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Aquacultura Brasileira segundo a FAO

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Produced by: Fisheries and Aquaculture
Department
Title: Aquacultura e pesca em Águas interiores no Brasil
 More details
 
3. AQUACULTURA BRASILEIRA
No Brasil, nem sempre se faz diferenciação nítida entre uma pesca e a piscicultura. Embora não seja
assunto para um relatório, parece necessário definir esses conceitos mais uma vez.
Na primeira parte deste relatório, o termo “pesca” foi definido como sendo uma atividade ou economia,
que se constitui na captura de peixes dos estoques existentes em águas naturais ou artificiais, quer
tenham ou não sido formados com o auxílio do homem, quer ou não se considere a composição e
desenvolvimento desses estoques através da influência sobre o meio ambiente (por exemplo, controle
da vegetação) ou sobre os estoques diretamente (alimentação, pesca seletiva, adição de peixes jovens
ou novas espécies etc.) e se essa atividade (captura) é irrestrita ou regulamentada. Todas essas
medidas pertencem à metodologia da administração de estoques, mas não da piscicultura. A pesca é a
“caça” de animais aquáticos.
O termo “piscicultura” poderá ser interpretado como a produção de peixes sob controle humano, não
importando se a produção começa dos ovos ou de peixes jovens. A atividade do piscicultor corresponde
a do jardineiro cultivando plantas ou a de um fazendeiro criando animais. Piscicultura é a criação de
animais, apli cada aos peixes.
A “aquacultura” tem conceito mais amplo, abrangendo a piscicultura e a produção, em culturas sob
controle, de outros animais aquáticos, por exemplo, crustáceos e moluscos assim como plantas
aquáticas superiores e algas.
3.1 A situação da piscicultura no Brasil
Apesar das atividades que as instituições de pesca vêm desenvolvendo nos setores de incubação e
propaganda para intensificar o cultivo de peixes, a piscicultura no Brasil ainda não alcançou importância
econômica.
3.2 Objetivos das instituições de pesca no passado
Não há dúvida de que os cientistas brasileiros desenvolveram, no passado, importante trabalho pioneiro
em benefício da piscicultura, que atraiu a atenção mundial. Podemos citar, como exemplo, o
desenvolvimento de técnicas de indução da desova com injeção de extrato de hipófise, muitas
experiências de aclimatação, engorda e crescimento, controle das piranhas, trabalho sobre as
migrações evidentes dos peixes em seus rios, são algumas das mais notáveis realizações.
Como não se fazia distinção clara entre pesca e piscicultura, quase todas as instituições de pesca
lidavam simultaneamente com a pesca, experiências de propagação de peixes e produção de jovens.
As instituições do DNOCS produziram peixes jovens principalmente para peixamento de seus
numerosos açudes públicos e privados, onde o cultivo não poderia ser realizado.
As outras instituições e postos pesqueiros efetuaram também o peixamento de muitos lagos naturais e
artificiais, tendo a pesca como objetivo e não somente a piscicultura. O trabalho experimental foi
orientado principalmente para a produção de peixes jovens, enquanto que as experiências de
alimentação e crescimento permaneceram em nível de laboratório. Fez-se propaganda para a criação de
peixes em viveiros, tendo sido distribuídos peixes jovens. No entanto, experiências adequadas em
fazendas de peixe, que culminassem com uma colheita de peixes comercializáveis, não chegaram ao
conhecimento do consultor. Os particulares induzidos a construir viveiros para peixes e que receberam
pequeno número de peixes jovens, principalmente tilápia, para formar seus próprios estoques, não
tinham suficiente conhecimento sobre a administração da piscicultura. Na opinião pública e nos
conceitos orientadores das instituições privadas, deu-se ênfase a métodos modernos e altamente
sofisticados de criação artificial. Esses métodos são menos convenientes para a economia rural do que
os tradicionais. Assim, o impacto do trabalho das instituições de pesca sobre o desenvolvimento da
piscicultura permaneceu insignificante.
