Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
METODOLOGIA DA PESQUISA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – TCC1 Texto compilado do trabalho de: PESSÔA, Vera Lúcia Salazar. Fundamentos de Metodologia Científica para elaboração de trabalhos científicos. Material didático. Universidade Federal de Goiás - Campus de Catalão. Goiás: não publicado, 2007. ROTEIRO BÁSICO PARA ELABORAÇÃO DO TRABALHO CIENTÍFICO 1 Identificação do problema A pesquisa propriamente dita inicia-se com a problematização do tema. O problema consiste em indagações e dificuldades teóricas que necessitam de uma pesquisa para serem respondidas. “Formular o problema implica determinar com precisão o objetivo central da investigação” (BEUREN, 2003, p.52) de forma a torná-lo inconfundível, individualizado, específico e, portanto perfeitamente limitado. Esse processo se dá através da reflexão sobre as leituras, os debates, as experiências acadêmicas e profissionais. Segundo Gil (2002, p. 26-29) algumas regras devem ser observadas para a elaboração de problemas: a) O problema deve ser formulado como pergunta: Esta é a maneira mais fácil de formular um problema, facilita sua identificação por parte de quem consulta o projeto e indica com clareza o direcionamento que será dado à pesquisa, pois a resposta ao problema somente aparecerá após a conclusão da pesquisa; b) O problema deve ser claro e preciso: Um problema, para ser solucionado, precisa ter clareza e precisão. Por exemplo, o problema: “Como funciona a mente?”, não pode ser resolvido, porque não está claro a que se refere. Não se sabe quais aspectos do funcionamento da mente se deseja conhecer. Além de estruturar a pergunta de forma clara, deve-se evitar o uso de termos da linguagem cotidiana por apresentarem ambigüidade; c) O problema deve ser empírico: Os problemas científicos não devem se referir a valores, julgamentos morais e considerações subjetivas. Para ser considerado científico um problema deve envolver variáveis que podem ser tidas como testáveis. Exemplo de um problema com juízo de valores: “a mulher deve realizar estudos universitários?”; d) O problema deve ser suscetível de solução: Além dos atributos acima mencionados, é necessária a presença de dados empíricos para solução do problema. Do contrário será melhor proceder a uma investigação acerca das técnicas de pesquisa necessárias; e) O problema deve ser delimitado a uma dimensão viável: É importante que o pesquisador delimite o problema, pois dentro de uma área de investigação existem inúmeros fatores que conduzem ao problema, e cada um deles poderá dar ensejo a uma pesquisa. A partir da delimitação o pesquisador dará o enfoque ao que realmente lhe interessa. Martins (2000, p. 22) coloca que os problemas científicos devem evitar “problemas de engenharia”, ou seja, questões que buscam respostas ao “como fazer”. Exemplo: Como resolver os problemas das enchentes em São Paulo? → “problema de engenharia”. A seguir são apresentados alguns exemplos de Assunto/tema/problema: 1 o Assunto: Contabilidade de custos o Tema: Métodos de custeio utilizados nas empresas o Problema: Que fatores exerceram mais influência na decisão da escolha dos métodos de custeio implantados em grandes empresas brasileiras? o Assunto: Auditoria o Tema: Auditoria no serviço público o Problema: Qual é o papel do auditor no serviço público? o Assunto: Recursos Humanos o Tema: Perfil ocupacional do trabalhador o Problema: Qual o perfil ocupacional dos trabalhadores em transporte urbano de Uberlândia? o Assunto: Administração de Informação o Tema: Informatização de serviços o Problema: Quais os impactos da informatização dos serviços bancários nos clientes/usuários? o Assunto: Contabilidade de Custos o Tema: Profissional de custos o Problema: Quais os fatores críticos para o sucesso do profissional de custos? 