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Direito de Família 01 Família e Direito de Família[1]

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DIREITO DE FAMÍLIA – ROTEIROS DE AULA
(Roteiros de aula elaborados com base nos textos dos seguintes autores: Carlos Roberto Gonçalves, Cristiano Farias e Nelson Rosenvald, Flávio Tartuce e José Simão, Guilherme Calmon da Gama, Maria Berenice Dias, Paulo Lôbo, Rolf Madaleno, Silvio Venosa)
FAMÍLIA E DIREITO DE FAMÍLIA
Família: considerações gerais e evolução histórica. Direito de família: conteúdo, conceito, evolução histórica, enquadramento legislativo. Princípios
Família: Considerações gerais
O ser humano, em razão de sua natureza ontologicamente gregária, busca na vida em sociedade a sua realização pessoal. Todavia, para que esta vida em sociedade possa se desenvolver de forma harmoniosa, cabe ao Estado organizar o convívio social e proteger os interesses individuais. Para tanto, busca coibir excessos e impedir a colisão de interesses através da imposição de pautas de conduta, ou seja, regras de comportamento que devem ser respeitadas, no sentido de assegurar a todos o direito à vida livre e harmoniosa no limite da liberdade do outro.
No que diz respeito à família, um conjunto de regras disciplina os direitos pessoais e patrimoniais das relações familiares, regras estas propostas em consonância com o contexto social, observando-se que nos últimos tempos as normas referentes ao direito de família vem sofrendo uma série de alterações em conseqüência das profundas alterações na sociedade mundial, com repercussões na realidade brasileira.
A família consiste em realidade sociológica e é considerada como base da sociedade, especialmente protegida pelo Estado (art 226 da CF: ”A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”). Ademais, é considerada núcleo fundamental em que se assenta toda a organização social. Sabe-se que todas as pessoas têm origem em alguma modalidade de organização familiar, e no decorrer da vida, as pessoas se mantêm vinculadas a algum tipo de família, considerando as variadas acepções que o termo família hoje comporta.
A família é uma construção cultural, conforme ensina Berenice Dias. As modificações da sociedade interferem na organização da família e, por outro lado, vão se refletir nas normas que possibilitam a vida em sociedade, mediante a criação de “pautas de conduta” a serem respeitadas por todos.
Ao longo dos séculos, e acompanhando as mudanças sociais, a família sofreu profundas transformações, não só no que diz respeito à sua função, como também em relação à natureza, composição e, por conseqüência, mudanças também no conceito, notadamente após o advento de Estado social, no decorrer do século XX.
Evolução histórica
a) Tempos primitivos - os agrupamentos humanos viviam em promiscuidade, além de praticarem o matrimônio por grupos; deste estado inicial se originaram formas de família que, gradativamente, foram excluindo as relações íntimas entre os parentes mais próximos, e, não se podendo ter a certeza de uma paternidade, conhecia-se a origem materna, iniciando-se, assim, o estabelecimento da descendência pelo lado materno, embora não existisse, ainda, uma organização que pudesse ser reconhecida como família. Como leciona Rodrigo da Cunha Pereira, somente quando o homem passou do estado da natureza para o estado da cultura é que foi possível a estruturação da família.
b) Antiguidade greco-romana - Da perspectiva expressa por Fustel de Coulanges, na formação da família antiga o elemento preponderante deve ser encontrado na religião. A religião era percebida como elemento estabilizador da família, ao definir regras de convivência entre os componentes de um grupo familiar, em harmonia com as crenças e as práticas religiosas.
A união da família se fundamentava na religião. Enquanto constituída por um grupo de pessoas a quem a religião permitia invocar os mesmos ‘manes’ (deuses) e “oferecer o banquete fúnebre aos antepassados,” a família tendia a se perpetuar através do culto dos ancestrais falecidos, invocados como guardiões e protetores de sua descendência. Numa relação de duplo sentido, os mortos protegiam a família, enquanto esta lhes rendia as honras e os louvores que lhes asseguravam paz e tranquilidade na vida após a morte.