Para estender a prática da piscicultura a todo o país, parece aconselhável a reorientação das instituições
de pesca e dos trabalhos de extensão, para métodos tradicionais de cultivo. Sua integração com
técnicas semi-industriais modernas de produção de peixes deveria ser realizada num processo
gradativo.
3.3 - Os princípios da piscicultura e sua implantação no Brasil
“A piscicultura é criação de peixes sob controle humano”. Esse controle só pode ser executado
eficientemente em viveiros de águas rasas, bacias menores ou mesmo tanques-rede (não em lagos
naturais ou artificiais, ou açudes não drenáveis, como foi sugerido para o Brasil). A supervisão diária é
uma necessidade, mas é raramente feita.
No cultivo, certo número de peixes será criado durante um período de tempo, até alcançar o tamanho
desejado (biologicamente possível, é claro). Após esse período de cultivo, o estoque deve ser removido
completamente. Como isso não é possível com o emprego de petrechos de pesca, os tanques precisam
ser drenáveis (no Brasil também foram construídos tanques não drenáveis). O período de cultivo nos
trópicos não deve exceder um ano). Se o peixe não alcançar tamanho comercializável em um período de
cultivo (por razões biológicas) deverá ser criado em um ciclo com mais de um ano de duração. O
tanque, porém, deve ser escoado após cada período de cultivo, determinando-se o número de peixes, o
peso total da colheit e o crescimento individual. Para cada novo período de cultivo, assim como também
num ciclo de produção com mais de um ano de duração, a densidade do estoque deve ser calculada
novamente, de acordo com o peso dos peixes com que foi iniciado o período de cultivo e o crescimento
esperado durante esse período. Se os peixes não tiverem crescido satisfatoriamente por alguma razão,
far-se-á, de qualquer modo, completa drenagem e novo peixamento, para repetição do cultivo. Se isso
não for feito, os proprietários terão conhecimento inadequado sobre o tamanho, a densidade, saúde, etc,
em outras palavras, completa ausência de controle.
A desova nos tanques de produção deve ser evitada em todas as circunstâncias.
Se isso ocorrer, o piscicultor ficará inteiramente ignorante quanto ao número de peixes no tanque (isso
acontece quase sempre nos tanques de criação de tilápia e todos os peixes permanecem pequenos). O
estoque para iniciar novo cultivo deve ser criado fora do tanque de produção, podendo ser capturado no
ambiente natural ou obtido de outra forma.
“Piscicultura é produção animal”, implantando os mesmos princípios de administração (nem sempre se
reconhece esse fato e mais raramente ainda chega-se a pensar sobre o assunto). O tanque é a
pastagem natural dos peixes.
Piscicultura extensiva (administração de pastagem extensiva) é feita quando um número arbitrário de
peixes, de peso indeterminado, é usado no peixamento, sem levar em consideração o tamanho e
produtividade do tanque (mais comum em tanques de criação). Da mesma forma que as pastagens de
gado, o tanque para criação de peixes pode ser subpovoado ou superpovoado. No primeiro caso o
tanque não é utilizado completamente. O número insuficiente de peixes cresca extremamente, mas a
colheita total é de qualquer maneira, baixa. No segundo exemplo, os animais não encontram alimentação
suficiente. Como o crescimento dos peixes depende da ingestão de alimentos, eles crescem muito
pouco em tanques superpovoados. A colheita total corresponde à capacidade de produção do tanque,
porém consiste de peixes pequenos. No cultivo extensivo, o crescimento dos peixes por período de
cultivo é incerto.
A piscicultura agrícola intensiva baseada na alimentação natural (administração de pastagem intensiva)
não é ainda realizada no Brasil. Nesse método, um número exato de peixes, de certo peso, é usado no
peixamento, e crescerá no tanque, dentro do período de cultivo, até atingir exatamente opeso desejado.
Esse número é calculado pela primeira vez, após o resultado de um cultivo experimental e, mais tarde,
com base na colheita precedente, empregando-se uma fórmula simples. Na criação intensiva o peso do
peixe a ser colhido é determinado de antemão.
