Buscar

Homem e Cultura - aula dialogada

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Centro Universitário de Patos de Minas – UNIPAM
Disciplina: Cultura e Sociedade		
Professor Altamir Fernandes
Tema: O homem e a Cultura
3. O homem e a cultura
3.1 O homem: ser biológico e cultural
	
 A CULTURA INTERFERE NO PLANO BIOLÓGICO
 A cultura interfere na satisfação das necessidades fisiológicas básicas. Veremos, agora, como ela pode condicionar outros aspectos biológicos e até mesmo decidir sobre a vida e a morte dos membros do sistema. 
 Comecemos pela reação oposta ao etnocentrismo, que é a apatia. Em lugar da superestima dos valores de sua própria sociedade, numa dada situação de crise os membros de uma cultura abandonam a crença nas mesmas e, consequentemente, perdem a motivação que os mantém unidos e vivos. Diversos exemplos dramáticos deste tipo de comportamento anômico são encontrados em nossa própria história. 
 Os africanos removidos violentamente de seu continente (ou seja, de seu ecossistema e de seu contexto cultural) e transportados como escravos para uma terra estranha, habitada por pessoas de fenotipia, costumes e línguas diferentes, perdiam toda a motivação de continuar vivos. Mui​tos foram os suicídios praticados, e outros acabavam sendo mortos pelo mal que foi denominado de banzo. Traduzido como saudade, o banzo é de fato uma forma de morte de corrente da apatia. 
Foi, também, a apatia que dizimou parte da população Kaingang de São Paulo, quando teve o seu território invadido pelos construtores da Estrada de Ferro Noroeste. Ao perceberem que os seus recursos tecnológicos, e mesmo os seus sobrenaturais, eram impotentes diante do poder da sociedade branca, estes índios perderam a crença em sua sociedade. Muitos abandonaram a tribo, outros simplesmente esperaram pela morte que não tardou. 
Entre os índios Kaapor, grupo tupi do Maranhão, acredita-se que se uma pessoa vê um fantasma ela logo morrerá. O principal protagonista de um filme, realizado em 1953 por Darcy Ribeiro e Hains Forthmann, ao regressar de uma caçada contou ter visto a alma de seu falecido pai perambulando pela floresta. O jovem índio deitou em uma rede e dois dias depois estava morto. Em 1967, durante a nossa permanência entre os índios (quando a história acima nos foi contada), fomos procurados por uma mulher, em estado de pânico, que teria visto um fantasma (añan). Confiante nos poderes do branco, nos solicitou um “añan-puhan” (remédio para fantasma). Diante de uma situação crítica, acabamos por fornecer-lhe um comprimido vermelho de vitaminas, que foi considerado muito eficaz, neste e em outros casos, para neutralizar o malefício provocado pela visão de um morto. 
É muito rica a etnografia africana no que se refere às mortes causadas por feitiçaria. A vítima, acreditando efetivamente no poder do mágico e de sua magia, acaba realmente morrendo. Pertti Pelto descreve esse tipo de morte como sendo consequência de um profundo choque psicofisiológico: “A vítima perde o apetite e a sede, a pressão sanguínea cai, o plasma sanguíneo escapa para os tecidos e o coração deteriora. Ela morre de choque, o que é fisiologicamente a mesma coisa que choque de ferimento na guerra e nas mortes de acidente de estrada”. E de se supor que em todos os casos relatados o procedimento orgânico que leva ao desenlace tenha sido o mesmo. 
Deixando de lado esses exemplos mais drásticos sobre a atuação da cultura sobre o plano biológico, podemos agora nos referir a um campo que vem sendo amplamente estudado: o das doenças psicossomáticas. Estas são fortemente influenciadas pelos padrões culturais. Muitos brasileiros, por exemplo, dizem padecer de doenças do fígado, embora grande parte dos mesmos ignorem até a localização do órgão. Entre nós são também comuns os sintomas de mal estar provocados pela ingestão combinada de alimentos. Quem acredita que o leite e a manga constituem uma combinação perigosa, certamente sentirá um forte incômodo estomacal se ingerir simultaneamente esses alimentos.
A sensação de fome depende dos horários de alimentação que são estabelecidos diferentes em cada cultura. “Meio-dia, quem não almoçou assobia”, diz um ditado popular. E de fato, estamos condicionados a sentir fome no meio do dia, por maior que tenha sido o nosso desjejum. A mesma sensação se repetirá no horário determinado para o jantar. Em muitas sociedades humanas, entretanto, estes horários foram estabelecidos diferentemente e , em alguns casos, o indivíduo pode passar um grande número de horas sem se alimentar e sem sentir a sensação de fome.
 A cultura também é capaz de provocar curas de doenças, reais ou imaginárias. Estas curas ocorrem quando existe a fé do doente na eficácia do remédio ou no poder dos agentes culturais. Um destes agentes é o xamã de nossas sociedades tribais (entre os Tupis, conhecidos pela denominação de pai’é ou pajé). Basicamente, a técnica de cura do xamã consiste em uma sessão de cantos e danças, além da defumação do paciente com a fumaça de seus grandes charutos (petin), e a posterior retirada de um objeto estranho do interior do corpo do doente por meio de sucção. O fato de que esse pequeno objeto (pedaço de osso, insetos mortos etc.) tenha sido ocultado dentro de sua boca, desde o início do ritual, não é importante. O que importa é que o doente é tomado de urna sensação de alívio, e em muitos casos a cura se efetiva.
		A descrição de uma cura dará, talvez, uma ideia mais detalhada do processo. Após cerca de uma hora de cantar, dançar e puxar no cigarro, o pajé recebeu o espírito. Aproximando-se do doente que estava sentado em um banco, o pajé soprou a fumaça primeiro sobre as próprias mãos e, em seguida, sobre o corpo do paciente. Ajoelhando-se junto a ele, esfregou-lhe o peito e o pescoço. A massagem era dirigida para um ponto no peito do doente e o pajé esfregava as mãos como se tivesse juntado qualquer coisa. Interrompia a massagem para soprar a fumaça nas mãos e esfregá-las uma na outra, como se quisesse livrá-las de uma substância invisível. Após muitas massagens no doente, levantou-lhe os braços e encostou seu peito ao dele. Queria assim passar o ymaé ( a causa da doença, aquilo que um ser sobrenatural faz ao entrar no corpo da vítima) do doente para o seu próprio corpo. Não o conseguiu e voltou a repetir as massagens, dessa vez dirigidas para o ombro. Aí aplicou a boca e chupou com muita força. Repetiu as massagens e sucções, intercalando-as com baforadas de cigarro e contrações como se fosse vomitar. Finalmente, conseguiu extrair e vomitar o ymaé, que fez desaparecer na mão. Nas curas a que assistimos, os pajés jamais mostraram o ymaé que extraíam dos doentes. Guardavam-nos por algum tempo dentro da mão, livre do cigarro, para fazê-lo desaparecer após. Explicavam, porém, à audiência a sua natureza, o que parecia bastante. Dizem que os pajés mais poderosos o fazem, e algumas pessoas guardam pequenos objetos que acreditam terem sido retirados de seu corpo por um pajé. 
 LARAIA, Roque de Barros. A cultura interfere no plano biológico. In. ____________, Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: 19 ed. Jorge ZAHAR Editor, 2006. p. 75 -79. 
3.2 A cultura: definições, cultura popular, cultura erudita e indústria cultural 
			A origem da palavra CULTURA 
* Uma definição da cultura é difícil, porque a cultura pode ser estudada de vários pontos de vista. 
* primeiro significado da palavra cultura na tradição romana. A palavra cultura é latina e sua origem é o verbo colere. Colere significava, na língua romana mais antiga, “eu cultivo”; particularmente, “eu cultivo solo”. A primeira acepção de colere estava ligada ao mundo agrário. Os romanos começaram efetivamente pela agricultura. A palavra agricultura diz muito: “cultura do campo”.
* Inicialmente, a palavra cultura, por ser um derivado de colo, significava, rigorosamente, “aquilo que deve ser cultivado”. 
* Esse significado relacionado com a sociedade agrária, durou séculos; até que os romanos conquistaram a Grécia (146 a.C.) e foram em parte helenizados. E os gregos tinham já umapalavra para o desenvolvimento humano, que era paideia.
* Paideia significava, inicialmente, o conjunto de conhecimentos que se devia transmitir às crianças – paidós (criança é paidós); mais tarde era o "processo de educação em sua forma verdadeira, a forma natural e genuinamente humana" na Grécia antiga, ou seja, a ampliação do conceito fez com que ele passasse também a designar o resultado do processo educativo que se prolonga por toda vida, muito para além dos anos escolares.
* Mas, conhecendo a palavra paideia e não querendo usá-la porque era uma palavra estrangeira, os romanos passaram a traduzi-la por cultura. A palavra cultura passou do significado puramente material que tinha em relação à vida agrária para um significado intelectual, moral, que significa conjunto de ideias e valores.
* Se tivéssemos que definir a palavra a partir dessas considerações, teríamos uma riqueza de possibilidades, porque a cultura, pensada como um conjunto de ideias, valores e conhecimentos, traz dentro de si, em primeiro lugar, a dimensão do passado. A primeira ideia que temos quando falamos em cultura é a de transmissão de conhecimentos e valores de uma geração para outra, de uma instituição para outra, de um país para outro; subsiste sempre a ideia de algo que já foi estabelecido em um passado – que pode ser um passado próximo ou um passado remoto.