Na língua grega antiga, a família era designada pela palavra “epístion”, que significa aquilo que está junto do fogo sagrado. Neste sentido, em toda casa havia um altar e neste altar, um fogo sagrado, constituindo-se em obrigação do dono da casa a manutenção do fogo aceso. A religião era estritamente doméstica e os deuses, antepassados da família, eram deuses particulares que não podiam ser adorados por estranhos ou por mais de uma família. Os ritos, as orações, os hinos e as regras eram estabelecidos no interior de cada família, e o pai era o único intérprete e único pontífice dessa religião, somente ele detendo o poder de ensiná-la, e, apenas, a seu filho, a quem transmitia o direito de manter aceso o fogo sagrado e fazer as orações.
A mulher só participava do culto por intermédio do pai ou do marido. Quando solteira, cultuava seus antepassados, através do pai; ao casar, passava a cultuar os deuses do marido, de quem seria uma espécie de filha, uma vez que o casamento lhe propiciava um segundo nascimento. 
 
A família, da perspectiva da religião, só tinha continuidade com os filhos varões, cujo nascimento era assinalado por um ato religioso que marcava sua admissão nesse grupo familiar. A supremacia do homem era colocada, assim, desde tempos antigos, com fundamento na religião. Com efeito, a análise da evolução histórica da família evidencia que, ainda no período em que os grupos humanos se organizavam em tribos, o homem assumiu o poder de direção da família, relegando a mulher à condição de ser menor, submisso, e instrumento de reprodução.
No que diz respeito aos povos de cultura ocidental, a evolução jurídica da família adquire importância a partir de Roma. O Direito Romano dotou a família de uma estrutura inconfundível, organizando-a como uma unidade econômica, religiosa, política e jurisdicional, estabelecida sob a autoridade soberana de um chefe. 
Em sua origem histórica a palavra família encontra suas raízes em Roma quando a família era denominada famulus, famili, expressões latinas usadas para designar os escravos, ou o conjunto de escravos pertencentes ao mesmo patrão, evidenciando a ideia de agrupamento, incluindo, em sentido amplo, todas as pessoas (inclusive os escravos) que se reuniam em um grupo familiar sob a dependência do pater. Havia, assim, uma conotação patrimonial.
Em Roma, a família era constituída pelo conjunto de pessoas que viviam sob a patria potestas do ascendente comum mais velho. O conceito de família independia de consanguinidade. O pater famílias exercia a autoridade sobre todos os seus descendentes e, no exercício de seu poder, detinha direitos de vida e de morte sobre a esposa e os filhos – ius vitae necique. O pater era, ao mesmo tempo, sacerdote, senhor e magistrado, em sua casa. 
c) Séculos XIX e XX - No decorrer do século XIX, na maioria os países ocidentais, predominou o padrão familiar orientado pelo patriarcado. E o século XX marcou a transição de antigos modelos para padrões mais condizentes com as mudanças sociais recentes, imprimindo à família uma configuração multifacetária.
Não obstante, a família de hoje ainda apresenta marcas de caracteres herdados de épocas passadas, em razão das profundas influências advindas, notadamente, do direito romano e do direito canônico. Porém, não se pode deixar de evidenciar a incorporação de novos paradigmas fundamentados em valores e percepções presentes na realidade onde a família hoje se insere, recebendo influências de circunstâncias de tempo e lugar. Isto permite perceber a família em permanente processo de mudança e evolução. 
d) A família no Brasil - o modelo de família adotado desde a colonização, passando pelo período imperial e no decorrer de grande parte do século XX, teve por fundamentoo patriarcado e o autoritarismo que marcou o Código Civil de 1916, no qual a família era vista como uma instituição matrimonializada, hierarquizada e patriarcal. Havia a valorização primordial do patrimônio em detrimento de cada uma das pessoas que integram o grupo familiar. 
O casamento, visto como única forma de constituição de família, era monogâmico e indissolúvel. Eventuais uniões extramatrimonias eram vistas como espúrias e não dispunham de qualquer proteção legal. Este padrão só veio a ser modificado com a Constituição de 1988, quando passou a ser prevalecente o modelo igualitário de família, fundado em princípios constitucionais que aliam a igualdade à solidariedade e à dignidade das pessoas que integram o grupo familiar, 
Nos termos da Constituição Federal, a família é base da sociedade, especialmente protegida pelo Estado, conforme dispõe o art.226, acima mencionado.
