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PATOLOGIA 02 - Lesão e morte celular - MED RESUMOS - Arlindo Netto

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Arlindo Ugulino Netto – PATOLOGIA – MEDICINA P4 – 2009.1 
1 
 
FAMENE 
NETTO, Arlindo Ugulino. 
PATOLOGIA 
 
LESÃO E MORTE CELULAR 
(Profº Raimundo Sales) 
 
 A lesão celular é decorrente de um intenso processo de estresse com o qual a célula não é capaz de lidar ou 
quando elas são expostas a agentes perniciosos. A lesão pode cursar por um estágio reversível até culminar na morte 
célula, caracterizada por sua completa inativação da célula. Essas alterações são discutidas nos seguintes tópicos: 
� Lesão celular reversível: é caracterizada, inicialmente, por alterações funcionais e morfológicas que podem ser 
reversíveis caso a fonte nociva seja retirada. A lesão celular reversível pode ser caracterizada por redução na 
quantidade de adenosina trifosfato (ATP) e edema celular causado por alterações na concentração de íons e 
influxo de água. 
� Lesão irreversível e morte celular: quadro causado pela progressão do dano, em que a lesão se torna 
irreversível e a célula não apresenta mais meios de se recuperar. Em outras palavras, lesão celular irreversível 
significa a morte celular. 
 
 
MECANISMO DE ADAPTAÇÃO CELULAR AO CRESCIMENTO E À DIFERENCIAÇÃO 
 As células respondem ao aumento da demanda e ao estímulo externo por meio da hiperplasia (aumento de 
número celular) ou da hipertrofia (aumento do volume celular), e respondem à redução de nutrientes e de fatores de 
crescimento pela atrofia (redução do volume celular). Em algumas situações, as células mudam de um tipo para outro 
diferente por meio do processo conhecido como metaplasia. 
 
HIPERPLASIA 
 A hiperplasia significa um aumento no número de células de um órgão ou tecido, geralmente resultando em um 
aumento do seu volume. Apesar de a hiperplasia e de a hipertrofia serem dois processos distintos, frequentemente 
ocorrem juntas e podem ser desencadeadas pelos mesmos estímulos externos (como o crescimento uterino induzido 
por hormônios durante a gravidez, por exemplo). 
 A hiperplasia ocorre se a população celular for capaz de sintetizar DNA, permitindo, assim, que ocorra mitose. 
Por outro lado, a hipertrofia envolve o aumento do volume celular sem que ocorra divisão celular. A hiperplasia pode 
ser fisiológica ou patológica: 
• Hiperplasia fisiológica: pode ser dividida ainda em dois tipos: (1) hiperplasia hormonal, a qual aumenta a 
capacidade funcional de um tecido quando é necessário (Ex: proliferação do epitélio glandular da mama 
feminina na puberdade e durante a gravidez); e (2) hiperplasia compensatória, na qual ocorre aumento da 
massa tecidual após dano ou ressecção parcial (como a regeneração as células hepáticas após lesão). A 
hiperplasia é geralmente causada pela produção local de fatores de crescimento, aumento dos receptores de 
fatores de crescimento nas células envolvidas no processo ou a ativação de determinadas vias intracelulares. 
Na hiperplasia hormonal, os próprios hormônios podem atuar como fatores de crescimento e desencadear a 
transcrição de vários genes celulares. A fonte dos fatores de crescimento na hiperplasia compensatória e os 
estímulos para sua produção não estão bem definidos. Admite-se que o aumento no volume tecidual após 
alguns tipos de perda celular ocorre tanto através da proliferação das células remanescentes como também 
através do desenvolvimento de novas células a partir de células-tronco. 
• Hiperplasia patológica: geralmente é causada pela estimulação excessiva das células alvo por hormônios ou 
por fatores de crescimento. A hiperplasia endometrial é um exemplo de hiperplasia hormonal anormal: quando 
o equilíbrio de estrogênio e a progesterona está alterado, ocorre um desenvolvimento anormal das glândulas 
endometriais, gerando um tipo de sangramento menstrual anormal. É importante saber, porém, que a 
hiperplasia patológica representa um solo fértil onde a proliferação cancerosa pode se instalar. Ex: Psoríase 
(surgimento de placas escamosas na pele de etiologia desconhecida); vírus de papiloma humano. 
 