* A palavra cultura tem vários significados, tais como cultura da terra ou cultura de uma pessoa letrada, “culta”. Em antropologia, cultura significa tudo que o ser humano produz ao construir sua existência: as práticas, as teorias, as instituições, os valores materiais e espirituais. Se o contato com o mundo é intermediado pelo símbolo, a cultura é o conjunto de símbolos elaborados por um povo. Dada a infinita possibilidade humana de simbolizar, as culturas são múltiplas e variadas: são inúmeras as maneiras de pensar, de agir, de expressar anseios, temores e sentimentos em geral. Por isso mudam as formas de trabalhar, de se ocupar com o tempo livre, mudam as expressões artísticas e as maneiras de interpretar o mundo, tais como o mito, a filosofia ou a ciência. (texto adaptado de Alfredo Bosi)
	NATUREZA E CULTURA
	No pensamento ocidental, natureza possui vários sentidos:
Organização universal e necessária dos seres segundo uma ordem regida por leis naturais. Ou seja, a natureza se caracteriza pelo ordenamento dos seres, pela regularidade dos fenômenos ou dos fatos, pela frequência, constância e repetição de encadeamentos fixos entre as coisas, 
Tudo o que existe no universo sem a intervenção da vontade e da ação humanas. Natural é tudo quanto se produz e se desenvolve sem qualquer interferência humana.
Conjunto de tudo quanto existe e é percebido pelos humanos como o meio e o ambiente no qual vivem. A natureza aqui, tanto significa o conjunto das condições físicas onde vivemos, quanto aquelas coisas que contemplamos com emoção (a paisagem, o mar, o céu, as estrelas, os terremotos.
	Dois são os significados iniciais da noção de cultura:
01 – de acordo com o sociólogo Raymond Williams, a palavra cultura vinda do verbo latino colere, que significa cultivar, criar, tomar conta e cuidar. Cultura significa o cuidado do homem com a natureza. Donde: agricultura. Significava, também, cuidado dos homens com os deuses. Donde: culto. Significava ainda, o cuidado com a alma e o corpo das crianças, com sua educação e formação. Donde: puericultura (em latim, puer significa menino; puera, menina),ou seja, conjunto de noções e técnicas voltadas para o cuidado médico, higiênico, nutricional, psicológico etc., das crianças pequenas, da gestação até quatro ou cinco anos de idade.
	A cultura é o aprimoramento da natureza humana pela educação em sentido amplo, isto é, como formação das crianças não só pela alfabetização, mas também pela iniciação à vida da coletividade por meio do aprendizado da música, dança, ginástica, gramática, poesia, história, filosofia, etc. A pessoa culta era a pessoa moralmente virtuosa, politicamente consciente e participante, intelectualmente desenvolvida pelo conhecimento das ciências, das artes e da filosofia. É este sentido que leva muitos, ainda hoje, a falar em “cultos” e “incultos”.
02 – A partir do século XVIII, cultura passa a significar os resultados daquela formação ou educação dos seres humanos, resultados expressos em obras, feitos, ações e instituições: as artes, as ciências, a Filosofia, os ofícios, a religião e o Estado. Foi na Europa, a partir do século XVIII, que o conceito de cultura passou a ser associado ao conceito de civilização.
No correr da história do ocidente, esse sentido foi-se perdendo até que, no século XVIII, com a Filosofia da Ilustração, a palavra cultura ressurge, mas como sinônimo de um outro conceito, torna-se sinônimo de civilização. Sabemos que civilização deriva-se de ideia de vida civil, portanto, de vida política e de regime político. Com o Iluminismo, a cultura é o padrão ou o critério que mede o grau de civilização de uma sociedade. Assim, a cultura passa a ser encarada como um conjunto de práticas (artes, ciências, técnicas, filosofia, os ofícios) que permite avaliar e hierarquizar o valor dos regimes políticos, segundo um critério de evolução. No conceito de cultura introduz-se a ideia de tempo, mas de um tempo muito preciso, isto é, contínuo, linear e evolutivo, de tal modo que pouco a pouco, cultura torna-se sinônimo de progresso. Avalia-se o progresso de uma civilização pela sua cultura e avalia-se a cultura pelo progresso que traz a uma civilização.
	O conceito iluminista de cultura, profundamente político e ideológico, reaparece no século XIX, quando se constitui um ramo das ciências humanas, a antropologia. No início da constituição da antropologia, os antropólogos guardarão o conceito iluminista de evolução ou progresso. Por tornarem a noção de progresso como medida de cultura, os antropólogos estabeleceram um padrão para medir a evolução ou o grau de progresso de uma cultura e esse padrão foi, evidentemente, o da Europa capitalista. As sociedades passaram a ser avaliadas segundo a presença ou a ausência de alguns elementos que são próprios do ocidente capitalista e a ausência desses elementos foi considerada sinal de falta de cultura ou de uma cultura pouco evoluída. Que elementos são esses? O Estado, o mercado e a escrita. Todas as sociedades que desenvolvessem formas de troca, comunicação e poder diferentes do mercado, da escrita e do Estado europeu, foram definidas como culturas “primitivas”. Em outras palavras, foi introduzido um conceito de valor para distinguir as formas culturais.
	Voltaire e Kant cultura e civilização representavam ambas, o processo de aperfeiçoamento moral e racional da sociedade, sendo a cultura a forma de avaliar o estágio de progresso e desenvolvimento de uma civilização. 
	Aqui tem início a separação e posteriormente, a oposição entre natureza e cultura. Os pensadores consideram que há entre o homem e a natureza uma diferença essencial: esta opera mecanicamente de acordo com leis necessárias de causa e efeito, mas aquele é dotado de liberdade e razão, agindo por escolha, de acordo com valores e fins. A natureza é o reino da necessidade causal, do determinismo cego. A humanidade ou a cultura é o reino da finalidade livre, das escolhas racionais, dos valores, da distinção entre bem e mal, o verdadeiro e falso, justo e injusto, belo e feio.
	À medida que este segundo sentido foi prevalecendo, cultura passou a significar, em primeiro lugar, as obras humanas que se exprimem numa civilização, mas, em segundo lugar, passou a significar a relação que os humanos, socialmente organizados, estabelecem com o tempo e com o espaço, com os outros humanos e com a natureza, relações que se transformam e variam. Agora, cultura torna-se sinônimo de História. A natureza é o reino da repetição; a cultura, o da transformação racional; portanto, é a relação dos humanos com o tempo e no tempo.
Cultura e História
	Marx enfatizou a cultura como História.A História-Cultura é o modo como, em condições determinadas e não escolhidas, os homens produzem materialmente (pelo trabalho, pela organização econômica) sua existência e dão sentido a essa produção material. A História-Cultura narra as lutas reais dos seres humanos reais que produzem e reproduzem suas condições materiais de existência, isto é, produzem e reproduzem as relações sociais, pelas quais distinguem-se da natureza e diferenciam-se uns dos outros em classes sociais antagônicas.
	O movimento da História-Cultura é realizado pela luta de classes sociais para vencer formas de exploração econômica, opressão social, dominação política. Modo de produção antigo (Grécia, Roma), modo de produção feudal (Idade Média), capitalismo comercial ou mercantil, capitalismo industrial são as maneiras pelas quais surgem e ser organizam as formações sociais.
Cultura e Antropologia
A antropologia é uma ciência social surgida no século XVIII. Porém, foi somente no século XIX que se organizou como disciplina científica. A palavra tem o seguinte significado: antropo=homem e logia=estudo. 
	A antropologia, como ciência, desenvolveu-se principalmente a partir do século XVIII com a expansão colonial europeia. Novos territórios vinham sendo descobertos e ocupados pelas potências europeias (principalmente a Inglaterra) e novos povos (considerados primitivos, quando comparados com a sociedade ocidental) eram contactados. Era preciso conhecer e compreender seus hábitos, costumes e valores, principalmente para melhor dominá-los. A antropologia surgiu, como se pode deduzir, como consequência da política imperialista e com o intuito de auxiliá-la. Ao longo do tempo, porém, a atuação dos antropólogos desenvolveu-se de maneira mais independente e num sentido muitas vezes oposto ao que deles se exigia. 
Estudo antropológico 
Esta ciência estuda, principalmente, os costumes, crenças, hábitos e aspectos físicos dos diferentes povos que habitaram e habitam o planeta.
Portanto, os antropólogos estudam a diversidade cultural dos povos. Como cultura, podemos entender todo tipo de manifestação social. Modos, hábitos, comportamentos, folclore, rituais, crenças, mitos e outros aspectos são fontes de pesquisa para os antropólogos.
	Nas últimas décadas, o estudo do “outro” (outros povos, suas crenças e costumes) passa a se desenvolver no sentido político de mostrar que diferenças culturais não significam inferioridade nem justificam a dominação. Por essa razão, a antropologia ajudou a desqualificar o etnocentrismo (isto é, a tendência a valorizar a própria cultura, tomando-a como parâmetro para avaliar as demais, ocorre quando um determinado individuo ou grupo de pessoas, que têm os mesmos hábitos e caráter social, discrimina outro, julgando-se melhor, seja pela sua condição social, pelos diferentes hábitos) e a admitir o relativismo cultural. Para ela, cada sociedade possui o direito de se desenvolver de modo autônomo, não existindo uma teoria sobre a humanidade que possua alcance universal, e que seja capaz de impor-se a outras, com base em qualquer tipo de superioridade.
