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Apostila Direito Constitucional II- Organização do Estado

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DIREITO CONSTITUCIONAL 
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO 
 
 
 
CURSO: DIREITO 
DOCENTE: PEDRO REINALDO CAMPANINI 
SEMESTRE: DR2/3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ARARAQUARA 
- 2011 – 
 
2 
 
ÍNDICE 
CAPÍTULO PÁGINA 
I - Direito Constitucional 03 
II – Formação Constitucional do Brasil 05 
III – A Constituição Federal de 1988 14 
IV – A organização do Estado 18 
V – Organização dos Poderes 25 
VI - Poder Legislativo 28 
VII - Poder Executivo 41 
VII – Poder Judiciário 46 
IX – Das funções essenciais à Justiça 52 
X - Defesa dos Estado e instituições democráticas 53 
XI – Tributação e orçamento 57 
XII – Ordem econômica e financeira 59 
XIII – Ordem social 61 
Bibliografia 64 
 
 
3 
 
CAPÍTULO I 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
 
I – DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
 
1 – Noção: “é um ramo do Direito Público, destacado por ser fundamental à organização e 
funcionamento do Estado, à articulação dos elementos primários do mesmo e ao 
estabelecimento das bases da estrutura política” (Moraes, p. 01). 
 
2 - Objeto da disciplina: “A constituição política do Estado, no sentido amplo de estabelecer 
sua estrutura, a organização de suas instituições e órgãos, o modo de aquisição e limitação 
do poder, através, inclusive, da previsão de diversos direitos e garantias fundamentais” 
(MORAES, p. 01). 
 
3 - Objetivos da disciplina 
 Estudar a organização de um Estado determinado. Ex: Dir. Constitucional Brasileiro. 
 Descrever e analisar a constituição política de um Estado. 
 Analisar a estrutura, organização das instituições e órgãos de um Estado. 
 Analisar o modo de aquisição e limitação dos poderes estatais. 
 Analisar a previsão de direitos e garantias fundamentais expressos em um texto 
constitucional. 
 
 
II - CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO 
 
- Segundo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (in Novo Dicionário Aurélio, 3. ed. 
Curitiba: Positivo, 2004) a palavra constituição possui vários sentidos, sendo o seguinte 
conceito interessante ao Direito: Lei fundamental e suprema dum Estado, que contém 
normas respeitantes à formação dos poderes públicos, forma de governo, distribuição de 
competências, direitos e deveres dos cidadãos, etc.; carta constitucional, carta magna. 
 
- Outras definições: 
 
o José Celso de Mello Filho: “Constituição é o nomen juris que se dá ao complexo de 
regras que dispõem sobre a organização do Estado, a origem e o exercício do Poder, 
a discriminação das competências estatais e a proclamação das liberdades públicas” 
(Constituição Federal Anotada, 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1986, p. 6-7). 
 
o José Afonso da Silva: “A Constituição do Estado, considerada sua lei fundamental, 
seria então, a organização dos seus elementos essenciais; um sistema de normas 
jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu 
governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de seus 
órgãos e os limites de sua ação.” (Curso de Direito Constitucional Positivo. 5. ed. 
São Paulo: RT, p. 37). 
 
 
o Para David Araújo e Vidal Serrano (p. 02), o conceito de Constituição se constrói da 
seguinte maneira: 
o Sentido político: é algo que emana de um ato do poder soberano, que 
determina a estrutura mínima do Estado, ou seja, as regras que definem a 
4 
 
titularidade do poder, a forma de seu exercício, os direitos individuais, etc. O 
sentido político tem base nas teorias de Carl Schmitt. 
o Sentido sociológico (Ferdinand Lassalle, no livro O que é uma 
Constituição?): a Constituição precisa ser o reflexo das forças sociais que 
estruturam o poder, sob pena de encontrar-se apenas uma folha de papel. 
o Sentido formal e jurídico: é o conjunto de normas que se situa num plano 
hierarquicamente superior a outras normas. Dessa maneira, pouco importa o 
conteúdo, mas a formalização em posição hierárquica superior. 
o A Constituição deve ser vista ainda como o documento básico do Estado, 
regulamentando seus elementos estruturantes, ou seja, território, governo, 
povo e finalidade. 
o Os autores conceituam então Constituição como “a organização sistemática 
dos elementos constitutivos do Estado, através do qual se definem a forma e a 
estrutura deste, o sistema de governo, a divisão e o funcionamento dos 
poderes, o modelo econômico e os direitos, deveres e garantias fundamentais, 
sendo que qualquer outra matéria que for agregada a ela será considerada 
formalmente constitucional.” (ARAÚJO, p. 03). 
 
 
5 
 
CAPÍTULO II 
FORMAÇÃO CONSTITUCIONAL DO BRASIL 
 
 
I - HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS 
1. A carta imperial de 1824. 
2. A primeira constituição da República - 1891. 
3. A Constituição de 1934. 
4. A Constituição de 1937 – Polaca. 
5. A Constituição de 1946. 
6. A Constituição de 1967. 
 A emenda de 1967. 
7. A Constituição da República Federativa do Brasil – 1988. 
 
 
1 - A CONSTITUIÇÃO DE 1824 
 
 Contexto histórico: 
- Predominância de idéias liberais, advindas da Revolução Francesa e Americana, no fim do 
século XVIII e início do XIX, trazidas pela classe dominante. 
- O homem, individualmente, no centro do alicerce social. 
- O Estado tem suas atividades limitadas, enquanto a sociedade tem ampla liberdade. 
- Buscavam o fim da monarquia absolutista. 
- O país estava sob a regência de D. Pedro I e antes mesmo da independência já se pensava 
em adotar uma constituição jurídica. 
 
 Principais características: 
- Outorgada (imposta sem consentimento do povo por meio de seus representantes). 
- Divisão quádrupla de poderes: Executivo, Judiciário, Legislativo e Moderador. 
- O Poder Moderador: 
- Exercido pelo monarca para realizar a arbitragem entre os demais poderes. 
- Estava acima dos demais poderes e não impunha responsabilidades ao monarca. 
- Sobre o legislativo: nomeação de senadores, sanção de leis, dissolução da Câmara 
dos Deputados. 
- Sobre o executivo: O Imperador era o chefe do executivo e também detentor do 
Poder Moderador. Dirigia o executivo por meio dos ministros de Estado, que podia 
nomear e destituir livremente. 
- Sobre o judiciário: Destituía os magistrados e podia alterar ou extinguir as penas 
aplicadas. 
- Rol extenso de garantias individuais (bastante avançado para época). 
- A Constituição era semi-rígida, possuindo dispositivos de fácil alteração em contrapartida à 
dispositivos rígidos (Obs: As constituições, quanto à forma de alteração, podem ser: rígidas, 
semi-rígidas e flexíveis). 
- Por exemplo, a forma de poder poderia se tornar republicana sem ao menos a necessidade 
de uma nova Carta. 
- Foi a Constituição de maior duração no Brasil. 
 
 
2 - A CONSTITUIÇÃO DE 1891 
 
 Contexto histórico: 
6 
 
- Em 15 de novembro de 1889 acontece o fim da monarquia, destituindo-se o Imperador, 
uma vez que é proclamada a República Federativa. 
- A proclamação da república foi um movimento de pouca participação social, tendo 
acontecido dentro dos quartéis militares. 
- O exército tinha força porque foi organizado pelo Império para deter as anteriores 
tentativas de revolução para formação da república. 
- O Brasil era, à época, a única monarquia do continente. 
- Houve profunda influência norte-americana, que propunha o sistema republicano 
presidencialista. 
- O primeiro ato jurídico após o golpe foi redigido por Rui Barbosa e expressava a nova 
forma de governo da nação brasileira. 
- As províncias passaram a Estados autônomos e também poderiam editar suas 
Constituições. 
- O principal participante da Assembléia Constituinte foi Rui Barbosa. Alguns autores, como 
Wilson Accioli, dizem que Barbosa redigiu a Carta sozinho. 
 
 Principaiscaracterísticas: 
- Promulgada (realizada de forma popular, ou seja, com a participação dos parlamentares). 
- Instituição da República Federativa, com a conseqüente criação da União. 
- Os princípios de perpetuidade e indissolubilidade da União não eram objeto de mudanças 
na Carta, nem mesmo por emenda constitucional. 
- A Constituição era rígida e exigia árduo trabalho para as modificações possíveis. 
- Tripartição de Poderes. 
- Fortalecimento do Judiciário: vitaliciedade aos magistrados e irredutibilidade de 
vencimentos. 
- Eleições: sufrágio direto, mas não universal. 
- Abrandamento das penas criminais, suprimindo-se as penas de galés (trabalhos forçados), 
banimento judicial e morte. 
- Introdução do Habeas Corpus
1
: garantia da liberdade de locomoção. 
- Criação do Supremo Tribunal Federal
2
. 
- Em 1926, após diversas crises e levantes sociais, o Texto sofre uma reforma, nitidamente 
racionalista e autoritária. As capacidades do Executivo da União aumentam, facilitando a 
intervenção no Executivo dos Estados e no Legislativo em geral. 
 
 
3 - A CONSTITUIÇÃO DE 1934 
 
 Contexto histórico: 
- A crise da Bolsa de Nova Iorque em 1929 abala a economia brasileira, principalmente de 
São Paulo que vivia da exportação do café. 
- O Presidente Washington Luiz designa Júlio Prestes para sua sucessão sem prévia consulta 
aos outros Estados (política café-com-leite). Fez isto, pois precisava proteger os cafeicultores 
de São Paulo, e Prestes era o mais indicado. 
 
