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Arlindo Ugulino Netto –ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 1 MED RESUMOS 2011 NETTO, Arlindo Ugulino. ANESTESIOLOGIA ENTUBAÇÃO TRAQUEAL A entubao/intubao traqueal uma manobra que permite ao anestesista o manejo apropriado das vias areas, sendo parte essencial da tarefa do anestesiologista, com o objetivo de garantir adequada troca de gases em todas as circunstncias, necessitando, para isso, mant-las patentes constantemente. A entubao consiste na colocao translar ngea de um tubo dentro da traquia, atravs do nariz (nasotraqueal) ou da boca (orotraqueal). Os problemas com as vias areas esto entre as causas mais frequentes dentre as catstrofes anestsicas. Uma vez interrompida a ventilao e a oxigenao dos pulmes por alguns minutos, podem ocorrer leso cerebral ou morte. Por esta razo, de fundamental importncia o mdico – em especial o anestesista e os intensivistas – conhecer a tcnica da entubao para garantir, ao menos, uma ventilao artificial ao paciente incapaz de respirar. Isso porque muitos estudos catastrficos comprovam a importncia do manejo adequado das vias areas na morbimortalidade de pacientes. Na maior parte desses estudos, com relao a levantamentos de reclamatrias feitas por acidentes em anestesia, um tero de todos eles envolvia sequelas de cunho respiratrio. HISTRICO 1792: Curry, utilizando o tato, realiza intubao traqueal pela primeira vez. As primeiras entubaes foram feitas com tcnicas deficientes, s cegas, sem instrumentao adequada, guiando-se apenas pelo tato e pelo estetoscpio. 1832: Nasce Ephraim Cutter, mdico americano e inventor do laringoscpio. 1910: Dorrance adaptou a sonda de entubao endotraqual ao balonete. AVALIAO DAS VIAS AREAS A avaliao das vias areas uma conduta indispensvel, devendo ser realizada sempre que poss vel, pois a falha na identificao de uma via area potencialmente dif cil pode levar a situaes em que no se pode nem intubar, nem ventilar um paciente. ANAMNESE O objetivo da histria detectar fatores mdicos, cirrgicos e anestsicos que possam indicar a presena de uma via area dif cil. O exame de registros de procedimentos prvios, se dispon veis, tambm pode contribuir na avaliao. Informaes trazidas pelo paciente sobre dificuldade prvia na intubao orotraqueal nunca devem ser menosprezadas, mesmo que ao exame f sico no se destaque nenhuma alterao. O mdico deve dar a devida ateno faixa etria do paciente: a abordagem de um adulto diferente da abordagem de uma criana. Isto porque as referncias anatmicas entre as vias areas dessas faixas etrias so diferentes: embora no aparente, o conduto e estruturas da via area superior da criana maior que a do adulto (cabea, l ngua e epiglote so maiores, relativamente). Alm disso, o prprio formato da epiglote diferente: apresenta uma conformao em “U” (corniculada) na criana at 2 anos de idade; e em “V” (vermiculada) no adulto. Depois dos 2 anos, considera-se a criana como um adulto jovem. EXAME FÍSICO Pescoo: comprimento, hipertrofia muscular, cicatrizes. Avaliao da morbidade: em condies normais, a flexo do mento ao esterno de 45o, e a extenso de 55o, com reduo de 20% em indiv duos com mais de 70 anos. Mento: hipoplasia de mand bula (menos de 6 cm entre o bordo da mand bula e o osso hiide); Distncia esternomentoniana: com o paciente sentado, pescoo em mxima extenso, boca fechada, mede-se a distncia entre o bordo superior do esterno (manbrio) e o queixo (mento). Uma distncia igual ou menor que 12,5 cm considerada sugestiva de um intubao dif cil. Distancia entre o mento e a proeminncia lar ngea menor que 6,5 cm tambm impe dificuldades tcnica. Cavidade oral: macroglossia, avaliao de Mallampatti (exames complementares), capacidade de movimentao da l ngua. Dentes: ausncia, protrusos, spticos, doena periodontal, prteses. Uma arcada dentria incompleta fornece dificuldades tcnicas no processo da entubao. A fratura ou quebra de dentes tambm dificulta o procedimento e pode complicar caso o dente acesse a via area. Mobilidade mandibular: na presena da osteoartrite da articulao temporomandibular (ATM), h risco se a abertura da boca seja menor que 60 mm ou trs dedos. Face anterior do pescoo (laringe): desvios, hematomas, tumores (mveis ou fixos palpao?); Pregas vocais: cornagem, edema, paralisia, disfonia. Nariz: hipertrofia de cornetos, desvio de septo. Arlindo Ugulino Netto –ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 2 EXAMES COMPLEMENTARES Para facilitar e padronizar a avaliação das vias aéreas, vários autores têm desenvolvido escalas; entre elas, as mais utilizadas são as de Mallampatii e a escala de Cormack e Lehane (1984), a qual exige a realização de laringoscopia. Escala de Mallampatti: baseia-se no grau da abertura de boca e de visualização das estruturas da orofaringe, sustentando que a dificuldade de intubação está relacionada à largura da base da língua. É bastante utilizada por sua praticidade. A análise é feita com o paciente sentado, com a cabeça em posição neutra, a boca aberta ao máximo e a língua protrusa ao máximo. O observador deve estar sentado, com os olhos à mesma altura do paciente. O teste deve ser repetido alguns minutos após o descanso do paciente, para confirmar a classificação. As classes III e IV são sugestivas de intubação difícil. o Classe I: palato mole, pilares, úvula e tonsilas palatinas anterior e posterior visíveis. o Classe II: palato mole, pilares e úvulas visíveis. o Classe III: palato mole e úvula visíveis. o Classe IV: palato mole parcialmente visível. Escala de Cormack e Lehane: corresponde à avaliação do grau de visualização da glote à laringoscopia. A classe I de Mallampatii corresponde ao grau I de visualização da laringe em 99 a 100% das vezes. A classe IV, aos graus III ou IV em quase 100% das vezes. EQUIPAMENTOS UTILIZADOS EM INTUBAO TRAQUEAL Laringoscópio: é o instrumento utilizado para visualização da glote. O laringoscópio convencional é o instrumento mais frequentemente utilizado para realizar laringoscopia direta e auxiliar a intubação traqueal. É constituído por um cabo que contém baterias, ao qual é conectada uma lâmina que pode ser curva ou reta. Existe uma grande variedade de desenhos para as lâminas tanto curvas quanto retas. Atualmente, estão disponíveis novos modelos de laringoscópios convencionais e lâminas, todos objetivando maior facilidade técnica, assim como menor trauma e menores exigências quanto ao posicionamento do paciente. o A lâmina curva (de Macintosh) traumatiza menos os dentes, dá maior espaço para a passagem do tubo endotraqueal através da orofaringe, lesa menos a epiglote, provoca menos tosse e laringoespasmo do que a lâmina reta. o A lâmina reta com ponta curva (de Miller) expõe melhor a abertura glótica quando a laringe é muito anterior, havendo menor necessidade do uso de guia. Tubos endotraqueais: cânulas inseridas diretamente na traquéia ou através da via aérea superior constituem a melhor maneira de manter a via aérea segura, isolando a traquéia do trato gastrintestinal e permitindo altas pressões de insuflação dos pulmões. Os tubos endotraqueais convencionais podem ser de borracha, natural ou sintética, ou de plástico. Os tubos plásticos, por serem transparentes, facilitam a limpeza e permitem a visualização de secreções, mas endurecem com o tempo. Os tubos endotraqueais descartáveis devem ter preferência sempre que disponíveis. Seu diâmetro interno é marcado por fora, em milímetros. Os tubos apresentam uma espécie de fio guia radiopaco que, através de exames de imagem, auxilia na justificativa da posição do tubo. Arlindo Ugulino Netto –ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 3 o Os tubos endotraqueais possuem balonetes. Distendidocom ar, o balonete cria um fechamento contra a mucosa traqueal circunjacente, evitando a aspirao pulmonar macia e facilitando a ventilao dos pulmes com presso positiva. Os balonetes de baixo volume residual devem ser distendidos at elevadas presses intraluminais para criar uma vedao entre o tubo endotraqual e a mucosa traqueal. Essa presso