A produtividada de um tanque pode ser aumentada por meio de fertilizantes minerais ou estrume. Ambos
são utilizados raramente no Brasil. A fertilização também pode ser incrementada mantendo-se patos ou
porcos no tanque, ou perto dele. A criação combinada de patos/peixes ou peixes/porcos, parece
nãoexistir no Brasil.
A alimentação adicional aumenta a produção de peixes. Isso é realizado no Brasil em piscicultura
agrícola extensiva, porém, evidentemente, de maneira irregular e arbitrária. Na piscicultura agrícola
intensiva, deve exigir estrita proporção às necessidades e adaptação perfeita das rações ao crescimento
dos peixes.
A produção de peixes realizada inteiramente com base na alimentação artificial, sem considerar a
produção natural da água, corresponde à produção de animais domésticos em estábulos. A tendência do
desenvolvimento da piscicultura no mundo está tomando essa direção. Esse tipo de cultivo é realizado
em poucas fazendas pequenas de carpas perto de São Paulo e, sempre, nas fazendas de truta. É um
trabalho que exige tempo integral e mais apropriado para empresas especializadas do que para um
empreendimento parcial numa lazenda agrícola, ou outro ramo de atividade rural. Na sua forma mais
intensiva, a alimentação é feita com misturas de alimento balanceado, em grãos, preparada por
indústrias de alimentação animal. Essas misturas, elaboradas especificamente para engorda de peixes,
não podem ser produzidas a custo razoável até que esforços maiores e mais amplos, baseados na
alimentação artificial, proporcionem um mercado potencial. A produção de peixes baseada na
alimentação artificial é, com freqüência, denominada “piscicultura intensiva”, sem especificação. Os
cientistas brasileiros também reservam o termo para esse método. Esse costume não foi adotado pelo
consultor porque, as expressões “intensivo” e “extensivo” denotam graus, não caracterizam um método.
3.4 A piscicultura no passado
Embora o Brasil disponha de muitas espécies de peixes próprias, as primeiras tentativas de piscicultura
foram feitas com espécies alienígenas.
3.4.1 - O cultivo de Carpas
A carpa européia, Cyprinus carpio L. foi introduzida no Estado de São Paulo em 1904, trazida da
Alemanha. Naquela época, o método Dubisch era geralmente aceito e o único apropriado para o cultivo
da carpa no mundo ocidental. Normalmente, esse método produz peixes para consumo em ciclos de 3
anos, em amplos sistemas característicos de tanques, de diferentes tamanhos e formas. Não foi
possível descobrir se as instalações para cultivo pelo método Dubisch foram ou não construídas no
Brasil antes da Primeira Guerra Mundial. Parece que nas primeiras décadas após a introdução, a carpa
era mantida apenas nas instalações de um só tanque, ou desenvolvida pelos métodos de produção
extensiva. No primeiro grande reservatório hidroelétrico próximo à cidade de São Paulo, o Reservatório
Billings, a carpa formou importante estoque bastante uniforme, que é ainda explorado por pescadores
artesanais profissionais. A produção de carpas por meio de cultivo desenvolveu-se, evidentemente,
durante a última década. Perto de São Paulo existem várias fazendas pequenas para criação de carpas,
que trabalham segundo modelos japoneses simplificados, com poucas bacias de concreto para
produção de peixes jovens e um pequeno tanque de produção para criação até o tamanho de consumo,
isto é, de 1 1/2 a 2 kg. Durante o ciclo inteiro de desenvolvimento, todas as classes etárias são
alimentadas artificialmente. Em Jundiaí, São Paulo, produzem-se carpas que são oferecidas vivas no
mercado de São Paulo. A produção total do cultivo de carpas ainda ocupa parcela insignificante no total
da economia pesqueira.
