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Brasília-DF. Clonagem e organismos TransgêniCos Elaboração Luis Fernando Reyes Joci Neuby Alves Macedo José Luiz Lopes de Souza Assuero Faria Garcia Julio Cesar Pissuti Damalio Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APrESEntAção ................................................................................................................................. 4 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA .................................................................... 5 introdução.................................................................................................................................... 7 unidAdE i CLONAGEM MOLECULAR ...................................................................................................................... 9 CAPítulo 1 INtROdUçãO à pROdUçãO dE pROtEíNAs hEtERóLOGAs ..................................................... 9 CAPítulo 2 CLONAGEM MOLECULAR ...................................................................................................... 22 unidAdE ii CLONAGEM REpROdUtIVA E tERApÊUtICA ........................................................................................... 31 CAPítulo 1 CLONAGEM REpROdUtIVA: O CAsO dA OVELhA dOLLy ........................................................ 31 CAPítulo 2 CLONAGEM tERApÊUtICA E As CéLULAs- tRONCO ................................................................ 34 unidAdE iii tERApIA GÊNICA E ORGANIsMOs tRANsGÊNICOs ............................................................................... 40 CAPítulo 1 tERApIA GÊNICA .................................................................................................................... 40 CAPítulo 2 ORGANIsMOs tRANsGÊNICOs .............................................................................................. 43 PArA (não) FinAlizAr ..................................................................................................................... 50 rEFErênCiAS .................................................................................................................................. 51 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 introdução Nos módulos anteriores vocês aprenderam um pouco mais sobre origem, evolução e composição celular, incluindo sua estrutura e função. Também conheceram um pouco mais sobre os polímeros biológicos e sua importância para todos os organismos. E, por fim, foram apresentados ao universo da biologia molecular. Ao longo dessa apostila, vamos discutir sobre as metodologias utilizadas na clonagem molecular para a produção de proteínas heterólogas. Quando ouvimos falar em proteínas, qual a primeira ideia que nos vem à cabeça? Uma das rápidas associações que é feita é pensar em nutrientes encontrados em carnes, leites, vegetais e legumes; outra associação também ocorre ao pensar nas enzimas. Estas associações apesar de estarem corretas não definem o que é uma proteína em si, qual é sua estrutura, nem qual é a sua função? A grande revolução da ovelha Dolly– que abriu caminho para a possibilidade de clonagem humana– foi a demonstração, pela primeira vez, de que era possível clonar um mamífero, isto é, produzir uma cópia geneticamente idêntica, a partir de uma célula somática diferenciada. Por isto, também tocaremos uns dos temas mais atuais e polêmicos dentro da biotecnologia, ou seja, a clonagem terapêutica e as famosas células-tronco por um lado, e os organismos transgênicos por outro. Desta maneira,por meioesperamos que vocês utilizem esta apostila e esse curso para aprofundarem mais no seu conhecimento sobre a grande área da biotecnologia. Bons estudos! objetivos » Consolidar as informações sobre as técnicas apresentando um roteiro para clonagem. » Introduzir os conceitos de clonagem reprodutiva e terapêutica e terapia gênica. » Discutir temas polêmicos e atuais: clonagem reprodutiva e terapêutica, terapia gênica e organismos transgênicos. » Conhecer o principal organismo procariótico utilizado para a produção de proteínas heterólogas. » Estudar a constituição básica de um vetor de expressão bacteriano. » Compreender quais são os fatores limitantes para a expressão heterólogas em Escherichia coli(E. Coli). » Entender quais são as limitações dos sistemas expressão bacterianos e quais são as soluções disponíveis para romper algumas destas limitações. » Introduzir os diferentes sistemas de expressão utilizados para produção de proteínas heterólogas. » Discutir a principais vantagens dos sistemas de expressão eucarióticos. » Relacionar a produção de proteínas heterólogas e sua utilização como um agente terapêutico. » Discutir a estreita relação entre a estrutura e a função de uma proteína. 9 unidAdE iClonAgEM MolECulAr CAPítulo 1 introdução à produção de proteínas heterólogas As eras das “ômicas” e a geração de informações em grande escala O advento do sequênciamento automático e o desenvolvimento da bioinformática deram origem à era da genômica, na qual milhões e milhões de dados de sequências de DNA foram gerados oferecendo informações que abriram expectativas para várias outras áreas da ciência. Sendo assim, a genômica foi a primogênita das eras “ômicas”, ou análises em grande escala. Com a Genômica passamos a entender os milhões de pares de bases que compõem os genomas de diversos organismos. O que aprendemos com o projeto genoma humano: 1. O genoma humano é composto de aproximadamente 3,1 bilhões de pares de bases. 2. O genoma é aproximadamente 99,9% o mesmo entre indivíduos de todas as nacionalidades. 3. Menos de 2% do genoma codifica genes. 4. Aproximadamente 50% do nosso DNA que não codifica proteína correspondem a sequências repetitivas. 5. O genoma possui aproximadamente 20.000 a 25.000 genes. 6. Muitos genes podem gerar mais de uma proteína, permitindo que as células humanas possam produzir até 100.000 proteínas. 7. A função de aproximadamente metade dos genes humanos não é conhecida. A importância da rapidez e da quantidade de dados que foram gerados serviu para que novas ômicas surgissem, pois se podíamos obter tanta informação do DNA, porque não desenvolver ferramentas para gerarmos informações em grande escala também de outras biomoléculas? Com a genômica, deixamos de pensar em um único gene, agora se pensa nesse gene, mas dentro do genoma. 10 UNIDADE I │ CLONAGEM MOLECULAR Desta forma, surgiram as “ômicas” que vão além da dupla hélice, transcriptômica, proteômica, metabolômica e fluxômica. As “ômicas” vão ao encontro do complexo sistema que é o ser vivo, pois os organismos não funcionam como um conjunto de pequenas peças que não interagem si, ao contrário disso, essas pequenas peças montam uma engrenagem que funciona em harmonia. A única forma de realmente entender os organismos vivos é montar esse quebra-cabeça formado pelas pequenas peças. Com este propósito surgiram as ômicas. A transcriptômica nos permite avaliar apenas as informações dentro do DNA que são transcritas, seguindo o fluxo da informação genética. O microarray foi a grande inovação biotecnológica desta área. A proteômica analisa o produto final da transmissão da informação gênica, a coleção de proteínas de um determinado organismo. Analisamos com a proteômica o nível de expressão das proteínas, mudanças pós-traducionais, padrões de interação e localização celular. As proteínas também estão ganhando caras com a cristalografia. A metabolômica é dedicada aos metabólitos celulares. Vamos agora entender como atuam os substratos, os produtos enzimáticos, metabólitos intermediários e secundários, hormônios e moléculas sinalizadoras. Já a fluxômica é a análise do fluxo dos metabólitos dentro da célula. <http://www.scielo.br/pdf/cr/v40n3/a479cr1680.pdf> <http://www.gmbahia.ufba.br/index.php/gmbahia/article/viewFile/257/248> <http://www.biotecnologia.com.br/revista/bio32/omicas_32.pdf> Biotecnologia Por mais difícil que seja definir biotecnologia, sempre virá algum fato, alguma informação que nos conduza a uma definição para biotecnologia. Palavras simples estão diretamente associadas a possíveis definições por nós elaboradas, como, clonagem, melhorias na qualidade de alimentos, fermentação e antibióticos(exemplos clássicos de biotecnologia), plantas e animais transgênicos, bioremediação, biosensores, vacinas, biomatérias, biocombustíveis. Definam biotecnologia utilizando algumas das palavras citadas acima. Uma definição formal para biotecnologia foi dada na conversão de diversidade biológica (Convention on Biological Diversity (CDB): “qualquer tecnologia que é aplicada a organismos vivos para torná- los mais valiosos para as pessoas” (“any technology that is applied to living organisms to make them more valuable to people”). 11 CLONAGEM MOLECULAR │ UNIDADE I A biotecnologia é uma ciência multidisciplinar e é impossível estudar biotecnologia sem a necessidade de agregar informações de diferentes áreas das ciências. Apesar de o enfoque inicial, da biotecnologia ter sido a biologia molecular em aplicações genéticas, hoje a biotecnologia necessita de todas as áreas das ciências, como biologia, química, matémática, ciências computacionais, engenharia, filosofia e economia. Economia parece um termo estranho, mas a biotecnologia corresponde a um dos campos da ciência que mais gera capital. Vamos, rapidamente, exemplificar a interdisciplinaridade da biotecnologia: 1. Pesquisadores das ciências básicas descobrem um gene em bactéria que é promissor como agente para tratamento de uma doença em humano. 