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Anotações de Questão social

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AULA 1
QUESTÃO SOCIAL, ORIGEM E DETERMINANTES. HISTORICIDADE: ORIGEM E NATUREZA DO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA
A partir deste texto introdutório, você será capaz de entender melhor os aspectos relevantes do surgimento da chamada questão social como fenômeno do processo de industrialização, oriundo no século XIX. Isso permitirá imprimir historicidade ao referido conceito, observando-se seus nexos causais, relacionados às formas de produção e reprodução sociais capitalistas, com o seu metabolismo incessante.
Uma das causas mais profundas da repulsa que Marx sentia pelo capitalismo estava justamente em sua convicção de que o modo de produção capitalista não só introduz uma grave alienação na relação entre sujeito trabalhador e o fruto de seu trabalho, como cria um terrível estranhamento na relação dos homens uns com outros, que os torna extremamente inseguros, hipercompetitivos e solapa as bases da solidariedade humana. (KONDER, 2006, p.134).
Entende-se que o caráter teleológico (que considera a finalidade como princípio explicativo na organização) está presente na ação dos homens e não no desenvolvimento da história.
A história não é determinada previamente, mas construída por homens que nascem sob condições de fato já estabelecidas pelas gerações anteriores.
A existência dessas condições, todavia, não impede os homens de alterarem o rumo da história, mas apenas demonstra sobre que bases irão atuar.
O homem, por ser o único animal que fabrica os seus instrumentos de trabalho, alarga as suas potencialidades e pode realizar feitos que seriam inviáveis sem esses instrumentos.
Tal capacidade estabelece firme distinção entre o trabalho humano e aquele desenvolvido por outros animais, já que o ato de planejar a execução de uma atividade – o próprio trabalho de criar um instrumento ou a transformação de uma matéria em outro objeto – exige do homem uma prefiguração (teleologia), antes em sua consciência, do que irá executar para, então, em momento posterior, dar curso a uma ação e realizar o que fora preconcebido.
Os animais jamais serão capazes de alterar conscientemente o processo de construção de suas atividades.
A abelha comparada ao arquiteto, por Marx (2005), no ato de construção da colmeia, de modo algum conseguirá igualar-se ao arquiteto por melhor que seja a execução de seu trabalho.
A superioridade do arquiteto – ainda que muito mal-formado e com projetos de qualidade estética questionáveis, por exemplo, em relação à abelha, é indiscutível porque para ele, o projeto é um ato consciente enquanto a execução da colmeia para o inseto é um ato biológico, muitas vezes condicionador da própria vida; um imperativo biológico que se não for realizado, pode fazer a vida da abelha cessar.
Assim, a concepção de trabalho se diferencia e não se confunde com a de postos de trabalho - que é voltado para o capital, emprego - porque o trabalho é criação, é motor de civilização e fonte de realização das potencialidades da natureza social do homem que, ao criar o trabalho, é recriado e modificado pela atividade a que deu vida.
É na luta contra a desumanização do trabalho e do trabalhador, que a obra de Marx deve ser entendida. No livro “O Capital”, um de seus esforços foi o de demonstrar que a metamorfose das relações sociais em relações entre coisas acabou ocultando ligações reais existentes entre as pessoas. Sua dedicação em fazer com que as pessoas ativas se tornassem visíveis garantiu-lhe a atualidade da obra
Para Netto e Braz (2006), é a partir do trabalho que a humanidade se constituiu e se desenvolveu como tal, emergindo o processo histórico pelo qual surgiu o ser desses homens, o ser social como uma totalidade organizada, que expressa o processo de produção e reprodução da dinâmica da sociedade burguesa
Essa contradição fundamental da sociedade capitalista entre o trabalho coletivo e a apropriação privada da atividade, das condições e frutos do trabalho está na origem do fato de que o desenvolvimento nessa sociedade resulta, de um lado, em uma enorme possibilidade de o homem ter acesso à natureza, à cultura, à ciência, ou seja, há um desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social. Por outro lado, há um aumento na distância entre a concentração/acumulação de capital e a produção crescente da pauperização e mesmo da miséria, que atinge a maioria da população nos vários países, inclusive naqueles considerados “primeiro mundo”.
Dar conta dessa dinâmica suprarreferida parece ser um dos grandes desafios da atualidade, pois permite dar transparência a valores atinentes ao gênero humano, que se tornam cada vez mais opacos no universo da mercantilização e do culto do individualismo.