1
 Já existia o HC no Código Penal de 1830, no entanto, somente com a Carta de 1891 é que foi erigido à norma 
constitucional. 
2
 No período colonial, após a vinda da família real, a instância máxima do Judiciário era a Casa de Suplicação 
do Brasil. Após a Independência, foi criado o Supremo Tribunal de Justiça pela Constituição de 1824. No 
governo do Marechal Deodoro da Fonseca, em 11 de outubro de 1890, publicou o Decreto nº 848, que dispunha 
sobre a organização da Justiça Federal (Supremo Tribunal Federal e Juízes de Seção). Em 24 de fevereiro de 
1891, a Constituição Federal da República dos Estados Unidos do Brasil consolidou a criação, composição e 
competência da Corte, composta por 15 Ministros, que seriam nomeados pelo Presidente da República. O 
Supremo Tribunal Federal foi instalado pelo Decreto nº1, de 26 de fevereiro de 1891. 
7 
 
- Os governos de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba discordam da designação feita 
pelo Presidente Washington Luiz. Formam assim a Aliança Liberal que propõe Getúlio 
Vargas para Presidente e João Pessoa para Vice. 
- Em 1930, após a derrota nas urnas, Getúlio Vargas lidera o movimento armado que encerra 
a denominada Primeira República, assumindo o poder da nação. 
- Em 11 de novembro de 1930 o Decreto 19.398 institui o Governo Provisório. 
- Uma das primeiras medidas do Governo Provisório foi a criação do Ministério da 
Educação e Saúde Pública e do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. 
 
 Principais características da Carta: 
- Promulgada. 
- Introdução do nome de Deus no preâmbulo 
- Incorporação de preceitos do direito civil, social e administrativo. 
- Voto feminino e secreto. 
- Justiça Militar e Eleitoral como órgãos do Poder Judiciário. 
- Previsão constitucional do Ministério Público
3
. Criação do Tribunal de Contas. 
- Normas reguladoras da ordem econômica, social, da família, educação, cultura, 
funcionalismo público e segurança nacional. 
- Competência ao Senado para coordenar os demais poderes. Era quase a volta do Poder 
Moderador, só que nas mãos do Senado. 
 
 
4 - A CONSTITUIÇÃO DE 1937 
 
 Contexto histórico: 
- A extrema esquerda e a extrema direita não permitiram a plena aplicação da CF de 1934, 
possibilitando assim o Golpe de 1937. 
- A grave crise mundial (Segunda Guerra) e interna geravam crise política. 
- Nas disputas entre a direita integralista e a esquerda comunista, com ameaças de séria crise 
(talvez insuflada pelo próprio Vargas), estava preparado o cenário para o golpe. 
- Em 10 de novembro de 1937 Getúlio Vargas outorga nova Carta: inicia-se o Estado Novo. 
 
 Principais características: 
- Outorgada. 
- Também conhecida com Constituição Polaca (por ser inspirada na Carta polonesa). 
- O Presidente se torna o poder supremo da nação. Cria-se um regime autoritário. 
- Os demais poderes, apesar de existentes, perdem autonomia e força, concentrada no 
executivo. 
- A figura do Senado é substituída pelo Conselho Federal. 
- O Poder Legislativo poderia entrar em recesso por ordem do Presidente, que neste caso 
assumiria suas funções. 
- A orientação ideológica era fascista
4
, claramente contrária ao comunismo e a democracia 
liberal. 
- A CF jamais entrou em vigor, pois seu artigo 187 rezava que a vigência seria submetida ao 
plebiscito nacional, fato que nunca aconteceu. Na verdade, prevaleceu o Estado Novo, 
 
3
 No período colonial não havia previsão do Ministério Público como instituição. Mas as Ordenações 
Manuelinas de 1521 e as Ordenações Filipinas de 1603 já faziam menção aos promotores de justiça, atribuindo 
a eles o papel de fiscalizar a lei e de promover a acusação criminal. Em 1832, com o Código de Processo Penal 
do Império, iniciou-se a sistematização das ações do Ministério Público. Na República, o decreto nº 848, de 
11/09/1890, ao criar e regulamentar a Justiça Federal, retrata a estrutura e atribuições do Ministério Público no 
âmbito federal. 
4
 Fascismo: Sistema político nacionalista, imperialista, antiliberal e antidemocrático, liderado por Benito 
Mussolini (1883-1945) na Itália. 
8 
 
eivado de arbitrariedade e sem qualquer controle jurídico, no qual Vargas era o poder 
supremo. 
- Nunca foram convocadas eleições para a composição do Congresso Nacional. 
- A censura ao pensamento e à impressa era comum. 
 
 
5 – A CONSTITUIÇÃO DE 1946 
 
 Contexto histórico: 
- Com o fim da Segunda Guerra Mundial o fascismo já não podia persistir. 
- Vargas, preocupado com a situação, convoca no início de 1945 eleições para 02 de 
dezembro daquele mesmo ano. O objetivo não era uma nova Carta, mas apenas algumas 
modificações. 
- Escândalos políticos, como previsibilidade no resultado das eleições, provocam a queda de 
Vargas que é substituído no poder pelo Presidente do STF José Linhares, em outubro de 
1945. 
- Disto decorre a convocação de uma nova Constituinte e não simplesmente congressistas 
para uma mínima emenda constitucional, como queria Vargas. 
 
 Aspectos fundamentais: 
- Promulgada. 
- Alguns a tratam como a melhor Carta de todos os tempos no Brasil (Celso Bastos). 
- Divisão harmônica dos 3 Poderes. Para tanto os poderes do Executivo sofrem diminuição 
em relação à Carta anterior. 
- Eleições diretas para Presidente da República para mandato de 5 anos. O Vice-Presidente 
da República acumulava a função de Presidente do Senado. 
- Só o Legislativo podia legislar, com exceção das leis delegadas. 
- O Judiciário tem suas competências alargadas e passa a ser julgador da constitucionalidade 
das leis. 
- O caráter democrático da CF era visível. Nenhuma lesão poderia se subtraída da apreciação 
do Judiciário. 
- Acaba a perseguição aos partidos políticos com a consagração do princípio da liberdade de 
criação de organizações partidárias, desde que não buscassem o autoritarismo. 
- Fim das penas de banimento e confisco. Inexistência da pena de morte. 
- Aumenta a autonomia dos municípios. 
 
 
6 – A CONSTITUIÇÃO DE 1967 
 
 Contexto histórico: 
- Guerra Fria: Capitalistas X Comunistas. 
- Em agosto de 1961 o Presidente JânioQuadros renuncia. Em setembro João Goulart, o 
Jango, assume a presidência. 
- Ainda em setembro de 1961 a Emenda nº 4 institui o sistema parlamentarista no país, 
deixando de lado o presidencialismo. Fruto do medo do militares e influência dos EUA por 
causa da aproximação de Jango com o comunismo. 
- Em 1963, após desaprovação popular ao parlamentarismo por meio de plebiscito, retorna-
se ao presidencialismo. 
- Em 31 de marco de 1964 ocorre o golpe militar (que alguns chamam de Revolução de 64) 
que há quase dez anos vinha se armando. Motivo: “o espectro do comunismo”. 
- É convocado o Congresso Nacional para uma nova Assembléia Constituinte. 
 
9 
 
 Principais aspectos: 
- Outorgada (há divergência na doutrina, uma vez que o Congresso Nacional foi convocado). 
- Permite a desapropriação da propriedade, mediante indenização, para fins de reforma 
agrária. 
- Enorme preocupação com a segurança nacional, através de um conceito bastante vazio que 
possibilitava a dissolução do Congresso com grande facilidade. 
- Reuniu na União diversas competências dos Estados e municípios. 
- Existia a divisão tripartida de poderes, no entanto, não vigia na prática, uma vez que o 
Presidente da República tinha poderes concentrados. 
- Foi a CF que mais poderes deu ao Presidente da República, situação que se agravou com a 
Emenda Constitucional nº 01 de 1969. 
- As liberdades e garantias individuais foram praticamente mantidas, mas a todo tempo eram 
suspensas pelo Executivo. 
- Após diversos anos de revoltas e manifestações populares o Ato Institucional nº 5 (AI-5) 
demonstra o ápice do autoritarismo. Era impossível juridicamente conjugá-lo às disposições 
da CF. Com isso, pode-se dizer que o AI-5 passou a ter superioridade ao texto 
constitucional. 
- Pelo AI-5 o Presidente da República poderia, por exemplo, fechar Assembléias 
Legislativas estaduais e Câmaras de Vereadores, assumindo suas funções. 
- Mandatos parlamentares foram cassados, garantias do judiciário suspensas (vitaliciedade e 
inamovibilidade). 
- O AI-5 possibilitava até mesmo a suspensão do Habeas Corpus nos casos de crimes 
políticos contra a segurança nacional, a ordem econômica e social e a economia popular. 
- O Poder Judiciário estava proibido de julgar casos decorrentes do AI-5. 
- Com o Presidente Costa e Silva doente quem assumiria seria o Vice-Presidente Pedro 
Aleixo. No entanto, por ser o vice um civil e não um militar, em agosto de 1969, pelo AI-12, 
os militares outorgam para si o governo do país sem a figura do Presidente. Quem governava 
era a Junta do Exército, Marinha e Aeronáutica. 
- Costa e Silva morre em dezembro de 1969. Já prevendo o fato, os militares editaram, em 
novembro daquele ano, o AI-16 que determinava como cargos vagos a Presidência e Vice. 
 
 A Emenda Constitucional de 1969: 
- O Executivo, dirigido pela Junta Militar, edita Emenda Constitucional. O raciocínio é 
simples: estando o Congresso em recesso quem assume suas funções é o Executivo. 
O Congresso pode emendar a Carta, portanto o Executivo assumindo tais funções 
também pode. 
- Para muitos autores tal emenda cria uma nova Constituição, a Constituição de 1969. 
 