Atualmente a família não é mais compreendida como unidade econômica e de reprodução, passando a ser vista como locus privilegiado de desenvolvimento da personalidade de seus membros. Desta perspectiva, a família aparece como instrumento de desenvolvimento da pessoa humana, repercutindo no ordenamento jurídico a preocupação central com a pessoa humana, o desenvolvimento de sua personalidade, conforme ensinamento de Gustavo Tepedino. A visão pós-moderna da família a identifica como uma unidade de afeto e entre-ajuda, propiciando, assim, o surgimento de novas representações sociais e novos arranjos familiares.
A maioria dos autores adota a visão da “família plural”, ou seja, novos arranjos familiares advindos da dinâmica social, e formados a partir do afeto, percebido como o elo que permite “enlaçar no conceito de família todos os relacionamentos” formados a partir deste vínculo que une seus integrantes, conforme define Maria Berenice Dias. No entender de Sérgio Rezende de Barros, o que identifica a família é o afeto especial existente em seu interior, denominado por ele de ‘afeto conjugal’.
Neste entendimento hoje se pode falar em modalidades outras de família, além da matrimonial: a informal ou união estável, a família homoafetiva, a monoparental, além da pluriparental, formada após o desfazimento de uniões anteriores, por vezes conhecidas como “famílias recompostas”, ou “reconstituídas”, ou “mosaicos”, dentre outras.
Direito de Família
 
 2.1.Conceito e conteúdo
O direito de família consiste em ramo do direito civil que disciplina as relações entre as pessoas unidas pelo vínculo conjugal em sentido amplo, ou pelo parentesco, além dos institutos complementares da tutela e da curatela que, em sua finalidade protetiva e assistencial, guardam afinidade com os vínculos parentais. 
Ao direito de família cabe regular as relações entre os membros do grupo familiar e as consequências que dela resultam para as pessoas e para os bens. 
O objeto do direito de família, é, assim, a própria família, em suas várias acepções, valendo destacar o aspecto dinâmico que deve caracterizar a norma familiarista, na medida em que tal norma se destina ao regramento da própria vida privada, submetendo-se aos movimentos sociais e valorativos que determinam uma constante evolução e mutação, de acordo com as variáveis temporais e espaciais, para atender às exigências humanas.
As normas do direito de família regulam as relações pessoais entre os cônjuges, os ascendentes, descendentes, colaterais, etc. bem como as relações patrimoniais que se desenvolvem no interior da família. Disciplinam, ademais, as relações assistenciais, compondo, assim, os três setores de atuação do direito de família. O casamento ainda é o centro de gravidade do direito de família, embora exista hoje um conceito amplo de família, sendo considerada como um conjunto de pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar. 
2.2. Evolução histórica
No Brasil, durante um tempo, o direito de família era regulado apenas pelo Código Civil de 1916, legislação conservadora e patrimonialista, além de eivada de discriminação. Embora tenha sido percebido pela Doutrina como tecnicamente bem elaborado, já nasceu defasado em relação à sociedade brasileira da época. Não deu atenção aos direitos de filiação fora do casamento, nem às uniões sem matrimônio, quando esta era uma situação vivenciada por expressiva parcela da população.
Entretanto, o dinamismo da sociedade impôs a criação de numerosas leis complementares e especiais que buscaram atender aos anseios sociais, disciplinando situações novas e não previstas na codificação inicial. Neste sentido vale mencionar o Decreto-Lei 3200, de abril de 1941, dispondo sobre a organização da família, tratando de temas tais como o reconhecimento de filhos naturais e a possibilidade de casamento entre colaterais de terceiro grau. Posteriormente foi editado o Estatuto da Mulher Casada (Lei 4121/1962), que assegurou capacidade para a mulher, antes em tudo dependente do marido.
Vale, ainda, mencionar a Lei 6515/77, conhecida como “Lei do Divórcio”, que acabou com a indissolubilidade do casamento, instituído a separação judicial e o divórcio.
Entretanto, somente com a Constituição Federal de 1988 é que foi possível uma modificação mais consistente. A Constituição Federal de 1988 significou o grande divisor de águas do direito privado brasileiro, especialmente no que se refere ao direito de família.
Se as normas postas em vigor ainda eram, em geral conservadoras, os princípios constitucionais propiciaram a interpretação das normas codificadas em consonância com os ditames sociais vinculados a fenômenos outros e fatos sociais e jurídicos relacionados direta ou indiretamente com a família. 