2 Objetivos Os objetivos indicam, de forma clara, quais são os propósitos do estudo e quais os passos serão percorridos para o alcance desses propósitos. Em outras palavras, é o resultado que se pretende alcançar em função da pesquisa. De acordo com a abrangência, os objetivos são classificados em gerais e específicos. • O objetivo geral consiste numa visão global do tema, define, de forma ampla, o que se pretende alcançar com a execução do projeto. Em geral, é constituído de uma frase ou parágrafo. Sugere-se a utilização de verbos no infinitivo para a descrição dos objetivos. • Os objetivos específicos são desdobramentos do objetivo geral em questões específicas, ou seja, são ações intermediárias para alcance do objetivo geral, possibilitando menor risco de fugas por parte do pesquisador. Cada um dos objetivos específicos será uma parte distinta da futura redação do texto a ser produzido. Assim, deve-se levantar os componentes importantes do problema, transformá-los em objetivos específicos, verificar se são suficientes para atender ao que requer o objetivo geral e, finalmente, organizá-los na seqüência lógica do texto a ser construído. Veja alguns exemplos: SEARQ Destacar SEARQ Destacar 2 o Objetivo geral: Conhecer o desempenho apresentado no ensino superior, pelo corpo de docentes dos cursos de Ciências Contábeis, da Universidade Federal de Uberlândia, bem como levantar propostas para eventuais deficiências. o Objetivos específicos: a) Apurar como é realizada e se há deficiências na formação do corpo docente dos cursos da Faculdade de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Uberlândia; b) Apurar o desempenho dos docentes da Faculdade de Ciências Contábeis, classificando-o quanto à qualidade e à eficácia no ensino; c) Identificar propostas viáveis e que possam contribuir para a melhoria da formação dos discentes dos cursos de Ciências Contábeis. 3 Justificativa A justificativa consiste em apresentar as razões pessoais e, principalmente, aquelas baseadas na relevância social e científica da pesquisa, com criatividade e capacidade de convencer sobre a importância do tema. Deve-se apresentar os motivos de ordem teórica e de ordem prática que levaram o pesquisador a estudar tal tema e não outro qualquer. Deve-se, também, destacar o estágio em que se encontra a teoria relativa ao tema; as contribuições teóricas que a pesquisa pode trazer e a importância do tema do ponto de vista geral e para os casos particulares em questão. Por isso, em trabalhos monográficos, particularmente nos relacionados à área contábil, na seção da justificativa regularmente consta a contribuição do estudo à área de conhecimento da investigação, à prática das organizações e à sociedade em geral. (BEUREN, 2003, p. 66). 4 Metodologia A classificação de pesquisas não tem sido um assunto unânime entre os autores de metodologia. No entanto, as classificações mais comuns têm sido aquelas com base nos objetivos, quanto à abordagem do problema e com base nos procedimentos técnicos utilizados. Essas três serão detalhadas a seguir. Além da classificação, propriamente dita, neste tópico serão abordados os instrumentos de coleta de dados: questionário, entrevista e formulário. 4.1 Classificação de pesquisas quanto aos objetivos Com base nos objetivos, as pesquisas são divididas em três grupos: exploratórias, descritivas e explicativas. Portanto, o que vai determinar a classificação em um ou outro grupo serão os objetivos do trabalho monográfico que está sendo realizado. 3 a) Pesquisas exploratórias: • São realizadas quando o tema ainda é pouco conhecido (explorado). Têm o objetivo de proporcionar maior familiaridade com o problema, para torná-lo mais explícito ou levantar hipóteses.Em grande parte dos casos, tais pesquisas envolvem: a) levantamento bibliográfico; b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e c) análise de exemplos que “estimulem a compreensão” (SELLTIZ et al., 1967, p. 63 apud GIL, 2002, p. 41). Geralmente, as pesquisas exploratórias assumem a forma de pesquisa bibliográfica ou estudo de caso. • Na área contábil pode-se ter como exemplo, por ser um assunto pouco explorado, a verificação dos aspectos facilitadores e dificultadores relacionados à profissão contábil no processo de harmonização das normas contábeis