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115 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS Unidade III 5 MONITORAMENTO O gerenciamento de serviços precisa monitorar todas as fases do serviço de forma que todo problema seja antecipado. Desde um atraso no planejamento à aferição da qualidade dos dados históricos, passando pela saúde dos colaboradores até a pesquisa de satisfação dos clientes, tudo precisa ser monitorado praticamente 24 horas por dia, sete dias por semana. Esse monitoramento cresce em importância na medida em que a tecnologia da informação avança sobre os processos do dia a dia. Quando percebemos que alguma coisa pode dar errado, muito provavelmente vai dar errado. Por causa disso, as formas de monitoramento são hoje em dia muito mais importantes e sensíveis do que no passado. O monitoramento se faz de uma forma circular, baseado na máxima de que só se pode administrar aquilo que se pode medir. E só é possível medir aquilo que se pode controlar. Esse princípio básico de administração encontra no monitoramento sua expressão mais sensível. Por isso, as formas de monitoramento não podem atrapalhar os serviços, mas, ao contrário, devem servir de indicadores para mudanças de rota, não como obstáculos no fornecimento do serviço. A evolução do monitoramento dos serviços é talvez a maior responsável pelo avanço da qualidade deles e pela maximização dos lucros. O monitoramento moderno compara aquilo que foi planejado com o que está sendo executado e informa os colaboradores responsáveis pela execução quais são as ações planejadas quando alguma coisa não dá certo. A primeira vez que o monitoramento ganhou destaque numa operação foi no começo das viagens espaciais. O monitoramento naquele momento incluiu não apenas cada sistema das naves espaciais, mas também cada astronauta individualmente. Toda ação nas naves espaciais era monitorada e, para cada informação, havia um responsável verificando se estava dentro do previsto, ou se tinha alguma correção para ser feita. Por causa dessa forma de monitoramento, foi possível que a nave Apollo 13 voltasse à Terra depois de ter tido um problema. As ações de monitoramento permitiram o planejamento do salvamento. O problema só foi descoberto dois meses depois que os astronautas regressaram. O sucesso de toda a operação de resgate da nave e dos astronautas chamou a atenção dos administradores. Mas foi somente quando os computadores ficaram populares e passaram a ser interligados em rede dentro das empresas que foi possível desenvolver sistemas de monitoramento parecidos com aqueles da Nasa. Hoje em dia, o monitoramento da maioria dos serviços é feito automaticamente, sem a influência humana. O responsável pelo serviço recebe a informação já tratada de uma forma que pode ser comparada com o que foi planejado. 116 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 Unidade III Lembrete O monitoramento consegue identificar cada parte do serviço e medir se os números estão de acordo com o esperado. Nesse sentido, o monitoramento acaba se tornando emocionante. Como é possível verificar cada etapa do processo, mesmo se algum indicador eventualmente demonstrar números muito melhores do que o previsto, isso certamente também pode significar um problema em todo o processo. O monitoramento não pertence exclusivamente à logística. Talvez essa tenha sido sua maior evolução. No gerenciamento do projeto, que é a parte que cabe ao planejamento, o sistema de monitoração acaba avisando quando aquilo que está sendo planejado foge dos parâmetros razoáveis esperados. Isso cria uma necessidade de se determinar com antecedência o que são os parâmetros que vão servir para o monitoramento. No passado, uma empresa ficava feliz quando o estoque acabava. Um restaurante ficava contente quando formava uma fila grande na porta. Hoje, as filas servem apenas para os lançamentos de novos produtos. A Apple é conhecida por esse tipo de lançamento, com filas nas portas das lojas. Mas nem a Apple fica contente quando o produto acaba nos estoques das lojas. As filas nas portas dos restaurantes acabam gerando confusão, além da insatisfação dos clientes porque os pratos principais acabam. Todo tipo de confusão deve ser evitado, pois não interessa a nenhuma empresa sobrecarregar a capacidade de servir bem. Essa é talvez a grande prova de maturidade das empresas modernas. A satisfação do cliente está acima do lucro da empresa a qualquer custo. Nos serviços, todo tipo de exagero que põe em risco a excelência deve ser evitado. Uma oficina de automóveis que não consegue dar conta de todos os carros deixados pelos clientes acaba perdendo clientela. A mesma coisa acontece com os restaurantes lotados, com os trens sobrecarregados, com os aviões que ficam esperando para completar a lotação e atrasam. Todos os eventos que saem da expectativa criada pela empresa em relação à qualidade do serviço trazem prejuízo para a imagem da empresa. Por outro lado, um bom monitoramento pode oferecer soluções toda vez que uma surpresa aparece. Requerimentos da qualidade em serviços Para se verificar se um serviço está realmente sendo bem executado, é necessária uma série de procedimentos que visam garantir a qualidade. Vamos examinar melhor os pontos importantes: • a cultura da empresa deve estimular o compromisso das lideranças; • o cliente deve ser objeto constante de acompanhamento; • o serviço deve ser bem desenhado com suas etapas bem evidentes; • toda tecnologia e informação deve servir para monitorar o atendimento, para facilitar inovações e criar diferenciais competitivos. 117 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS Existe um sistema desenvolvido por Zeithaml, Berry e Parasuraman (1990), chamado de SERVQUAL (qualidade em serviços): • credibilidade − fazer certo na primeira vez; • reparação − fazer tudo certo na segunda vez; • interatividade − gerenciar e superar expectativas. Do ponto de vista do cliente, pesquisas apontam para sua percepção, como Bebko (apud SPILLER et al., 2006), que estudou o problema da intangibilidade dos serviços: • credibilidade − capacidade de prestar o serviço prometido, de modo confiável e com precisão, buscando o “erro zero”; esse é o mais importante critério pelo qual os clientes julgam a qualidade do serviço; • tangibilidade − aparência física das instalações, do pessoal, dos equipamentos e do material de comunicação; • prestatividade/proatividade − disposição para ajudar o cliente e presteza na execução do serviço; • segurança − cortesia, competência e capacidade de inspirar confiança e credibilidade; • empatia − atenção ao cliente, procurando assumir o ponto de vista dele. O cliente sempre terá motivos subjetivos para julgar a qualidade do serviço. Duas pessoas que vão ao mesmo restaurante podem ter opiniões muito diferentes, pois suas expectativas também são diferentes. Portanto, o grande desafio dos serviços não é deixar um cliente satisfeito, mas todos os clientes satisfeitos. Isso é o que cria valor no serviço e, para isso, é importante que os clientes mais assíduos tenham sempre a mesma boa experiência quando voltam a procurar pelo fornecedor. Essa volta do cliente nada mais é do que a fidelização. Preenchendo as lacunas: o gap A palavra gap em inglês significa distância, hiato, lacuna, diferenças etc. O estudo das dificuldades de prestar serviços com qualidade aceitável compreende a análise das falhas visando à adoção de medidas preventivas. Segundo Spiller et al. (apud ZEITHAML; BERRY; PARASURAMAN, 1990), a formação da expectativa do cliente acontece de forma diferente emcada um. Isso significa que os clientes fantasiam o que um serviço pode fazer por ele, e quando a fantasia não se realiza, o cliente fica frustrado. O motivo dessas frustrações é identificado por lacunas, ou gaps, que são justamente a diferença entre o que ele espera e o que ele acaba vivenciando. Vemos na figura seguinte os momentos em que estas frustrações podem acontecer: 118 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 Unidade III EXPECTATIVA do cliente quanto ao serviço Comunicação externa com o consumidor Tradução das percepções gerenciais em especificações do serviço Percepção gerencial das expectativas do consumidor PERCEPÇÃO do cliente quanto ao serviço Comunicação boca a boca Prestação do serviço Necessidades pessoais e desejos Gap5 Gap1 Gap3 Gap2 Gap5 Eperiência passada Figura 36 - Modelo de falha na qualidade em serviços O primeiro gap é o mais genérico, pois mede a diferença entre a expectativa do cliente da qualidade do serviço e o que o gestor pensou que seria essa expectativa. Assim, o prestador de serviços não deve achar nada a respeito de seus clientes, mas simplesmente aprender com eles quais são suas preferências e hábitos culturais. Para isso, é necessário fazer pesquisa para conhecer o perfil dos clientes. O segundo gap se refere à diferença entre a percepção do gestor da expectativa do cliente e a forma como essa percepção acaba se