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Física Geral e Experimental II Hidrostática e Fluidodinâmica Material Teórico Responsáveis pelo Conteúdo: Prof. Dr. José Agostinho Gonçalves de Medeiros Prof. Eduardo Landulfo Revisão Textual: Profa. Esp. Márcia Ota. 5 · Introdução · Pressão · Variação da Pressão com a profundidade · Lei de Pascal · Medidas de Pressão · Princípio de Arquimedes · Fluidodinâmica · A equação de Bernoulli · Aplicações da Fluidodinâmica A proposta desta aula é apresentar os conceitos e as ideias relacionadas à mecânica de fluidos em repouso e em movimento. Ao fim desta aula, esperamos que seja capaz de : · Enunciar a Lei de Pascal e o princípio de Arquimedes; · Classificar o escoamento de um fluido; · Enunciar a equação de Bernoulli. A leitura do Conteúdo Teórico com atenção é essencial para compreender os conceitos apresentados. Nesta unidade, a linguagem matemática é utilizada ao longo de todo o texto; portanto, você deve se familiarizar com as principais funções matemáticas utilizadas. Os exemplos e exercícios resolvidos ajudam a consolidar os conceitos estudados. Não deixe de utilizar todos os recursos disponíveis e acessar aos links sugeridos no texto. Hidrostática e Fluidodinâmica 6 Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica Contextualização “Uma combinação de erros humanos e falhas técnicas provocou o acidente do voo AF 447 da Air France, que deixou 228 mortos em junho de 2009 ao cair no Oceano Atlântico, segundo apontou o relatório final divulgado na manhã desta quinta-feira (5), em Paris, pelo BEA (Escritório de Investigação e Análises), órgão francês encarregado das investigações. O G1 divulgou algumas das conclusões da investigação no início de junho. Os pilotos não entenderam que o avião havia entrado em situação de estol (perda de sustentação) e começado a cair por esse motivo, de acordo com o diretor do órgão, Jean Troadec. Ele afirmou ainda que, nos momentos finais, era praticamente impossível reverter a queda. “Não esperem que a gente aponte responsabilidades”, disse. O BEA divulgou uma sequência de fatores que contribuíram para a queda: primeiro, a incoerência nas informações de velocidade, devido ao congelamento dos sensores pitot, provocou a queda do piloto automático.” Fonte: http://glo.bo/LR51oD Fonte: Kolossos / Wikimedia Commons O texto acima relata um dos mais graves acidentes aéreos dos últimos anos. Talvez, para uma grande maioria dos brasileiros, tenha sido a primeira vez que tomaram contato com o termo sensores pitot. Os sensores pitot medem a velocidade do avião e possuem o seu funcionamento baseado na equação de Bernoulli. Conheça mais sobre sensores pitot em: http://culturaaeronautica.blogspot.com.br/2011/04/tubo-de-pitot-como-funciona.html São inúmeros os instrumentos que estão baseados no princípio de Arquimedes, princípio de Pascal e na equação de Bernoulli; portanto, o estudo da hidrostática e fluidodinâmica é de fundamental importância na formação dos engenheiros. 7 Introdução Um fluido é uma coleção de moléculas aleatoriamente organizadas e mantidas juntas por uma força de coesão e por forças exercidas nas paredes de um recipiente. Líquidos e Gases são fluidos. Um líquido possui volume definido, mas não tem forma definida. Além disso, um gás não tem nem volume nem forma definidos. No estudo de fluidos, a física pode observá-los quando em repouso: Fluidoestática ou em movimento: Fluidodinâmica. Figura 1 – Fluidos podem ser um gás ou um líquido. Fonte: iStock / Getty Images 8 Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica Pressão Fluido são, em geral, incompressíveis e quando submergimos um objeto em um fluido estático o mesmo tende a exercer força perpendicularmente às paredes do objeto. A pressão exercida pelo fluido é definida como a razão da força pela área do objeto: FP A = Cuja unidade vai ser 1 N/m2, denominada pascal Pa 21 1 /Pa N m= Exemplo: Um colchão d’água tem 3,00 m de comprimento por 4,00 m de largura por 30,0 cm de profundidade. A pressão do colchão cheio da água sobre o assoalho é de: (densidade d’água = 1000 kg/m3 e g= 9,8 m/s2) a) 2,94 x 104 N b) 2,94 x 105 N c) 2,94 x 103 N d) 2,94 x 102 N e) 2,94 x 10 N Resolução: O peso do colchão vai ser: A pressão é dada por: 3 335,28 10 2,94 10 3,00 4,00 FP Pa A × = = = × × 9 Variação da Pressão com a profundidade Quem já mergulhou no mar ou mesmo se projetou em uma piscina profunda percebeu que, à medida que formos para o fundo do mar ou da piscina, a pressão aumenta. Como se sabe a densidade de uma substância é a razão da massa por unidade de volume. Num fluido, em repouso, a densidade é igual em todo o líquido, isto é, o fluido é incompressível. Se selecionarmos uma amostra de líquido contida em um cilindro imaginário com área transversal A que se estenda de uma profundidade d a d + h. A diferença de pressão entre o topo do cilindro e a parte de baixo deve ser contrabalançada pelo peso do líquido contido no volume do cilindro para que o sistema se mantenha em equilíbrio. Sendo assim, temos: . .ˆ ˆ 0ˆoP A P A Mg= − − =∑F j j j Mas a massa do líquido pode ser reescrita em função da sua densidade e o volume contido no cilindro imaginário: Figura 2 Uma parcela do fluido em um volume maior. A força resultante nesta parcela deve ser zero, pois o mesmo está em equilíbrio. M Ahρ= E a relação da força acima: PA P A Ahgo− − ρ oPA P A Ahgρ− = Dividindo os dois lados por A: oP P ghρ= + A pressão P em uma profundidade h abaixo de um ponto no líquido em que a pressão for Po aumenta de ρgh. Se o líquido estiver exposto à atmosfera, a superfície do líquido estará à pressão atmosférica Patm. Normalmente, a pressão atmosférica é definida como: 51,00 1,013 10atmP atm Pa= = × 10 Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica Lei de Pascal A lei de Pascal dita que a mudança de pressão aplicada a um fluido é transmitida sem perdas para todos os pontos do fluido e para as paredes do recipiente em que ele está contido. Isso porque o fluido, sendo incompressível, faz com que qualquer mudança de pressão seja passada para todo o fluido. Essa lei tem muitas aplicações conhecidas, entre elas o macaco hidráulico. No macaco hidráulico, uma força de magnitude F1 é aplicada a um pistão de área A1, a pressão P = F1 / A1 é transmitida para uma seção maior A2 com força aplicada F2, como as pressões são iguais temos: 1 2 1 2 F FP A A = = E, assim, a relação entre F1 e F2 passa a ser: 2 2 1 1 AF F A = × Exemplo 1: Um veículo de 13300 N de peso é erguido em um posto de troca de óleo e um pequeno pistão exerce uma força em uma seção circular de 5,00 cm. A pressão é transmitida por um líquido a um pistão de 15,0 cm de raio. A pressão do ar para exercer essa força é de: a) 1,88 × 105 Pa b) 1,88 × 104 Pa c) 1,88 × 103 Pa d) 1,88 × 102 Pa e) 1,88 × 106 Pa Resolução: 2 31 1 2 2 2 (0,050) 13300 1477,78 1,48 10 (0,150) AF F N A π π = = × = ≈ × A pressão do ar vai ser: 3 51 2 1 1, 48 10 1,88 10 (0,050) FP Pa A π × = = = × Figura 3 – Esquema de um macaco hidráulico Fonte: Darbyshmr/Wikipedia Commons 11 Exemplo 2: Ao mergulharmos a uma profundidade de 5,00 m, a pressão exercida no tímpano dos nosso ouvidos é de aproximadamente (área do tímpano = 1 cm2, densidade da água = 1,00 x 103 kg/ m3, g=9,8 m/s2) : a) 1 x 104 Pa b) 2 x 104 Pa c) 3 x 104 Pa d) 4 x 104 Pa e) 5 x 104 Pa Resolução Pfundo – Po = 3 4 4. . 