no âmbito da Associação de Livre Comércio da América - ALCA. (BEUREN, 2003, p. 80). b) Pesquisas descritivas: • Têm como objetivo principal a descrição das características de determinada população ou fenômeno, estabelecendo relações entre as variáveis. A coleta de dados nesse tipo de pesquisa possui técnicas padronizadas, como o questionário e a observação sistemática. Geralmente assumem a forma de levantamentos. • Como exemplo, pode-se citar a pesquisa feita sobre o perfil do contabilista brasileiro, realizada pelo Conselho Federal de Contabilidade em 1995 na qual identificou-se o sexo dos contabilistas, idade média, situação econômico- financeira, tempo de formação escolar e outros itens que descrevem o profissional de Contabilidade no Brasil. (SILVA, 2003, p. 66). c) Pesquisas explicativas: • Constituem o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade, pois explica a razão, o porquê das coisas. Com base nisso, Gil (2002, p. 42), afirma que “o conhecimento científico está assentado nos resultados oferecidos pelos estudos explicativos”. Com essa afirmativa, não se pode invalidar as pesquisas exploratórias e descritivas, o que, na maioria das vezes, é a etapa prévia para obter explicações científicas. • Um exemplo relacionado à contabilidade poderia ser “a análise do impacto do novo Código Civil brasileiro na responsabilidade dos sócios sobre as obrigações da empresa constituída sob a forma jurídica de Sociedade Anônima.” (BEUREN, 2003, p. 82). A figura 1 ilustra a classificação das pesquisas por objetivos, levando-se em consideração o nível de profundidade do conhecimento de determinada área para escolha adequada. 4 EXPLORATÓRIAS DESCRITIVAS EXPLICATIVAS QUANTO AOS OBJETIVOSQUANTO AOS OBJETIVOS Conhecimento EXPLORATÓRIAS DESCRITIVAS EXPLICATIVAS QUANTO AOS OBJETIVOSQUANTO AOS OBJETIVOS Conhecimento Figura 1 - Classificação de pesquisas quanto aos objetivos 4.2 Classificação de pesquisas quanto à abordagem do problema A segunda classificação se refere à tipologia de pesquisas quanto à abordagem do problema. Nessa perspectiva destacam-se as pesquisas qualitativas e quantitativas. A figura 2 ilustra esta última classificação: Figura 2 - Classificação de pesquisas quanto à abordagem do problema a) Pesquisa qualitativa: • As pesquisas qualitativas são marcadas pela ausência de instrumentos estatísticos na análise do problema. Neste tipo de pesquisa procura-se conhecer a natureza de determinado fenômeno, de forma mais profunda, através da análise da interação de certas variáveis, compreensão e classificação de processos dinâmicos vividos por grupos sociais, bem como o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos. • O uso da abordagem qualitativa é bastante comum na contabilidade, pois, embora se use intensamente números, a contabilidade se enquadra no campo das ciências sociais, ao contrário do que muitos pensam. Assim, como exemplo, pode-se pesquisar sobre a análise dos reflexos da utilização dos demonstrativos contábeis no processo de gestão de uma entidade sem fins lucrativos. b) Pesquisa quantitativa: • Como o próprio nome diz, as pesquisas quantitativas se caracterizam pelo emprego de instrumentos estatísticos, tanto na coleta quanto no tratamento dos dados. Este procedimento perde em termos de profundidade, quando comparado ao anterior, mas ganha em termos de amplitude. Assim, a abordagem quantitativa é frequentemente utilizada em estudos descritivos, que 5 procuram descobrir e classificar a relação entre variáveis e a relação de causalidade entre os fenômenos. • Um exemplo de pesquisa quantitativa em Contabilidade é o estudo sobre os principais controles de ativos e passivos ambientais utilizados pelas empresas brasileiras certificadas pela ISO 14000. 