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CONTEUDO 1 Caro Aluno Seja bem - vindo. Esta disciplina propõe o estudo, análise e crítica romance romântico português; do romance realista-naturalista; da ficção neorrealista portuguesa e das tendências contemporâneas, destacando-se a obra de Antônio Lobo Antunes e José Saramago.Vale ressaltar a importância das Literaturas africanas em Língua Portuguesa, bem representadas por Pepetela, Angola e Mia Couto, Moçambique. Para que você tenha um bom aproveitamento em seus estudos, é necessário que leia tanto os aspectos teóricos apresentados nos diversos capítulos da bibliografia básica e textos sugeridos, como as novelas e romances indicados. Considerando-se que será você quem administrará seu próprio tempo, nossa sugestão é que você dedique ao menos 4 horas por semana para esta disciplina, estudando os textos sugeridos e realizando os exercícios de auto-avaliação. Uma boa forma de fazer isso é já ir planejando o que estudar, semana a semana. Para facilitar seu trabalho, apresentamos na tabela abaixo, os assuntos que deverão ser estudados e, para cada assunto, a leitura fundamental exigida e a leitura complementar sugerida. No mínimo você deverá buscar entender bastante bem o conteúdo da leitura fundamental, só que essa compreensão será maior, se você acompanhar, também, a leitura complementar. Conteúdos (assuntos) e leituras sugeridas Romantismo: Principais características da novela e do romance romântico português Livro Texto: Literatura Portuguesa- Massaud Moisés, capítulo VII GUINSBURG, J. O Romantismo. São Paulo: Perspectiva, 2007. Camilo Castelo Branco : Estudo da obra Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco// A paródia nas novelas camilianas: Queda de um anjo. Livro Texto: Literatura Portuguesa- Massaud Moisés, capítulo VII BUENO, Aparecida de Fátima et al. Literatura Portuguesa: História, memória e perspectivas. São Paulo: Alameda, 2007. Literatura Portuguesa através dos textos, Massaud Moisés, capítulo sobre O Romantismo Realismo/Naturalismo: Principais características do romance realista-naturalista As influências francesas: Gustave Flaubert e Èmile Zola Livro Texto: Literatura Portuguesa- Massaud Moisés, capítulo VIII Eça de Queirós Estudo da obra O primo Basílio. As Cidades e as Serras- momento de transição Livro Texto: Literatura Portuguesa- Massaud Moisés, capítulo VIII Literatura Portuguesa através dos textos, Massaud Moisés, capítulo sobre O Realismo Modernismo- Presencismo e Neorrealismo (Irene Lisboa, Miguel Torga, Alves Redol; Manuel da Fonseca;Carlos de Oliveira) Livro Texto: Literatura Portuguesa- Massaud Moisés, capítulo XIII e XIV Projecto Vercial : http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/index.html Literatura Portuguesa através dos textos, Massaud Moisés, capítulo sobre O Modernismo Tendências contemporâneas (Antônio Lobo Antunes, José Cardoso Pires , Agustina Bessa-Luís e José Saramago, Valter Hugo Mãe) Livro Texto: Literatura Portuguesa- Massaud Moisés, capítulo XVI e XVII Projecto Vercial: http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/index.html Artigo: “ O carnaval dos animais...” de Luísa Maria Veiga Novembro de 2007 Revista Crioula: http://www.fflch.usp.br/dlcv/revistas/crioula/ José Saramago Estudo das obras Memorial do Convento, Ensaio sobre a Cegueira e O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago. Livro Texto: Literatura Portuguesa- Massaud Moisés, capítulo XVI e XVII Projecto Vercial http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/index.html Artigo: “Saramago e Pepetela: As Representações dos Espaços em Memorial do Convento e A gloriosa família” de Rosangela Manhas Mantolvani Maio de 2007 Revista Crioula: http://www.fflch.usp.br/dlcv/revistas/crioula/ Breve panorama da literatura lusófona, literaturas africanas em língua portuguesa: Pepetela, José Luandino Vieira, , Ondjaki (Angola) e Mia Couto ( Moçambique) Revista Via Atlântica: www.fflch.usp.br/dlcv/posgraduacao/ecl/revista.html Revista 3 Artigos: "O romance como documento social: o caso Mayombe", de Carlos Serrano "O fazer-crer das histórias de Mia Couto", de Maria Aparecida Santilli Revista Crioula: Nota: ver as referências bibliográficas, para maior detalhamento das fontes de consulta indicadas Avaliações Como é de seu conhecimento, você estará obrigado a realizar uma série de avaliações, cabendo a você tomar conhecimento do calendário dessas avaliações e da marcação das datas das suas provas, dentro dos períodos especificados. Por outro lado, é importante destacar que uma das formas de você se preparar para as avaliações é realizando os exercícios de auto-avaliação, disponibilizados para você neste sistema de disciplinas on line. O que tem que ficar claro, entretanto, é que os exercícios que são requeridos em cada avaliação não são repetições dos exercícios da auto-avaliação. Para sua orientação, informamos na tabela a seguir, os assuntos que serão requeridos em cada uma das avaliações às quais você estará sujeito: Conteúdos a serem exigidos nas avaliações NP1 Do Romantismo ao estudo da obra de Eça de Queirós NP2 Do Modernismo às literaturas africanas em Língua Portuguesa Substitutiva Toda a matéria Exame Toda a matéria BIBLIOGRAFIA Bibliografia Básica MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. São Paulo: Cultrix, 2006. MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. São Paulo:CultriXX SARAIVA, Antonio José e Lopes, Óscar. História da literatura portuguesa. 17.ed. Porto, Porto Ed. Mais recente. Bibliografia Complementar ABDALA JR. Benjamim. Ecos do Brasil: Eça de Queiros, leituras brasileiras e portuguesas. São Paulo: Senac, 2005. ABDALA JR. Benjamim. De voos e ilhas: literatura e comunitarismos. São Paulo: Ateliê editorial.2008. SILVEIRA; MONGELLI et ali, Francisco Maciel, Lênia Márcia. A literatura portuguesa em perspectiva. São Paulo: Atlas, 2007. CEREJA; MAGALHÃES. William R. e Tereza C. Literatura portuguesa: em diálogo com outras literaturas de língua portuguesa. São Paulo: Atual, 2009. GUINSBURG, J. O romantismo. São Paulo: Perspectiva, 2007. Leituras obrigatórias (qualquer edição) CASTELO BRANCO, Camilo. Amor de Perdição. São Paulo: Ática, 2007. QUEIRÓS, Eça de. O primo Basílio. São Paulo: Ática, 2007. _________. A Cidade e as Serras. São Paulo: Ática, 2007. SARAMAGO, José. Memorial do Convento. São Paulo: Cia das Letras, 2013. _____________. O ano da morte de Ricardo Reis. São Paulo: Cia das Letras, 2007. COUTO, Mia. Terra sonâmbula. São Paulo: Cia das Letras, 2007. Leituras complementares: AGUALUSA, José Eduardo. Nação Crioula.Rio de Janeiro: Língua Geral,1998. __________. O vendedor de passados.Rio de Janeiro: Gryphus, 2004 __________. Barroco tropical. São Paulo: Cia das Letras, 2009. __________. Milagrário pessoal. Rio de Janeiro: Língua Geral, 2010. __________. Teoria geral do esquecimento. Rio de Janeiro: Foz, 2013. COUTO, Mia. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra. São Paulo: Cia das Letras, 2003. __________ O último voo do flamingo. São Paulo. Cia das Letras. 2005. __________ O outro pé da sereia. São Paulo: Cia das Letras. 2006 __________ Antes de nascer o mundo. São Paulo Cia das Letras. 2009. __________ Confissões da leoa. São Paulo Cia das Letras. 2012. __________ Contos de nascer a terra. São Paulo Cia das Letras. 2014 FONSECA, Manuel da . Seara de Vento. Lisboa: Caminho, 2006. LOBO ANTUNES, Antônio . Os cus dos judas. Alfaguara.2007. _____________. O esplendor de Portugal. Alfaguara.2007 MÃE, Valter Hugo. O filho de mil homens. São Paulo: Cosac Naify, 2012.__________. A máquina de fazer espanhóis. São Paulo: Cosac Naify, 2012. __________. O apocalipse dos trabalhadores. São Paulo: Cosac Naify, 2012. __________.Desumanização. São Paulo: Cosac Naify, 2014 ONDJAKI. AvóDezanove e o segredo do soviético. São Paulo: Cia das Letras, 2009. ________. Os transparentes. São Paulo: Cia das Letras, 2013. ________. Bom dia, camaradas. São Paulo: Cia das Letras, 2014. PEPETELA. A gloriosa família. São Paulo: Nova Fronteira, 2006. _________. Mayombe. São Paulo: Leya,2013. _________. Geração Utopia. São Paulo: Leya, 2013. _________ Jaime Bunda, o agente secreto. Rio de Janeiro: Record.2005. QUEIRÓS, Eça. O crime do padre Amaro. São Paulo, Ática,2006 ___________ . Os Maias. São Paulo, Ática,2006. _____________.A ilustre casa de Ramires. São Paulo, Ática, 2007. REDOL, Alves. Gaibéus. books.google.com.br (domínio público) SARAMAGO, José. Levantado do chão. São Paulo, Cia das Letras, 2013. ________________As pequenas memórias. São Paulo, Cia das Letras, 2008. _______________. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo, Cia das Letras, 2007. Sites para consultas: Fundação Saramago: http://www.josesaramago.org/ Fundação Eça de Queirós: http://www.feq.pt/eca-de-queiroz.html Projecto Vercial http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/index.html Instituto Camões: http://www.instituto-camoes.pt/index.htm Revista Crioula: http://www.fflch.usp.br/dlcv/revistas/crioula/ Via Atlântica: www.fflch.usp.br/dlcv/posgraduacao/ecl/revista.html Citi: http://www.citi.pt/cultura/ Vidas lusófonas: http://www.vidaslusofonas.pt/ Sugestão de filmes: Os miseráveis, de Bille August (contextualização do Romantismo) Madame Bovary, de Claude Chabrol (contextualização do Realismo) Germinal, do cineasta Claude Berri (contextualização do Naturalismo) Páginas da Revolução ( Afirma Pereira) , de Roberto Faenza( contextualização do Neorrealismo) José e Pilar, de Manuel Gonçalves Mendes (Contemporaneidade) Conteúdo 2 ROMANTISMO Três de maio, de Francisco Goya, 1808 http://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2012/01/16/905036/conheca-tres- maio-1808-francisco-goya.html Texto 1 Segundo diversos pesquisadores, as origens do Romantismo remontam do final do século XVIII , de países anglo-saxões como Inglaterra, e Escócia e também da Alemanha, contudo, foi a França responsável por sua disseminação O Romantismo ficou conhecido como a estética da burguesia que, com um novo público leitor, exigia mudanças e simplificações estéticas. Além disso, os burgueses queriam ver-se seus ideais retratados e cultuados nas obras obras de arte.Podemos dizer que houve uma certa democratização da cultura, que até então era restrita ao clero e à nobreza. Além disso, o Romantismo foi um movimento literário contrário às regras clássicas e a favor da liberdade formal. Vale ressaltar que nessa época surge um novo gênero literário : o romance. O romance, como entendemos hoje, surgiu no final do século XVIII a partir de uma revolução cultural de origem anglo-saxônica. Inicialmente, os romances eram publicados em capítulos nos jornais, os conhecidos folhetins, bem semelhantes às telenovelas atuais. Os leitores e leitoras, em número reduzido, pois poucos sabiam ler, ficavam ansiosos pelos novos episódios, sedentos de aventuras e histórias de amor. O romance passou a ser o porta-voz dos valores, ambições e desejos da burguesia, funcionando como uma espécie de sedativo para a realidade da vida doméstica. Curioso é que os folhetins eram , inclusive , lidos em voz alta para um público de iletrados, como a criadagem e escravos, democratizando, como já dissemos, a literatura. Questão 1 A respeito do Romantismo é INCORRETO afirmar que: a) As origens do Romantismo devem ser procuradas na Inglaterra e na Alemanha, uma vez que à França coube o papel de coordenador, amplificador e divulgador do movimento. b) O Romantismo, mais do que qualquer outro movimento estético, abarca tendências estéticas contraditórias, porque corresponde a muito mais do que uma revolução literária: é uma nova maneira de enfrentar os problemas da vida e do pensamento. c) Para sistematizar as características românticas, é preciso pensar em um ciclo de cultura que corresponda à manutenção do poder das oligarquias reinantes, em detrimento das monarquias constitucionais ou republicanas federativas e ao aparecimento do Absolutismo, em política e moral. d) Ocorre, na época do Romantismo, o domínio da forma de viver e pensar da burguesia, dentre elas, a profissionalização do escritor: há uma nova relação entre escritor e público, que se traduz pelo pagamento da obra criada pelo artista. e) Os românticos repudiam os neoclássicos, revoltam-se contra as regras, os modelos, as normas, lutam pela total liberdade na criação artística e defendem a mistura e a "impureza" dos gêneros literários. Resposta: C O Romantismo surge como uma estética burguesa, para suprir seus anseios e concepções de arte. A burguesia é contrária ao Absolutismo, ou seja, o rei possui plenos poderes. Texto 2 Os primeiros romances, ditos românticos, pois se iniciaram com o Romantismo, ainda se assemelham às novelas, sendo a distinção entre os gêneros bastante tênue, sutil. Comumente, os primeiros romances eram epistolares, ou seja, em forma de cartas. A solidificação do gênero romance , enquanto espaço de experimentação e profundidade , será somente possível na segunda metade do século XVIII. Segundo o Massaud Moisés, a obra que pode ser considerada o primeiro romance foi A história de Tom Jones, um enjeitado , de 1749, de Henry Fielding. Contudo, o primeiro grande representante do gênero foi Stendhal com sua obra prima O vermelho e o negro de 1830. Já o criador do romance moderno, semelhante ao que conhecemos hoje, foi Honoré de Balzac com sua vasta e famosa obra Comédia Humana (1829-1850), um amplo panorama da sociedade burguesa. Além de Balzac, entre os grandes romancistas românticos , podemos citar o alemão Goethe ( Os sofrimentos do Jovem Werther e Fausto), o francês Victor Hugo (Os miseráveis e Corcunda de Notre-Dame), as inglesas Jane Austen ( Razão e Sensibilidade) e Emily Brönte ( O morro dos ventos uivantes), entre outros. Em Literatura Brasileira , já são nossos conhecidos Joaquim Manuel de Macedo ( A Moreninha) e o exemplar José de Alencar ( Senhora, Iracema, O guarani,Lucíola). Em Portugal, destacamos Alexandre Herculano , Camilo Castelo Branco e Júlio Dinis. Características gerais do Romantismo: • Subjetivismo- a valorização do “eu” é a principal característica romântica. • Idealização- uso da fantasia e da imaginação • Escapismo- fuga da realidade, do cotidiano, do presente. • Mulher idealizada- a amada é pura e perfeita, assim como o amor é eterno. • Fusão entre o grotesco e o sublime- a uma nova concepção de beleza. Surge o “belo-feio” • Sentimentalismo- sentimentos como amor e ódio são extremamente exagerados • Espiritualismo, religiosidade- valores medievais cristãos são resgatados • Satanismo- por outro lado, a obras que valorizam o satânico, o mistério das sombras. • Amor intenso- a paixão vigora, o amor leva o ser humano à felicidade e à loucura • Medievalismo- a figura do herói medieval é resgatada. Fuga ao passado e lugares distantes. • Liberdade formal- os românticos são contrários as regras clássicas e suas formas rígidas. Questão 2 Todasas alternativas abaixo descrevem características típicas do Romantismo, exceto uma. Assinale a alternativa incorreta : a) O subjetivismo é uma das principais características do Romantismo. b) A arte romântica é modelada pela individualidade do autor, que deve sempre se expressar com base nas regras e nas técnicas consagradas pela tradição artística clássica c) O Romantismo consistiu, basicamente, num fenômeno artístico que rompeu com a tradição racionalista e clássica do século XVIII, criando uma linguagem nova e mais livre. d) Uma outra característica do Romantismo é a idealização: do amor, da mulher amada e da pátria. e) O sentimentalismo e a busca permanente da originalidade são também características importantes do Romantismo Resposta: B A arte romântica realmente é modelada pela individualidade, pelo subjetivismo, justamente por esse motivo prega a liberdade formal, contrariando a tradição clássica de busca pela perfeição. Texto 3 As características específicas do romance romântico, válidas também para as novelas, são: • O amor como redenção: o herói normalmente possui alguns defeitos. O amor aparece como uma redenção, salvando-o, restituindo-lhe a honra. • Idealização do herói: o herói romântico é bom , forte e belo, defende os fracos e elimina os vilões. • Idealização da mulher: como o herói, a heroína romântica é bela, pura um ser angelical, pleno de benevolência. • Personagens planas: em geral, as personagens românticas não nos surpreendem, sabemos desde o início quem são os bons e quem são os maus da história. • Impasse amoroso( final feliz ou trágico): Há sempre um impedimento para os amantes: diferentes classes sociais, um antagonista, vilão que disputa a amada do herói. • Oposição aos valores sociais: os heróis românticos se opõem a valores impostos pela sociedade como o casamento por dote , arranjado. • Sentimentalismo: as personagens românticas amam e odeiam com extremo exagero. • Linguagem metafórica: o escritor romântico abusa de metáforas que enaltecem e idealizam pessoas e lugares. Questão 3 Leia a a seguir um trecho retirado do romance " Os sofrimentos do jovem Werther" de Goethe Werther se dirige por carta a seu amigo Willhem para quem confessa seu grande amor por Charlote. " Que fim vai levar essa paixão frenética e sem limites ? As minhas preces são só para ela, não vejo nenhuma outra imagem a não ser a dela e tudo o que vejo no mundo, à minha volta, relaciono com ela. E isso me proporciona muitas horas felizes...Até que, novamente , sou forçado a me desvencilhar dela ! Ah! Wilhelm! Para onde me arrasta este meu coração? Identifique as características do romance romântico apresentadas neste trecho. Resposta:Nesse pequeno trecho, podemos destacar a idealização da mulher, que não sai de seus pensamentos, assim como o sentimentalismo, no qual uma paixão intensa avassala o herói romântico. Texto 4 Romantismo em Portugal (1825-1865) Em Portugal, o início do século XIX foi bastante atribulado. Em 1808, D. João VI, a família real e boa parte dos intelectuais e comerciantes vêm para o Brasil devido às invasões napoleônicas. Com a saída dos franceses em 1817, inicia-se a luta pelo poder entre os irmãos D.Miguel e D. Pedro IV ( nosso D. Pedro I). Inicialmente, D. Miguel , com uma postura retrograda, vence essa disputa, contudo, em 1833, D. Pedro invade Portugal e coloca sua filha, Maria, no poder. A desordem interna é imensa e só se regulariza em 1847, quando se inicia a Regeneração. Em clima tão confuso, a estética romântica demorou para se estabelecer em Portugal. Assim, somente em anos mais tranquilos, após a Regeneração, o movimento pôde se desenvolver. Didaticamente, consideramos que o Romantismo em Portugal se inicia em 1825 quando o poeta Almeida Garrett escreve o longo poema Camões, em 10 cantos com versos decassílabos brancos. Os primeiros escritores românticos eram bastante nacionalistas e muitos se dedicaram ao Romance Histórico. Como iniciadores do movimento, ainda apresentam características clássicas, presos a um certo rigor formal. Um dos precursores foi Antônio Feliciano de Castilho, esteticamente um escritor menor, mas se destacou como divulgador do Romantismo e por suas polêmicas com o Realismo na Questão Coimbrã. Como escritor nacionalista adepto do romance histórico, destacamos Alexandre Herculano. Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo (1810-1877) nasceu em Lisboa. Foi um liberal moderado e se formou dentro do romantismo.Causou muita polêmica com os conservadores, propondo uma nova maneira de se fazer literatura e de recontar a História. A sua vertente de historiador pode ser nitidamente vista em suas obras, denominadas romances históricos. Herculano acreditava que a pesquisa histórica era capaz de definir a nacionalidade portuguesa. Como os nossos primeiros românticos brasileiros, Herculano era um nacionalista. Devido ao seu envolvimento na «Revolta do 4 de Infantaria», foi obrigado a emigrar para Inglaterra, onde tomou contato com a obra de Walter Scott, autor de Ivanhoé, importante romance histórico inglês. Ajudou a organizar a Biblioteca Pública do Porto e em 1839 foi nomeado diretor das bibliotecas reais das Necessidades e da Ajuda. Suas principais obras são: A harpa do crente (1837), Lendas e narrativas (2 volumes, 1839-1844), Eurico, o presbítero (1844), o primeiro volume da História de Portugal (1846), O Monge de Cister (1848), entre outras. Alguns críticos consideram que Alexandre Herculano teve dificuldades de integrar em suas obras os aspectos ficcionais aos históricos. Assim, o seu rigor histórico e a necessidade de investigação e documentação dos fatos comprometem o valor estético de sua obra. Questão 4 Quanto ao autor Alexandre Herculano e sua obra, é correto afirmar: a) Ficou famoso por suas novelas passionais e açucaradas. b) É um dos grandes representantes do Classicismo. c) Seus romances são nacionalistas e primam pelos fatos históricos d) Não se preocupava com o rigor histórico de suas obras. e) Um dos escritores que o influenciou foi o francês Émile Zola. Resposta: C Herculano é conhecido por suas obras de cunho nacionalista e seu rigor p CONTEÚDO 3 CAMILO CASTELO BRANCO E SUAS OBRAS Texto 1 O Ultrarromantismo em Portugal Os ultrarromânticos possuíam como características principais o exagero de todas as características românticas, voltados muitas vezes para o pessimismo e para a melancolia. Em Portugal, isso também ocorre, contudo, um dos maiores prosadores românticos, um dos maiores escritores portugueses do século XIX , Camilo Castelo Branco, não se prendeu a uma só vertente, apresentando inclusive humor e ironia em muitas de suas obras. Na Questão Coimbra, posicionou-se a favor dos românticos e de Castilho, contudo, paradoxalmente, escreveu obras de influência realista. Camilo Castelo Branco (1825-1890) Nasceu em Lisboa no dia 16 de Março, filho ilegítimo de Manuel Joaquim Botelho e Jacinta Maria. Ficou órfão aos 10 e aos 16 casou-se, abandonando a esposa em seguida. Frequentou a sociedade do Porto , dedicando-se ao jornalismo, e teve uma vida romanticamente agitada, desde vários casos amorosos até a prisão. Ele se apaixonou perdidamente por Ana Plácido, uma mulher casada. Chegaram a ser presos por adultério, mas foram inocentados. O escândalo favoreceu o escritor com súbita notoriedade logo após a publicaçãode Amor de perdição, escrito no tempo da prisão. Quando sua amada ficou viúva, puderam se casar. Contudo, nada foi fácil para o escritor, com muitos filhos e pouca verba, escrevia freneticamente para sustentar sua família. Ao ficar cego, impossibilitado de escrever, suicidou-se com um tiro na cabeça em sua casa de São Miguel de Seide. Questão 1 Com relação ao Romantismo e a Camilo Castelo Branco, marque a opção correta: I-Camilo Castelo Branco tem papel de destaque com seus romances históricos, marcados por temas medievais. II-Camilo Castelo Branco tinha como característica o gosto pelo jornalismo, crítica literária, poesia, teatro, deixando de lado o folhetim e as novelas. III- A 2ª fase do Romantismo não pode ser considerada como uma fase ultrarromântica, pois já apresenta características realistas. a) Todas estão corretas b) Apenas a I está correta c) Apenas a I e II estão corretas d) Apenas a III está correta e) Apenas a I e III estão corretas Resposta: D- Alexandre Herculano é quem escrevia romances históricos, não Camilo . A 2ª fase do Romantismo é justamente o Ultrarromantismo, no qual há um exagero das características românticas, tendendo para o pessimismo. Texto 2 Estilo camiliano Escreveu em diversos gêneros, de biografias a peças de teatro, contudo, notabilizou-se por suas novelas, principalmente as passionais, ou seja, cheias de amor e sangue. Podemos dizer que Camilo Castelo Branco era uma espécie de escritor profissional., pois escrevia para sobreviver e sabia conquistar seu público. Utilizou a técnica folhetinesca e sua produção foi imensa, apresentando desde obras-primas até textos insípidos, criados somente com o intuito de agradar aos leitores burgueses. Ele foi um excelente prosador, sabia contar histórias e prender a atenção dos leitores, criando um diálogo com os mesmos. Além do uso da ironia e do humor, mesmo em novelas passionais, Camilo Castelo Branco utiliza outros recursos estéticos interessantes. Encontramos em suas obras o uso da metalinguagem e reflexões sobre como fazer novelas. Além disso, procurou adequar a linguagem das personagens à suas origens, ou seja, um homem simples como João da Cruz ,em Amor de perdição, fala com simplicidade. Algumas obras: • Novelas de mistério ou terror( Mistérios de Lisboa , Livro Negro de Padre Dinis) • Novelas históricas ( O judeu, O santo da montanha, A filha do regicida); • Novelas passionais ( Amor de perdição, Carlota Ângela, Amor de salvação, A doida do Candal) • Novelas satíricas( Coração, cabeça , estômago, A queda dum anjo) • Novelas de influência realista (Eusébio Macário, A corja, A brasileira de Prazins e As novelas do Minho) Questão 2 Analise o trecho a seguir, retirado e Amor de perdição, apontando características do estilo camiliano: “Essa, a minha leitora, a carinhosa amiga de todos os infelizes, não choraria se lhe dissessem que o pobre moço perdera a honra, reabilitação, pátria, liberdade, irmãs, mãe, vida, tudo, por amor da primeira mulher que o despertou do seu dormir de inocentes desejos?!” Resposta: Nesse trecho, podemos notar o diálogo do autor com seu leitor, mas precisamente com sua leitora. Em um tom dramático, Camilo procura aguçar a curiosidade do público feminino sobre a triste história de Simão. Chega a elogiar a leitora como “ carinhosa amiga de todos os infelizes”. Seria lógico, portanto, que a leitora se comovesse com tão triste história e devia lê-la.Como a obra era publicada em folhetins, a leitora compraria os capítulos para saber do desenrolar dessa tragédia.Realmente, Camilo sabia muito bem seu ofício. Texto 3 Amor de perdição Esse livro é um paradigma para as demais novelas passionais. Foi publicada em folhetins em 1862, quando o autor estava preso, acusado de adultério, como já dissemos. O narrador( neste caso confunde-se com o próprio autor) nos revela que , quando esteve preso, teve acesso ao registro de seu tio Simão Botelho, irmão de seu pai Manuel Botelho, de quem era filho bastardo. Ao saber a história dramática do tio, por cartas também recebidas, resolveu escrever a novela. Atestar a legitimidade da história narrada, dando-lhe verossimilhança, foi um recurso bastante utilizado pelos romancistas românticos. Cartas, documentos encontrados, serviam de “provas” para a veracidade da história, claramente tida como inventada, ficcional. O enredo é bastante simples e conhecido em nossa modernidade. Seria uma história de Romeu e Julieta à portuguesa. Simão Botelho, típico herói romântico, intenso e destemido, apaixona-se perdidamente por Teresa de Albuquerque, meiga, linda e pura. A família de Simão não aprova o namoro pois os Albuquerque não são bem nascidos , são ricos, mas não possuem “um nome”, um antepassado importante. O pai de Teresa também é contra o enlace amoroso, já que o pai de Simão, Domingos Botelho, era juiz e lhe foi contrário em algumas contendas. Tadeu de Albuquerque insiste que a filha se case com seu sobrinho Baltazar Coutinho, um vilão da história. Caso não se case com o primo, Teresa terá que ficar reclusa em um convento. Como complicador , forma-se um triângulo amoroso com a inclusão da personagem Mariana, moça simples, extremamente dedicada a Simão, resignada e consciente da impossibilidade desse amor. Não contaremos o final da história , contudo, o próprio autor nos adianta que o fim de Simão será triste e nos comoverá. Questão 3 Assinale a alternativa em que se encontra um traço não pertinente ao romance romântico Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco: a) Diálogos geralmente marcados por retórica sentimental. b) Narração densa e rápida das ações decisivas