	Diferentemente de Marx, que toma a cultura pela perspectiva histórica, a antropologia considera a cultura por um outro prisma. O antropólogo procura, antes de mais nada, determinar em que momento e de que maneira os humanos se afirmam como diferentes da natureza fazendo o mundo cultural surgir. Tradicionalmente, dizia-se que os humanos diferem da natureza graças à linguagem e à ação por liberdade. O antropólogo, sem negar essa afirmação, procura algo mais profundo do que isso como início das culturas. Assim, para muitos antropólogos, a diferença homem-natureza surge quando os humanos decretam uma lei que não poderá ser transgredida sem levar o culpado à morte, exigida pela comunidade: a lei da proibição do incesto, desconhecida pelos animais. Para muitos antropólogos, a diferença homem-natureza também é estabelecida quando os humanos definem uma lei que, se transgredida, causa a ruína da comunidade e o indivíduo: a lei que separa o cru e o cozido, desconhecida dos animais.
	A lei humana é um imperativo social que organiza toda a vida dos indivíduos e da comunidade, determinando o modo como são criados os costumes, como são transmitidos de geração a geração, como fundam as instituições sociais (religião, família, formas do trabalho, guerra e paz, distribuição das tarefas, formas do poder,etc). A lei não é uma simples proibição para certas coisas e obrigação para outras, mas é a afirmação de que os humanos são capazes de criar uma ordem de existência que não é simplesmente natural (física, biológica). Esta ordem é a ordem simbólica.
	Quando dizemos que a cultura é a invenção de uma ordem simbólica, estamos dizendo que nela e por ela os humanos atribuem à realidade significações novas por meio das quais são capazes de se relacionar com o ausente: pela palavra, pelo trabalho, pela memória, pela diferenciação do tempo (passado, presente, futuro), pela diferenciação do espaço (próximo, distante, grande, pequeno, alto, baixo), pela diferenciação entre o visível e o invisível (os deuses, o passado, o distante no espaço) e pela atribuição de valores às coisas e aos homens (bom, mau, justo, injusto, belo, feio, verdadeiro, falso, possível, impossível).
	Comunicação (por palavras, gestos, sinais, escrita, monumentos), trabalho (transformação da natureza), determinação de regras e normas para a realização do desejo, percepção da morte e doação de sentido a ela, percepção da diferença sexual e doação de sentido a ela, interdições e punição das transgressões, determinação da origem e da forma de poder legítimo e ilegítimo, criação de formas expressivas para a relação com o outro com o tempo (dança, música, rituais, guerra e paz, pintura, escultura, construção da habitação, culinária, tecelagem, vestuário, etc) são as principais manifestações do surgimento da cultura.
	Em termos antropológicos, podemos então, definir a cultura como tendo três sentidos principais:
Criação da ordem simbólica da lei, isto é, de sistemas de interdições e obrigações estabelecidos a partir da atribuição de valores a coisas (boas, más, perigosas, sagradas, diabólicas), a humanos e suas relações (diferença sexual e proibição do incesto, virgindade, fertilidade, puro-impuro, virilidade; diferença etária e forma de tratamento dos mais velhos e mais jovens; diferença de autoridade e formas de relação com o poder, etc) e aos acontecimentos (significado da guerra, da peste, da fome, do nascimento e da morte, obrigação de enterrar os mortos, proibição de ver o parto, etc);
A criação de uma ordem simbólica da linguagem, do trabalho, do espaço, do tempo, do sagrado e do profano, do visível e do invisível. Os símbolos surgem tanto para representar quanto para interpretar a realidade, dando-lhe sentido pela presença do humano no mundo;
Conjunto de práticas, comportamentos, ações e instituições pelas quais os humanos se relacionam entre si e com a natureza e dela se distinguem, agindo sobre ela ou através dela, modificando-a. Este conjunto funda a organização social, sua transformação e sua transmissão de geração a geração.
	Em sentido antropológico, não falamos em cultura no singular, mas em culturas, no plural, pois a lei, os valores, as crenças, as práticas e instituições variam de formação social para formação social.
	Assim, compreendemos que a cultura é a maneira pela qual os humanos se humanizam por meio de práticas que criam a existência social, econômica, política, religiosa, intelectual e artística.
	A religião, a culinária, o vestuário, o mobiliário, as formas de habitação, os hábitos à mesa, as cerimônias, o modo de relacionar-se com os mais velhos e os mais jovens, com os animais e com a terra, os utensílios, as técnicas, as instituições sociais (como a família) e políticas (como o Estado), os costumes diante da morte, a guerra, o trabalho, as ciências, a Filosofia, as artes, os jogos, as festas, os tribunais, as relações amorosas, as diferenças sexuais e étnicas,tudo isso constitui a cultura como invenção da relação com o outro.
O mundo cultural é um sistema de significados já estabelecidos por outros, de modo que, ao nascer, a criança encontra o mundo de valores já dados, onde ela vai se situar. A língua que aprende, a maneira de se alimentar, o jeito de se sentar, andar, correr, brincar, o tom da voz nas conversas, as relações familiares; tudo, enfim, se acha codificado. Até na emoção, que nos parece uma manifestação tão espontânea, ficamos à mercê de regras que educam desde a infância a nossa expressão.
Valores e normas
	Segundo o sociólogo inglês, Anthony Giddens, as ideias que definem o que é importante, útil ou desejável são fundamentais em todas as culturas. Essas ideias abstratas, ou valores, atribuem significado e orientam os seres humanos na sua interação com o mundo social. A monogamia – a fidelidade a um único parceiro sexual – é um exemplo de um valor proeminente na maioria das sociedades ocidentais. As normas são as regras de comportamento que refletem ou incorporam os valores de uma cultura. As normas e os valores determinam entre si a forma como os membros de uma determinada cultura se comportam. Em culturas em que se valoriza grandemente a aprendizagem, por exemplo, as normas culturais encorajam os alunos a despender grande energia ao estudo, apoiando os pais que fazem sacrifícios em prol da educação dos filhos. Numa cultura que valoriza a hospitalidade, as normas culturais podem estimular expectativas quanto à dádiva de presentes ou ao comportamento social de convidados e anfitriões.
	As normas e os valores variam muitíssimo entre culturas. Algumas valorizam grandemente o individualismo, enquanto outras podem enfatizar as necessidades coletivas. Mesmo no seio de uma sociedade ou comunidade, os valores podem ser contraditórios: alguns grupos ou indivíduos podem valorizar crenças religiosas tradicionais, enquanto outros podem aprovar o progresso e a ciência. Há pessoas que preferem o sucesso e o conforto material, outras favorecem a simplicidade e uma vida pacata. Nesta época em que vivemos marcada pela mudança, repleta de movimentos globais de pessoas, bens e informação, não é de estranhar que deparemos com casos de valores culturais em conflito.
Normas e valores culturais em mudança
	As normas e os valores culturais mudam frequentemente ao longo do tempo. Muitas das normas que hoje tomamos como assentes nas nossas vidas – como ter relações sexuais antes do casamento e haver uniões de fato – contradizem valores que até há algumas décadas atrás eram partilhados por muitos. Os valores que regem a nossa vida íntima evoluíram gradual e naturalmente durante muitos anos. Mas que dizer de instâncias em que os comportamentos e as normas culturais se alteraram de uma forma deliberada?
	Os valores e as normas culturais estão profundamente interiorizados. Muitos dos nossos hábitos e comportamentos estão enraizados em normas culturais. Os gestos, movimentos e expressões são fortemente influenciados por fatores culturais. Um bom exemplo é representado pelo sorriso das pessoas – especialmente em contextos públicos – de diferentes culturais. Entre os Inuit (esquimós) da Groenlândia, por exemplo, não existe a sólida tradição de sorrir em público que se verifica em muitas regiões da Europa e da América do Norte. Tal não significa que os Inuit sejam pessoas frias ou hostis, mas que sorrir ou ser simpático para com desconhecidos não é simplesmente uma prática comum. No entanto, à medida que a industrialização se expande na Groenlândia, alguns patrões têm tentado incutir o sorriso como um valor cultural. Acreditam que sorrir e ser gentil para com os clientes é essencial às práticas comerciais numa lógica de mercado. Os clientes que são atendidos com um sorriso e com palavras gentis acabam, com mais probabilidade, por se tornar clientes habituais. A inauguração de restaurantes de fast food, como a cadeia McDonalds, introduziu pela primeira vez uma abordagem de estilo ocidental nos serviços. Os empregados do McDonalds foram instruídos no sentido de se apresentarem, de cumprimentarem os clientes e de sorrirem frequentemente. Os empregados começaram por sentir alguma desconfiança perante estas exigências, entendendo este estilo de atendimento como falso e artificial. No entanto, com o tempo a ideia de sorrir em público – pelo menos no local de trabalho – tornou-se mais aceite. 