 Principais aspectos após a Emenda de 1969: 
- Novo nome: passou de Constituição Brasileira para Constituição da República Federativa 
do Brasil. 
- Estipulava perda de mandato eletivo quando houvesse atentado contra as instituições 
estatais. 
- Institui o Tribunal de Contas Municipal para cidades com mais de 2 milhões de habitantes. 
- Os empréstimos do exterior tinham que passar pelo crivo do Executivo. 
- Os decretos-leis (competência do Executivo) tinham validade para os atos do período de 
sua vigência, mesmo que depois fossem rejeitados pelo Legislativo. 
- O Conselho de Segurança Nacional era competente para definir as bases e objetivos da 
política nacional. 
- Criou a figura da lei complementar para regrar os direitos políticos, bem como seu gozo, 
fruição, suspensão, perda e reaquisição. 
- Proibiu a reeleição para o Executivo. 
10 
 
- Impôs censura para as publicações contrárias à moral e bons costumes. 
 
 
7 – A CONSTITUIÇÃO DE 1988 
 
 Contexto histórico: 
- Movimento “Diretas Já”, que pretendia eleições diretas para os cargos políticos no Brasil. 
- Decadência do governo militar no Brasil. 
- Pressões da comunidade internacional contra as ditaduras militares. 
- Instalação da Assembléia Nacional Constituinte em fevereiro de 1987, sob a presidência do 
Ministro do STF José Carlos Moreira Alves. O Presidente da Constituinte eleito foi Ulisses 
Guimarães. 
- Como não havia projeto para CF, foram criadas 24 subcomissões, que posteriormente se 
reuniram em 8 comissões temáticas. O erro estava em produzir um trabalho sem diretrizes 
determinadas, com comissões atuando em separado e sem conhecimento do restante da 
produção. Além disso, outro problema era o total despreparo da grande maioria dos 
deputados acerca da tarefa constitucional. 
- Em 25 de julho de 1987 as comissões juntam seus trabalhos num anteprojeto de 551 artigos 
apelidado de “Frankenstein”. 
- Dados da desorganização: o primeiro projeto apresentado recebeu 5.615 emendas. Foi 
apresentado então novo projeto que recebeu 20.790 emendas de plenário e 122 populares. 
Novo projeto substitutivo é apresentado e recebe 14.320 emendas. 
- Havia um entendimento de que as matérias produzidas pela Comissão de Sistematização 
estariam pré-aprovadas, ou seja, não precisariam ser votadas em plenário. No entanto, os 
demais constituintes percebendo que estavam fora da votação, realizaram uma emenda, com 
319 votos, de um total de 561 constituintes, para que todos os termos da CF fossem alvo de 
votação em plenário. Alguns consideram o fato uma vitória da democracia. 
- Após uma primeira votação do projeto definitivo da CF, começa em julho de 1998 o 2
o
 
turno de votação. No 2
o
 turno quase não aconteceram discussões e o procedimento teve 
caráter meramente homologatório. Além disso, os conchavos políticos e a falta de 
assiduidade da grande maioria dos constituintes impediam mudanças no texto anterior por 
falta de quorum. 
- Em 05
 
de outubro de 1988 é promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil. 
 
 Aspectos principais: 
- Possui 250 artigos e o ADCT (que também é parte integrante da CF). 
- Consagra a República Federativa, com divisão tripartida do Poder: Judiciário, Legislativo e 
Executivo. 
- O Ministério Público encontra-se definido no mesmo título da CF que os demais poderes, 
no entanto, está em capítulo próprio. Isto leva muitos autores a argumentarem que o MP 
seria um quarto poder. No entanto, existem correntes doutrinárias que classificam o MP com 
pertencente ao Judiciário ou ao Executivo. 
- Extenso rol de garantias e direitos fundamentais. 
- Fim dos Atos Institucionais, substituídos de certa forma pelas Medidas Provisórias de 
competência do Presidente da República, mas como o próprio nome diz, de caráter 
provisório, somente para casos e relevância e urgência e com necessária apreciação de 
conteúdo pelo Congresso (art. 62). 
- Eleva diversos direitos sociais à hierarquia constitucional: saúde, previdência social, 
assistência social, educação, cultura, desporto, ciência e tecnologia, comunicação, meio 
ambiente, família e o índio. 
- A CF é marcada por ser rígida, uma vez que há cláusulas pétreas (art. 60, § 4
o
), que 
impedem reforma de certos pontos, bem como, para reforma-se as outras partes, somente por 
11 
 
meio de procedimento especial (Emendas à Constituição), o que demonstra claramente a 
especial proteção ao Texto. 
 
 
II – CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 
 
Nota: A classificação varia de autor paraautor e tem como principal objetivo realçar 
características dos textos constitucionais. Existem outras classificações além das aqui 
expostas. 
 
1 – Quanto à origem 
- Promulgada ou votada (popular ou democrática): é fruto de um processo democrático e 
elaborada por um Poder Constituinte exercido por uma Assembléia Constituinte. 
- Exemplos no Brasil: 1891, 1934, 1946 e 1988. 
 
- Outorgada: é fruto do autoritarismo, sendo geralmente imposta pelo(s) governante(s), sem 
a participação do povo. 
- Exemplos no Brasil: 1824, 1937 e 1967 (quanto à esta CF há divergência na doutrina sobre 
se foi promulgada ou outorgada). 
 
- Cesarista: é a formada por referendo popular, sobre um projeto previamente elaborado pelo 
governante. Esta classificação é de José Afonso da Silva. 
 
2 – Quanto à mutabilidade, alterabilidade, consistência ou estabilidade 
 
- Flexível: a Constituição que não exige, para sua alteração, qualquer processo mais solene, 
tendo-se em vista o critério da lei ordinária. 
 
- Rígida: a Constituição que exige para sua alteração um critério mais solene e difícil do que 
o processo de elaboração da lei ordinária. É o caso da CF/88. A presença de cláusulas 
pétreas, traduzem-se, para alguns autores (Michel Temer), no grau máximo de rigidez. 
 
- Semi-rígida: é a Constituição que apresenta uma parte que exige mutação por processo 
mais difícil e solene do que a lei ordinária e outra parte que não possui tal exigência, 
podendo ser alterada pelo mesmo mecanismo das leis ordinárias. É o caso da Constituição do 
Império de 1824. 
 
- Imutável: não admite mudanças em seu texto. Ex: Finlândia (atual). 
 
3 – Quanto à forma 
 
- Escrita ou dogmática: aquela que é representada por um texto completo e organizado, são 
codificadas em um texto único ou não. 
- As constituições escritas podem conviver com fenômeno denominado bloco de 
constitucionalidade. A própria constituição escrita pode definir valor de norma 
constitucional a atos e documentos que estão fora da própria Carta. Ex: Constituição da 
França de 1958 (vigente) que atribui valor de norma constitucional à parte da Constituição 
12 
 
anterior da Franca, que era de 1946, no que tange e trata da ordem social, bem como atribui 
valor de constituição à Declaração de Direitos do século XVIII. 
- Este assunto se tornou importante no Brasil após a EC/45, que criou o § 3º do art. 5º: 
tratados internacionais de direitos humanos votados como emendas, equivalerão às emendas, 
terão status constitucional. Isso significa o reconhecimento da figura do bloco de 
constitucionalidade. A CF não se resumirá ao codificado no texto único da CF/88, mas 
também aos tratados com força constitucional. 
 
- Costumeira ou histórica: aquela que é formada a partir de textos esparsos, sendo 
sedimentada em costumes derivados das decisões jurisprudenciais. São juridicamente 
flexíveis, porque podem ser facilmente alterados pelo legislador ordinário, mas são política e 
socialmente rígidas, posto que cristalizadas ao longo de vários anos. Por exemplo, a atual 
Constituição da Inglaterra. 
 
4 – Quanto ao conteúdo 
 
- Material: pelo conceito político de Constituição, é possível identificar matérias tipicamente 
constitucionais. São então aquelas regras que identificam a forma e a estrutura do Estado, o 
sistema de governo, a divisão e o funcionamento dos Poderes, o modelo econômico e os 
direitos, deveres e garantias fundamentais (povo). Na CF/88 são materialmente 
constitucionais, por exemplo, os artigos 1º, 2º e 18. 
 
- Formal: possui normas no texto constitucional que não são materialmente constitucionais, 
não guardando relação com a estrutura mínima e essencial do Estado. As normas só são 
constitucionais porque estão formalmente colocadas no Texto. Por exemplo, o artigo 217 da 
CF que trata do desporto. 
 
- Manoel Gonçalves classifica ainda em: 
 
o Constituição-garantia: aquela que visa garantir a liberdade, limitando o poder do 
Estado. 
 
o Constituição-balanço: reflete o compromisso socialista. Assim, a cada novo estágio 
da evolução socialista, haveria um novo texto constitucional. Exemplos: 
Constituições soviéticas de 1924, 1936 e 1977. 
 
o Constituição-dirigente: aquela que traz um projeto de Estado, apresenta 
compromissos sociais e fornece meios para sua execução. 
 
 
III – CONSTITUCIONALISMO CONTEMPORÂNEO 
 
- Atualmente o Direito Constitucional não abrange somente a organização do Estado, 
havendo interferências diretas nos ramos do Direito Privado. 
- Fica claro na atual CF brasileira, que seguimos em nosso constitucionalismo 
contemporâneo, aquilo que Uadi Lâmego Bulos denominou de “totalitarismo 
13 
 
constitucional”, produtor de uma Constituição programática, de uma Constituição Dirigente 
(como anota Canotilho), com importante conteúdo social, garantidora dos direitos humanos. 
- Podemos assim dizer que nossa CF/88 é escrita, rígida, formal, promulgada, dirigente e 
garantia. 
- Pela apresentação do Neoconstitucionalismo, podemos dizer que a Constituição: 
 É o centro do sistema jurídico e organizacional do Estado. 
 É norma jurídica superior e de natureza imperativa. 
 Possui carga valorativa: dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais. 
 Eficácia irradiante em relação aos Poderes e aos particulares. 
 Concretiza valores ao constitucionalizá-los. 
 Garante condições mínimas de dignidade humana. 
 