4.3 Classificação de pesquisas quanto aos procedimentos técnicos de coleta e análise de dados Após a classificação quanto aos objetivos, tem-se o momento de delinear a pesquisa, ou seja, planejá-la no que se refere aos procedimentos técnicos de coleta e análise de dados. Entre outros aspectos, o delineamento considera o ambiente em que são coletados os dados e as formas de controle das variáveis. Nesse sentido, Gil (2002, p. 43) classifica as pesquisas em: bibliográfica, documental, experimental, ex-post facto, levantamento, estudo de caso, pesquisa-ação e pesquisa participante. A figura 3 apresenta esta classificação: QUANTO AOS PROCEDIMENTOS TQUANTO AOS PROCEDIMENTOS TÉÉCNICOSCNICOS Fontes de papelFontes de papel BIBLIOGRÁFICA DOCUMENTAL Fontes: pessoasFontes: pessoas EXPERIMENTAL EX-POST FACTO LEVANTAMENTO ESTUDO DE CASO PESQUISA-AÇÃO PESQUISA PARTICIPANTE QUANTO AOS PROCEDIMENTOS TQUANTO AOS PROCEDIMENTOS TÉÉCNICOSCNICOS Fontes de papelFontes de papel BIBLIOGRÁFICA DOCUMENTAL Fontes: pessoasFontes: pessoas EXPERIMENTAL EX-POST FACTO LEVANTAMENTO ESTUDO DE CASO PESQUISA-AÇÃO PESQUISA PARTICIPANTE Figura 3 - Classificação de pesquisas quanto aos procedimentos técnicos utilizados a) Pesquisas bibliográficas: • São pesquisas que objetivam explicar um problema com base em contribuições teóricas já publicadas em outras obras (livros, revistas, jornais, teses, dissertações, etc.). Podem ser desenvolvidas exclusivamente por meio de fontes bibliográficas, ou apenas como parte de pesquisas descritivas e experimentais. • Um exemplo relacionado à Contabilidade compreende um estudo sobre o surgimento e a evolução da Contabilidade de Custos desde os registros mais antigos conhecidos pelo homem. b) Pesquisas documentais: • Diferem das pesquisas bibliográficas por utilizarem materiais que ainda não receberam tratamento analítico, são documentos de “primeira mão”, ou que podem ser reelaborados. São documentos conservados no interior de órgãos públicos e privados, como: registros, anais, regulamentos, circulares, ofícios, memorandos, balancetes, comunicações informais, filmes, microfilmes, fotografias, videoteipe, diários, cartas pessoais, etc. A pesquisa documental é bastante utilizada em abordagens históricas. • Como exemplo na área contábil pode-se citar um estudo da relação entre o parecer do perito contábil sobre a situação patrimonial de empresas que requereram concordata e a decisão do juiz nos processos julgados nos dez últimos anos da 1ª Vara Federal de São Paulo (SP). 6 c) Pesquisas experimentais: • Constituem o delineamento mais prestigiado nos meios científicos. Consistem basicamente em determinar um objeto de estudo, seleção das variáveis capazes de influenciá-lo e definição das formas de controle e observação dos efeitos que a variável produz no objeto. Trata-se, portanto, de uma pesquisa em que o pesquisador é um agente ativo, e não um observador passivo. As pesquisas de laboratórios são os exemplos mais comuns. • Considerações éticas e humanas impedem que a experimentação se faça eficientemente nas ciências humanas, razão pela qual os procedimentos experimentais se mostram adequados apenas a um reduzido número de situações. Não se pode, por exemplo,submeter pessoas a atividades estressantes com vistas a verificar alterações em sua saúde física ou mental. Ou privá-las de convívio social para verificar em que medida esse fator é capaz de afetar sua auto-estima. d) Pesquisas ex-post facto: • Segundo Gil (2002, p. 49) “A tradução literal da expressão ex-post facto é ‘a partir do fato passado’. Isso significa que neste tipo de pesquisa o estudo foi realizado após a ocorrência de variações na variável dependente no curso natural dos acontecimentos”. É o experimento realizado após a ocorrência dos fatos, portanto, diferente das pesquisas experimentais, o pesquisado não possui controle das variáveis. • “É bastante usada no campo das ciências sociais aplicadas (contabilidade, economia, administração, direito), pois permite a consideração dos fatores históricos que são fundamentais para a compreensão das estruturas sociais”. (SILVA, 2003, p. 62). Por exemplo: uma análise histórica da evolução do pensamento contábil se valerá desse tipo de pesquisa, pois os fatos serão espontâneos (já ocorreram). e) Levantamentos: • Segundo Gil (2002, p. 30) estas pesquisas se caracterizam “pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Basicamente, procede-se à solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas [amostra] acerca do problema estudado para, em seguida, mediante análise quantitativa [através de técnicas estatísticas], obterem-se as conclusões correspondentes aos dados coletados”. As conclusões acerca do grupo estudado são generalizadas para toda a população, mediante uma margem de erro pré- estabelecida. Quando o levantamento recolhe informações de todos os elementos tem-se um senso. • As pesquisas de levantamento, geralmente, são mais utilizadas em estudos descritivos, cujos resultados, não demandam exigência de aprofundar no problema de pesquisa. No que concerne à Contabilidade são bastante aplicáveis. Como exemplo tem-se: um estudo sobre as metodologias de custeio utilizadas nas empresas atacadistas brasileiras. f) Estudo de caso: • De acordo com Gil (2002, p. 54) o estudo de caso é bastante utilizado em ciências biomédicas e sociais. “Consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado 7 conhecimento, tarefa praticamente impossível mediante outros delineamentos já considerados”. Este tipo de pesquisa é ideal para estudo de fenômenos contemporâneos dentro seus contextos, onde os limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente percebidos. É utilizado para desenvolver entrevistas estruturadas ou não, questionários, observações de fatos, análise documental. O objeto a ser pesquisado pode ser o indivíduo, a empresa, uma atividade, ou até mesmo uma situação. Os principais propósitos de uso do estudo de caso, segundo Gil (2002, p.54), são: 9 Explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos; 9 Preservar o caráter unitário do objeto estudado; 9 Descrever a situação do contexto em que está sendo feita determinada investigação; 9 Formular hipóteses ou desenvolver teorias; e 9 Explicar as variáveis causais de determinado fenômeno em situações muito complexas que não possibilitaram a utilização de levantamentos e experimentos. • Entre as desvantagens do estudo de caso, estão relacionados: a falta de rigor metodológico, pois os procedimentos não são claramente definidos, possibilitando vieses no estudo e a dificuldade de generalização, por se tratar de um ou poucos casos. Na área contábil pode-se citar como exemplo o estudo de caso relacionado à identificação das fases de implantação de um programa de qualidade em uma empresa contábil para a obtenção da certificação ISO 9000. g) Pesquisa-ação: • É um tipo de delineamento empírico com vistas à “solução de um problema coletivo, em que os pesquisadores e participantes da situação ou problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo”. (SILVA, 2003, p. 64). Pode ser aplicada a diversos campos, como contabilidade, educação, economia, administração e serviço social. h) Pesquisa participante: • Assim como a pesquisa-ação, a pesquisa participante é marcada pela interação entre pesquisadores e membros da situação investigada. No entanto, o que diferencia as duas abordagens é o fato de não ser exigida uma ação por parte das pessoas ou grupos envolvidos na pesquisa participante. Nesse tipo de pesquisa, busca-se a plena participação da comunidade na análise de sua própria realidade, com o objetivo de promover a participação social para o benefício dos participantes. • Nas ciências sociais, notadamente na Contabilidade, também se usa a pesquisa participante, isto ocorre quando há grande envolvimento do pesquisador no assunto que está sendo estudado. Um exemplo é o desenvolvimento e a implantação de um sistema de custos em indústria moveleira pelo controller dessa unidade, que é o próprio pesquisador. 