c) O fato de Teresa pertencer a uma família sem recursos, foi motivo para a família de Simão ser contra a união dos apaixonados. d) Há uma grandeza trágica de paixões e situações, muita emoção . e) Há alguns personagens extraídos do meio popular. Resposta: C A família de Teresa era abastada, mas não tinha uma origem fidalga, não tinham “um nome importante”. Os pais de Simão julgavam-se superiores, mas sua origem é ridicularizada na obra( Ver capítulo I). O pai de Teresa queria casá- la com o sobrinho e não suportava o juiz Domingos Botelho. Texto 4 Leia a introdução do livro: “Folheando os livros de antigos assentamentos no cartório das cadeias da Relação do Porto, li, no das entradas dos presos desde 1803 a1805, a fl. 232, o seguinte: Simão António Botelho, que assim disse chamar-se, ser solteiro e estudante na Universidade de Coimbra, natural da cidade de Lisboa, e assistente na ocasião de sua prisão na cidade de Viseu, idade de dezoito anos, filho de Domingos José Correia Botelho e de D. Rita Preciosa Caldeirão Castelo Branco; estatura ordinária, cara redonda, olhos castanhos, cabelo e barba preta, vestido com jaqueta de baetão azul, colete de fustão pintado e calça de pano pedrês. E fiz este assento, que assinei – Filipe Moreira Dias. À margem esquerda deste assento está escrito: Foi para a Índia em 17 de Março de 1807. Não seria fiar demasiadamente na sensibilidade do leitor se cuido que o degredo de um moço de dezoito anos lhe há-de fazer dó. Dezoito anos! O arrebol dourado e escarlate da manhã da vida! As louçanias do coração que ainda não sonha em frutos e todo se embalsama no perfume das flores! Dezoito anos! O amor daquela idade! A passagem do seio da família, dos braços da mãe, dos beijos das irmãs, para as caricias mais doces da virgem, quese lhe abre ao lado como flor da mesma sazão e dos mesmos aromas, e à mesma hora da vida! Dezoito anos !... E degredado da pátria, do amor e da família! Nunca mais o céu de Portugal, nem mãe, nem reabilitação, nem dignidade, nem um amigo!... É triste! O leitor decerto se compungia; e a leitora, se lhe dissessem em menos de uma linha a história daqueles dezoito anos, choraria! Amou, perdeu-se e morreu amando. É a história. E história assim poderá ouvi-la a olhos enxutos a mulher, a criatura mais bem formada das branduras da piedade, a que por vezes traz consigo do Céu um reflexo da divina misericórdia?! Essa, a minha leitora, a carinhosa amiga de todos os infelizes, não choraria se lhe dissessem que o pobre moço perdera a honra, reabilitação, pátria, liberdade, irmãs, mãe, vida, tudo, por amor da primeira mulher que o despertou do seu dormir de inocentes desejos?! Chorava, chorava! Assim eu lhe soubesse dizer o doloroso sobressalto que me causaram aquelas linhas, de propósito procuradas, e lidas com amargura e respeito e, ao mesmo tempo, ódio. Ódio, sim... A tempo verão se é perdoável o ódio, ou se antes me não fora melhor abrir mão desde já de uma história que me pode acarear enojos dos frios julgadores do coração e das sentenças que eu aqui lavrar contra a falsa virtude de homens, feitos bárbaros, em nome da sua honra.” Questão 4 As afirmações a seguir correspondem à novela Amor de perdição, e já podem ser identificadas na introdução. Assinale a única incorreta: a) O narrador antecipa ao leitor o fim trágico de Simão Botelho ,tanto em relação a seu exílio, como à sua morte. b) O trecho exemplifica o sentimentalismo e o amor passional típicos do Romantismo. c) O autor procura sensibilizar seus leitores, chegando a supor qual seria sua reação perante a história que contará. d) Simão Botelho é o um herói romântico e como tal é guiado por suas emoções, não pela razão. e) Através da análise científica do caráter de Simão, Camilo Castelo Branco quer comprovar sua tese de que não existe amor verdadeiro Resposta: E Não cientificismo no Romantismo. O amor de Simão por Teresa é intenso e verdadeiro. CASTELO BRANCO, Camilo. Amor de Perdição. São Paulo: Ática, 1988. Textos que compõem a edição da Editora Ática (2004): "Morrer de amor" de Samira Youssef Campedelli e "A vida imita a arte, a arte imita a vida" de Carlos Felipe Moisés Sugestão: Ver documentário http://www.youtube.com/watch?v=TMkqpukMFhM https://www.youtube.com/watch?v=qNmW000T45M&list=FLlFlGl7EyT4izPPIYBrqjRg&i ndex=67 CONTEÚDO 4 Realismo/Naturalismo (1865-1890) A fiandeira adormecida, 1853. Gustave Coubert http://www.gustavecourbet.org/The-Sleeping-Embroiderer,-1853.html Texto 1:Contexto histórico e social do Realismo A segunda metade do século XIX foi marcada pelo Cientificismo, a valorização das ciências. Novas teorias são apreciadas e estudadas pelos escritores que procuram aplicá-las a seus romances. Vejamos algumas das principais: Positivismo: Foi uma filosofia que propunha uma ciência mais objetiva, sem idealismo, sem teologia, mais voltada para a razão. Um de seus principiais divulgadores foi Auguste Comte. Darwinismo ou Evolucionismo- Charles Darwin publica em 1859 A origem das espécies, que coloca em jogo crenças religiosas. Na natureza, somente o mais adaptado, é a lei da seleção natural. Socialismo utópico- Proudhon constrói as bases do pensamento socialista com suas publicações nos jornais e a obra Filosofia do progresso de 1835. Determinismo- Hipólito Taine foi um dos principais teóricos do Realismo e Naturalismo. Segundo ele, a obra de arte deveria demonstrar que o homem é determinado pela herança, pelo meio e pelo ambiente em que vive, ou seja, um produto desses fatores, sem qualquer livre-arbítrio. A segunda Revolução Industrial muda não somente o painel econômico, mas também o social da Europa e de suas colônias. Com os novos modos de produção , surge uma grande massa de operários explorados e marginalizados: o proletariado. É o capitalismo que se fortalece. Os artistas passaram a adotar uma visão mais objetiva da realidade, por meio do uso da razão e pautada na sociedade. Em Portugal, a crise é no setor agrário. Camponeses, soldados e a pequena- burguesia se revoltam. O país é totalmente dependente da Inglaterra e a monarquia encontra-se enfraquecida. Em 1851, através de um golpe político, o marechal Saldanha institui a monarquia parlamentarista (nos moldes ingleses) e se inicia o período de Regeneração (1851-1910). Questão 1: Quanto ao contexto histórico e social durante o Realismo, assinale a alternativa correta: A) Darwinismo e Positivismo surgem como produtos da Revolução Industrial, que valorizava o progresso e a evolução do homem. B) Se de um lado temos o Socialismo Utópico, de outro o acirramento das diferenças sociais, como produto da Revolução Industrial. C) Portugal sofre uma forte crise no setor industrial, devido à greves constantes, o que antecipa a instituição do Parlamentarismo. D) Hipolite Taine acreditava no livre-arbítrio do ser humano, sendo sua postura seguida pelos escritores realistas. E) O cientificismo não passou de um modismo que pouca influência exerceu sobre a literatura. Resposta: B A Revolução Industrial ecoa no final do século XIX, trazendo consigo o fortalecimento do Capitalismo, a divisão de classes e o surgimento do proletariado. Por outro lado, começam a surgir teorias que valorizam a igualdade de classes, mesmo que de forma utópica. É o caso do Socialismo de Proudhon, que previa igualdade entre as pessoas, mas em qualquer tipo de luta ou revolução. Demais alternativas estão incorretas, conforme apresentadas no texto. Texto 2: Produção literária O Realismo é de origem francesa, inicialmente nas artes plásticas com as obras realistas de Gustave Courbet que chocaram os românticos. Em 1857, Gustave Flaubert publica Madame Bovary. Dez anos depois, Émile Zola publica Thérèse Raquin que dá origem ao extremismo realista, o Naturalismo, mas sua obra-prima é livro Germinal de 1885. Em Portugal, o Realismo se inicia com a famosa Questão Coimbrã, que consistia em uma crise acadêmica em que diversos textos ofensivos foram trocados, de um lado os românticos, veteranos e mestres na academia, como o professor Antônio Feliciano de Castilho, de outro os rebeldes estudantes da Sociedade do Raio, fundada por Antero de Quental. Vale lembrar que o Realismo português foi bastante organizado, repleto de conferências e estudos sobre a estética. Nunca a literatura portuguesa conseguiu alcançar tal feito. Havia as Conferências do Cassino Lisbonense, repletas de discussões filosóficas. Participaram dessas conferências o poeta, folclorista e futuro presidente de Portugal Teófilo Braga e o famoso romancista Eça de Queirós , do qual trataremos nesta unidade. Características gerais do Realismo • Assume uma postura mais engajada. Há o compromisso entre a arte e a realidade social. • Possui um embasamento teórico: determinismo, positivismo, evolucionismo e socialismo. • Crítica à educação romântica. • Crítica ao conservadorismo da Igreja. • Visão objetiva da realidade. • Representação da vida cotidiana. • Uso da razão. Uma boa definição de Realismo, dada pelo grande escritor Eça de Queirós: "O realismo é a negação da arte pela arte; é a proscrição do convencional, do enfático e do piegas. É a abolição da retóricaconsiderada como arte de promover a comoção usando da inchação do período, da epilepsia da palavra, da congestão dos tropos. É a análise com o fito na verdade