Buscar

RELATORIO. VALOR VENAL DE REFENCIA

Prévia do material em texto

Página 1 de 14 
 
Á COMISSÃO DE DIREITO URBANÍSTICO DA ORDEM DOS 
ADVOGADOS DO BRASIL, SECÇÃO DE SÃO PAULO. 
 
Em atendimento a solicitação do Ilmo. Presidente da Comissão de 
Direito Urbanístico da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção de São 
Paulo, apresento breve relatório a cerca da indagação abaixo, trazida pelo 
Dr. José Eliseu (OAB 112.752) que indagou: 
 “A AASP noticiou, em 05/02/2018 que grande número de 
contribuintes têm ganhado disputa sobre o valor do imposto sobre 
herança (ITCMD), pois o governo majorou este imposto através do 
Decreto nº 55.002 para imóveis urbanos e rurais, exigindo o valor 
venal de referência para os imóveis urbanos e para os rurais o valor 
médio do preço da terra, contrariando assim o nosso ordenamento 
jurídico. A AASP menciona, como exemplo o processo 1034412-
18.2016.8.26.0506. Assim sendo, sugiro que a OAB entre com uma 
ação civil pública pugnando pela inconstitucionalidade desse decreto 
que onera sobremaneira os contribuintes paulistas. Atenciosamente.” 
I. DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA: 
 A definição de “Ação civil pública” pode ser definida como: 
“instrumento processual destinado à proteção de interesses 
difusos da sociedade e, excepcionalmente, para a proteção 
de interesses coletivos e/ou individuais homogêneos.”1 
Na CF/88 seu uso está previsto no artigo 129, inciso III da Carta 
Magna, como atribuição ao Ministério Público. É regulada, porém pela lei 
7.347 de 1985, texto recepcionado pela constituição. 
Também existe previsão no estatuto da OAB, conforme se verá mais 
detalhadamente a seguir. 
 
 
1
 http://www.raul.pro.br/didatic/acp.htm. Acesso em 05 de março de 2018. 
Página 2 de 14 
 
II. DA FUNÇÃO SOCIAL DO ADVOGADO: 
A CF/88 destacou o advogado como ser indispensável à 
administração da Justiça (art. 133). A partir daí reconheceu a indubitável 
função social da advocacia, carregando tal função de responsabilidade, pois 
cabe ao advogado garantir o pleno gozo dos direitos e liberdades públicas, 
previstas em todo ordenamento jurídico. 
Nesse sentido: 
“a advocacia não é apenas um pressuposto do Poder 
Judiciário. É também necessária a seu funcionamento 
[...] nada mais natural, portanto, que a Constituição o 
consagrasse e prestigiasse, se se reconhece no 
exercício do seu mister a prestação de um serviço 
público"2 
 O próprio Estatuto da Advocacia (lei 8.906/1994), em seu artigo 2º 
dá ao advogado seu status e função pública: 
Art. 2º O advogado é indispensável à administração da 
justiça. 
§ 1º No seu ministério privado, o advogado presta 
serviço público e exerce função social. 
 Indo além, a Corte Suprema nacional, reconheceu ser a OAB, um 
serviço público independente e uma categoria impar, não se sujeitando aos 
ditames impostos á Administração Pública Direta e Indireta nem se 
equiparando ás autarquias especiais e aos demais conselhos e classe. 
“(...) 3. A OAB não é uma entidade da Administração 
Indireta da União. A Ordem é um serviço público 
independente, categoria ímpar no elenco das 
personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro. 
4. A OAB não está incluída na categoria na qual se 
inserem essas que se tem referido como "autarquias 
 
