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Página 1 de 14 Á COMISSÃO DE DIREITO URBANÍSTICO DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, SECÇÃO DE SÃO PAULO. Em atendimento a solicitação do Ilmo. Presidente da Comissão de Direito Urbanístico da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção de São Paulo, apresento breve relatório a cerca da indagação abaixo, trazida pelo Dr. José Eliseu (OAB 112.752) que indagou: “A AASP noticiou, em 05/02/2018 que grande número de contribuintes têm ganhado disputa sobre o valor do imposto sobre herança (ITCMD), pois o governo majorou este imposto através do Decreto nº 55.002 para imóveis urbanos e rurais, exigindo o valor venal de referência para os imóveis urbanos e para os rurais o valor médio do preço da terra, contrariando assim o nosso ordenamento jurídico. A AASP menciona, como exemplo o processo 1034412- 18.2016.8.26.0506. Assim sendo, sugiro que a OAB entre com uma ação civil pública pugnando pela inconstitucionalidade desse decreto que onera sobremaneira os contribuintes paulistas. Atenciosamente.” I. DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA: A definição de “Ação civil pública” pode ser definida como: “instrumento processual destinado à proteção de interesses difusos da sociedade e, excepcionalmente, para a proteção de interesses coletivos e/ou individuais homogêneos.”1 Na CF/88 seu uso está previsto no artigo 129, inciso III da Carta Magna, como atribuição ao Ministério Público. É regulada, porém pela lei 7.347 de 1985, texto recepcionado pela constituição. Também existe previsão no estatuto da OAB, conforme se verá mais detalhadamente a seguir. 1 http://www.raul.pro.br/didatic/acp.htm. Acesso em 05 de março de 2018. Página 2 de 14 II. DA FUNÇÃO SOCIAL DO ADVOGADO: A CF/88 destacou o advogado como ser indispensável à administração da Justiça (art. 133). A partir daí reconheceu a indubitável função social da advocacia, carregando tal função de responsabilidade, pois cabe ao advogado garantir o pleno gozo dos direitos e liberdades públicas, previstas em todo ordenamento jurídico. Nesse sentido: “a advocacia não é apenas um pressuposto do Poder Judiciário. É também necessária a seu funcionamento [...] nada mais natural, portanto, que a Constituição o consagrasse e prestigiasse, se se reconhece no exercício do seu mister a prestação de um serviço público"2 O próprio Estatuto da Advocacia (lei 8.906/1994), em seu artigo 2º dá ao advogado seu status e função pública: Art. 2º O advogado é indispensável à administração da justiça. § 1º No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce função social. Indo além, a Corte Suprema nacional, reconheceu ser a OAB, um serviço público independente e uma categoria impar, não se sujeitando aos ditames impostos á Administração Pública Direta e Indireta nem se equiparando ás autarquias especiais e aos demais conselhos e classe. “(...) 3. A OAB não é uma entidade da Administração Indireta da União. A Ordem é um serviço público independente, categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro. 4. A OAB não está incluída na categoria na qual se inserem essas que se tem referido como "autarquias 2 SILVA, José Afonso da. Comentário contextual à Constituição. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 613. Página 3 de 14 especiais" para pretender-se afirmar equivocada independência das hoje chamadas "agências".3 2.1. Da competência da OAB para propositura da Ação Civil Pública: Diante do exposto, extraiu-se a possibilidade da OAB propor a Ação Civil Pública. A norma regente da entidade, (lei 8.906 de 1994) estabelece de forma expressa, a competência de seu Conselho Federal para ajuizar ação civil pública (art. 54, II e XIV). Porém essa competência é transmitida aos Conselhos Seccionais por força do artigo 57, no limite de sua atuação material e territorial. Já o regulamento geral do Estatuto da