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Transtorno_personalidade_01

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AN02FREV001/REV 4.0 
 1 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
TRANSTORNOS DA 
PERSONALIDADE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
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CURSO DE 
TRANSTORNOS DA 
PERSONALIDADE 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido 
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
 
MÓDULO I 
1 TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE 
1.1 DEFINIÇÃO 
1.2 PERSONALIDADE NORMAL X ANORMAL – TRAÇOS X TRANSTORNO 
1.3 DIAGNÓSTICO 
1.4 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS 
2 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE PARANOIDE 
2.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
2.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
 
 
MÓDULO II 
3 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE BORDERLINE 
3.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
3.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
3.2.1 Abordagens Terapêuticas 
4 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE NARCISISTA 
4.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
4.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
4.2.1 Abordagens Terapêuticas 
 
 
MÓDULO III 
5 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ANTISSOCIAL 
5.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
5.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
5.3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA 
6 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ESQUIZOIDE E ESQUIZOTÍPICA 
 
 
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6.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
6.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
6.3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA 
7 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE HISTRIÔNICA 
7.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
7.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
7.3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA 
 
 
MÓDULO IV 
8 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE DEPENDENTE 
8.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
8.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
8.3 ABORDAGENS TERAPÊUTICAS 
9 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE ESQUIVA 
9.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
9.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
9.3 ABORDAGENS TERAPÊUTICAS 
10 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE OBSESSIVO-COMPULSIVA 
10.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
10.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
10.3 ABORDAGENS TERAPÊUTICAS 
GLOSSÁRIO 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 
 
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MÓDULO I 
 
 
1 TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE 
 
 
1.1 DEFINIÇÃO 
 
 
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 
(DSM-IV), somente quando os traços de personalidade são inflexíveis, mal 
adaptativos e causam prejuízo funcional ou angústia subjetiva, é que eles 
constituem transtornos de personalidade. 
Essa definição leva-nos a pensar no que são traços de personalidade, ou 
seja, a personalidade na ausência de um transtorno. Devemos considerar que a 
palavra personalidade é muito versátil. Embora o conceito venha sendo descrito 
desde 4 a.C., é difícil defini-lo. Há, no entanto, algum consenso quanto ao seu 
significado. 
Podemos dizer que a personalidade consiste em modos de funcionamento 
psicológico arraigados, difusos, resistentes e habituais que caracterizam o estilo do 
sujeito. Trata-se de uma intrincada organização de atitudes, percepções, hábitos, 
emoções e comportamentos que definem o modo de uma pessoa relacionar-se com 
os outros e consigo mesma. Somam-se a isso os modos pelos quais a mente 
processa as informações, ou seja, suas funções sintetizadoras e integradoras, que 
incluem o reconhecimento das motivações. 
De modo análogo, o DSM-IV define traços de personalidade como “... um 
padrão persistente, e relativamente estável ao longo do tempo, no modo de pensar, agir e 
se comportar”, ou seja, padrões constantes na maneira de perceber, relacionar-se e 
pensar sobre o ambiente e si próprio, os quais são exibidos em uma ampla gama de 
contextos sociais e pessoais. 
Frequentemente, os termos caráter e temperamento são usados como 
sinônimos do termo personalidade. Cada qual tem um significado diferente. Caráter, 
 
 
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derivado da palavra grega charaxo, que significa gravar, sugere a natureza 
característica de uma pessoa. É habitualmente usado para definir os traços da 
personalidade, que são produtos dos processos evolutivos e experiências de vida. 
Por outro lado, temperamento sugere aquelas disposições com base 
biológica que colorem a personalidade. Os aspectos temperamentais são tomados 
habitualmente como características simples, não motivadas, que embora 
geneticamente determinadas não se tornam estáveis após os primeiros anos de 
vida. 
A maioria das concepções atuais considera a personalidade como fruto das 
interações dos aspectos constitucionais, das experiências evolutivas e da 
experiência de vida atual. Assim, estas definições acerca da personalidade 
englobam a noção de temperamento e caráter. 
O estudo dos transtornos da personalidade conduz a áreas nas quais a 
diferença entre saúde e doença é ambígua. A distinção entre patologia e 
normalidade é muito tênue. Devem ser considerados portadores de transtorno 
mental um sujeito arrogante e dominador, um jovem com fones de ouvido que se 
recusa a sair do quarto, uma criança que tortura animais, uma mulher que se sente 
constantemente perseguida por seu chefe? 
Em grande parte, os transtornos da personalidade são influenciados por 
normas sociais e valores pessoais. O fato de se considerar um sujeito portador de 
transtorno da personalidade depende de que seus traços de personalidade sejam 
nocivos à sociedade, ao meio em que vive, e particularmente às pessoas com quem 
mais frequentemente interage. Essas qualidades que incomodam aos outros são, 
em muitos casos, manifestadas também no relacionamento com o terapeuta. 
Deve-se, então, levar em conta a bagagem étnica, cultural e social do 
sujeito. Os transtornos da personalidade não devem ser confundidos com 
expressões típicas de cada cultura, como a expressão de hábitos, costumes, valores 
religiosos e políticos. Isso significa dizer, por exemplo, que na avaliação de uma 
pessoa de origem étnica diferente, é importante saber informações sobre a 
respectiva bagagem cultural, os hábitos e todos os valores, próprios da sua cultura. 
 