transmitida mucosa traqueal, podendo causar isquemia e leses da traquia. Portanto, a presso dentro do balonete deve ser a m nima necessria para evitar aspirao, permitindo o fluxo sangu neo capilar na rea em contato com a traquia. Realizada a intubao traqueal, o balonete insuflado e a intensidade da insuflao testada pela compresso da bolsa de reserva do sistema simultaneamente audio de algum escape de ar na boca ou no nariz. A frmula para o clculo do tamanho do tubo endotraqueal com ou sem balonete em criana acima de 2 anos so estas; o Conectores: conectam o tubo endotraqual ao sistema respiratrio. Podem ser de plstico ou metal em vrios desenhos. Conectores para uso em intubao nasotraqueal possuem angulao mais aguda do que os usados para intubao orotraqueal. TCNICAS DE MANUTENO DAS VIAS AREAS COM INTUBAO TRAQUEAL A definio de intubao endotraqueal a colocao translar ngea de um tubo dentro da traquia, atravs do nariz ou da boca. So indicaes de intubao traqueal: Segurana da via area em pacientes com risco de aspirao; Dificuldade na manuteno da via area na ventilao por mscara facial; Per odos prolongados de ventilao controlada; Procedimentos espec ficos como cirurgias de cabea e pescoo; intratorcicas e intra-abdominais; Oxigenao inadequada; Deficincia dos mecanismos de proteo da laringe; Trauma das vias areas. A tcnica de intubao traqueal ser escolhida em funo das respostas a essas questes: “Este paciente precisa ser intubado? H condies de ventil-lo adequadamente? Existe alguma alterao em sua via area? Faz uso de anticoagulante?” INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL A intubao orotraqueal realizada com o uso de um laringoscpio, cujas lminas mais comumente utilizadas so as de Macintosh (ou curva) e a de Miller (ou reta). Independente de qual tipo ser utilizado, o primeiro passo a ser realizado apoiar o paciente em uma superf cie r gida, no s para facilitar o procedimento da intubao, mas para permitir uma condio adequada caso seja necessria uma reanimao cardiopulmonar. Depois disso, a cabea do paciente deve ser elevada em 10 cm, usando um coxim e adotando a posio de sniffing, a qual alinha os trs eixos de referncia para este procedimento: oral (transpassa a boca axialmente, dividindo-a em duas partes), far ngeo (origina-se na base da hipofaringe ou laringofaringe) e lar ngeo (se origina no centro da laringe). Ao alinharmos os trs eixos, haver um encurtamento entre as estruturas orais, far ngeas e lar ngeas, o que facilitar o processo da entubao, evidenciando as estruturas da laringofaringe. Depois da primeira manobra, em que se faz a elevao da regio do occip cio (em torno de 6 a 10 cm) com o aux lio de um coxim, deve-se realizar uma hiperextenso da cabea (chin lift). Ao se fazer isso, temos uma retificao dos eixos far ngeo e lar ngeo com relao ao eixo oral. Arlindo Ugulino Netto –ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 4 OBS: Devido s diferenas anatmicas e dimensionais entre a criana e o adulto, no ser necessrio aplicar o coxim de apoio no occip cio da criana, uma vez que o prprio osso occipital desta faixa etria serviria como tal equipamento (devido s maiores propores da cabea). OBS²: Por diferenas no formato da epiglote em crianas (principalmente, recm-nascidas), a lmina do laringoscpio deve ser diferente da usada para o adulto. Para a criana, geralmente se faz uso da lmina reta (de Miller) e, para o adulto, a lmina curva (Macintosh). Alm disso, a tcnica, como veremos, diferente: a lmina reta deve fixar a epiglote por cima, e no por traz (isto , nas valculas) como se faz tradicionalmente com a cnula curva. Intubação com lâmina curva (Macintosh): depois de posicionado o paciente, a lamina deve ser introduzida pelo ngulo direito da boca, com a mo esquerda, e avanada gradualmente, empurrando a l ngua para a esquerda (colocando-a sobre a ranhura presente na lmina), sendo a lmina inserida na valcula (espao existente entre a epiglote e a base da l ngua). A l ngua e os tecidos da faringe so ento levantados por movimento para cima do