2. Biologistas moleculares, bioquímicos, biofísicos utilizam diversas técnicas para caracterizar o produto gênico e melhor conhecer as funções deste gene. 3. Os cientistas da bioinformática retiram informações a partir da sequência do gene e analisam a estrutura da proteína. 4. Conhecida as características do gene, ele então pode ser usado no desenvolvimento de fármacos, na agricultura, pode ser aplicado ao meio ambiente etc. Porém profissionais experientes de cada área estarão envolvidos na produção dos produtos biotecnológicos provindos do estudo deste gene. 5. Finalizando, os produtos serão comercializados. Vamos discutir agora sobre algumas das aplicações da biotecnologia no mundo. Bioprocessamento A mais antiga das biotecnologias utiliza células vivas ou componentes moleculares das células para produzir o produto desejado. As células mais utilizadas são micro-organismos unicelulares como leveduras, bactérias e os componentes biomoleculares mais utilizados são enzimas, que são proteínas que catalizam reações químicas. A fermentação é o processo biotecnológico mais antigo que se tem conhecimento, lembrando que muito antes de Cristo, na Grécia antiga, já se tomava vinho e se comia pão. Podemos dizer que estes dois produtos, que hoje têm sua produção comandada pela biotecnologia, são os mais antigos relatos de produtos biotecnológicos. Enzimas produzidas por fermentação microbiana têm papel essencial na indústria de alimentos. Na atualidade, boa parte das enzimas envolvidas em fermentação durante a fabricação de alimentos é produzida em bactérias. O primeiro produto alimentar que foi produzido por biotecnológica é uma enzima usada na fabricação de queijo. Esta enzima é a quimosina que inicialmente era purificada de bezerro, cabra e cordeiros, mas agora 80% da produção desta enzima são produzidas por micro-organismos geneticamente modificados. Outros exemplos de produtos em que a fermentação faz parte de seu processo de fabricação: cerveja, cidra, vinagre, iogurte e tofu. 12 UNIDADE I │ CLONAGEM MOLECULAR O bioprocessamento também está presente dentro do seu guarda-roupa. Por mais de um século, enzimas são usadas nas fases de fiação, tingimento e acabamento dos tecidos, tais como o clareamento e o amaciamento. Enzimas como celúlases e amilases tornam os tecidos mais limpos e macios, auxiliam em processos de desbotamento e retiram a goma dos tecidos. Enzimas também atuamna limpeza da sua casa, quando são adicionadas em detergentes aumentando o poder de limpeza destes e os tornando mais biodegradáveis. Nos detergentes, são adicionados proteases, amilases e lipases para eliminar proteínas, amido e gordura, respectivamente. Celúlases são adicionadas em detergentes para remover manchas. Hoje, produzem-se em grandes quantidades muitos produtos de valor– entre os quais as enzimas– pela cultura de micro-organismos específicos, sob condições limpas e altamente controladas em recipientes chamados fermentadores. Por que a levedura é importante na produção de pão? E por que a massa do pão cresce? A biotecnologia na produção de anticorpos monoclonais Os anticorpos são proteínas produzidas pelo organismo como resposta às infecções. Uma das características mais importantes dos anticorpos é a sua alta especificidade. Os anticorpos monoclonais são produzidos em células do sistema imunológico e correspondem a um grande avanço no tratamento de cânceres (Figura 1). As células possuem marcadores de proteína na sua superfície conhecidos como antígenos. Os anticorpos monoclonais são produzidos em laboratório para reconhecer marcadores proteicos específicos de células cancerosas. Ao reconhecer estes marcadores, os anticorpos ficam sobre essas proteínas e essa ação desencadeia um processo de autodestruição da célula, ou então comunica o sistema imune do corpo para destruir a célula cancerosa. Estes anticorpos geralmente aumentam a eficácia de outros tratamentos, como a quimioterapia. Os anticorpos monoclonais também são usados para detectar poluentes ambientais e micro- organismos nocivos em alimentos; para distinguir células cancerosas de células normais, para diagnosticar doenças infecciosas em seres humanos, animais e plantas, e, por fim, são usados em testes de gravidez. É a biotecnologia de mãos dadas com a busca da cura para as mais diversas enfermidades. 13 CLONAGEM MOLECULAR │ UNIDADE I Figura 1. produção de anticorpos monoclonais. Rato imunizado com antigênio X. Linfócitos B provenientes do rato. Cultura celular de mielomas. Hibridomas resultantes da fusão de linfócitos B com mielomas. Desenvolvimento de hibridomas em meios de cultura. Seleção de hibridomas produtoras de anticorpos X. Clonagem de hibridomas Isolamento de anticorpos monoclonais. Hibridomas clonados são mantidos em culturas permanentes Figura retirada do site: <http://apuradabiologia.blogspot.com/2011/04/anticorpos-monoclonais.html>, retirada em: 17/9/2011. A biotecnologia e as proteínas A insulina recombinante foi o primeiro produto biotecnológico para benefício do homem. Este foi o primeiro grande passo da biotecnologia, a produção de uma proteína recombinante essencial para o tratamento de uma doença, a diabetes. Antes da tecnologia do DNA recombinante, a insulina usada no tratamento de diabetes era purificada de pâncreas de porcos e vacas, e então injetada em diabéticos. O processo de purificação era lento, difícil, caro e geralmente a insulina continha impurezas. Além disso, a insulina purificada não era eficaz em todos os pacientes e, em alguns, provocava reações alérgicas. Em 1978, o gene da insulina humana foi clonado em plasmídeo, expresso em bactéria e então a proteína foi purificada. Em 1982, a insulina humana produzida em bactérias foi aprovada para uso em humanos. Logo após a insulina, o hormônio do crescimento usado para tratamento de crianças com problemas de crescimento específicos foi também expresso em bactéria e purificado, tornando-se disponível para o uso no homem. Em pouco tempo, uma grande variedade de proteínas recombinantes para uso terapêutico foram disponibilizadas como resultado da tecnologia do DNA recombinante (Quadro 1). 14 UNIDADE I │ CLONAGEM MOLECULAR Quadro 1. proteínas recombinantes para uso terapêutico produzidas em bactérias Proteína Hospedeiro para produção Aplicação médica Eritropoietina Estimula a produção de células vermelhas do sangue. Tratamento de pessoas com anemia. Fator VIII Fator de coagulação sanguínea. Tratamento de certos tipos de hemofilia. Hormônio de crescimento humano (HGH) Estimula o crescimento ósseo e muscular. Usado no tratamento de pessoas com alguns tipos de nanismo. Insulina Hormônio necessário para absorção de glicose pelas células do corpo. Tratamento de pessoas com diabetes. Interferons e interleucinas Fatores de crescimento que estimulam o crescimento e produção de células sanguíneas. Usado no tratamento de cânceres de células sanguíneas, como leucemia. Vacinas Estimula o sistema imune para prevenir de infecções virais e bacterianas. Usado para imunizar humanos e animais contra o ataque de patógenos. Atualmente, a maior parte da insulina humana recombinante consumida por diabéticos é produzida por bactérias. Lembrando que o genoma humano contém íntrons e que as bactérias não são capazes de removê-los, qual o procedimento necessário para que a insulina possa ser produzida em bactéria? <http://www.biotecnologia.com.br/> <http://www.sbbiotec.org.br/portal/> <http://www.freebooks4doctors.com/fb/BIOTE.HTM> <http://learn.genetics.utah.edu/> Primeiramente, o que seria a produção de proteínas heterólogas? Bom, o termo produção ou expressão de proteínas heterólogas se refere à síntese de uma determinada proteína de um organismo X, em um organismo de espécie diferente. Pode-se dizer que a produção de proteínas heterólogas envolve duas etapas: » A primeira, que é a introdução de um DNA exógeno em uma célula hospedeira, ou seja, realizar a clonagem molecular, procedimento abordado com ênfase no curso anterior de Técnicas de Biologia Molecular e Clonagem. Com o DNA recombinante (rDNA) propagado por uma célula hospedeira, o próximo passo é identificar o sistemas de expressão adequado para receber o rDNA; » A segunda é determinar os fatores que afetam a expressão do DNA exógeno para a síntese protéica no sistema de expressão escolhido. Agora você pode estar se perguntando: “o que vem a ser um sistema de expressão?” Um sistema de expressão combina genes estruturais, sequências controladoras, marcadores e indutores. Assim, pode-se dizer que o DNA exógeno deve ser clonado em um plasmídeo de expressão, também chamado de vetor de expressão, que apresente uma compatibilidade genética com a célula 15 CLONAGEM MOLECULAR │ UNIDADE I hospedeira. Basicamente, todos os métodos existentes para produção de proteínas heterólogas seguem as mesmas etapas: um gene (DNA exógeno) a ser expresso é introduzido em um vetor