 
 
 
 
14 
 
CAPÍTULO III 
A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 
 
 
I – A ORGANIZAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 
 
1 – Introdução 
 
- A Constituição da República Federativa do Brasil foi promulgada em 05 de outubro de 
1988. 
- Foi dividida da seguinte forma: preâmbulo, nove títulos e, ao final, o Ato das Disposições 
Constitucionais Transitórias (ADCT). 
- Estão espalhados pela Carta princípios que permitem a conclusão que o constituinte elegeu 
como meta para o Brasil o Estado de bem-estar social. Por garantir direitos individuais e 
coletivos para toda a sociedade, parece inquestionável que foi instituído um Estado 
Democrático Social de Direito, no qual o Estado é: 
 criado e regulado pela CF; 
 os agentes públicos são eleitos pelo povo devendo governar para o povo; 
 o poder político é exercido, em parte diretamente pelo povo, em parte por órgãos 
estatais (Executivo, Judiciário e Legislativo); 
 os cidadãos, por serem titulares de direitos constitucionais, podem opor tais direitos 
entre si e em face do Estado. Por causa disso a CF/88 é chamada de Carta-cidadã; 
 o Estado deve atuar positivamente para gerar desenvolvimento e justiça social. 
 
 
2 – Preâmbulo 
 
- O preâmbulo não é elemento obrigatório, muitos autores nem lhe dão caráter jurídico, 
apenas de manifestação sociopolítica. 
- No Brasil prevalece a tese de que o preâmbulo não possui força normativa, refletindo 
apenas a posição ideológica do constituinte. 
- No entanto, é certo que o preâmbulo deve ser utilizado para a integração e interpretação do 
texto constitucional. De toda forma, as normas constitucionais expressas prevalecem sobre o 
conteúdo do preâmbulo. 
 
 
3 - Fundamentos do Estado brasileiro (art. 1º) 
 
- O art. 1º da CF estabelece um regime republicano do tipo federalista, e enumera como 
fundamentos do Estado brasileiro: 
 
A – Soberania 
- É o caráter supremo de um poder, que não admite outro que lhe seja imposto. Assim, a 
República brasileira deve pautar suas relações internacionais pela soberania. 
 
B - Cidadania 
- É o direito dos cidadãos de participar dos destinos do Estado e também de usufruir dos 
direitos civis fundamentais previstos na CF. 
- É o direito do cidadãoter direitos e possuir o atributo da dignidade da pessoa humana. 
Assim, o Direito deve garantir ao cidadão um posicionamento digno na sociedade. 
- Mas o cidadão não possui somente direitos, deve cumprir também com seus deveres. 
Portanto, precisa exercer um papel positivo perante a sociedade. 
15 
 
 
C – Dignidade da pessoa humana 
- É uma referência constitucional unificadora dos direitos fundamentais inerentes à espécie 
humana, ou seja, daqueles direitos que visam garantir o conforto existencial das pessoas, 
protegendo-as de sofrimentos evitáveis na esfera social. 
- Assim são, por exemplo, as ações afirmativas, que visam garantir oportunidades iguais aos 
desiguais. Exemplo: art. 37, VIII, CF c/c art. 5º, § 2º da Lei 8.112/90 (§ 2
o
 Às pessoas 
portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para 
provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são 
portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas 
oferecidas no concurso). 
 
D – Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa 
- Foram expressos em conjunto para que haja uma harmonia e cooperação entre a atividade 
dos trabalhadores e a atividade dos detentores do capital. 
- Os direitos sociais do trabalho permitem a exteriorização de liberdades positivas (poder de 
exigir prestações positivas do Estado). Tais princípios, expressos, por exemplo, nos arts. 6º, 
7º e 193 a 230, têm por objetivo o bem-estar e a justiça social. 
- Exemplos de princípios relativos à livre iniciativa: art. 170, II, IV, IX e parágrafo único. 
 
E – Pluralismo político 
- É caracterizado pela convivência harmônica dos interesses contraditórios e das diversas 
ideologias, permitindo a liberdade de pensamento, religião, posicionamento político, etc. 
- Garante-se com isso a democracia. O art. 17 da CF reflete tal orientação. 
 
 
 
II - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
 
1 - Noções 
 
- Os princípios servem como regras-matriz (fonte, fundamentação) para a elaboração, 
interpretação e integração de todo sistema jurídico nacional. 
- Os princípios constitucionais têm aplicabilidade imediata e seguimento obrigatório para 
todo o ordenamento jurídico brasileiro, estando espalhados por todo texto constitucional. 
- Qualquer norma infraconstitucional que viole o contido nos princípios é norma 
inconstitucional. Para alguns autores violar um princípio é muito pior do que atingir norma 
constitucional. 
- A Carta está sujeita a uma análise sistemática e valorativa de suas expressões e princípios. 
Ao se ponderar os preceitos constitucionais como um todo de um sistema harmônico, 
percebe-se que um princípio não pode sobrepor-se à outros, para que não haja contradições 
no mecanismo total e para que não existam disposições sem função na Constituição. Com 
isto, percebe-se que não há na Constituição contradições intransponíveis, sendo sempre 
possível interpretá-la conciliando a aplicação de todos os dispositivos referentes ao caso 
concreto. 
- A aplicação de uma regra infraconstitucional colidente com outra exclui uma delas. Já para 
os princípios o sistema é diferente, uma vez que, pela força de sua dimensão de pesos, cada 
princípio terá seu aspecto valorativo em determinada circunstância, não havendo conflito. 
Portanto, para valoração de princípios, deve-se ponderá-los para encontrar a solução fática 
correta. 
 
2 – Princípio Republicano 
16 
 
 
- É elemento essencial da CF, determinando a forma de governo e a organização do Estado e 
seu relacionamento com os cidadãos. 
- O princípio republicano garante: 
 Tripartição de funções; 
 Mandatos políticos eletivos e sua periodicidade (eletividade e alternância de poder); 
 Responsabilidade dos agentes públicos; 
 Impeachment do Presidente da República e demais autoridades elencadas pelo art. 
52, I e II; 
 Prestação de contas, publicidade dos atos e transparência administrativa; 
 Mecanismos de fiscalização (ação popular – art. 5º, LXXIII, e ação civil pública); 
 Proteção aos Direitos Fundamentais; 
 Submissão dos agentes públicos ao princípio da legalidade. 
 Titularidade do poder pelo povo (parágrafo único do artigo 1º). 
 
 
3 – Princípio da separação de Poderes 
 
- O art. 2º da CF estabelece: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o 
Legislativo, o Executivo e o Judiciário.” 
- Nesse sentido, a independência e harmonia dos Poderes do Estado permite visualizar que 
cada um deles, por princípio constitucional, tem esfera própria de atuação. 
- A independência dos poderes confere aos seus membros algumas prerrogativas funcionais, 
para que esses atuem também com independência. Assim, podem ser citadas as imunidades 
parlamentares, a vitaliciedade e a irredutibilidade de remuneração aos membros do Judiciário 
e do Ministério Público. 
 
 
III – OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA 
 
- O art. 3º arrola os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, determinando 
que todo o sistema legal brasileiro deve permitir a realização da justiça social. 
- Nesse sentido, são objetivos fundamentais: 
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
II - garantir o desenvolvimento nacional; 
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; 
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e 
quaisquer outras formas de discriminação. 
 
 
IV - OS PRINCÍPIOS REGENTES DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS 
 
- Tais princípios regem o posicionamento do Estado brasileiro perante os demais países e 
órgãos internacionais. 
- A tarefa de representar o Brasil foi conferida pelo art. 84, VII e VIII ao Presidente da 
República que é o Chefe de Estado (e também de Governo). 
- Contudo, os tratados e acordos internacionais deverão ser referendados pelo Congresso 
Nacional, para posterior sanção pelo Presidente da República. Caso o acordo internacional 
seja custoso ao patrimônio nacional, o Congresso resolverá com competência exclusiva 
sobre sua aplicabilidade ou não no país, sem sanção pelo Presidente da República (art. 49, I). 
- Em resumo: 
17 
 
a. Os tratados internacionais serão assinados pelo Chefe de Estado perante a 
comunidade internacional (art. 84, VIII). 
b. O Congresso Nacional deverá então referendar o texto, por meio de Decreto 
Legislativo. 
c. Após isso o Presidente da República poderá ou não ratificar o tratado, em nome da 
soberania nacional (o Decreto Legislativo não vincula a atuação do Presidente). 
Exceto para os casos do art. 49, I. 
d. A ratificação do tratado representa a adesão do país ao tratado internacional. 
e. Após ratificado o tratado, deve haver sua promulgação por intermédio de um Decreto 
(forma de ato administrativo) do Presidente da República. 
 
- Os princípios que regem o relacionamento brasileiro no cenário internacional estão 
contemplados pelo art. 4º. 
 
18 
 
CAPÍTULO IV 
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO 
 
 
I - CARACTERÍSTICAS DA FEDERAÇÃO 
- Dalmo de Abreu Dallari, em Elementos de Teoria Geral do Estado (11. ed., São Paulo: 
Saraiva, 1985, p. 227), define federação como uma aliança ou união de Estados, baseada 
numa Constituição, na qual “os Estados que ingressam na federação perdem sua soberania, 
preservando contudo uma autonomia política limitada”. 
- Dessa maneira, guarda diferenças com o Estado unitário, pois este tem um só poder 
centralizado. 
- Por sua vez, difere da confederação de Estados, pois esta é organizada por um tratado 
internacional entre países que pode ser dissolvido. 
 
- Alexandre de Moraes (p. 266/267), citando Geraldo Ataliba(in República e constituição. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1985, p. 10), apresenta a seguinte definição de Federação: 
1. Associação de Estados 
2. Para a formação de novo Estado (o federal) 
3. Com repartição rígida de atributos da soberania entre eles. 
4. Há autonomia recíproca entre Estados e União, tudo sob a égide da CF. 
5. Tal autonomia caracteriza a igualdade jurídica, dado que ambos extraem suas 
competências da mesma norma. 
6. Cada um dos entes federativos (Estados e União) é supremo em sua esfera. 
 