transformando nos detalhes que servem para preparar o atendimento. Quando o gestor comete um erro de percepção e julgamento das expectativas do cliente, o problema aumenta com a formulação de regras equivocadas. O terceiro gap é operacional e demonstra como os funcionários entenderam as regras de como prestar o serviço. Eles interpretam as regras de forma errada, piorando o modo como o cliente é tratado. O quarto gap está no hiato entre aquilo que o cliente espera de um serviço, convencido pela propaganda e pelo boca a boca, e a experiência real quando se decide a experimentá-lo, resultando em 119 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS promessas não cumpridas. Não se devem gerar expectativas maiores do que a capacidade de executar o que foi oferecido, para que os clientes não fiquem decepcionados. O quinto gap é a diferença entre a expectativa dos clientes e a sua percepção dos serviços, que acaba por levar ao fracasso do empreendimento. Tudo o que não pode acontecer é o cliente sentir que desperdiçou seu dinheiro. Caso isso aconteça, certamente ele nunca mais vai voltar a procurar esse serviço, além de falar mal dele para todos seus conhecidos. Ainda segundo Spiller et al. (2006), as melhores práticas para exercer influências positivas são: • não prometer mais do que será entregue; • destacar o que for bem feito, elogiando a escolha feita a partir do discernimento dos clientes, que sabem muito bem o que querem: querem o melhor, para já e ao menor preço; • desculpar-se e corrigir imediatamente as menores falhas, “mostrando serviço” aos clientes, atenuando sua má impressão e compensando-os sempre que possível. Para satisfazer às expectativas dos clientes, as empresas precisam estar atentas todo o tempo para deixar seus clientes satisfeitos, isto é, contentes porque suas expectativas e fantasias foram atendidas e valeram todo dinheiro gasto com o serviço. 5.1 O PDCA nos serviços Para que se tenha o mínimo de gaps e falhas no serviço, a engenharia criou o sistema PDCA (Plan-Do-Check-Act), que é um processo iterativo para soluções de problemas, dividido em quatro etapas. Esse ciclo foi desenvolvido pelo engenheiro americano Walter Andrew Shewhart quando trabalhava na empresa Western Electric Company, em 1924, que pertencia a Bell Labs. A primeira ideia de Shewhart foi desenvolver um método estatístico de controle de qualidade para evitar a quantidade de peças com defeito que eram recusadas no final do processo. Mais tarde, William Edwards Deming acabou conhecendo Shewhart e desenvolveu seu trabalho até o ponto em que essas ideias influenciaram em todo o desenvolvimento da indústria japonesa moderna. Quando surgiram os artesãos na Idade Média, as guildas, que eram as associações profissionais da época, instituíram os primeiros padrões de qualidade. Esses padrões deveriam ser seguidos por todos os associados. Já na Idade Moderna, os reis passaram também a instituir padrões de qualidade para suas compras, principalmente para o material bélico. Antes da Revolução Industrial, os próprios operários eram responsáveis pelo controle daquilo que fabricavam. Com a divisão do trabalho e a mecanização da produção, a Revolução Industrial criou um sistema no qual grandes grupos de pessoas que realizavam um trabalho semelhante eram agrupados sob a supervisão de um capataz, que também assumia a responsabilidade de controlar a qualidade do trabalho. Na Primeira Guerra Mundial, o processo de fabricação se tornou mais complexo. Um grande número de operários era supervisionado por um capataz, que devia garantir a qualidade da produção. Nesse 120 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 Unidade III período, também a produção em massa e o estímulo de remuneração por empreitada acabaram levando para a linha de montagem uma quantidade muito grande de peças com defeito. Isso porque, para ganhar mais, os operários faziam as peças sem cuidado, pois queriam alcançar as metas. Devido à grande quantidade de defeitos na produção, foram contratados inspetores de qualidade para trabalharem em tempo integral. Eles representaram o início do controle de qualidade nas grandes fábricas modernas. As equipes de controle de qualidade acabaram crescendo dentro das organizações. Na década de 1930 foram introduzidos os controles sistemáticos de qualidade nas linhas de produção. Com o impacto da produção em massa, que foi exigido durante a Segunda Guerra Mundial, tornou-se necessário introduzir uma forma mais rigorosa de controle de qualidade, identificada como Controle Estatístico da Qualidade ou SQC. O ciclo de Controle Estatístico da Qualidade foi desenvolvido pelo engenheiro Walter A. Shewhart a partir de um memorando de uma página em que ele apresentou o primeiro gráfico de controle de qualidade. Esse sistema surgiu da percepção de que a qualidade não pode ser inspecionada peça por peça. Shewhart desenvolveu gráficos de controle e ferramentas de controle que introduziram o controle estatístico ao longo de toda a linha de produção. O Controle Estatístico da Qualidade deu uma contribuição importante quando criou um sistema de inspeção por amostragem. Contudo, esse tipo de inspeção podia deixar passar falhas que eventualmente prejudicavam a engenharia de produção e a qualidade do produto. Se o sistema de controle da qualidade feito por amostragem permite que 4% das peças apresentem defeito, você terá uma relação de 96% de peças sem defeito para 4% de peças com defeito. Mesmo que 4% das peças sejam um percentual muito baixo, isso significa que 4% dos consumidores comprarão produtos com defeito. Após a Segunda Guerra Mundial, as fábricas nos Estados Unidos continuaram a aplicar os conceitos de inspeção por amostragem para controlar os produtos defeituosos das linhas de produção. Entretanto, a capacidade de produção de muitos países tinha sido completamente destruída. Os Estados Unidos mandaram o general Douglas MacArthur para supervisionar a reconstrução do Japão. O general chamou então duas pessoas que foram muito importantes no desenvolvimento dos conceitos modernos de controle de qualidade: W. Edwards Deming e Joseph Juran. Demingjá conhecia os conceitos de Shewhart de controle de qualidade e continuou colaborando com ele para desenvolver os processos de controle estatístico da qualidade, cruciais para a reconstrução e o sucesso da indústria japonesa. Segundo Deming, a garantia de qualidade abrange todas as atividades da fábrica, desde a concepção, o desenvolvimento, a produção, a manutenção, a instalação e a documentação dos produtos. Nessa segunda etapa do desenvolvimento do controle de qualidade foram introduzidos os conceitos de “fit for purpose” e “fazer certo da primeira vez”. As novas regras incluíam o controle de qualidade das matérias-primas e de todos os componentes fabricados. A qualidade também devia estar presente nos processos de gestão, nos serviços relacionados à produção e até mesmo controlando a própria inspeção de qualidade. Nesse momento foi adotado o PDCA, um dos paradigmas mais utilizados para a gestão de qualidade. Muitas organizações melhoraram o controle estatístico de processo para levar a organização ao nível de Six Sigma de qualidade. Essa forma de controle faz com que a probabilidade de uma falha inesperada 121 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS se limite a seis desvios padrão sobre a distribuição normal. Essa probabilidade é menor do que um quarto de milhão. Para controlar a fabricação dos produtos, muitas vezes precisamos controlar também as tarefas do escritório, tais como a entrada de pedidos. Na década de 1980, o conceito de “qualidade da empresa” passou a ter o foco na gestão, e as pessoas passaram a ser controladas na sua forma de administrar. Foi percebido que, se todos os departamentos se aproximam do padrão de qualidade da gestão, também se deve procurar a melhoria de processos. Observação A abordagem de qualidade em toda a empresa pôs ênfase em três aspectos: controles − por exemplo, o gerenciamento de tarefas, os processos adequados, desempenho, os critérios de integridade e os registros de todos os processos; competência − que reúne o conhecimento, as habilidades individuais, a experiência acumulada e as qualificações; e os valores intangíveis, tais como a integridade dos funcionários, a confiança no trabalho e na empresa, a cultura organizacional, o espírito de equipe e a colaboração entre as pessoas. A qualidade do trabalho corre risco se qualquer um desses três aspectos for deficiente. Essa abordagem da gestão da qualidade ultrapassou a linha de montagem da fábrica, podendo ser utilizada por qualquer tipo de empresa. A nova abordagem da qualidade passou a ser entendida como a melhoria de um processo de qualidade, que pode ser aplicado a qualquer atividade e estabelece um padrão de comportamento que dá suporte para se alcançar a qualidade. Quadro 5 − O Diagrama do PDCA P - Planejar - planeje para melhorar as operações iniciais para descobrir quais são os problemas e apresentar ideias para solucioná-los. D - Fazer - faça alterações destinadas a resolver os problemas em pequena escala ou de forma experimental em primeiro lugar. Isso não causa a interrupção das atividades rotineiras quando testam se as mudanças funcionam. C - Controlar - verifique se as mudanças em pequena escala ou no ambiente de teste estão alcançando o resultado desejado. Além disso, verifique constantemente as atividades de produção para ter certeza de que a qualidade da produção está presente e para identificar eventuais novos problemas. A - Agir - aja para implementar as mudanças numa escala maior. Se a experiência for bem-sucedida, modifique a rotina da linha de produção. Também aja para envolver outros departamentos, os fornecedores e os clientes, que são afetados pelas mudanças e cuja cooperação é necessária para implementá-las. 122 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 Unidade III O PDCA avançou ao longo dos anos, e mesmo os modernos diagramas de controle acabam demonstrando claramente que a ideia de controlar e planejar continua vigente. 