HIPERTROFIA 
 A hipertrofia se refere a um aumento no tamanho das células, resultando em um aumento no tamanho geral do 
órgão ou tecido. É importante saber que o aumento celular não é causado por algum tipo de edema, mas à síntese de 
mais componentes estruturais. 
 Como foi mencionado anteriormente, as células capazes de se dividirem podem responder ao estresse, 
sofrendo tanto hiperplasia quando hipertrofia, enquanto as células que não se dividem (como as células do miocárdio) 
sofrem hipertrofia. A hipertrofia pode ser fisiológica (como a hipertrofia fisiológica induzida por hormônio que ocorre 
com o útero por meio do estrogênio e dos seios por meio da prolactina) e patológica, sendo causada pelo aumento da 
demanda funcional ou por estímulos hormonais específicos. 
Arlindo Ugulino Netto – PATOLOGIA – MEDICINA P4 – 2009.1 
2 
 
 Os mecanismos da hipertrofia (como a cardíaca) envolvem muitas vias de transdução de sinais, levando à 
indução de vários genes que, por sua vez, estimulam a síntese de numerosas proteínas celulares. Os genes que são 
estimulados durante a hipertrofia incluem aqueles que codificam fatores de transcrição, fatores de crescimento (como o 
TGF-β), e agentes vasoativos (agonitas α-adrenérgicos, endotelina-1 e angiotensina II). Alguns tecidos apresentam 
sinais que desencadeiam essas mudanças em seus genes: desencadeadores mecânicos (como o estiramento), 
desencadeadores tróficos (como os fatores de crescimento polipeptídicos), etc. 
 
ATROFIA 
 Atrofia consiste na redução no tamanho da célula devido à perda de substancia celular, representando uma 
forma de resposta de adaptação celular que pode culminar em morte. A atrofia pode ser fisiológica (comum durante as 
fases iniciais do desenvolvimento) ou patológica (depende da causa e pode ser localizada ou generalizada). 
 As causas mais comuns de atrofia são: diminuição da carga (atrofia por desuso); perda da inervação (perda da 
ação trófica exercida por algum nervo); diminuição do suprimento sanguíneo (isquemia, como o que ocorre com o 
cérebro na velhice, presumivelmente porque a aterosclerose reduz o seu suprimento sanguíneo); nutrição inadequada 
(marasmo); perda da estimulação endócrina; envelhecimento (atrofia senil); pressão (compressão de um tecido por um 
longo período de tempo). 
 Admite-se que os mecanismos bioquímicos responsáveis pela atrofia afetem o equilíbrio entre a síntese e a 
degradação de proteínas. O aumento na degradação de proteínas provavelmente desempenha um papel importante na 
atrofia. 
 
METAPLASIA 
 A metaplasia é uma alteração reversível na qual um tipo de célula 
adulta é substituída por outro tipo de célula adulta. A metaplasia mais comum 
é a do epitélio colunar para escamoso que pode ocorrer no trato respiratório 
em resposta a irritação crônica (como a causada pelo cigarro). Se as 
influências que predispõem à metaplasia persistem, elas podem induzir 
transformações malignas no epitélio metaplásico. 
 A metaplasia não resulta de uma alteração do fenótipo de uma célula diferenciada; ao contrário, é o resultado 
de uma reprogramação de células-tronco (stem cells ou células de reserva) que sabemos existir nos tecidos normais 
ou de células mesenquimatosas indiferenciadas presentes no tecido conjuntivo. Em uma alteração metaplásica, esses 
precursores celulares seguem uma nova via de diferenciação. A diferenciação de células-tronco em uma linhagem 
particular ocorre por meio de sinais gerados por citocinas, fatores de crescimento e componentes da matriz extracelular 
no ambiente que cerca a célula. No caso das metaplasias, há uma desordem na sinalização feita por esses estímulos 
externos, desencadeando a origem de vias metaplásicas para as células tronco do tecido acometido por um fator 
irritante. 
 