A constitucionalização do direito de família buscou preencher lacunas que o antigo Código Civil não mais se mostrava capaz de disciplinar em razão do dinamismo social e das transformações recentes da realidade social.
A Constituição Federal de 1988 trouxe uma série de inovações, dentre as quais se destacam:
- o pluralismo das entidades familiares (art. 226, 3º e 4º), 
- a igualdade entre homem e mulher no exercício de direitos e deveres (art.226, 5º), 
 - a igualdade jurídica entre os filhos, independentemente de sua origem (art. 227). 
 - o planejamento familiar (art. 226, 7º) e a assistência direta à família , na pessoa de cada um dos que a integram ( art. 226, 8º), 
- a proteção prioritária à criança e ao adolescente (art. 227),
O Código Civil de 2002, editado pouco mais de 10 anos depois, incorporou parte destes novos conceitos, disciplinando novas situações, bem como eliminando termos que evidenciavam desigualdade e discriminação. Seguindo preceito constitucional, o Código estabelece a igualdade jurídica do homem e da mulher, bem como de todos os filhos, independentemente de origem. O antigo “pátrio poder” foi substituído pelo poder familiar, passando a ser visto como um poder/dever cabível a ambos os progenitores.
Entretanto, o projeto inicial do Código data de 1975 e demorou bastante tempo para ser concluído, sendo necessárias modificações no texto original no sentido de se adequar às mudanças sociais, notadamente após a Constituição de 1988, quando inúmeras emendas se impuseram. Diversos autores criticam a forma como foram feitas as modificações, inclusive a permanência de artigos considerados ultrapassados, daí surgindo o entendimento de que o novo código já nasceu velho.
2.3. Enquadramento legislativo
O direito de família consiste em ramo do direito privado, na medida em que os sujeitos de suas relações são entes privados, embora coexistam em seu interior normas de ordem pública e normas de ordem privada. 
As normas de ordem pública têm por finalidade limitar a autonomia da vontade em benefício da ordem familiar, sem que isso signifique uma configuração diferente para o direito de família que permanece inserido no direito privado. As normas de ordem pública impõem deveres a partir da ideia de que os vínculos são impostos e as faculdades conferidas não só expressam direitos,mas assumem, na maioria das situações, o caráter de deveres, no objetivo maior de proteger a família, os bens que lhe são próprios, os filhos e os interesses afins.
O Código Civil disciplina o direito de família em seu Livro IV da Parte Especial segundo disposição em quatro títulos: 
Título I - Direito pessoal : arts. 1 511 a 1 638 
Título II - Direito patrimonial : arts. 1639 a 1722
Título III - União estável : arts. 1 723 a 1 727
Título IV - Direito assistencial: Tutela e curatela: arts. 1 728 a 1 783
O primeiro título, Do direito pessoal, trata das normas concernentes ao casamento, dispondo sobre a sua celebração, validade dissolução e proteção da pessoa dos filhos. Dispõe, ainda, sobre as relações de parentesco, destacando a igualdade entre os filhos. Disciplina, ainda, o poder familiar. 
O segundo título, denominado Do direito patrimonial, disciplina as relações patrimoniais decorrentes do casamento, enfatizando o regime de bens, incluindo a disciplina do pacto antenupcial, os alimentos, bem como o usufruto, a administração dos bens de filhos menores, ademais do bem de família. 
O título três trata da união estável; e o título quatro dispõe sobre os institutos da tutela e da curatela.
No cômputo geral, as alterações advindas da Constituição Federal e aquelas incluídas no Código Civil realçam a função social da família no direito brasileiro.
2.4. Princípios Constitucionais
Além das normas disciplinadas no Código Civil, o direito de família é regido por princípios constitucionais, situados no vértice do sistema, e atuando como fontes normativas e parâmetro para aferição da validade de todas as normas jurídicas, impondo a inconstitucionalidade daquelas que lhe são contrárias. A Carta Magna assume um papel reunificador do sistema, passando a demarcar os limites do direito civil como um todo, e, em especial, tudo que diz respeito à proteção dos núcleos familiares.
Os princípios constitucionais consistem em alicerces normativos sobre os quais se edifica todo o sistema jurídico constitucional. Muito mais do que marcos orientadores do sistema infraconstitucional, são considerados como ‘conformadores’ da lei, segundo expressão de Paulo Lobo. Os princípios são normas que se distinguem das demais, não só pelo seu alto grau de generalidade, como também por serem detentores de conteúdo axiológico mais acentuado, clarificando com maior nitidez os valores jurídicos e políticos que condensam. 