5.2 O gerenciamento de serviços na era da informação Num artigo escrito para a revista Forbes Asap, em 1998, Peter Drucker, um dos maiores teóricos do marketing, apontou que a revolução da informática estava centrada no tratamento dos dados. O desenvolvimento dos bancos de dados e sua capacidade de recolher dados ao longo dos processos produtivos conseguiam produzir planilhas, relatórios e novos softwares. Entretanto, todos esses dados acabaram por focar questões tecnológicas e não processos. Os primeiros anos da utilização das tecnologias da informação nas organizações foram marcados pela aquisição de máquinas rápidas e confiáveis, com quilômetros de fios interligando departamentos. Os executivos pretendiam ficar informados do que estava acontecendo dentro da empresa. Desde a década de 1950, Drucker imaginava que os computadores iriam revolucionar o trabalho dos executivos. De uma forma geral, era previsível a utilização dos computadores na ciência, mas ninguém podia prever a rapidez com que os computadores pessoais iriam revolucionar o cotidiano. Durante trinta anos, as organizações utilizaram grandes computadores centrais que controlavam toda a empresa de um ponto central com terminais. Esses computadores eram chamados de mainframes. Hoje, os computadores trabalham em conjunto, criando grupos que são chamados de “cluster”, e as formas lógicas lineares de programação dão cada vez mais lugar à “fuzzy logic”, lógica nebulosa, que tem como principal utilização empresarial o data-mining, que já vimos anteriormente. Em 1998, Drucker já vislumbrava que a informação, e não a tecnologia, teria um impacto em toda a sociedade moderna e também nas empresas. Esse impacto, previa o pensador americano, atingiria primeiro a contabilidade, pois é o principal processo de controle de uma empresa. Quanto mais os computadores pessoais funcionam em conjunto, mais precisas são as informações. Essas informações acabam refletindo a forma de trabalho dos colaboradores e também todas as informações profissionais que pertencem à empresa. Por esse motivo, os computadores acabam tendo um grande impacto nos processos e nas operações da empresa. Tudo hoje pode ser feito de forma mais rápida do que há trinta anos. Até porque muitos erros são corrigidos ou evitados automaticamente. Todas essas características podem não ser utilizadas pelos executivos que decidem os rumos das corporações. Drucker chama a atenção para o fato de que a maioria dos avanços tecnológicos sozinhos não cria informação de qualidade para os executivos. Na maioria das empresas, muitos dados e informações ainda são vistos da mesma maneira que no século XIX. A competitividade ainda pretende ser decidida pelo controle de custos, em que custos mais baixos procuram melhorar o faturamento dos serviços, isso porque o corte de custos pode ser mais facilmente percebido depois que o balanço está consolidado. A contabilidade foi criada há 500 anos, com o objetivo de fornecer os dados corretos para preservar o ativo e permitir a distribuição dos lucros. Mas será que a alta administração de uma empresa deve 123 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS se preocupar primordialmente com a preservação do patrimônio e com o controle de custos? Drucker (1998) percebeu que: O controle dos custos não são tarefas da gestão de topo. São tarefas operacionais. Uma grande desvantagem de custo pode, de fato, destruir um negócio. Mas o sucesso depende de algo diferente: a criação de riqueza e valor. Isto exige a tomada de decisões que implicam riscos: na estratégiadelineada, no abandono do que está obsoleto, na aposta na inovação, no equilíbrio entre o curto e o longo prazo, ou no balanceamento entre a rentabilidade imediata e a quota de mercado. Estas decisões são as verdadeiras tarefas dos gestores de topo. Foi esta evidência que, após a Segunda Guerra Mundial, levou ao surgimento da gestão enquanto disciplina autônoma e distinta da economia financeira (DRUCKER, 1998, p. 47). Já em 1954, Drucker propôs que as tarefas básicas de uma empresa incluíam a inovação e a satisfação do cliente, pois só assim são criados valores e riqueza. Mas o sistema de contabilidade tradicional, que em cinco séculos só tinha evoluído para contabilizar não só os lucros, mas também os custos, não tinha sofrido nenhuma melhoria, mesmo depois de informatizado pelas empresas. O sistema continuou a recolher, sistematizar, manipular e apresentar os dados. Por causa disso, por maior que tenha sido o impacto das novas tecnologias nas operações e nos processos das empresas, seu impacto junto ao conselho de administração e os principais executivos foi muito pequeno. Quando os executivos de informática perceberam que acompanhar os custos e manter a contabilidade em dia não causava mudança significativa na vida das empresas, notaram também que havia necessidade de novos conceitos de gerenciamento. Entretanto, seguindo a lógica tradicionalista, o primeiro conceito adotado foi a contabilidade da cadeia de valor econômico. Esse avanço da contabilidade não era realmente um avanço. O controle da cadeia de valor econômico já era praticado por grandes empresas de varejo nos Estados Unidos desde o início do século XX. Esse tipo de controle mede a variação financeira desde o fornecimento de insumos ou produtos até a entrega ao cliente. Finalmente, nos anos 1980, percebeu-se que o custo de cada processo pode ser observado cada vez que um lançamento é realizado. Assim nasceu o primeiro novo conceito de contabilidade depois de séculos: uma contabilidade que está atenta para a criação de valor e não mais para a eliminação do desperdício. A partir daí surgiram novos conceitos de administração, tais como o valor agregado e o Balanced Scorecard – BSC (Indicadores Balanceados de Desempenho). O BSC foi originalmente criado pelos professores da Harvard Business School, Robert Kaplan e David Norton em 1992 e, desde então, vem sendo aplicado com sucesso no mundo inteiro. Os novos conceitos se baseiam na ideia de que uma empresa deve criar valor e riqueza, tal como Drucker previa. Os diretores das grandes empresas e seus conselhos de administração passaram a pesquisar as informações disponíveis dentro e fora das organizações para tentar entender como elas poderiam otimizar sua gestão. Os executivos financeiros foram os primeiros a entender como poderiam utilizar as novas informações. O pessoal de informática levou um tempo para perceber as mudanças que estavam acontecendo, mas Drucker sabia que estava na hora de buscar as informações fora da empresa. 