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Apostila Das pessoas dos Atos e dos Fatos Jurídicos - ECO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
 DISCIPLINA: NOÇÕES DE DIREITO
			DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
 PROFª MSc. ADELINA NERES DE SOUSA CAMPOS
 ALUNO(A) _______________________________
APOSTILA DIREITO CIVIL
 Tema: DAS PESSOAS, DOS FATOS E DOS ATOS JURÍDICOS
Pessoa Natural ou Física
	Pessoal natural ou física é o ser humano, ou seja, a criatura que provenha de mulher. 
 	A personalidade civil do homem começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
	A existência da pessoa natural termina com a morte.
	Para efeitos civil, presume-se a morte em dois casos: 1º) – abertura de sucessão definitiva em processo de ausência; 2º) – indícios veementes (declarados por sentença), com morte provável de quem estava em perigo de vida (artigo 7º do CC).
	A morte presumida abre a sucessão definitiva (artigo 37 do CC) e dissolve o vínculo conjugal (artigo 1.571, parágrafo 1º, e artigo 6º, do CC).
Capacidade civil
Capacidade civil é a aptidão da pessoa física para exercer direitos e assumir obrigações. Nem todos tem capacidade plena, pois há fatos que reduzem ou anulam essa capacidade.
	A maioridade civil ocorre aos dezoito anos de idade.
	Poderá a maior idade ser declarada antes, nos seguintes casos: 1) – Emancipação, por concessão dos responsáveis; 2) – Casamento; 3) – Emprego público; 4) Colação de grau em curso superior; 5) – Aquisição de economia própria, resultante de emprego ou estabelecimento civil ou comercial.
	Relativamente incapazes (que devem ser assistidos pelos pais nos atos da vida civil) são os menores entre 16 a 18 anos, os ébrios habituais, os toxicômanos, os deficientes mentais, os excepcionais e os pródigos. Pródigo é quem esbanja desmedidamente os seus bens.
Absolutamente incapazes (que devem ser representados pelos pais, nos atos da vida civil) são os menores de 16 anos, os sem discernimento suficiente, por enfermidade ou deficiência mental, e os que não puderem exprimir a sua vontade.
A capacidade civil dos índios regula-se por lei especial.
A emancipação é dada em cartório, por instrumento público, independentemente de homologação judicial.
Direitos da Personalidade
O Código Civil protege os direitos da personalidade,
Assim entendidos os diferentes ao pronome, sobrenome, ou pseudônimo, à divulgação não autorizada de escritos ou da própria imagem, bem como, à disposição de órgãos para transplante (artigos 11 a 21 do CC).
Ausência
Considera-se ausente a pessoa que desaparece de 
seu domicílio, não havendo dela notícia. A lei dá à ausência uma solução em três etapas.
	Se o ausente não deixou representante ou procurador, será feita a arrecadação judicial de seus bens, com a nomeação de um curador, publicando-se editais sobre o fato, de dois em dois meses.
	Um ano após o primeiro edital poderá ser aberta a sucessão provisória, entretanto os herdeiros na posse dos bens, se prestarem garantia pignoratícia ou hipotecária de devolução integral, em caso de retorno do ausente.
Etapas 	1º ) arrecadação dos bens e nomeação de curador
 Da	 	2º) sucessão provisória
Ausência 	3º) sucessão definitiva
	Dez anos após a abertura da sucessão provisória (ou em 5 anos das últimas notícias, se o ausente contar 80 anos de idade), converte-se a sucessão provisória em definitiva, com o levantamento das cauções prestadas. Regressando o ausente nos dez anos seguintes a abertura da sucessão definitiva, receberá ele os bens no estado que se acharem.
	A sucessão definitiva faz presumir a morte e dissolve o vínculo conjugal.