 
 
 
 
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1.2 PERSONALIDADE NORMAL X ANORMAL – TRAÇOS X TRANSTORNO 
 
 
Como entender esta diferença? Quando a personalidade deixa de ser 
normal e passa a ser anormal? Quando um traço de personalidade torna-se um 
transtorno de personalidade? Podemos pensar em algumas proposições. Temos o 
conceito estatístico ou de desvio, em que os traços que são comuns em uma 
população são considerados normalidade, enquanto os traços incomuns são 
patológicos. 
Temos também a definição de que os traços patológicos de personalidade 
são os que impedem uma resposta flexível às situações da vida, ao meio em que o 
sujeito vive. Um terceiro conceito sugere que quando uma série de traços de caráter 
anormais ou patológicos provoque um distúrbio significativo do funcionamento 
intrapsíquico e interpessoal, pode ser considerado como transtorno de 
personalidade. Vale notar que esta definição leva em consideração os conflitos 
internos, intrapsíquicos, na constituição do transtorno. 
De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10) os 
transtornos da personalidade
“compreendem diversos estados e tipos de 
comportamentos clinicamente significativos que tendem a persistir e são a 
expressão característica da maneira de viver do indivíduo e do seu modo de 
estabelecer relações consigo próprio e com os outros”. 
Os dados epidemiológicos sugerem que aproximadamente 10 a 13% da 
população em geral possuem transtornos da personalidade. Estes números tornam-
se maiores em classes socioeconômicas mais baixas e em comunidades 
desfavorecidas. 
Os transtornos da personalidade são dispendiosos para a sociedade. Há 
relações claras entre transtornos da personalidade e crime, alcoolismo e abuso de 
drogas. São comuns em homicidas, incluindo os infanticidas, os filicidas e os 
matricidas. Temos taxas aumentadas de morte por suicídio, tentativas de suicídio, 
acidentes e internações. 
Geralmente um transtorno da personalidade pode ser identificado durante a 
adolescência ou começo da idade adulta. Os traços são frequentemente evidentes 
na adolescência, mas podem remontar à infância. 
 
 
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1.3 DIAGNÓSTICO 
 
 
De acordo com o DSM IV, a característica essencial do transtorno de 
personalidade é um padrão persistente e duradouro de vivência íntima que se desvia 
de forma marcante das expectativas da cultura do sujeito. A avaliação deve incluir 
aspectos múltiplos de experiência e comportamento, tais como afetos, cognição, 
experiência psíquica e relacionamentos interpessoais. 
Para se diagnosticar um transtorno, deve-se investigar se seus traços estão 
presentes em uma ampla gama de situações, angustiantes ou prejudiciais, de início 
precoce e persistente. Fica a questão: como executar um diagnóstico com 
segurança? 
As entrevistas clínicas são a base do diagnóstico destes transtornos. Para 
tal, o profissional tem que estar familiarizado com os princípios psicodinâmicos da 
entrevista. Isto significa dizer que o profissional precisa saber identificar os 
mecanismos de defesa, transferência, contratransferência, entre outros, que surgem 
durante a entrevista. 
Esta técnica tem suas limitações. Nem todos os transtornos podem ser 
avaliados e, muitas vezes, o profissional não possui conhecimento necessário para 
trabalhar com esta abordagem. Outro recurso são as entrevistas semiestruturadas e 
instrumentos autodescritivos. Esses asseguram um delineamento sistemático de 
cada transtorno. Muitos destes instrumentos são relativamente fáceis de administrar, 
sendo muito úteis quando combinados com a entrevista aberta, na qual o 
profissional pode investigar melhor as contradições e ambiguidades. 
Mesmo que esses instrumentos possam ajudar no processo diagnóstico e 
superar alguns problemas de uma entrevista aberta, deve-se ter em mente suas 
limitações. Como diferenciar transtornos da personalidade de traços de 
personalidade normais? Como executar o processo com segurança? A fronteira é 
frequentemente imprecisa. 
 
