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Aula 1 Princípios da Biossegurança O conceito de biossegurança é complexo, devido a sua vasta abrangência. A palavra Bio, vem do grego bios, que significa “vida” e a palavra segurança, está relacionada à proteção, ou seja, refere-se à vida protegida, livre de perigos. De forma geral, trata-se de ações tomadas com a finalidade de preservar a vida do ser humano, do meio ambiente e dos animais, através de normas e diretrizes, com o objetivo de minimizar riscos físicos, biológicos, químicos e psicossociais. Ou seja, a Biossegurança está diretamente ligada à prevenção. Biossegurança x biosseguridade Biossegurança: é o princípio de contenção, tecnologias e práticas usadas como prevenção de acidentes; Biosseguridade: é a gestão dos procedimentos de segurança no ambiente de trabalho, sendo as responsabilidades claramente definidas aos envolvidos, do chefe ao funcionário, com o intuito de minimizar riscos no ambiente. Em laboratórios, o termo “contenção” é extremamente utilizado, uma vez que, objetiva-se a redução da possibilidade de contaminação tanto para a equipe de trabalho quanto para a sociedade em geral, visando o melhor uso dos materiais utilizados, bem como seu descarte. 1. A maneira que se realiza a prática e o método laboratorial; 2. A utilização de equipamento de segurança adequado; 3. O projeto da instalação no ambiente de trabalho. No momento de avaliar o risco a que estes trabalhadores estão expostos, é necessária uma pesquisa detalhada dos itens descritos. Veremos mais detalhadamente esse assunto na aula 2. Para um bom entendimento entre os funcionários, é necessário que não haja ruídos na comunicação. Isso é obtido através de determinadas terminologias, com significados bem marcados. Assepsia: É o conjunto de medidas que visa à redução de microrganismos presentes em superfícies em níveis seguros (ANVISA, 2007). Classe de risco: É a medida pertinente ao risco que impõe o material biológico. Epidemia: Refere-se a uma patologia que ataca, simultaneamente, diversos indivíduos em determinada época ou região. Pandemia: Refere-se a uma patologia que apresenta disseminação ampla, ou seja, é a epidemia que se propagou. Perigo: É uma condição ou conjunto de circunstâncias que tem o potencial de causar ou contribuir para uma lesão ou morte (Sanders e McCormick, 1993). Risco: É a probabilidade ou chance de lesão ou morte (Sanders e McCormick, 1993). Risco Ocupacional: É o risco para a vida e/ou saúde dos funcionários, devido suas atividades de trabalho. Riscos à saúde Obviamente, antes de traçar normas e diretrizes, é necessário saber quais são, onde se encontram em maior quantidade, qual a frequência de acontecimentos e quais os tipos de riscos a que os profissionais da saúde estão expostos em seu ambiente de trabalho. Segundo o dicionário Michaelis, o Risco é a ameaça incerta, mas previsível, de lesão às pessoas, é o resultado do perigo; já o Perigo, é um conjunto de situações que pode causar lesão às pessoas. Existem inúmeros recintos que possuem serviços de Saúde, mas nem todos estão em lugares com condições básicas de saúde. Alguns deles não possuem saneamento, o atendimento é realizado para doenças infectocontagiosas em ambientes sem proteção, deficiência de capacitação dos trabalhadores, ou ainda, o material utilizado é inadequado e, por vezes, até ausentes. Os profissionais da área de Saúde que trabalham em hospitais estão expostos a diversos tipos de riscos, constantemente. Devido à variedade das acomodações nesse estabelecimento, como raios-X, UTI, centro cirúrgico e laboratório, a probabilidade de acidentes e disseminação de doenças é elevada. Os acidentes podem ocorrer devido a vários fatores, dentre eles, os mais comuns são: • falta de capacitação profissional; • exposição direta aos riscos, por ignorância das normas ou até mesmo por ignorá-las; • infraestrutura do estabelecimento imprópria; • deficiência de manutenção de equipamentos; • cansaço por jornada longa de trabalho; • descuido; • e ainda irresponsabilidade, por parte da empresa e/ou do profissional. Sinalização de risco Além das cores, formas circulares de tamanhos diferenciados também são utilizadas para sinalizar o grau de risco. Basicamente, são identificadas 3 dimensões, de acordo com sua gravidade: Pequeno: Possui diâmetro de 2,5 cm e indica gravidade leve. Médio: Possui diâmetro de 5 cm e indica gravidade moderada. Grande: Possui diâmetro de 10 cm e indica gravidade alta. Esses círculos, associados às cores, indicam o “Mapa de Riscos” do ambiente de trabalho. Eles devem ser demonstrados na planta, que por sua vez, deve estar em lugar de fácil acesso e boa visibilidade. Os agentes bacterianos são responsáveis pela causa mais comum de infecções adquiridas pelos profissionais da Saúde, não menosprezando outros agentes patogênicos que também causam infecções. Portanto, a manipulação de agentes biológicos deve ser cuidadosa. Para isso, foi dividida em Classes de Risco de 1 a 4 e ainda Classe de Risco Especial: 1. São os agentes biológicos considerados não patogênicos, ou seja, com baixo risco para pessoas ou