– Morte presumida 
Independentemente do processo de ausência pode também ser presumida a morte, desde logo, de pessoa que estava em perigo de vida, com falecimento extremamente provável, ou de pessoa desaparecida na guerra, em campanha ou feita prisioneira (art. 37 do CC) e dissolve o vínculo conjugal (art. 1571, parágrafo 1º, c/c o artigo 6º, segunda parte CC).
5º Pessoa Jurídica é a entidade constituída de homens ou bens, com vida, direitos, obrigações e patrimônio próprio.
São pessoas jurídicas de direito público interno, por exemplo, a União, os Estados Membros, Distrito Federal, os Territórios, os Municípios e as Autarquias. Os estados estrangeiros constituem as chamadas pessoas jurídicas de direito público externo.
São pessoas jurídicas de direito privado as sociedades (civis e empresariais), associações e fundações, bem como, as organizações religiosas e os partidos políticos (art.44 do CC).
As sociedades e associações são organizações de pessoas reunidas intencionalmente para determinado fim, que se apresentam perante terceiros como se fosse uma pessoa só – a pessoa jurídica, que tem personalidade distinta da de seus membros.
As associações destinam-se a fins não econômicos. 
A fundação, por sua vez, é a organização de um patrimônio destacado por um instituidor com uma finalidade, a fundação pode ser criada por escritura pública ou testamento, devendo o instituidor doar os meios necessários e especificar o fim a que se destina e a maneira de administrá-la. Para muitos autores, as fundações públicas são uma espécie de autarquia.
A personalidade das pessoas jurídicas de direito privado inicia-se com o registro competente e termina com a sua dissolução.
A falta do registro competente, acarreta para a sociedade a conseqüência de ser considerada uma sociedade de fato, ou “sociedade em comum”, correspondendo os sócios solidária e ilimitadamente por todas as dívidas sociais.
As pessoas jurídicas são representadas, ativa e passivamente, nos atos judiciais e extrajudiciais, por quem os respectivos estatutos designarem, ou não o designando, pelos seus diretores.
6 - Desconsideração da pessoa jurídica
Os administradores ou sócios da pessoa jurídica poderão ser chamados a responder pessoalmente pelas dívidas destas, se a usarem para obter vantagens indevidas, em prejuízos dos credores, confundindo os patrimônios ou usando o nome social para fins alheios a sua finalidade (art. 50 do CC).
7. Domicílio
A noção de domicílio é importante para completar a qualificação de uma pessoa, e para estabelecer o lugar onde deva responder por suas obrigações. Em regra, o devedor deve ser demandado no lugar do seu domicílio.
O domicílio civil da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo (artigo 70 do CC).
Nesta definição, emprega a lei dois critérios: um critério objetivo (lugar) e o critério subjetivo ou psicológico (ânimo definitivo). Não basta portanto a simples residência temporária ou ocasional para se estabelecer o domicílio de uma pessoa.
Pode porém, a pessoa natural ter mais de um domicílio, o que ocorre quando tem duas ou mais residências, onde viva alternadamente, ou quando tem vários centros de ocupações habituais. Neste caso, qualquer destas residências ou centros de ocupações serão considerados como domicílios.
E se a pessoa não tem residência habitual e vive viajando de um lugar para outro, como os saltimbancos de circos e certos ambulantes? Neste caso o domicílio destas pessoas será o lugar onde forem encontradas (artigo 72, parágrafo único do CC).
Domicílio voluntário é aquele cuja escolha depende da vontade do indivíduo.
Domicílio legal é o estabelecimento pela lei. Por exemplo: o domicílio do funcionário público efetivo será o do lugar onde exerce as suas funções; o domicílio do filho menor será o do pai; os dos presos, onde cumpre a sentença, etc.
O domicílio ou foro de eleição é o estabelecido por convenção das partes nos contratos.
O domicílio da pessoa jurídica de direito privado será o da sua sede, mas se uma empresa tiver vários estabelecimentos em lugares diferentes, cada um será considerado domicílio para os atos nele praticados (artigo 75, parágrafo 1º, do CC).