Enfim, é preciso decifrar as múltiplas expressões da questão social, sua gênese e as novas características que assume na contemporaneidade, atribuindo transparência às iniciativas voltadas à sua reversão e/ou enfrentamento imediato.
AULA 2
REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE CLASSES SOCIAIS
O assunto “classe social” é um objeto próprio da economia política (e secundariamente da sociologia ou da ciência política). O conceito de classe social em sentido pleno é definido, dentro do discurso de Marx, pelas relações de distribuição que são expressão imediata das relações de produção. Isso significa que, quando Marx se refere às três grandes classes: a dos trabalhadores assalariados, a dos capitalistas e a dos proprietários fundiários, ele não está querendo dizer que existam outras “pequenas camadas” dignas do nome “classe”.
A concepção de organização social de Karl Marx e Friedrich Engels baseia-se nas relações de produção. Nesse sentido, em toda sociedade, seja pré-capitalista ou capitalista, haverá sempre uma classe dominante, que direta ou indiretamente controla ou influencia o Estado; e uma classe dominada, que reproduz a estrutura social ordenada pela classe dominante e assim perpetua a exploração.Numa sociedade organizada, não basta a constatação da consciência social para a manutenção da ordem, pois a existência social é que determina a consciência. Em outras palavras, os valores, o modo de pensar e de agir em uma sociedade são reflexos das relações entre os homens para conseguir meios de sobreviver.
Assim, as relações de produção entre os homens dependem de suas relações com os meios de produção e, desta forma, elas podem ser de proprietário/não proprietário, capitalista/operário, patrão/empregado. Os homens são diferenciados em classes sociais. Os que detêm a posse dos meios de produção apropriam-se do trabalho daqueles que não têm esses meios, sendo que os últimos vendem a força de trabalho para conseguir sobreviver. A luta de classes nada mais é do que o confronto dessas classes antagônicas.
Embora os romanos já denominassem as "classes" de diferentes grupos de contribuintes de impostos, só na segunda metade do século XVIII, a palavra adquiriu seu significado moderno, tornando-se conceito primordial da sociologia e da ciência política.
Denominam-se classes sociais os grupos econômica e politicamente distintos em que se divide cada sociedade. Sua diferenciação depende, pois, das relações que mantêm dentro do sistema produtivo vigente e de sua respectiva divisão de trabalho.
Do fim do Império Romano até as revoluções burguesas dos séculos XVII e XVIII, o sistema feudal imperou na maior parte da Europa, com rígida divisão em três classes sociais: 
 Nobreza
Clero
Campesinato
Não havia em sua estrutura nada do que os sociólogos viriam a chamar de "mobilidade social", isto é, a possibilidade de que membros de uma classe se deslocassem para outra: a diferença era legitimada pela lei dos homens e pela lei de Deus, determinada pelo nascimento e pela herança familiar,,,,.
Com o desenvolvimento do sistema capitalista e a ascensão da burguesia, politicamente consumada na Inglaterra e na França dos séculos XVII e XVIII, a estratificação social alterou-se, adquirindo uma mobilidade que se consagrará nas constituições parlamentaristas e republicanas
Essa mudança ocorreu no quadro socioeconômico, que se estendeudo início da revolução comercial, em que a burguesia emergiu e se organizou como classe, até a primeira etapa da revolução industrial, em que tiveram origem tanto a classe operária como as classes médias das modernas sociedades industriais.
A diferenciação social só passou a ser objeto de estudos sistemáticos com Thomas Hobbes John Locke Jean-Jacques Rousseau
Inspirados na insurreição burguesa contra a aristocracia monárquica, esses filósofos defenderam, cada um a seu modo, os direitos naturais do homem e o contrato social, mesmo nos casos em que o monarca acumulasse todo o poder, o que Hobbes preconizou em seu Leviathan (1651).
Também os economistas ingleses Adam Smith e David Ricardo, que já usavam a expressão "classe trabalhadora", destacaram em suas análises do capitalismo que o conflito entre os fatores de produção (terra, trabalho e capital) acarretaria por si mesmo o antagonismo entre os grupos sociais correspondentes.
Os franceses François Fourier e Pierre Proudhon ocuparam-se igualmente do problema e tentaram resolvê-lo com as soluções ditas utópicas.
Coube, porém, ao marxismo aprofundar o conceito de classe social, embora seus teóricos iniciais, os alemães Karl Marx e Friedrich Engels, não tenham desenvolvido o estudo específico da questão.