2
 SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 613. 
Página 3 de 14 
 
especiais" para pretender-se afirmar equivocada 
independência das hoje chamadas "agências".3 
2.1. Da competência da OAB para propositura da Ação Civil Pública: 
 Diante do exposto, extraiu-se a possibilidade da OAB propor a Ação 
Civil Pública. A norma regente da entidade, (lei 8.906 de 1994) estabelece 
de forma expressa, a competência de seu Conselho Federal para ajuizar 
ação civil pública (art. 54, II e XIV). 
Porém essa competência é transmitida aos Conselhos Seccionais por 
força do artigo 57, no limite de sua atuação material e territorial. 
 Já o regulamento geral do Estatuto da Advocacia e da OAB, elaborado 
dentro das atribuições da lei supracitada estabelece no seu artigo 105, 
inciso V letra “b”. 
Art. 105. Compete ao Conselho Seccional, além do previsto 
nos arts. 57 e 58 do Estatuto: V – ajuizar, após deliberação: 
a) ação direta de inconstitucionalidade de leis ou atos 
normativos estaduais e municipais, em face da Constituição 
Estadual ou da Lei Orgânica do Distrito Federal; 
 Diante dos dispositivos elencados, chega-se a conclusão que o 
Conselho Seccional detém a legitimidade para a propositura da Ação Civil 
Pública, nos limites da lei 7.347. 
 Recentemente o C. STJ ratificou o entendimento: 
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS 
INFRINGENTES. TEORIA DA ASSERÇÃO. LEGITIMIDADE 
ATIVA DA OAB PARA A PROPOSITURA DE AÇÃO CIVIL 
PÚBLICA. DEFESA DOS CONSUMIDORES A TÍTULO 
COLETIVO. POSSIBILIDADE. 
 
3
 (ADI 3026, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 08/06/2006, DJ 29-09-2006 PP-00031 EMENT 
VOL-02249-03 PP-00478 RTJ VOL-00201-01 PP-00093) 
Página 4 de 14 
 
1. São cabíveis embargos infringentes quando o acórdão não 
unânime houver reformado, em grau de apelação, a 
sentença de mérito, acolhendo preliminar de ilegitimidade 
ativa (art. 530 do CPC/1973). 
2. "No sistema recursal brasileiro, vigora o cânone da 
unicidade ou unirrecorribilidade recursal, segundo o qual, 
manejados dois recursos pela mesma parte contra uma 
única decisão, a preclusão consumativa impede o exame do 
que tenha sido protocolizado por último" (AgInt nos EAg 
1.213.737/RJ, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Corte 
Especial, julgado em 17/8/2016, DJe 26/8/2016). 
3. Conforme decidido em sede de repercussão geral pelo 
STF, "ante a natureza jurídica de autarquia corporativista, 
cumpre à Justiça Federal, a teor do disposto no artigo 109, 
inciso I, da Carta da República, processar e julgar ações em 
que figure na relação processual quer o Conselho Federal da 
Ordem dos Advogados do Brasil, quer seccional" (RE 
595332, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 
31/8/2016, Dje 23/6/2017) 
4. A Ordem dos Advogados do Brasil, seja pelo Conselho 
Federal, seja pelos conselhos seccionais, possui legitimidade 
ativa para ajuizar Ação Civil Pública para a defesa dos 
consumidores a título coletivo. 
5. Em razão de sua finalidade constitucional específica, da 
relevância dos bens jurídicos tutelados e do manifesto viés 
protetivo de interesse social, a legitimidade ativa da OAB 
não está sujeita à exigência da pertinência temática no 
tocante à jurisdição coletiva, devendo lhe ser reconhecida 
aptidão genérica para atuar em prol desses interesses 
supraindividuais. 
Página 5 de 14 
 
6. No entanto, "os conselhos seccionais da Ordem dos 
Advogados do Brasil podem ajuizar as ações previstas - 
inclusive as ações civis públicas - no art. 54, XIV, em relação 
aos temas que afetem a sua esfera local, restringidos 
territorialmente pelo art. 45, § 2º, da Lei n.8.906/84" (REsp 
1351760/PE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda 
Turma, julgado em 26/11/2013, DJe 9/12/2013). 
7. No presente caso, como o recurso de apelação da OAB 
não foi conhecido, os autos devem retornar ao Tribunal de 
origem para a reapreciação da causa, dando-se por 
superada a tese da ilegitimidade do autor. 
8. Recurso especial parcialmente provido.4 
2.2. Vedação quanto à matéria tributária: 
 A citada lei 7.347 de 24 de julho de 1985, em seu artigo 1º parágrafo 
único, traz as vedações quanto à possibilidade do cabimento da Ação Civil 
Pública. 
“Parágrafo único. Nãoserá cabível ação civil pública para 
veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições 
previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - 
FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos 
beneficiários podem ser individualmente 
determinados.”(grifei) 
 Verifica-se que o limite imposto é expresso na matéria 
tributária, vetando completamente a propositura de ação civil 
pública. 
Esse é o entendimento do E.TJ/SP: 
APELAÇÃO CÍVEL - Ação Civil Pública - Cobrança de taxa de 
serviços urbanos - Ilegitimidade ativa ad causam da OAB 
para impugnar a exigibilidade de tributos - Extinção do 
 