124 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 Unidade III Os resultados da empresa acontecem quando o cliente paga pelo produto e o dinheiro entra no caixa da empresa. A lógica por trás disso é que dentro da empresa só podemos identificar as origens dos custos, e fora da empresa encontramos o lucro. Os clientes estão sempre fora da empresa. Podemos dizer que eles estão no mercado, mas no mercado encontramos a concorrência, os segmentos de mercado e o desenvolvimento da tecnologia. A indústria da comunicação, com a sua necessidade de exibir os anúncios para vender os produtos e serviços para os clientes, foi a primeira a se preocupar com a demografia. A televisão investiu na pesquisa dos índices de audiência e na distribuição do sinal por antenas locais, satélite e cabo. Na década de 1990, tanto as empresas de varejo quanto os bancos passaram a investigar o comportamento de seus clientes e dos clientes potenciais. Nesse momento foram desenvolvidos novos sistemas de gestão para a abordagem do mercado que estão em desenvolvimento até hoje. O conselho de administração deve avaliar as oportunidades, as mudanças e as ameaças exteriores. As informações internas que permitem a compreensão imediata da organização permitem a saúde da organização e sua vitalidade. É assim que as informações se tornam instrumento básico de cuidar melhor do negócio. Esse cuidado passou a ser estendido a todos os colaboradores internos e a todos os consumidores, não apenas aos clientes finais. Figura 37 − O conselho de administração deve estar atento às oportunidades do mercado Nesse artigo de 1998, Drucker previu que a informática iria revolucionar a saúde e a educação. Na saúde, a prevenção passaria a ser cada vez mais o foco das preocupações das seguradoras, do governo e dos planos de saúde. Faz mais sentido preservar a saúde do que combater as doenças. Para a educação, Drucker disse que o ensino a distância viria a substituir o ensino tradicional no futuro, porque pode adaptar-se melhor ao estilo de vida e às necessidades das pessoas. O monitoramento de serviços evoluiu com a utilização da informática. Ainda tentando desenvolver o controle de qualidade da produção, foram criados modelos como o PDCA. Contudo, pesquisadores 125 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS como Peter Drucker já previam que os processos precisavam de mais informação para evoluir. Assim, até mesmo as relações internas entre os colaboradores passaram a ser controladas sob a ótica da qualidade dos processos. Medindo a satisfação do cliente A satisfação do cliente é sempre a meta da empresa de serviços, pois essa satisfação se transforma sempre em lucro. A satisfação do cliente é o que permite que todas as metas de faturamento, fidelização e bom relacionamento sejam alcançadas. Para isso é necessário medir o grau de satisfação em todas as ocasiões possíveis. A forma que costuma dar certo é ouvir todas as opiniões sobre os mínimos detalhes do negócio. Alguns clientes se apropriam tanto de um determinado serviço ou de uma loja que acabam visitando como amigos. Alguns barbeiros até hoje têm aqueles fregueses amigos que sentam no sofá e ficam conversando, sem precisar cortar o cabelo. Algumas padarias têm clientes diários que comentam a qualidade do pão ou a arrumação das prateleiras. Quanto mais os clientes conhecem o ponto de venda, mais eles conseguem opinar sobre o que agrada e o que não agrada. Também é importante pesquisar a concorrência. Isso porque, segundo a norma de Pareto, 20% dos clientes são responsáveis por 80% dos negócios. Então, nossos clientes também visitam as outras lojas, comparando. À medida que encontram novas soluções, eles trocam de loja preferida. Portanto, é necessário estar atualizado, verificando o que o mercado está oferecendo a eles. Assim, a forma mais eficiente de manter a qualidade do seu serviço e a percepção dos seus clientes – e sua consequente fidelização – é ouvir as reclamações e tomar atitudes proativas que não apenas resolvam os problemas, mas que também informem à clientela que sua opinião é importante. Introduzindo o marketing de relacionamento Para se obter as informações dos clientes, a forma mais utilizada hoje em dia é o marketing de relacionamento. O marketing de relacionamento não apenas permite a obtenção das informações dos clientes, mas também do mercado, especialmente dos concorrentes diretos e até mesmo dos fornecedores. O maior espaço do marketing de relacionamento são as feiras e congressos, que, dependendo da atividade dos serviços, servem para aproximar todos os envolvidos na cadeia produtiva de um mercado. Clientes, fornecedores, empregados e concorrentesse encontram para mostrar seus serviços e conhecer como outros resolvem os problemas que também os afetam. O foco mais importante do marketing de relacionamento diz respeito ao cliente, que acaba por criar uma intimidade com a empresa. Assim como o cliente de uma pequena loja de bairro faz amizade com o dono, os clientes de uma grande empresa de serviço, seja uma cadeia de lanchonetes ou uma franquia de escolas de inglês, precisam saber onde podem melhorar. 126 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 Unidade III Neste sentido, o marketing de relacionamento mantém uma abordagem qualitativa, preferindo a técnica de pesquisa de profundidade. Essa técnica pressupõe o uso de focus groups, grupos especiais selecionados de clientes que podem dizer claramente quais as expectativas da empresa que estão sendo atendidas e quais aquelas que poderiam ser também atendidas. É desse relacionamento que surge a expressão ganha-ganha. Todo mundo fica contente: é possível trocar informações que acabam beneficiando tanto a empresa, que termina por vender mais, quanto os clientes, que recebem produtos melhores e de acordo com as suas expectativas. Segundo Spiller et al. (2006), o marketing de relacionamento em serviços acaba por gerar os seguintes benefícios: • a redução de custos – quanto mais se conhece o que o cliente deseja, menos se investe naquilo que é desnecessário para sua satisfação; • o direcionamento certo − conhecendo os desejos e expectativas dos clientes, a empresa pode organizar-se para melhor servi-los; • as novas oportunidades − na busca da satisfação dos clientes, a empresa percebe a oportunidade de novos negócios; • maior agilidade e flexibilidade empresarial − quando somente os processos que agregam valor são privilegiados, as empresas ganham agilidade e flexibilidade; • o clima de participação − o marketing de relacionamento gera maior compromisso dos funcionários com a empresa; principalmente quando permite a gerência participativa e incentiva e valoriza o funcionário; • o retorno compensador − a busca da satisfação do cliente faz aumentar a lucratividade da empresa, sem que isso signifique preços mais elevados, não só porque os custos diminuem, mas também porque a produtividade e a clientela (mais valorizada e satisfeita) aumentam; • maior motivação dos funcionários − a filosofia do marketing de relacionamento torna os empregados mais motivados e dispostos para o trabalho. Todas estas ações do marketing de relacionamento tornam as pessoas mais visíveis umas às outras. Dessa forma, tanto as pessoas dentro da empresa quanto os clientes acabam percebendo que os serviços não são apenas atividades frias e distantes, mas certamente o fruto do trabalho de pessoas com as quais elas podem se identificar. Assim, o marketing de relacionamento nos serviços, desde a conversa franca e alegre do dono da loja de bairro, até celebrações conjuntas de ramos de atividades, como um congresso de dentistas ou uma feira de equipamentos para academias de ginástica, são ocasiões quando os concorrentes baixam suas armas para trocarem informações importantes sobre o mercado. 127 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS 6 O DESENVOLVIMENTO DE MODELOS DE GESTÃO A primeira descoberta que surgiu quando as empresas passaram a ser altamente conectadas é que não existem soluções prontas para todas as empresas. Toda organização é formada por indivíduos que realizam ações. A cadeia das ações constituem os processos, que precisam dar conta dos desafios que surgem todo dia. Por isso é que as empresas precisam adotar os valores organizacionais coerentes com a visão e com a missão da corporação. A partir das informações internas que são recolhidas, organizadas e apresentadas num tempo quase imediato, a tecnologia da informação permite identificar não apenas o que está funcionando errado numa empresa, mas principalmente quais são os valores organizacionais que não estão sendo respeitados. A satisfação do cliente foi um conceito inventado por Drucker, que percebeu essa satisfação na realidade da vida das pessoas. A satisfação é uma boa medida para verificar como a empresa e os serviços são recebidos no mercado. A satisfação ou as reclamações devem chegar aos departamentos responsáveis pelo desenvolvimento dos serviços. Assim é possível verificar o que está errado e planejar novas soluções para corrigir aquilo que os clientes estão demonstrando como fonte de insatisfação. Nas empresas financeiras, tais como bancos e seguradoras, as novas oportunidades ou falhas são informadas rapidamente ao conselho de administração. Logo se percebeu que a informática conseguiria aumentar as possibilidades de medir a satisfação do cliente e beneficiar o marketing de relacionamento. Para isso foram desenvolvidos softwares e ferramentas que resultaram nos departamentos auxiliares do marketing, como o Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) ou o Frequently Asked Questions – Perguntas Repetidas Frequentemente (FAQ). Hoje em dia, essas facilidades da internet são muitas vezes obrigatórias, de acordo com as legislações dos países. E, com a globalização, os mercados se tornaram maiores e toda diversidade global precisa ser entendida pelas corporações que preveem um futuro. Até porque, no mercado globalizado, os serviços se tornam algo mais complexo, mas não impossível. 