laringoscpio convencional, proporcionando uma boa viso da orofaringe. O laringoscpio no deve ser utilizado como alavanca para evitar trauma dentrio. O movimento que deve ser feito : para frente e para cima. Visualizadas as pregas vocais, escolhe-se o tubo endotraqueal, que depender do tamanho da abertura gltica. A introduo do tubo no deve ser traumtica, devendo-se introduzir at que o balonete ultrapasse a glote. Caso o mdico encontre alguma resistncia durante a introduo, ele deve evitar movimentos de vai e vem ou movimentos de cima para baixo – o simples ato de girar o tubo facilita a sua introduo. Infla-se o balonete at no haver mais escape de gases compresso da bolsa respiratria. Intubação com lâmina reta (Miller): tambm introduzida no ngulo direito da boca e avanada para baixo da superf cie lar ngea da epiglote (e no na valcula); com um movimento para frente e para cima, eleva-se a epiglote e expe-se a abertura gltica. A depresso ou o movimento lateral da cartilagem tireide, externamente, com a mo direita, podem facilitar a exposio. o mtodo mais utilizado para crianas menores de 2 anos, sobretudo para menores de 6 meses de vida, principalmente devido ao maior tamanho proporcional da l ngua e da epiglote. OBS³: Pacientes que no apresentam os dentes incisivos anteriores (clinicamente designados como “1001”), impem dificuldades no movimento da manobra de intubao (para cima e para frente), sendo necessrio, na maioria das vezes, a utilizao de um guia dentro da sonda para facilitar a intubao. De fato, todas as vezes que um paciente encaminhado a uma cirurgia de carter eletivo, ele deve ser devidamente examinado por meio da ectoscopia. OBS4: Mand bula progntica (mais evidenciada), geralmente, no barreira para a intubao. Diferentemente da mand bula retrogntica um tipo de situao adversa da intubao por diminuir a distancia esternomentoniana. INTUBAÇÃO NASOTRAQUEAL Tem as mesmas indicaes da intubao orotraqueal, sendo particularmente indicada nos procedimentos que requerem a cavidade oral livre. Tem como vantagens a menor necessidade de manipulao cervical e o maior conforto para o paciente em ventilao mecnica prolongada. Est contra-indicada em fraturas da base do crnio (em especial o osso etmide), fratura de nariz, epistaxe, coagulopatia, desvio acentuado do septo e polipose nasal (contra-indicao relativa). Aps a anestesia tpica da mucosa nasal e uso de vasoconstrictor tpico, introduz-se o tubo endotraqueal pela narina at a rinofaringe. Opta-se sempre que poss vel pela narina direita, pois est relacionada com menor trauma dos cornetos. Arlindo Ugulino Netto –ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 5 Sob laringoscopia, visualiza-se a glote, e com o auxílio da pinça de Magill, direciona-se o tubo endotraqueal, introduzindo-o até o balonete ultrapassar as pregas vocais. INTUBAÇÃO TRAQUEAL NÃO-CONVENCIONAL Existem dois principais tipos de intubação traqueal não-convencional: Intubação com o tubo de duplo lúmen: sonda utilizada para cirurgias torácicas que ventila um pulmão por vez, a critério médico. A laringoscopia com lâmina curva é usualmente preferida, por deixar uma área maior para a passagem do tubo de duplo lúmen. Entretanto,a lâmina reta é mais útil em pacientes dentes protusos e laringeanterior. O tubo de duplo lúmen com esporão é inserido através das pregas vocais com a concavidade de sua curva distal dirigida anteriormente (como um tubo convencional), ficando o esporão para trás. Após a extremidade do tubo passar as pregas vocais, ele deve ser rotado 180 graus, de modo que o esporão se localize anteriormente ao passar a glote. A seguir, o tubo de duplo lúmen deve ser novamente rotado em 90 graus, para que sua extremidade curva vá em direção ao brônquio, penetrando-o e encaixando o esporão na carina da traquéia (quando é sentida resistência que impede maior progressão do tubo). Após a inserção do tubo de duplo lúmen, inflam-se os balonetes traqueal e brônquico. A seguir, a conexão em Y deve ser usada para ligar o tubo de duplo lúmen ao