3.4.2 - Cultivo de trutas
A truta foi introduzida no Brasil em 1949. Em 1958 havia uma pequena fazenda de trutas na cidade de
Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, visitada pelo consultor. No entanto, a fazenda foi abandonada. A
única fazenda de truta para o cultivo de peixes de tamanho comercializável, funciona em Campos do
Jordão, próximo a São Paulo. Pequenos criadouros, construídos anteriormente para servir à pesca
esportiva, encontram-se atualmente ociosos. Não dispõem da série de tanques necessária à produção
de peixes de tamanho comercializável. Os alevinos para peixamento de águas exploradas por
pescadores esportistas foram obtidos, em sua maioria, de ovos importados. Existem muitas águas
propícias à criação de trutas nas montanhas do sul do Brasil e bons mercados em potencialnas cidades
grandes dessa região. A criação de trutas com fins comerciais poderia ser consideravelmente
expandida.
3.4.3 - Cultivo da Tilápia
A Tilápia Rendallii, peixe africano da família Cichlidae, com muitas espécies, foi introduzido no Brasil em
1954, logo após o gênero ter sido domesticado em seu continente natal e antes que estivessem
disponíveis maiores experiências com seu cultivo.
Na Africa, na área onde há falta de proteína, a tilápia foi recomendada por Th. Monod (Dakar), como um
recurso permanente e auto-renovável de proteína para os pequenos fazendeiros nativos, cuja atividade é
apenas de subsistência. Por ser resistente, apresenta boa tolerância à baixa concentração de oxigênio e
propaga-se facilmente em águas paradas, podendo ser mantido em cativeiro por pessoas com pouca ou
nenhuma experiência (na África não se pretendia criar, com esse peixe, novo tipo de piscicultura superior
às tradicionais). Em programas de assistência social, na maioria dos países africanos ao sul do Saara,
milhares de pequenos tanques de subsistência foram construídos pelo Governo, ou com sua ajuda.
Como não se tencionava desenvolver a piscicultura propriamente dita, não foi feita, algumas vêzes,
previsão para tanques drenáveis. Os criadouros de peixes do Governo produziram alevinos para os
tanques particulares (na Africa, não foram elaborados planos para piscicultura comercial com a tilápia).
A fácil propagação da tilápia, considerada a princípio sua característica mais vantajosa, tornou-se o
maior problema. O peixe propaga-se pela primeira vez nos tanques de produção com cerca de 6 meses
de idade, quando é ainda pequeno e, em seguida, continuamente cada seis semanas. O resultado é uma
superpopulação de milhares de peixes pequenos que tiveram seu crescimento retardado durante o
primeiro período de produção (entre duas estações chuvosas), isto é, peixes que não aumentaram de
tamanho, porém já estão sexualmente maduros com poucos centímetros de comprimento. Alguns
proprietários inexperientes de tanques de criação deixam de drená-los, para proporcionar aos peixes
pequenos a oportunidade de crescer mais. Isso multiplica a superpopulação para a estação seguinte.
Todavia, os peixes não crescem mais e, em consequência, a população rural perde o interesse. Em
1967, uma missão francesa (Lemasson et al 1968) visitou 8 países africanos que haviam construído,
durante a etapa de introdução, muitos milhares de tanques domésticos de tilápia. A missão verificou que
a maioria dos tanques havia sido abandonada.
No Brasil, a experiência com a tilápia não foi muito melhor. Enquanto no continente de origem o cultivo da
tilápia foi introduzido para minorar a necessidade de proteínas da população mais pobre, no Brasil os
particulares foram levados a produzir a tilápia em tanques como fonte de maiores lucros. Em quase
todos os lugares desenvolveu-se uma superpopulação. Raramente foi possível produzir, nos tanques,
peixes de tamanho comercializável.
Foram realizadas experiêencias para controle da superpopulação, utilizando-se peixes predadores, que
se alimentariam dos jovens desnecessários. Tem se recomendado o cultivo com períodos de produçãoa curto prazo mas, da mesma forma que o cultivo de híbridos ou em tanques-rede, os resultados foram,
em sua maior parte, apenas parciais e não encontraram maior distribuição na prática.