absoluta". ( QUEIRÓS, Eça apud MOISÉS, 2008, p. 231) Questão 2: Assinale a alternativa que corresponde ao Realismo na Literatura Portuguesa: I- Cultua-se a imaginação criadora e os ideais burgueses, o que torna imprescindível o resgate da valorização da natureza, da religiosidade e do nacionalismo. II- Cultua-se uma literatura mais crítica, voltada para revolução política, social, moral e mental que superasse a decadência em que se precipitara Portugal. III- As Conferências do Cassino comprovam que o movimento Realista em Portugal foi organizado, o que não havia ocorrido antes. A)Todas as afirmações estão corretas B) Apenas a I está correta C)Apenas a II está correta D) Apenas a III está correta E) Apenas a II e III estão corretas Resposta E- A afirmação I refere-se ao Romantismo , não ao Realismo. A crítica e a organização caracterizam o Realismo em Portugal. Texto 3- Realismo e Naturalismo Há entre os romances realistas e naturalistas muitos pontos de contato. Vale dizer que o Realismo surgiu antes, o Naturalismo depois. Assim, o Naturalismo é uma nova versão, bem semelhante, mas extremamente exagerada. Para o Naturalismo, o homem é um ser natural e por isso é guiado pelos instintos, como outros animais. O realista mostra a ferida, o naturalista a disseca. As cenas de adultério são mostradas sutilmente pelo realista, como se fechasse as cortinas do quarto dos amantes. O naturalista abre as cortinas e descreve a cena em pormenores. Os aspectos científicos são levados ao extremo, os vícios das personagens são analisados como casos patológicos, doentios. O Realismo se inicia em 1857, quando Gustave Flaubert publica Madame Bovary. O Naturalismo surge em 1867, quando Émile Zola publica Thérèse Raquin , contudo, muitos consideram que sua obra-prima é o livro Germinal, de 1885. Questão 3- As afirmações a seguir se referem ao Naturalismo, uma particularização do Realismo. Assinale a alternativa correta: I - O Naturalismo volta-se para a Natureza, como uma nova leitura do Nativismo romântico. II- É uma versão exagerada do Realismo, sendo também antirromântico, antiburguês e anticlerical. III- O Naturalismo dá origem ao Realismo, pois já trazia, anos antes, obras emblemáticas como Madame Bovary, de Gustave Flaubert. A) Apenas I está correta B) Apenas a II está correta C) Apenas I e II estão corretas D) Apenas II e III estão corretas E) Apenas a III está correta Resposta: B- O Naturalismo não tem relação com Natureza e sim com o homem natural, guiado pelos instintos. O Naturalismo se assemelha ao Realismo, sendo sua versão exagerada. O Realismo surge antes do Naturalismo, sendo Madame Bovary uma obra realista. Texto 4- O romance realista e/ou naturalista Citando o professor Massaud Moisés: O romance passa a ser no Realismo obra de combate, arma de ação transformadora da sociedade burguesa dos fins do século XIX. Torna-se instrumento de ataque e demolição, por um lado , e de defesa de ideais filosóficos e científicos, por outro. (MOISÉS, 2008, p. 189) Como podemos observar, os romancistas não se preocupam mais em enaltecer os valores burgueses, ou mesmo idealizar uma realidade como os românticos faziam, mas, ao contrário, criticam tudo que é subjetivo e pretendem descrever a realidade como ela é. O romance passa a ser um espaço de experimentação das novas teorias científicas, é o que chamamos de Romance de Tese, ou seja, o artista procura aplicar os novos conceitos na construção de suas personagens, como se fossem cobaias em um laboratório. As características a seguir referem-se ao romance realista, mas também podem ser vistas no naturalista, de forma exagerada: • Linguagem objetiva,culta e direta. • Descrições detalhadas e adjetivação objetiva com o intuito de captar o real. • A mulher não é idealizada. • O amor é subordinado aos interesses sociais. • O casamento é um contrato de interesses e conveniências (Há vários casos de adultério). • O herói é fraco, cheio de manias e incertezas. • A narrativa é lenta. • As personagens são trabalhadas psicologicamente. Questão 4- Quanto ao romance realista, é correto afirmar que: A) Foi um espaço de experimentação, no qual os escritores puderam dar início a gênero romance, até então nunca explorado.. B) Surge o romance de tese, uma forma de comprovar, através das personagens, algumas teorias cientificas. C) O amor aparece subordinado a interesses sociais, contudo o casamento é fruto de paixões sinceras. D) O herói é fraco, mas sua amada, bela e perfeita, o leva à redenção. E) A aventura dá um ritmo ágil à narrativa, embora haja algumas descrições. Resposta: B O mais característico do romance realista é o romance de tese, no qual, como em um trabalho acadêmico, ou uma experiência de laboratório, o escritor precisa comprovar teorias a partir da construção de suas personagens, como o determinismo, por exemplo. Gustave Flaubert e Madame Bovary Flaubert foi um dos autores mais importantes do Realismo, influenciado pelas teorias científicas, pela Revolução Industrial e pela linha filosófica de Augusto Comte, o positivismo. Ele levou à perfeição o ideal do romance realista de harmonizar a arte e a realidade. Sua obra se caracteriza pelo cuidado minucioso com a linguagem e pela estrutura do enredo. Influenciou toda uma geração de escritores, inclusive Eça de Queirós. Seu romance de estreia foi Madame Bovary, um retrato crítico da hipocrisia da sociedade burguesa e romântica. A obra foi resultado de cinco anos de um trabalho minucioso. Em linhas gerais, o enredo gira em torno da história de Emma, uma moça sonhadora que se casa com um médico provinciano, Charles Bovary. Sua vida é sem graça, ociosa, muito diferente de seus ideais. O marido é um simplório. Emma sente- se muito infeliz, repugna seu marido e para fugir de sua vida medíocre entrega-se ao adultério. Materialista e inconsequente, gasta o que não possui e envolve-se em dívidas absurdas. Veja a seguir um trecho do texto do professor Antônio Apolinário Lourenço a respeito dos 150 anos da publicação de Madame Bovary e sua influência na obra de Eça de Queirós: " Concretizaram-se, no ano há pouco terminado, cento e cinquenta anos sobre a publicação em livro de Madame Bovary, o genial romance de Flaubert. Estranhamente, a efeméride passou entre nós praticamente despercebida, apesar da enorme influência que essa obra e o seu autor exerceram sobre a literatura portuguesa, a partir do final do século XIX. Para Eça de Queirós, em particular, Gustave Flaubert foi permanentemente um mestre e um modelo. Logo em 1871, quando o futuro autor d’Os Maias apresentou no Casino Lisbonense a sua conferência sobre o realismo na arte, com um discurso demasiado colado ao do livro de Proudhon intitulado Du Principe de l’art et de sa destination sociale, os parágrafos mais originais foram justamente aqueles que dedicou a Madame Bovary. A conferência, como se sabe, é apenas conhecida pelos relatos da imprensa da época (neste caso, o Diário Popular de 15 06 1871): Para exemplificar a doutrina do realismo, citou o Sr. Eça de Queirós Madame Bovary, o célebre livro de Gustave Flaubert, no qual o adultério tantas vezes cantado pelosromânticos como um infortúnio poético que comove perniciosamente a susceptibilidade das almas cândidas, nos aparece pela primeira vez debaixo da sua forma anatómica, nu, retalhado e descosido fibra a fibra por um escalpelo implacável. O efeito é surpreendente e terrível. Constatamos, assim, que foi a leitura de Madame Bovary que fez Eça compreender a superioridade civilizacional e ética do Realismo sobre o Romantismo. Outros autores, como os irmãos Goncourt e Émile Zola, em França, sentiram, perante Madame Bovary, um deslumbramento idêntico ao de Eça. E enquanto Edmond et Jules de Goncourt criavam, com Germinie Lacerteux, uma espécie de Bovary das classes baixas, Zola procuraria, igualmente a partir do romance de Flaubert, desenhar o modelo técnico-narrativo do romance naturalista.