sistema ventilatório. Para avaliar a posição dos tubos, realiza a ausculta pulmonar clampeando um ramo e depois o outro. As indicações absolutas para a separação dos pulmões são: Isolamento de um pulmão para evitar inundação ou contaminação Infecção de um pulmão Hemorragia maciça Controle de disfribilação da ventilação Fístula barogênica Fístula broncopleural cutânea Abertura cirúrgica da via aérea Cisto ou bolha pulmonar gigante unilateral Ruptura da árvore traqueobrônquica Hipoxemia com risco de infecção causada por doença pulmonar unilateral Lavagem pulmonal unilateral Proteinose pulmonar alveolar Os principais tipos de tubos de duplo-lúmen são: o Carlens: presença do esporão, sendo mais traumático. o Robertshaw: não apresenta esporão, sendo menos traumático (ambos servem para entubação seletiva direita e esquerda) o Whitten: entubação seletiva ao pulmão direito Intubação com o paciente consciente: tanto para intubação oral ou nasotraqueal, esta técnica é indicada quando se prevê: intubação difícil; dificuldade na ventilação sob máscara facial no período pré-intubação; necessidade de manutenção da consciência para avaliação neurológica; risco de aspiração de conteúdo gástrico para a árvore traqueobrônquica. A técnica orotraqueal é realizada da seguinte maneira: quando existe risco de regurgitação do conteúdo gástrico, deve-se usar somente a nebulização tópica com anestésico local, preservando os reflexos protetores laríngeo e faríngeo. Não havendo este risco, faz-se o bloqueio do nervo laríngeo superior através da injeção transtraqueal de anestésico local para evitar a dor e a tosse. O anestésico local de escolha é a lidocaína (2 a 5%), associada a fenilefrina (0,005%) por sua ação vasoconstrictora, diminuindo a chance de sangramento. A dose máxima de lidocaína (tópica paciente hígido de 5 a 7mg/kg). Após pré-oxigenar o paciente, realiza-se a laringoscopia direta e introduz o tubo endotraqueal na glote. Induz-se a anestesia após confirmação adequada de entubação traqueal. CONFIRMAO DA INTUBAO É de fundamental importância que o profissional que realiza a intubação traqueal conheça esses métodos e os utilize sempre, nunca deixando de considerar, também, os sinais clínicos (os métodos destacados com * são os mais fidedignos): Ausculta ruídos respiratórios Movimento simétrico do tórax Ausência de ruídos ventilatórios no epigástrico Presença de condensação de ar no tubo endotraqueal devido à expiração Visualização da extremidade do tubo passado através das pregas vocais Ausência de distensão abdominal Movimentação da bolsa-reservatório em ventilação espontânea Arlindo Ugulino Netto –ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 6 Iluminação transtraqueal Laringoscopia com fibroscopia* Oximetria Detecção de cor exalado por capnografia* Raio X de tórax RESPOSTAS FISIOLGICAS E FISIOPATOLGICAS INTUBAO A entubação, como qualquer procedimento invasivo que tenha a cavidade oral como acesso, desencadeia respostas fisiológicas. O reflexo da ânsia é o principal deles. Ao se tocar a região a base da língua ou a região do pilar faucial anterior com um objeto, ocorre uma constrição e elevação do palato mole e fechamento da glote. O componente aferente deste reflexo se faz pelo N. glossofaríngeo (IX par de nervos cranianos, através dos nervos laríngeos superiores), levando impulsos até o centro reflexo do bulbo. As fibras eferentes se fazem pelo N. glossofaríngeo e N. vago, estabelecendo três respostas motoras: elevação do palato mole para fechar a nasofaringe, fechamento da glote para proteger a via aérea e constrição da faringe para impedir a entrada da substância. O reflexo da ânsia é protetor: ele visa a impedir que substâncias nocivas ou objetos estranhos avancem além da cavidade oral. O reflexo da tosse também pode ser desencadeado. Como se pode observar, a via aérea superior é uma área estritamente reflexogênica. Portanto, é contra-indicada a realização da técnica em indivíduos não anestesiados, em virtude dos reflexos autonômicos e da dor desencadeada