No ensinamento de Robert Alexy, os princípios são ‘mandamentos de otimização’ de todo o sistema jurídico. E nas palavras de Cristiano Farias, impõe-se a visão das normas do direito de família a partir da legalidade constitucional.
Nos termos da CF,art.1º, III: “ A República Federativa do Brasil (...) tem como fundamentos: (...) III- a dignidade da pessoa humana”. Neste sentido, a dignidade da pessoa humana, consagrada como fundamento do Estado Democrático de Direito, evidenciou a insuficiência do positivismo e a limitação das normas jurídicas para atender ao comando constitucional. A interpretação conforme a Constituição é uma das maiores inovações pertinentes à técnica interpretativa, orientando toda a interpretação da lei a partir da Constituição. 
Desta perspectiva, os princípios constitucionais informam todo o sistema legal no sentido de viabilizar o alcance da dignidade humana em todas as relações jurídicas, consoante ensinamento de Maria Berenice Dias.
Entre os diversos autores, não existe unanimidade quanto aos princípios constitucionais que, atualmente, regem o direito de família. A maioria, contudo, prescreve os princípios da dignidade da pessoa humana, da igualdade, da liberdade. A seguir, são destacados estes princípios, ademais de outros percebidos como marcos referenciais importantes para o direito de família. 
a) Princípio da dignidade da pessoa humana - consoante o inciso III do art. 1º da Constituição Federal: “A República Federativa do Brasil tem como fundamento a dignidade da pessoa humana”, conforme acima citado. Desta perspectiva, este é o “valor nuclear da ordem constitucional”. È o mais universal de todos os princípios, a partir do qual se irradiam os demais: liberdade, igualdade, solidariedade, cidadania, etc.
A ordem constitucional elevou a dignidade humana a fundamento da ordem jurídica; desta perspectiva, foi definida a opção pela pessoa, ligando todos os institutos à realização de sua personalidade. O princípio da dignidade humana não significa, apenas, um limite para a atuação do Estado, mas indica a orientação de sua ação positiva no sentido de promover esta dignidade. Por consequência, houve um direcionamento voltado para a “despatrimonialização” e, em sentido inverso, para a valorização da pessoa, ou seja, a “personalização” dos institutos jurídicos de forma a colocar a pessoa humana no centro protetor do direito.
b) Princípio da liberdade- A liberdade, junto com a igualdade, foi um dos primeiros direitos a ser reconhecido dentre os direitos humanos fundamentais. No campo do direito de família, o princípio da liberdade se expressa no direito de constituir uma comunhão de vida familiar da maneira que melhor convier a cada pessoa; há, também, o direito de dissolver esta união e recompor novas estruturas de convivência familiar, alterar o regime de bens na constância do casamento, a livre decisão quanto ao planejamento familiar.
No entanto, no entender de alguns autores, dentre os quais Maria Berenice Dias, alguns dispositivos do Código Civil afrontam o princípio da liberdade, como se pode observar na disposição contida no art.1641,III que impõe o regime de separação de bens para o casamento de pessoas maiores de 70 anos.
c) Princípio da igualdade - O princípio da igualdade consiste em um dos sustentáculos do Estado Democrático de Direito. É imprescindível que a lei considere todos iguais, ressalvadas as desigualdades que devem ser analisadas no sentido de ser assegurada a igualdade material. É indispensável, também, que haja igualdade na própria lei, não bastando que a lei seja igual para todos. Justiça formal se identifica com igualdade formal, significando que seres da mesma categoria devem receber tratamento igual. Todavia, aspira-se à igualdade material porque existem desigualdades. A justiça material ou concreta significa conceder a cada um segundo a sua necessidade; a cada um segundo os seus méritos. 
Nas palavras de Cristiano Farias, a igualdade substancial significa que todas as pessoas são iguais, perante a lei, na medida de sua própria dignidade
A CF proclama que todos são iguais perante a lei; ademais, homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações (art. 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza ...”). E o inciso I deste mesmo artigo define que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações”. Em consequência, também são iguais os direitos e os deveres de homens e mulheres no âmbito da sociedade conjugal (art 226, 5º: “Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher”). 