 
 
 
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1.4 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS 
 
 
O DSM IV classifica como transtornos de personalidade: 
 
Transtorno de Personalidade Paranoide - o sujeito mantém um 
comportamento de desconfiança e suspeitas, de modo que as intenções das 
pessoas são interpretadas como maldosas. 
Transtorno de Personalidade Esquizoide - o sujeito mantém um 
distanciamento dos relacionamentos sociais, com pouca expressão emocional. 
Transtorno de Personalidade Esquizotípica - o sujeito manifesta um 
desconforto agudo em relacionamentos íntimos, distorções cognitivas ou da 
percepção e comportamento excêntrico. 
Transtorno de Personalidade Antissocial – o sujeito apresenta 
desconsideração e violação dos direitos alheios. 
Transtorno de Personalidade Boderline – o sujeito manifesta instabilidade 
nos relacionamentos interpessoais, autoimagem e afetos, bem como grande 
impulsividade. 
Transtorno de Personalidade Histriônica – o sujeito mostra excessiva 
emotividade e busca de atenção. 
Transtorno de Personalidade Narcisista – o sujeito apresenta uma 
necessidade por admiração, um sentimento de grandiosidade e falta de empatia. 
Transtorno de Personalidade Esquiva - o sujeito apresenta inibição social, 
sentimentos de inadequação e hipersensibilidade a avaliações negativas. 
Transtorno de Personalidade Dependente – o sujeita mostra um 
comportamento submisso e aderente, que está relacionado a uma necessidade de 
proteção e cuidados. 
Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva – o sujeito 
apresenta uma preocupação constante com organização, perfeccionismo e controle. 
 
 
 
 
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FONTE: DSM IV 
 
 
 
 
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DO DSM IV PARA TRANSTORNO DE 
PERSONALIDADE 
 
A. Um padrão persistente de vivência ou comportamento que se desvia 
acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo. Este padrão 
manifesta-se em duas ou mais das seguintes áreas: 
- cognição (modo de perceber e interpretar a si mesmo, outras pessoas e 
eventos); 
- afetividade (variação, intensidade, labilidade e adequação da resposta 
emocional); 
 - funcionamento interpessoal; 
 - controle dos impulsos. 
B. O padrão persistente é inflexível e abrange uma ampla faixa de situações 
sociais e pessoais. 
C. O padrão persistente provoca sofrimento clinicamente significativo ou 
prejuízo no funcionamento social, ocupacional ou em outras áreas 
importantes da vida do indivíduo. 
D. O padrão é estável e de longa duração, podendo seu início remontar à 
adolescência ou idade adulta. 
E. O padrão persistente não é mais explicado como uma manifestação ou 
consequência de outro transtorno mental. 
F. O padrão persistente não é decorrente dos efeitos fisiológicos diretos de 
uma substância (ex. droga de abuso, medicamento) ou de uma condição 
médica geral (ex. traumatismo craniano). 
 
 
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2 TRANSTORNO DA PERSONALIDADE PARANOIDE 
 
 
2.1 CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS E ASPECTOS CLÍNICOS 
 
FONTE: DSM IV 
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DO DSM IV PARA TRANSTORNO DE 
PERSONALIDADE PARANOIDE 
 