pelo procedimento. Daí o motivo de preparar o paciente, não só com relação ao seu posicionamento correto, como também, realizar um procedimento anestésico adequado para realizar a intubação sob condições ideais, que pode ser por uma anestesia tópica, por infiltração transfaríngea ou transcricotireoidiana. O uso de analgésicos e de bloqueadores neuromusculares auxilia no procedimento e diminuem a dor após o procedimento. Além dos reflexos, o manejo das vias aéreas provoca alterações na fisiologia dos sistemas cardiovascular e respiratório. Os sistemas simpático e parassimpático medeiam respostas à intubação traqueal. A bradicardia, frequente em recém-nascidos e crianças pequenas, resulta de um aumento do tônus vagal no nódulo sinoatrial, como um resposta monossimpática ao estímulo nocivo na via aérea. Em adultos e adolescentes, as respostas mais comuns são taquicardia e hipertensão, mediadas pela via eferentes simpáticas, via nervos cardioaceleradores e cadeia ganglionar simpática. Algumas respostas hipertensivas resultam também da ativação do sistema renina-angiotensina. Pacientes coronariopatas são especialmente sensíveis a essas repercussões, sendo eles propensos à isquemia miocárdica. Os efeitos fisiológicos sobre o sistema respiratório são igualmente importantes. Uma das mais importantes é o próprio reflexo da ânsia, que, quando hiperestimulado, pode causar laringoespasmo, tosse, espirro e deglutição. Além disso, a ocorrência de broncoespamo após a intubação não é infrequente, não estando necessariamente ligada a história prévia de asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica. A intubação traqueal ativa ainda o sistema nervoso central como um todo, como foi evidenciado pelos aumentos da atividade eletroencefalográfica, da taxa metabólica cerebral e do fluxo sanguíneo cerebral. As medidas e os fármacos utilizados para minimizar os efeitos fisiológicos da intubação traqueal são discutidos a seguir. CONTROLE DO DESCONFORTO Os agentes farmacológicos possuem papel importante no manejo das vias aéreas, sendo indicados para facilitar e diminuir o desconforto nas manobras para sua obtenção, atenuar os efeitos fisiopatológicos e sedar e promover analgesia de pacientes que necessitam ser mantidos intubados ou sob ventilação artificial. Os principais fármacos são: Agentes específicos: o Tiopental: barbitúrico utilizado na dose de 2 a 5 mg/kg que aumenta a capacitância venosa e diminui a pré-carga, o débito cardíaco e a pressão arterial. o Propofol: sua dose para indução é de 1 a 2,5 mg/kg; a dose de infusão para sedação é de 1 a 6 mg/kg/h. Apresenta despertar mais rápido e completo comparado aos barbitúricos. Diminui a pressão arterial mais do que o tiopental. Benzodiazepínicos: possuem efeitos amnésicos, anticonvulsivante, hipnótico e sedativo. o Midazolam: utilizam-se incrementos de 0,5 a 1mg para sedação; para infusão contínua, usam-se 2 a 7 mg/h. Para amnésia, a dose é de 50 µg/Kg. o Diazepam: a dose para sedação é de 2 a 10 mg em adultos.O tempo para início de ação e de 1 a 2 minutos, e para recuperação, acima de 2 a 4 horas. É inadequado para infusão contínua resultando em sedação prolongada. Opióides: são indicados para analgesia e sedação, e podem ser usados por diversas vias e em vários esquemas de administração. Produzem depressão respiratória dose-dependente, a qual pode ser benéfica em pacientes em ventilação mecânica, porém retardam o desmame. Arlindo Ugulino Netto –ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 7 o Morfina: fármaco de baixo preço, com início de ação lento e duração prolongada. A dose para infusão é de 2 a 4 mg/h. o Fentanil: é um fármaco cem vezes mais potente que a morfina, com rápido início e duração de ação intermediária. Bloqueadores neuromusculares: não promovem sedação, amnésia ou analgesia, mas facilitam a intubação por diminuir o tônus muscular do paciente. Pacientes conscientes devem receber terapia adjuvante com sedativos. o Succinilcolina: é um relaxante muscular despolarizante, com indicações