- Assim, estabelecido o princípio federativo, os Estados-membros renunciam de certas 
parcelas de competências administrativas, legislativas e tributárias. No Brasil, esta renúncia 
está pactuada nos arts. 1º e 18 da CF, que positivam o princípio federativo. 
 
 
II - PRINCÍPIOS DA FEDERAÇÃO 
- Os cidadãos dos diferentes Estados-membros constituintes da União, a partir da criação da 
federação, devem ter a mesma nacionalidade; 
- Repartição constitucional de competências entre a União, Estados-membros, Distrito 
Federal e Municípios (estas são as ordens jurídicas estabelecidas no modelo brasileiro); 
- Cada ente federativo tem sua própria competência tributária, garantindo-lhe renda própria. 
- Competência para auto-organização legal, respeitando-se a atribuição constitucional. 
- Possibilidade constitucional de intervenção federal, de forma excepcional e taxativa 
(numerus clausus), para manutenção do equilíbrio federativo. 
- Participação dos Estados-membros no Poder Legislativo Federal. 
- Possibilidade de criação de novos Estados ou modificação territorial de Estado existente, 
desde que haja concordância da população afetada. 
- Existência de órgão de cúpula do Poder Judiciário para interpretação e proteção da 
Constituição Federal. 
- No Brasil o legislador constitucional impediu emenda tendente a abolir a Federação. 
 
 
III - UNIÃO 
- Conceito de União (Moraes, p. 269): é entidade federativa autônoma em relação aos 
Estados-membros e municípios, constituindo pessoa jurídica de Direito Público Interno, 
cabendo-lhe exercer as atribuições da soberania do Estado Brasileiro. 
 
19 
 
- A União não se confunde com o Estado Federal: este é pessoa jurídica de Direito 
Internacional e formada pelo conjunto de União, Estados-membros, DF e municípios. 
- Na prática, quem age em nome do Estado Federal é a União. 
 
- Bens da União: art. 20 
 
 
IV - ESTADOS-MEMBROS 
- A autonomia dos Estados se caracteriza pela: 
A. Capacidade de auto-organização e normatização própria; 
B. Autogoverno; 
C. Autoadministração. 
 
A) Auto-organização e normatização própria 
- Tal capacidade se caracteriza pelo exercício do poder constituinte derivado-decorrente: 
possibilidade da edição de Constituições Estaduais e, conseqüentemente, de legislação 
estadual (art. 25). 
- Contudo, a capacidade de auto-organização e normatização própria precisam respeitar os 
(a) princípios constitucionais sensíveis, (b) princípios federais extensíveis e (c) princípios 
constitucionais estabelecidos. 
 
a) Princípios constitucionais sensíveis: são aqueles que, quando desrespeitados, podem 
acarretar em intervenção federal. Tais princípios são aqueles previstos no artigo 34, VII, da 
CF. 
 
b) Princípios federais extensíveis: são as normas centrais comuns à União, Estados, DF e 
municípios, ou seja, todos devem respeitá-los. Exemplos: art. 1º, I a V; art. 3º , I a IV; art. 4º, 
I a X; art. 2º; art. 5º, I, II, III, VI, VIII, IX, XI, XII, XX, XXII, XXIII, XXXVI, LIV E LVII, 
arts. 6º a 11, art. 93, I a XI; art. 95, I a III. 
 
c) Princípios constitucionais estabelecidos: determinadas normas espalhadas pelo texto da 
CF, que organizam a federação e estabelecem preceitos centrais de observância obrigatória 
aos Estados-membros em sua auto-organização. Subdividem-se em normas de competência 
(Ex: arts. 23; 24; 25; 27, § 3º) e normas de preordenação (Ex: arts. 27; 28; 37, I a XXO, §§ 
1º a 6º; arts. 39 a 41). 
 
B) Autogoverno 
 
- É o próprio povo do Estado quem escolhe seus representantes no Executivo e Legislativo 
locais. 
- A CF prevê, no âmbito estadual, os três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário (arts. 
27, 28 e 125 respectivamente). 
 
C) Autoadministração 
 
- Os Estados têm poder de autoadministração no exercício de suas competências 
administrativas, legislativas e tributárias. 
- Regiões de desenvolvimento: medidas administrativas que a União pode tomar dentro dos 
territórios dos Estados-membros (art. 43 e 174, § 1º). 
 
 
V - MUNICÍPIOS 
20 
 
- Pela CF brasileira os municípios fazem parte da Federação como entidades federativas 
indispensáveis, tendo plena autonomia (ver arts. 1º; 18; 29; 30 e 34, VII, c). 
- Dentre as Constituições contemporâneas, nenhuma outra no mundo deu tão grande 
importância ao município. 
A autonomia municipal caracteriza-se de forma semelhante à autonomia estadual: 
1. Capacidade de auto-organização e normatização própria; 
a. Lei Orgânica Municipal (ver art. 29, CF) e edição de leis municipais (ver art. 
30). 
2. Autogoverno 
a. Eleição de prefeito, vice-prefeito e vereadores sem ingerência da União ou do 
Estado. 
3. Autoadministração. 
a. Realiza autonomamente as competências administrativa, tributária e 
legislativa. 
 
 
VI - DISTRITO FEDERAL 
- Também é um ente da federação (arts. 1º e 18), possuidor da tríplice capacidade de 
1. auto-organização e normatização própria: lei orgânica e edição de leis distritais (art. 
32 caput); 
2. autogoverno: eleição de governador e vice, bem como de deputados distritais para a 
Câmara Legislativa (art. 32, §§ 2º e 3º). 
3. autoadministração: o DF exerce suas capacidades legislativas, administrativas e 
tributárias sem ingerência da União. 
 
- Ao Distrito Federal é defeso dividir-se em municípios (art. 32, caput). 
- Apesar de não ser Estado-membro ou município, o DF tem competências legislativas e 
tributárias reservadas aos Estados e municípios (arts. 32, § 1º, e 147), com a exceção do art. 
22, XVII (o Poder Judiciário no DF é organizado pela União, havendo assim uma 
diminuição da autonomia desse ente federativo). 
 
 
VII - TERRITÓRIOS 
- Territórios não são entes independentes da federação, pois são descentralizações 
administrativas da União. 
- Os territórios podem ser criados por lei complementar: art. 18, § 3º. 
- Atualmente não há mais territórios. Quando a CF foi promulgada havia três: Amapá, 
Roraima e Fernando de Noronha. 
- Amapá e Roraima transformaram-se em Estados Federados (art. 14, ADCT ). 
- Fernando de Noronha foi reincorporado ao Estado de Pernambuco (art. 15, ADCT). 
 
 
VIII - FORMAÇÃO DOS ESTADOS 
- A CF prevê a possibilidade da transformação dos Estados, podendo haver a criação de 
novos Estados (art. 18, § 3º). 
- Hipóteses de alterabilidade divisional interna do território brasileiro: 
1. Incorporação ou fusão: dois ou mais Estados se unem com outro nome. Extinguem-
se as personalidades jurídicas primitivas e cria-se uma nova. 
2. Subdivisão: o Estado originário subdivide-se em duas ou mais partes, extinguindo-se 
a personalidade jurídica primitiva e criando-se novas (novos Estados). 
3. Desmembramento – anexação: consiste em separar-se uma parcela territorial e 
populacional de um Estado, sem que este perca sua personalidade originária. Neste 
21 
 
caso um Estado perde uma parcela territorial e populacional que é anexada a um 
outro Estado já existente. Assim, não há modificações de personalidade. 
4. Desmembramento – formação: consiste em separar-se uma parcela territorial e 
populacional de um Estado, sem que este perca sua personalidade originária. 
Diferentementeda anexação, forma-se um novo Estado ou território com a parcela 
desmembrada. Assim, o Estado originário permanece como antes, contudo com 
menos território e população, e surge um novo Estado, criando-se uma nova 
personalidade jurídica. Na prática foi o que ocorreu com o Estado de Tocantins (art. 
13, ADCT). 
 
 
IX - FORMAÇÃO DE MUNICÍPIOS 
- A CF prevê em seu art. 18, §4º, as formalidades para a formação de municípios. 
- Procedimento: 
1. Criação de Lei Complementar Federal que estabeleça de forma geral o período 
possível para a formação de novos municípios. Tal lei ainda não foi editada, portanto 
a norma constitucional do § 4º do art. 18 tem eficácia limitada, dependendo de 
complementação. 
2. Lei ordinária federal que determine os requisitos genéricos exigíveis, bem como a 
apresentação e publicação dos Estudos de viabilidade Municipal. 
3. Consulta prévia, mediante plebiscito, da população diretamente interessada, ou seja, 
da população do distrito que se emancipa e se torna município, bem como da 
população do município desmembrado. 
4. Lei ordinária estadual criando especificamente o novo município. 
 
 
X - VEDAÇÕES CONSTITUCIONAIS DE NATUREZA FEDERATIVA 
- O art. 19 prevê tais vedações. 
- Acabam por decorrer de tais vedações algumas limitações no poder de tributar: 
1. Imunidade constitucional recíproca das esferas públicas: art. 150, VI, a. 
2. Imunidade constitucional dos templos religiosos: art. 150, VI, b. 
 
 
XI - REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS 
 
1 - CONCEITO 
- Para que haja autonomia entre os entes federativos, necessário se faz a repartição de 
competências legislativas, administrativas e tributárias. 
- Segundo José Afonso da Silva, competência é a “faculdade juridicamente atribuída a uma 
entidade, órgão ou agente do Poder Público para emitir decisões. [...] são as diversas 
modalidades de poder de que se servem os órgãos ou entidades estatais para realizar suas 
funções.” 
- A competência na federação é repartida pela própria CF. 
 