Advocacia e da OAB, elaborado dentro das atribuições da lei supracitada estabelece no seu artigo 105, inciso V letra “b”. Art. 105. Compete ao Conselho Seccional, além do previsto nos arts. 57 e 58 do Estatuto: V – ajuizar, após deliberação: a) ação direta de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais e municipais, em face da Constituição Estadual ou da Lei Orgânica do Distrito Federal; Diante dos dispositivos elencados, chega-se a conclusão que o Conselho Seccional detém a legitimidade para a propositura da Ação Civil Pública, nos limites da lei 7.347. Recentemente o C. STJ ratificou o entendimento: RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS INFRINGENTES. TEORIA DA ASSERÇÃO. LEGITIMIDADE ATIVA DA OAB PARA A PROPOSITURA DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DEFESA DOS CONSUMIDORES A TÍTULO COLETIVO. POSSIBILIDADE. 3 (ADI 3026, Relator(a): Min. EROS GRAU, Tribunal Pleno, julgado em 08/06/2006, DJ 29-09-2006 PP-00031 EMENT VOL-02249-03 PP-00478 RTJ VOL-00201-01 PP-00093) Página 4 de 14 1. São cabíveis embargos infringentes quando o acórdão não unânime houver reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito, acolhendo preliminar de ilegitimidade ativa (art. 530 do CPC/1973). 2. "No sistema recursal brasileiro, vigora o cânone da unicidade ou unirrecorribilidade recursal, segundo o qual, manejados dois recursos pela mesma parte contra uma única decisão, a preclusão consumativa impede o exame do que tenha sido protocolizado por último" (AgInt nos EAg 1.213.737/RJ, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Corte Especial, julgado em 17/8/2016, DJe 26/8/2016). 3. Conforme decidido em sede de repercussão geral pelo STF, "ante a natureza jurídica de autarquia corporativista, cumpre à Justiça Federal, a teor do disposto no artigo 109, inciso I, da Carta da República, processar e julgar ações em que figure na relação processual quer o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, quer seccional" (RE 595332, Rel. Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 31/8/2016, Dje 23/6/2017) 4. A Ordem dos Advogados do Brasil, seja pelo Conselho Federal, seja pelos conselhos seccionais, possui legitimidade ativa para ajuizar Ação Civil Pública para a defesa dos consumidores a título coletivo. 5. Em razão de sua finalidade constitucional específica, da relevância dos bens jurídicos tutelados e do manifesto viés protetivo de interesse social, a legitimidade ativa da OAB não está sujeita à exigência da pertinência temática no tocante à jurisdição coletiva, devendo lhe ser reconhecida aptidão genérica para atuar em prol desses interesses supraindividuais. Página 5 de 14 6. No entanto, "os conselhos seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil podem ajuizar as ações previstas - inclusive as ações civis públicas - no art. 54, XIV, em relação aos temas que afetem a sua esfera local, restringidos territorialmente pelo art. 45, § 2º, da Lei n.8.906/84" (REsp 1351760/PE, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, julgado em 26/11/2013, DJe 9/12/2013). 7. No presente caso, como o recurso de apelação da OAB não foi conhecido, os autos devem retornar ao Tribunal de origem para a reapreciação da causa, dando-se por superada a tese da ilegitimidade do autor. 8. Recurso especial parcialmente provido.4 2.2. Vedação quanto à matéria tributária: A citada lei 7.347 de 24 de julho de 1985, em seu artigo 1º parágrafo único, traz as vedações quanto à possibilidade do cabimento da Ação Civil Pública. “Parágrafo único. Nãoserá cabível ação civil pública para veicular pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente determinados.”