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se imaginarmos que uma pessoa que não conhece a verdade da sentença (20b), escute-a, necessariamente ela passará a ter um novo conhecimento sobre o planeta Vênus, pois agora a pessoa conhece dois sentidos diferentes para alcançar a referência Vênus, isto é, dois caminhos diferentes de se alcançar o mesmo objeto no mundo. Portanto, concluímos que, como conhecedores da língua, sabemos discernir que a sentença (20a) é diferente da sentença (20b), porque a segunda passa uma informação e a primeira não. Resta, portanto, ao semanticista explicitar essa diferença, pois, em termos de referência, vimos que isso não é possível. Por isso Frege propõe a utilização da noção de sentido para se explicar a diferença entre as sentenças em (20). Façamos o mesmo tipo de raciocínio feito acima para a referência, usando também a noção de sentido. Se adotarmos a ideia de que cada expressão linguística transmite um sentido diferente, teremos, para (20b), que a expressão a estrela da manhã tem um sentido que é a ideia que eu tenho sobre o que é ser a estrela da manhã, que tem como referência o planeta Vênus no universo, e, portanto, tem como significado x. A expressão a estrela da tarde, por sua vez, tem o sentido que é a ideia que eu tenho sobre ser a estrela da tarde, que também tem como referência o planeta Vênus, e, portanto, tem como significado y. Se a função do verbo ser, nesse contexto, é de equivaler as duas expressões, concluímos que x = y. Essa equação, com certeza, está passando uma informação de que eu tenho duas maneiras de apresentar um mesmo objeto no mundo. Analisemos, pois, a sentença (20a). Temos que a expressão a estrela da manhã tem um sentido que é a ideia que eu tenho sobre o que é ser a estrela da manhã, que aponta para a referência Vênus no mundo, e, portanto, tem como significado x. Se a mesma expressão é equiparada na sentença pelo verbo ser, concluímos que x = x. Essa é uma sentença que não passa nenhum tipo de informação, pois não nos mostra nada de novo sobre o mundo. Esse é um primeiro argumento usado por 17 Frege para mostrar que é essencial adotar a noção do sentido, quando se analisa o significado de sentenças. O segundo argumento de Frege está relacionado ao que ele chamou de contexto indireto e Quine (1960), de contexto opaco. Antes de entrarmos nessa questão propriamente, faz-se necessário falar rapidamente sobre o Princípio de Composicionalidade de Frege. O autor afirma que, em determinados contextos, o valor de verdade de uma sentença complexa é função exclusiva dos valores de verdade das partes que a compõem. Esse tipo de operação é totalmente cego para o sentido da sentença: dadas as referências das sentenças simples, calcula-se, mecanicamente, o valor de verdade de qualquer sentença complexa que contenha essas sentenças simples: (21) a. A namorada do José é modelo. b. A namorada do José é a moça mais bonita do bairro. c. A namorada do José é modelo e é a moça mais bonita do bairro. Se (21a) tem como referência a verdade no mundo, ou seja, é uma sentença verdadeira, e (21b) também tem a mesma referência no mundo, ou seja, é uma sentença verdadeira, podemos afirmar que (21c) é verdadeira, sem que saibamos nada sobre o sentido das sentenças (a) e (b). Isso se deve ao fato de que (21a e b) são sentenças simples que compõem a sentença complexa (21c). Esse tipo de substituição possibilita criar uma linguagem extensional, isto é, uma linguagem em que somente é levada em conta a referência. Portanto, sentenças formadas pelo operador e e outros operadores como ou, se somente, se... então... são as chamadas sentenças extensionais, em que se pode aplicar o Princípio de Composicionalidade de Frege. Entretanto, há inúmeros casos a que esse princípio não se aplica. Por exemplo, as sentenças encaixadas após verbos que exprimem crenças não apresentam esse comportamento: são as chamadas sentenças de contexto indireto ou opaco. Usando esses casos, Frege mostra outro argumento a favor da utilização do sentido no estudo do significado. Vejamos o exemplo: (22) O Dênis acredita que o presidente do Brasil é um gênio. 18 O valor de verdade da sentença acima não pode ser deduzido das partes que a compõem. Não podemos afirmar que se Dênis acredita em algo é uma sentença verdadeira, e que se a sentença o presidente do Brasil é um gênio é verdadeira também, então a sentença complexa em (22) é verdadeira. A verdade da sentença (22) depende de Dênis acreditar que o presidente do Brasil é um gênio, e não da verdade de o presidente do Brasil é um gênio; tanto que isso pode não ser verdade, o presidente do Brasil pode não ser um gênio, e a sentença (22), que exprime o fato do Dênis acreditar nisso, continuará verdadeira. Essas sentenças são chamadas de sentenças intensionais, pois elas dependem do sentido ou intensão. Sendo a língua repleta de sentenças desse tipo, fica evidente que não é possível se pensar em significado sem a composição do sentido e da referência. Vejamos outro exemplo com sentenças intensionais e extensionais: (23) a. A namorada do José é modelo. b. A namorada do José é a moça mais bonita do bairro. c. A moça mais bonita do bairro é modelo. Vemos que em (23), a verdade das sentenças (a) e (b) acarreta necessariamente a verdade de (c). Isso se dá porque as sentenças em (23) são exemplos de sentenças extensionais e seguem o princípio de Composicionalidade de Frege, permitindo a substituição de expressões que tenham o mesmo referente 7 . Tentemos verificar a mesma relação para sentenças intensionais: (24) a. Um ex-operário da classe trabalhadora é o presidente do Brasil. b. O João acredita que o presidente do Brasil está ajudando o país. c. O João acredita que um ex-operário da classe trabalhadora está ajudando o país. Se é verdade a sentença (a) e a sentença (b), não podemos concluir necessariamente a verdade de (c), pois o João pode não saber que ex-operário da classe trabalhadora e o presidente do Brasil têm a mesma referência no mundo. Ou seja, com sentenças intensionais não podemos fazer a substituição de expressões que tenham a mesma referência no mundo, como é possível com as sentenças extensionais, sem que se altere o valor de verdade das sentenças. 7 Veja que as sentenças em (23) usam o operador se a e b então c. 19 Portanto, não se aplica o Princípio da Composicionalidade. Frege não propõe um tratamento formal para esse tipo de sentença, mas observa que existe uma referência indireta em todas as sentenças intensionais e que a substituição nesses casos será possível, se mantivermos o sentido da expressão. Nas sentenças intensionais, a verdade não é uma função dos valores das partes e o Princípio da Composicionalidade não se aplica. Entretanto, pode haver uma substituição desde que se mantenha o mesmo sentido. Para Frege, a referência das sentenças em contextos opacos ou indiretos não é a referência ordinária, o objeto no mundo. A referência nesse tipo de sentença é uma referência indireta e se refere ao sentido da sentença. Vejamos como pode ser feito esse tipo de substituição: (25) a. A professora de semântica é a mãe do Frederico. b. O João acha que a professora de semântica é otimista. c. O João acha que a mãe de Frederico é otimista. d. O João acha que a pessoa que ensina semântica é otimista. Veja que, se eu substituir as expressões que têm a mesma referência, (25b) e (25c), eu não posso afirmar que a verdade da segunda decorre da verdade da primeira, pois o João pode não saber que a mãe de Frederico e a professora de Semântica são a mesma pessoa. Entretanto, se eu substituir (25b) por (25d), a verdade da sentença não se altera, pois a expressão