OBS: O epitélio estratificado escamoso é um epitélio de revestimento encontrado nas mucosas (esôfago, vagina, colo 
do útero, etc)e na pele. A diferença é que nestes, o epitélio é queratinizado e naquele, não-queratinizado. Nas 
mucosas (como a oral), não há a presença da camada córnea (mais superficial), por isso, a sua transparência rosada 
característica. 
OBS²: O epitélio simples colunar ciliado dos brônquios pulmonares, como um exemplo de metaplasia, é substituído por 
um epitélio estratificado escamoso quando é submetido a um processo irritativo crônico (como o que faz o cigarro). 
Admite-se que esta troca de epitélio é uma forma de defesa do organismo, pois há uma troca de um tecido por outro 
mais resistente. O problema é a perda dos cílios dessa região, que por si só, servem de barreira física contra agentes 
invasores além de exercer uma função na retirada do muco produzido pelas células caliciformes do epitélio colunar. 
Admite-se ainda que esta desvio no desenvolvimento das células-tronco do epitélio pulmonar se deva aos efeitos que a 
nicotina e substancias homólogas exerça sobre estas células, induzindo-as a produzir um epitélio metaplásico. 
 
 As vezes áreas de fibrose pode gerar uma ossificação e, como consequência, uma metaplasia óssea. Um 
exemplo básico chama-se miosite ossificante: lesões em regiões de compartimento muscular pode gerar 
uma extravasamento demasiado de sangue, formando um hematoma. Esta coleção sanguínea pode passar 
por um processo de ossificação, caracterizando uma metaplasia óssea. 
 O esôfago é um tubo muscular revestido por epitélio estratificado escamoso não-queratinizado. Indivíduos que 
apresentam refluxo, expõem o epitélio esofagiano a um refluxo de pH muito baixo. Com o tempo, é possível 
encontrar ilhotas de tecido gástrico em toda extensão do esôfago (caracterizado um processo metaplásico). 
Este quadro é conhecido como esôfago de Barret. Como a metaplasia é um processo reversível, tratando-se 
o refluxo, trata-se este processo patológico. 
 
 
 
Arlindo Ugulino Netto – PATOLOGIA – MEDICINA P4 – 2009.1 
3 
 
NEOPLASIA 
 A neoplasia (crescimento novo) é o termo que 
designa alterações celulares que acarretam um 
crescimento exagerado destas células, ou seja, 
proliferação celular anormal, sem controle e autônomia, 
na qual reduzem ou perdem a capacidade de se 
diferenciar, em consequência de mudanças nos genes 
que regulam o crescimento e a diferenciação celulares. 
A neoplasia pode ser maligna ou benigna. 
 No caso dos bronquios de um fumante crônico, 
depois de instalada a metaplasia, passa-se a 
desenvolver um tecido neoplásico acima desta camada 
metaplásica. A neoplasia, portanto, é um processo 
irreversível caracterizado por desenvolver carcinomas 
na região lesada. 
 
OBS3: O termo displasia é empregado tanto no sentido de lesão pré-cancerosa, como no sentido de má-formação (Ex: 
displasia óssea: falta de mineralização óssea). 
OBS4: A literatura consta como lesões reversíveis: hipertrofia, hiperplasia, atrofia, metaplasia e, em certos casos, a 
displasia. Apenas a neoplasia é uma formação irreversível do ponto de vista fisiológico. 
 