(grifei) Verifica-se que o limite imposto é expresso na matéria tributária, vetando completamente a propositura de ação civil pública. Esse é o entendimento do E.TJ/SP: APELAÇÃO CÍVEL - Ação Civil Pública - Cobrança de taxa de serviços urbanos - Ilegitimidade ativa ad causam da OAB para impugnar a exigibilidade de tributos - Extinção do 4 RECURSO ESPECIAL Nº 1.423.825 - CE (2013/0403040-3) Página 6 de 14 processo, sem julgamento do mérito (art 267, VI, do CPC)- Sentença reformada - Recursos oficial e voluntário da Municipalidade providos. (TJ-SP - CR: 7240375600 SP, Relator: Eutálio Porto, Data de Julgamento: 12/06/2008, 15ª Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 14/07/2008) O C. STJ ratificou: TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MATÉRIA TRIBUTÁRIA. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. A ação civil pública não é meio hábil para impugnação de tributos, na defesa de direitos dos contribuintes, ainda que sua propositura tenha ocorrido antes da vigência da MP 2.180- 35. Precedentes. 2. Agravo regimental não provido.(STJ - AgRg no REsp: 1029089 MG 2008/0027710-3, Relator: Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, Data de Julgamento: 19/08/2010, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 01/09/2010) Assim verifica-se que mesmo que a OAB tenha legitimidade para propor Ação civil Pública, este não é o meio hábil para impugnação em matéria tributária. 2.3. Da via adequada: Em que pese não ser a ação civil pública o remédio processual pertinente, é possível a propositura da Ação Direita de Inconstitucionalidade (ADIN). A previsão inclusive é está no mesmo artigo 54, inciso XIV já citado. A competência conforme já exposto é do Conselho Federal (artigo 54 caput da lei 8.906 de 1994), delegando ao Conselho Seccional (artigo 57) a competência material e territorial. Assim a conclusão que se chega é a de que a via adequada é Ação Direita de Inconstitucionalidade. Página 7 de 14 III. DO MÉRITO DA QUESTÃO: Em 9 de novembro de 2009, fora promulgado o Decreto 55.002, que estabeleceu regras para o cálculo do ITCMD, nos seguintes termos: “1 - rural, o valor médio da terra-nua e das benfeitorias divulgado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo ou por outro órgão de reconhecida idoneidade, vigente à data da ocorrência do fato gerador, quando for constatado que o valor declarado pelo interessado é incompatível com o de mercado; 2 - urbano, o valor venal de referência do Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis - ITBI divulgado ou utilizado pelo município, vigente à data da ocorrência do fato gerador, nos termos da respectiva legislação, desde que não inferior ao valor referido na alínea "a" do inciso I, sem prejuízo da instauração de procedimento administrativo de arbitramento da base de cálculo, se for o caso." (NR).” 3.1. Valor Venal de Referência versus Respaldo legal. Não existe qualquer respaldo legal para a criação do “valor venal de referência”. A nomenclatura foi propositadamente utilizada para tentar adequar a base de cálculo ao artigo 38 do CTN: Art. 38. A base de cálculo do imposto é o valor venal dos bens ou direitos transmitidos. Por valor venal entende-se que se trata “do valor de venda, ou o valor mercantil, isto é, o preço por que as coisas foram, são ou posam ser vendidas.”5 Sua existência afronta ainda o estabelecido no artigo 148 também do CTN: Art. 148. Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome em consideração, o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou 5 De Plácido e Silva, Vocabulário Jurídico, 27º ed., p. 1461, Rio de Janeiro, Forense, 208. Página 8 de 14 atos jurídicos, a autoridade lançadora, mediante processo regular, arbitrará aquele valor ou preço, sempre que sejam omissos ou não mereçam fé as declarações ou os esclarecimentos prestados, ou os documentos expedidos pelo sujeito passivo ou pelo terceiro legalmente obrigado, ressalvada, em caso de contestação, avaliação contraditória, administrativa ou judicial. Aqui um ponto importante: As partes podem fixar livremente o valor do negócio jurídico que realiza. Cabe ao fisco acatar ou não o preço