4
 RECURSO ESPECIAL Nº 1.423.825 - CE (2013/0403040-3) 
Página 6 de 14 
 
processo, sem julgamento do mérito (art 267, VI, do CPC)- 
Sentença reformada - Recursos oficial e voluntário da 
Municipalidade providos. (TJ-SP - CR: 7240375600 SP, 
Relator: Eutálio Porto, Data de Julgamento: 12/06/2008, 15ª 
Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 14/07/2008) 
O C. STJ ratificou: 
TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO 
ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MATÉRIA TRIBUTÁRIA. 
IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. A ação civil 
pública não é meio hábil para impugnação de tributos, na 
defesa de direitos dos contribuintes, ainda que sua 
propositura tenha ocorrido antes da vigência da MP 2.180-
35. Precedentes. 2. Agravo regimental não provido.(STJ - 
AgRg no REsp: 1029089 MG 2008/0027710-3, Relator: 
Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, Data de Julgamento: 
19/08/2010, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 
01/09/2010) 
Assim verifica-se que mesmo que a OAB tenha legitimidade 
para propor Ação civil Pública, este não é o meio hábil para 
impugnação em matéria tributária. 
2.3. Da via adequada: 
Em que pese não ser a ação civil pública o remédio processual 
pertinente, é possível a propositura da Ação Direita de Inconstitucionalidade 
(ADIN). 
A previsão inclusive é está no mesmo artigo 54, inciso XIV já citado. 
A competência conforme já exposto é do Conselho Federal (artigo 54 caput 
da lei 8.906 de 1994), delegando ao Conselho Seccional (artigo 57) a 
competência material e territorial. 
Assim a conclusão que se chega é a de que a via adequada é 
Ação Direita de Inconstitucionalidade. 
Página 7 de 14 
 
III. DO MÉRITO DA QUESTÃO: 
Em 9 de novembro de 2009, fora promulgado o Decreto 55.002, que 
estabeleceu regras para o cálculo do ITCMD, nos seguintes termos: 
“1 - rural, o valor médio da terra-nua e das benfeitorias 
divulgado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do 
Estado de São Paulo ou por outro órgão de reconhecida 
idoneidade, vigente à data da ocorrência do fato gerador, 
quando for constatado que o valor declarado pelo 
interessado é incompatível com o de mercado; 
2 - urbano, o valor venal de referência do Imposto sobre 
Transmissão de Bens Imóveis - ITBI divulgado ou utilizado 
pelo município, vigente à data da ocorrência do fato gerador, 
nos termos da respectiva legislação, desde que não inferior 
ao valor referido na alínea "a" do inciso I, sem prejuízo da 
instauração de procedimento administrativo de arbitramento 
da base de cálculo, se for o caso." (NR).” 
3.1. Valor Venal de Referência versus Respaldo legal. 
Não existe qualquer respaldo legal para a criação do “valor venal de 
referência”. A nomenclatura foi propositadamente utilizada para tentar 
adequar a base de cálculo ao artigo 38 do CTN: 
Art. 38. A base de cálculo do imposto é o valor venal dos bens ou 
direitos transmitidos. 
Por valor venal entende-se que se trata “do valor de venda, ou o 
valor mercantil, isto é, o preço por que as coisas foram, são ou posam ser 
vendidas.”5 
Sua existência afronta ainda o estabelecido no artigo 148 também do 
CTN: 
Art. 148. Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome 
em consideração, o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou 
 
5
 De Plácido e Silva, Vocabulário Jurídico, 27º ed., p. 1461, Rio de Janeiro, Forense, 208. 
Página 8 de 14 
 
atos jurídicos, a autoridade lançadora, mediante processo regular, 
arbitrará aquele valor ou preço, sempre que sejam omissos ou 
não mereçam fé as declarações ou os esclarecimentos prestados, 
ou os documentos expedidos pelo sujeito passivo ou pelo terceiro 
legalmente obrigado, ressalvada, em caso de contestação, 
avaliação contraditória, administrativa ou judicial. 
Aqui um ponto importante: As partes podem fixar livremente o valor 
do negócio jurídico que realiza. Cabe ao fisco acatar ou não o preço 
praticado. No caso de não acatar deverá arbitrar novo valor. 
O que não pode por força do artigo supracitado, é impor valor maior 
do que a própria base de cálculo do IPTU, gerando assim “dois pesos e duas 
medidas”. 
Portanto o decreto 55.002/2009 modifica a base de cálculo do 
ITCMD, tornando muito mais onerosa à obrigação tributária. 
Por força do artigo 150 da CF88, a majoração do Tributo somente 
poderia ser feita por força de lei (princípio da legalidade). Alterar a base de 
cálculo, majorando-a é mero subterfúgio para onerar os contribuintes: 
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao 
contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos 
Municípios: 
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; 
A coexistência de dois “Valores Venais” também se mostra ilegal. 
Harada, Kiyoshi nos ensina: 
“O valor venal de imóvel urbano é aquele encontrado 
segundo a legislação pertinente ao imposto predial e 
territorial urbano e é revisto ou atualizado anualmente. De 
fato, a legislação do IPTU dispõe de critério objetivo para 
apuração do valor venal, bem como de mecanismo para 
manter atualizado esse valor apurado em 1º de janeiro de 
cada exercício. Nada justifica apuração de outro valor 
Página 9 de 14 
 