 
CAUSAS DAS LESÕES CELULARES 
 As causas das lesões celulares variam de causas como violento fator físico externo (como o que ocorre em 
acidentes automobilísticos) a causas endógenas (como mutações sutis que possa alterar alguma enzima vital, que 
altera toda uma função metabólica). Os principais estímulos nocivos podem ser listados a seguir: 
� Ausência de oxigênio (hipóxia). A carência do O2, molécula que funciona como último aceptor de elétrons da 
cadeia respiratória causa lesão celular justamente pela redução da respiração aeróbica oxidativa. A hipóxia 
deve ser diferenciada da isquemia, que é a perda do suprimento sanguíneo adequado devido à obstrução do 
fluxo arterial ou redução da drenagem venosa de um tecido. A isquemia compromete não apenas o suprimento 
de oxigênio, mas também de substratos metabólicos como a glicose. Consequentemente, tecidos isquêmicos 
são danificados mais rapidamente do que tecidos hipóxicos. Uma causa de hipóxia é a oxigenação inadequada 
do sangue devido à insuficiência cardiorrespiratória. Outra causa menos frequente é a perda da capacidade 
carreadora de oxigênio pelo sangue como o que ocorre na anemia (na qual ocorre anóxia sem isquemia) ou na 
intoxicação por monóxido de carbono. 
 
OBS5: Como veremos adiante, o mecanismo da lesão 
isquêmica está relacionada com eventos moleculares 
intracelulares que desencadeiam na lesão celular 
irreversível (morte celular): ao se formar um foco isquêmico 
(por trombo em pequenos vasos, por exemplo), todo o 
grupo celular irrigado por este vaso sofre com a carência de 
O2. Este é o fator determinante para o início das lesões: a 
célula sem O2, perde seu receptor final de elétrons na 
cadeia respiratória, passando a realizar, agora, respiração 
anaeróbica. A consequência mais alarmante é a carência 
energética: sem ATP, a bomba de Na+-K+ deixa de 
funcionar corretamente. Isto gera um maior influxo de Na+, 
Ca2+ (este é responsável por ativar enzimas intracelulares 
que podem destruir as organelas da própria célula) e, 
consequentemente, H2O, gerando um edema celular 
generalizado com a formação de focos calcificados, perda 
das microvilosidades e formação de bolhas (o que ainda é 
uma lesão reversível). Além disso, há uma carência de 
glicogênio e uma consequente diminuição do pH (devido ao 
uso da glicólise anaeróbica e a produção de lactato e H+), o 
que acarreta na condensação da cromatina nuclear. Com o 
desenvolver deste processo, a célula chega a um ponto 
irreversível, em que ocorre a ruptura da membrana celular 
ou falência mitocondrial, gerando a morte celular. 
Arlindo Ugulino Netto – PATOLOGIA – MEDICINA P4 – 2009.1 
4 
 
� Agentes físicos. estão inclusos traumas mecânicos, temperaturas extremas (queimaduras ou frio intenso), 
mudanças bruscas na pressão atmosférica, radiação, choque elétrico, etc. 
� Agentes químicos e drogas. Substancias químicas como a glicose ou o sal em concentrações hipertônicas 
podem causar lesão celular diretamente ou pela alteração da homeostasia eletrolítica das células. Até mesmo 
o oxigênio, em altas concentrações, pode ser altamente tóxico. Quantidades mínimas de agentes conhecidos 
como venenos (tais como arsênico, cianeto ou sais de mercúrio) podem destruir um grande número de células 
em poucos minutos ou horas e causar morte. Outras substancias, presentes no cotidiano, podem causar, 
gradativamente, morte celular: poluentes, inseticidas, monóxido de carbono, álcool e narcórticos, etc. 
� Reações imunológicas. Apesar de o sistema imunológico desempenhar uma função essencial de defesa contra 
agentes infecciosos, as reações imunológicas causam como conseqüências algumas lesões celulares. 
� Distúrbios genéticos. A lesão genética resulta em um defeito tão grave como uma malformação congênita 
associada a síndromes (como a Síndrome de Down), relacionada a distúrbios cromossômicos, ou tão sutil a 
ponto de reduzir a vida dos eritrócitos devido à substituição de um único aminoácido na cadeia da hemoglobina 
(como ocorre na anemia falsiforme). 
� Desequilíbrios nutricionais. Deficiências protéico-calóricas causam um número impressionante de mortes, 
especialmente na população de baixo poder aquisitivo. Problemas nutricionais podem ser causados pelas 
próprias pessoas, como no caso da anorexia nervosa ou da desnutrição auto-induzida. Ironicamente, excessos 
nutricionais também se tornam causas importantes de lesão celular. 
 