1,00 10 9,8 5,0 4,9 1 0 5,0 1 0g h Paρ = × × × = × ≈ × Exemplo 3: Uma comporta tem uma altura de 15 m e largura de 80 m. Considerando que a pressão varia linearmente, a força total exercida na parede é de (g=9,8 m/s2 e densidade da água =1000 kg/m3: a) 8,82 x 108 N b) 8,82 x 107 N c) 1,96 x 106 N d) 1,96 x 105 N e) 8,82 x 104 N Resolução: ( ). . . .P g h g H yρ ρ= = − ( )dF PdA g H y dyρ ω= = − ( ) 2 2 7 0 1 1 .1000.9,8.80.15 8,82 10 2 2 H F PdA g H y dy g H Nρ ω ρ ω= = − = = = ×∫ ∫ 12 Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica Medidas de Pressão Umas das informações fornecidas, em um relatório meteorológico, é a pressão barométrica, que é a pressão atmosférica em torno do valor padrão fornecido. Para se obter essa medida, utiliza-se um barômetro comum, inventado por Evangelista Torriccelli. O barômetro de Torricelli era um simples artefato que consistia numa cuba preenchida por mercúrio líquido e com um tubo de cabeça para baixo emborcado nela. A pressão na coluna de mercúrio dentro do tubo pode ser estimada, sendo que na parte de cima fechada do tubo o espaço entre o topo da coluna e o final do tubo deverá estar em vácuo, e, portanto, com pressão nula. E da altura da coluna, podemos estimar a pressão atmosférica: 5 0 0 3 1,013 10. . 0,760 760 13,6 10 9,8Hg Hg PP g h h mou mm g ρ ρ × = → = = = × × Um outro instrumento utilizado para medir a pressão de um gás contido em tubo em forma de “U” é o manômetro. O manômetro é curvado para que o gás não escape pelo tudo aberto do outro lado e conhecendo-se a densidade do líquido, que preenchemos o tubo e parte do balão, podemos saber a pressão absoluta do gás: 0 . .P P g hρ= + Ou a pressão manométrica: 0 . .P P g hρ− = 13 Princípio de Arquimedes O conhecimento das propriedades dos fluidos em repouso já eram conhecidas desde a antiguidade. Isso é natural, pois há relatos de grandes frotas navais e para a construção das mesmas era necessário um bom conhecimento de hidrostática. Na Grécia antiga, Arquimedes era um destacado “cientista” que teve várias contribuições para a matemática, física e engenharia. E a ele devemos o conceito do empuxo ou força de flutuação. Quando imergimos um corpo na água, vemos que o mesmo pode afundar ou há casos em que ele fica boiando parcialmente submerso. Sendo assim, por equilíbrio, deve haver uma força que se contraponha contra seu peso e esta força deve ser o empuxo. E pode-se deduzir que a quantidade de líquido deslocada vezes a aceleração da gravidade é igual ao peso do fluido, e igual ao empuxo. Em outras palavras, a magnitude da força de flutuação ou empuxo é igual ao peso do fluido deslocado pelo objeto. Essa afirmação é o princípio de Arquimedes. O empuxo pode ser compreendido como a diferença de pressões em um objeto na sua parte superior e inferior: E Pb Pt A g h A g Vfluido fluido= − = =( ) . . . . .ρ ρ Onde V é o volume do fluido deslocado pelo cubo. Como ρfluido.V é a massa do fluido deslocado pelo objeto, temos: .E M g= Onde M.g é o peso do fluido deslocado pelo objeto. Quando um objeto é totalmente submerso em um fluido, o empuxo sempre será para cima. E a força resultante será: . . . .fluido fluido objeto objetoE P gV gVρ ρ− = − Mas o volume deslocado de líquido é igual ao volume do objeto, portanto: ( ). . . . .fluido objeto objeto objeto fluido objeto objetoE P gV gV gVρ ρ ρ ρ− = − = − 14 Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica E aqui temos três situações: - a força resultante é para cima e o objeto retorna à superfície; – a força resultante é para baixo e o objeto afunda; – a força resultante é nula e o objeto permanece parado em equilíbrio. Quando tivermos um objeto flutuando, com uma parte submersa, em equilíbrio, teremos fluido objetoρ ρ> e as forças de empuxo e do peso do objeto se equilibram. Agora, os volumes do objeto e do fluido deslocado não são iguais, mas E - P = 0, assim: . . . . 