6.1 O Customer Relationship Management – CRM (Gestão do Relacionamento com o Cliente) As empresas modernas, independente do ramo de negócios, e principalmente as empresas de serviço, sabem que sua sobrevivência está relacionada com o conhecimento que elas detêm sobre seus clientes. A capacidade de satisfazê-los precisa estar diretamente relacionada à melhoria dos serviços. Não basta mais otimizar a eficiência e diminuir os custos. As técnicas de marketing, antes voltadas para os produtos, dirigem-se para o cliente. Os conceitos de produção em massa e marketing de massa foram substituídos por modelos em que o relacionamento com o cliente é o ponto-chave do negócio. Os objetivos de negócios vão além da conquista de novos clientes. Claro que o aumento na participação do mercado ainda importa muito, mas a interação com os clientes para manter um relacionamento, a retenção de clientes pela fidelização e a lucratividade são inspiradas no Princípio de Pareto. Em síntese, o gerenciamento da empresa passou a ser constituído pelo gerenciamento de serviços e processos. 128 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 Unidade III É importante aproveitar cada interação com o cliente para aprender as informações sobre seus hábitos, suas necessidades e suas preferências, o que serve para desenhar os requisitos de aprimoramento dos serviços, ajuda a corrigir as estratégias e criar as campanhas de marketing dirigidas aos segmentos escolhidos. O problema é que todas as empresas tiveram ideias muito parecidas nos últimos anos e, assim, algumas estão adotando estratégias que visam a ganhar maior participação nos gastos do cliente em vez de tentar aumentar sua participação no mercado. Essas tentativas são um conjunto de estratégias chamado de CRM (Customer Relationship Management – Gestão de Relacionamento com o Cliente). É um método novo para cumprir uma função muito conhecida: manter os 20% dos clientes comprando os 80% do faturamento de uma empresa. Para poder antecipar as necessidades dos clientes atuais e potenciais de uma empresa, o CRM captura os dados do cliente ao longo de todos os processos da empresa, para consolidar esses dados internos e externos em um banco de dados. Depois de analisartodos eles, os resultados são fornecidos para as posições de interação com o cliente, em outras palavras, os departamentos de venda e atendimento. O aprendizado contínuo e o conhecimento do cliente permitem o aumento da lucratividade. A Gestão de Relacionamento com Clientes consiste numa abordagem empresarial que não apenas entende, mas pretende influenciar no comportamento dos clientes. Todas as atividades da organização que têm impacto sobre os clientes são capazes de transformá-los em eventuais clientes fidelizados, satisfazendo seus desejos para que eles voltem a comprar. Mesmo os colaboradores que não têm responsabilidade de relacionamento com o cliente precisam participar dos processos que são essenciais para a qualidade do serviço. O CRM é uma estratégia que envolve a tecnologia da informação, os processos de negócios e uma atitude empresarial que geram um diferencial competitivo por meio do relacionamento com os clientes. A estratégia tem como metas que todas as ações sejam orientadas aos clientes e que todos os seus colaboradores aprendam a manter um relacionamento com eles. Observação As ações do CRM podem ser descritas nessa ordem: primeiro, é necessário descobrir os clientes para conhecê-los. Depois é preciso manter a comunicação com eles. Então, deve-se verificar se os clientes estão recebendo o que desejam da organização. É preciso ter certeza de que eles estão adquirindo exatamente aquilo que foi prometido. Por último, esses clientes têm de ser mantidos pela empresa, mesmo não sendo clientes lucrativos naquele momento. O conceito do CRM no fundo é desenvolver e gerenciar as relações individuais com cada cliente, da mesma forma que um padeiro, um quitandeiro ou um alfaiate fazia há 100 anos, pois, no passado, as empresas cresceram com o foco voltado para o produto. 129 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS 6.1.1 A recuperação de clientes Recuperar um cliente, no fundo, é convencer um consumidor a continuar sendo nosso cliente. Hoje sabemos que as chances de reconquista de uma campanha ser bem-sucedida é quatro vezes maior se o contato for feito na primeira semana depois que ele desistiu de continuar comprando de nós. Contudo, as empresas devem ser seletivas no sentido de filtrar quais os clientes que devem realmente ser contatados. Precisamos, em princípio, excluir aqueles clientes que consomem pouco ou então aqueles que trocam de fornecedor com muita frequência ou ainda clientes que tenham um histórico de crédito duvidoso. A experiência mostra que algumas empresas chegaram a recuperar até 35% dos consumidores que estavam deixando de ser clientes. Os bancos de dados indicam que o cliente decide deixar de comprar os nossos serviços muito tempo antes de nos largar. Por esse motivo, é cada vez mais importante que se perceba quando as mudanças no comportamento de um cliente podem sinalizar uma possível desistência. No caso de um banco ou corretora de valores, a redução do valor médio da conta pode ser um bom sinal. Existem fortes indícios de que a manutenção do cliente é diretamente proporcional à quantidade de produtos adquiridos. Quase 75% dos clientes que desistem de uma empresa fizeram apenas uma compra durante todo o ano anterior ao seu abandono do produto ou do serviço. 6.1.2 A busca por clientes potenciais A segmentação moderna nasce com duas questões básicas: o que o cliente valoriza? Quanto vale o cliente? Quando você define uma segmentação com base nas necessidades do cliente, você define também o que o cliente espera da empresa. Assim, suas ofertas vão ser construídas realmente em benefício do cliente. Contudo, além da segmentação com base nas necessidades dos clientes, existe a segmentação voltada para o lucro. Essa segmentação define o valor do cliente e ajuda a empresa a delimitar quanto deve ser investido para conquistar aquele determinado cliente de volta ou então preferir a busca de um novo cliente. 6.2 O CRM em três etapas: operacional, colaborativo e analítico De acordo com Peppers e Rogers (2001) e Von Poser (2001), as funcionalidades do CRM podem ser agrupadas em três diferentes níveis: operacional, analítico e colaborativo. Fazem parte do CRM operacional os sistemas responsáveis pelos processos de back office (a retaguarda da operação), mobile office (o trabalho em qualquer lugar) e parte dos processos de front office (atendimento ao cliente). Segundo Zenone (2003), o nível operacional engloba todos os sistemas de automação de pedidos, de força de vendas, de marketing, de atendimento, como os call centers e os sites de comércio eletrônico. É importante avisar que os call centers não se constituem em CRM. Os call centers, quando são usados como ferramenta de atendimento ao cliente, visam a facilitar as interações entre o cliente e a empresa por meio do registro de todas as ocorrências, da mesma forma que ocorre com todos os sistemas de automação de força de vendas (SFA – Sales Force Automation). 130 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 Unidade III No nível colaborativo, o CRM engloba todas as ferramentas utilizadas nos pontos de interação entre cliente e a empresa. São aquelas coisas com as quais já estamos acostumados, como os e-mails e as Unidades de Resposta Audível (URAs). Esses canais de interação devem ser capazes de disseminar as informações do cliente para toda a empresa. Como cada cliente é único e diferente, deve ser tratado de formas distintas. O objetivo do CRM analítico é fornecer algum sentido às informações obtidas no nível operacional, identificando os clientes de maior valor e maior potencial que merecem ser tratados de maneira personalizada, agrupando-os de acordo com o seu comportamento e outros atributos. Eles são os alvos das promoções e do esforço de vendas desenvolvidos especialmente para aumentar a sua fidelidade e, consequentemente, o faturamento. Por isso, o CRM analítico é muitas vezes chamado de Business Intelligence ou Inteligência do Negócio. É nesse nível que são definidas as ações de marketing, as informações gerenciais estratégicas e os processos relevantes. Para se obter as informações necessárias, utiliza-se um banco de dados integrado e ferramentas de análise como o data-mining. Pode-se dizer que o CRM analítico são os processos de obter informações para tomada de decisão. 