Para Marx e Engels, a história demonstra que a determinado estado de desenvolvimento das forças produtivas corresponde um tipo concreto de relações de produção, criadas pelos homens para prover a satisfação de suas necessidades e que envolvem a propriedade, a interação entre exploradores e explorados, e entre classe dominante e classe dominada.
Segundo o marxismo, tais relações não são determinadas pela vontade dos indivíduos, nem por um contrato social - como afirmara Rousseau - mas impostas pelas condições materiais do processo produtivo.
Para Marx, a luta de classes desempenha papel essencial na evolução histórica. A classe capitalista, detentora dos bens de produção, domina a sociedade e apropria-se da força de trabalho da classe operária, autêntica criadora da riqueza.
Como consequência e reflexo dessa dominação econômica, a classe capitalista controla também o estado e a produção dos valores espirituais (ideias, artes, religião) e, nessa perspectiva, o próprio sistema conteria em si o germe de sua destruição, ou seja, tornaria inevitável a rebelião dos trabalhadores e a criação de uma sociedade sem classes, em que desaparece a ideologia, representação do mundo forjada pela classe dominante, de acordo com sua posição e seus interesses vitais.
Para Marx, até o advento da sociedade comunista, a história da humanidade não seria mais do que a história da luta de classes.
Apoiado nesses alicerces da teoria marxista da estratificação social, Lenin mais tarde definiu as classes sociais como os grandes grupos de pessoas que, dentro de uma sociedade, diferenciam-se:
Pelas relações em que se encontram no que se refere aos meios de produção existentes (relações que, em grande parte, são estabelecidas e formalizadas mediante leis);
Pelo papel que desempenham na organização social do trabalho; e,
Consequentemente, pelo modo e proporção segundo os quais desfrutam de parte da riqueza social de que dispõem
AULA 3
A COMPLEXIFICAÇÃO DA QUESTÃO SOCIAL NA SUBJETIVIDADE DA CLASSE TRABALHADORA
A história do Serviço Social está solidamente vinculada à temática da questão social, compreendida aqui enquanto o conjunto de problemas políticos, econômicos, sociais e econômicos advindos do processo de desenvolvimento de produção e conflito entre capital e o trabalho.
O tema da questão social contemporânea tem despertado interesse crescente para compreensão dos processos históricos que desenham e redesenham a pobreza e as desigualdades sociais que se configuram crescentes globalmente e, em particular, no Brasil.
O estudo e debate sobre a complexificação da questão social instrumentaliza o profissional de forma crítica e propositiva na formulação e implementação de políticas sociais de intervenção na realidade social objetivando seu enfrentamento, seja no setor público, privado, em organizações não governamentais ou movimentos sociais.
A história do Serviço Social tem relação intrínseca com a questão social, até poucas décadas tratada, de forma generalizada, como pobreza. Esta, comumente naturalizada, é fruto de um processo político e histórico de conflito entre relações de capital e trabalho.
A questão social  constitui-se substrato do Serviço Social. Questão social entendida como conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista resultante de uma produção social que é cada vez mais coletiva, enquanto a apropriação dos seus frutos, mantém-se privada.  Os assistentes sociais  trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões, na família, na saúde, na assistência, com as crianças, os adolescentes e  os idosos.
Serviço Socia Questão Social
O processo de profissionalização do Serviço Social surge a partir da transição do capitalismo concorrencial para o capitalismo  monopolista (NETTO, 1992), através do qual o assistente social passa a constituir-se como um agente mediador da progressiva intervenção do Estado nos processos de regulação social (NETTO, 1992).
As particularidades desse processo no Brasil ocorrem a partir do significado que o serviço social assume como um dos recursos mobilizados pelo Estado e pelo empresariado, com o suporte da Igreja Católica, quando a intensidade e manifestações das questões sociais adquirem expressão política  (CEAD, 1999).
Durante o período Vargas, o Estado passa a  se revelar para a sociedade através de um conjunto de leis  e instituições assistenciais, apresentadas  como “outorga generosa” (WEFFORT, 2006), preocupado com a questão da pobreza no Brasil.
Assim, o  processo de institucionalização do Serviço Social, como profissão reconhecida na divisão social do trabalho, está vinculado  à criação das grandes instituições assistenciais, estatais, especialmente na década de 40. O Serviço Social deixa de ser um mecanismo de distribuição de caridade privada das classes dominantes para se transformar  em uma das engrenagens da execução das políticas sociais do estado e setores empresariais, que se tornam seus maiores empregadores.