0fluido fluido objeto objetog V gVρ ρ− = fluido objeto objeto fluido V V ρ ρ = A fração dos volumes é inversamente proporcional à razão das densidades. Figura 7 – Um objeto flutuando na superfície de um fluido sujeito a duas forças, da gravidade (Peso) e Empuxo. Como o objeto está em equilíbrio E=P. Exemplo 1: Um iceberg é uma grande ameaça à navegação, pois boa parte dele está submersa. Percentualmente, esta fração é de (densidade da água salgada = 1030 kg/m3 , densidade do gelo 917 kg/m3): a) 95 % b) 89 % c) 78 % d) 50 % e) 20% Resolução: 917 0,890 89 % 1030 água gelo gelo água V f ou V ρ ρ = = = = fluido objetoρ ρ> fluido objetoρ ρ< fluido objetoρ ρ= 15 Exemplo 2: Uma bola de ping-pongue tem 4,00 cm de diâmetro e densidade de 0,064 g/cm3, a força necessária para mantê-la submersa na água é de: a) 0,258 N b) 0,268 N c) 0,297 N d) 0,307 N e) 0,418 N Resolução: 3 3 34 4 .(2,00) 33,5103 3 3bola V r cmπ π= = = ( ) ( ) 3. 1,00 0,064 9,8 33,5103 10 0,307383 0,307 água bolaE P gV N Nρ ρ −− = − = − × × = ≈ Exemplo 3: Um cientista desenvolveu um barômetro de vinho de densidade de 984 kg/m3. A altura h do vinho à pressão atmosférica vai ser de (Patm=1,013x10 5 Pa): a) 15,5 m b) 13,5 m c) 12,5 m d) 11,5 m e) 10,5 m Resolução: 5 0 1,013 10 10,5048 1 0,5 984 9,8Vinho Ph mou m gρ × = = = × 16 Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica Exemplo 4: Para que um balão preenchido com Hélio suba 400 kg de carga até uma altura de 4000 m, deve-se preenchê-lo com um volume de: (Considere que a densidade do ar no solo seja 1,25 kg/m3 e que a densidade do ar varie com altitude segundo a equação, ρ ρ e = 0 8000 - z e que a densidade do Hélio seja 0,180 kg/m3) a) 697 m3 b) 695 m3 c) 692 m3 d) 687 m3 e) 682 m3 Resolução: Ao atingir 4000 m, o balão está em equilíbrio e as forças de empuxo do ar e o peso do balão devem se cancelar. Sendo assim: 0balão balãoE P C E P C− − = → − = . . . . .ar HeV g V g M gρ ρ− = Mas ρ ρar z e= 0 8000 - , ρ ρ ρ 0 8000 8000 e z M z He V - . V= M V(Pe - He 0 − → − =. ) Então, a 4000 m: V M e e z He = − = − = − − ρ ρ 0 8000 4000 8000 400 1 25 0 180 691 , , ,,8 6923 3m m≈ 17 Fluidodinâmica Até o momento, detemo-nos com fluidos em repouso. Ao lançarmos nossa atenção aos fluidos em movimento, podemos classificar o escoamento de um fluido de duas maneiras: laminar, onde as partículas constituintes seguissem um fluxo sem interferirem umas com as outras e um dado importante: a velocidade das partículas do fluido passando em cada ponto é a mesma com o tempo. Figura 8 – Tipos de escoamento de um fluido: Turbulento e desordenado ou Laminar e constante. Fonte: Adaptado de blog.nialbarker.com O outro tipo de escoamento é aquele em que, após ser atingida uma velocidade crítica, o fluxo deixa de ser ordenado e pequenos vórtices são formados, e, assim, denominamos escoamento turbulento. Uma grandeza importante na descrição de fluidos em movimento vai ser a viscosidade que retrata um certo grau de “atrito” interno ao fluido. Esse atrito ou força viscosa é associada à resistência entre duas camadas adjacentes no fluido em relação ao seu movimento relativo, isto é, uma camada em relação à outra. A viscosidade é responsável em transforma a energia cinética do fluido em energia interna. Fluidos, em geral, são estruturas complexas e a sua descrição e compreensão não são completas. Assim, na Física, certas considerações devem ser levadas em conta para que uma descrição das suas propriedades sejam razoáveis. Essas considerações são aproximações que levam a um modelo de escoamento de fluido ideal, que seriam: 1 O fluido é não viscoso, isto é, o atrito interno é desprezado e um objeto movendo através de um fluido não estaria sujeito a forças viscosas; 2 O escoamento é constante, ou seja, laminar e a velocidadeem todos os pontos do fluido permanece constante. 3 O fluido é incompressível, ou seja, de densidade constante. 4 O fluido é irrotacional, isto é, não tem momento angular em nenhum ponto. 