2 - PRINCÍPIO DA PREDOMINÂNCIA DO INTERESSE 
- O princípio da predominância do interesse é observado para a distribuição de 
competências. Tal princípio se manifesta da seguinte maneira: 
Ente federativo Interesse 
União Geral 
Estados-membros Regional 
Municípios Local 
22 
 
Distrito Federal Regional + Local
5
 
 
- Diante de tal princípio, estabelecem-se quatro pontos básicos: 
 
A – Reserva de campos específicos de competência administrativa e legislativa: 
Ente federativo Campo 
União Poderes enumerados (arts. 21 e 22) 
Estados-membros Poderes Remanescentes (art. 25, § 1º) 
Municípios Poderes enumerados (art. 30) 
Distrito Federal Poderes dos Estados + Municípios (art. 32, § 
1º) 
 
B – Possibilidade de delegação => segundo o art. 22, par. ún., CF, por meio de Lei 
complementar federal a União poderá delegar matérias de sua competência privativa aos 
Estados, possibilitando que estes legislem sobre o assunto delegado.. 
 
C – Áreas comuns de atuação administrativa paralela => art. 23. 
 
D – Áreas de atuação legislativa concorrente => art. 24. 
 
 
3 – REPARTIÇÃO EM MATÉRIA ADMINISTRATIVA 
 
 
 
 
 
Competência 
Administrativa 
 
 
 
Exclusiva 
 
Poderes Enumerados 
 
 
União (art. 21) 
Municípios (art. 30) 
 
Poderes Reservados 
 
Estados (art. 25, § 1º) 
 
Comum 
 
Cumulativa ou 
Paralela 
 
União/Estados/ 
DF/Municípios (art. 23) 
 
A) Competências administrativas exclusivas 
1 – Competências administrativas da União (poderes enumerados) => art. 21. 
 
2 - Competências administrativas dos Estados-membros (poderes reservados) 
 Aos Estados cabe a competência remanescente, ou seja, o que não for da União (art. 
21), o que não for dos municípios (art. 30) e o que não for de competência comum 
(art. 23), é competência reservada dos Estados. 
 Dessa maneira, defere-se ao Estado maior autonomia, pois a competência da União é 
numerus clausus e a dos Estados é aberta, excetuando-se assim, apenas o 
constitucionalmente previsto (lista rígida). Tal preceito é adotado pela Constituição 
estadunidense e também foi adotado em todas as CFs brasileiras, com a intenção de 
propiciar maior autonomia e controle administrativo ao Governo Estadual. 
 
3 - Competências administrativas dos Municípios (poderes enumerados) 
 Art. 30. 
 
5
 Com a exceção da organização do Judiciário, MP e Defensoria Pública (art. 22, XVII). 
23 
 
 Soma-se às tais competências constitucionalmente deferidas a regra geral do interesse 
local. 
 
4 – Competências administrativas do Distrito Federal 
 32, § 1º => competências estaduais + competências municipais. 
 
B) Competência administrativa comum => art. 23 
 
 
4 – REPARTIÇÃO EM MATÉRIA LEGISLATIVA 
 
1 – Competência privativa da União 
 Art. 22 
 Fica claro que a União tem supremacia em relação aos demais entes da federação nos 
assuntos legislativos. Trata-se de uma necessidade teórica e prática para preservação 
da federação. Isto confere ainda hierarquia superior das leis federais sobre as 
estaduais e municipais 
 
1.2 – Delegação de competência da União para os Estados 
- A União, conforme art. 22, par. ún., pode delegar assuntos legislativos privativos de sua 
competência aos Estados. Para tanto precisa respeitar três requisitos: 
a. Requisito formal: a delegação deve acontecer via lei complementar (votada por 
maioria absoluta no Congresso Nacional); 
b. Requisito material: somente pode ser delegado um ponto específico, assim a lei 
complementar que delega a competência não pode ter caráter geral e sim particular, 
ou seja, deve haver identificação de matérias específicas. 
c. Requisito implícito: o art. 19, III, veda a possibilidade de favorecimentos entre os 
entes federativos. Por assim ser, a União, quando realizar delegação de competência 
legislativa, deve fazer para todos os Estados-membros, sem distinções, sob pena de 
ferir o princípio da igualdade. 
 
2 – Competência concorrente entre União, Estados e DF 
 Art. 24. 
 A doutrina divide a competência concorrente em cumulativa (não há limites 
entre os entes – todos legislam livremente sobre as questões concorrentes) e 
não cumulativa ou vertical (há reserva de um nível superior de competência à 
União, que fixa os princípios e normas gerais, deixando-se aos Estados-
membros a complementação). 
 A CF brasileira adotou a competência concorrente não-cumulativa ou vertical, 
de forma que a competência da União está limitada ao estabelecimento de 
normas gerais para as previsões do art. 24, devendo os Estados e DF 
especificá-las, através de suas respectivas leis às necessidades regionais. É a 
chamada competência suplementar (art. 24, § 2º). 
 Dessa maneira, reduzem-se as incompatibilidades entres as legislações 
regionais e nacional. 
 As matérias previstas no art. 24 não poderão ser delegadas aos demais entes, 
bem como o rol é taxativo. 
 Havendo inércia por parte da União na edição da lei sobre as matérias do art. 
24, terão os Estados e DF a competência supletiva, para poder editar 
livremente a lei necessária. 
24 
 
 A superveniência de lei federal sobre assuntos do art. 24 suspende a eficácia 
das leis regionais no que forem contrárias, prevalecendo a hierarquia da 
legislação federal. 
 
3 – Competência dos Estados-membros 
 
3.1 – Competência remanescente ou reservada 
 Cabe ao Estado legislar sobre o que não lhe é vedado. 
 São vedações implícitas: art. 22 (União) e 30 (municípios). 
 São vedações explícitas: a necessidade de observação aos princípios sensíveis 
(quando desrespeitados, podem acarretarem intervenção federal - art. 34, VII), 
estabelecidos (são determinadas normas espalhadas pelo texto da CF, que organizam 
a federação e estabelecem preceitos centrais de observância obrigatória - Ex: arts. 23; 
24; 27; 28, etc.) e federais extensíveis (normas centrais comuns à União, Estados, DF 
e municípios - Ex: art. 1º, I a V; art. 3º , I a IV, etc). 
 Excepcionalmente a CF enumerou algumas competências para os Estados: art. 18, § 
4º; 25, § 2º e 3º. 
 
3.2 – Competência delegada pela União => art. 22. 
 
3.3 – Competência concorrente suplementar ou supletiva => art. 24. 
 
3.4 - O caso dos transportes 
- À União é deferida a competência exclusiva sobre a legislação sobre comércio 
internacional e interestadual, trânsito e transportes (art. 22, VIII e XI). 
- Por sua vez, o art. 21, XII, “e”, confere à União possibilidade de explorar os serviços de 
transporte rodoviário interestadual e internacional. 
- Nessa sede, o art. 30, V, defere aos municípios a exploração dos serviços de transporte 
coletivo local, ou seja, dentro do município. 
- Conseqüentemente, caberá à União organizar a política nacional de transportes, ao 
município as regras de interesse local de transportes coletivos. Assim, por previsão do art. 
25, § 1º, aos Estados caberá a edição de normas de trânsito e transporte intermunicipal 
(competência remanescente). 
 
4 – Competência exclusiva e suplementar do Município 
 
4.1 - Competência genérica em virtude da predominância do interesse local 
 Art. 30, I; 
 O interesse local muitas vezes pode ser concomitante ao interesse regional e 
nacional. Assim, devem ser analisadas caso a caso as situações de legislação 
conflitante, prevalecendo o princípio da predominância do interesse. 
 Exemplos: 
o polícia das edificações 
o coleta de lixo 
o ordenação de uso do solo urbano 
o horário de funcionamento do comércio local 
o Nota: O STF e STJ já decidiram que o horário de funcionamento dos bancos é 
de competência da União. 
 
4.2 - Competência para estabelecimento de Plano Diretor 
- Cada município pode estabelecer sua política de desenvolvimento urbano, conforme 
dispuser a lei local => Art. 182 e § 1º. 
25 
 
- Competência municipal para determinar o cumprimento da função social da propriedade 
imobiliária => art. 182, §§ 2º e 4º. 
 
4.3 - Competências enumeradas 
 Art. 30, III a IX 
 Art. 144, § 8º 
 
4.4 - Competência suplementar 
 Art. 30, II. 
 Contudo, a competência suplementar do município estará sempre sujeita ao princípio 
do interesse local. 
 
5 – Competência reservada do Distrito Federal 
 Art. 32, § 1º. 
 Cabe então ao DF as competências de Estado e município cumuladas, ressalvado o 
disposto no art. 22, XVII. 
 Assim sendo, compete ao DF: 
o Editar sua própria lei orgânica (art. 32, caput). 
o A competência remanescente dos Estados-membros (art. 25, § 1º). 
o A competência que pode ser delegada pela União (art. 22, par. ún.). 
o A competência concorrente-suplementar dos Estados-membros (art. 24, §§ 2º 
e 3º). 
o A competência enumerada do município (art. 30, I, II a IX). 
o A competência suplementar do município (art. 30, II). 
 
26 
 
CAPÍTULO V 
ORGANIZAÇÃO DOS PODERES 
 
I – INTRODUÇÃO 
 
- A teoria da separação de poderes tornou-se matéria constitucional por influência de 
Montesquieu, com intuito de assegurar a liberdade dos indivíduos. O Espírito das Leis, em 
seu Livro XI, capítulo VI, retrata que se os poderes (legislativo, executivo e judiciário) se 
concentrarem nas mãos de um mesmo organismo ou pessoa, não haverá liberdade para os 
cidadãos, uma vez que o governante poderá fazer leis tirânicas, executando-as sem maiores 
problemas. 
- A teoria da separação dos poderes, preventiva de governos absolutos, com raízes bem 
lançadas no século XVIII
6
 teve o reforço, no século XIX, da idéia de que poderes separados 
e especializados trariam maior eficiência ao Estado. 
 