A. Um padrão global de desconfiança e suspeitas em relação aos outros, de 
modo que nas intenções são interpretados como maldosos; manifesta-se 
no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos, 
indicado por, no mínimo, quatro dos seguintes critérios: 
(1) Suspeita, sem fundamento suficiente, de estar sendo explorado, 
maltratado ou enganado por terceiros. 
(2) Preocupação com dúvidas infundadas acerca da lealdade ou 
confiabilidade de amigos ou colegas. 
(3) Relutância em confiar em outros por um medo infundado de que 
essas informações possam ser maldosamente usadas contra si. 
(4) Interpretação de significados ocultos, de caráter humilhante ou 
ameaçador em observações ou acontecimentos benignos. 
(5) Armazenamento de rancores persistentes, ou seja, é implacável com 
insultos, injúrias ou deslizes. 
(6) Percepção de ataques ao seu caráter ou reputação que não são 
visíveis pelos outros e reage rapidamente com raiva ou contra-
ataque. 
(7) Suspeitas recorrentes, sem justificativa, quanto à fidelidade do 
cônjuge ou parceiro sexual. 
B. Não ocorre exclusivamente durante o curso da esquizofrenia, transtorno de 
humor com características psicóticas ou outro transtorno psicótico, nem é 
decorrente dos efeitos fisiológicos diretos de uma condição médica geral. 
 
 
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O transtorno de personalidade paranoide é uma entidade patológica distinta, 
independente de fatores culturais e não é um estado transitório. Envolve um estilo 
global de pensar, sentir e relacionar-se com os outros,
excessivamente rígido e 
imutável. Estas pessoas apresentam suspeitas frequentes, sem base sustentável de 
que os outros as exploram, prejudicam ou tiram vantagens delas. 
Frequentemente duvidam da lealdade ou da fidelidade de seus amigos, 
sócios e cônjuges ou parceiros sexuais. Temem confiar em outros por medo de que 
as informações sejam usadas contra elas. Esta forma de pensamento é 
caracterizada por uma busca constante de significados ocultos, de pistas que 
revelem a “verdade” por trás das aparências. O óbvio, o aparente, simplesmente 
mascara a realidade. 
Estão constantemente em guarda, vigiando o comportamento dos outros em 
busca de evidências de trapaças, motivos ocultos. Esta busca interminável envolve 
um estado de hipervigilância. O sujeito paranoide geralmente esquadrinha o 
ambiente com bastante atenção, em busca de qualquer coisa fora do comum. 
Geralmente são rápidos em encontrar tais evidências. Um acontecimento benigno 
pode ser interpretado como ameaçador. 
O pensamento paranoide é caracterizado por falta de flexibilidade. O 
argumento mais persuasivo geralmente não terá qualquer impacto sobre as crenças 
rígidas e inabaláveis da pessoa paranoide. 
 
FIGURA 1 
 
FONTE: Disponível em: <http://imgs.sapo.pt/gfx/440808.gif>. Acesso em: 22/03/2012. 
 
 
 
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Os indivíduos com o transtorno geralmente culpam os outros por suas 
dificuldades e resistem a qualquer sugestão de sua própria culpa ou 
responsabilidade. De fato, aquelas pessoas que tentam discutir com uma pessoa 
com tal transtorno irão descobrir que simplesmente passarão a ser alvo de suspeita. 
Frequentemente sentem-se atacadas pelos outros e podem reagir 
rapidamente a estas ameaças. Devido à excessiva desconfiança e sensibilidade a 
estes supostos ataques, podem ser excessivamente propensas a discussões 
sarcásticas e queixosas ou silenciosamente hostis e distantes. Guardam rancores 
persistentes contra um suposto atacante. Elas tendem a conter a expressão de 
emoções afetuosas, têm dificuldade para relaxar e parecem tensas, sérias e 
vigilantes. 
Muitas vezes são extremamente sensíveis a temas de posição e poder e 
podem ter visões negativas e prejudiciais dos outros, tais como membros de outras 
raças. Entretanto, alguns sujeitos são capazes de manter relações com outros 
sujeitos que compartilham das suas crenças paranoides, no contexto de uma seita, 
por exemplo. 
Os portadores de transtorno da personalidade paranoide podem funcionar 
com relativa estabilidade, principalmente se seu trabalho não exigir excessiva 
cooperação com outras pessoas. Podem apresentar dificuldades com figuras de 
autoridade e em relacionamentos íntimos, o que tendem a evitar devido aos medos 
de dominação ou vulnerabilidade. Já, sob estresse extremo, podem experimentar 
um pensamento francamente paranoide. 
Tendem a ter percepções altamente precisas do seu ambiente. Entretanto, 
seu julgamento a respeito destas percepções é que está prejudicado. Assim, não é a 
realidade que é distorcida; mas, o significado da realidade aparente que é mal 
interpretado. 
 