 
MECANISMOS DAS LESÕES CELULARES 
 Os mecanismos bioquímicos responsáveis pela lesão celular são complexos. Entretanto, existem vários 
princípios que são relevantes na maioria das lesões celulares: 
� A resposta celular a estímulos nocivos depende do tipo da lesão, sua duração e gravidade. 
� As consequências da lesão celular dependem do tipo, estado e grau de adaptação da célula danificada. O 
estado nutricional e hormonal da célulae suas necessidades metabólicas são importantes na resposta às 
lesões. 
� A lesão celular resulta de anormalidades funcionais e bioquímicas em um ou mais componentes essenciais: 
fosforilação oxidativa e produção de ATP; membranas celulares; síntese protéica; citoesqueleto; integridade do 
componente genético da célula. 
 
 
DIMINUIÇÃO DO ATP 
 A diminuição do ATP e a redução de sua síntese estão frequentemente associadas a lesões hipóxicas e 
químicas (tóxicas). Esta diminuição é extremamente maléfica à célula, uma vez que o fosfato de alta energia, na forma 
de ATP, é necessário para vários processos sintéticos e de degradação na célula: transporte de membrana, síntese 
protéica, lipogênese e reações de deacilação-reacilação, necessárias para as alterações que ocorrem com os 
fosfolipídeios. 
 A redução do ATP a menor que 5% a 10% dos níveis normais, tem efeito disseminados em muitos sistemas 
celulares críticos: 
� A atividade da bomba de sódio da membrana plasmática dependente de energia (Na+/K+ - ATPase) está 
reduzida. Uma falha nesse sistema causa acúmulo intracelular de sódio e perda de potássio da célula. Este 
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5 
 
sódio intracelular atrai a água do líquido intersticial, gerando edema celular e dilatação do retículo 
endoplasmático. 
� Se o suprimento de oxigênio para célula é reduzido, a fosforilação oxidativa fica dependente da glicólise 
anaeróbica para a produção de energia. Esta glicólise resulta, além de uma redução brusca dos depósitos de 
glicogênio celular, em um acúmulo de ácido lático e fosfato inorgânicos, reduzindo o pH intracelular, 
resultando na diminuição da atividade de muitas enzimas celulares além da condensação da cromatina 
nuclear. 
� A deficiência da bomba de Ca2+ resulta no influxo de cálcio, o qual, em excesso, passa a exercer efeito 
deletério para vários componentes celulares. 
� Com a diminuição prolongada do ATP, ocorre uma ruptura estrutural dos mecanismos de síntese protéica 
manifestada pelo deslocamento dos ribossomos do retículo endoplasmático granular e dissociação dos 
polissomos em monossomos. Finalmente, ocorre um dano irreversível às membranas mitocondriais e 
lisossomais, levando a necrose celular. 
 
DANO MITOCONDRIAL 
 As mitocôndrias tornam-se alvos importantes para virtualmente todos os tipos de estímulos nocivos, incluindo 
as toxinas e a hipóxia. Elas podem ser danificadas pelo aumento do Ca2+ no citosol, pelo estresse oxidativo, pela 
degradação dos fosfolipídios pelas vias da fosfolipase A2 e da esfingomielina, e pelos produtos de degradação dos 
lipídios derivados dessas reações, tais como os ácidos graxos livres e a ceramida. 
 A lesão mitocondrial geralmente causa a formação de um canal de alta condutância, chamado poro de 
transição de permeabilidade mitocondrial, na membrana mitocondrial interna. Apesar de ser reversível nos estágios 
iniciais, este poro torna-se permanente caso o estímulo nocivo persista. Como a manutenção do potencial de 
membrana é crítico para a fosforilação oxidativa da mitocôndria, o poro de transição de permeabilidade mitocondrial 
significa uma sentença de morte para a célula. O dano mitocondrial pode ainda estar associado ao extravasamento do 
citocromo C (componente integral da cadeia de transporte de elétrons) no citosol. 
 
