever que nas férias os restaurantes locais poderão ter a oportunidade de vender em sessenta dias do ano duas vezes 136 mil refeições (porque são dois meses de férias – julho e janeiro). Isso pode significar que ao longo dos meses de férias poderão ser vendidas algo em torno de 4.534 refeições por dia! Já nos outros dez meses do ano, a média diária será de aproximadamente oito refeições por dia, para toda a cidade. Então há uma discrepância muito grande entre o tamanho que o mercado de refeições podeter nos meses do ano. Caso o empreendedor resolva fazer uma previsão de vendas, ele tem primeiro de verificar o tamanho da concorrência. Nesse caso, vou sugerir que essa nossa cidade imaginária tenha cinco lanchonetes simples e cinco restaurantes que ficam fechados ao longo da semana e abrem somente nos fins de semana e durante as férias. Se a soma de todas as mesas e balcões dos restaurantes juntos perfaz, por exemplo, 1.200 lugares; sabemos que a oferta diária de lugares em restaurantes é de 1.200 refeições no almoço e 1.200 refeições no jantar. Então, se todas as pessoas hospedadas na cidade resolverem almoçar ao mesmo tempo, faltará lugares para 3.334 pessoas por dia! Mas e se os restaurantes puderem prever dois turnos de pessoas ocupando as mesas no almoço? Digamos, um turno para pessoas que almoçam do meio‑dia a uma hora, e um segundo turno para pessoas que almoçam entre duas e quatro horas da tarde, perfazendo um total de 2.400 refeições de vendas potenciais. Em outras palavras, 2.134 pessoas não vão encontrar lugar para comer. Eventualmente, essas pessoas podem preferir, em vez de almoçar, jantar fora. Dessa maneira, podemos dizer que, durante os meses de férias, cada um dos cinco restaurantes poderá ter a oportunidade de vender até quatro refeições por dia para cada lugar oferecido. Esse raciocínio tem vários “furos”. E se alguém quiser almoçar fora todo dia? E se uma turma resolver ficar a noite toda ocupando três mesas, consumindo apenas uma refeição cada um? Ou se uma parte dos turistas prefere viajar até a próxima cidade para almoçar? Apenas essas três possibilidades mudam bastante a previsão das vendas diárias durante os meses de verão. É por isso que para diminuir os riscos de previsão é necessário entender um pouco de estatística. Estatística é uma ciência exata muito desenvolvida. O Ibope, por exemplo, consulta 2.500 pessoas para verificar qual a tendência de voto numa cidade de milhões de habitantes. As empresas de estatística, chamadas também de institutos de pesquisa, entendem que podemos examinar uma amostra da população para podermos extrapolar o resultado obtido. Elas dizem que funciona como um exame de sangue: ninguém precisa tirar todo o sangue do corpo para ser examinado. Basta uma pequena quantidade, que logo sabemos a qualidade do sangue de todo corpo. Muitas vezes o empreendedor não tem dinheiro para investir numa pesquisa estatística profissional, mas pode e deve observar a realidade. Ele pode verificar o tamanho das filas de 86 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II espera nas férias, pode comparar se também existem filas de espera nos finais de semana, enfim, pode fazer observações do comportamento dos consumidores na prática. Isso é chamado de observação empírica. Observando empiricamente a realidade, ou pesquisando estatisticamente uma cidade, encontramos uma forma de comportamento dos consumidores que serve de indicadora para a decisão sobre o investimento em um novo restaurante naquela cidade. Aqui voltamos à decisão do segmento: vamos vender refeições a partir de um preço médio, que pode ser acessível a várias classes socais? Ou vamos vender um tipo de comida que agrada mais à classe A? Ou mesmo um tipo de comida que agrada à classe A feminina? Ou que seja dirigido à classe B na faixa de idade de 20 a 35 anos? Ou que tenha um grande apelo para crianças das classes A, B e C e que ofereça algumas sugestões para os pais também almoçarem? Enfim, todas