[1] ________________________________________ [1] Madame Bovary, 150 anos depois de António Apolinário Lourenço (professor de Literatura Espanhola na Universidade de Coimbra e diretor do Instituto de Estudos Espanhóis da mesma Universidade). Disponível em:<http://olamtagv.wordpress.com/textos-seleccionados/madame-bovary- 150-anos-depois> acessado em fevereiro de 2008. Ler: Capítulo VIII- Realismo- A literatura portuguesa de Massaud Moisés(básica) Conteúdo 5 Eça de Queirós e suas obras Texto 1- Eça de Queirós e principais obras José Maria Eça de Queirós (1845-1900) nasceu na Póvoa de Varzim e faleceu em Paris. Estudou Direito na Universidade de Coimbra, tornando-se amigo de Antero de Quental, entre outros. Participou nas Conferências do Cassino e é um dos artistas da Geração de 70. Foi nomeado cônsul, tendo viajado pelo Egito, Cuba, Londres e Paris. Das suas obras, destacam-se Uma campanha alegre (1871), O crime do padre Amaro (1875-1876), O primo Basílio (1878), A relíquia (1887), Os Maias (1888), A ilustre casa de Ramires(1900), A correspondência de Fradique Mendes (1900), A cidade e as serras (1901- postumamente), Contos (1902) e Prosas Bárbaras (1903). Traduziu o romance de Rider Haggard, As minas de Salomão. É considerado um dos maiores romancistas portugueses do século XIX. Estilo queirosiano: • Crítica aos valores burgueses, à Igreja e ao Romantismo • Ironia e humor • Descrição detalhada- construção das personagens • Panorama da sociedade portuguesa • Um dos maiores romancistas em Língua Portuguesa- solidificação do romance O crime do padre Amaro Esse romance de 1875 causou um grande escândalo, pois se coloca contra o clero. Passa-se em Leiria, onde o padre Amaro Vieira, ingênuo e facilmente influenciável, assume sua paróquia. Envolveu-se sexualmente com Amélia, uma moça simples que catequizava as crianças da redondeza. Amaro conhece, então, o cinismo de seus colegas, que em nada estranham sua relação com a jovem. Havia outros padres que também tinham suas amantes. Grávida, Amélia morre no parto e Amaro entrega a criança a uma "tecedeira de anjos". A criança também morre e Amaro, agora um cínico descarado, prossegue com sua carreira. Os Maias Este livro tem o subtítulo Episódios da Vida Romântica e narra a saga da família dos Maias, na qual ocorrem traições, incesto e suicídio. É considerado por muitos como a obra-prima de Eça de Queirós. Em seu enredo, o jovem Carlos da Maia se apaixona por sua irmã Maria Eduarda sem saber, pois haviam sido separados desde a infância. Há uma crítica incisiva sobre a sociedade portuguesa, principalmente a aristocracia decadente, à qual tinha como patriarca Afonso da Maia, avô de Carlos. Houve uma adaptação em forma de minissérie para televisão. Contudo, vale lembrar que a minissérie é uma adaptação, diferindo da obra original, apresentando, inclusive, trechos de outras obras, como A relíquia. A Cidade e as Serras Esse romance foi publicado após a morte de Eça de Queirós. Seu foco narrativo é interessante, o narrador em primeira pessoa não é o protagonista, é o que chamamos de narrador-testemunha. O narrador José Fernandes conta as peripécias e atribulações de Jacinto de Tormes, fidalgo português nascido em Paris. Milionário e culto, Jacinto cerca-se de luxo e de inúmeros amigos influentes e superficiais. Mas nada o livra do tédio. Indo a Portugal para reformar o cemitério de seus antepassados na propriedade rural de Tormes, Em um primeiro momento, Jacinto sente-se perturbado a ter que viver no campo e abandonar os confortos da civilização. Contudo, aos poucos, apaixona-se pela vida no interior , casa-se e se torna um homem feliz, sem abandonar alguns privilégios da civilização. É uma clara defesa do retorno de Portugal às origens rurais. Eça faz as pazes com sua terra natal. (fonte adaptada : http://www.klickeducacao.com.br Questão 1: (Enade 2005- adaptada)- Considere o fragmento do romance Os Maias, de Eça de Queirós.( Obs: esta questão não prevê a leitura da obra, e sim conhecimento sobre Eça de Queirós) “Pobre Alencar! O naturalismo; (...) essas rudes análises, apoderando-se da Igreja, da Realeza, da Burocracia, da Finança, de todas as coisas santas, dissecando-as brutalmente e mostrando-lhes a lesão, (...) apanhando em flagrante (...) a palpitação mesma da vida; tudo isso (...), caindo assim de chofre e escangalhando a catedral romântica, sob a qual tantos anos ele tivera altar e celebrara missa, tinha desnorteado o pobre Alencar (...). O naturalismo, com as suas aluviões de obscenidade, ameaçava corromper o pudor social? Pois bem. Ele, Alencar, seria o paladino da Moral (...); então o romancista de Elvira que, em novela e drama, fizera a propaganda do amor ilegítimo, representando os deveres conjugais como montanhas de tédio, dando a todos os maridos formas gordurosas e bestiais, e a todos os amantes a beleza, o esplendor e o gênio dos antigos Apolos; então Tomás Alencar,que (...) passava ele próprio uma existência medonha de adultérios, lubricidade, orgias (...) – de ora em diante austero, incorruptível, (...) passou a vigiar atentamente o jornal, o livro, o teatro.” No trecho acima, quem relata é o narrador em terceira pessoa que se aproveita, dentre outros recursos, do discurso indireto livre. Considerado o contexto cultural em que a obra foi produzida, é correto afirmar que, nesse relato, o uso da ironia A ) permitiu que o narrador, aderindo aos sentimentos de Tomás Alencar, criticasse a estética realista/naturalista, traduzindo a visão de Eça de Queirós. B)produziu uma inversão: o narrador, caracterizando o Realismo/Naturalismo sob a perspectiva de Tomás Alencar, deixa transparecer as convicções do realista Eça de Queirós sobre o Romantismo. C) criou um discurso de natureza metalingüística: o tema é a arte de Tomás Alencar, que, embora romântico, procura compor segundo o estilo das obras de Zola. D) propiciou que fossem citadas, pela voz da personagem, as razões do juízo desfavorável de Eça de Queirós acerca das propostas da geração das Conferências do Cassino Lisbonense. E ) criou referências (tédio no casamento, maridos como figuras bestiais, amantes apolíneos) que aproximam Tomás Alencar do autor de Madame Bovary, o que justifica sua aversão ao Realismo/Naturalismo. Resposta: B. Essa questão exige muito mais interpretação de texto e conhecimento sobre o estilo de Eça de Queirós, do que a leitura da obra Os Maias, propriamente dita. Ele descreve o Naturalismo como algo nocivo, mas está sendo irônico, pois zomba de sua personagem, Tomás Alencar que, hipocritamente, “passava ele próprio uma existência medonha de adultérios, lubricidade, orgias (...) – de ora em diante austero, incorruptível,(...) passou a vigiar atentamente o jornal, o livro, o teatro.” Ou seja, Tomás Alencar seria um defensor do Romantismo, contrário ao Naturalismo. Texto 2- Eça de Queirós e O primo Basílio Em O primo Basílio, como em outras, percebe-se a crítica social como principal característica. O alvo principal da crítica, nessa obra, é a família lisboeta como "produto do namoro, reunião desagradável de egoísmos que se contradizem". Ela foi inspirada em Madame Bovary, de Gustave Flaubert. Há várias semelhanças no enredo, contudo, as obras se diferenciam principalmente pelo tom irônico de Eça, pela maneira caricatural e debochada que constrói as personagens. Além do que, O primo Basílio apresenta também características naturalistas. Eça de Queirós compõe um pequeno quadro doméstico e familiar, típico da pequena burguesia de Lisboa da época: Luísa, uma jovem senhora sentimental, de educação romântica, de temperamento exaltado, fruto da ociosidade e da falta de disciplina moral; seu primo Basílio, um amante baixo e imoral, sedento de aventuras e amores frívolos; Juliana, uma criada revoltada com a sua situação, sedenta de vingança. Jorge, o marido medíocre, pouco romântico. Para os realistas, o casamento era uma mera conveniência. Jorge casa-se “no ar” como diz seu amigo Sebastião. Não havia paixão, apenas comodidade. Veja que interessante trecho, logo no primeiro capítulo: “Conheceu Luísa, no verão, à noite, no Passeio. Apaixonou-se pelos seus cabelos louros, pela sua maneira de andar, pelos seus olhos castanhos muito grandes. No inverno seguinte foi despachado, e casou. Sebastião, o seu íntimo, o bom Sebastião, o Sebastiarrão, tinha dito, com uma oscilação grave da cabeça, esfregando vagarosamente as mãos: - Casou no ar! Casou um bocado no ar! Mas Luísa, a Luisinha, saiu muito boa dona de casa; tinha cuidados muito simpáticos nos seus arranjos; era asseada, alegre como um passarinho, como uma passarinha amiga do ninho e das carícias do macho; e aquele serzinho louro e meigo veio dar à sua casa um encanto sério. - É um anjinho cheio de dignidade! - dizia então Sebastião, o bom Sebastião, com a sua voz profunda de basso. Estavam casados havia três anos. Que bom que tinha sido! Ele próprio melhorara; achava-se mais inteligente, mais alegre... E recordando aquela existência fácil e doce, soprava o fumo do charuto, a perna traçada, a alma dilatada, sentindo-se tão bem na vida como no seu jaquetão de flanela!” ( QUEIRÓS,2002, P. 17) Observe o tom irônico de Eça de Queirós. Sabemos que Luísa trairá seu marido, assim, quando o autor a chama de “serzinho louro e meigo” chega a ser cômico. Para Jorge, o casamento e o jaquetão de flanela equiparam-se e lhe dão o mesmo conforto, ou seja, o casamento não passa de uma conveniência. Como tese, o autor quer nos demonstrar que Luísa trai seu marido devido à sua formação romântica, às suas leituras açucaradas, à sua formação sem moral, sem disciplina. Questão 2: O primo Basílio, de Eça de Queirós, foi uma obra criada a partir da influência dos romances franceses. Assinale a seguir o item que identifica corretamente a intenção de Eça nessa obra: A) Procurou explorar o realismo das relações familiares da elite de Lisboa, expondo seus problemas. B) Tentou desmistificar a ideia de que a mulher é um ser puro, ingênuo e intocável. C) Abordou o tema do aborto como modo de dizer que tudo é feito pela elite para manter sob seu controle as relações tradicionais, inclusive o casamento, ainda que ele esteja fragilizado. D) Enfatizou a necessidade de se dizer a verdade em qualquer situação, pois isso evita sempre transtornos maiores no futuro. E) Enaltecer a pequena burguesia e sua rígida formação moral. Resposta B- Eça procura desmistificar a mulher pura e inocente. A mulher idealizada dos românticos é questionada. Luísa não tem firmeza moral, sua formação burguesa romântica e burguesa a levam ao adultério. A obra retrata a pequena burguesia, não as elites. A temática do aborto não entra nessa