18 Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica Consideremos um fluido ideal em um ducto de tamanho não uniforme. Em um intervalo de tempo ∆t , o fluido em uma extremidade do ducto move-se de 1 1x v t∆ = ∆ , se A1 é a área seccional do tubo nesta extremidade. Então, a massa do fluido contida e transportada vai ser 1 1 1 1 1m A x A v tρ ρ= ∆ = ∆ , onde ρ é densidade (constante) do fluido ideal. Figura 9 – Esquema de escoamento num tubo com variações na sua vazão. Analogamente, na outra extremidade, teremos para um mesmo intervalo de tempo a massa 2 2 2m A v tρ= ∆ , como o fluido é incompressivel e seu escoamento constante, a massa que passa por uma extremidade deve ser igual à massa que passa pela outra extremidade, isto é, m1 = m2, ou: 1 1 2 2 1 1 2 2 Av t A v t Av A v constanteρ ρ∆ = ∆ → = = Que é a equação de continuidade para fluidos. Exemplo: Uma cachoeira escoa com 600 m3/s de água de uma queda de 100 m de largura. A profundidade da água é de 2,00 m. Assim, sua velocidade é de: a) 3 m/s b) 2 m/s c) 1 m/s d) 6 m/s e) 0,3 m/s Resolução A área de escoamento vai ser A = 100 x 2 = 200 m2 A taxa de escoamento é de 600 m3/s que é igual a A x v, então: 600 600 3 / 200 v m s A = = = 19 A equação de Bernoulli Um fluido, ao escoar através de uma região em que há variações de velocidade e altitude em relação ao solo, terá variações na sua pressão, conforme as mudanças ocorrerem. O físico suíço Daniel Bernoulli foi o primeiro a considerar essa situação e em 1738, desenvolveu um equacionamento que estipulava a relação entre a velocidade de um fluido, sua pressão e altitude (elevação). Para tanto, ele considerou um segmento de um escoamento de um fluido ideal num intervalo ∆t, conforme a figura 9. As duas seções mostradas e destacadas (azul claro) nos permite calcular o trabalho realizado pelas forças F1 e F2 que são respectivamente iguais a P1A1 e P2A2 e assim: 1 1 1 1 1 1 1W F x PA x PV= ∆ = ∆ = e 2 2 2 2 2 2 2W F x P A x PV= ∆ = ∆ = E a variação de trabalho vai ser: ( )1 2W P P V= − Essa variação de trabalho será parte devido à variação de energia cinética e parte devido à variação de energia potencial: ( )2 22 112K m v v∆ = − ( )2 1U mg y y∆ = − e lembrando que podemos escrever que m = ρV e que W = ∆K + ∆U: ( ) ( ) ( )2 21 2 2 1 2 112P P V V v v V y yρ ρ− = − + − isolando os termos referentes à seção 1 e à seção 2: 2 2 1 1 1 2 2 2 1 1 2 2 P v gy P v gyρ ρ ρ ρ+ + = + + E, assim, aplicando a conservação de energia total, temos: 21 2 P v gy constanteρ ρ+ + = Que é a equação de Bernoulli. 20 Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica Exemplo 1: Um tubo de Venturi é aquele em que o fluxo de um fluido é medido. A velocidade da vazão no ponto 2 para uma diferença de pressão P1 – P2 é dada por: a) b) c) d) e) Resolução: (1) 2 21 1 1 2 2 2 1 1 2 2 P v gy P v gyρ ρ ρ ρ+ + = + + (2) 21 2 1 Av v A = substituindo (2) em (1) P A A P v 1 2 1 2 2 2 2 2 21 2 1 2 + = +ρ ρ v ( ) ( ) 1 2 2 1 2 2 1 2 2 P P v A A Aρ − = − ( ) ( ) 1 2 2 2 2 2 1 2 2 P P v A A Aρ − = − ( ) ( ) 1 2 2 1 2 2 1 2 2 P P v A A Aρ − = − ( ) ( ) 1 2 2 1 2 2 1 2 P P v A A Aρ − = − ( ) ( ) 2 1 2 2 1 2 2 1 2 P P v A A Aρ − = − ( ) ( ) 2 1 2 2 1 2 2 1 2 P P v A A Aρ − = − 21 Exemplo 2: Um tanque fechado contendo um líquido de densidade ρ possui um furo na sua lateral a uma distância y1 do fundo do tanque. O furo está aberto à atmosfera e seu diâmetro é bem menor que o diâmetro do tanque. O ar acima do nível do líquido está a uma pressão P2. A velocidade que o líquido escoa, quando deixa o furo e o nível dele estiver a uma distância h, é de: a) b) c) d) e) Resolução: Como o diâmetro do tanque é bem maior que o do furo, temos que o topo do líquido está praticamente em repouso e assim v2 = 0, aplicando à equação de Bernoulli: 2 2 1 1 1 2 2 2 1 1 2 2 P v gy P v gyρ ρ ρ ρ+ + = + + 2 1 1 1 2 2 1 2 P v gy P gyρ ρ ρ+ + = + como: 2 1− =y y h v P P gh 1 2 1 2 2= − + ( ) ρ v P P gh 1 2 1 2= − + ρ v P P ) gh1 1 2 2 2= − +( ρ v P P gh 1 2 