A igualdade se estende à filiação, proibida qualquer designação discriminatória em relação aos filhos havidos ou não do casamento e aqueles advindos pela adoção (art. 227, 6º: “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”).
A guarda dos filhos consiste em direito/dever de ambos os cônjuges e não é privilégio de um nem de outro (art. 1 584).
d) Princípio da solidariedade familiar - este princípio se expressa no respeito recíproco entre pais e filhos; é concretizado na imposição da obrigação alimentar entre parentes. Este princípio tem origem no vínculo afetivo e agrega conteúdo ético no que diz respeito à reciprocidade, cabendo ao pai e à mãe prover a subsistência do filho, criá-lo, educá-lo, e a este ajudá-los, eventualmente, na velhice, carênciaou enfermidade (CF art.229).
e) Princípio do pluralismo das entidades familiares - Antes da CF/88, somente as uniões decorrentes do casamento recebiam a proteção do Estado. A CF, em seu art. 226, disciplinou, explicitamente, três modalidades de entidades familiares (casamento, união estável e família monoparental), havendo por parte da doutrina a identificação de outros arranjos familiares implicitamente entendidos, formados a partir do vínculo da afetividade, do comprometimento mútuo e do envolvimento pessoal e patrimonial. 
f) Princípio da proteção integral a crianças e adolescentes- Este princípio não significa uma diretriz ética, mas uma determinação no que diz respeito às relações das crianças e adolescentes com a família, a sociedade, o Estado. A vulnerabilidade destas pessoas impõe um tratamento diferenciado no respeito e na garantia de seus direitos à vida, à saúde, à educação, à alimentação, ao lazer, á profissionalização, à cultura, à dignidade, à liberdade, à convivência familiar e comunitária (art. 227). Nos termos deste artigo, é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar, com prioridade absoluta, estes direitos, além de colocá-los a salvo de negligência, discriminação, violência, crueldade, opressão, exploração.
O ECA, Lei n. 8 069/90, à luz da Constituição Federal de 1988 e das convenções internacionais ratificadas pelo Brasil, regulamentou o art. 227 da Constituição, trazendo uma nova percepção em relação ao direito do menor e uma nova forma de encaminhamento das questões sobre a matéria.
g) Princípio da proteção ao idoso - A norma constitucional veda qualquer discriminação em razão da idade, além de assegurar especial proteção aos maiores de 60 anos. Consiste em dever da família, da sociedade e do Estado, em conjunto, ampararem as pessoas idosas, garantindo uma velhice digna e integrada à sociedade (art. 230). 
h) Princípio da afetividade- A palavra afeto não está escrita no texto constitucional nem no Código Civil; todavia, é possível identificar o afeto implícito em ambos os textos. Ao se reconhecer as uniões estáveis como merecedoras da tutela estatal, significa dizer que, independentemente da formalidade do casamento, o afeto que une estas pessoas adquiriu reconhecimento e inserção no texto legal. O princípio da afetividade se expressa na igualdade dos filhos, independentemente de sua origem (CF, 227, 6º); na adoção, como escolha afetiva dotada de igualdade de direitos ( CF,227, 5º e 6º); a dignidade de família extensiva à comunidade monoparental constituída por filhos biológicos ou adotivos (CF, 226, 4º); o direito à convivência familiar como prioridade absoluta de crianças e adolescentes (art 227 da CF).
No que diz respeito ao Código Civil, bem mais tímida se insere a valoração do afeto: O art. 1 511 estabelece a comunhão plena de vida no casamento; o artigo 1 593 admite outra origem de filiação, além do parentesco natural; a igualdade dos filhos, prevista no art. 1 596; e nos dispositivos sobre a dissolução do casamento são referidas questões pessoais com maior realce que as patrimoniais.
Em linhas gerais, pode-se dizer que as relações familiares formais ou informais, visam, sobretudo, à realização pessoal de seus integrantes, com base no afeto, na solidariedade, no cuidado recíproco, no devotamento, enfim, tudo que possa favorecer a vida em comum.
Desta perspectiva, o princípio da afetividade bem pode ser visto como o princípio norteador do direito de família. Ademais, a enumeração dos princípios do direito de família não é exaustiva, podendo ser inferidos outros princípios, quer explícitos, quer implícitos.

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