obra. Texto 3- Determinismo Na construção de Luísa, podemos observar a teoria de Taine sendo colocada em prática: o Determinismo. Luísa, assim como Juliana, é um produto do meio em que vive, ela não tem escapatória. Vejamos o trecho que comprova as características deterministas da obra. No capítulo III, encontramos uma composição gloriosa do caráter de Juliana: "Servia, havia vinte anos. Como ela dizia, mudava de amos, mas não mudava de sorte. Vinte anos a dormir em cacifos, a levantar-se de madrugada, a comer os restos, a vestir trapos velhos, a sofrer os repelões das crianças e as más palavras das senhoras, a fazer despejos, a ir para o hospital quando vinha a doença, a esfalfar-se quando voltava a saúde!... Era demais! Tinha agora dias em que só de ver o balde das águas sujas e o ferro de engomar se lhe embrulhava o estômago. Nunca se acostumara a servir. Desde rapariga a sua ambição fora ter um negociozito, uma tabacaria, uma loja de chapelista ou de quinquilharias, dispor, governar, ser patroa; mas, apesar de economias mesquinhas e de cálculos sôfregos, o mais que conseguira juntar foram sete moedas ao fim de anos; tinha então adoecido; com o horror do hospital fora tratar-se para casa de uma parenta; e o dinheiro, ai! derretera-se!" ( QUEIRÓS, 2002, P. 61) ( capítulo III) Vocabulário fazer despejos: esvaziar os penicos dos patrões, jogando os dejetos em uma fossa. Muitos críticos consideram Juliana como a personagem mais complexa e bem construída por Eça de Queirós. Sentindo-se humilhada por toda uma vida, ao ter as cartas de Luísa e Basílio em mãos (provas do adultério), aproveita a oportunidade para se vingar de todas suas patroas. Cuidado, não podemos dizer que há luta de classes ou que o socialismo é defendido por Eça. Juliana não lutava pelo direito das empregadas domésticas ou pela igualdade, o que ela queria mesmo era tornar-se uma pequena burguesa, uma patroa como Luísa Questão 3: Quanto à construção e caracterização da personagem Juliana, de O primo Basílio, assinale a alternativa correta: A) Apesar de ser uma personagem secundária, Juliana é a considerada uma das criações mais expressivas e vivas de Eça de Queirós B) A descrição feita pelo autor é bastante idealizada e romântica, pois seu objetivo é apenas a arte pela arte. C) Por ter sofrido muito , Juliana passa a ter uma preocupação política e humanista e reivindica que todas as empregadas sejam tratadas segundo a lei dos direitos humanos. D) Juliana contraria as idéias deterministas de que o ser humano é produto do meio, uma vez que supera sua origem humilde e sofrida para se tornar uma pessoa compreensível ao final do romance. E) O detalhismo e a descrição grotesca de personagens e cenários é um resgate da estética romântica, que ainda influencia muito a obra de Eça de Queirós. Resposta: A– Juliana é uma personagem complexa e bem construída. Apesar de sua participação efetiva no enredo, é considerada uma personagem secundária, coadjuvante. Os protagonistas são Jorge, Basílio e Luísa. Texto 4- A descrição detalhada, crítica social e ironia O detalhismo é outra característica do estilo queirosiano. O autor é bastante detalhista, suas descrições são longas e pormenorizadas. Sua intenção ao descrever uma sala, por exemplo, é construir a personalidade das pessoas que ali se apresentam. Veja esse trecho em que Luísa ruma ao encontro de seu amante Basílio e é abordada pelo Conselheiro Acácio. Os dois ficamconversando em frente a uma confeitaria: "Estavam parados ao pé da Confeitaria. Na vidraça, por trás deles emprateleirava-se uma exposição de garrafas de malvasia com os seus letreiros muito coloridos, transparências avermelhadas de gelatinas, amarelidões enjoativas de doces de ovos, e queques de um castanho-escuro, tendo espetados cravos tristes de papel branco ou cor-de-rosa. Velhas natas lívidas amolentavam-se no oco dos folhados; ladrilhos grossos de marmeladas esbeiçavam-se ao calor; as empadinhas de marisco aglomeravam as suas crostas ressequidas. E no centro, muito proeminente numa travessa, enroscava-se uma lampreia de ovos, medonha e bojuda, com o ventre amarelo asqueroso, o dorso malhado de arabescos de açúcar, a boca escancarada..." (QUEIRÓS, 2002, P. 101) Vocabulário Lampreia- parasita, assemelha-se a uma lesma Malvasia- bebida Queques- doces Note a descrição detalhada, repleta de pormenores. Eça, ao descrever a confeitaria, de forma grotesca e exagerada, até naturalista, antecipa-nos o próximo episódio em que Luísa cometerá adultério. A Crítica Social Neste outro trecho, temos um bom exemplo de crítica social: "Sebastião,interpelado,corou,declarou que não entendia nada de política; havia todavia fatos que o afligiam: parecia-lhe que os operários eram mal pagos; a miséria crescia;os cigarreiros,por exemplo, tinham apenas de nove a onze vinténs por dia,e,com família, era triste... _É uma infâmia ! disse Julião encolhendo os ombros. _ E há poucas escolas...-observou timidamente Sebastião. _ É uma torpeza!- insistiu Julião. (...) Mas o Conselheiro interrompeu-o: _ Meus bons amigos,falemos de outra coisa. É mais digno de portugueses e de súditos fiéis " (QUEIRÓS, 2002, 245) Nesse diálogo, podemos observar a sociedade portuguesa da época. Havia problemas sérios, pessoas vivendo na miséria. Mas, hipocritamente, o Conselheiro Acácio, que se diz tão bom e patriota, recusa-se a falar sobre o assunto. Esse é um bom exemplo da crítica social feita por Eça de Queirós Além da crítica, podemos observar como característica de Eça de Queirós a ironia. As personagens são caricaturas, por vezes grotescas e engraçadas. Duas personagens exemplares são D. Felicidade, amiga da família e apaixonadíssima pelo Conselheiro Acácio, e Ernestinho, o primo de Jorge. Eça de Queirós soube compor como ninguém um quadro bastante completo da sociedade portuguesa do século XIX. Com uma crítica voraz, repleta de ironia e deboche, o autor aponta as mazelas de uma sociedade em crise, ludibriada pelos encantos do fim de século e vislumbrando um novo século, o século XX. Questão 4: Das alternativas abaixo, indique a que não condiz com o romance "O primo Basílio", de Eça de Queirós. A) É uma obra realista-naturalista cujo narrador é neutro e imparcial, pois não condena, nem absolve Luísa, nem mesmo condena a moral burguesa. B) Apresenta como tema central o adultério, explorando o erotismo dos amantes. C) Mostra-se, com uma lente de aumento, a intimidade das famílias e revela criticamente a pequena burguesia do final do século XIX em Lisboa. D) Ataca as instituições sociais como a família e a igreja, sempre com a preocupação de fazer um vasto inquérito da sociedade portuguesa e moralizar os costumes da época. E) Caracteriza-se pela ironia , pelo caricaturismo e pelo humor na composição das personagens, entre as quais se destacam Dona Felicidade, Ernestinho e o Conselheiro Acácio. Resposta A O narrador queirosiano passa-nos uma falsa neutralidade, não sendo imparcial. É guiado pelo Determinismo para justificar as ações das personagens. Condena Luísa, que , por cometer o adultério, morre ao final da obra. O adultério e o erotismo estão presentes. A pequena burguesia chega a ser devastada, assim como a Família, a Igreja e os costumes da época. A ironia, a caricatura e o humor são traços dessa obra Machado de Assis, além de grande escritor, foi um crítico literário. Em 1878, ele escreve uma crítica sobre O primo Basílio de Eça de Queirós. Há muito de verdade nessa crítica, contudo, Machado era contemporâneo de Eça e as novidades do Realismo e do Naturalismo, de certa forma, assustaram o escritor brasileiro. O exagero, o tom naturalista que Eça diversas vezes utiliza, é condenado, considerado por Machado como um traço grosso, rude e descabido. Machado não compreende a tese de Eça. Considera que Luísa não tem consistência, o que é uma verdade, e que tese nenhuma é defendida, um erro, já que sabemos que Eça quer justificar o comportamento de Luísa por sua formação romântica, carente de moral. Ele, propositalmente, a faz de marionete nas mãos de Basílio e Juliana: Observe a ironia machadiana ao considerar que não há tese no romance: É importante ressaltar que quando escreve essa crítica, Machado de Assis ainda está em sua fase romântica, pois consideramos, didaticamente, que o Realismo no Brasil se inicia com Memórias de Brás Cubas em 1878. Essa obra, como Quincas Borba, de 1891, e Dom Casmurro, de 1899 já são realistas, colocando também, entre suas temáticas, o adultério. Veja a crítica : O Primo Basílio de Eça de Queirós Crítica de Machado de Assis Publicada na revista O Cruzeiro, 16 de abril de 1878. " Um dos bons e vivazes talentos da atual geração portuguesa, o Sr. Eça de Queirós, acaba de publicar o seu segundo romance, O Primo Basílio. O primeiro, O Crime do Padre Amaro, não foi decerto a sua estreia literária. De ambos os lados do Atlântico, apreciávamos há muito o estilo vigoroso e brilhante do colaborador do Sr. Ramalho Ortigão, naquelas agudas Farpas, em que aliás os dois notáveis escritores formaram um só. Foi a estreia no romance, e tão ruidosa estreia, que a crítica e o público, de mãos dadas, puseram desde logo o nome do autor na primeira galeria dos contemporâneos. Estava obrigado a prosseguir na carreira encetada[1]; digamos melhor, a colher a palma do