praticado. No caso de não acatar deverá arbitrar novo valor. O que não pode por força do artigo supracitado, é impor valor maior do que a própria base de cálculo do IPTU, gerando assim “dois pesos e duas medidas”. Portanto o decreto 55.002/2009 modifica a base de cálculo do ITCMD, tornando muito mais onerosa à obrigação tributária. Por força do artigo 150 da CF88, a majoração do Tributo somente poderia ser feita por força de lei (princípio da legalidade). Alterar a base de cálculo, majorando-a é mero subterfúgio para onerar os contribuintes: Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; A coexistência de dois “Valores Venais” também se mostra ilegal. Harada, Kiyoshi nos ensina: “O valor venal de imóvel urbano é aquele encontrado segundo a legislação pertinente ao imposto predial e territorial urbano e é revisto ou atualizado anualmente. De fato, a legislação do IPTU dispõe de critério objetivo para apuração do valor venal, bem como de mecanismo para manter atualizado esse valor apurado em 1º de janeiro de cada exercício. Nada justifica apuração de outro valor Página 9 de 14 venal para o mesmo imóvel, só para o efeito de ITBI. A própria legislação estadual para cobrança do imposto sobre transmissão causa mortis determina a utilização da base de cálculo do IPTU ou do ITR, conforme se trate, respectivamente, de imóvel urbano ou rural, ressalvado aos interessados o direito de requererem avaliação judicial (art. 15 da Lei nº 9.591, de 30-12-6)” 6 A própria lei Estadual 10.705/00, estabelece limites que foram subjugados pelo Decreto 55.002/09. Expressamente a lei prevê o uso do valor venal para fins do IPTU. Vejamos os artigos 9º e 13º: Artigo 9º - A base de cálculo do imposto é o valor venal do bem ou direito transmitido, expresso em moeda nacional ou em UFESPs (Unidades Fiscais do Estado de São Paulo). § 1º - Para os fins de que trata esta lei, considera-se valor venal o valor de mercado do bem ou direito na data da abertura da sucessão ou da realização do ato ou contrato de doação. Artigo 13 - No caso de imóvel, o valor da base de cálculo não será inferior: I - em se tratando de imóvel urbano ou direito a ele relativo, ao fixado para o lançamento do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana IPTU; Inúmeros são os julgados em sede tanto de mandado de segurança, quanto em ações de repetição de indébito, que corroboram com a tese: MANDADO DE SEGURANÇA – ITCMD – Adoção do valor de referência do ITBI como base de cálculo – Descabimento – A base de cálculo do imposto é o valor venal utilizado para a cobrança do IPTU – Impossibilidade de aplicação do Decreto nº 55.002/09 que alterou a forma de cobrança do tributo, extrapolando os limites da Lei nº Estadual nº 10.705/00 6 “Direito Tributário Municipal”,segunda edição, São Paulo, Editora Atlas, p. 94 e 96 Página 10 de 14 (RITCMD, Decreto nº 46.655/02) – Precedentes – Segurança concedida na 1ª Instância – Sentença mantida – Recursos oficial e voluntário da FESP não providos. (TJSP; Apelação / Reexame Necessário 1029784- 50.2017.8.26.0053; Relator (a): Leme de Campos; Órgão Julgador: 6ª Câmara de Direito Público; Foro Central - Fazenda Pública/Acidentes - 7ª Vara de Fazenda Pública; Data do Julgamento: 26/02/2018; Data de Registro: 27/02/2018). (Grifei) APELAÇÃO CÍVEL. Mandado de segurança preventivo. IMPOSTO SOBRE TRANSMISSÃO "CAUSA MORTIS" E DOAÇÃO DE QUAISQUER BENS OU DIREITOS - ITCMD. Bem imóvel. Herança. Adoção pelo Estado de São Paulo do valor de referência do ITBI como base de cálculo do ITCMD, conforme previsto no Decreto n. 55.002/09. Pretensão ao reconhecimento do direito ao recolhimento do gravame com base no valor venal do imóvel utilizado para fins de pagamento do IPTU, nos termos da Lei Estadual nº 10.705/2000. Sentença de primeiro grau que denegou a segurança. 