Diversidade cultural
 Não são só as crenças culturais que variam de cultura para cultura. Também a diversidade do comportamento e práticas humanas é extraordinária. As formas aceites de comportamento variam grandemente de cultura para cultura, contrastando frequentemente de um modo radical com o que as pessoas das sociedades ocidentais consideram “normal”. Por exemplo, no Ocidente moderno as crianças de doze ou treze anos são consideradas demasiado novas para casar. No entanto, em outras culturas são arranjados casamentos entre crianças dessas idades. No ocidente, comemos ostras, mas não comemos gatinhos e cachorros e tanto uns como outros são considerados, em algumas partes do mundo, iguarias gastronômicas. Os judeus não comem carne de porco, enquanto os hindus, embora comam porco, evitam a carne de vaca. Os ocidentais consideram o ato de beijar uma parte natural do comportamento sexual, mas em muitas outras culturas esse ato ou é desconhecido ou considerado de mau gosto. Todos esses diferentes tipos de comportamento são aspectos das grandes diferenças culturais que distinguem as sociedades umas das outras.
A cultura desempenha um papel importante na perpetuação das normas e valores de uma sociedade, oferecendo também oportunidades importantes de criatividade e de mudança. As subculturas (qualquer segmento da população que se distinga do resto da sociedade em virtude dos seus padrões culturais. A variedade de subculturas é enorme, podendo incluir naturistas, góticos, hackers informáticos, fãs de Hip Hop) e as contraculturas – grupos que rejeitam a maior parte das normas e dos valores vigentes numa sociedade – podem promover pontos de vista alternativos à cultura dominante. Os movimentos sociais e os grupos de pessoas que partilham os mesmos estilos de vida constituem forças poderosas de mudança no interior das sociedades.
Etnocentrismo
	Todas as culturas têm um padrão de comportamento próprio, que parece estranho a pessoas de outros contextos culturais. Se já viajou ao estrangeiro, é lhe provavelmente familiar a sensação resultante de se encontrar inserido numa cultura nova. Certos aspectos da vida cotidiana que, em determinada cultura, são inconscientemente tomados como assentes podem, em outras partes do mundo, não fazer parte do dia a dia. Mesmos países que partilham a mesma língua podem ter hábitos, costumes e modos de comportamento bem diferentes. A expressão choque cultural é adequada. É frequente as pessoas sentirem-se desorientadas, quando se inserem numa cultura nova, pois perdem os pontos de referência que lhes são familiares e que ajudam a entender o mundo que as rodeia e ainda não aprenderam a orientar-se na nova cultura.
	As culturas podem ser extremamente difíceis de entender quando vistas de fora. Não é possível compreender crenças e práticas se as separamos das culturas de que fazem parte. Uma cultura tem de ser estudada segundo os seus próprios significados e valores – um pressuposto essencial da Sociologia. Esta ideia é também conhecida como relativismo cultural. Os sociólogos esforçam-se o mais possível por evitar o etnocentrismo, que consiste em julgar as outras culturas tomando como medida de comparação a nossa. Dada a ampla variação das culturas humanas, não é surpreendente que as pessoas provenientes de uma cultura achem frequentemente difícil aceitar as ideias ou o modo de comportamento das pessoas de uma diferente.
	Aplicar o relativismo cultural – isto é, analisar uma situação segundo os padrões de outra cultura, suspendendo os nossos valores culturais bem enraizados – pode ser algo repleto de incerteza e desafios. Nãoapenas porque se pode revelar difícil ver as coisas de um ponto de vista completamente diferente, mas também porque às vezes se levantam questões inquietantes. O relativismo implica que julguemos todos os costumes e comportamentos como sendo igualmente legítimos? Existirão padrões universais que todos os seres humanos deveriam seguir? Atente no exemplo seguinte.
	Nos anos que se seguiram à retirada militar da União Soviética do Afeganistão, a região foi assolada por conflitos e pela guerra civil. Grande parte do país passou a ser controlada pelos Taliban (o regime dos Taliban foi derrubado pela aliança entre os seus opositores e forças externas, nomeadamente norte-americanas, devido ao fato de apoiarem a Al-Qaeda, organização responsável pelos atentados nos EUA, em 11 de setembro de 2001), um grupo que tinha como objetivo construir uma sociedade pura de acordo com os princípios islâmicos. Durante o governo Taliban, as mulheres afegãs foram sujeitas a regras muito estritas em todos os aspectos das suas vidas, incluindo o modo de vestir, os seus movimentos em público e os seus assuntos privados. Quando saíam de casa, as mulheres deviam estar cobertas dos pés à cabeça e usar uma burka (é uma veste feminina que cobre todo o corpo, até o rosto e os olhos) para esconder a cara. As mulheres perderam o direito de trabalhar fora de casa e o direito à educação. A versão taliban da lei islâmica Sharia (nome que se dá ao código de leis do islamismo; ao contrário da maioria das sociedades ocidentais dos nossos tempos, não há separação entre a religião e o direito, todas as leis sendo religiosas e baseadas ou nas escrituras sagradas ou nas opiniões de líderes religiosos) é por muitos eruditos muçulmanos considerada rigorosa. Apesar das críticas da comunidade internacional e de campanhas empenhadas em favor das mulheres afegãs, os Taliban defendiam que a sua política face à mulheres era essencial ao propósito de construir uma sociedade pura onde as mulheres eram respeitadas ao máximo e a sua dignidade venerada.
Socialização
	Como já se tornou claro, a cultura pertence a esses aspectos da sociedade que são aprendidos e portanto, não inatos. A socialização é o processo através do qual as crianças, ou outros novos membros da sociedade, aprendem o modo de vida da sociedade em que vivem. Este processo constitui o principal canal de transmissão da cultura através do tempo e das gerações.
	Os animais menores da escala da evolução são capazes de tratar de si muito pouco tempo após nascerem, com pouca ou nenhuma ajuda por parte dos adultos. A criança humana é a mais desamparada de todas as crias. Uma criança não consegue sobreviver sozinha e sem ajuda, pelo menos durante os primeiros quatro ou cinco anos de vida. A socialização é, portanto, o processo pelo qual as crianças indefesas se tornam gradualmente seres autoconscientes, com saberes e capacidades, treinadas nas formas de cultura em que nasceram. 
	Os sociólogos referem-se muitas vezes à socialização como algo que ocorre em duas fases amplas, que envolvem um certo número de diferentes agências de socialização – grupos ou contextos sociais onde ocorrem importantes processos de socialização. A socialização primária decorre durante a infância e constitui o período mais intenso de aprendizagem cultural. É a altura em que a criança aprende a falar e aprende os mais básicos padrões comportamentais que são os alicerces de aprendizagens posteriores. Nesta fase, a família é o principal agente de socialização. A socialização secundária decorre desde um momento mais tardio na infância até à idade adulta. Nesta fase, outros agentes de socialização assumem alguma responsabilidade que pertencia à família. As escolas, instituições, os meios de comunicação e eventualmente o local de trabalho, tornam-se forças de socialização de um indivíduo. Nestes contextos, as interações sociais ajudam as pessoas a aprender as normas, valores e crenças que constituem os padrões de sua cultura.
Identidade
	Os contextos culturais onde nascemos e crescemos influenciam o nosso comportamento, mas tal não significa que seja negada individualidade ou livre arbítrio aos seres humanos. Pode parecer que somos simplesmente o resultado dos moldes pré-concebidos que a sociedade tem preparados para nós. Alguns sociólogos tendem, de fato, a escrever desta forma acerca da socialização. No essencial, esta perspectiva é errônea. O fato de estarmos envolvidos em interações com os outros, desde que nascemos até morrermos, condiciona certamente as nossas personalidades, os nossos valores e comportamentos. No entanto, a socialização está também na origem da nossa própria liberdade e individualidade. Cada um de nós, no decurso da socialização desenvolve um sentido de identidade e a capacidade para pensar e agir de forma independente.
	Para a sociologia, o conceito de identidade é multifacetado, podendo ser abordado de muitas maneiras. De uma forma geral, a identidade está relacionada com os entendimentos que as pessoas têm acerca de quem são e do que é importante para elas. Estes entendimentos formam-se em função de determinados atributos que são prioritários em relação a outras fontes geradoras de sentido. O gênero, a orientação sexual, a classe social, a nacionalidade são algumas das principais fontes de identidade. Os sociólogos referem-se sobretudo a dois tipos de identidade: a identidade social e a identidade pessoal. Por identidade social entendem-se as características que os outros atribuem a um indivíduo. Estas podem ser vistas como marcadores que indicam, de um modo geral, quem essa pessoa é. Ao mesmo tempo, posicionam essa pessoa em relação a outros indivíduos com quem partilha os mesmos atributos. Estudante, mãe, advogado, católico, sem-abrigo, asiático, casado, etc, são exemplos de identidades sociais. Muitos indivíduos têm identidades sociais que abrangem mais do que um atributo. Uma pessoa pode simultaneamente ser mãe, engenheira, muçulmana e vereadora. O fato de se ter múltiplas identidades sociais reflete as muitas dimensões da vida de uma pessoa. Embora esta pluralidade de identidades sociais possa constituir uma fonte potencial de conflitos, a maioria das pessoas organiza o sentido e a experiência das suas vidas á volta de uma identidade principal que é relativamente contínua no tempo e no espaço.