 
2.2 COMPREENSÃO PSICODINÂMICA 
 
 
A dissociação é o mecanismo de defesa central na dinâmica do paciente 
paranoide. Este mecanismo desenvolvido por Freud e ampliado por Melanie Klein, 
 
 
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consiste em um processo inconsciente que separa ativamente sentimentos 
contraditórios. Assim, sentimentos de amor e ódio em relação ao mesmo objeto 
devem ser separados um do outro. Qualquer movimento em direção à integração 
cria uma ansiedade intolerável, que tem origem no medo de que o ódio destrua o 
amor. 
A sobrevivência emocional do paciente paranoide exige que ele dissocie 
tudo que é “mau” e projete nas figuras externas. Ele está constantemente no papel 
de vítima frente aos agressores ou perseguidores externos. 
 
 
FIGURA 2 
 
FONTE: Portal Educação. 
 
 
O mundo do paranoide é povoado de estranhos, indignos de confiança. 
Nenhum relacionamento é percebido como duradouro. O sujeito paranoide 
aproxima-se de cada relacionamento com a crença de que a outra pessoa irá 
eventualmente cometer um deslize e confirmar suas suspeitas. 
Mesmo depois de um terapeuta prestativo e estável ter trabalhado com um 
paciente paranoide por muito tempo, um pequeno desapontamento pode levá-lo a 
desconsiderar a conduta anterior do terapeuta e a sentir com total convicção de que 
o terapeuta não merece sua confiança. O terapeuta foi “desmascarado”. 
 
 
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Logo, as boas experiências com uma pessoa no passado podem ser 
totalmente anuladas pela situação presente. A baixa autoestima está na essência da 
personalidade paranoide, o que os leva a desenvolver uma sintonia aguda em 
relação a questões de hierarquia e poder. Eles têm uma grande preocupação que 
pessoas em posição de autoridade possam humilhá-los ou esperar que sejam 
submissos. 
Apresentam um medo constante de que seus relacionamentos interpessoais 
ameacem sua autonomia. Temem que qualquer pessoa que se aproxime deles 
esteja tentando secretamente assumir o controle. 
 
Abordagens terapêuticas – Os pacientes com transtorno de personalidade 
paranoide são tradicionalmente considerados resistentes à terapia. Isto pode ser 
explicado pelo fato de que estes traços perturbados estão em sintonia com o eu do 
sujeito, o que muitas vezes pode fazer com que o sujeito se apegue a eles com 
orgulho e inflexibilidade. Por exemplo, uma pessoa desconfiada pode orgulhar-se de 
estar sempre preparada, em alerta e uma pessoa indecisa pode sentir-se satisfeita 
de raramente cometer erros. 
O tratamento ameaça tornar vulnerável o indivíduo desconfiado e sujeito a 
falhas, o indeciso. Quem, voluntariamente, se submeteria a tais mudanças? 
Geralmente estes pacientes iniciam o tratamento por alguma pressão externa. Em 
função da grande dificuldade de confiar em qualquer pessoa geralmente não se dão 
bem na psicoterapia de grupo. O indicado, a princípio, é a terapia individual, apesar 
do grande desafio que representa para o terapeuta. 
O primeiro passo, na psicoterapia, é desenvolver uma aliança terapêutica. 
Este processo é dificultado pela tendência destes pacientes a evocarem respostas 
defensivas nos outros. Com o terapeuta não acontece diferente. Ao longo da 
psicoterapia, principalmente durante as fases iniciais de formação de uma aliança, o 
terapeuta deve evitar responder de forma defensiva – assim como todos os demais 
no ambiente do paciente. 
Embora os pacientes que sofram de qualquer um dos transtornos 
psiquiátricos possam tornar-se violentos, os pacientes paranoides são uma ameaça 
em especial. Para prevenir a escalada da agressão, o terapeuta deve ter em mente 
diversos princípios de manejo: 
 
 
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- Fazer todo o possível para ajudar o paciente a não se sentir humilhado. A 
essência da paranoia é a baixa autoestima, de forma que o terapeuta deve ser 
empático com a experiência do paciente e não desafiar a veracidade do que o 
paciente diz. 
- Evitar levantar mais suspeitas – Devido à desconfiança básica destes 
pacientes, todas as intervenções do terapeuta devem voltar-se para evitar qualquer 
aumento em sua paranoia. 
- Ajudar o paciente a manter um senso de controle. Os pacientes paranoides 
temem a perda do controle. Boa parte da sua ansiedade tem origem no medo de 
que os outros tentarão assumir o controle; assim qualquer coisa que o terapeuta 
possa fazer para indicar respeito pela autonomia destes pacientes irá ajudar a 
reduzir sua ansiedade. Um terapeuta que demonstre medo do paciente perder o 
controle irá apenas aumentar o medo
do paciente. 
- Sempre estimular estes pacientes a verbalizarem, em vez de violentamente 
atuarem sua raiva. Conseguir que eles falem da sua raiva o mais detalhadamente 
possível. Tentar oferecer sempre alternativas construtivas para a violência. 
Considerar as consequências lógicas de se tornar violento. O terapeuta que se sente 
ameaçado pode tentar traduzir esta ameaça em palavras. 
- Sempre oferecer aos indivíduos paranoides um ambiente bastante 
espaçoso. Seu medo de submissão passiva aos outros é aumentado pela 
proximidade física. Evitar um arranjo do espaço, das cadeiras, por exemplo, de 
forma a que eles se sintam encurralados. 
- O terapeuta tem que estar sintonizado com sua própria contratransferência 
ao lidar com pacientes que possuam um potencial violento. A negação da 
contratransferência é comum em terapeutas que trabalham com pacientes 
paranoides. Eles podem deixar de fazer importantes perguntas sobre a história, por 
medo de confirmar seus temores. Os terapeutas devem assumir seus próprios 
medos e então evitar situações de perigo. 
 
Para finalizar, temos um caso-exemplo, retirado do Manual de Psiquiatria 
Psicodinâmica (GABBARD, 1998). Trata-se dos estágios iniciais da psicoterapia de 
um paciente com transtorno de personalidade paranoide, que pode ajudar na 
compreensão dos princípios técnicos descritos neste capítulo. Os comentários entre 
 
 
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parênteses indicam a relação entre a teoria e a técnica. 
 
O Sr. EE era um contador de 42 anos quer havia ficado em auxílio 
previdenciário por um ano devido às suas constantes queixas de alergias a 
substâncias no ambiente de trabalho. Depois de receber uma promoção, ele 
mudou-se pra um novo escritório, onde subitamente percebeu o início de 
diversos sintomas físicos perturbadores, incluindo cefaleia, pensamento 
lento, aperto no peito, visão borrada, dores generalizadas, fraqueza, fadiga 
fácil e falta de motivação. O Sr. EE associou estes sintomas ao novo 
sistema de ventilação. Os sintomas começavam a se dissipar sempre que 
ele deixava o escritório e muitas vezes desapareciam, até ele ir ao médico. 
Ele passou por várias avaliações diagnósticas com diversos especialistas e 
apenas um deles pensou que houvesse alguma base orgânica para as 
queixas. O Sr. EE utilizava esta opinião isolada para justificar seu próprio 
ponto de vista. Ele foi pressionado a buscar psicoterapia pelo administrador 
de sua firma, que estava preocupado com o fato de sua incapacidade estar 
se tornando permanente. 
Nos estágios iniciais da terapia, o Sr. EE negou quaisquer problemas 
emocionais além da tensão conjugal, pela qual ele culpava sua esposa. Ele 
falou extensamente sobre seus sintomas físicos e estava convencido da 
origem física destes, independente dos achados negativos da maior parte 
dos especialistas. (O paciente se mostra totalmente impenetrável aos 
argumentos racionais dos especialistas. Ele também apresenta 
grandiosidade ao acreditar que sabe mais que os médicos.) 
Quando perguntado a respeito de seus relacionamentos interpessoais, o Sr. 
EE disse que ele e seu pai não estavam se falando, por seu pai tê-lo 
enganado em questões de negócios. Além disso, ele queixou-se de que seu 
pai era sempre mais duro com ele que com todos seus irmãos. Resumiu 
sua descrição do pai dizendo que ele era um homem injusto e que não 
merecia sua confiança. O Sr. EE continuou descrevendo sua esposa como 
enganadora. Ela o havia iludido para ter um filho, deixando de fazer a 
contracepção e ficando grávida. Ele disse nunca ter perdoado sua esposa 
por esta “armação” – oito anos antes – e disse que seu casamento havia 
sido um desastre, desde então. Disse que a única forma pela qual esta 
situação poderia se modificar seria ela tornando-se mais confiável. (O 
paciente projetou objetos maus persecutórios em figuras próximas de sua 
família e os vê como fonte de todos os seus problemas. O próprio admite 
não contribuir para estas dificuldades familiares e sugere que a única 
solução possível é a modificação dos outros e não dele.). 
 