Conforme Iamamoto (2004), a questão social passa a ser tratada através da articulação entre repressão e assistência. Observa-se  um esvaziamento dos canais de participação dos trabalhadores, há uma intensificação dos programas  de cunho assistencial. As medidas assistenciais ingressam como um dos componentes das relações autoritárias imprimidas à sociedade, passando a articular-se às estratégias das relações do estado com as classes trabalhadoras, como uma das áreas instrumentais do intervencionismo crescente do Estado na sociedade civil. O padrão intervencionista do Estado Brasileiro, que surge no pós 30, se intensifica com a ideologia da integração e do desenvolvimento com a instituição do AI - 5.
Através da manipulação política é oferecido à sociedade o modelo do “milagre econômico”, que só é possível mediante a repressão das tensões sociais que permite o estabelecimento de medidas importantes nas transformações das relações do trabalho, tais como: a nova política de arrocho salarial e a substituição do sistema de estabilidade no emprego pela Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), sendo abolido, na prática, o direito de greve (SILVA E SILVA, 2007). Nesse contexto, à política social se atribuiu a função de atenuar as sequelas do capitalismo monopolista marcado pela forte concentração de renda e super exploração do trabalho.
Hoje, com a subalternização do trabalho, a lógica do mercado, observamos que à questão social se somam novas expressões, entre as quais destacamos a vulnerabilidade da inserção no mundo do trabalho, a exploração dos trabalhadores, aumento do desemprego; a falta de moradias; violência urbana e outra tantas questões presentes cotidianamente no espaços sócio-ocupacionais.
O Serviço Social será condicionado ao processo contraditórioem que se inserem as relações sociais, na medida em que os profissionais recebem um mandato das classes dominantes para atuarem junto à classe de trabalhadores. Isto é, as primeiras contratam e remuneram e a segunda recebe os serviços, reforçando a separação entre o polo contratante e o polo demandante dos serviços (SILVA E SILVA, 2007).
O assistente social, afirma Iamamoto (1998), se vê diante da especialização do trabalho coletivo, novas demandas e competências e desafios ao lado de velhas práticas que ainda persistem na contemporaneidade. Em meio a esse novo cenário, o assistente social tem se confrontado com  as novas demandas postas pela pobreza, desigualdades sociais e vulnerabilidades decorrentes destas.  O assistente social constitui-se naquele profissional que tem como um dos  maiores desafios desenvolver sua capacidade de decifrar a  realidade e construir propostas de trabalho criativas  e capazes de preservar e efetivar direitos, a partir das demandas emergentes no cotidiano (IAMAMOTO, 1998).
Assim, apreender as possibilidades de atuação do Serviço Social num contexto marcado pela exclusão e pobreza nos remete à necessidade de propostas alternativas para construção de  políticas sociais que garantam os serviços socioassistenciais.
AULA 4
A QUESTÃO SOCIAL NO BRASIL E A PROFISSIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL
A partir deste texto introdutório, você será capaz de entender melhor que a temática questão social é um dos eixos fundantes das diretrizes curriculares para o curso de graduação de Serviço Social, bem como, a concepção do exercício profissional dos assistentes sociais.
A questão social é para o Serviço Social a base de sua fundação enquanto especialização do trabalho. Conforme Iamamoto (2008, p. 163): 
[...] Os assistentes sociais, por meio da prestação de serviços socioassistenciais, indissociáveis de uma dimensão educativa (ou político-ideológica), realizados nas instituições públicas
e organizações privadas, interferem nas relações sociais cotidianas, no atendimento às variadas expressões da questão social, tais como experimentadas pelos indivíduos sociais no trabalho, na família, na luta pela moradia e pela terra, na saúde, na assistência social pública entre outras dimensões. 
As estratégias para o enfrentamento da questão social têm sido tensionadas por projetos sociais distintos que presidem a estruturação e a implementação das políticas sociais públicas e que convivem em luta no seu interior. Vive-se uma tensão entre a defesa dos direitos sociais e a mercantilização do atendimento às necessidades sociais com claras implicações nas condições e relações de trabalho dos assistentes sociais.