animais saudáveis. Exemplo: bactéria Lactobacillus sp. 2. São agentes biológicos que oferecem moderado risco à comunidade, podendo provocar infecções, mas com a propagação limitada, onde existam terapias eficazes; Exemplo: vírus da Dengue 3. Nesta classe, os agentes oferecem altos riscos individuais, porém moderado risco à sociedade. Possuem capacidade de transmissão por vias respiratórias, potencialmente letais, mas com tratamentos eficazes; Exemplo: Retrovirus (incluindo os vírus da imunodeficiência humana (HIV-1 e HIV-2)- AIDS) 4. Os agentes biológicos nesta classe oferecem altos riscos individual e para a sociedade, com alto poder de transmissão desconhecida ou por via respiratória. Não há medidas de prevenção ou tratamentos eficazes e as doenças são graves no homem ou animais; Exemplo: Filovirus (incluindo o vírus Ebola) 5. Risco Especial: são agentes que oferecem grave risco de doença animal e não estão presentes no país. Mesmo não sendo importante para o homem diretamente, podem causar grandes perdas econômicas ou de alimentos; Exemplos: vírus da cólera suína, vírus da influenza A aviária, vírus da peste bovina. Prática Laboratorial Como já foi descrito, é muito importante estar atento aos riscos que estes profissionais da saúde correm ao manipularem materiais potencialmente perigosos. Antes de verificar o ambiente de trabalho, é necessário que aconteça uma conscientização massiva da equipe. Além disso, eles devem ser treinados para estar aptos no momento de realizar as técnicas e também manusear adequadamente os equipamentos. Todos os laboratórios necessitam possuir um manual de Biossegurança, que deve apontar os riscos que os funcionários estão sujeitos e ainda, como eles devem proceder para minimizar e evitá-los. Cabe ao responsável pelo laboratório o fornecimento deste manual, mas cabe à equipe ler e seguir suas normas. Mas, em alguns casos específicos, os regulamentos padrões (mesmo quando seguidos corretamente) não são suficientes para conter os riscos de determinados procedimentos. Então, nesse momento, novas regras deverão ser adicionadas pelo responsável do laboratório, que devem ser relacionadas com os riscos que a equipe e a sociedade em geral estão subordinadas. É possível perceber que todos estes elementos (a conscientização da equipe, a prática apropriada das técnicas laboratoriais e o modo de seguir as normas de segurança) de maneira geral, devem ser suplementados com um projeto adequado do ambiente de trabalho, levando em consideração,as instalações dos equipamentos, as disposições do local, ou seja, deixando o ambiente seguro também. Níveis da Biossegurança Os Níveis de Biossegurança (NB) são determinados de acordo com a classe dos agentes biológicos, ou seja, com o risco envolvido no procedimento realizado. Podem ser divididos 4 quatro itens: Ambientes pertinentes à aplicabilidade de Biossegurança Existem inúmeros ambientes onde a Biossegurança pode e deve ser aplicada. Na realidade, sua abrangência é muito vasta e está relacionada, basicamente, com a segurança dos seres humanos, o ambiente de trabalho, os animais e o próprio meio ambiente. Entretanto, vamos ressaltar aqui, os mais pertinentes à área de Saúde: Nível de Biossegurança 1 (NB1) – Está relacionado com a contenção em nível básico, ou seja, pode ser realizado sem obrigação de uma barreira primária ou secundária, havendo necessidade apenas de uma pia para a higienização das mãos. Geralmente, são direcionados ao treinamento de professores e técnicos, ou ainda, quando o trabalho é realizado com micro-organismos pertencentes à classe I, isto é, não causam doenças nos homens ou em outros animais. Nível de Biossegurança 2 (NB2) – Está relacionado com um nível de contenção maior, pois os agentes presentes no ambiente pertencem à classe II, quer dizer, causam doenças nos homens ou outros animais. Devem existir no ambiente, níveis de barreira primária, como Cabine de Segurança Biológica (CSB), equipamentos de proteção e de barreira secundária, como organização laboratorial e espacial do estabelecimento. Geralmente envolve pesquisas com sangue humano, líquidos corporais, tecidos ou linhas de células humanas primárias, abrangendo a possível presença de um patógeno desconhecido, ou seja, laboratórios clínicos, de diagnósticos ou mesmo laboratórios-escolas. Nível de Biossegurança 3 (NB3) – Está relacionado com a intensificação das barreiras primárias e secundárias, com a intenção de resguardar a comunidade, os funcionários e o meio ambiente, pois o grupo de micro-organismos pertencem a classe III, representando assim, a origem de doenças graves nos homens ou em outros animais. No ambiente, além dos itens descritos anteriormente, são necessários projetos e construções exclusivos, além de treinamento específico. Níveis de Biossegurança 4 (NB4) – Está relacionado com o alto risco de contaminação dos funcionários, da comunidade e do meio ambiente, devido seu alto nível de transmissão e por isso pertencem à classe IV. O ambiente de trabalho deve ser totalmente isolado, as instalações de ventilação são complexas e específicas, a CSB deve ser de Classe III e a eliminação