6.2.1 O marketing de relacionamento O marketing de relacionamento, ou marketing one to one, tem como objetivo aumentar a participação das compras do cliente na empresa, fortalecendo os vínculos entre eles. Na busca de soluções que satisfaçam os clientes, podem-se oferecer mais produtos e/ou serviços e, assim, eles podem se tornar clientes mais lucrativos. Contudo, a transição de uma organização com uma abordagem de marketing tradicional para uma abordagem de marketing de relacionamento é um grande desafio. Noronha Feyo (2001) supõe que o desafio esteja justamente nos novos processos de negócio. Esses processos têm que ser redesenhados, perseguindo o foco da satisfação do cliente nas novas medidas de desempenho e no conjunto integrado das tecnologias de uma organização centrada no cliente. As principais diferenças entre o marketing tradicional e o marketing de relacionamento são as ações de longo prazo para relacionamento com o cliente, a ênfase na retenção do cliente em vez de ênfase no lucro na venda do produto, com prioridade do serviço ao cliente e o alto grau de comprometimento com ele. Boone e Kurtz (1998) sugerem que as quatro dimensões do marketing de relacionamento são: vínculo, empatia, reciprocidade e confiança. Assim como em qualquer relacionamento interpessoal, esse deve ser o relacionamento entre o cliente e a empresa em diversosníveis. O comprometimento entre as partes aumenta à medida que se evolui de um vínculo financeiro – a venda – para outro de caráter social e forma estrutural. As interações superficiais baseiam-se em preços ou em qualquer outro incentivo financeiro capaz de motivar o consumidor a comprar. Por exemplo, lembramos daquelas promoções do tipo “leve 2 e pague 1”. Apesar de atraentes para o consumidor, essa estratégia não é suficiente para o estabelecimento de uma relação de longo prazo entre o cliente e a empresa. Por outro lado, existem momentos, como as promoções focadas em preço, que facilitam a aquisição de novos clientes. Mas, em longo prazo, a estratégia baseada em preço não segura 131 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS os clientes, porque eles correm para a concorrência à medida que promoções de preços são oferecidas por outras empresas. É preciso muito mais que preços baixos para se construir um relacionamento. No segundo nível do marketing de relacionamento, as interações se dão em uma esfera social e o serviço ao cliente e a comunicação são fatores-chave. No terceiro nível, o vínculo entre as partes deve ser estrutural, e as partes precisam se constituir em verdadeiros parceiros com algum grau de dependência. Como em uma família, por exemplo. Uma das grandes dificuldades das empresas é saber qual o retorno que elas terão com as estratégias de marketing de relacionamento adotadas. Algumas empresas ainda têm medo de mudar do marketing de massa para o marketing de relacionamento, porque o custo é bem mais alto. Boone e Kurtz (1998) sugerem ainda que, quando adotamos o marketing de relacionamento, é necessário entender que, ao longo do tempo, todas as indicações para outros clientes, todo tipo de informação sobre a qualidade do serviço, além das receitas em dinheiro advindas do cliente, precisam ser comparadas com o custo de aquisição do cliente, com todo custo da prestação de serviço realizada para ele, os eventuais descontos e os benefícios que ele conquistou junto à empresa por ser um cliente de longo prazo. Com isso percebemos que o desenho ou arquitetura de um serviço acaba definindo o modelo de relacionamento que a empresa espera do cliente. Isso também define o modelo de CRM que precisamos organizar para controlar e medir as vantagens e a lucratividade do relacionamento com os clientes. Lembrete O relacionamento empresa-cliente precisa evoluir de um simples vínculo financeiro – a venda – para uma troca mais orgânica, que inclua um caráter social do relacionamento, imitando o relacionamento de duas pessoas. O ciclo do serviço, seu desenho e o cliente satisfeito Cada um de nós tem os seus próprios padrões para a definição de satisfação. Conheci certa vez um jornalista especializado em restaurantes que me disse que nunca escrevia sobre um local antes de ir comer lá pelo menos três vezes. Sua experiência mostrava que, se vamos uma vez ao restaurante, mesmo que a experiência seja boa, isso pode ser devido ao acaso ou à sorte. Na segunda e na terceira vez podemos pedir outros pratos e verificar se os garçons estão realmente atendendo bem todas as vezes. Além disso, podemos perceber se o restaurante tem um bom cozinheiro que sabe executar corretamente os pratos do cardápio ou se as variações na qualidade da comida são grandes. Bons serviços dependem do ciclo do serviço sendo executado. Quanto mais sofisticado um serviço, mais suas etapas são pensadas com cuidado, e todas elas fazem parte de uma cadeia de eventos bem desenhados. Isso nos indica outro conceito: o desenho do serviço. O desenho nada mais é do que um 132 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 Unidade III planejamento de cada etapa na ordem que o cliente vai melhor usufruir do serviço. Assim, quanto melhor o desenho do serviço, mais fácil identificar como as coisas deveriam ser feitas para tornar o cliente satisfeito. No diagrama a seguir desenhamos um exemplo do desenho do serviço para um restaurante a quilo. Cada etapa de atenção ao cliente é pensada como uma etapa separada. Perceba que neste desenho, não há, por exemplo, as etapas importantes de compra, armazenamento e preparação da comida. Isso também é importante e deve ser desenhado à parte, para compor todos os detalhes do serviço. Também as tarefas de recolher os pratos, lavar os pratos, copos e talheres, separar o lixo para reciclagem e, atualmente, inclusive separar a comida não consumida nas bandejas para doação e caridade, são etapas que não estão relacionadas diretamente com a experiência do cliente, mas que acabam influenciando sua experiência na qualidade geral do atendimento. Vejamos então este desenho que mostra as etapas da experiência do cliente dentro do restaurante: Entrar no restaurante Esperar na fila por uma mesa Servir-se de salada e carboidratos Pegar o prato Servir-se de carnes Pesar o prato Sentar-se à mesa Receber a sobremesa Terminar de comer e entrar na fila de pagamento Começar a almoçar Servir-se de café enquanto espera Pagar a conta com dinheiro ou cartão Sair do restaurante Receber a bebida e escolher a sobremesa O prato é colocado na bandeja, com talheres, guardanapo e a conta Pedir a bebida para ser entregue na mesa Figura 38 - O ciclo de serviço num restaurante que serve por quilo Justamente por isso é que esse jornalista voltava sempre pelo menos três vezes ao restaurante; ele era pago para escrever sobre sua satisfação com o local e, eventualmente, escrever para seus leitores e recomendar aquele local. Kotler (2000a) acredita que a satisfação pode ser avaliada como a função de desempenho percebido pelo consumidor, em relação às suas expectativas. Não podemos esquecer que essa percepção da satisfação sempre é avaliada também pela relação de custo/benefício que o cliente faz na hora de pagar a conta. Quando o desempenho está acima das expectativas, os clientes ficam muito satisfeitos, e quando o desempenho está abaixo das expectativas, o cliente fica insatisfeito ou, em bom português, muito chateado. 133 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS Por outro lado, quanto mais competitivo é o mercado, mais o cliente tem de ficar satisfeito. Jones e Sasser (1995) destacam quatro elementos que podem interferir nessa percepção de satisfação dos clientes. O primeiro elemento é o serviço em si, aquilo que o cliente pode comprar de uma empresa, mas que poderia também comprar de outra. O segundo elemento é a infraestrutura que torna o serviço eficaz e facilita a vida do cliente. O terceiro é a forma com que a empresa pede desculpas e refaz o serviço que deu errado, mantendo assim a boa impressão do cliente. O último elemento é quando realmente a empresa se supera e deixa o cliente encantado com o serviço. Vou contar aqui uma experiência vivida por um casal em lua de mel num restaurante no sul da Suíça. O sul da Suíça é chamado de Ticino; lá, todas as pessoas falam italiano e a comida servida também é de origem italiana. Na hora do almoço, o casal perguntou no hotel qual era o melhor restaurante da cidade. Com a indicação, foram parar num pequeno bosque no alto de uma colina, onde estava o restaurante dentro de um pequeno castelo. Não havia ninguém lá, mas mesmo assim tinham seis carros estacionados. Dois deles estavam, inclusive, com a chave no contato! Ao entrarem no castelo, encontraram no pátio, ao ar livre, uma mesa onde todos os clientes comiam juntos. O dono do restaurante que estava ajudando a servir veio em direção ao casal, apresentou-se e perguntou quem eleseram. Os recém-casados explicaram que tinham perguntado pelo melhor restaurante da cidade e foram parar ali. O dono se desculpou muito, mas foi claro quando explicou que o restaurante estava fechado para aquele grupo de 12 pessoas. Eles não podiam, portanto, aceitar mais nenhum cliente. Tinham, inclusive, montado uma mesa grande no pátio para melhor atender às pessoas. Mas ele insistiu que convidava o casal para voltarem em quatro dias, à noite, que ele iria preparar alguma coisa muito especial. O casal não sabia se voltaria ou não, mas o dono insistiu que eles teriam uma experiência inesquecível. Então o casal concordou e, quatro dias mais tarde, voltou ao restaurante à noite. O dono os recepcionou calorosamente e os levou até uma sala numa torre, que dava vista para o rio que passava