8 4.4 Instrumentos de coleta de dados Após o detalhamento dos tipos de pesquisas que podem ser utilizados, torna-se necessário apresentar os principais instrumentos de coletas de dados. Em geral, nunca se utiliza apenas um instrumento (técnica), mas, na maioria das vezes, há uma combinação de dois ou mais deles, usados concomitantemente. A seguir são identificados e descritos os instrumentos: coleta documental, observação, entrevista, questionário e formulário. a) Coleta documental: • Consiste na utilização de fontes de dados coletados por outras pessoas, podendo constituir-se de material já elaborado ou não. Divide-se em pesquisa documental e pesquisa bibliográfica, já vistas anteriormente; b) Observação: • Consiste em ver, ouvir e examinar os fatos que se desejam estudar, utilizando- se de instrumentos (anotações em fichas, gráficos, formulários) para o registro das informações. • Ao aplicar a técnica da observação, o pesquisador examina o fato sem nele interferir, controlando as idéias pré-concebidas que podem surgir. Assim, deve acompanhar, em silêncio, como simples espectador imparcial, retirando de forma clara e precisa todo o conhecimento do fato, anotando tudo o que for pertinente a ele e repetindo tantas vezes quantas for necessário, o exame do mesmo. c) Entrevista: • Consiste numa técnica de conversação direta, dirigida por uma das partes, de maneira metódica, objetivando a compreensão de uma situação, requerendo do pesquisador uma idéia clara da informação que necessita. Exige também algumas medidas como: planejamento da entrevista, conhecimento prévio do entrevistado, local e hora e organização do roteiro ou formulário de acompanhamento da mesma. • Para maior êxito da entrevista, deve-se observar algumas normas sobre como fazer o contato inicial com o entrevistado, a formulação de perguntas, o registro de respostas e o término da mesma. • O pesquisador deve entrar em contato com o entrevistado e estabelecer, desde o primeiro momento, uma conversação amistosa, explicando a finalidade da pesquisa, seu objetivo, relevância e ressaltando a necessidade de sua colaboração. É importante obter e manter sua confiança, assegurando-lhe o caráter confidencial de suas informações. • Deve-se evitar todo tipo de pergunta que sugira resposta. Para não confundir o entrevistado deve-se fazer uma pergunta de cada vez, e primeiro, as que não tenham probabilidade de serem recusadas. Deve-se permitir ao entrevistado restringir ou limitar suas informações. • As respostas, se possível, devem ser anotadas no momento da entrevista, para maior fidelidade e veracidade das informações, devendo ser anotadas com as mesmas palavras usadas pelo entrevistado, evitando-se sintetizá-las. A anotação posterior apresenta duas inconveniências:falha de memória e/ou distorção do fato, quando não se guardam todos os elementos. O uso do gravador é ideal, se o entrevistado concordar com sua utilização. Deve prestar atenção aos itens que o entrevistado deseja esclarecer sem manifestar as suas opiniões. Não deve apressá-lo e dá-lhe tempo suficiente para suas conclusões. 9 • A entrevista deve terminar como começou, isto é, em ambiente de cordialidade, para que o pesquisador, se necessário, possa voltar e obter novos dados, sem que o entrevistado se oponha a isto. d) Questionário: • É um dos instrumentos mais usados para o levantamento de informações. É constituído de uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito, tendo como objetivo principal adquirir informações sobre o objeto em estudo. Não deve ser muito longo para não desanimar quem está respondendo. Pode ser aplicado pessoalmente ou enviado pelo correio, e-mail, etc. • No começo do questionário devem ser colocadas as indagações que caracterizam o informante e necessárias à pesquisa: sexo, idade, estado civil, profissão, etc. (no caso de pessoa física) ou quantidade de funcionários, faturamento, ramo de atuação, etc. (no caso de empresas). Deve-se também indicar se há necessidade ou não do informante escrever seu nome, ou nome da empresa. • As perguntas devem ser formuladas de maneira objetiva, precisa, em linguagem acessível ou usual do informante, para serem entendidas com facilidade. Deve-se evitar perguntas “tendenciosas”, isto é, que pelo seu enunciado orientam a resposta. • A principal limitação do questionário está relacionada à sua devolução, em geral os níveis de devolução são baixos. e) Formulário: • Consiste num conjunto de questões, enunciadas como perguntas, de forma organizada e sistematizada, tendo como objetivo alcançar determinadas informações, obtidas em entrevistas, questionários ou observações. 