do lixo também deve ser realizada de maneira diferenciada, além da realização de procedimentos especiais de segurança. Ambientes para a aplicação da biossegurança: Laboratórios com animais Para a prática com animais os mesmos padrões de Biossegurança são recomendados. Do mesmo modo, as combinações de práticas laboratoriais, equipamentos de segurança e de projetos de instalações são nomeados Níveis de Biossegurança Animal, adotando o mesmo modelo: 1, 2, 3 e 4, e seus níveis de contenção aumentam de acordo com os riscos biológicos que os funcionários e a comunidade estão expostos. Laboratórios clínicos Os laboratórios clínicos, em especial, os que estão dentro de hospitais e clínicas, recebem grande variedade de amostras e algumas delas, com nível grande de contágio. Entretanto, salvo raras exceções, os procedimentos geralmente são realizados em Nível de Biossegurança 2, que é indicado para o patógeno do sangue com Hepatite B ou HIV. As recomendações deste NB são: para a prevenção do contato dos funcionários com materiais contaminados; quando o agente a ser estudado conhecidamente transmite infecções por aerossóis; ou ainda, para a preservação do espécime a ser analisado, para isso, a CBS (Classes I e II) é utilizada. É importante lembrar que o acesso ao laboratório (restrito ou livre), o estabelecimento de um padrão para realizar os procedimentos e um manual com os riscos em potencial que os funcionários estão expostos são de responsabilidade do diretor/gestor do setor ou da instituição. Farmácia Estão ligados a estabelecimentos responsáveis pelo armazenamento, comercialização e/ou distribuição de medicamentos e materiais de procedimento. Todos devem obedecer às recomendações da Vigilância Sanitária. Estão inseridas neste contexto: Farmácia de dispensação - Devem principalmente, levar em consideração o armazenamento e a comercialização adequados dos medicamentos e materiais perfuro-cortantes; Farmácia de manipulação – Deve levar em consideração o armazenamento e a manipulação adequados dos medicamentos e princípios ativos. É de sua responsabilidade a qualidade da formulação, conservação e transporte dos produtos; Farmácia hospitalar – De acordo com o Conselho Federal de Farmácia, na Resolução nº 300, de 30 de janeiro de 1997, em seu artigo 2º relata que: “A farmácia hospitalar tem como principal função: garantir a qualidade de assistência prestada ao paciente, através do uso seguro e racional de medicamentos e correlatos, adequando sua utilização à saúde individual e coletiva, nos planos: assistencial, preventivo, docente e de investigação, devendo, para tanto, contar com farmacêuticos em número suficiente para o bom desempenho da assistência farmacêutica”. Hospitais Este ambiente é o mais complexo, pois engloba os riscos biológicos, físicos, químicos e psicossociais. Entretanto, existem aqui também, normas específicas que visam garantir a proteção dos funcionários, da sociedade e do meio ambiente. E, é por isso, que a Biossegurança se torna tão importante neste recinto, pois é por meio de diretrizes exclusivas que os procedimentos serão realizados de forma mais segura, evitando assim maior exposição a riscos. Clínicas e consultórios Diferente dos hospitais, este local pode variar de acordo com o profissional que está à frente do estabelecimento, ou seja, as características e os procedimentos se adéquam conforme a categoria profissional. É necessário, portanto, estar bem informado sobre os objetivos, as funções que serão realizadas no local, bem como o perfil de sua clientela. Devem ser observados diversos detalhes, como por exemplo, a inclusão de realização de exames no espaço físico, quantidade de funcionário, tipos de materiais e aparelhos inseridos no estabelecimento, entre outros. Tudo isso, para que seja traçado um plano de contenção adequado para o ambiente, minimizando assim, à exposição a situações potencialmente ousadas. Categoria profissional Todos os profissionais de Saúde estão expostos a riscos de contaminação. A exposição do médico varia de acordo com sua especialidade, sendo que os que trabalham na enfermaria clínica têm um risco relativamente mais baixo quando comparados aos médicos que atuam em centros cirúrgicos, por exemplo. Dentre os profissionais da Saúde, os enfermeiros são os que estão mais sujeitos à contaminação. É, ainda, a classe que possui maior número de acidentes notificados, tais como agulhas contaminadas, exposição percutânea e agente infeccioso altamente contaminante. Biomédicos, são similarmente expostos a variados níveis de contaminação, devido sua exposição constante aos agentes físicos, químicos e biológicos, potencialmente perigosos. Os odontólogos também estão sujeitos a riscos biológicos, aproximadamente 85% desses profissionais apresentam exposição percutânea em um intervalo de 5 anos, também há perigos devido a manipulação de objetos perfuro-cortantes contaminados. Os farmacêuticos desempenhampapel importante na segurança dos pacientes, uma vez que, são responsáveis por evitar terapêuticas que coloquem em risco a saúde do paciente.
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