lá embaixo no vale. Lá, ele tinha preparado uma mesa à luz de velas. Quando o casal perguntou pelo cardápio, o dono disse: “Vocês são brasileiros, vão voltar para o Brasil e falar bem do meu restaurante. Portanto, já preparei pratos que tenho certeza de que vocês vão gostar. Perguntou se o marido queria escolher o vinho, mas como o cliente não sabia que pratos viriam, deixou para o dono do restaurante escolher. Foi servida a entrada, um prato de massa, um prato de carne, salada, queijos e frutas, e um doce ao final. Tudo isso, sem que o casal precisasse pedir nada. Num momento, a esposa deixou cair o guardanapo e, em menos de um minuto, já tinha outro limpo e dobrado sobre a mesa. Os garçons, homens e mulheres, iam e vinham sem fazer nenhum barulho nem falar entre si. Mantinham a mesa limpa, abastecida, e serviam o vinho. Este então era simplesmente divino! Ao final, o dono do restaurante apareceu e perguntou se tinham gostado do vinho. O casal, sorrindo, elogiou todo o serviço, a qualidade da comida e o ambiente. O dono então disse que tinha escolhido um vinho especial de uma determinada região da Itália, pois sabia que brasileiros não têm muito costume de beber vinho. Então sua escolha recaiu sobre um vinho encorpado, mas suave, que combinava com tudo que era servido. Quando o casal pediu a conta, o dono disse que o pagamento era lá embaixo, com seu filho. Cumprimentou os dois, desejou felicidades e se retirou. Descendo a escada, o casal passou a temer que o preço de tudo aquilo seria muito mais caro do que eles esperavam pagar por cada refeição durante 134 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 Unidade III a lua de mel. Quando encontraram o filho que mostrou a conta, tinha um número escrito a lápis num pedaço de papel. O preço era muito semelhante aos dos bons restaurantes de São Paulo e, apesar de caro, não era de forma nenhuma exorbitante. O marido pensou um pouco e disse ao rapaz: “Me desculpe, mas parece que seu pai esqueceu-se de cobrar pelo vinho.” “Senhor, o vinho foi um presente de bons augúrios pela sua felicidade!”, respondeu o rapaz. Naquele momento, o casal se abraçou e os dois começaram a chorar de felicidade. É isso que é alcançar satisfação do cliente. Estou contando essa história que aconteceu há mais de vinte anos, e você que está lendo agora sabe que, na Suíça, existe um restaurante num castelo que serve comida italiana, tem o preço justo e ainda agrada seus clientes de forma inesperada. Quanto vale essa propaganda gratuita de quem nem esteve lá? Tudo isso se deve ao ciclo do serviço bem desenhado e bem executado. Lembrete O custo de se conseguir um novo cliente é cerca de cinco a seis vezes maior do que o custo de retenção de um cliente fiel. 6.2.2 A fidelização Logo que foi adotado, o critério de fidelização era medido como uma repetição de compra dos clientes. Era a velha ideia do freguês de caderno, que voltava todo dia na venda do bairro para buscar o que tinha esquecido. Mas as pessoas começaram a perceber que a fidelidade do cliente não pode ser medida apenas pela repetição. Às vezes, o cliente precisa fazer a compra em outro local que não o de costume. Existem muitas varáveis que acabam influenciando no hábito do consumidor numa grande cidade. A fidelidade é um comprometimento assumido pelo consumidor em recomprar um produto ou um serviço, que tal como um juramento de casamento, deveria ser mantido para sempre. Isso resulta muitas vezes na compra repetida da mesma marca. Alguns produtos que são número 1 no mercado conquistaram essa posição porque foram a primeira marca que ofereceu aquele produto, e sua qualidade sempre trouxe satisfação ao longo dos anos. Penso aqui no “bombril” da Bombril. O nome comumente utilizado para designar esponja de aço se confunde com a marca da empresa. Nesse caso, a fidelidade é tanta que nem mesmo os esforços de marketing e a propaganda de preço mais baixo são capazes de provocar uma mudança no comportamento de compra do cliente. Mesmo hoje em dia é possível alcançar a fidelidade do cliente. Para isso, é necessário que as empresas saibam que a fidelidade é um processo contínuo que diz respeito a manter sempre a mesma experiência de satisfação, que faz com que o cliente escolha sempre a mesma marca e a mesma empresa. Lopes (2001) sugere que a gestão por melhorias, como o aumento do retorno por investimento do chamado ROI (Return on Investiment) que pretende o retorno em curto prazo, pode comprometer a sobrevivência da empresa no longo prazo. 135 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS Alguns teóricos argumentam que o segredo do sucesso é a qualidade de seus melhores clientes. Mas quem são os “melhores clientes”? Os clientes são muitos, completamente diferentes entre si, e sua distribuição física e geográfica pode tornar as coisas ainda mais difíceis de gerenciar. Há três sugestões que podem ajudar a manter esses melhores clientes: a segmentação com base no valor, a segmentação baseada nas necessidades e um modelo de previsão de abandono (BROW, 2001; CARDOSO; GONÇALVES FILHO, 2001). Já vimos que a segmentação baseada no valor que as empresas determinam como custo de investimento na estratégia de fidelização dos clientes é o parâmetro mais tangível. A partir da segmentação com base no custo de investimento, a empresa deve segmentar sua base de clientes de acordo com as necessidades de cada grupo de clientes. Assim fica mais fácil perceber quais são os benefícios que devem ser oferecidos pelos programas de fidelidade. Em outras palavras, uma agência de turismo que atende a uma senhora de oitenta anos que viaja para se divertir sabe que ela tem necessidades completamente diferentes de um executivo que viaja toda semana a negócios. O executivo vai preferir ganhar milhas para depois viajar com a família. A senhora vai ficar contente porque um funcionário sempre estará pronto para ajudá-la durante toda a viagem. Uma empresa que desenvolve um CRM reconhece que os clientes não são iguais e, por isso, não podem ser tratados da mesma forma. Eles precisam ser tratados de maneira individual. A decisão de repetir a compra pode estar baseada na necessidade ou no desejo. Nos dois casos, a fidelidade se relaciona com a satisfação, com o serviço ou seus atributos. Tentar fazer esse cliente comprar mais, repetindo a compra em descontos e promoções, faz com que ele acabe por comprar quando não precisa ou não deseja de verdade. Estimular a repetição da compra por meio de um círculo vicioso de desconto e promoções faz com que os consumidores comprem o produto ou serviço por outras razões que não sua experiência de satisfação com o serviço. Já na visão de Zenone (2003), programas de fidelidade constituem-se em ações de fidelidade tática que têm por objetivo aumentar o faturamento com os negócios realizados com cada cliente, de forma que eles se tornem um daqueles 20% dosclientes que geram 80% dos negócios. Alguns especialistas acreditam que os programas de fidelidade devem criar na percepção dos clientes uma sensação de diferenciação da empresa, promovendo inclusive o desenvolvimento de um componente emocional no relacionamento (BRETZKE, 2000). Como o processo de fidelização não pode se esgotar, caindo na rotina, a melhor forma de perceber que um cliente ainda pode se manter fiel é medindo se suas necessidades estão sendo bem atendidas e verificando se o custo desse atendimento traz lucro à empresa. Para Lopes (2001), a fidelidade significa sacrificar por um tempo os interesses da empresa, porque o sucesso da relação que se constrói em longo prazo é mais importante que qualquer benefício imediato. Nunca há garantia de que o cliente não vai procurar a concorrência, mas quando um cliente começa a perceber que continuar um relacionamento com a empresa traz benefícios exclusivos, ele prefere ser fiel. Quando o CRM funciona bem e proporciona um atendimento estratégico ao cliente, o sentimento de satisfação do cliente cresce e sua fidelidade à empresa aumenta. O cliente se torna o maior defensor da empresa, elogiando-a e fazendo propaganda gratuita dela para os consumidores potenciais. 