	As identidades sociais implicam, então, uma dimensão coletiva, estabelecendo as formas pelas quais os indivíduos se “assemelham” uns aos outros. As identidades partilhadas – decorrentes de um conjunto de objetivos, valores e experiências comuns – podem constituir um importante ponto de partida para movimentos sociais. Feministas, ambientalistas, sindicalistas, fundamentalistas religiosos são exemplos de casos em que uma identidade social comum é construída como uma fonte importante de sentido.
	Se as identidades sociais estabelecem as formas pelas quais os indivíduos são semelhantes a outros, a identidade pessoal distingue-nos enquanto indivíduos. Esse tipo de identidade diz respeito ao processo de desenvolvimento pessoal através do qual formulamos uma noção intrínseca de nós próprios e do relacionamento com o mundo à nossa volta. A noção de identidade pessoal deriva em grande medida da obra dos interacionistas simbólicos. A negociação constante do indivíduo com o mundo que o rodeia ajuda a criar e moldar a sua noção de identidade. O processo de interação entre o eu e a sociedade contribui para ligar o mundo pessoal e o mundo público. Embora o contexto cultural e social seja um fator que dá forma à identidade pessoal, a agência e a escolha individual são de importância central.
	Ao abordar as mudanças de identidade pessoal das sociedades tradicionais até às modernas, pode perceber-se um afastamento dos fatores invariáveis e herdados que antigamente determinavam a formação da identidade. Se antes a identidade das pessoas era em grande medida determinada pela seu pertencimento a grupos sociais vastos, delimitados pela classe ou nacionalidade, hoje em dia a identidade é maismultifacetada e instável. Os processos de crescimento urbano, a industrialização e o colapso das antigas formações sociais enfraqueceram o impacto das convenções e regras herdadas. Os indivíduos passaram a ter mais mobilidade social e geográfica, fato que libertou as pessoas das comunidades unitárias e relativamente homogêneas do passado onde os padrões eram transmitidos de uma forma rígida de geração em geração. Esta mudança criou espaço para que outras fontes de sentido, como o gênero ou a orientação sexual, desempenhassem um papel mais importante na noção de identidade das pessoas.
	No mundo atual, temos a oportunidade sem precedentes para decidir a nossa vida e criar a nossa própria identidade. Somos o nosso melhor recurso na definição de quem somos, de onde vimos e para onde vamos. Agora que os sinais tradicionais se tornaram menos determinantes, o mundo social confronta-nos com um estonteante leque de escolhas acerca de quem devemos ser, como viver e o que fazer – sem oferecer grandes orientações acerca das seleções a fazer. As decisões que tomamos no cotidiano – acerca do que vestir, como agir ou como ocupar o tempo – ajudam-nos a tornar-nos quem somos. O mundo moderno força-nos a descobrir-nos anos próprios. Como seres humanos cientes e autoconscientes, criamos e recriamos as nossas identidades a todo o momento.
	 	Conclusão: a cultura como conceito antropológico
 	O antropólogo inglês Edward Tylor (1832-1917) reuniu sob a palavra inglesa culture os sentidos que, entre finais do século XVII e começos do XIX, costumavam estar contidos na palavra alemã Kultur (aspectos espirituais de uma comunidade) e na palavra francesa civilization (realizações materiais de um povo). Tylor definiu cultura como um “todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. Nessa ampla definição, Tylor incorporava todas as possibilidades de realização humana e enfatizava o aspecto de aprendizado da cultura (em oposição à ideia de transmissão genética dos conhecimentos). O aprendizado pressupunha, evidentemente, as idéias de comunicação e linguagens (fundamentais para a transmissão, manutenção e transformação culturais).
	A manutenção da sociedade decorria das relações entre os homens e entre os homens e a natureza. Essas relações estariam registradas nas normas, regras, imagens, mitos, ritos e discursos – elementos que poderíamos chamar de representações simbólicas. Todos esses elementos são socialmente construídos e relacionados à própria existência da sociedade.
TOMAZI, Nelson Dacio. Introdução à Sociologia. São Paulo: Atual, 2000. p. 188-196
Para a filósofa Marilena Chauí a abrangência da noção de cultura esbarra, nas sociedades modernas, num problema: o fato de serem, justamente, sociedades e não comunidades.
	A marca da comunidade é a indivisão interna e a ideia de bem comum; seus membros estão sempre numa relação face a face (sem mediações institucionais), possuem o sentimento de uma unidade de destino, ou de um destino comum, e afirmam a encarnação do espírito da comunidade em alguns de seus membros, em certas circunstâncias. Ora, o mundo moderno desconhece a comunidade: o modo de produção capitalista dá origem à sociedade, cuja marca primeira é a existência de indivíduos, separados uns dos outros por seus interesses e desejos. Sociedade significa isolamento, fragmentação ou atomização de seus membros, forçando o pensamento moderno a indagar como os indivíduos isolados podem se relacionar, tornar-se sócios. Em outras palavras, a comunidade é percebida por seus membros como natural (sua origem é a família biológica) ou ordenada por uma divindade (como na Bíblia), mas a sociedade impõe a exigência de que seja explicada a origem do próprio social. Tal exigência conduz à invenção da ideia de pacto social ou de contrato social firmado entre os indivíduos, instituindo a sociedade. A segunda marca, aquilo que propriamente faz com que ela seja sociedade, é a divisão interna. Se a comunidade se percebe regida pelo princípio da indivisão, a sociedade não pode evitar que seu princípio seja a divisão interna. Essa divisão não é um acidente, algo produzido pela maldade de alguns e que poderia ser corrigida, mas é divisão originária, compreendida, pela primeira vez, por Maquiavel quando, em O príncipe, afirma: “toda cidade é dividida pelo desejo dos grandes de oprimir e comandar e o desejo do povo de não ser oprimido nem comandado”; e reafirmada por Marx quando abre o Manifesto Comunista afirmando que, “até agora, a história tem sido a história da luta de classes”. A marca da sociedade é a existência da divisão social, isto é, da divisão de classes.
	Como, então, diante de uma sociedade dividida em classes, manter o conceito tão generoso e tão abrangente de cultura como expressão da comunidade indivisa, proposto pela filosofia e pela antropologia? Na verdade, isso é impossível, pois a sociedade de classes institui a divisão cultural. Esta recebe nomes variados: pode-se falar em cultura dominada e cultura dominante, cultura opressora e cultura oprimida, cultura de elite e cultura popular. Seja qual for o termo empregado, o que se evidencia é um corte no interior da cultura entre aquilo que se convencionou chamar de cultura formal, ou seja, a cultura letrada, e a cultura popular, que corre espontaneamente nos veios da sociedade.
CULTURA POPULAR versus CULTURA ERUDITA
	O que seria erudito? O que seria popular? A que grupo ou classe social poderíamos associar cada um desses conceitos?
	O “popular“ relaciona-se ao povo; o “erudito” (conhecimento ou cultura variada, adquiridos por meio da leitura, às elites. Essa seria, sem dúvida, a associação mais imediata a ser feita com esses conceitos.
	Mas como defini-las e distingui-las? Há autores que dizem já não ser possível pensar em cultura puramente popular ou puramente erudita, numa sociedade como a nossa, integrada e padronizada pela cultura de massa ou indústria cultural. Outros autores discordam dessa postura, diferenciado não duas, mas três culturas, em constante interrelação: a cultura popular, a cultura erudita e a indústria cultural.
	Não vivemos em uma sociedade homogênea, toda produção cultural está sujeita a avaliação que dependem da posição social do grupo a que ela pertence. Para exemplificar vamos estabelecer algumas distinções, considerando as seguintes divisões: 
- A Cultura Erudita é a produção acadêmica centrada no sistema educacional, sobretudo na universidade, produzida por uma minoria de intelectuais.
- A Cultura Popular é identificada com folclore, conjunto das lendas, contos e concepções transmitidas oralmente pela tradição. É produzida pelo homem do campo, das cidades, do interior ou pela população suburbana das grandes cidades.
- A Cultura de Massa é aquela resultante dos meios de comunicação de massa. Produzida “de cima para baixo”, impondo padrões e homogeneíza o gosto. 
Cultura erudita e cultura popular: o que são e quem as produz?
	Se quando pensamos em cultura erudita é quase automático associá-la ao plano da escrita e da leitura, do saber universitário, dos debates, da teoria e do pensamento científico, definir cultura popular não é tão automático assim. Na verdade, definir cultura popular representa uma polêmica que cientistas sociais, historiadores.
A cultura erudita 
A cultura erudita é a produção elaborada, acadêmica, centrada no sistema educacional, sobretudo na universidade, também conhecida como cultura de elite, por ser produzida por uma minoria de intelectuais das mais diversas especialidades (escritores, artistas em geral, cientistas, tecnólogos). 
Com a cultura erudita, são produzidas as obras-primas que revolucionam os diversos campos do saber e da ação, como as descobertas científicas, os novos modos de pensar, as técnicas revolucionárias, as grandes· obras literárias ou artísticas em geral, enfim, produtos humanos que provocam "cortes" na maneira de pensare agir e que, por isso, se tornam clássicos.