essas possibilidades estão abertas e só dependem de você verificar quantas pessoas das tais 4.534 que vão comer fora em cada dia das férias fazem parte dos segmentos para o qual preferimos vender. Sabemos que 5% ou 226 pessoas são da classe A, pois esse é o perfil do país. Então poderemos vender 226 refeições sofisticadas por dia. Se eventualmente 15% de todas as pessoas são crianças e adolescentes até 15 anos, então podemos vender até 680 refeições para crianças por dia. Caso eu resolva especializar o restaurante, por exemplo, montando um restaurante de receitas de peixe e frutos do mar, é só saber pela pesquisa quantas pessoas preferem peixe à carne ou massa. Se a pesquisa indicar que 8% da população preferem peixe, sabemos que podem ser vendidas 362 refeições de peixe e frutos do mar por dia. Viu como é fácil abrir um negócio a partir da previsão de vendas? No fundo, temos apenas de saber qual é o comportamento da população e verificar se todos os gostos e vontades estão sendo atendidos. Lembro sempre que o consumidor é movido por desejo ou necessidade. Nesse caso, ou ele deseja consumir peixe ou tem necessidade de comer feijão com arroz. A partir dos dados, conseguimos organizar também a capacidade de vendas que vamos ter. Caso nosso restaurante seja montado oferecendo quarenta lugares, com dez mesas, quanto de comida nós precisamos comprar? Existem coisas que podem ser compradas por semana, tais como alho, cebola, arroz e farinha. Outras coisas, como peixe, devem ser compradas diariamente, pois o sabor delas congelado é outro. Cerveja, vinho e refrigerantes podem ser comprados por mês. Enfim, cada item de nosso estoque tem uma forma diferente de ser adquirido, e como todos esses itens vão para mesa ao mesmo tempo, a lucratividade de cada um varia de acordo com a quantidade de compra que podemos fazer de cada vez. Veremos isso com mais detalhe nos itens que falam da logística do gerenciamento dos serviços. Por enquanto, vou deixar claro que a capacidade de um serviço depende da previsão de vendas que podemos fazer para cada segmento. 3.7 A capacidade de venda Como podemos calcular a capacidade de vendas do nosso restaurante? Como calcular a capacidade de qualquer negócio que estamos planejando? É muito fácil: temos de verificar qual a capacidade efetivamente disponível e a capacidade teórica total. Qual é a diferença entre uma coisa e outra? 87 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS Vamos fazer as contas da capacidade teórica total do nosso restaurante de quarenta lugares, que serve duas refeições por lugar disponível em cada período. Se abrimos no almoço e no jantar, isso significa que a capacidade teórica total prevista é de 2 x 40 x 2 = 160 refeições por dia. Nos dias em que tudo der certo, serão vendidas 160 refeições. Será que temos no estoque ingredientes suficientes para servir todas essas refeições? Será que todos os pratos do cardápio podem ser servidos todos os dias em quantidade ilimitada? Você nunca ouviu de um garçom que o camarão acabou ou que não tem mais Coca‑Cola? Pois é, o estoque real de ingredientes determina a capacidade efetivamente disponível do nosso estabelecimento, ou seja, a utilização real. Uma fórmula que se utiliza é: Capacidade disponível = Utilização real Capacidade teórica total Essa fórmula é importante, pois com ela podemos calcular diariamente se a capacidade de vendas total é sempre a mesma ou apresenta grandes variações. Como assim? Ora, se sabemos que todos os dias vendemos dez pratos de salada, que cada salada custa para nós R$ 3,00 e a vendemos por R$ 15,00, podemos prever que faturamos por dia R$ 120,00 na venda de salada. Por outro lado, se cada prato de carne custa em média R$ 6,50, nós o vendemos por R$ 27,00. Então, se todo dia nos preparamos para vender 25 pratos de carne por refeição, cinquenta pratos no total, faturamos, grosso modo, R$ 1.250,00 por dia com os pratos de carne. Com esse faturamento, será