venal para o mesmo imóvel, só para o efeito de ITBI. A 
própria legislação estadual para cobrança do imposto sobre 
transmissão causa mortis determina a utilização da base de 
cálculo do IPTU ou do ITR, conforme se trate, 
respectivamente, de imóvel urbano ou rural, ressalvado aos 
interessados o direito de requererem avaliação judicial (art. 
15 da Lei nº 9.591, de 30-12-6)” 6 
A própria lei Estadual 10.705/00, estabelece limites que foram 
subjugados pelo Decreto 55.002/09. Expressamente a lei prevê o uso do 
valor venal para fins do IPTU. Vejamos os artigos 9º e 13º: 
Artigo 9º - A base de cálculo do imposto é o valor venal do 
bem ou direito transmitido, expresso em moeda nacional ou 
em UFESPs (Unidades Fiscais do Estado de São Paulo). 
§ 1º - Para os fins de que trata esta lei, considera-se valor 
venal o valor de mercado do bem ou direito na data da 
abertura da sucessão ou da realização do ato ou contrato de 
doação. 
Artigo 13 - No caso de imóvel, o valor da base de cálculo 
não será inferior: 
I - em se tratando de imóvel urbano ou direito a ele relativo, 
ao fixado para o lançamento do Imposto sobre a Propriedade 
Predial e Territorial Urbana IPTU; 
Inúmeros são os julgados em sede tanto de mandado de segurança, 
quanto em ações de repetição de indébito, que corroboram com a tese: 
MANDADO DE SEGURANÇA – ITCMD – Adoção do valor de 
referência do ITBI como base de cálculo – Descabimento – A 
base de cálculo do imposto é o valor venal utilizado para a 
cobrança do IPTU – Impossibilidade de aplicação do Decreto 
nº 55.002/09 que alterou a forma de cobrança do tributo, 
extrapolando os limites da Lei nº Estadual nº 10.705/00 
 
6
 “Direito Tributário Municipal”,segunda edição, São Paulo, Editora Atlas, p. 94 e 96 
Página 10 de 14 
 
(RITCMD, Decreto nº 46.655/02) – Precedentes – Segurança 
concedida na 1ª Instância – Sentença mantida – Recursos 
oficial e voluntário da FESP não providos. 
(TJSP; Apelação / Reexame Necessário 1029784-
50.2017.8.26.0053; Relator (a): Leme de Campos; Órgão 
Julgador: 6ª Câmara de Direito Público; Foro Central - 
Fazenda Pública/Acidentes - 7ª Vara de Fazenda Pública; 
Data do Julgamento: 26/02/2018; Data de Registro: 
27/02/2018). (Grifei) 
 
APELAÇÃO CÍVEL. Mandado de segurança preventivo. 
IMPOSTO SOBRE TRANSMISSÃO "CAUSA MORTIS" E 
DOAÇÃO DE QUAISQUER BENS OU DIREITOS - ITCMD. Bem 
imóvel. Herança. Adoção pelo Estado de São Paulo do valor 
de referência do ITBI como base de cálculo do ITCMD, 
conforme previsto no Decreto n. 55.002/09. Pretensão ao 
reconhecimento do direito ao recolhimento do gravame com 
base no valor venal do imóvel utilizado para fins de 
pagamento do IPTU, nos termos da Lei Estadual nº 
10.705/2000. Sentença de primeiro grau que denegou a 
segurança. 1. ITCMD. Bem imóvel. Base de cálculo. Valor 
venal do imóvel utilizado para fins de cobrança do IPTU. 
Reconhecimento. Aplicabilidade da inteligência do comando 
inserto no artigo 13, inciso I, da Lei nº 10.705/00. 
Impossibilidade de alteração da base de cálculo de tributo 
por decreto. Princípios (no campo penal e tributário). 
Reserva de lei (= reserva constitucional de lei = reserva 
horizontal de lei = reserva formal de lei) através da qual a 
Constituição reserva à lei a regulamentação de certas 
matérias; (2) congelamento do grau hierárquico, dado que, 
de acordo com este princípio, regulada por lei uma 
determinada matéria, o grau hierárquico da mesma fica 
congelado e só uma outra lei poderá incidir sobre o mesmo 
objeto; (3) precedência da lei ou primariedade da lei (= 
Página 11 de 14 
 