 
II - O SISTEMA NO BRASIL 
 
1 - Introdução 
 
- Segundo explicita Alexandre de Moraes, a CF brasileira previu a tripartição para evitar 
abusos e desrespeitos aos direitos fundamentais do homem. Temos assim o Executivo, 
Legislativo e Judiciário. 
- Previu ainda, além do executivo, legislativo e do judiciário, a figura da Instituição do 
Ministério Público, que é independente dos demais poderes. 
- O Ministério Público, segundo preceitua o artigo 127, da Carta, “é instituição permanente, 
essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do 
regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”. 
- Com a criação do MP, preserva-se a inércia do Judiciário, pois o MP é atuante o Judiciário 
não, depende de impulso dos interessados. Se o Judiciário se movimentasse buscando 
preservar ou garantir direitos, deixaria de ser parcial. 
- No Brasil a separação de poderes é cláusula pétrea, não podendo ser abolida (art. 60, § 4º, 
III). 
 
2 – Funções estatais, imunidades e garantias em face do princípio da igualdade. 
 
- Para que um sistema de governo composto por uma pluralidade de órgãos funcione 
corretamente, é necessário que o relacionamento entre os órgãos seja pautado por normas de 
lealdade constitucional (os órgãos devem cooperar na medida necessária para realizar os 
objetivos constitucionais e evitar ao máximo atritos + os titulares dos poderes devem 
respeitar-se mutuamente). 
- Para tanto, são criadas imunidades e garantias para os membros do Legislativo, Executivo, 
Judiciário e MP. As imunidades e garantias criadas pela CF são decorrentes do princípio da 
igualdade: garantir tratamento isonômico entre os membros dos Poderes e do MP. Pode 
contudo, haver diferenciações entre tais poderes, desde que sejam necessárias ao 
desenvolvimento de suas atividades (tratar desigualmente aos desiguais), criando-se assim 
para cada uma das divisões garantias e imunidades próprias, desde que justificadas no pleno 
funcionamento do órgão. Garante-se assim o célebre sistema de freios e contrapesos (um 
poder tem lastro para resistir às influências negativas dos outros, bem como coibir os 
 
6
 Época em que se buscava um liberalismo (redução do intervencionismo estatal nas atividades particulares). 
27 
 
exageros dos demais). Isto tudo garante a perpetuidade da separação de poderes e, 
conseqüentemente, o regime democrático (evita-se autoritarismos de um só poder). 
 
28 
 
CAPÍTULO VI 
PODER LEGISLATIVO 
 
 
1 – FUNÇÕES 
 
- A CF, ao repartir os poderes, deu a cada um deles funções específicas e predominantes (art. 
2º). Assim, os poderes têm funções típicas e atípicas. 
- As funções típicas do Poder Legislativo são legislar e fiscalizar, tendo ambas a mesma 
importância. O Congresso Nacional deve editar as normas jurídicas (legislar) bem como 
fiscalizar a área, contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial do Poder 
Executivo (art. 70). 
- Funções atípicas: administrar e julgar. É o próprio Congresso quem determina sua 
administração interna, ditando as regras sobre sua operacionabilidade interna, cargos, 
promoções. A atividade julgadora do Congresso ocorre, por exemplo, quando julga o 
Presidente da República por crime de responsabilidade. 
 
2 – CONGRESSO NACIONAL 
 
- O Poder Legislativo, no âmbito federal, é bicameral e exercido pelo Congresso Nacional 
que se compõe da Câmara dos Deputados (representantes do povo) e do Senado Federal 
(representantes dos entes federativos: Estados e DF) – art. 44. 
- No âmbito dos Estados e Municípios é consagrado o unicameralismo (Assembléia dos 
Deputados e Câmara dos Vereadores respectivamente). 
- O Congressose reunirá anualmente na Capital Federal de 02 de fevereiro até 17 de junho e 
de 1º de agosto até 22 de dezembro de cada ano (art. 57). 
- Contudo, o art. 57, § 6º prevê a convocação extraordinária. Nessa reunião extraordinária o 
Congresso deliberará sobre os assuntos que motivaram a convocação, incluídos também a 
análise das medidas provisórias em vigor no período de sua convocação. 
- O órgão administrativo de direção do Congresso Nacional é a Mesa. A Mesa será presidida 
pelo Presidente do Senado Federal, e os demais cargos serão exercidos, alternadamente, 
pelos ocupantes de cargos semelhantes na Câmara e no Senado, conforme dispuserem seus 
regimentos internos. 
- As mesas da Câmara e do Senado serão eleitas por e com seus membros, para mandato de 
dois anos, sem possibilidade de reeleição para o mesmo cargo. 
- Atribuições do Congresso Nacional: 
 Com participação do Poder Executivo, por meio de sanção presidencial: art. 
48. 
 Por meio de decreto legislativo (competências exclusivas): art. 49. 
 
 
3 – CÂMARA DOS DEPUTADOS 
 
- São os representantes do povo (art. 12), eleitos pelo sistema de representação proporcional 
ao número de eleitores de cada Estado ou do DF, para um mandato de quatro anos. 
- Lei complementar n. 79/1993 dispõe: máximo de 513 deputados (mínimo oito por Estado). 
Quatro deputados por Território. O Estado mais populoso será representado por 70 
deputados. 
- Há, contudo, ajustes que destoam a proporcionalidade (máximo 70 e mínimo de oito 
deputados por Estado), desconstruindo o princípio da igualdade do voto do art. 14, caput (um 
homem um voto). Adotou-se, portanto, o método do quociente eleitoral. 
- Competências privativas da Câmara dos Deputados – art. 51. 
29 
 
 
4 – SENADO FEDERAL 
 
- São os representantes dos entes federativos (Estados e DF), garantindo, dada sua igualdade 
em número, da isonomia de opiniões entre os entes. Assim, cada Estado ou o DF tem igual 
número de representantes, elegendo três Senadores cada (art. 46, § 1º). 
- O Senado Federal apresenta representação federativa (não importa o número de habitantes). 
- Os representantes do Senado são eleitos pelo sistema do princípio majoritário (mais 
votados em cada Estado ou DF). Atualmente com o total de 81 Senadores. 
- Cada Estado e o DF elegerão três Senadores com mandato de oito anos (art. 46, § 1º). Os 
representantes serão renovados de quatro em quatro anos, de forma alternada (art. 46, § 2º). 
- As competências exclusivas do Senado estão dispostas no art. 52. 
 
 
5 - FUNÇÕES TÍPICAS DO PODER LEGISLATIVO 
 
5.1 – Fiscalização: Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) e Tribunal de Contas da 
União. 
 
- Classificação: 
I. Controle político-administrativo: fiscalização dos atos do Poder Executivo – análise da 
gestão da coisa pública por meio de CPIs (art. 58, § 3º). A CPI pode ser prorrogada, 
mas deve ter fim até o término da legislatura de seus membros. Pode haver CPI em 
conjunto (Congresso) ou independente (somente Senado ou somente Câmara). 
II. Controle financeiro orçamentário: arts. 70 a 75 = Tribunal de Contas da União. 
 
I – Comissão Parlamentar de Inquérito 
 
- Dada a falta de precisão do texto constitucional no § 3º, do art. 58 (por exemplo, fala em 
poderes de investigação próprios da autoridade judicial – a autoridade judicial no Brasil não 
tem poderes de investigação, quem investiga são as Polícias e o MP), é preciso estabelecer 
melhor o âmbito das atividades das CPIs. 
- As CPIs devem respeitar os limites constitucionais e buscar apenas os objetivos 
determinados na sua criação (podendo investigar situações paralelas desde que úteis ao 
objetivo final), podendo realizar a mesma atividade de busca pela provas do juízes no âmbito 
penal = poderes instrutórios. Precisam justificar seus atos e jamais agir com arbitrariedade. 
Assim, os poderes de investigação das Comissões Parlamentares correspondem: 
 Possibilidade de quebra de sigilo bancário. 
 Oitiva de testemunhas, inclusive com a possibilidade de condução coercitiva. 
 Oitiva de investigados ou indiciados, preservando-se o direito ao silêncio (ninguém 
será obrigado a produzir prova contra si mesmo). 
 Realização de perícias e requisição de documentos. 
 Determinação de buscas e apreensões: podem determinar às polícias a realização de 
buscas de elementos probatórios. 
 
- Contudo, por não serem órgãos judiciais, as CPIs não poderão: 
 Decretar quaisquer hipóteses de prisão, salvo em flagrante. 
 Determinar quaisquer medidas cautelares, como indisponibilidade de bens, arrestos, 
seqüestros, hipoteca judiciária, proibição de ausentar-se da Comarca ou do 
Município. 
 Proibir ou restringir a assistência judiciária aos investigados. 
 Determinar invasão de domicílio e interceptação telefônica. 
30 
 
 
- Os abusos praticados pelas CPIs são controlados pelo STF. 
 
II – Tribunal de Contas 
 
- É órgão auxiliar do Poder Legislativo, embora a ele não subordinado, que pratica atos de 
natureza administrativa com intuito fiscalizatório. 
- O Tribunal de Contas da União tem sede no DF e terá as funções descritas no art. 71. 
- Quando o TCU rejeita as contas apresentadas pelo Chefe do Executivo, caberá apresentar 
parecer ao Congresso Nacional, para que este realize o julgamento das contas (art. 49, IX). 
- Composição do TCU – artigo 73. 
 
 
6 – PROCESSO LEGISLATIVO 
 
A - Noções Gerais 
 
- Conceito: mecanismo pelo qual os representantes eleitos pelo povo elaboram as normas a 
serem aplicadas no território abrangido. 
- O processo legislativo no Brasil está previsto na CF. O descumprimento pelo Poder 
Legislativo do processo previsto torna a lei editada inconstitucional. 
- A CF, no artigo 59, prevê quais as espécies legislativas: 
I - emendas à Constituição; 
II - leis complementares; 
III - leis ordinárias; 
IV - leis delegadas; 
V - medidas provisórias; 
VI - decretos legislativos; 
VII - resoluções. 
 