A maioria das espécies de tilápia podem ser cruzadas facilmente. O cruzamento de espécies resulta em
híbridos férteis, com razão desigual e variável de sexo, com excesso de machos. Várias experiências
obtiveram 100% de machos porém não puderam ser duplicados.
Nas estações de cultivo do DNOCS, próximo a Fortaleza, realizam-se experiências com hibridização da
T. nilotica x T. hornorum. Presume-se que essa combinação produza sempre machos híbridos. Embora
as experiências estejam ainda na fase inicial, a propaganda para sua introdução na prática já foi
começada. Os cientistas participantes admitem que o método de produção de híbridos necessita tanta
precaução, que deveria ser executado somente em uma estação de pesca, sob estrita supervisão
científica. Isso levaria às seguintes consequências:
1. A estação deve produzir estoques completos para cada tanque e para cada novo período de
produção, e necessitaria maior número de tanques do que o existente.
2. O crescimento do cultivo privado de tilápia, tornar-se-ia dependente do crescimento e da eficiência
da estação.
3. A produção de um cultivo privado da tilápia dependeria da capacidade da estação de produzir,
regularmente, estoques de híbridos. Uma falha da estação afetaria toda a área. Para produzir
machos híbridos em sua própria fazenda, cada criador de tilápia necessitaria pelo menos de mais
3 tanques, além do tanque de produção. Também, durante a fase de produção, os estoques
híbridos deveriam ser protegidos contra a entrada de fêmeas de qualquer outra espécie de tilápia.
As exigências biológicas e ambientais de ambas as espécies matrizes, bem como a
hereditariedade de suas qualidades transmitida ao híbrido, devem ser estudadas com alta
prioridade, antes que a introdução dessa cultura possa ser sugerida.
Em resumo, pode afirmar-se que a produção de tilápia, em tanques, não teve êxito no Brasil assim como
na Africa, e é aconselhável interromper toda a atividade e propaganda nesse setor. A produção de
híbridos de um só sexo, para evitar a superpopulação, ainda se encontra em estágio inicial. Muitas
modificações estruturais terão que ser criadas na economia antes de sua introdução prática.
3.4.4 - Peixes nativos
Foram feitas experiências e propaganda que resultaram na construção de fazendas de peixe para cultivo
do pirarucu (Arapaima gigas). No entanto, parece que todas essas iniciativas e planos foram
abandonados na última década, diante do fato de que essa espécie leva demasiado tempo para atingir o
tamanho comercializável tradicional.
Dentre os outros peixes nativos, os caracídeos lóticos, muito populares e de alta qualidade (Prochilodus,
Leporinus, Salminus, etc.) e os numerosos bagres (catfish) grandes do sistema fluvial brasileiro
(siluridiformes), atraíram maior interesse econômico, sendo produzidos em piscicultura. A maioria não
desova em cativeiro. Os institutos científicos de pesca no Brasil envidaram grandes esforços na
elaboração da injeção de extrato de hipófise, e lograram produzir muitos jovens da maioria das espécies.
Elas não desovaram naturalmente para o peixamento de águas naturais e açudes, porque os métodos
de criação de larvas nem sempre eram seguros. Como resultado, o cultivo de peixes nativos não se
desenvolveu.
Por iniciativa própria os criadores começaram a empreender, próximo a Penedo, no baixo São
Francisco, métodos de cultivo de espécies nativas, utilizando peixes jovens capturados nas saídas dos
arrozais ou nos planos naturais de inundação, na época da vazante. Este é um método comum em todo
o mundo e recomendado enfaticamente também no Brasil, pois os outros métodos para a produção de
alevinos são mais complicados e menos seguros. Com peixamento ótimo e sem fertilização e
alimentação, os criadores chegam a obter uma produção de 800 kg/ha/ano, que ainda poderia ser
melhorada.