reserva vertical de lei), pois não existe exercício de poder 
regulamentar sem fundamento numa lei prévia anterior. 
Reserva legal absoluta, no caso. 2. Como na inicial não se 
nomina e transcreve quais os imóveis são objeto do 'writ' 
(descrição, matrícula etc), fica consignado ser (em) 
exclusivamente o (s) advindo (s) da sucessão de que se 
trata neste mandado de segurança. 3. Sentença reformada. 
Ordem concedida, com observação. Recurso dos impetrantes 
provido. (TJ-SP - APL: 10349211820148260053 SP 
1034921-18.2014.8.26.0053, Relator: Oswaldo Luiz Palu, 
Data de Julgamento: 19/08/2015, 9ª Câmara de Direito 
Público, Data de Publicação: 25/08/2015). 
3.2. Quanto aos imóveis rurais. 
Da mesma forma, nos termos da indagação do Ilmo. colega, no que 
tange aos imóveis rurais, a utilização do valor médio divulgado pela 
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo ou por 
outro órgão, como prevê o Decreto 55.002/09, fere nos exatos termos 
acima elencados, os princípios do Direito Tributário. Nesse sentido, são 
inúmeros os julgados. Como exemplo citamos: 
REPETIÇÃO DE INDÉBITO – ITCMD – A base de cálculo do 
ITCMD, no caso em apreço, deve ser o valor venal do imóvel 
lançado para fins de ITR, em razão da ilegalidade do Decreto 
55.002/09 – Ofensa ao artigo 150, inciso I, da Constituição 
Federal, e aos artigos 97 e 99 do CTN – Precedentes - R. 
Sentença mantida. CONSECTÁRIOS LEGAIS – Juros 
moratórios e correção monetária – Tratando-se de 
restituição de pagamento indevido que ostenta natureza 
tributária, aplica-se a taxa SELIC, a partir do trânsito em 
julgado, conforme decidido no REsp n° 1.111.189-SP, na 
sistemática dos recursos repetitivos, c/c verbete 188 da 
Súmula do STJ – Indexador que tem a dupla finalidade de 
atualizar o poder de compra do capital e penalizar a mora – 
Correção monetária da data em que recolhido o tributo, 
Página 12 de 14 
 
pelos índices da Tabela Prática do TJ/SP até que comecem a 
ser contados os juros, a partir de quando só incidirá a SELIC 
– Inaplicabilidade da Lei nº 11.960/2009. Recurso 
improvido, com observação. (TJSP; Apelação 1001854-
38.2016.8.26.0103; Relator (a): Carlos Eduardo Pachi; 
Órgão Julgador: 9ª Câmara de Direito Público; Foro de 
Caconde - Vara Única; Data do Julgamento: 27/04/2017; 
Data de Registro: 27/04/2017). 
APELAÇÃO CÍVEL – REEXAME NECESSÁRIO - Mandado de 
Segurança com Pedido Liminar – ITCMD de imóvel rural – 
Cobrança do referido imposto com base no Decreto Estadual 
nº 55.002/2009 que alterou a base de calculo do imposto – 
Pleito que visa a utilização como base de cálculo do tributo, 
valor do ITR, afastando-se a utilização do valor fornecido 
pelo Instituo de Economia Agrícola do Estado de São Paulo - 
Sentença de procedência – Decisão escorreita - A base de 
cálculo do ITCMD deve ser o valor venal de referencia do 
ITR, em razão da ilegalidade do Decreto Estadual nº 
55.002/09 – Inteligência do art. 97, II, § 1º, do CTN e da Lei 
º 10.705/00 – Sentença concessiva da ordem mantida - 
Recursos improvidos (TJ-SP 10344121820168260506 SP 
1034412-18.2016.8.26.0506, Relator: Eduardo Gouvêa, 
Data de Julgamento: 10/01/2018, 7ª Câmara de Direito 
Público, Data de Publicação: 10/01/2018) 
3.3. Do incidente de inconstitucionalidade contra o valor venal 
de referência estabelecido pela PMSP. 
No que tange a ilegalidade do próprio valor venal de referência, o E. 
TJSP, em incidente de inconstitucionalidade, já decidiu: 
INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE Artigo 7º da Lei 
nº 11.154, de 30 de dezembro de 1991, com a redação dada 
pelas Leis nºs 14.125, de 29 de dezembro de 2005, e 
14.256, de 29 de dezembro de 2006, todas do Município de 
São Paulo, que estabelece o valor pelo qual o bem ou direito 
Página 13 de 14 
 