de expressão, e este vetor recombinante é inserido em uma célula hospedeira. Como já mencionado no curso anterior de Técnicas de Biologia Molecular e Clonagem, os vetores de expressão além de apresentam os elementos que estão presentes nos vetores de clonagem, possuem ainda elementos adicionais. Sendo estes: promotores (região promotora), responsáveis por direcionar a síntese de grandes quantidades de mRNA (RNA mensageiro) correspondente ao gene de interesse (DNA exógeno); pequenas sequências que permitem uma replicação autônoma dentro do organismo hospedeiro (origem de replicação, ori); sequências que codificam para características que permitem que as células hospedeiras, contendo o vetor recombinante, sejam selecionadas (marcador de seleção); sequências que determinam o início e o término do processo de traduçãoe sequências que aumentam a eficiência com a qual o mRNA é traduzido. Atualmente, há uma grande variedade de células hospedeiras disponíveis para produção de proteínas recombinantes, desde células procariotas (bactérias) até células eucariotas (fungo, inseto, vegetal, e mamífero). Para a escolha das células hospedeiras na produção heteróloga de uma determinada proteína, é necessárioter em mente a resposta para duas questões simples: » Para qual a finalidade esta proteína será produzida? » Quais as propriedades desta proteína recombinante? As respostas destas perguntas levam a uma análise mais cuidadosa durante a escolha de um sistema de expressão, pois a produção de proteínas recombinantes depende de muitos fatores. Tais como as características de crescimento celular, níveis de expressão, expressão intracelular e extracelular, modificações pós-traducionais e atividade biológica da proteína de interesse. Além disso, para a seleção de um determinado sistema de expressão uma questão tão relevante quanto as anteriores é a relação custo benefício. Bactérias como Escherichia coli (E. coli), frequentemente são o ponto de partida para a produção de proteínas recombinantes. São de fácil cultivo, capazes de se multiplicarem rapidamente atingindo uma alta densidade celular em meios de cultura relativamente baratos, sua genética e fisiologia são bem conhecidas e também existe uma grande disponibilidade de diferentes sistemas de expressão. Apesar de estas características tornarem E. coli um organismos atrativo para a produção de proteínas heterólogas, há também algumas desvantagens associadas: a falta de capacidade em realizar modificações pós-traducionais; frequentemente a expressão de grandes quantidades de proteínas podem induzir a formação de precipitados proteicos (“corpos de inclusão”); não possui um sistema de secreção eficiente e também há uma certa dificuldade para formação de ligação dissulfeto. Dessa forma, pode-se dizer que não há um determinado tipo célula hospedeira universal, que funcionará perfeitamente para todas as proteínas. Outro extremo são células de mamíferos, uma das células hospedeiras mais complexas e caras. Normalmente, elas são a opção de escolha para a produção de proteínas grandes e que necessitam de extensivas modificações pós-traducionais. Entre estas duas opções, existem outros sistemas que apresentam um custo de produção intermediário e a capacidade de realizar algumas modificações pós-traducionais. A Figura 2 traz uma representação esquemática dos diferentes organismos que podem ser utilizados na obtenção de uma proteína recombinante. 16 UNIDADE I │ CLONAGEM MOLECULAR Figura 2. Características dos diferentes sistemas disponíveis para produção de proteínas heterólogas, comparando velocidade de produção da proteína recombinante, o custo total para obtenção da proteína de interesse, escala entre o nível de complexidade exigido pelo tempo gasto, e o controle do produto recombinante acumulado. Levedura PlantasCélulas de mamíferos Fungo Filamentoso Bactéria Animais Legenda: Pior Melhor Velocidade Custo/g Modificações Pós-tradicionais Escala Controle Figura extraída e modificada do artigo Making recombinant proteins in animals – different systems, different applications, TRENDS in Biotechnology, 21: 394-399/ <http://www.cell.com/trends/biotechnology/abstract/s0167-7799%2803%2900190- 2>,acesso em: 15/12/2011. Apesar de existirem trilhões de células de E. coli no lúmen intestinal humano, algumas mutações podem levar a patogenicidade. Qual a grande vantagem de produzir proteínas de forma heteróloga, já que essas mesmas proteínas são encontradas em seus organismos originais? Produção de proteínas heterólogas em E. coli Como vimos nos módulos anteriores, E. coli (Figura 3) é um dos micro-organismos mais utilizados tanto para clonagem molecular como para produção de proteínas recombinantes. É uma bactéria gram-negativa, possui formato de bastonete, com tamanho variando entre 1 a 2,5 µm e seu habitat natural é o cólon de mamíferos. Possui ainda uma membrana externa que apresenta cerca de 10 flagelos e alguns pelos, uma fina parede celular e uma membrana citoplasmática revestindo os componentes celulares. Como os demais organismos procariotos, E. coli não possui um núcleo e seu material genético é livre no citoplasmas. É uma bactéria, na maioria das vezes, inofensiva, ocasionalmente algumas linhagens podem se tornar patogênica e secretar toxinas que provocam diarréia, por exemplo. 17 CLONAGEM MOLECULAR │ UNIDADE I Figura 3. E. coli, bactéria gram-negativa que apresenta três camadas envolvendo e citoplasma. A membrana externa e a membrana citoplasmática são bicamadas lipídicas, e a parede celular é constituída de peptidoglicanos. diferentemente das células eucarióticas não há uma membrana envolta no cromossomo, permitindo que o dNA fique livre no citoplasma. Modificado de Biotechnology: Applying the Genetic Revolution, david p. Clark, Nanette pazdernik (2009). Em um meio rico durante a fase exponencial de crescimento, E. coli pode se multiplicar a cada 20-30 minutos. Assim, durante o período de uma noite, um único organismo pode se multiplicar e produzir uma colônia ou mesmo 1-2 bilhões de células por milímetro de meio de cultura. A facilidade com que esta bactéria pode ser transformada e manipulada geneticamente são fatores que tornam E. coli uma das melhores opções de escolha para propagação, caracterização de DNA recombinante e produção de proteínas heterólogas. Nos últimos 60 anos, esta bactéria tem sido objeto de estudo das mais diversas áreas, o que tornou a E. coli o organismo mais conhecido na face da terra. Uma grande variedade de mutantes de E. coli já foi isolado e caracterizado. Quase todas as linhagens, utilizadas nos experimentos de DNA recombinante, são originárias de uma única linhagem: E. coli K-12, isolada de fezes de um paciente com difteria em 1922. E. coli é um micro-organismo modelo extensivamente utilizado em biologia molecular e biotecnologia, pois possui um estrutura relativamente simples, é de fácil manipulação e é cultivada com facilidade em laboratório, possui pouquíssimos genes (quando comparado a outros organismos), seu genoma é composto por aproximadamente 4,6 milhões de pares de bases e inclui mais de 4000 genes codificantes para proteínas. Sua capacidade de atingir uma alta densidade celular, em um espaço de tempo relativamente curto, a torna altamente eficiente na produção de proteínas recombinantes, permitindo a obtenção de até 50% do total de proteínas celular. A genética de E. coli é a mais conhecida entre os demais micro-organismos, assim como os processos de transcrição e tradução. O domínio da genética e da fisiologia de E. coli, em conjunto com a grande disponibilidade de ferramentas de melhoramento genético, torna esta bactéria um dos organismos mais promissores na produção de proteínas heterólogas. Seu genoma pode ser modificado com facilidade e precisão, é relativamente fácil ter controle sob o promotor, o número de cópias do plasmídeo pode ser facilmente alterado, além de sobreviver em diferentes condições ambientais (aeróbico ou anaeróbico). Todas estas características tornam E. coli o organismo mais utilizado na produção de proteínas recombinantes. 18 UNIDADE I │ CLONAGEM MOLECULAR E. coli é um excelente sistema para expressão de proteínas não glicosiladas, entretanto nem todos os genes podem ser expressos eficientemente neste organismo. O fato deve-se a algumas características estruturais sutis da sequência gênica, à estabilidade e à eficiência translacional do mRNA, à facilidade de enovelamento da proteína recombinante, à degradação da proteína(devido à presença de determinadas proteases celulares), a diferenças marcantes entre os códons utilizados pelo gene exógeno e os preferenciais de E. coli e o risco em potencial de toxidade da proteína recombinante para a célula hospedeira. Atualmente, um planejamento cuidadoso de sistemas de expressão pode minimizar as dificuldades listadas acima. Todavia, os pontos mais problemáticos da utilização de E. coli para algumas proteínas de eucariotos são a faltada capacidade em realizar modificações pós- traducionais, a falta de um mecanismo eficiente para a liberação dos produtos recombinantes no meio de cultura e a limitação na capacidade de facilitar a formação de ligações dissulfeto. Atualmente, inúmeras linhagens de E. coli estão disponíveis para a produção de proteínas recombinantes, mas as mais utilizadas são a BL21 e K-12 e seus derivados (Quadro 2). E. coli BL21 é uma linhagem robusta apresentando um bom crescimento até mesmo em meio mínimo. Esta linhagem é deficiente nas proteases ompT e lon, proteases que podem interferir no isolamento da proteína recombinante intacta. Há vários derivados de BL21, incluindo a linhagem mutante recA, utilizada para estabilizar plasmídeos alvos que possuem sequências repetitivas (Novagen BLR strain). Mutantes trxB/gor são utilizados para facilitar a formação de ligação dissulfeto de proteínas recombinantes expressas no citoplasma (Novagen Origami and AD494 strains). Mutantes lacY permitem o ajuste dos níveis de expressão proteico (Novagen Tuner series) e facilitam a expressão solúvel de proteínas que são propensas a irem para corpos de inclusão e proteínas de membrana (Avidis C41(DE3) and C43(DE3) strains). Quadro 2. Algumas das linhagens de E. coli mais utilizadas para produção heteróloga de proteínas e suas características. Linhagem de E. Coli Derivado de Característica chave AD494 K-12 Mutante trxB, facilita a formação de ligação disulfeto no citoplasma; BL21 B834 Deficiente nas proteases Ion e ompT; BL21trxB BL21 Mutante trxB, facilita a formação de ligação disulfeto no citoplasma; Deficiente nas proteases Ion e ompT; BL21 CodonPlus-RIL BL21 Aumenta a expressão de proteínas eucarióticas que possuem códons raros em E. coli: AGG, AGA, AUA e CUA; Deficiente nas proteases Ion e ompT; BL21 CodonPlus-RP BL21 Aumenta a expressão de proteínas eucarióticas que possuem códons raros em E. coli: AGG, AGA e CCC; Deficiente nas proteases Ion e ompT; BLR BL21 Mutante de recA; Estabiliza repetições em tandem; Deficiente nas proteases Ion e ompT; B834 Linhagem B Auxotrófica para metionina (Met); Marcação com 35S-Met; C41 BL21 Mutante construído para expressão de proteínas de membranas; C43 BL21 Duplo mutante construído para expressão de proteínas de membranas; HMS174 K-12 Mutante recA; resistências a rifampicina (Rif) JM83 K-12 Utilizada para a secreção de proteínas recombinantes para o periplasmas; 19 CLONAGEM MOLECULAR │ UNIDADE I Origami K-12 Mutante de trxB/gor; facilita a formação de ligação dissulfeto no citoplasma; Origami B K-12 Mutante de trxB/gor; facilita a formação de ligação dissulfeto no citoplasma; Deficiente nas proteases Ion e ompT; Rosetta BL21 Aumenta a expressão de proteínas eucarióticas que possuem códons raros em E. coli: AUA, AGG, AGA, CGG, CUA, CCC e GGA; Deficiente nas proteases Ion e ompT; Rosetta-gami BL21 Aumenta a expressão de proteínas eucarióticas que possuem códons raros em E. coli: AUA, AGG, AGA, CGG, CUA, CCC e GGA; Deficiente nas proteases Ion e ompT; Mutante de trxB/gor; facilita a formação de ligação dissulfeto no citoplasma; dados retirados e modificados de Overview of bacterial expression systems for heterologous protein production: from molecular and biochemical fundamentals to commercial systems, K. terpe (2006). O índice que mede a quantidade de fezes na água, conhecido como índice de coliformes fecais, se refere exatamente a quantidade de E. coli nas amostras. Esse monitoramento garante a qualidade da água potável dos municípios. Vetores de expressão bacteriana Um vetor de expressão bacteriana bem projetado traz um conjunto de elementos gênicos otimizados: que afetam tanto os processos transcripcionais como os traducionais, que conferem resistência a um determinado antibiótico facilitando a seleção fenotípica do vetor, que possui o replicon, composto pela origem de replicação (ori) e em alguns casos elementos cis atuantes. A maioria dos plasmídeos usados em vetores de expressão de proteínas recombinantes tem a origem de replicação ColE1 e p15A. A origem de replicação é responsável por controlar o número de cópias do plasmídeo. O replicon ColE1, presente nos plasmídeos utilizados atualmente para expressão heteróloga, é derivado das famílias de plasmídeos pBR322, que permite um número de cópias entre 15 e 20, ou do PUC, que permite um número de cópias entre 500 e 700. Já o replicon p15A é derivado do pACYC184, que permite um número de cópias entre 10 e 12. Estes plasmídeos apresentam uma alta estabilidade ao serem replicados sob fortes condições seletivas, diminuindo a probabilidade de haver perda plasmidial nas células filhas. Esses vetores permitem uma rápida expressão da proteína recombinante, mas normalmente necessitam de uma pressão de seleção ativa, por exemplo, a presença de antibióticos. Dependendo da necessidade, há plasmídeos construídos para permitir um baixo número de cópias, ou ainda cassetes de expressão incorporados no cromossomo bacteriano. Diversos elementos devem estar presentes em um vetor de expressão, assim a construção deste plasmídeo deve ser cuidadosamente planejada para assegurar o melhor nível de expressão proteica. Um plasmídeo, cuja sequência apresenta elementos cis atuantes, significa que todos os genes presentes neste plasmídeo não têm qualquer influência sob outras moléculas de DNA. Genes capazes de gerar qualquer efeito em outras moléculas de DNA são ditos como moléculas trans atuantes. 20 UNIDADE I │ CLONAGEM MOLECULAR Os elementos e a configuração de um vetor de expressão para E. coli estão esquematizados na Figura 4. O promotor deve ficar posicionado em aproximadamente 10 a 100 pares de base (pb) upstream, ou seja, acima do sítio de ligação ao ribossomo (RBS, do inglês ribosome-binding site) e sob o controle de um gene regulador, que pode estar presente no vetor ou integrado no cromossomo da célula hospedeira. Os promotores de E. coli são formados por uma sequências de seis nucleotídeos localizados em cerca de 35pb upstream, ou seja, 35pb acima do sítio de iniciação da transcrição (região 235), separado por uma pequena sequências de hexanucleotídeos (região 210). Existem vários promotores disponíveis para expressão de um gene em E. coli, incluindo aqueles derivados de bactérias gram-negativas e de bacteriófagos. As características gerais que um promotor são: » deve ser um promotor forte; » deve apresentar um baixo nível de expressão basal, ou seja, deve ser altamente regulado; » deve ser de fácil transferência para outra linhagem de E. coli, o que permite testar diferentes linhagens para otimização do rendimento proteico; » deve ser de fácil indução e preferencialmente barato. O sítio de ligação ao ribossomo (RBS), compreende uma região de 54 nucleotídeos ligados a posição 235 e 119/122 das sequências codificante para o mRNA. A sequências de Shine-Dalgarno (SD) interage com o final 3’ do rRNA 16S durante o inicio da tradução. A distância entre a sequências de SD e o códon de iniciação é de cerca de 5 a 12 bases, e a sequências desta região preferencialmente deve ser otimizada para eliminar a probabilidade de formação de estrutura secundária no transcrito de mRNA, fato que pode reduzir a eficiência do inicio da tradução. Ambas as regiões 5’ e 3’ do RBS exibem uma certa preferência por um alto teor de adenina. O terminador da transcrição está localizado logo após a sequência do gene de interesse e tem dupla função, a de terminar a transcrição e a de atuar também como um elemento de proteção do mRNA contra degradação exonucleolítica. Além destes elementos que tem um impacto direto na eficiência da expressão gênica, esses vetores de expressão devem possuir um gene que confere resistência a um antibiótico, permitindo a seleção e propagaçãoplasmidial. Geralmente, a ampicilina é bastante utilizada para este fim, entretanto na produção de proteínas terapêuticas frequentemente é necessário utilizar outros marcadores de seleção para evitar prováveis reações alérgicas em humanos. E por fim, o número de cópias plasmidial, determinado pela origem de replicação, em alguns casos a utilização dos replicons, resulta em uma amplificação plasmidial massiva em conjunto com altos rendimentos de plasmídeos codificantes para o produto recombinante. A eficiência final da expressão protéica depende de vários fatores como: dosagem gênica, presença de um promotor forte, estabilidade do mRNA e eficiência do início da tradução, fatores que veremos mais detalhadamente abaixo. 21 CLONAGEM MOLECULAR │ UNIDADE I Figura. 4 Representação esquemática dos elementos essenciais de um vetor de expressão bacteriana. A) Arquitetura básica de um vetor de expressão em E. coli. B) Representação mais detalhada dos elementos essenciais do vetor. O promotor tac (p) formado pelas sequências -31 e -10, separadas por espaçador de 17 bases. A seta indica a direção da transcrição. O sítio de ligação ao ribossomo (RBs) é formado pelas sequências shine-dalgarno (sd), seguido por um espaço traducional rico em At que possui um comprimento otimizado de aproximadamente oito bases. A sequências de sd interagem com 3’ do RNA ribossomal 16s durante o inicio da tradução. Os três códons de iniciação estão mostrados junto com a frequência de utilização em E. coli. dos três códons de terminação, UAA seguido por U é a sequências de terminação mais eficiente em E. coli. O repressor é codificado por um gene regulatório (R) que modula a atividade do promotor, e que pode estar presente no vetor ou ainda integrado no cromossomo da célula hospedeira. O terminador da transcrição (tt) atua na estabilização do mRNA de do vetor, um gene de resistência a antibiótico (exemplo, tetraciclina) que facilita a seleção fenotípica do vetor, a origem de replicação (Ori) que determina o número de cópias do vetor. Figura A retirada e modificada de <http://homepage.univie.ac.at/nikos.pinotsis/webpp/genetoprotein/clo_vector/Ecoli_vector- features.html>. Figura B retirada e modificada de Stratégies for efficient production of heterologous proteins in Escherichia coli, s. Jana . J. K. deb (2005). 22 CAPítulo 2 Clonagem molecular Antes de iniciarmos este capítulo, vamos definir o que é clonagem molecular: é todo o processo de construção de moléculas de DNA recombinante, que, basicamente, compreende duas etapas: 1. O fragmento de DNA de interesse, chamado de inserto, é ligado à outra molécula de DNA (vetor de clonagem), gerando a molécula de DNA recombinante; 2. O DNA recombinante é propagado em uma célula hospedeira. Clonagem molecular também é conhecida como: 3. engenharia genética; 4. manipulação gênica; 5. clonagem gênica; 6. tecnologia do DNA recombinante. Até o momento, tivemos uma visão geral das descobertas que resultaram na consolidação da Biologia Molecular como uma área das ciências biológicas. Vimos também a importância da descoberta do DNA como transmissor da informação gênica. Conhecemos as principais técnicas que permitem a manipulação do DNA. Com todo esse conhecimento que foi passado até agora, já podemos vestir nosso jaleco e adentrarmos em um laboratório de biologia molecular, pois nesse momento, começaremos a por em prática os ensinamentos aqui expostos. Sintam-se em um laboratório, pois seguiremos um roteiro de clonagem molecular com a finalidade de obter uma molécula de DNA recombinante. Inicialmente, iremos fazer algumas considerações pertinentes ao processo de clonagem molecular. Antes de iniciarmos a clonagem de um gene temos que saber qual será a fonte para obtermos o DNA de interesse em quantidade suficiente para manipulá-lo. Para este fim, precisamos de informações sobre este gene, como: 1. sequência de nucleotídeos, que nos permitirá obter os oligonucleotídeos que delimitará a sequência de interesse; 2. organismo de origem, se é eucarioto ou procarioto; 3. se for procarioto poderemos isolar o gene por PCR, a partir do DNA da fonte; 4. se for eucarioto poderemos isolar por PCR, se nos for dado como fonte cDNAs, mas teremos que isolar por RT-PCR se a fonte for mRNA; 5. de acordo com as análises a serem realizadas, determinar qual vetor de clonagem que será usado. Geralmente, genes específicos são isolados para serem expressos em uma célula hospedeira com a finalidade do produto proteico ser caracterizado. 23 CLONAGEM MOLECULAR │ UNIDADE I roteiro para clonagem molecular Objetivo: Adentramos como estagiários em um laboratório que tem como linha de pesquisa o estudo de genes que possam estar relacionados com doenças neurodegenerativas. O chefe do laboratório, Dr. X deu- nos a incumbência de clonar o gene que codifica a proteína humana Septina 3 (SEPT3) em um plasmídeo de expressão em bactéria, pois há informações na literatura que relacionam esta proteína com o mal de Alzheimer. Dr. X deu- nos uma biblioteca de cDNA (nada mais é que uma coleção de diferentes cDNAs) como fonte para a obtenção do DNA e os oligonucleotídeos que delimitam a sequência de interesse e contém sequências adicionais para as enzimas de restrição BamHI em um oligonucleotídeos e XhoI no outro. O plasmídeo de clonagem será o pET28a (Figura 5) comercializado pela empresa Novagen. Mais algumas informações nos foram passadas, como a sequência de SEPT5 que está depositada no Gene Bank sob o número de acesso NM_019106.4 e que possui 1014 nucleotídeos (Figura 6). Figura 5. plasmídeo de expressão em bactéria pEt28a. O Box é um zoom de algumas partes do plasmídeo. As setas numeradas indicam: 1, MsC; 2: sequência do gene que confere resistência ao antibiótico canamicina (Kan).3: Origem de replicação (Ori); 4: Região promotora (t7 promoter); 5: RBs; 6: sequência que codifica para seis resíduos de histidina que ficará fusionada ao gene de interesse. Figura adaptada do site: <http://www.genomex.com/vector_maps/ pEt28_map.pdf>, retirada em:17/9/2011. 24 UNIDADE I │ CLONAGEM MOLECULAR Figura 6. sequência de nucleotídeos que codifica a proteína sEpt3. Em negrito e sublinhado estão os três nucleotídeos que iniciam e os que finalizam a sequência de sEpt3. Em negrito, a região de pareamento dos oligonucleotídeos e em letra maiúscula as sequências adicionais dos oligonucleotídeos que codificam a enzima BamHI (GGAtCC) e XhoI (CtCGAG). Fonte: Gene Bank sob o número de acesso NM_019106.4. Vamos às etapas do procedimento, aproveitando para consolidar os conhecimentos já adquiridos até o momento: 1. Amplificação do fragmento de DNA por PCR, utilizando os oligonucleotídeos e a biblioteca de cDNA como DNA molde. Ou seja, vamos agora obter o inserto de DNA que codifica a proteína SEPT3. Após a realização da PCR, precisamos confirmar se a reação foi realizada com sucesso. Como podemos analisar o resultado? Utilizaremos a técnica de eletroforese em gel de agarose, no qual aplicaremos uma pequena amostra da PCR. Confirmação: por análise da reação em eletroforese em gel de agarose (Figura 7). Figura 7. Confirmação da amplificação de sEpt3. 1: Corresponde ao padrão de fragmentos de dNA de tamanhos conhecidos. 2: produto da pCR, conforme o tamanho esperado, próximo a 1000 pares de bases (pb). 2. Agora que temos o inserto, precisamos prepará-lo junto com o vetor de clonagem para que eles fiquem adequados para serem unidos. 25 CLONAGEM MOLECULAR │ UNIDADE I Como vimos, o Dr. X nos deu os oligonucleotídeos contendo as sequências de reconhecimento para as enzimas de restrição BamHI e XhoI. Sendo assim, após a amplificação do fragmento, este deve ser digerido com estas enzimas juntamente com o plasmídeo pET28a para queambos tenham extremidades complementares para a reação de ligação (Figura 8). Figura 8. Clivagem do pEt28a e do produto amplificado com as enzimas BamHI e XhoI. 3. No próximo passo, realizaremos a ligação entre o inserto e o plasmídeo. Lembrando que para este fim utilizaremos a enzima T4 DNA ligase. Após a ligação, o plasmídeo retorna a sua condição circular, só que agora carregando o gene de interesse (Figura 9). Figura 9. Reação de ligação originando um dNA recombinante. 26 UNIDADE I │ CLONAGEM MOLECULAR 4. Montamos nosso DNA recombinante, mas ainda precisamos propagá-lo em bactéria para que, assim, possamos obtê-lo em quantidades suficientes para futuras análises. Além disso, precisamos confirmar se a ligação do fragmento ao plasmídeo ocorreu como esperado. Nesta etapa, realizaremos a transformação da bactéria Escherichia coli com o plasmídeo recombinante. As bactérias que carregam o DNA recombinante (bactérias transformantes) serão selecionadas por resistência ao antibiótico canamicina, conferida pelo plasmídeo pET28a (Figura 10). Figura 10. Resultado da transformação da bactéria com o dNA recombinante. (A) placa controle: transformação realizada com água no lugar do dNA, neste caso não cresce bactérias no meio contendo antibiótico. (B) transformação com o dNA recombinante, os pontos brancos representam as colônias de bactérias resistentes ao antibiótico canamicina. 5. Tudo indica que conseguimos propagar nosso DNA na bactéria. Mas, para termos certeza, precisamos extrair o DNA plasmidial da bactéria. Para realizamos este procedimento, colocamos as bactérias para crescer em meio líquido e deixamos que elas se multipliquem por aproximadamente 14 horas. Desta forma, teremos uma quantidade de células suficiente para extrairmos o DNA. Um das vantagens em utilizar bactérias como células hospedeiras para propagação de DNA é o fato de o ciclo de vida delas ser curto, aproximadamente 20 minutos. Logo, após 14 horas de crescimento a quantidade de célula é muito superior em relação à quantidade inicial. Já temos o DNA recombinante em quantidade suficiente para ser analisado, então agora partiremos para confirmar a clonagem, ou seja, confirmar que este DNA que extraímos é formado pelo plasmídeo pET28a + SEPT3. Para fazer a confirmação, utilizaremos duas técnicas, digestão com enzima de restrição e sequênciamento de DNA: Clivagem do DNA extraído da bactéria com as enzimas BamHI e XhoI, as mesmas que nós utilizamos para preparar o plasmídeo e o inserto. Quando os DNAs foram unidos pela ação da ligase os sítios das enzimas de restrição foram restituídos, logo ficando disponíveis para serem reconhecidos e clivados pelas respectivas enzimas. Vamos então realizar a eletroforese em gel de agarose para analisarmos o resultado esperado para esta clivagem (Figura 11). 27 CLONAGEM MOLECULAR │ UNIDADE I 6. Figura 11. Confirmação da inserção de sEpt3 no plasmídeo pEt28a. 1, 2, 3, correspondem aos dNAs extraídos de 3 colônias de bactérias transformantes. M corresponde aos fragmentos de dNA de tamanho conhecido, marcador de pares de bases. As setas indicam as bandas correspondentes ao plasmídeo pEt28a (aproximadamente 5.400 pb) e ao inserto sEpt3 (1014 pb). Como desejávamos, o inserto foi inserido dentro do plasmídeo e isso é confirmado pela presença dos fragmentos de DNA no gel correspondente ao pET28a e o inserto após a ação das enzimas de restrição. Quando realizamos este tipo de análise, dizemos que estamos avaliando o padrão de restrição do DNA. Como nós isolamos nosso gene de uma biblioteca de cDNA, ou seja, de uma mistura de cDNAs, é importante que nós confirmemos que a sequência do fragmento de DNA amplificado corresponde a SEPT3. Então, como segunda estratégia de confirmação da clonagem nós vamos sequênciar o DNA recombinante. Geralmente, nos laboratórios que possuem o equipamento sequênciador de DNA automático, há uma pessoa responsável por manuseá-lo. Logo, nós passamos o nosso DNA e o oligonucleotídeo para esta pessoa e ela nos dará o resultado do sequênciamento. E agora, como vamos saber se a sequência corresponde a SEPT3? Para isto fazemos o uso de ferramentas da bioinformática que estão disponíveis na web. Além das ferramentas que estão disponíveis no site NCBI, que já foram vistas na disciplina “Dogma Central da Biologia Molecular e Introdução à Bioinformática”, há um conjunto de ferramentas de busca de similaridade chamada BLAST, que tem por finalidade procurar similaridade entre sequências. Entre as ferramentas de busca, a que nos interessa é chamada de BLASTx. 28 UNIDADE I │ CLONAGEM MOLECULAR No BLASTx, nós colocamos uma sequência de nucleotídeo para serem analisados e o programa irá traduzir para sequência de aminoácidos, que será comparada com sequências presentes em bancos de dados de proteínas. Na Figura 12 é apresentada a página principal do site, para que todos possam acompanhar como proceder para fazer a busca com esta ferramenta da bioinformática. Figura 12. página principal da ferramenta para busca de similaridades entre sequências. BLAstx. <http://blast.ncbi.nlm.nih.gov/Blast.cgi?pROGRAM=blastx&BLAst_pROGRAMs=blastx&pAGE_ typE=Blastsearch&shOW_dEFAULts=on&LINK_LOC=blasthome>. Inserimos a sequência que recebemos após o sequênciamento no Box indicado pela seta 1 e, em seguida, clicamos no botão BLAST indicado pela seta 2. Ao chegar o resultado da busca, caminhamos pela página até identificarmos uma lista, como mostrado na Figura 13. No topo desta lista, já identificamos a septina 3, confirmando que nossa sequência corresponde à septina 3 de Homo sapiens, ou seja, humana. Clicando no ícone ao lado do nome, como indicado pela seta, teremos mais informações sobre o alinhamento das sequências. Parabéns a todos os estagiários, pois concluíram o objetivo proposto pelo Dr. X. Mas, agora vocês poderiam perguntar o que será feito com esse DNA recombinante? Como o interesse do Dr. X é caracterizar a proteína SEPT3, este DNA recombinante será introduzido em uma bactéria que contém algumas características que favorecem a expressão de genes exógenos que se encontram em um plasmídeo de expressão. Logo, a SEPT3 será expressa por estas bactérias que, em etapas seguintes, será purificada e passará por várias análises para, então, ser caracterizada estruturalmente e funcionalmente. Os procedimentos de expressão, purificação e de caracterização estrutural de proteínas serão vistos nas próximas disciplinas. 29 CLONAGEM MOLECULAR │ UNIDADE I Figura 13. Resultado da busca por similaridade de sequências com a ferramenta BLAstx. Fonte: <http://blast.ncbi.nlm.nih.gov/Blast.cgi>. <http://highered.mcgraw-hill.com/olcweb/cgi/pluginpop.cgi?it=swf::595::600:: /sites/ dl/free/0072552980/115875/micro10.swf::Steps%20in%20Cloning%20a%20Gene> <http://www.sumanasinc.com/webcontent/animations/content/plasmidcloning. html> <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK21696/> <http://www.blackwellpublishing.com/allison/docs/sample_ch8.pdf> Sistema livre de células (Cell-free systems) O sistema livre de células para síntese proteica utiliza o extrato ou lisado celular contendo toda a maquinaria de síntese proteica, e os elementos relativos que direcionam a síntese de uma proteína a partir de um DNA adicionado ou um mRNA molde (Figura 14). Em geral, extratos de qualquer célula podem ser feitos ou reconstituídos para a síntese de proteínas utilizando um DNA molde ou um mRNA molde. Por exemplo, um sistema livre de células utilizando um extrato de E. coli e um DNA plasmidial, o extrato celular deverá conter ou ser suplementado com uma RNA polimerase para transcrever o gene de interesse, os mRNAs são traduzidos por uma mistura complexa contendo ribossomos e fatores complementares de iniciação,alongamento e terminação, assim como um conjunto completo de aminoacil-tRNA sintetase e outras enzimas essenciais para síntese protéica. A presença de chaperonas moleculares, proteínas dissulfeto e peptidil-proli cis-trans isomerases, geralmente garantem que as proteínas sintetizadas serão enoveladas corretamente e estarão solúveis e ativas. Com extratos de células eucarióticas, é possível ainda programar a síntese protéica diretamente com um transcrito de mRNA que pode ser produzido diretamente a partir de produtos de PCR, e a presença de fatores responsáveis pela realização de modificações pós-traducionais asseguram que as proteínas sintetizadas, neste sistema, certamente serão biologicamente ativas. Devido à simplicidade destes sistemas, muito se tem feito para melhorar a produtividade e a eficiência. Os fatores limitantes para produção de proteínas heterólogas utilizando sistemas livres de células é o baixo rendimento do produto final, devido à ausência de uma fonte contínua de 30 UNIDADE I │ CLONAGEM MOLECULAR aminoácidos e nucleotídeo trifosfato na mistura da reação e de um sistema eficiente de regeneração de energia. Figura. 14 sistema livre de célula. Esquema representativo da síntese protéica utilizando um sistema livre de célula. Figura extraída e modificada de Advances in Escherichia coli production of therapeutic proteins, J. R swartz (2001). 31 unidAdE ii ClonAgEM rEProdutiVA E tErAPêutiCA CAPítulo 1 Clonagem reprodutiva: o caso da ovelha dolly Um clone é definido como uma população de moléculas, células ou organismos que se originaram de uma única célula e que são idênticas à matriz original. A clonagem é um mecanismo comum de propagação da espécie em plantas ou bactérias. Em humanos, os clones naturais são os gêmeos idênticos que se originam da divisão de um óvulo fertilizado. Dolly foi a demonstração, pela primeira vez, de que era possível clonar um mamífero, isto é, produzir uma cópia geneticamente idêntica, a partir de uma célula somática diferenciada. Os criadores de Dolly, comandados pelo pesquisador Dr. Ian Wilmut, mostraram que as modificações no genoma das células somáticas não são irreversíveis, e que o DNA pode ser reprogramado. A clonagem de Dolly foi realizada com um procedimento chamado de clonagem reprodutiva, cujas etapas estão descritas abaixo (Figura 15): Figura 15. Clonagem reprodutiva – dolly. Figura adaptada do site: <http://www.ghente.org/ temas/clonagem/index_dolly.htm>, retirada em: 17/9/2011. 32 UNIDADE II │ CLONAGEM REPRODUTIVA E TERAPÊUTICA 1. Células mamárias de uma ovelha da raça Finn Dorset foram as doadoras do núcleo. Neste ponto, que está centrada a grande descoberta da ciência, células mamárias são células somáticas, ou seja, células diferenciadas, que até o momento eram conhecidas como células que não possuem a capacidade de se reprogramar e voltar aos estágios iniciais de desenvolvimento. Para que isso aconteça, é necessário que a célula volte a ter características de células embrionárias e as informações contidas no DNA deveriam ser reprogramadas. Devemos lembrar que por ser uma célula somática apenas os genes necessários para a manutenção deste tipo celular estão ativos. Esta foi a grande diferença de Dolly para os outros animais que foram clonados antes dela, no lugar de células somáticas como as mamárias utilizavam-se células embrionárias. 2. Estas células foram cultivadas, cresceram e se dividiram produzindo cópias idênticas a elas. Neste processo isolaram-se células que estivessem na fase G0 do ciclo celular, e isso foi obtido submetendo as células a uma condição com poucos nutrientes, esse estado é chamado de quiêsciencia (estado de latência no qual as células param de crescer). Estas células quiescentes foram então as doadoras do núcleo, ou seja, do material genético 3. Uma ovelha da raça Scottish Blackface foi a doadora do óvulo, cujo ovócito foi isolado e o núcleo retirado. 4. O ovócito anucleado e o núcleo da célula mamária foram então fundidos por meio de uma descarga elétrica. De alguma forma, a qual ainda não sabemos, o ovócito após a fecundação reprogramou o material genético da célula mamária, de modo a tornar todos os seus genes novamente ativos, resultando no desenvolvimento de um embrião de ovelha. As células se diferenciaram até o 6º dia, quando o embrião é chamado de blastócito. 5. Uma terceira ovelha da raça Scottish Blackface entra no cenário como uma barriga de aluguel, pois no seu útero foi colocado o blastócito. Após a gestação, esta ovelha deu origem a uma ovelha da raça Finn Dorset, idêntica a ovelha que doou o material genético. Apesar da importância desta descoberta, a criação de Dolly não foi tao bem sucedida quanto pareceu: 1. Dolly foi o único embrião que se desenvolveu após 277 tentativas de transferência do núcleo, nos quais menos de 10% resultaram em embriões e apenas um desenvolveu em um animal adulto. A eficiência do procedimento foi muita baixa. 