1. ITCMD. Bem imóvel. Base de cálculo. Valor venal do imóvel utilizado para fins de cobrança do IPTU. Reconhecimento. Aplicabilidade da inteligência do comando inserto no artigo 13, inciso I, da Lei nº 10.705/00. Impossibilidade de alteração da base de cálculo de tributo por decreto. Princípios (no campo penal e tributário). Reserva de lei (= reserva constitucional de lei = reserva horizontal de lei = reserva formal de lei) através da qual a Constituição reserva à lei a regulamentação de certas matérias; (2) congelamento do grau hierárquico, dado que, de acordo com este princípio, regulada por lei uma determinada matéria, o grau hierárquico da mesma fica congelado e só uma outra lei poderá incidir sobre o mesmo objeto; (3) precedência da lei ou primariedade da lei (= Página 11 de 14 reserva vertical de lei), pois não existe exercício de poder regulamentar sem fundamento numa lei prévia anterior. Reserva legal absoluta, no caso. 2. Como na inicial não se nomina e transcreve quais os imóveis são objeto do 'writ' (descrição, matrícula etc), fica consignado ser (em) exclusivamente o (s) advindo (s) da sucessão de que se trata neste mandado de segurança. 3. Sentença reformada. Ordem concedida, com observação. Recurso dos impetrantes provido. (TJ-SP - APL: 10349211820148260053 SP 1034921-18.2014.8.26.0053, Relator: Oswaldo Luiz Palu, Data de Julgamento: 19/08/2015, 9ª Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 25/08/2015). 3.2. Quanto aos imóveis rurais. Da mesma forma, nos termos da indagação do Ilmo. colega, no que tange aos imóveis rurais, a utilização do valor médio divulgado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo ou por outro órgão, como prevê o Decreto 55.002/09, fere nos exatos termos acima elencados, os princípios do Direito Tributário. Nesse sentido, são inúmeros os julgados. Como exemplo citamos: REPETIÇÃO DE INDÉBITO – ITCMD – A base de cálculo do ITCMD, no caso em apreço, deve ser o valor venal do imóvel lançado para fins de ITR, em razão da ilegalidade do Decreto 55.002/09 – Ofensa ao artigo 150, inciso I, da Constituição Federal, e aos artigos 97 e 99 do CTN – Precedentes - R. Sentença mantida. CONSECTÁRIOS LEGAIS – Juros moratórios e correção monetária – Tratando-se de restituição de pagamento indevido que ostenta natureza tributária, aplica-se a taxa SELIC, a partir do trânsito em julgado, conforme decidido no REsp n° 1.111.189-SP, na sistemática dos recursos repetitivos, c/c verbete 188 da Súmula do STJ – Indexador que tem a dupla finalidade de atualizar o poder de compra do capital e penalizar a mora – Correção monetária da data em que recolhido o tributo, Página 12 de 14 pelos índices da Tabela Prática do TJ/SP até que comecem a ser contados os juros, a partir de quando só incidirá a SELIC – Inaplicabilidade da Lei nº 11.960/2009. Recurso improvido, com observação. (TJSP; Apelação 1001854- 38.2016.8.26.0103; Relator (a): Carlos Eduardo Pachi; Órgão Julgador: 9ª Câmara de Direito Público; Foro de Caconde - Vara Única; Data do Julgamento: 27/04/2017; Data de Registro: 27/04/2017). APELAÇÃO CÍVEL – REEXAME NECESSÁRIO - Mandado de Segurança com Pedido Liminar – ITCMD de imóvel rural – Cobrança do referido imposto com base no Decreto Estadual nº 55.002/2009 que alterou a base de calculo do imposto – Pleito que visa a utilização como base de cálculo do tributo, valor do ITR, afastando-se a utilização do valor fornecido pelo Instituo de Economia Agrícola do Estado de São Paulo - Sentença de procedência – Decisão escorreita - A base de cálculo do ITCMD deve ser o valor venal de referencia do ITR, em razão da ilegalidade do Decreto Estadual nº 55.002/09 – Inteligência do art. 97, II, § 1º, do CTN e da Lei º 10.705/00 – Sentença concessiva da ordem mantida - Recursos improvidos (TJ-SP 10344121820168260506 SP 1034412-18.2016.8.26.0506, Relator: Eduardo Gouvêa, Data de Julgamento: 10/01/2018, 7ª Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 10/01/2018) 3.3. Do incidente de inconstitucionalidade contra o valor