FLUXO INTRACELULAR DE CÁLCIO E PERDA DA HOMEOSTASIA DO CÁLCIO 
 Os íons cálcio são importantes mediadores da lesão celular. A isquemia e certas toxinas causam um aumento 
inicial da concentração de cálcio no citosol devido ao influxo de Ca2+ através da membrana plasmática e liberação do 
Ca2+ das mitocôndrias e do retículo endoplasmático. 
 Esse aumento intracelular de Ca2+, por sua vez, ativa várias enzimas que possuem efeitos celulares deletérios 
em potencial: ATPases (reduzindo ainda mais os níveis de ATP), fosfolipases e as endonucleases. O aumento de 
níveis intracelulares Ca2+ também causa um aumento na permeabilidade mitocondrial e induz a apoptose. 
 
ACÚMULO DE RADICAIS LIVRES DERIVADOS DO OXIGÊNIO 
 As células geram energia reduzindo o oxigênio molecular em água. Durante este processo, pequenas 
quantidades de formas reativas do oxigênio parcialmente reduzidas são produzidas como um produto não desejado da 
respiração mitocondrial. Algumas dessas formas são radicais livres que danificam os lipídios, as proteínas e os ácidos 
nucléicos. Elas são chamadas de espécies reativas de oxigênio. Um desequilíbrio entre os sistemas de geração e 
eliminação de radicais livres causam um estresse oxidativo, condição que tem sido associada com a lesão celular 
vista em muitas condições patológicas. 
 Os radicais livres são espécies químicas que possuem um único elétron sem um par correspondente na órbita 
eletrosférica externa. A energia criada por essa configuração instável é liberada através de reações com moléculas 
adjacentes (como proteínas, lipídios, carboidratos ou ácido nucléicos). 
 Os radicais livres podem ser criados nas células de várias maneiras: 
� Absorção de energia radiante (como luz ultravioleta, raios X, radiações ionizantes); 
� Metabolismo enzimático de substancias químicas exógenas ou drogas; 
� As reações de redução-oxidação que ocorrem durante os processos metabólicos normais. 
� Metais de transição como o ferro e o cobre que doam ou aceitam elétrons livres durante as reações 
intracelulares e catalisam a formação de radicais livres. 
� O óxido nítrico (NO), importante mediador químico gerado por células endoteliais, macrófagos, neurônios e 
outros tipos celulares. Ele pode atuar como radical livre e também pode ser convertido a um ânion altamente 
reativo, como em NO2 e NO3
-. 
 
 Os efeitos dessas espécies reativas são amplos, mas três reações são particularmente relevantes para a lesão 
celular: 
� Peroxidação lipídica das membranas; 
� Modificação oxidativa das proteínas; 
� Lesões no DNA. 
 
Arlindo Ugulino Netto – PATOLOGIA – MEDICINA P4 – 2009.1 
6 
 
OBS6: As células desenvolvem múltiplos mecanismos para remover os radicais livres reduzindo, assim, o grau de 
lesão. Os principais sistemas enzimáticos e não-enzimáticos que contribuem para a desativação das reações de 
radicais livres incluem: 
� Antioxidantes que bloqueiam o início da formação dos radicais livres ou os inativa, cessando a lesão causada 
por eles. Exemplos incluem vitaminas lipossolúveis A e E, como o ácido ascórbico no citosol. 
� O próprio ferro e o cobre podem catalisar a formação de espécies reativas de oxigênio. 
� Uma série de enzimas que agem como sistema de recolhimento (eliminador) de radicais livres e que degradam 
peróxido de hidrogênio e ânion superóxido. 
 