 
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Ao longo da primeira sessão de psicoterapia, o Sr. EE escutou atentamente 
o terapeuta, constantemente solicitando mais esclarecimentos sobre os 
comentários. Ele parecia estar em busca de mensagens ocultas nas 
comunicações mais benignas. O Sr. EE também estava hipervigilante aos 
mínimos movimentos corporais do terapeuta, com frequência interpretando-
os erroneamente como indicadores de enfado ou desinteresse. Depois de 
escutar por algum tempo, o terapeuta comentou empaticamente: “Você 
deve estar se sentindo horrível. Seu chefe está no seu pescoço para que 
você faça terapia, você se sente fisicamente miserável, e sua esposa e você 
não estão se falando”. 
O paciente respondeu a este comentário empático abrindo-se um pouco 
mais, admitindo que sempre havia sido “sensível”. Ele admitiu que 
comumente se perturbava com pequenas coisas que não incomodavam as 
outras pessoas. (A validação empática que o terapeuta fez da autoestima 
ameaçada do paciente permitiu que ele se sentisse compreendido. Esta 
aliança incipiente permitiu ao paciente admitir um problema próprio pela 
primeira vez, ou seja, que ele era “sensível”.). 
O Sr. EE descreveu seu relacionamento com seu filho de forma fria, 
calculista, dizendo: “Nós estamos juntos mais que a média da população em 
geral.” (Esta descrição revela a incapacidade da personalidade paranoide 
de sentir calor emocional e ternura em relacionamentos, pois ter estes 
sentimentos o faria vulnerável à rejeição e ao ataque). O Sr EE mudou de 
assunto, passando a falar das suas preocupações em relação aos médicos 
que o haviam examinado. 
Ele expressou uma forte sensação de que todos os médicos são 
basicamente incompetentes e pareceu convencido de que um médio havia 
quase provocado nele uma hemorragia cerebral com determinada 
medicação. Descreveu três psiquiatras que o haviam examinado 
anteriormente como sendo totalmente incompetentes. A seguir, perguntou 
ao terapeuta se ele conhecia uma determinada medicação não psiquiátrica. 
Quando o terapeuta admitiu não conhecer a droga, o Sr. EE rapidamente 
respondeu que o terapeuta provavelmente era tão “charlatão” quanto os 
outros médicos. (O medo das pessoas paranoides de serem controladas, 
aliado a sentimentos de inferioridade em relacionamentos “desiguais”, com 
frequência leva à desvalorização e humilhação de outras pessoas. 
Desvalorizando o terapeuta, o Sr. EE reassegura a si próprio de que não 
tem nada a invejar e nenhuma razão para se sentir inferior.) 
Como o Sr. EE continuou a não acreditar nas opiniões dos vários 
especialistas que o haviam examinado, o terapeuta observou: “Isto deve ser 
muito desmoralizante para você”. O Sr. EE respondeu categoricamente: 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 19 
“Você está tentando me gozar!” (Aqui o terapeuta tenta empatizar 
introduzindo um novo sentimento, mas ele excedeu a capacidade do 
paciente de admitir tal sentimento. A reação do paciente teria sido mais 
positiva se o terapeuta tivesse permanecido mais próximo às palavras e 
sentimentos descritos pelo paciente.) 
À medida que o Sr. EE continuou a falar a respeito do seu estado atual, ele 
foi capaz de admitir que achava difícil ajustar-se à incapacidade e ao 
desemprego depois de estar na posição de executivo. Percebendo uma 
abertura com relação a questões de autoestima, o terapeuta observou que o 
fato de estar incapacitado de trabalhar deve ter sido um golpe. O Sr. EE 
respondeu perguntando ao terapeuta: “Você pensa que eu sou um fraco?” 
(Novamente, a capacidade do terapeuta de empatizar com a baixa 
autoestima do paciente,
em vez de torná-lo defensivo, permitiu ao Sr. EE 
revelar sua preocupação em relação à sua fraqueza e inferioridade 
subjacentes). 
 
FONTE: GABBARD. Manual de Psiquiatria Psicodinânica.Porto Alegre: Artmed, 1998. p. 282-284. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIM DO MÓDULO I

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