triunfo. Que é, e completo e incontestável. Mas esse triunfo é somente devido ao trabalho real do autor? O Crime do Padre Amaro revelou desde logo as tendências literárias do Sr. Eça de Queirós e a escola a que abertamente se filiava. O Sr. Eça de Queirós é um fiel e aspérrimo discípulo do realismo propagado pelo autor do Assommoir[2]. Se fora simples copista, o dever da crítica era deixá-lo, sem defesa, nas mãos do entusiasmo cego, que acabaria por matá-lo; mas é homem de talento, transpôs ainda há pouco as portas da oficina literária; e eu, que lhe não nego a minha admiração, tomo a peito dizer-lhe francamente o que penso, já da obra em si, já das doutrinas e práticas, cujo iniciador é, na pátria de Alexandre Herculano e no idioma de Gonçalves Dias. Que o sr. Eça de Queirós é discípulo do autor do Assommoir, ninguém há que o não conheça. O próprio Crime do Padre Amaro é imitação do romance de Zola, La Faute de l'Abbé Mouret[3]. Situação análoga, iguais tendências; diferença do meio; diferença do desenlace; idêntico estilo; algumas reminiscências, como no capítulo da missa, e outras; enfim, o mesmo título. (....) Certo da vitória, o Sr. Eça de Queirós reincidiu no gênero, e trouxe-nos o Primo Basílio, cujo êxito é evidentemente maior que o do primeiro romance, sem que, aliás, a ação seja mais intensa, mais interessante ou vivaz, nem mais perfeito o estilo. (....) Vejamos o que é o Primo Basílio e comecemos por uma palavra que há nele. Um dos personagens, Sebastião, conta a outro o caso de Basílio, que, tendo namorado Luísa em solteira, estiverapara casar com ela; mas falindo o pai, veio para o Brasil, donde escreveu desfazendo o casamento. - Mas é a Eugênia Grandet! exclama o outro. O Sr. Eça de Queirós incumbiu-se de nos dar o fio da sua concepção. Disse talvez consigo: - Balzac separa os dois primos, depois de um beijo (aliás, o mais casto dos beijos). Carlos vai para a América; a outra fica, e fica solteira. Se a casássemos com outro, qual seria o resultado do encontro dos dois na Europa? - se tal foi a reflexão do autor, devo dizer, desde já, que de nenhum modo plagiou os personagens de Balzac. A Eugênia deste, a provinciana singela e boa, cujo corpo, aliás robusto, encerra uma alma apaixonada e sublime, nada tem com a Luísa do Sr. Eça de Queirós. Na Eugênia, há uma personalidade acentuada, uma figura moral, que por isso mesmo nos interessa e prende; a Luísa - força é dizê-lo - a Luísa é um caráter negativo, e no meio da ação ideada pelo autor, é antes um títere[4] do que uma pessoa moral. Repito, é um títere; não quero dizer que não tenha nervos e músculos; não tem mesmo outra coisa; não lhe peçam paixões nem remorsos; menos ainda consciência. Casada com Jorge, faz este uma viagem ao Alentejo, ficando ela sozinha em Lisboa; aparece-lhe o primo Basílio, que a amou em solteira. Ela já o não ama; quando leu a notícia da chegada dele, doze dias antes, ficou muito "admirada"; depois foi cuidar dos coletes do marido. Agora, que o vê, começa por ficar nervosa; ele lhe fala das viagens, do patriarca de Jerusalém, do papa, das luvas de oito botões, de um rosário e dos namoros de outro tempo; diz-lhe que estimara ter vindo justamente na ocasião de estar o marido ausente. Era uma injúria: Luísa fez-se escarlate; mas à despedida dá- lhe a mão a beijar, dá-lhe até a entender que o espera no dia seguinte. ele sai; Luísa sente-se "afogueada, cansada", vai despir-se diante de um espelho, "olhando-se muito, gostando de se ver branca". A tarde e a noite gasta-as a pensar ora no primo, ora no marido. Tal é o intróito[5], de uma queda, que nenhuma razão moral explica, nenhuma paixão, sublime ou subalterna, nenhum amor, nenhum despeito, nenhuma perversão sequer. Luísa resvala no lodo, sem vontade, sem repulsa, sem consciência; Basílio não faz mais do que empuxá-la, como matéria inerte, que é. Uma vez rolada ao erro, como nenhuma flama espiritual a alenta, não acha ali a saciedade das grandes paixões criminosas: rebolca-se[6] simplesmente. Assim, essa ligação de algumas semanas, que é o fato inicial e essencial da ação, não passa de um incidente erótico, sem relevo, repugnante, vulgar. Que tem o leitor do livro com essas duas criaturas sem ocupação nem sentimentos? Positivamente nada. E aqui chegamos ao defeito capital da concepção do Sr. Eça de Queirós. A situação tende a acabar, porque o marido está prestes a voltar do Alentejo, e Basílio começa a enfastiar-se, e, já por isso, já porque o instiga um companheiro seu, não tardará a trasladar-se a Paris. Interveio, neste ponto, uma criada. Juliana, o caráter mais completo e verdadeiro do livro; Juliana está enfadada de servir; espreita um meio de enriquecer depressa; logra apoderar-se de quatro cartas; é o triunfo, é a opulência. Um dia em que a ama lhe ralha com aspereza, Juliana denuncia as armas que possui. Luísa resolve fugir com o primo; prepara um saco de viagem, mete dentro alguns objetos, entre eles um retrato do marido. Ignoro inteiramente a razão fisiológica ou psicológica desta precaução de ternura conjugal: deve haver alguma; em todo caso, não é aparente. Não se efetua a fuga, porque o primo rejeita essa complicação; limita-se a oferecer o dinheiro para reaver as cartas, - dinheiro que a prima recusa - despede-se e retira-se de Lisboa. Daí em diante o cordel que move a alma inerte de Luísa passa das mãos de Basílio para as da criada. Juliana, com a ameaça nas mãos, obtém de Luísa tudo, que lhe dê roupa, que lhe troque a alcova, que lha forre de palhinha, que a dispense de trabalhar. Faz mais: obriga-a a varrer, a engomar, a desempenhar outros misteres[7] imundos. Um dia Luísa não se contém; confia tudo a um amigo de casa, que ameaça a criada com a polícia e a prisão, e obtém assim as fatais letras,Juliana sucumbe a um aneurisma; Luísa, que já padecia com a longa ameaça e perpétua humilhação, expira alguns dias depois. Um leitor perspicaz terá já visto a incongruência da concepção do Sr. Eça de Queirós, e a inanidade do caráter da heroína. Suponhamos que tais cartas não eram descobertas, ou que Juliana não tinha a malícia de as procurar, ou enfim que não havia semelhante fâmula[8] em casa, nem outra da mesma índole. Estava acabado o romance, porque o primo enfastiado seguiria para França, e Jorge regressaria do Alentejo; os dois esposos voltavam à vida exterior. Para obviar a esse inconveniente, o autor inventou a criada e o episódio das cartas, as ameaças, as humilhações, as angústias e logo a doença, e a morte da heroína. Como é que um espírito tão esclarecido, como o do autor, não viu que semelhante concepção era a coisa menos congruente e interessante do mundo? Que temos nós com essa luta intestina entre a ama e a criada, e em que nos pode interessar a doença de uma e a morte de ambas? Cá fora, uma senhora que sucumbisse às hostilidades de pessoa de seu serviço, em consequência de cartas extraviadas, despertaria certamente grande interesse, e imensa curiosidade; e, ou a condenássemos, ou lhe perdoássemos, era sempre um caso digno de lástima. No livro é outra coisa, Para que Luísa me atraia e me prenda, é preciso que as tribulações que a afligem venham dela mesma; seja uma rebelde ou uma arrependida; tenha remorsos ou imprecações; mas, por Deus! dê-me a sua pessoa moral. Gastar o aço da paciência a fazer tapar a boca de uma cobiça subalterna, a substituí-la nos misteres ínfimos, a defendê-la dos ralhos do marido, é cortar todo o vínculo moral entre ela e nós. Já nenhum há, quando Luísa adoece e morre. Por quê? porque sabemos que a catástrofe é o resultado de uma circunstância fortuita, e nada mais; e consequentemente por esta razão capital: Luísa não tem remorsos, tem medo. Se o autor, visto que o Realismo também inculca vocação social e apostólica, intentou dar no seu romance algum ensinamento ou demonstrar com ele alguma tese, força é confessar que o não conseguiu, a menos de supor que a tese ou ensinamento seja isto: - A boa escolha dos fâmulos[9] é uma condição de paz no adultério. A um escritor esclarecido e de boa fé, como o Sr. Eça de Queirós, não seria lícito contestar que, por mais singular que pareça a conclusão, não há outra no seu livro. Mas o autor poderia retorquir: - Não, não quis formular nenhuma lição social ou moral; quis somente escrever uma hipótese; adoto o realismo, porque é a verdadeira forma da arte e a única própria do nosso tempo e adiantamento mental; mas não me proponho a lecionar ou curar; exerço a patologia, não a terapêutica. A isso responderia eu com vantagem: - Se escreveis uma hipótese dai-me a hipótese lógica, humana, verdadeira. Sabemos todos que é aflitivo o espetáculo de uma grande dor física; e, não obstante, é máxima corrente em arte, que semelhante espetáculo, no teatro, não comove a ninguém; ali vale somente a dor moral. Ora bem; aplicai esta máxima ao vosso realismo, e sobretudo proporcionai o efeito à causa, e não exijais a minha comoção a troco de um equívoco. E passemos agora ao mais grave, ao gravíssimo. Parece que o Sr. Eça de Queirós quis dar-nos na heroína um produto da educação frívola e da vida ociosa; não obstante, há aí traços que fazem supor, à primeira vista, uma vocação sensual. A razão disso é a fatalidade das obras do Sr. Eça de Queirós
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