DEFEITOS NA PERMEABILIDADE DA MEMBRANA 
 A perda inicial da permeabilidade seletiva da membrana leva, finalmente, a um dano evidente da membrana, 
sendo uma característica consistente da maioria dos tipos de lesão celular. O dano à membrana pode afetar a 
mitocôndria, a membrana plasmática e outras membranas celulares. Nas células isquêmicas, os defeitos nas 
membranas podem resultar de uma série de eventos envolvendo a diminuição de ATP e a ativação das fosfolipases 
modulada pelo cálcio. 
 Vários mecanismos bioquímicos podem contribuir para o dano da membrana: disfunção mitocondrial; perda 
dos fosfolipídios de membrana; anormalidades do citoesqueleto; espécies reativas de oxigênio; produtos de 
degradação de lipídios; etc. 
 
TIPOS DE LESÕES CELULARES IRREVERSÍVEIS 
 Estímulos nocivos persistentes ou excessivos levam a célula a cruzar o limiar da lesão irreversível. A lesão 
irreversível, na maioria dos casos, está associada à morte celular. Esta morte pode ser causada, entre outros motivos, 
por rompimento da membrana celular, por edema lisossomal, por vacuolização das mitocôndrias com redução da 
capacidade de gerar ATP, etc. Estruturas laminares compostas de grandes massas de fosfolipídios (as figurasde 
mielina) derivadas das membranas danificadas das organelas e da membrana plasmática aparecem inicialmente 
durante o estágio reversível e se tornam mais pronunciadas nas células que sofreram dano irreversível. 
 Vale salientar também que, entre essas lesões irreversíveis, podemos destacar três lesões que acometem o 
núcleo celular, o que de forma indireta, interfere na maquinaria biológica da célula. São as seguintes: 
• Picnose celular: condensação generalizada do núcleo, o qual passa a apresentar um aspecto puntiforme. 
Além do encolhimento do núcleo, percebe-se um aumento da basofilia da cromatina. 
• Cariorréxis: fragmentação do núcleo e do material genético por ele abrigado. 
• Cariólise: dissolução do material genético, fazendo com que o núcleo apresente um aspecto pálido. É 
caracterizada por uma diminuição da basofilia da cromatina, alteração que possivelmente reflete a atividade da 
DNAse. 
 
 
 
Arlindo Ugulino Netto – PATOLOGIA – MEDICINA P4 – 2009.1 
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MORTE CELULAR 
 Células que sofreram lesões irreversíveis invariavelmente sofrem alterações morfológicas que são 
reconhecidas como morte celular. Existem dois tipos de morte celular, a necrose e a apoptose, que diferem quanto a 
sua morfologia, mecanismos e papéis que desempenham nas doenças e fisiologia. Enquanto que a necrose é sempre 
um processo patológico, a apoptose ocorre em várias funções normais e não está necessariamente associada à lesão 
celular. Cabe ainda diferenciar a autólise das demais modalidades de morte celular. 
• Necrose: ocorre quando o dano às membranas é muito severo, de modo que as enzimas lipossômicas entram 
no citoplasma e digerem a célula e os componentes celulares extravasam. Admite-se que um tecido seja 
classificado como necrosado quando este representa apenas uma área restrita que se encontra circundando 
por tecido vivo, ou seja, um tecido necrosado se restringe a apenas uma área de necrose contida em um 
organismo vivo. É caracterizada ainda por causar inflamação no tecido circunjacente. Ex: o infarto do 
miocárdio gera uma área restrita de tecido morto no contexto de um organismo vivo. A necrose é sempre 
causada por um fator externo e patológico, como uma isquemia, por exemplo. 
• Apoptose: ocorre quando os estímulos nocivos danificam o DNA, o qual induz a dissolução nuclear sem perda 
total da integridade das membranas. A apoptose é, portanto, a via de morte celular que é induzida por um 
programa intracelular altamente regulado, no qual as células destinadas a morrer ativam enzimas que 
degradam seu DNA nuclear e as proteínas citoplasmáticas. A apoptose, diferentemente da necrose, é causada 
por fatores internos, caracterizados por uma auto-programação de destruição celular. As enzimas envolvidas 
com a apoptose são as chamadas caspases. Diferentemente da necrose, não causa inflamação. 
• Autólise: destruição da massa celular que ocorre post-mortem. 
 