na facilitação da intubação traqueal, relaxamento da musculatura esquelética durante cirurgia ou ventilação mecânica. A dose para intubação é de 0,5 a 1,5 mg/kg. o Vecurônio: é um análogo esteróide do pancurônio. A dose para intubação é de 0,08 a 1 mg/kg. Anestsicos locais: a lidocaína é utilizada para anestesia tópica, controle hemodinâmico e facilitação da intubação oro ou nasotraqueal. É um anestésico local do grupo amida, metabolizado pelo fígado. Para intubação nasotraqueal eletiva, usam-se 3 a 5 ml de lidocaína a 2% em atomizador para cada inalação em cada narina, ou 4 ml de lidocaína a 4% por nebulizador na orofaringe. β-bloqueadores: impedem os efeitos das catecolaminas e dos simpatomiméticos sobre o coração. São indicados para prevenir taquicardia e hipertensão em pacientes com baixa reserva coronariana, principalmente quando não é autorizado o uso de agentes hipnóticos ou sedativos (estomago cheio), podendo ser associados à anestesia tópica. Estão contra-indicados em bloqueio atrioventricular ou insuficiência cardíaca não causada por taquicardia. Os mais utilizados são: esmolol e metoprolol. Agentes vasoativos: utilizados em casos de emergência em pacientes gravemente hipertensos, nos quais não se pode realizar indução anestésica com profundidade apropriada para impedir o agravamento do quadro cardiovascular. EXTUBAO TRAQUEAL Em anestesia, a extubação pode ser realizada com o paciente profundamente anestesiado ou acordado. Pacientes em planos superficiais de anestesia têm reflexos laríngeos ativos e são propensos a desenvolver laringoespasmo após a extubação. A escolha do melhor momento da extubação vai depender das características do paciente, do tipo de cirurgia ou procedimento realizados e da experiência do profissional. Os critérios para extubação incluem: Ausência de hipóxia, hipercabia ou desequilíbrio ácido-básico importante Ausência de instabilidade cardiopulmonar Ausência de curarização residual Ausência de movimento de báscula do tórax na inspiração Ausência de distensão abdominal COMPLICAES Complicaes durante a laringoscopia e a intubao: Traumatismos: podem ocorrer desde os lábios até a glote. Deslocamento de mandíbula. Hipertensão arterial, taquicardia, arritmias, hipertensão intracraniana e intra-ocular. Hipoxemia e hipercabia. Trauma de coluna cervical. Lesões ou perfurações das vias aéreas esôfago; Intubação esofágica: é uma das maiores causas da parada cardíaca e lesão cerebral associadas à intubação traqueal, de difícil diagnóstico em várias situações, exceto quando se dispõe de capnografia. Regurgitação e aspiração. Presença de corpos estranhos na via aérea. Complicaes enquanto o tubo endotraqueal est instalado: Obstrução por secreções, acotovelamento, corpo estranho, etc. Intubação endobronquica. Extubação acidental. Isquemia da mucosa traqueal. Broncoespamos. Ruptura do balonete. Arlindo Ugulino Netto –ANESTESIOLOGIA – MEDICINA P5 – 2009.2 8 Complicações após a extubação: Laringoespasmo Aspiração Faringite Laringite Edema laríngeo e subglótico Ulceração da laringe e/ou de mucosa traqueal Pneumonia Paralisia das pregas vocais Luxação da cartilagem aritenóide LARINGOSCOPIA TIMA A experiência clínica do médico e a técnica proposta para o procedimento de laringoscopia e Intubação estão acima da força do homem. No treinamento e aperfeiçoamento da técnica proposta, mais de 50% dos pacientes não são entubados por falta de posicionamento adequado do paciente (posição de sniffing). Os sinais clínicos do paciente para a técnica referendada, estão sempre em primeiro plano frente à monitorização, sendo esta coadjuvante no diagnóstico e tratamento adequado da VAS. Em resumo, temos os seguintes parâmetros para se conseguir uma laringoscopia perfeita: Operador com experiência maior que dois anos; Bom relaxamento muscular; Sniffing position; Ótima manipulação externa da laringe; Duas opções de tratamento da lâmina de laringoscópio; Duas opções de tipo de lâmina do laringoscópio.
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