4.5 Cronograma A elaboração do cronograma é feita dividindo-se a pesquisa em partes e fazendo a previsão de tempo necessário para passar de uma etapa a outra. Não se pode esquecer que, se determinadas partes da pesquisa podem ser executadas simultaneamente, existem outras que dependem das anteriores, como é o caso da análise e interpretação, cuja realização depende da codificação e tabulação, só possíveis depois de colhidos os dados. Na figura 4 tem-se um exemplo de cronograma. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 1 Especificação dos objetivos 2 Operacionalização dos conceitos 3 Elaboração do questionário 4 Pré-teste do questionário 5 Seleção da amostra 6 Impressão dos questionários 7 Seleção dos pesquisadores 8 Treinamento dos pesquisadores 9 Coleta de dados 10 Análise e interpretação dos dados 11 Redação do relatório Etapas do Levantamento Dias Figura 4 – Cronograma de pesquisa Fonte: Gil (2002, p. 156) 10 5 Estrutura de um projeto de pesquisa Capa Folha de rosto Sumário (opcional) 1. Introdução 1.1. Tema (assunto) 1.2. Delimitação do tema 1.3. Formulação do problema 2. Justificativa (por quê?) 3. Objetivos (para quê? para quem?) Objetivo geral Objetivos específicos 4. Embasamento teórico (como?) Revisão de literatura (Estado da Arte a respeito do assunto) 5. Metodologia (como? Com quê? onde? Quando?) e Tipo(s) de pesquisa (s): Quanto aos objetivos; Quanto à abordagem do problema; Quanto aos procedimentos técnicos. Procedimentos metodológicos (instrumentos de coletas de dados, população, amostra, etc.) 6. Cronograma (quando?) 7. Orçamento (com quanto?) 8. Referências (bibliográficas e documentais) REFERÊNCIAS BEUREN, Ilse Maria (Org.) Como elaborar trabalhos monográficos em contabilidade: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2003. 189p. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projeto de pesquisa. 4ª. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 159p. MARTINS, Gilberto de Andrade. Manual para elaboração de monografias e dissertações. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2000. 116p. SILVA, Antônio Carlos Ribeiro da. Metodologia da pesquisa aplicada a contabilidade: orientações de estudos, projetos, relatórios, monografias, dissertações, teses. São Paulo: Atlas, 2003. 181p. SUGESTÃO DE BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 6023: informação e documentação / referências / elaboração. Rio de Janeiro, 2002. Disponível em: <http://www.abnt.org.br>. Acesso em: 13 de agosto de 2012. 11 ______. NBR 6024: numeração progressiva das seções de um documento. Rio de Janeiro, 2003. Disponível em: <http://www.abnt.org.br>. Acesso em: 13 de agosto de 2012. ______. NBR 6027: sumário. Rio de Janeiro, 2003. Disponível em: <http://www.abnt.org.br>. Acesso em: 13 de agosto de 2012. ______. NBR 6028: resumos. Rio de Janeiro, 1990. Disponível em: <http://www.abnt.org.br>. Acesso em: 13 de agosto de 2012. ______. NBR 10520: informação e documentação / citações em documentos / apresentação. Rio de Janeiro, 2002. Disponível em: <http://www.abnt.org.br>. Acesso em: 13 de agosto de 2012. ______. NBR 14724: informação e documentação / trabalhos acadêmicos / apresentação. Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: <http://www.abnt.org.br>. Acesso em: 13 de agosto de 2012. LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia científica. 1ª. ed. São Paulo: Atlas, 1982. 231p. ______. Metodologia científica. 3ª. ed. São Paulo: Atlas, 2000. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1982. 205p. MARION, José Carlos; DIAS, Reinaldo; TRALDI, Maria Cristina. Monografia para os cursos de administração, contabilidade e economia. São Paulo: Atlas, 2002. 135p. SILVA, Ângela Maria.; PINHEIRO, Maria Salete de Freitas; FREITAS, Nara Eugênia. Guia para normalização de trabalhos técnico-científicos: projetos de pesquisa, monografias, dissertações e teses. 2ª ed. Uberlândia-MG: EDUFU, 2002. 159p.
Compartilhar