Esse tipo de produção cultural é erudito por exigir maior rigor na sua elaboração, sendo, por isso mesmo, uma produção elitizada, acessível a um público restrito (tanto na sua produção como no aproveitamento. Afinal, supõe-se que a maioria não está interessada em física quântica, alta filosofia ou música clássica nem se encontra apta a compreender essa produção sem longo preparo para tal. 
	Quanto à cultura popular, é igualmente impossível dar à cultura popular um caráter, consideradas as produções culturais diferenciadas de camponeses, classes médias baixas e outros setores e sub-setores sociais marginalizados. Com a multinacionalização do capital e com a conseqüente transnacionalização da cultura (na globalização), até os grupos étnicos mais remotos e as comunidades mais isoladas têm que se submeter a um processo de intercâmbio econômico, político e cultural com o seu entorno, com as instituições governamentais, com as estruturas de mercado.
	 O historiador inglês Peter Burke define a cultura popular como uma cultura não oficial, do povo comum. Nesse sentido, o autor segue o pensamento de Gramsci, para quem a cultura popular é a cultura do povo, e os seus produtores são as classes subalternas.
Um pouco de história: como os intelectuais descobriram o povo?
	É interessante pensar no surgimento da separação entre cultura erudita e cultura popular. O historiador Peter Burke observa que foi no final do século XVIII e início do século XIX que os intelectuais europeus passaram a se interessar pelo povo. Visitavam as casas e festas dos artesãos e camponeses para ouvir e aprender suas estórias e canções. Quando pensavam no povo, imaginavam-no natural, simples, analfabeto, instintivo, irracional, enraizado na tradição e na terra, sem nenhum sentido de individualidade. Exatamente por isso, queriam conhecê-lo. Primeiramente, o povo foi considerado exótico, depois passou a ser admirado e até mesmo imitado por alguns intelectuais.
	Esse movimento de valorização do povo pelos intelectuais teve razões estéticas, intelectuais e também políticas. Passou-se a valorizar a simplicidade e o encanto naturais que caracterizavam os velhos poemas populares e que estavam ausentes da arte erudita do período. Esse movimento foi também uma reação contra o Iluminismo de Voltaire: contra seu elitismo, seu desinteresse pela tradição, contra sua ênfase na razão.
	Outro motivo para que os intelectuais europeus se voltassem para o povo foi o caráter sociológico que o estudo dos usos e costumes foi adquirindo no século XVIII. A descoberta de outros povos e a compreensão da diversidade de suas crenças e práticas eram um desafio fascinante e fizeram com que intelectuais franceses, ingleses e italianos também se debruçassem sobre o tema. 
Cultura popular ou folclore? 
	A concepção de cultura popular ou folclore que a maioria dos pesquisadores dos séculos XVIII e XIX possuía, e que muitos possuem até hoje, é de uma manifestação tradicional e imutável, livre de interferências estrangeiras, próxima da natureza, pura e primitiva.
	A chamada cultura popular já não é mais o folclore. Folclore é uma palavra cunhada pelos românticos no século XIX e significava “a sabedoria do povo”; “Folk” = “Povo” e “Lore” é um substantivo inglês, hoje muito pouco usado, erudito, que significa “sabedoria, conhecimento.”
	É importante notar a presença de certa confusão quando se pensa em cultura popular ou em folclore. Existem pesquisadores que preferem o termo cultura popular ao termo folclore e há outros que não fazem nenhuma distinção entre eles. Para Carlos Brandão, a idéia de folclore foi-se ampliando, ao longo do tempo, e se associando à maneira de viver do povo, à sua capacidade de criar e recriar. Passou a incorporar não só as festas e ritos, mas também o cotidiano e seus produtos: a comida, a casa, a vestimenta, os artefatos de trabalho. E, nesse sentido – cultura popular e folclore – querem dizer a mesma coisa.
	A expressão cultura popular pode ser entendida como uma forma mais moderna de designar o folclore. A palavra folclore encontra-se desgastada e tem conotações pejorativas. A expressão cultura popular, como vimos é também discutível. Alguns como Canclini (1983), propõem a expressão culturas do povo. O conceito de cultura popular, criticado, por numerosos cientistas sociais, vem sendo hoje largamente utilizado no âmbito da História.
Cultura popular e cultura erudita no Brasil
	Quando pensamos em cultura popular no Brasil, costumam vir à nossa mente, além do carnaval e da Folia de Reis, festas como a do Divino, São João, e bumba-meu-boi; personagens como Negrinho do Pastoreio, Mãe-dágua, Curupira, Saci Pererê; músicas como samba, maxixe, xaxado, forró, sertaneja; literatura como a de cordel, adivinhas e ditados populares e o duelo entre repentistas; artesanato como vasos de cerâmica e barro cozido, carrancas de madeira que são colocadas na proa de barcos no norte e no nordeste do país, rendas e colchas de retalho feitas por mulheres renderias; comidas como feijoada, tutu de feijão, quindim, vatapá, acarajé...
	Se tentássemos, por outro lado, reunir elementos da cultura erudita no Brasil, falaríamos primeiramente da produção científica e filosófica das universidades; depois pensaríamos em toda a reflexão crítica que se faz sobre a própria questão cultural. Selecionaríamos também a produção literária divulgada em livros, lembraríamos de filmes e peças de teatro. Teríamos que selecionar a poesia de um poeta como Carlos Drummond; as obras arquitetônicas de Niemeyer; os romances de Guimarães Rosa; a música de Villa-Lobos, etc. Mas será realmente possível fazer uma seleção tão precisa e definir que todas essas produções são completamente eruditas? No primeiro caso, seriam produções eruditas por terem sido elaboradas nas universidades? E, no segundo, seriam produções eruditas por sua forma de elaboração? Se analisarmos a obra dos autores apontados, poderemos ver, no entanto, como ela contém uma relação intensa e profunda com elementos vinculados à cultura popular, à cultura nacional.
			A INDÚSTRIA CULTURAL OU CULTURA DE MASSA
A expressão “cultura de massa” foi muito usada, principalmente pelos norte-americanos. Os sociólogos americanos criaram a expressão mass culture, que foi moeda corrente até os anos 1950. Nos anos 1950 falava-se em mass communication, mass culture, muitos livros traziam esses títulos. Mas na Europa, particularmente na Alemanha, com a Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer, filósofos marxistas) implantou-se uma forte tendência humanista. Estes filósofos eram críticos da cultura de massas e eles próprios, sobretudo Adorno, julgaram que essa expressão era inadequada, porque cultura de massas poderia dar a impressão de que é uma cultura produzida pelas massas; cultura de massas, como se as massas, que são alguma coisa anônima, (massas de uma cidade, massas de um país – a palavra “massa” já é por si anônima) produzissem cultura. 
	 	 Indústria cultural
Conceito formulado pelos filósofos alemães Adorno e Horkheimer, em 1947.
É fruto de uma sociedade capitalista industrializada, onde até mesmo a cultura é vista como produto a ser comercializado.
É a exploração com fins econômicos e comerciais de bens considerados culturais.
Tudo que é produzido pelo sistema industrializado de produção cultural (TV, rádio, jornal, revistas, etc) elaborado de forma a influenciar, aumentar o consumo, transformar hábitos, educar, informar, etc.
I.C. tem como único objetivo a dependência e a alienação dos homens. Ao maquiar o mundo nos anúncios que divulga, ela acaba seduzindo as massas para o consumo de mercadorias culturais.
I.C. promove a resignação, manipula as distrações, permanece ligada aos clichês ideológicos e chavões que perpetuam os estereótipos e que são repetidas à exaustão.
	Indústria cultural é o nome genérico que se dá ao conjunto de empresas e instituições cuja principal atividade econômica é a produção de cultura, comfins lucrativos e mercantis. No sistema de produção cultural encaixam-se a TV, o rádio, jornais, revistas, entretenimento em geral; que são elaborados de forma a aumentar o consumo, modificar hábitos, educar, informar, podendo pretender ainda, em alguns casos, ter a capacidade de atingir a sociedade como um todo.
	Desde a década de 1990, seis empresas transnacionais tomaram conta de 96% do mercado mundial de música. No que se refere ao cinema a situação é ainda mais chocante. Mais de 90% das telas norte-americanas só exibem filmes feitos no próprio país. O americano comum, portanto, não conhece o que se faz no estrangeiro. E o que se produz, na verdade, é pouco -- 85% dos filmes exibidos em todo o planeta brotam de Hollywood. 
Para o crítico literário e escritor Umberto Eco:
01 – Apocalípticos (Adorno e outros): aqueles que criticam os MCM.
02 – Integrados (McLuhan): aqueles que os elogiam 
Entre os motivos para a crítica dos MCM:
veiculação que eles realizam de uma cultura homogênea (que desconsidera as diferenças culturais).
O estímulo publicitário
A sua definição como simples lazer e entretenimento, não encorajando o público a pensar, tornando-o passivo e conformista.
MCM: instrumentos para controle e manutenção do capitalismo
Entre os motivos para elogiar os MCM:
MCM: única fonte de informação possível para uma parcela significativa da população.
Informações veiculadas por eles podem contribuir para a formação intelectual e política.
	Para a filósofa Marilena Chauí, a indústria cultural vende cultura. Para vendê-la, deve seduzir e agradar o consumidor. Para seduzi-lo e agradá-lo, não pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-lo pensar, fazê-lo ter informações novas que o perturbem, mas deve devolver-lhe, com nova aparência, o que ele já sabe, já viu, já fez. A “média” é o senso comum cristalizado que a indústria cultural devolve com cara de coisa nova.