Obs: o termo a “lei”, como referido no artigo 5, II, da CF, refere-se à todas as espécies 
previstas pelo artigo 59, ou seja, a todo norma prevista constitucionalmente para criação de 
regras que estabelecem permissões, obrigações ou proibições. 
 
- Cabe saber três importantes conceitos sobre o processo legislativo: 
 Desconstitucionalização: é nome técnico que se dá à manutenção em vigor, perante 
uma nova ordem jurídica, da Constituição anterior, que perderá sua hierarquia 
constitucional, passando a operar como legislação comum. Não há esse instituto no 
Direito brasileiro. 
o Com a edição de uma nova constituição as antigas leis permanecem válidas, 
desde que compatíveis com o novo ordenamento. 
 Recepção: é o acolhimento que uma nova Constituição posta em vigor dá às leis e 
atos normativos editados sob o manto da Constituição anterior. São preservadas todas 
as normas legais antigas e compatíveis com a nova sistemática constitucional. 
 Repristinação: fenômeno que ocorre quando uma norma revogada por lei posterior, 
tem sua validade expressada por legislação ainda mais recente, ou por legislação que 
revogue a norma revogadora. No Brasil não há esta figura no Direito Constitucional, 
ou seja, o que uma CF revoga não retorna mais ao mundo jurídico. 
o Para legislação infra-constitucional há a possibilidade prevista no art. 2, § 3º 
da LICC: “Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por 
ter a lei revogadora perdido a vigência.” 
 
31 
 
B - Processos Legislativos 
 
- Os processos legislativos podem se classificar: 
 Em relação às formas de organização política (depende da forma de organização 
política): 
o Autocrático: é expressão do próprio governo, que fundamenta em si mesmo a 
competênciapara editar leis. Em outras palavras, não há poder legislativo ou 
participação popular na edição das normas jurídicas. 
o Direto: há discussão e votação direta das leis pelo próprio povo. 
o Semidireto: as leis são editadas pelo legislativo e referendadas pelos cidadãos. 
o Indireto ou representativo: o mandante é o povo, que escolhe seus 
mandatários (parlamentares) que receberão poderes para decidir sobre 
assuntos definidos constitucionalmente. 
 Em relação à seqüência das fases procedimentais: 
o Processo comum ou ordinário: se destina à elaboração das leis ordinárias 
(normalmente é mais extenso). 
o Processo sumário: há existência de prazo limite para que o Congresso 
delibere sobre determinado assunto. 
o Processo especial: serve para a elaboração de emendas constitucionais, leis 
complementares, leis delegadas, medidas provisórias, decretos-legislativos, 
resoluções e leis financeiras (lei de plano plurianual, lei de diretrizes 
orçamentárias, lei do orçamento). 
 
 
I - PROCESSO LEGISLATIVO ORDINÁRIO E COMPLEMENTAR 
 
A – Introdução 
- A diferença no processo legislativo das leis ordinárias e o processo das leis 
complementares está apenas no quorum para aprovação: 
 Lei ordinária: maioria relativa 
 Lei complementar: maioria absoluta (art. 69) 
- Dessa maneira, o processo legislativo para ambas é o mesmo. Portanto, realizaremos o 
estudo de uma só vez. 
- Por sua vez, as leis complementares tem objeto diferente das leis ordinárias: só são editadas 
quando a CF expressamente as prevê, ou seja, complementam o texto constitucional. 
 
B - Fases do processo legislativo 
- Para alguns autores há apenas três fases para o processo legislativo: introdutória, 
constitutiva e complementar (entre eles Alexandre de Moraes). 
- Contudo, outros autores, as fases são outras. Para José Afonso da Silva, são cinco fases: 
introdutória ou da iniciativa, de exame dos projetos nas Comissões permanentes, das 
discussões do projeto em plenário, decisória e revisória. 
- Michel Temer, prefere entender o processo legislativo em seis fases: iniciativa, discussão, 
votação, sanção ou veto, promulgação e publicação. Adotaremos esta forma de divisão, pois, 
dado o número maior de fases, nos parece mais simples para entendermos todo o processo. 
 
 
1 - INICIATIVA OU FASE INTRODUTÓRIA 
 
- Iniciativa é a faculdade constitucionalmente deferida a alguém ou a algum órgão para 
apresentar projetos de lei ao Congresso. 
- A iniciativa para as leis complementares e ordinárias está no art. 61. 
32 
 
- A iniciativa então pode ser: 
 Parlamentar: deferida aos Deputados Federais e aos Senadores da República. 
 Extra-parlamentar: conferida ao Chefe do Executivo, aos Tribunais Superiores, ao 
Ministério Público e aos cidadãos (iniciativa popular). 
 Concorrente: pertence a vários legitimados de uma só vez (Ex: parlamentares e Pres. 
República). 
 Exclusiva: pertence a determinado cargo ou órgão (ex: art. 61, § 1º). 
 
- Conforme a iniciativa para a lei se define qual das casas legislativas analisará 
primeiramente o assunto (Deliberação Principal) e qual atuará como revisora (Deliberação 
Revisional). Ver arts. 61, § 2º e 64, caput. 
 
1.2 - Iniciativa de lei do Poder Judiciário 
- A CF garante privativamente ao STF, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça 
propor ao Poder Legislativo respectivo as leis de sua organização. Exemplos – arts. 93 e 96. 
- A proposta de lei deve sempre respeitar o art. 169 e seu § 1º, bem como o artigo 48, XV. 
 
1.3 – Iniciativa privativa do Presidente da República 
- Artigo 61, § 1
o
, art. 84, XXIII e artigo 165 = competência privativa do Presidente da 
República para iniciativa de lei. 
- As matérias previstas no art. 61, § 1
o
 e 165 da CF são de observância obrigatória. Assim, 
nas Constituições Estaduais deve-se deferir ao Chefe do Executivo local as leis regionais de 
mesmo caráter. No mesmo sentido para os prefeitos municipais. 
- No entanto, para as matérias de ordem tributária, mesmo que a lei repercuta no orçamento, 
a competência para iniciativa da lei é concorrente entre Executivo e Legislativo, por previsão 
da CF. 
- Caso um parlamentar apresente projeto de lei de iniciativa privativa do Presidente da 
República, esse projeto não terá validade, mesmo que com sanção final do próprio 
Presidente. Isto porque, o vício na iniciativa é caso de nulidade, o que macula todo o 
procedimento legislativo. 
 
 
1.3.1 – Emendas pelo legislador no projeto de iniciativa do Presidente 
- Os parlamentares, no exercício da atividade legiferante, podem apresentar emendas ao 
texto proposto pelo Chefe do Executivo, mesmo de iniciativa privativa deste. 
- No entanto, são vedadas emendas que visem o aumento de despesa prevista no projeto do 
Presidente. Tal conclusão segue, por exclusão, da leitura do artigo 166, § 3
o
. Por sua vez, o 
próprio texto dos §§ 3
o
 e 4
o
 do artigo 166 traz a permissão de emendas que alterem lei de 
matéria orçamentária. 
 
1.4 – Iniciativa de lei do Ministério Público 
- Iniciativa prevista na CF – arts. 127, § 2o e 128, § 5o. 
- Pode ainda o MP apresentar sua própria dotação orçamentária – 127, § 3o e 168. 
- Para organização do MP da União, do DF e dos Territórios a competência para a iniciativa 
das leis é concorrente entre o Chefe do Executivo e o Procurador-Geral da República = art. 
61, II, d + 128, § 5
o
. 
- Contudo, para a criação de cargos, mesmo no MP da União, DF e Territórios, a iniciativa é 
privativa do Chefe do MP = art. 127, § 2
o
. 
 
1.5 – Iniciativa popular de lei 
- Para garantir o exercício da soberania popular (art. 14, III) a CF permitiu a iniciativa 
popular de leis. 
33 
 
- Assim, pode a população apresentar projeto de lei para Câmara dos Deputados. 
- Requisitos = art. 61, § 2
o
. 
- As Constituições Estaduais também devem permitir a iniciativa popular – art. 27, § 4o, CF. 
Nesse sentido, a CE de SP admite a possibilidade de sua alteração por proposta de cidadãos 
mediante iniciativa de projeto assinada por 1% de seus eleitores. Por sua vez, a Lei Orgânica 
Municipal de Araraquara exige projeto assinado por pelo menos 5% dos eleitores do 
município. 
 
1.6 – Iniciativa conjunta para fixação de subsídios dos Ministros do STF 
- Os subsídios dos Ministros do STF são o teto salarial no Brasil – art. 37, XI. 
- A definição dos subsídios dos Ministros do STF deve ser realizada sempre por lei ordinária 
de iniciativa concorrente dos Presidentes da República, do Senado Federal, da Câmara dos 
Deputados e do STF. 
 
 
 
2 – DISCUSSÃO 
 
- Apresentado o projeto de lei, este deve seguir para as comissões da Casa em que foi 
apresentado. 
- As Comissões estão previstas pelo art. 58, sendo permanentes e temporárias (especiais: 
objetivo extraordinário, que quando cumprido faz desaparecer a Comissão - CPI, por 
exemplo). 
- As Comissões que tratam do processo legislativo são permanentes recebendo, na Câmara 
dos Deputados, o nome de Comissão de Constituição, Justiça e Redação; enquanto no 
Senado Federal recebe o nome de Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. 
- Há projetos que são avaliados por mais de uma comissão, como por exemplo nas 
comissões temáticas ou reunidas, em que as propostas são analisadas em conteúdo e mérito. 
Nelas é avaliado se o projeto é realmente necessário, se seu valor é efetivo e se é realmente 
exeqüível. Pontos como viabilidade técnica e econômica, equilíbrio ou vantagens custo-
benefício também são analisados, seja por comissão específica ou nas comissões reunidas, 
de acordo com cada caso. 
- O papel das comissões é analisar os aspectos formal e material do projeto de lei, antes que 
vá para votação em plenário:

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