venal de referência estabelecido pela PMSP. No que tange a ilegalidade do próprio valor venal de referência, o E. TJSP, em incidente de inconstitucionalidade, já decidiu: INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE Artigo 7º da Lei nº 11.154, de 30 de dezembro de 1991, com a redação dada pelas Leis nºs 14.125, de 29 de dezembro de 2005, e 14.256, de 29 de dezembro de 2006, todas do Município de São Paulo, que estabelece o valor pelo qual o bem ou direito Página 13 de 14 é negociado à vista, em condições normais de mercado, como a base de cálculo do Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis (ITBI) Acórdão que, a despeito de não manifestar de forma expressa, implicitamente também questionou as disposições dos artigos 7º-A, 7º-B e 12 da mesma legislação municipal Valor venal atribuído ao imóvel para apuração do ITBI que não se confunde necessariamente com aquele utilizado para lançamento do IPTU Precedentes do STJ Previsão contida no aludido artigo 7º que, nessa linha, não representa afronta ao princípio da legalidade, haja vista que, como regra, a apuração do imposto deve ser feita com base no valor do negócio jurídico realizado, tendo em consideração as declarações prestadas pelo próprio contribuinte, o que, em princípio, espelharia o "real valor de mercado do imóvel" "Valor venal de referência", todavia, que deve servir ao Município apenas como parâmetro de verificação da compatibilidade do preço declarado de venda, não podendo se prestar para a prévia fixação da base de cálculo do ITBI Impossibilidade, outrossim, de se impor ao sujeito passivo do imposto, desde logo, a adoção da tabela realizada pelo Município Imposto municipal em causa que está sujeito ao lançamento por homologação, cabendo ao próprio contribuinte antecipar o recolhimento Arbitramento administrativo que é providência excepcional, da qual o Município somente pode lançar mão na hipótese de ser constatada a incorreção ou falsidade na documentação comprobatória do negócio jurídico tributável Providência que, de toda sorte, depende sempre da prévia instauração do pertinente procedimento administrativo, na forma do artigo 148 do Código Tributário Nacional, sob pena de restar caracterizado o lançamento de ofício da exação, ao qual o ITBI não se submete Artigos 7º-A e 7º-B que, nesse passo, subvertem o procedimento estabelecido na legislação complementar tributária, em afronta ao princípio da legalidade estrita,inserido no artigo 150, inciso I, da Página 14 de 14 Constituição Federal Inadmissibilidade, ainda, de se exigir o recolhimento antecipado do tributo, nos moldes estabelecidos no artigo 12 da Lei Municipal nº 11.154/91, por representar violação ao preceito do artigo 156, inciso II, da Constituição Federal Registro imobiliário que é constitutivo da propriedade, não tendo efeito meramente regularizador e publicitário, razão pela qual deve ser tomado como fato gerador do ITBI Regime constitucional da substituição tributária, previsto no artigo 150, § 7º, da Constituição Federal, que nem tem lugar na espécie, haja vista que não se cuida de norma que autoriza a antecipação da exigibilidade do imposto de forma irrestrita Arguição acolhida para o fim de pronunciar a inconstitucionalidade dos artigos 7º-A, 7º-B e 12, da Lei nº 11.154/91, do Município de São Paulo. (TJ-SP - Arguição de Inconstitucionalidade: 00566931920148260000 SP 0056693-19.2014.8.26.0000, Relator: Paulo Dimas Mascaretti, Data de Julgamento: 25/03/2015, Órgão Especial, Data de Publicação: 23/04/2015). IV. CONCLUSÃO: Diante do exposto, chega-se a conclusão de que é possível o embate em sede de Ação Direta de Inconstitucionalidade, diante do flagrante ataque ao princípio da reserva legal pelo Decreto 55.002/09, sendo a OAB/SP legítima para a propositura do feito. São Paulo, 12 de março de 2018. Leandro Augusto Rêgo OAB/SP: 293.281
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