que num dia em que chegarem ao restaurante oitenta pessoas querendo comer carne vamos ter a capacidade de vender toda essa carne e faturar R$ 2.160,00? A diferença de trinta refeiçõesa mais representa um lucro proporcional de 60%. Pelos números, nossa capacidade teórica total de vender refeições é de 160 refeições, e a capacidade disponível para pratos de carne é de oitenta vendas. Depois de aberto o restaurante, o proprietário passa a verificar a variação diária de vendas e assim pode calcular melhor se a capacidade teórica está mais próxima da capacidade disponível, melhorando a performance da utilização real. Isso certamente diminui os custos com estoque e as dificuldades logísticas do negócio. Além disso, aumenta também a eficiência do negócio. A previsão de vendas, que equivale à capacidade disponível, comparada às vendas reais, acaba determinando a eficiência do negócio. A fórmula da eficiência é: Vendas efetivas = Eficiência Capacidade disponível Aqui entra uma das características típicas dos serviços. Não conseguimos prever sempre qual a capacidade que deve ser planejada para aumentar a lucratividade do negócio. A fórmula que nos ajuda é: 88 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a Unidade II Capacidade planejada = Capacidade teórica total x utilização real x eficiência Vamos a mais um cálculo! Temos a capacidade de vender 160 refeições por dia, vendemos na prática 120 refeições por dia e nossa eficiência revela o coeficiente de 0,75. Como vamos alcançar um planejamento melhor? Isso vai acontecer quando a capacidade teórica total for ajustada para que a capacidade disponível fique bem próxima da utilização real. No caso específico de um restaurante, é muito difícil que as duas capacidades alcancem exatamente o mesmo valor. O motivo é justamente a diferença na hora da compra dos ingredientes. Como já vimos, algumas compras são mensais, outras semanais e outras, ainda, diárias. Entretanto, nem todo tipo de serviço tem essa variação na composição do estoque. Vamos a um exemplo radicalmente diferente, para tentar entender como no Gerenciamento de Serviços podemos ter estratégias que são muito diferentes entre si. Nosso exemplo de comparação é uma empresa de serviços de informática que faz a manutenção de sites de terceiros. Esse negócio vem crescendo na medida em que todas as empresas de todos os ramos cada vez mais precisam exibir na internet um site para seus clientes atuais, clientes potenciais ou simplesmente fazer promoção para informar aos consumidores que estão no mercado. Vamos supor que cinco amigos que se formaram em Gerenciamento de Sistemas ou em Programação resolveram montar uma firma para manter os sites de terceiros sempre atualizados. Essas atualizações são necessárias, pois, além de possíveis ataques por parte de criminosos da informática, os softwares se modernizam de uma forma geral. Por exemplo, os navegadores estão sempre lançando novas versões de atualização. Um site não é acessado automaticamente por todos os navegadores. É necessário que eles estejam preparados para aceitar o padrão atualizado no navegador. Por exemplo, sabemos que alguns computadores rodam com versões do Windows, outros com os navegadores que são preferidos porque utilizam o Linux, por exemplo, o Opera. A empresa Google também tem seu navegador próprio, chamado de Chrome. Muitas vezes, quando esses navegadores são atualizados com novas versões, é necessário readequar o site da empresa para que ele rode bem com a nova versão do navegador. Então nossos jovens empreendedores acabam oferecendo serviços gerais de manutenção de site justamente para que seus clientes tenham uma boa acessibilidade por todos os navegadores disponíveis. Algumas empresas que conhecem bem seus clientes sabem que alguns estão sempre acompanhando o desenvolvimento no mercado de software e atualizam sempre seus sites. Outras empresas que não dependem muito da internet esperam mais tempo para fazer