é negociado à vista, em condições normais de mercado, 
como a base de cálculo do Imposto sobre Transmissão de 
Bens Imóveis (ITBI) Acórdão que, a despeito de não 
manifestar de forma expressa, implicitamente também 
questionou as disposições dos artigos 7º-A, 7º-B e 12 da 
mesma legislação municipal Valor venal atribuído ao imóvel 
para apuração do ITBI que não se confunde 
necessariamente com aquele utilizado para lançamento do 
IPTU Precedentes do STJ Previsão contida no aludido artigo 
7º que, nessa linha, não representa afronta ao princípio da 
legalidade, haja vista que, como regra, a apuração do 
imposto deve ser feita com base no valor do negócio jurídico 
realizado, tendo em consideração as declarações prestadas 
pelo próprio contribuinte, o que, em princípio, espelharia o 
"real valor de mercado do imóvel" "Valor venal de 
referência", todavia, que deve servir ao Município apenas 
como parâmetro de verificação da compatibilidade do preço 
declarado de venda, não podendo se prestar para a prévia 
fixação da base de cálculo do ITBI Impossibilidade, 
outrossim, de se impor ao sujeito passivo do imposto, desde 
logo, a adoção da tabela realizada pelo Município Imposto 
municipal em causa que está sujeito ao lançamento por 
homologação, cabendo ao próprio contribuinte antecipar o 
recolhimento Arbitramento administrativo que é providência 
excepcional, da qual o Município somente pode lançar mão 
na hipótese de ser constatada a incorreção ou falsidade na 
documentação comprobatória do negócio jurídico tributável 
Providência que, de toda sorte, depende sempre da prévia 
instauração do pertinente procedimento administrativo, na 
forma do artigo 148 do Código Tributário Nacional, sob pena 
de restar caracterizado o lançamento de ofício da exação, ao 
qual o ITBI não se submete Artigos 7º-A e 7º-B que, nesse 
passo, subvertem o procedimento estabelecido na legislação 
complementar tributária, em afronta ao princípio da 
legalidade estrita,inserido no artigo 150, inciso I, da 
Página 14 de 14 
 
Constituição Federal Inadmissibilidade, ainda, de se exigir o 
recolhimento antecipado do tributo, nos moldes 
estabelecidos no artigo 12 da Lei Municipal nº 11.154/91, 
por representar violação ao preceito do artigo 156, inciso II, 
da Constituição Federal Registro imobiliário que é 
constitutivo da propriedade, não tendo efeito meramente 
regularizador e publicitário, razão pela qual deve ser tomado 
como fato gerador do ITBI Regime constitucional da 
substituição tributária, previsto no artigo 150, § 7º, da 
Constituição Federal, que nem tem lugar na espécie, haja 
vista que não se cuida de norma que autoriza a antecipação 
da exigibilidade do imposto de forma irrestrita Arguição 
acolhida para o fim de pronunciar a inconstitucionalidade dos 
artigos 7º-A, 7º-B e 12, da Lei nº 11.154/91, do Município 
de São Paulo. (TJ-SP - Arguição de Inconstitucionalidade: 
00566931920148260000 SP 0056693-19.2014.8.26.0000, 
Relator: Paulo Dimas Mascaretti, Data de Julgamento: 
25/03/2015, Órgão Especial, Data de Publicação: 
23/04/2015). 
IV. CONCLUSÃO: 
 Diante do exposto, chega-se a conclusão de que é possível o embate 
em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade, diante do flagrante ataque 
ao princípio da reserva legal pelo Decreto 55.002/09, sendo a OAB/SP 
legítima para a propositura do feito. 
 
São Paulo, 12 de março de 2018. 
 
Leandro Augusto Rêgo 
OAB/SP: 293.281

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes