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Teorias e Técnicas Psicoterápicas Aristides Volpato Cordioli 1) Introdução Originalmente chamada de cura pela fala, a psicoterapia tem suas origens na medicina antiga, na religião, na cura pela fé e no hipnotismo. Foi, entretanto, no final do século XIX, que passou a ser usada no tratamento das assim denominadas doenças nervosas e mentais, tornando-se uma atividade médica inicialmente restrita aos psiquiatras. No decorrer do séc. XX outros profissionais passaram a exercê-la: médicos clínicos, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, entre outros, ultrapassando as fronteiras do “modelo médico”. Houve muitos modelos e métodos, inclusive antagônicos entre eles. Escolas surgiram, especialmente no pós-guerra e sociedades científicas se organizaram promovendo seus congressos, cursos e regras para a prática. Conservaram-se, contudo, na maioria das vezes, os termos relacionados com sua origem médica: paciente, diagnóstico, doença, etiologia, plano de tratamento, indicações, contra-indicações. A proliferação das teorias nem sempre foi acompanhada da correspondente preocupação em comprová-las e em avaliar a efetividade dos métodos propostos, sua efetividade, seus alcances e limites. Essa preocupação surgiu a partir da década de 1950, a partir da proposição do psicólogo inglês Eysenck de que os efeitos das psicoterapias eram devidos à simples passagem do tempo e não decorrentes das técnicas utilizadas. Na mesma época, Carl Rogers afirmava, ainda, que os efeitos da terapia não eram devidos às técnicas específicas de cada modelo e, sim, de fatores intrínsecos à relação humana que se estabelecia em qualquer terapia. Estes e outros desafios, além da competição entre os diferentes modelos, representaram um forte estímulo para a realização, a partir da década de 1960, de pesquisas de grande porte - Projeto Menninger – com a finalidade de comprovar a efetividade das diferentes modalidades de terapia. Na atualidade, há uma concordância de que boa parte dos efeitos benéficos das terapias deve-se a um conjunto de fatores, que envolvem as técnicas específicas utilizadas, próprias de cada modelo e ainda um complexo conjunto de elementos que inclui os chamados fatores não específicos. Tais fatores abrangem: o próprio contexto interpessoal da terapia; a pessoa do terapeuta e, em particular, algumas qualidades como empatia, calor humano e interesse genuíno; a qualidade da relação terapêutica (a aliança terapêutica e vínculo), além de fatores pessoais do próprio paciente, como a capacidade de vincular-se ao terapeuta, seu nível educacional, sua cultura, suas crenças, suas expectativas, sua motivação para efetuar mudanças em sua vida e a maior ou menor flexibilidade para adaptar-se a cada método específico. Na atualidade, existem mais de 250 modalidades distintas de psicoterapias, descritas em mais de 10 mil livros e trabalhos científicos, realizadas com o objetivo de compreender a natureza do processo psicoterápico e os mecanismos de mudança e de comprovar sua eficácia. Apesar de todo o esforço, evidências convergentes são escassas. A controvérsia ainda é grande. 2) O Que é Psicoterapia? Existe uma grande controvérsia sobre até que ponto a psicoterapia se distingue de outras relações humanas, nas quais uma pessoa ajuda a outra a resolver problemas pessoais. Apesar disso, há um consenso de que a psicoterapia é um método de tratamento mediante o qual um profissional treinado, valendo-se de meios psicológicos, especialmente a comunicação verbal e a relação terapêutica, realiza, deliberadamente, uma variedade de intervenções com o intuito de influenciar um cliente ou paciente, auxiliando-o a modificar problemas de natureza emocional, cognitiva e comportamental, já que ele o procurou com esta finalidade. O termo paciente está mais relacionado com o modelo médico e é usado mais em serviços de saúde. Podemos dizer, então, que psicoterapia é um tratamento primariamente interpessoal, baseado em princípios psicológicos, que envolve um profissional treinado e um paciente ou cliente portador de transtorno mental, problema ou queixa e é adaptado a cada paciente ou cliente em particular. A psicoterapia envolve, portanto, uma interação face a face. A psicoterapia distingue-se de outras modalidades de tratamento por ser muito mais uma atividade colaborativa entre o paciente e o terapeuta do que uma ação predominantemente unilateral, exercida por alguém sobre outra pessoa, como ocorre com outros tratamentos médicos (ex: cirurgia). 2. 1) Características É um método de tratamento utilizado por um profissional treinado, com o objetivo de reduzir ou remover um problema, queixa ou transtorno definido de um cliente ou paciente que deliberadamente busca ajuda. O terapeuta utiliza meios psicológicos como forma de influenciar o cliente ou paciente É realizada em um contexto primariamente interpessoal (a relação terapêutica) Utiliza a comunicação verbal como principal recurso É uma atividade eminentemente colaborativa entre paciente e terapeuta As psicoterapias distinguem-se quanto aos seus objetivos e fundamentos teóricos, bem como quanto à freqüência das sessões, ao tempo de duração, ao treinamento exigido dos terapeutas e às condições pessoais que cada método exige de seus eventuais candidatos. O termo abrange desde as psicoterapias breves de apoio ou intervenções em crise, destinadas a auxiliar o paciente a superar dificuldades momentâneas, até formas mais complexas como a psicanálise ou terapia de orientação analítica, que se propõem a modificar aspectos mais ou menos amplos da personalidade. Para as terapias psicodinâmicas, o insight é considerado o principal ingrediente terapêutico; para as terapias comportamentais, são as novas aprendizagens; para as terapias cognitivas é a correção de pensamentos ou de crenças disfuncionais; para as terapias familiares, é a mudança de fatores ambientais ou sistêmicos e, para as terapias de grupo, é o uso de fatores grupais, por exemplo. 2. 2) Elementos Comuns às Psicoterapias A psicoterapia ocorre no contexto de uma relação de confiança emocionalmente carregada em relação ao terapeuta A psicoterapia ocorre em um contexto terapêutico, no qual o paciente acredita que o terapeuta irá ajudá-lo e confia que esse objetivo irá ser alcançado Existe um racional, um esquema conceitual ou um mito que provê uma explicação plausível para o desconforto (sintoma ou problema) e um procedimento ou ritual para ajudar o paciente a resolvê-lo. 3) O Que é um Modelo de Psicoterapia Consolidado Apesar das grandes dificuldades e da confusão preponderante, alguns modelos de terapia vem se consolidando, inicialmente, através da prática clínica e, mais recentemente, pela comprovação de sua efetividade mediante a realização de pesquisas empíricas bem conduzidas. Critérios para que um modelo psicoterápico seja considerado consolidado: Deve estar embasado em uma teoria abrangente, que ofereça uma explicação coerente sobre a origem, a manutenção dos sintomas e a forma de eliminá-los. Os objetivos a que se propõe modificar devem ser claramente especificados. Devem existir evidências empíricas da efetividade da técnica proposta. Deve haver comprovação de que as mudanças observadas são decorrentes das técnicas utilizadas e não de outros fatores. Os resultados devem ser mantidos a longo prazo. Deve apresentar uma relação custo efetividade favorável na comparação com outros modelos ou alternativas de tratamento. 4) A Psicoterapia Como Arte Como atividade humana, a psicoterapia é também uma arte, na medida em que dependedas características pessoais do terapeuta, das habilidades adquiridas em prolongados treinamentos e supervisões e do tipo de par paciente-terapeuta que se estabelece em cada psicoterapia. Além do conhecimento do instrumental próprio de cada modelo, o bom senso e o timming são essenciais para o uso otimizado de tais recursos. Utilizá-los é uma arte.
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