atualizações. Ora, essa diferença acaba por obrigar as empresas a utilizarem muito seus sites para o relacionamento com os clientes e a ficarem preparadas para a diferença entre os acessos feitos por clientes que atualizam sempre seus sistemas e por outros que atualizam muito pouco. Nesse sentido, é necessário até mesmo que se preparem dois sites, um para os clientes mais informatizados e outro para os menos informatizados. Nem sempre é possível exibir as mesmas informações em ambos, justamente por conta das diferenças de seus clientes. Contudo, isso tem de acontecer para todos os clientes de uma maneira muito suave. Não é possível perguntar para o cliente 89 Re vi sã o: N om e do re vi so r - D ia gr am aç ão : N om e do d ia gr am ad or - d at a GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS que sistema ou que versão ele está utilizando, porque muitas vezes quem está operando o computador não tem a menor ideia do que essas coisas querem dizer. Além disso, a empresa envia e‑mails para os seus clientes que não devem ir parar nos filtros deles, pois são classificados como propaganda indesejada ou spam. Também toda comunicação por e‑mail dos clientes deve ser controlada, para que um pedido ou uma reclamação de cliente não desapareça. Enfim, mesmo num site mais simples existe muito trabalho diário que deve ser executado. Por isso, nossos empreendedores precisam se organizar para dar conta de todos os seus futuros clientes. Como é que eles podem se preparar para isso se basicamente tudo que eles utilizam é sua capacidade de trabalho, seus conhecimentos e seus computadores ligados na internet? A primeira informação importante vem de um conhecimento antigo, acumulado pelas empresas ao longo dos últimos 150 anos: a hora trabalhada. Os cinco amigos precisam primeiro decidir se a hora trabalhada de todos tem o mesmo valor ou preços diferentes. Como a empresa é nova, vamos supor que todos eles desejam ganhar no primeiro ano de existência da empresa R$ 2.500.00 por mês. Como eles são cinco, isto dá um total de R$ 12.500.00 por mês. Além disso, nossos amigos alugaram um escritório que custa R$ 1.500.00/mês com tudo incluído, pagam uma faxineira que custa, entre salário e custos indiretos, R$ 1.000.00/mês, gastam energia elétrica na ordem de R$ 350,00/mês e a banda larga da internet, digamos, tem um custo adicional de R$ 500,00/mês. Sem entrarmos no mérito dos custos de licenças de software, máquinas, móveis, custos de vendas e impostos, como o pagamento de almoço para uma reunião com o cliente, vamos supor que eles precisam pagar a conta total mensal de R$ 15.850,00. Como cada associado do escritório pode trabalhar pelo menos 8 horas por dia, 40 horas por semana, cada um deles pode contribuir com 160 horas por mês de trabalho ofertado. Como eles são cinco, então podem multiplicar essa oferta de horas e exibir uma capacidade teórica total de 800 horas de trabalho. Numa conta simples, dividimos o custo total pelo número de horas e verificamos que, para pagar a conta total do escritório, eles precisam cobrar R$ 19,82 reais por hora de trabalho. Mas isso significa que se todos eles trabalharem todas as horas durante um mês inteiro, eles pagam a conta do escritório. Ora, esse tipo de expectativa é muito apertada. Eles trabalham o mês inteiro apenas para pagar as contas. Então, para poderem melhorar o faturamento e terem alguma folga também caso consigam vender todas as suas horas mensais, vamos determinar um “lucro provável” de 50% sobre as horas trabalhadas. Isso quer dizer o seguinte: se todos os cinco trabalharem todas as 160 horas no mês, o faturamento bruto será de R$ 23.775,00, sobrando R$ 7.925.00 para ser investido em novas máquinas, licenças de software ou simplesmente para ser distribuído pelos sócios. Isso significa aumentar o preço da hora em 50%, para algo em torno de R$ 30,00 por hora. A primeira pergunta é: esse preço será competitivo
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