	Ela define a cultura como lazer e entretenimento, diversão e distração, de modo que tudo o que nas obras de arte e de pensamento significa trabalho da sensibilidade, da imaginação, da inteligência, da reflexão e da crítica não tem interesse, não “vende”. Massificar é, assim, banalizar a expressão artística e intelectual. Em lugar de difundir e divulgar a cultura, despertando interesse por ela, a indústria cultural realiza a vulgarização das artes e dos conhecimentos. 	 
	É dentro deste contexto que ele formula o conceito de Indústria Cultural que ocorre, pela primeira vez, em 1947, na obra Dialética do Iluminismo, escrita em parceria com Horkheimer, na qual defende que o Iluminismo, tido como um esforço consciente de valorização da razão .
	Indústria Cultural é a exploração, com fins comerciais e econômicos, de bens considerados culturais, não só daqueles criados unicamente para os fins citados, mas também daqueles genuinamente culturais, como por exemplo, a festa dos bois bumbás de Parintins (AM), que se descaracterizou a partir da exploração econômica que a transformou numa indústria.
	A Indústria Cultural é a indústria da cultura, indústria stricto sensu. Nela, há classificação e padronização dos consumidores através das distinções entre filmes A e B, por exemplo, as quais não estão calcadas na realidade – são artificiais: prevê-se, para todos, um tipo de arte a ser “consumida”, assim, ninguém escapa.
	A publicidade é, hoje, um exemplo forte da Indústria Cultural porque ambas estão fundidas. A função de um publicitário é fazer com que o consumidor compre aquilo que ele não precisa com o dinheiro que ele não tem; ele, de fato, consegue cumpri-la: quando produz uma propaganda, já sabe qual público atingir porque pesquisou, anteriormente, suas necessidades (que foram construídas por ele próprio). Deste modo, o consumidor é o objeto da Indústria Cultural. A Indústria Cultural extermina o que é particular, nega a particularização, seja a cor, a composição, a arquitetura.
	O que a Indústria Cultural fornece, de fato, é a vida cotidiana, a verdadeira imagem do mundo tal qual ela se apresente; ela promove a resignação que se quer esquecer nela, estraga o prazer, manipula as distrações, permanece voluntariamente ligada aos clichês ideológicos da cultura em vias de liquidação, defende e justifica a arte física em confronto com a arte espiritual, não tem substância e despersonaliza o humano contra o mecanismo social.
	O melhor sinônimo para Indústria Cultural é, hoje, a globalização: processo de aceleração capitalista que vem ocorrendo desde a Pré-história, mas que só recentemente ganhou a velocidade da luz; pode criar uma civilização genuinamente transnacional alimentada pela exposição à tecnologia e pelas mesmas fontes de informação; possui um tremendo potencial para solucionar os problemas do homem contemporâneo e pode criar riquezas num ritmo alucinante; 
	Arte, Indústria Cultura e Educação 
	Quando a Indústria Cultural privilegia um produto pseudo-artístico padronizado, calculado tecnicamente para surtir efeitos determinados de modo a serem por todos desejados e repetidos, na forma e na medida adequados a garantir o poder e o lucro do sistema dominante.
	Como consequência dessa massificação, podemos considerar que o fato de se ter acesso somente à cultura de massa acaba por não permitir ao indivíduo a aquisição do conhecimento de outros aspectos culturais que expressam a cultura do povo, seus valores e suas lutas. Em nosso entender, a música é a expressão do pensar e do sentir das pessoas de uma determinada época. Além de proporcionar prazer, ela também pode informar e conscientizar. Portanto, para nós, esta postura de consumo significa estar à margem da cultura como um todo.
	Adorno considera que a Indústria Cultural prostitui os valores estéticos da arte, dando-lhe uma falsa imagem. A música tornou-se um fundo convencionalmente necessário e repetitivo. O público a escuta de forma infantil ou não a escuta. Vemos que essa crítica é muito atual quando sintonizamos qualquer emissora de rádio ou de televisão preocupadas, tão somente, com o sentido mercadológico da arte musical. Os ritmos e as letras das músicas são sempre idênticos, não acrescentando absolutamente nada à nossa formação cultural e como pessoa.
	As implicações da chamada "música de mercado" influenciam, tanto no aspecto cultural como no social, a formação das crianças. De maneira especial, seduzem-nas pela sensualidade das danças e das letras musicais, acarretando um desenvolvimento precoce de aspectos da sexualidade que atropelam, de alguma forma, seu desenvolvimento afetivo. Isso sem falar em outros aspectos, pois o vocabulário pobre e equivocado de muitas músicas acaba por interferir, também, em seu processo de desenvolvimento cognitivo. Veja este funk: “Mas se liga aí novinha, por favor tu não se engane. Abre as pernas e relaxa. Que esse é o Bonde do Inhame. Que esse é o Bonde do Inhame. Esse é o bonde dos cria que enfogueta as novinhas. Esse é o bonde dos cria que enfogueta as novinhas. Vai na treta do Nem que a Kátia tá também eeemmm. Larga o inhame na Silvinha.”
No dizer de Adorno (1999, p. 67), a música atual, ao invés de entreter, parece contribuir "para o emudecimento dos homens, para a morte da linguagem como expressão, para a incapacidade de comunicação". 
	A música de entretenimento preenche os vazios do silêncio que se instalam entre as pessoas deformadas pelo medo, pelo cansaço e pela docilidade de escravos sem exigências. Assume ela em toda parte, e sem que se perceba, o trágico papel que lhe competia ao tempo e na situação específica do cinema mudo. A música de entretenimento serve ainda e apenas como fundo. 
A cultura popular individualizada 
Feita a exposição dos três tipos de cultura, a erudita, a popular e a de massa, é provável que o leitor esteja se perguntando onde encaixar algumas produções culturais como, por exemplo, a música de Caetano Veloso, Chico Buarque e de Adoniran Barbosa, as peças de teatro de Guarnieri ou o teatro de revista. 
Trata-se da cultura popular individualizada,que se caracteriza por ser produzida por escritores, compositores, artistas plásticos, dramaturgos, cineastas, enfim, intelectuais que não vivem dentro da universidade (e portanto não produzem cultura erudita), nem são típicos representantes da cultura popular (que se caracteriza pelo anonimato) nem da cultura de massa (que resulta do trabalho de equipe). 
O criador individual sofre a influência de to​das essas expressões culturais e, "nessa luta, a obra é tanto mais rica e densa e duradoura quanto mais intensamente o criador participar da dialética que está vivendo a sua própria cultura, também ela dilacerada entre instâncias 'altas', 'internacionalizastes' e instâncias populares". 
3.3 Multiculturalismo
Hibridismo, diversidade étnica e racial, novas identidades políticas e culturais: estes são termos diretamente relacionados ao multiculturalismo. Se a diversidade cultural acompanha a história da humanidade, o acento político nas diferenças culturais data da intensificação dos processos de globalização econômica que anunciam, segundo os analistas, uma nova fase do capitalismo, denominada por autores como Ernest Mandel de "capitalismo tardio" e por outros, como Daniel Bell, de "sociedade pós-industrial". A despeito das querelas acerca das origens dessa nova fase, o fato é que as discussões acerca do multiculturalismo acompanham os debates sobre o pós-modernismo e sobre os efeitos da pós-colonização na cena contemporânea, o que se verifica de forma mais evidente a partir dos anos 1970, sobretudo nos Estados Unidos. A globalização do capital e a circulação intensificada de informações, com a ajuda de novas tecnologias, longe de uniformizar o planeta (como propalado por certas interpretações fatalistas), trazem a afirmação de identidades locais e regionais, assim como a formação de sujeitos políticos que reivindicam, com base em garantias igualitárias, o direito à diferença. Mulheres, negros (ou afro-americanos), homossexuais, populações latino-americanas ("hispanos" ou chicanos) e migrantes em geral se fazem presentes como atores políticos com a marcação de diferenças de gênero, culturais e étnicas. A cultura torna-se instrumento de definição de políticas de inclusão social - as "políticas compensatórias" ou as "ações afirmativas" - que tomam os diversos setores da vida social. Cotas para minorias, educação bilíngue, programas de apoio aos grupos marginalizados, ações antirracistas e antidiscriminatórias são experimentadas em toda parte.
Primeiro, é conveniente esclarecer as diferenças entre multiculturalismo, pluralismo, universalismo e relativismo. O pluralismo é uma característica de sociedades livres, em que há a convivência pacífica e respeitosa entre pensamentos diferentes, atualmente encontrada nos Estados Democráticos de Direito. Não se pode falar em um pensamento melhor que outro, pois todos são dignos de respeito. O pluralismo combate o pensamento único, o que contraria uma das tendências do processo de globalização. O fenômeno da globalização não admite diálogo ou outra opção; se é universal, não pode ser local. Não existe alternativa possível, o mundo deve ser unipolar. Pauta-se por uma ética individualista, mas sem liberdade para o indivíduo seguir qualquer plano de vida. Há um único modelo a ser seguido. A globalização como projeto político e econômico transmuta-se no neoliberalismo (democracia + livre mercado) e repercute na seara dos direitos humanos com o plano de diminuição dos direitos sociais, econômicos e culturais, bem como com a sobrevalorização dos direitos de propriedade. Não existem mais pessoas ou cidadãos, mas clientes. O projeto político mundial é conduzido conforme interesse de grandes multinacionais.