2. A ovelha Dolly não era tão idêntica a ovelha que doou o material genético, como se esperava. 3. Dolly possuia as extremidades dos telômeros 20% menores do que dos animais de sua idade, resultando no envelhecimento precoce. 33 CLONAGEM REPRODUTIVA E TERAPÊUTICA │ UNIDADE II 4. Dolly sofria de artrite e doença pulmonar que levaram a sua morte aos 6 anos. 5. A ovelha que doou o material genético tinha seis anos, como foi observado o envelhecimento precoce em Dolly. A pergunta que ficou: essas enfermidades foram fruto do envelhecimento precoce ou consequência do estilo de vida imposto a ela? Qual a verdadeira idade da Dolly ao nascer, teria 6 anos de idade? Considerado isso, muitas perguntas surgiram sobre a possibilidade de aplicar esta tecnologia em seres humanos e em outros animais. O que esta claro hoje em dia é que a clonagem de animais, utilizando esta metodologia, na maioria das vezes é uma experiência desastrosa, pois para cada feto que se desenvolve, vários outros são gerados com anomalias. Poderia o homem já estar pensando na clonagem humana, ele está preparado para lidar com “produtos” da clonagem com anomalias? O que fazer? Na comunidade científica mundial é um consenso que não deve ser realizada clonagem reprodutiva em humanos. A clonagem de Dolly deixou claro que há muitos riscos associados a este procedimento. É importante sabermos que a clonagem para fins reprodutivos é distinta da clonagem para fins terapêuticos. Muitas pessoas confundem estes conceitos criando polêmicas em relação às pesquisas com células-tronco. Uma coisa é o homem almejar fazer cópias de si mesmo, outra coisa é usar a clonagem para produzir tecidos com a finalidade de salvar vidas. <http://www.revistapesquisa.fapesp.br/Suplemento_Clonagem.pdf> <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142004000200016&script=sci_ arttext> Quer clonar um rato, você mesmo? Acesse aqui e veja: <http://learn.genetics.utah. edu/content/tech/cloning/clickandclone> 34 CAPítulo 2 Clonagem terapêutica e as células- tronco definição e classificação de células-tronco Antes de vermos o que é a clonagem terapêutica daremos um ressumo à definição e à classificação de células-tronco e quais os seus potenciais terapêuticos. As células-tronco são células indiferenciadas. São responsáveis pela construção e regeneração dos tecidos e órgãos de um indivíduo. Para isto, precisam possuir duas propriedades distintas: 1. a habilidade de autorrenovação ; 2. a clonabilidade; 3. a capacidade de originar aos vários tipos celulares que compõem um tecido ou órgão ou indivíduo. Assim, podemos considerar que uma célula-tronco é uma entidade clonal, que pode proliferar-se indefinidamente para gerar, por um lado, cópias de si mesma e, por outro, diferenciar- se em algum(s)tipo(s) celular(es) específico(s), como precursores de células sanguíneas, células musculares ou neurônios etc. Estas propriedades podem variar entre os diversos tipos de células-tronco. Segundo o potencial diferenciador de uma célula-tronco, podemos classifica-las em três tipos (Figura 16): 4. totipotentes; 5. pluripotentes; 6. multipotentes; 7. oligopotente/bipotente; 8. nulipotentes. 35 CLONAGEM REPRODUTIVA E TERAPÊUTICA │ UNIDADE II Figura 16: Esquema representativo do potencial diferenciador e da capacidade autoreplicante de uma célula-tronco. Modificado a partir de: <http://biotecnologiapopular.webnode.com.br/células-tronco/>. 1. As células- tronco Totipotentes se encontram no zigoto recém-fecundado (mórula) e cada uma delas tem a capacidade originar: as três camadas germinativas (meso, endo e ectodermo) do indivíduo, assim também como os tecidos extra-embrionários (placenta e cordão umbilical). 2. Ja as células Pluripotentes são também de origem embrionária, porém têm capacidade limitada de gerar apenas as três camadas germinativas, não geram os extraembrionários. 3. As células Multipotentes são as células-tronco adultas, procedentes do indivíduo após nascimento e tem o seu potencial restrito ao órgão ao qual pertencem, gerando alguns tipos celulares. Podemos dizer que cada órgão do corpo possui seu próprio set de células-tronco multipotente e de fato tem sido demostrado que as células-tronco adultas podem ser usadas pelo organismo para repor tecidos. O caso mais bem conhecido de células-tronco adultas multipotentes são as células hematopoiéticas, elas já estão sendo transplantadas para medula óssea com o propósito de estimular a produção dos vários tipos de células sanguíneas. Essas células-tronco podem ser obtidas em grande quantidade do cordão umbilical, mas são difíceis de isolar e purificar. 4. As células Oligopotentes são aquelas capazes de se autoperpetuar e gerar duas ou mais linhagens celulares diferenciadas em um tecido específico. As células hematopoiéticas são um típico exemplo, já que elas podem originar células da linhagem linfoide e mieloide. Também tem sido reportado que células da córnea e glóbulo ocular contém este tipo de células-tronco as quais geram colônias únicas de células da córnea e células do tecido conjuntivo. 5. As células Unipotentes podem se autorreplicar, porém apenas geram uma linhagem específica, como a muscular, e não outra. Nos pulmões, existem os pneumocitos do tipo I, como outro exemplo. 36 UNIDADE II │ CLONAGEM REPRODUTIVA E TERAPÊUTICA Segundo a sua origem as células-tronco, são classificadas como: a. embrionárias (ESCs); b. somáticas (ou adultas MSCs); c. Induzidas (ou IPS). Células-tronco embrionárias (ESC) Essas células são encontradas no embrião e formam parte dele durante todo o desenvolvimento. Como visto acima, são pluripotentes e podem ser identificadas pela prescença de fatores de transcrição como Nanog e Oct4, fatores responsáveis de manter o estado indiferenciado e o poder autoreplicante. Podem ser isoladas e cultivadas in vitro, mas não podem sofrer modificoes genéticas anormais, sendo, portanto, importante mantê-las em crescimento como os suplementos necessários. Estas células podem ser conservadas a temperaturas inferiores a -80C e podem ser descongeladas repetidas vezes. A cultura in vitro desta células exige a presença de LIF (Cytokine leucemia inhibitory fator) , uma citosina que mantem o estado indiferenciado destas células, do contrario a células começarão a se diferenciar nas três camadas germinativas do embrião. Potencial terapêutico As ESC têm o potencial para se tornar qualquer tipo de célula no corpo, tornando-se uma promissora fonte de células para o tratamento de muitas doenças. Considerações especiais Sem drogas que suprimam o sistema imunológico, esse sistema em um paciente irá reconhecer células transplantadas como estranhas e atacá-las. As implicações éticas e legais que isto leva pode atrasar ou, mesmo impedir, futuras pesquisas. Considerações éticas Quando os cientistas isolam células-tronco embrionárias humanas (hES) no laboratório, eles destroem um embrião. Células-tronco somáticas Também chamadas células-tronco adultas ou mesenquimais (MSC) existem naturalmente em todo tecido adulto. célulaSão importantes para o crescimento, cura e substituicão de células e tecidos. Potencial terapêutico As células- tronco do sangue e medula óssea são rotineiramente utilizadas no tratamento de doenças relacionadas com o sangue. No entanto, em circunstâncias naturais, as células-tronco somáticas 37 CLONAGEM REPRODUTIVA E TERAPÊUTICA │ UNIDADE II podem tornar-se apenas um subconjunto de tipos de células relacionados. As da medula óssea, por exemplo, diferenciam-se essencialmente em células sanguíneas. Esta diferenciação parcial pode ser uma vantagem quando você quer produzir células sanguíneas, mas é uma desvantagem se você estiver interessado em produzir um tipo de células independentes. A maioria dos tipos de células- tronco somáticas não está presenteem grandes quantidades e abundâncias, são difíceis de isolar e crescer em cultura. Isolamento de alguns tipos de tecido pode causar danos consideráveis ao órgão, tal como no coração ou cérebro. As células estaminais podem ser transplantadas somáticas do doador ao paciente, mas sem as drogas que suprimem o sistema imunológico, o sistema imunológico de um paciente irá reconhecer células transplantadas como estranhas e atacá-las. Considerações especiais Terapia com células-tronco somáticas não é controversa, no entanto, está sujeita às mesmas considerações éticas que se aplicam a todos os procedimentos médicos. Considerações éticas Células tronco induzidas (iPSC, induced pluripotente stem cells) As células-tronco induzidas são células geradas a partir de células somáticas adultas que sofreram uma reprogramação genética artificial ou desdiferenciação induzida. A reversão do estado Célula Somática para o estado semelhante ao estado de célula-tronco embrionária e forcado pela expressão de poucos genes. As primeiras iPSCs produzidas em laboratório foram de origem murino, e um ano mais tarde foram as de humanos. Embora seja possível reprogramar uma célula somática para gerar uma célula tronco pluripotente, ainda não se sabe se estas celulas reprogramadas irão conter todas as características de tais células tronco, hoje todos os estudos realizados com este tipo de células apontam a este assunto. Tem sido demostrado que apesar de serem pluripotentes, estas células, muitas vezes, não se comportam de maneira idêntica a uma célula tronco embrionária. No entanto para isso, as células tronco induzidas são de extrema importância para o estudo de diversos tipos de doenças e para a descoberta de possíveis drogas terapêuticas. Potencial terapêutico Células iPS de camundongo podem se transformar em qualquer célula do corpo (ou mesmo um individuo completo). Embora seja necessária mais análise, parece ser verdade para as células iPS humanas, tornando-se uma promissora fonte de células para o tratamento de muitas doenças,uma vez que as células iPS podem ser feitas a partir de células do próprio paciente, não existe o perigo de que o sistema imunitário as rejeite. 38 UNIDADE II │ CLONAGEM REPRODUTIVA E TERAPÊUTICA Considerações especiais As células iPS são muito menos custosas do que as células- tronco embrionárias geradas por meio de clonagem terapêutica. O principal inconveniente em utilizar esse tipo de células na terapia regenerativa é que para produzi-las é necessária a introdução de genes adicionais (exemplo: por meio de transfecção viral) dentro da células. Portanto esse processo dever ser controlado cuidadosamente e muito bem entendidoantes de esta técnica ser aplicada em humanos, ja que estudos em animais têm demonstrado, em algumas ocasiões, o que esses vectores virais podem causar. Atualmente, novas pesquisas estão tentando utilizar iPSCs não induzidaos por vírus, mas, de toda forma, o fato de conseguir reprogramar uma célula somática no nosso corpo para programá-la novamente em um outro tipo de célula é um passo enorme. Se for possível usar essas células na terapia regenerativa evitaremos uma possível rejeição do transplante,pois as células seriam do próprio paciente. Considerações éticas Terapia com células iPS está sujeita às mesmas considerações éticas que se aplicam a todos os procedimentos médicos. A clonagem terapêutica tem como objetivo gerar células-tronco embrionárias in vitro com a finalidade de produzir diferentes tecidos. Este procedimento é semelhante ao utilizado para clonar a ovelha Dolly, consiste na transferência do núcleo de uma célula somática (célula diferenciada),por meio de injeção, para um ovócito sem núcleo. A diferencça está em logo que iniciada a diferenciação celular( 4 a 5 dias) as células-tronco contidas no embrião são removidas e mantidas em meio à cultura para posterior utilização com fins de pesquisa e terapêutica. Estas células são geneticamente idênticas à célula que doou o DNA, ou seja, a célula da qual o núcleo foi retirado (Figura 17). Estas células-tronco embrionárias poderiam ser introduzidas no homem para reparar danos causados, por exemplo, por doenças neurodegenerativas. Pensando mais além, elas poderiam ser induzidas a diferenciar-se formando tecidos e órgãos que poderiam ser usados em transplantes. Além disso, estas células poderiam ser aplicadas também no combaté a doenças cardiovasculares, diabetes do tipo 1, acidentes vasculares cerebrais, doenças hematológicas e em traumas na medula espinhal. Figura 17. Clonagem terapêutica para produção de células-tronco embrionárias. Figura adaptada do site: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0103-40142004000200016&script=sci_arttext>, retirada em: 17/09/2011. 39 CLONAGEM REPRODUTIVA E TERAPÊUTICA │ UNIDADE II O grande potencial deste tipo de terapia pode ser melhor compreendido se as células-tronco e os tecidos originados dela forem geneticamente idênticos ao paciente que recebê-los, pois desta forma, evitaria a rejeição. Assim, a busca desesperada de pacientes com leucemia por medula óssea poderia ser resolvida com a clonagem terapêutica, os médicos criariam medula óssea usando o núcleo de células da pele do próprio paciente. Várias questões faz a clonagem terapêutica ser um tema muito polêmico, como: 1. Após a retirada das células o embrião seria descartado. Estaria o homem eliminando uma vida para salvar outra? Algumas pessoas acreditam que uma pessoa é formada no momento que o óvulo é fertilizado, então elas consideram a clonagem terapêutica equivalente a matar uma criança deliberadamente para beneficiar outra pessoa. 2. De outro lado, fica a questão, os embriões, independente de serem usados para a retirada das células-tronco, quando não são introduzidos em um útero, são eliminados após um período nas clínicas de fertilização. Não seria mais apreciável utilizá-los para salvar vidas? 3. Podemos considerar violação da vida humana a retirada das células- tronco destes embriões que ainda são aglomerados de células? 4. Há a preocupação com o fato de que, para este tipo de pesquisa, será necessária grande quantidade de óvulos humanos. É aceitável pagar mulheres para coletar seus óvulos? Um país que proíbe pesquisas com células-tronco embrionárias está fadado ao atraso científico e até ao progresso humano. <http://www.lance-ufrj.org/viacutedeos-lance.httm> 40 unidAdE iii tErAPiA gêniCA E orgAniSMoS trAnSgêniCoS CAPítulo 1 terapia gênica A terapia gênica envolve a inserção de uma cópia de um gene terapêutico (normal) no genoma de uma pessoa para reparar o gene defeituoso. Várias doenças são causadas por genes defeituosos (com mutação), como por exemplo, fibrose cística, hemofilia, e susceptibilidade a alguns cânceres. Esta terapia tem como objetivo substituir os genes causadores destas enfermidades por um gene normal, sem mutação (Figura 18). A terapia gênica é uma forma experimental de tratamento que ainda está na sua infância, mas tem o potencial de revolucionar o tratamento de todas as doenças genéticas. A maioria dos ensaios clínicos de terapia gênica ocorre nos Estados Unidos e na Europa, tendo principalmente como foco diversos tipos de cânceres. Os desafios para desenvolver a terapia gênica são muitos, entre eles estão: 1. conhecer bem o gene defeituoso, causador da enfermidade; 2. identificar as células específicas para o tratamento; 3. ter um mecanismo eficiente de entrega do gene. 41 TERAPIA GÊNICA E ORGANISMOS TRANSGÊNICOS │ UNIDADE III Figura 18. processo básico da terapia Gênica. Extraído a partir de: <http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/plano-de-aula-biologia-terapia- genetica-relacao-genes-doencas-733518.shtml>. O ponto mais desafiador da terapia gênica é o mecanismo de entrega do gene do qual depende de vetores eficientes. O mais promissor dos vetores é o uso de vírus inofensivos que tem a maioria dos seus genes retirados. Estes vírus podem ser usados para transportar o gene até as células e expressá-lo durante seu processo de divisão, ou promover a inserção do gene na posição correta dentro do genoma da célula. Uma vez dentro da célula, os genes são “ligados” restituindo a função do gene defeituoso. A terapia gênica tem como alvo apenas células somáticas, pois estas não transmitem a informação genética para seus descendentes (filhos). Qualquer impacto da terapia gênica sobre o corpo não deve ser transmitido para os filhos, ela deve tratar o indivíduo sem alterar a herança genética para futuras gerações. Outra técnica de terapia gênica envolve o uso de células-tronco que são manipuladas em laboratório para receber o gene exógeno. Este gene ao ser expresso poderia, por exemplo, tornar estas células mais resistentes à quimioterapia. Logo, estas células poderiam ser transplantadas em um paciente, para auxiliar no tratamento quimioterápico. A terapia gênica tem alguns riscos, que conduzem às polêmicas quanto ao uso deste tipo de tratamento: 1. o sistema imunológico pode reagir ao gene exógeno; 2. o gene exógeno pode ser introduzido em lugar errado; 3. outros genes podem ser entregues acidentalmente para a célula; 4. o vírus pode infectar outras células além da célula alvo. 42 UNIDADE III │ TERAPIA GÊNICA E ORGANISMOS TRANSGÊNICOS Do mesmo modo que a clonagem terapêutica, a terapia gênica ainda necessita de muita pesquisa para mostrar o seu potencial. Ela se encontra no centro de várias discussões éticas que envolvem a manipulação de células, a transgenia, questões quanto à acessibilidade desta terapia para a população, entre outras. <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-81232002000100010&script=sci_ arttext> <http://www.biotecnologia.com.br/revista/bio12/terapia.pdf> 43 CAPítulo 2 organismos transgênicos Desde seus primórdios, o homem vem selecionado plantas e animais domesticados por meio da criação seletiva dos indivíduos, a fim de transferir os caracteres desejados. A principal limitação deste processo encontra-se na incompatibilidade sexual observada quando os organismos são geneticamente muito divergentes, o que impede a transferência de espécies cruzadas. A engenharia genética pode quebrar essa barreira, permitindo a incorporação de genes de outras espécies que de outra forma seria impossível com os métodos tradicionais de reprodução. Os organismos Transgenicos são espécies de plantas, animais, fungos ou bactérias geneticamente modificados
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