1 2 2= − + ( ) ρ v P P gh 1 2 1 2 = − + ( ) ρ v P P gh 1 2 1 2 2= − + ( ) ρ 22 Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica Aplicações da Fluidodinâmica A fluidodinâmica apresenta muitas aplicações, das quais destacamos a aerodinâmica, que é responsável pelo estudos aeronáuticos. Figura 10 - Esquema das quatro forças da aerodinâmica, atuando na asa de um avião Fonte: Wikipedia Commons Para fazer um avião voar, deve ser gerada uma força para compensar o peso. Essa força é chamada sustentação e é gerada pelo movimento do avião através do ar. A sustentação é uma força aerodinâmica (“aero” significa ar, e “ dinâmica” significa movimento). A sustentação é perpendicular (em ângulo reto) à direção do escoamento incidente (vento). O escoamento incidente e o sentido/direção do voo não são necessariamente os mesmos, sobretudo em manobras. Assim como acontece com o peso, cada parte do avião contribui para uma única força de sustentação, mas a maior parte da sustentação do avião é gerada pelas asas. À medida que o avião se move através do ar, há uma outra força aerodinâmica presente. O ar resiste ao movimento do avião, e essa força de resistência é denominada arrasto (ou atrito). Tal como a sustentação, há muitos fatores que afetam a magnitude da força de arrasto, como a forma do avião, a viscosidade do ar e a velocidade. E tal como acontece com a sustentação, consideram-se, usualmente, todos os componentes individuais como se estivessem agregados num único valor de arrasto de todo o avião. O sentido da força de arrasto é sempre oposto ao sentido do voo e o arrasto atua através do centro de pressão. Outra aplicação, até então inusitada, é a utilização da fluidodinâmica nos esportes, como o tênis, voleibol, futebol, beisebol, etc. Todos envolvem objetos esféricos ou esferoides (bola de futebol americano) que ao se moverem no ar (ou seja num fluido), vão sofrer os mesmos efeitos de sustentação e arrasto. 23 Figura 11 – Força de arrasto atuando numa bola de futebol. Fonte: Wikipedia Commons Explore: Sugerimos aos entusiastas do esporte consultarem o artigo “A aerodinâmica da bola de futebol” por C.E. Aguiar e G. Rubini: http://www.ufv.br/des/futebol/artigos/Revista Brasileira de Ensino de Física.pdf 24 Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica Material Complementar Para complementar os conhecimentos adquiridos nesta Unidade, veja os vídeos indicados e consulte a bibliografia indicada. Vídeos: http://www.fundacaolemann.org.br/khanportugues/ciencias/� sica/� uidos https://www.youtube.com/watch?v=6-Zm044M68w http://revistaescola.abril.com.br/ciencias/pratica-pedagogica/video-ciencias-� uidos-pressao-bolha-sabao-604739.shtml Vídeo - Curso Unicamp http://univesptv.cmais.com.br/� sica-ii/� uidos Leituras: Cursos Unicamp - Física Geral II - Fluidos http://midia.cmais.com.br/assets/file/original/5e65aa10ea18e05c27b856de0beca8e62281d38f.pdf 25 Referências ALONSO, M. Física: um curso universitário. – 12a. edição – São Paulo: Edgard Blucher, 2011. HALLIDAY, D.; RESNICK, R.; WALKER, J. Fundamentos de física: gravitação, ondas e termodinâmica – 9ª. Edição - Rio de Janeiro: LTC editora, 2012. LANDULFO, E. Meio Ambiente & Física. São Paulo:Editora Senac, 2005. NUSSENZVEIG, H. M. Curso de Física básica: fluidos, oscilações e ondas, calor. 4a ed. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 2002. V. SEARS; ZEMANSKY. Física II, Termodinâmica e Ondas. – 12a. Edição – São Paulo: Addison Wesley, 2003. SERWAY, R; JEWETT Jr., J. W. Princípios de Física, Vol.2. São Paulo - THOMPSON Editora; 2004. TIPLER, P.A. Física para cientistas e engenheiros: mecânica, oscilações e ondas, termodinâmica - 4a Ed. Rio de Janeiro: LTC - Livros Técnicos e Científicos S.A., 2000. 26 Unidade: Hidrostática e Fluidodinâmica Anotações
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