8. Bens e sua classificação
Bens ou coisas são os elementos que podemconstituir o patrimônio de alguém.
Os bens se classificam em:
– corpóreos e incorpóreos;
– móveis e imóveis
– fungíveis e infungíveis
– consumíveis e inconsumíveis
– divisíveis e indivisíveis
– singulares e coletivos;
Principais e acessórios;
Petenças;
Públicos e particulares;
No comércio e fora do comércio (arts. 43 a 69 do CC).
Bens Corpóreos – são os bens físicos (uma mesa).
Bens Incorpóreos – são os bens abstratos (um direito).
Bens Móveis – são os suscetíveis de locomoção (uma cadeira).
Bens Semoventes – são animais; no direito os animais estão incluídos na classe dos móveis ou dos imóveis por destinação.
Bens Imóveis – são os que não podem ser trnsportados sem alteração de sua substância.
Subdividem-se em:
- Imóveis por natureza ( o solo, o subsolo, o espaço aéreo, etc.);
– imóveis por acessão: (construções, sementes lançadas a terra, etc);
– imóveis por destinação (utensílios agrícolas, animais, fazenda de porteiras fechadas, etc);
– Imóveis por disposição legal (penhor agrícola, sucessão aberta, etc);
FUNGÍVEIS – São os que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade (05 metros de tecido, 20 sacas de milho, o dinheiro, etc),
INFUNGÍVEIS – são os bens a que se atribui valor pela sua individualidade (uma tela de Portinari, a coroa de D. Pedra II, e todo e qualquer objeto que se deseja por si, sem admitir substituição).
CONSUMÍVEIS – São os que destroem à medida que vão sendo utilizados (alimentos em geral, bens de consumo). O artigo 51 do CC também considera como consumíveis os bens destinados à alienação; (neste sentido, tudo que está numa loja é consumível).
INCONSUMÍVEIS – são os bens duráveis, ou seja, as coisas destinadas para uso e não para o consumo ( um livro, uma máquina).
DIVISÍVEIS – São os que se podem partir em porções reais e distintas, formando cada qual um todo perfeito (um prédio de apartamento, um terreno).
INDIVISÍVEIS – são os que não admitem divisão (um relógio, um cavalo, etc.)
SINGULARES – São as coisas consideradas por si (um boi, um livro).
COLETIVOS – são as coisas agregadas num todo (uma boiada, uma biblioteca).
PRINCIPAIS – são os que assim se consideram em relação a outros, considerados acessórios ( a árvore, em relação ao fruto).
ACESSÓRIOS – são as coisas que se consideram decorrentes de outras, chamadas principais ( o fruto, em relação à arvore).
Entre os acessórios contam-se as benfeitorias e os frutos.
As benfeitorias se classificam em:
– necessárias (conservação);
– úteis (melhoramentos);
– voluptuárias (embelezamento);
Os frutos classificam-se em:
– naturais (frutos das árvores, crias dos animais, etc).
- Industriais (provenientes de atividades ou culturas);
– civis (rendimentos).
Públicos – são os bens do domínio nacional, pertencentes à União, aos Estados ou Municípios.
Particulares – SÃO OS BENS QUE PERTENCEM A PESOAS FÍSICAS OU PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO.
No comércio – são os bens insuscetíveis de apropriação (luz solar, ar atmosférico, etc,), e também as coisas inalienáveis, por destinação ou por lei (bem de família, imóvel gravado com inalienabilidade por cláusula testamentária, etc).
Pertenças – são bens com características próprias e individualizadas, que se juntam a outros bens, de modo duradouro, para uso, serviço ou embelezamento destes, como um ventilador dentro de um automóvel, ou flores artificiais dentro de uma casa. Parecem acessórios, mas não são, porque sua existência independe de outros bens, nem deles decorre. A rigor, poderiam ser classificados como bens acessórios acidentais. O contrato sobre o bem principal não abrange a pertença, salvo lei ou estipulação em contrário (artigo 94 do CC).