A Constituição brasileira, em seu preâmbulo, assegura a pluralidade da sociedade nacional, 
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. (grifo nosso) 
O artigo 5º da mesma Carta assegura a liberdade de pensamento, de opinião, de culto, de associação, de ofício, de opção sexual, de casamento, de partido político etc. Sem embargo, será que realmente o texto constitucional garante a pluralidade em nosso país? Para garantir a pluralidade, para que uma sociedade seja plural, as pessoas devem ter a capacidade de optar por esse ou aquele modelo, e essa opção deve ser livre e consciente. Liberdade de eleição todos temos, é inerente ao ser humano. Entretanto, essa liberdade deve manifestar-se como liberdade moral, que é a ética (opção) privada - de cada indivíduo. Esta nem todos temos, pois deve ser livre e individual. Aí entra o Estado, com a ética pública, para garantir que todos teremos condições de optar, com a utilização de políticas de isonomia, especialmente via garantia de direitos de segunda geração, que são os direitos econômicos, sociais e culturais. 
 No multiculturalismo, existe a convivência em um país, região ou local de diferentes culturas e tradições. Há uma mescla de culturas, de visões de vida e valores. O multiculturalismo é pluralista, como já se pode observar, pois aceita diversos pensamentos sobre um mesmo tema, abolindo o pensamento único. Há o diálogo entre culturas diversas para a convivência pacífica e com resultados positivos a ambas. 
O problema reside no fato de que o multiculturalismo pode ser abordado de forma relativista e de forma universalista. Há a abordagem relativista quando não se estabelecem critérios mínimos para o diálogo entre culturas, isto é, tudo é aceito e tudo é correto. O julgamento interno é mais importante do que o julgamento externo (da sociedade internacional). Nessa concepção do multiculturalismo, não se pode falar em direitos humanos universais, pois cada cultura é livre para estabelecer seus próprios valores e direitos. Não existe a possibilidade de proteção internacional dos direitos humanos nessa visão. 
O multiculturalismo também pode ser universalista, ou seja, permitir a propagação e convívio de diferentes ideias, desde que esteja estabelecido um denominador mínimo, comum entre as partes para o início do diálogo (valores universais). Esse mínimo a ser respeitado são os direitos humanos. No universalismo, o julgamento externo sobrepõe-se ao interno. Sinceramente, creio que cada cultura possui um peso que não pode ser valorado, mas não vejo como deixar de estabelecer um padrão mínimo para a convivência entre os povos. O relativismo permite que sejam aceitas culturas que desejam aniquilar-se umas com as outras, o que inviabiliza a paz. Com o relativismo, a Declaração Universal de Direitos Humanos (1948) tem diminuído seu peso, sua importância. As conquistas advindas dela deixam de ter seu valor. 
No multiculturalismo universalista, pode-se defender o caráter geral da Declaração Universal de Direitos Humanos (para todos, em qualquer nação, em qualquer tempo). Esta seria a base para o convívio entre os povos. Imaginem se em um condomínio não existissem regras de convivência, sobre como possuir animais, sobre como jogar o lixo fora, sobre os horários de festas etc. Imaginem se todas as atitudes de quaisquer moradores fossem aceitas. Provavelmente os conflitos seriam maiores. Como realizar intervenções humanitárias? No relativismo o peso da soberania ganha novo fôlego na sociedade internacional, podendo justificar inação dos agentes globais e graves violações aos direitos humanos.
Assim, a defesa dos direitos humanos universais é compatível com o pluralismo e com o multiculturalismo universalista, mas é totalmente inviável em um ambiente de multiculturalismo relativista.Pode-se dizer que é uma visão ocidental e limitada, mas não vejo possibilidade em conciliar toda e qualquer prática em nosso mundo. Não consigo ver como aceitável ou com a possibilidade de me adaptar à circuncisão feminina em diversos países da África do Norte, à discriminação feminina em diversos países, à sacrifícios humanos etc. O direito à diferença e o respeito às tradições culturais devem ter um limite, e este limite são os direitos humanos. 
Falar de tolerância em situações abusivas aos direitos humanos é ser indiferente. A defesa do pluralismo não pode ser deturpada, pois o ser humano precisa estar acima de qualquer tradição ou prática. Essa deturpação me parece ser o relativismo, que permite até a quebra do próprio relativismo, ao permitir que uma cultura destrutiva ganhe espaço na sociedade internacional e, com o tempo, destrua essa própria sociedade por não seguir seus valores belicosos, acabando com o multiculturalismo relativista (ldem p/ democracia s/ direitos fundamentais). 
Destaco que as concepções relativista e universalista do multiculturalismo somente serão importantes quando possuírem um objeto moral também importante, que são os direitos humanos. Tradições e costumes que não afetam esse catálogo mínimo de direitos não devem sofrer alteração por um julgamento externo, o da sociedade internacional. Aí, prevalece o entendimento do grupo social. 
A palavra tolerância pode significar a preponderância do meu pensamento sobre o do outro. Eu tolero o outro, eu o aguento, eu o suporto. Os relativistas não admitem o termo tolerância, pois afirmam que desiguala os conceitos e tradições, com a existência de uma superior. 
Garantir direitos mínimos, que são os direitos humanos, é assegurar que todos terão liberdade moral (dignidade), capacitando os indivíduos a que realizem seus planos de vida com liberdade e consciência. Uma lista mínima de direitos não me parece atentar contra identidades culturais deste ou daquele povo. Creio ser plausível pelo menos uma regra mínima como ponto de partida para o diálogo entre culturas: a de não prejudicar terceiros. Parece-me que universalizar um direito tem um peso muito forte na sociedade internacional, o que permite tirar um pouco da carga desta expressão com a universalização de um valor, que é o de respeito à dignidade humana, como ocorre em quase todas as religiões do mundo. A partir daí pode-se permitir que as mais diversas tradições culturais se manifestem com toda plenitude e liberdade. 
Universalizar, ao contrário do que pensam alguns autores, não é uniformizar as ideias, criar um pensamento único. Trata de levar a todo o planeta um marco mínimo de respeito entre as mais diversas culturas, para que haja diálogo entre elas. Esse diálogo deve ser produtivo, ao contrário do que ocorreria com o relativismo, pois não haveria como chegar a um mínimo de entendimento. A partir deste marco, que são os direitos fundamentais, cada povo tem a máxima liberdade de expressar suas tradições e crenças. 
É verdade que a universalidade dos direitos humanos tem sido utilizada no curso da história para justificar intervenções imperialistas de alguns Estados em outros povos, como ocorreu no colonialismo e no neocolonialismo, assim como, mais recentemente, na invasão americana ao Estado soberano do Iraque. Apesar disso, essas manipulações do Direito devem ser vistas como patologias e não como o próprio Direito, pois este tem como meta a convivência pacífica entre os povos, com a proibição de excessos na seara internacional. 
Confesso que se existisse a possibilidade de um diálogo entre culturas em um marco relativista, eu seria relativista. Isso poderia acontecer se eu acreditasse no caráter bom e pacífico do ser humano, o que não é verdade. Se não houvesse a possibilidade de que determinado povo fizesse o mal a outro grupo ou indivíduo, não necessitaríamos de um catálogo mínimo de direitos, pois a base já estaria pronta – respeito à dignidade humana. Entretanto, não é isso que temos visto na história do homem. Ao contrário, mecanismos artificiais de contenção do homem têm sido desenvolvidos desde o seu aparecimento no planeta, por intermédio da religião, da filosofia, da ciência e, mais recentemente, do Direito. (Adaptado de Multiculturalismo e direitos humanos, artigo de Marcus Vinícius Reis, disponível em http://www.senado.gov.br/sf/senado/spol/pdf/ReisMulticulturalismo.pdf.)
Os efeitos dos debates sobre o multiculturalismo no Brasil mereceriam uma discussão à parte, dada a sua complexidade. País de raízes mestiças, e que não constitui historicamente minorias que se organizam como comunidades apartadas do conjunto - os migrantes assimilam à sociedade nacional -, o Brasil parece ficar à margem dessas discussões até a década de 1980, data do fortalecimento e visibilidade das chamadas minorias étnicas, raciais e culturais. A pressão dos novos atores sociais reverbera diretamente no texto da Constituição de 1988, considerada um marco em termos da admissão do nosso pluralismo étnico. Os efeitos dessas formas renovadas de engajamento podem ser observados no campo da produção artística, sobretudo da literatura fala-se em "escrita feminina", em "vozes negras", homoerótico etc.). Na música jovem, das periferias urbanas, define-se o espaço de uma cultura negra: o funk, o rap, o hip hop. O campo das artes visuais recebe o impacto dessas problemáticas - a experiência das minorias aparece tematizada em um ou outro artista -, ainda que pareça difícil localizar aí uma produção de cunho multicultural com contornos definidos.
Textos sintetizados e organizados pelo prof. Altamir Fernandes
�PAGE �
�PAGE �10�

Outros materiais