NECROSE 
 Depois de instalada a isquemia e a carência de ATP, e depois que a célula tenha sofrido qualquer mecanismo 
de lesão irreversível, o tecido entra em necrose. A massa de células em necrose pode apresentar diversos padrões 
morfológicos: 
• Necrose coagulativa: acontece principalmente nos órgãos parenquimatosos (sólidos). Implica a preservação 
do contorno básico da célula por pelo menos alguns dias. Os tecidos afetados apresentam uma textura firme, 
de modo que as células que o compõem apresentem uma delimitação visível, uma vez que suas proteínas 
estruturais não sofreram ação de hidrolases. Presumivelmente, a lesão ou o aumento subsequente da acidose 
intracelular desnatura não somente as proteínas estruturais mas também as enzimas, bloqueando, assim, a 
proteólise celular. Ex: no infarto agudo do miocárdio, as células acidófilas, coaguladas, sem núcleo podem 
persistir por semanas. Finalmente, as células do miocárdio necrosadas são removidas por fragmentação e 
fagocitose dos restos celulares por leucócitos removedores e pela ação de enzimas lisossômicas proteolíticas 
trazidas pelos leucócitos que migram para a região. Este tipo de necrose é característica geral dos tecidos 
quando submetidos a morte por hipóxia, exceto as células que compõem o tecido nervoso. 
• Necrose liquefativa: neste tipo de necrose, independente da patogenia, a liquefação digere completamente as 
células mortas. O resultado final é a transformação do tecido em uma massa viscosa de odor e cor 
característica. Se o processo for iniciado por uma inflamação aguda, o material geralmente é um amarelo 
cremoso devido a presença de leucócitos mortos, sendo chamado de pus. Ex: é comum este tipo de necrose 
em certas infecções bacterianas focais ou fúngicas; por razões desconhecidas, a morte das células nervosas 
leva a este tipo de necrose. Abcessos cheios de secreção purulenta é exemplo de necrose liquefativa. 
• Necrose caseosa: do latim, caseus = queijo. É uma forma distinta de necrose coagulativa, encontrada mais 
frequentemente em focos de tuberculose. O termo caseosa é derivado da aparência macroscópica semelhante 
a queijo branco da área de necrose. Ao contrário da necrose de coagulação, a arquitetura está completamente 
destruída. 
• Esteatonecrose (necrose gordurosa): descreve áreas de destruição de gordura que ocorre tipicamente como 
resultado da liberação de lípases pancreáticas ativadas no parênquima pancreático e na cavidade peritoneal 
(como o que ocorre na pancreatite aguda). Este extravasamento faz com que enzimas pancreáticas ativadas 
quebrem as membranas dos adipócitos e os ésteres de triglicerídios contidos nestas células. Os ácidos graxos 
liberados se combinam com o cálcio e produzem áreas brancas visíveis (saponificação) que permitem que o 
cirurgião e o patologista identifiquem as lesões (por eles chamados de lesões em pingo de vela). 
• Necrose gangrenosa: é causada por uma isquemia periférica e acomete, na maioria das vezes, os membros 
(como na diabetes; aterosclerose; Síndrome de Furnier, que é a gangrena perineal). A gangrena apresenta um 
odor forte e característico pois na região necrosada se desenvolvem bactérias Clostridium perfringens. Existem 
dois tipos de gangrena: a gangrena úmida (ocorre quando a necrose de coagulação é modificada pela ação 
de liquefação das bactérias e os leucócitos que são atraídos para a região) e a gangrena seca (ocorre quando 
predominam os fenômenos coagulativos).

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