3.4.5 - Outras atividades de aquacultura
Em 1973, uma empresa japonesa iniciou a cultura da enguia (Anguilla anguilla, L) em viveiros de água
doce, afastados da costa, próximo a Ubatuba (São Paulo), para fins de exportação. 350 kg de alevinos de
enguia foram importados da França e usados no peixamento. Planeja-se a alimentação com sardinhas,
a serem capturadas no mar, utilizando-se o barco da empresa.
A aquacultura de animais marinhos não fazia, originalmente, parte do programa do consultor, mas foi
abordada devido a solicitações que recebeu nesse sentido.
No Rio Grande do Norte, próximo a Natal, o cultivo da tainha foi iniciado em salinas abandonadas, que
foram ampliadas com novos tanques por iniciativa privada. Diz-se que a produção já tem considerável
importância local.
Novos empreendimentos com o camarão estão sendo tentados em vários pontos ao longo da costa, por
solicitação da instituição financeira (Banco de Desenvolvimento do Rio Grande do Norte - BDRN). Esse
projeto conta com assessoria técnica do Instituto de Biologia Marinha da Universidade do Rio Grande do
Norte e segue modelos americanos e japoneses, utilizando espécies importadas mas poderia
prontamente passar a utilizar animais brasileiros para produção (Penaeus brasiliensis) em vez de um
camarão americano importado e para alimento das pós-larvas (com Brachyonus em vez de Arthemia).
Do ponto de vista técnico não foram observadas deficiências sérias. Como o projeto vem operando
desde meados de 1973, ainda é muito cedo para julgar-lhe as perspectivas econômicas. Foram
levantadas dúvidas sobre se o cultivo de camarões seria ou não compatível com a pesca desse
crustáceo durante períodos mais longos. Outra empresa de camarão, que produz o ciclo biológico
completo, do ovo ao tamanho comercializável, foi visitada por Pillay e Pedini em 1973. Ao sul do Rio de
Janeiro, uma empresa privada vem fazendo experiências com cultivo de camarões. No entanto, não
foram recebidas informações detalhadas. No Rio Grande do Sul estão sendo considerados planos para
desenvolver o cultivo de camarões, de maneira mais ampla, nas baías fechadas da grande Lagoa dos
Patos. Eventualmente, esse projeto será realizado dentro da estrutura do Programa de Pesquisa e
Desenvolvimento Pesqueiro do Brasil (PDP). O cultivo com o camarão de água doce do gênero
Macrobrachium, representado no Brasil por diversas espécies valiosas, ainda não foi tentado. Seria útil
realizar trabalho de pesquisa para preparar o cultivo da espécie.
3.5 Conclusões
No passado, os problemas específicos de piscicultura foram raramente separados dos pertinentes à
pesca, pelas várias instituições de pesquisa e desenvolvimento. A produção de tilápias em um só tanque
de cultivo foi introduzida na América do Sul sob diferentes suposições, e com metas diferentes do
mesmo cultivo na Africa, porém teve pouco resultado prático em ambos os continentes. Poucos (mas
parcialmente muito promissores) projetos de piscicultura foram implantados por iniciativa privada, sem
ajuda ou assessoria de instituições científicas de pesca. A reorganização das instituições de pesquisa e
desenvolvimento pesqueiro no campo da piscicultura, para a administração e problemas de extensão da
administração, poderia ter maior impacto sobre o desenvolvimento imediato da piscicultura do que o
trabalhoanterior, com maior orientação zoológica. Poderia ser considerado benéfico estabelecer, dentro
das instituições de pesquisa e desenvolvimento pesqueiro, departamentos especiais para aquacultura,
com in stitutos de aquacultura separados dos institutos de pesca. Essas instituições de aquacultura
devem ser aparelhadas com fazendas-modelo para peixe (ou fazendas para outros produtos da
aquacultura), para desenvolver, demonstrar e ensinar métodos de administração de fazendas de peixe
(ou de outra aquacultura) em diferentes níveis, para diferentes ambientes sócio-econômicos.

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