A questão social, seu aparecimento, diz respeito diretamente à generalização do trabalho livre numa sociedade em que a escravidão marca profundamente seu passado recente. Trabalho livre que se generaliza em circunstância histórica nas quais a separação entre homens e meios de produção se dá em grande medida fora dos limites da formação econômico-social brasileira.
A análise da questão social é indissociável das configurações assumidas pelo trabalho e encontra-se necessariamente situada em uma arena de disputas entre projetos societários, informados por distintos interesses de classe, acerca de concepções e propostas para a condução das políticas econômicas e sociais.
A questão social, enquanto parte constitutiva das relações sociais capitalistas, é apreendida como expressão ampliada das desigualdades sociais: o anverso do desenvolvimento das forças produtivas do trabalho social.
Sua produção/reprodução assume perfis e expressões historicamente particulares na cena contemporânea. Requer, no seu enfrentamento, a prevalência das necessidades da coletividade dos trabalhadores, o chamamento à responsabilidade do Estado e a afirmação de políticas sociais de caráter universal, voltadas aos interesses da grande maioria, condensando um processo histórico de lutas pela democratização da economia da política, da cultura na construção da esfera pública.
Considera-se a questão social como indissociável do processo de acumulação e os efeitos que ela produz sobre o conjunto das classes trabalhadoras que se encontra na base da exigência de políticas sociais públicas. Ela é tributária das formas assumidas pelo trabalho e pelo Estado na sociedade burguesa e não um fenômeno recente, típico do trânsito do padrão de acumulação no esgotamento dos 30 anos gloriosos da expansão capitalista.
A questão social expressa, portanto, desigualdades econômicas, políticas e culturais das classes sociais, mediatizadas por disparidades nas relações de gênero, característica étnico-raciais e formações regionais, colocando em causa amplos segmentos da sociedade civil no acesso aos bens da civilização. Dispondo de uma dimensão estrutural, ela atinge visceralmente a vida dos sujeitos numa luta aberta e surda pela cidadania.
As leis sociais surgem em conjunturas históricas determinadas que, a partir do aprofundamento do capitalismo na formação econômico-social, marcam o deslocamento da questão social de um segundo plano da história para progressivamente colocá-la no centro das contradições que atravessam a sociedade.
A questão social é, para o Serviço Social, a base de sua fundação enquanto especialização do trabalho. Segundo Iamamoto:
[...] Os assistentes sociais, por meio da prestação de serviços sócioassistenciais, indissociáveis de uma dimensão educativa (ou político-ideológica), realizados nas instituições públicas e organizações privadas, interferem nas relações sociais cotidianas, no atendimento às variadas expressões da questão social, tais como experimentadas pelos indivíduos sociais no trabalho, na família, na luta pela moradia e pela terra, na saúde, na assistência social pública entre outras dimensões. (2008, p.163).
A análise seminal sobre a profissão de Serviço Social no processo de produção e reprodução das relações sociais apresenta-se como especialização do trabalho coletivo no quadro do desenvolvimento capitalista industrial e da expansão urbana. Esses processos são apreendidos sob o ângulo das classes sociais, da constituição e expansão do proletariado, da burguesia industrial e das modificações verificadas na composição dos grupos e frações de classes que compartilham o poder do Estado em conjunturas históricas determinadas. É quando, no Brasil, afirma-se a hegemonia do capital industrial que emerge sob novas formas a questão social, a qual se torna a base de justificação desse tipo de profissional especializado.
A implantação do Serviço Social se dá no decorrer de um processo histórico. Não se baseará, no entanto, em medidas coercitivas emanadas do Estado.
Surge da iniciativa particular de grupos e frações de classe que se manifestam, principalmente, por intermédio da Igreja Católica. É dentro da visão da Igreja Católica que surgem as primeiras escolas de Serviço Social no Brasil.
Se as leis sociais são, em última instância, resultantes da pressão do proletariado pelo reconhecimento de sua cidadania social, o Serviço Social se origina de uma demanda diametralmente oposta. Sua legitimação diz respeito apenas a grupos e frações restritos das classes dominantes em sua origem e, logo em seguida, ao conjunto das classes.
AULA 5
A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E SUAS IMPLICAÇÕES NA SOCIEDADE
A ordem do capital mundial implicou inúmeras transformações no que diz respeito ao mundo do trabalho. Tais modificações iniciadas nos anos 70 ampliaram-se de tal forma que atingiram não só os países centrais, como também os periféricos. 