136 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 Unidade III Quando finalmente isso acontece, a fidelização alcançou seu objetivo. O desenvolvimento de novos serviços se torna mais fácil depois que se conhece bem o perfil dos clientes, e a satisfação torna-se uma forma recorrente de reconhecimento. O esforço de marketing fica mais eficaz, já que a empresa é capaz de identificar seus clientes de maior valor e passa a lhes oferecer os produtos e serviços mais adequados ao seu perfil. Nesse sentido, uma das principais empresas que conseguem um mix de serviços e de produtos que fidelizam seus clientes é a LVMH. Esse grupo vende vinhos e licores, moda e artigos de couro, perfumes e cosméticos, relógios e joias, além de possuir uma cadeia de lojas de luxo e uma editora de revistas voltada para seus clientes muito ricos. Seus produtos e serviços são feitos de forma a poderem ser consumidos numa mesma ocasião. Suas marcas são mantidas sempre para dar ao cliente a sensação de que estão consumindo serviços e produtos que lhes fazem sentir muita satisfação. A empresa cuida de manter sua denominação empresarial/nome longe das marcas que trazem boas lembranças imediatas para o cliente, a fim de que nenhum deles imagine que está sendo monitorado o tempo todo por uma gigantesca indústria multinacional. Você acha que não conhece essa empresa? Talvez você se lembre melhor das marcas: as champanhes Moet & Chandon e Dom Pérignon, as confecções Donna Karan, Kenzo e Givenchy, as bolsas Louis Vuitton, os perfumes Dior e Guerlain, os relógios TAG Heuer e as joias Bulgary. Saiba mais Visite o site da empresa e fique espantando como tantos artigos diferentes no mercado de luxo são de uma única empresa: <http://www.lvmh.com>. Essa empresa mantém vários canais de comunicação abertos com o cliente, o que revela suas mudanças de hábitos ao longo dos anos. Isso permite à empresa antecipar determinadas ações de marketing, sempre contando com um bom programa de CRM para entender o cliente. Um processo de fidelização é bem-sucedido quando o modelo de previsão de abandono identifica o desgaste dos clientes por meio de dados demográficos e dados referentes aos padrões de comportamento. Segundo os estudos de Kurtz e Clow (1998), a retenção dos clientes é o principal motivo para investir num cliente conquistado. O monitoramento dos serviços inclui muitas técnicas e todas elas hoje em dia são informatizadas. O relacionamento com o cliente se parece muito com o relacionamento entre duas pessoas que se prezam. O tipo de sistema que permite o controle e a monitoração do relacionamento é chamado de CRM. O CRM cuida da busca por clientes potenciais, do bem-estar e da recuperação de clientes. A meta sempre é manter o cliente satisfeito. Sua satisfação é o principal fator de manutenção de sucesso nos negócios. 137 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS Figura 39 − As salas de espera são um local onde os clientes demonstram sua satisfação com o serviço prestado Resumo O gerenciamento de serviços precisa monitorar todas as fases do serviço, de forma que os problemas sejam antecipados. Desde um atraso no planejamento à verificação dos dados históricos, passando pela saúde dos colaboradores até a pesquisa de satisfação dos clientes, tudo precisa ser monitorado praticamente 24 horas por dia, sete dias por semana. O monitoramento cresce em importância à medida que a tecnologia da informação avança sobre os processos do dia a dia. Quando percebemos que alguma coisa pode dar errado, muito provavelmente vai dar errado. A evolução do monitoramento dos serviços é talvez a maior responsável pelo seu avanço da qualidade e pela maximização dos lucros. Todo tipo de confusão deve ser evitado, pois não interessa a nenhuma empresa sobrecarregar a capacidade de servir bem. Talvez essa seja a grande prova de maturidade das empresas modernas: a satisfação do cliente está acima do lucro da empresa a qualquer custo. Nos serviços, todo tipo de exagero que põe em risco a excelência deve ser evitado. O monitoramento de serviços evoluiu com a utilização da informática. Ainda tentando desenvolver o controle de qualidade da produção, foram criados modelos como o PDCA. Pesquisadores como Peter Drucker já previam que a importância dos processos precisava de mais informação para evoluir. Assim, até mesmo as relações internas entre os colaboradores passaram a ser controladas sob a ótica da qualidade dos processos. 138 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 Unidade III A partir das informações internas que são recolhidas, organizadas e apresentadas num tempo quase imediato, a tecnologia da informação permite identificar não apenas o que está funcionando errado numa empresa, mas principalmente quais são os valores organizacionais que não estão sendo respeitados. É importante aproveitar cada interação com o cliente para obter informações sobre seus hábitos, necessidades e preferências, o que vai ser útil para desenhar os requisitos e aprimorar os serviços. Ajuda ainda a corrigir estratégias e criar campanhas de marketing dirigidas a segmentos escolhidos. Conforme já dissemos, hoje o monitoramento dos serviços é feito por meio de muitas técnicas, todas informatizadas. E o tipo de sistema que permite o controle e a monitoração do relacionamento é chamado de CRM, responsável pela busca por clientes potenciais, pelo bem-estar e pela recuperação de clientes, com o objetivo de sempre mantê-lo satisfeito. Lembre-se: para manter o sucesso nos negócios, é fundamental que o cliente esteja satisfeito. Exercícios Questão 1. Mario Castelar afirma em artigo de 2009 que: “Quando o comandante Rolim (antigo diretor-presidente da TAM, já falecido) esperava os passageiros na porta do avião, ao lado de um tapete vermelho, ele estava criando relacionamento. Até porque, objetivamente, nem a presença dele, nem o tapete acrescentavam algo à viagem. Só valor. Certamente a presença do fundador de uma empresa, ao lado de um tapete vermelho, cumprimentando as pessoas que embarcam, cria valor e ao mesmo tempo divide esse valor com todos os passageiros, o que é muitas vezes mais eficiente do que uma peça de propaganda. Sim, sei que aqueles passageiros já haviam decidido pela companhia e que a ação, então, não seria capaz de recrutar, como se diz modernamente(coisa que a peça de propaganda supostamente faria), mas, com certeza, o gesto funcionava para fidelizar” (CASTELAR, 2009). Entendemos no texto que: A) O comandante Rolim estava voltando aos primórdios do relacionamento com os clientes, no qual o proprietário conhecia todos os seus clientes pessoalmente. B) O comandante Rolim sabia que a maneira como você atende a seus clientes é um importante diferenciador competitivo e, por sinal, tal diferenciador é mais significativo que o preço. C) O comandante Rolim estava, com esse comportamento, procurando reduzir suas verbas com propaganda. 139 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 GERENCIAMENTO DE SERVIÇOS D) O comandante Rolim procurava, pela proximidade com a operação, controlar e inspecionar o comportamento dos colaboradores da TAM, visando à melhoria da funcionalidade interna. E) O comandante Rolim focalizava a retenção do cliente como sendo a grande prioridade dos negócios mesmo que a maioria dos clientes cooptados não fosse lucrativa. Resposta correta: alternativa B. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: realmente, nos primórdios das organizações ou nas organizações muito pequenas o proprietário tem condições de conhecer seus clientes e as necessidades deles individualmente. O CRM inclusive é um esforço para permitir que essas condições se mantenham nas organizações com grande quantidade de clientes. Mas não é lógico supor que o comandante Rolim tivesse a ilusão de conhecer seus clientes por meio da recepção deles nas portas das aeronaves. Mais do que conhecer os clientes essa postura fazia os clientes conhecerem o presidente da TAM. B) Alternativa correta. Justificativa: realmente, o atendimento é um diferencial competitivo importante, possivelmente mais importante que o preço e, com certeza, tem um efeito fidelizador. C) Alternativa incorreta. Justificativa: a recepção do cliente na porta da aeronave torna evidente o fato de que o cliente já tinha se decidido pela empresa, influenciado ou não pela publicidade. A propaganda pode trazer novos clientes, mas fidelizá-los é tarefa que transcende a ela. A ação do comandante Rolim era fidelizadora com certeza, mas não teria efeito sobre as ações de propaganda. D) Alternativa incorreta. Justificativa: evidentemente a conduta do comandante Rolim era uma ação de marketing, sem nenhuma relação com as questões de administração interna da empresa. E) Alternativa incorreta. Justificativa: realmente a ação do comandante Rolim era fidelizadora, mas nada no texto e na teoria administrativa leva a crer que reter clientes não lucrativos seja adequado. Questão 2. (Enade 2006) O atual desafio do administrador da área de Tecnologia da Informação (TI) é projetar e gerenciar a tecnologia para ajudar a empresa a construir vantagem competitiva. Nesse sentido, pode-se afirmar que Gestão Estratégica de TI consiste em: 140 GP G - Re vi sã o: C ar la - D ia gr am aç ão : F ab io - 0 5/ 11 /1 4 Unidade III A) Identificar oportunidades de diferenciação da empresa no mercado possibilitadas pela TI. B) Focar na operação dos sistemas de maneira a permitir sua maior eficiência. C) Atualizar a base computacional instalada na empresa de modo a permitir a execução dos processos administrativos. D) Habilitar a empresa a alcançar seus objetivos pelo uso eficiente dos recursos disponíveis. E) Responder às necessidades de informação pelos diversos usuários da empresa. Resolução desta questão na plataforma.
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