As mudanças geradas no modelo de produção no contexto internacional, na ênfase no trabalho e a minimização do Estado-Nação encontraram respaldo na perspectiva política que se traduziu enquanto forma eficaz de maximizar o poder do capital.
Estas alterações, em nível mundial, começaram a se expandir de tal forma, que os países periféricos, com o objetivo de criar competitividade capitalista, assumiram estas mudanças, de modo a corroborar intensa e substancialmente nas mudançasno mundo do trabalho, principalmente no que dizia respeito às relações e condições de trabalho.
As implicações destas questões atingiram diretamente as condições e relações de trabalho do povo brasileiro, desencadeando um retrocesso nos direitos conquistados na década anterior. O cenário emergente revelava enormes contradições nas novas formas de organização do trabalho que, a partir da refuncionalização do Estado Nação, garantia a expansão de uma lógica pautada na flexibilidade, precarização e fragmentação do coletivo.
Aos profissionais coube, neste momento, o desafio de se adaptar a estas alterações, ou melhor, o dilema de vivenciar uma situação de trabalho precário que se intensificava cada vez mais. Os assistentes sociais, de modo particular, também se incluíam nesse processo de precarização do trabalho e de desmonte dos direitos conquistados conforme tem sido mostrado neste texto. Como bem sabemos, ao retomarmos a história da profissão, identificamos o Estado como o grande e tradicional empregador do serviço social. No entanto, nos anos 90, a situação começou a mudar.
Com a retração do Estado, as portas de trabalho no âmbito estatal se fecharam, com a descentralização abriram-se novos espaços de trabalho através das ditas parcerias, que por sua vez, viabilizaram o processo de terceirização no interior das esferas estatais. Eis aí o primeiro desafio posto aos assistentes sociais. Neste caminho, várias oportunidades de trabalho se abriram para estes profissionais que os lançavam numa nova condição profissional. Embora ocorrendo de forma escamoteada através das parcerias, colocava os profissionais em situações e condições de trabalho precárias e, em muitos momentos, até sub-humanas.
A precarização se fazia presente no dia a dia destes assistentes sociais a partir de várias formas, cujas expressões são os salários baixos, a extensa jornada de trabalho, a falta de recursos para o desenvolvimento dos programas, a ausência de uma legislação.
A diversidade de ONGs envolvidas neste processo de terceirização colaborava ainda mais para a insatisfação e imobilismo dos profissionais que, fragmentados, sentiam-se desmotivados no sentido de reivindicar mudanças, sendo esta uma particularidade deste processo de contratação.
O cotidiano de trabalho destes assistentes sociais é, portanto, repleto de desafios a serem enfrentados por estes profissionais: o primeiro se relacionava de forma objetiva com a própria precarização das relações e condições de trabalho; o segundo estava relacionado ao temor generalizado de perda do emprego.
O que parece prevalecer na realidade é o consentimento dos assistentes sociais no sentido de trabalhar sob tais condições por não terem outra opção, a não ser o desemprego. Diante desta nova condição profissional, os assistentes sociais se enquadravam, então, no que Sader (1988) classifica como sujeito autônomo: aquele que não é livre de todas as determinações externas, mas é capaz de reelaborá-las em função daquilo que define como melhor para si.
O que observamos em primeiro lugar é que, já no final dos anos 90 e início dos anos 2000, inicia-se um processo de desgaste na imagem das ONGs no contexto brasileiro, devido ao fato de as mesmas estarem perdendo seus objetivos centrais e se tornando movimentos particularistas que reproduziam a fragmentação no trato parcial da questão social. As ONGs, então consideradas como espaços de lutas, vão paulatinamente perdendo sua dimensão política e se transformando em parceiras do Estado na provisão dos serviços públicos. Ao lado deste processo avaliativo do papel desempenhado pelas ONGs, surge, também, um movimento de luta contra o processo de terceirização.
Na realidade, a questão da terceirização começa a ser questionada e repensada, tornando-se alvo de discussões em nível nacional, o que ganhou amplitude a partir da posse do então presidente Luís Inácio Lula da Silva.
Ao Serviço Social coloca-se, portanto, o desafio da reconstrução de processos de luta, que foram marcantes em sua história e que, hoje, devem ser repensados e reconstruídos mediante a realidade atual, considerando os condicionamentos políticos e econômicos e as contradições inerentes a este momento de transformação, objetivando, assim, impor a necessidade de melhores condições e relações de trabalho.

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