9. NEGÓCIO JURÍDICO
 Chama-se fato jurídico o acontecimento decorrente da natureza ou da ação humana, que possa interessar ao direito. A chuva, por exemplo, é um fato natural, mas se estiver relacionada com um contrato de seguro, essa mesma chuva passa a ser um fato jurídico, que interessa para determinada relação de direito.
 Se o fato decorre da ação humana, e interessar ao direito, temos o que se denomina ato jurídico.
	 O ato jurídico divide-se em duas categorias.
 A primeira classe é a do ato jurídico em sentido estrito. A lei, neste caso, delineia quase que inteiramente a forma, os termos e as decorrências ou as conseqüências do ato, restando ao agente pouca margem deliberativa. Exemplos citados são o reconhecimento de filho, ou o procedimento de interpelação judicial.
 A segunda categoria é o negócio jurídico, colocado agora em destaque no novo Código Civil.
	No negócio jurídico (que é espécie de ato jurídico), o agente tem um campo mais amplo de deliberação. Pode ele, no negócio jurídico, criar ou modificar direitos, estabelecer os termos do ato, e indicar as suas decorrências ou conseqüências, naturalmente dentro das balizas da lei. O negócio jurídico é a norma concreta estabelecida pelas partes. O negócio jurídico típico é o contrato.
	A validade do ato e do negócio jurídico requer agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável, e forma prescrita ou não proibida por lei (art. 104 do CC).
10. CONDIÇÃO, TERMO, ENCARGO
A CONDIÇÃO constitui uma cláusula, inserida no negócio jurídico, referente a evento futuro, do qual dependem os efeitos do ato. Não vale a condição deixada ao inteiro arbítrio da parte (pagarei 100, quando quiser). Tal condição invalida inclusive todo o negócio.
CONDIÇÃO RESOLUTIVA é aquela cuja ocorrência extingue o ato ou a obrigação, como no caso da propriedade fiduciária, que desaparece com o pagamento final do débito.
TERMO é o momento, ou o fato, que marca o início (termo inicial) ou o fim (termo final) de um direito, de uma obrigação, ou de um prazo. Prazo é o espaço de tempo que corre entre o termo inicial e o termo final.
ENCARGO é a imposição de fato ou tarefa acessória, exigida para se considerar válido o negócio jurídico, ou cumprida a obrigação. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo determinante da liberdade, caso em que se invalida o negócio jurídico (art. 137 do CC).
11. DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS: ERRO, DOLO, COAÇÃO, ESTADO DE PERIGO, LESÃO E FRAUDE CONTRA CREDORES.
	Os atos jurídicos podem ser anulados se forem viciados por algum dos defeitos em epígrafe (arts. 138 a 165 do CC).
ERRO – é a falsa noção sobre alguma coisa. Equivale à ignorância que é a ausência de conhecimento. Só anula o ato jurídico o erro substancial ou essencial (fazer uma doação, pensando tratar-se de venda; comprar um quadro de um pintor, pensando que é de outro). Não anula o ato erro acidental ou secundário (comprar uma casa com duas janelas de frente, pensando que tinha três).
DOLO – é o artifício empregado para enganar alguém ( não confundir com o dolo do direito penal). Não se considera dolo o simples elogio da mercadoria ou o exagero da publicidade (dolus bônus). Aqui também à semelhança do que ocorre no erro, o dolo deve ser de certa gravidade (dolus malus); a ponto de se considerar que o ato jurídico sem ele não seria praticado. O dolo sobre aspectos secundários do negócio (dolo acidental) não aluda o ato, dando direito porém a perdas e danos.
COAÇÃO – é a violência física ou moral que impede alguém de proceder livremente. Também deve ser de certa gravidade, a ponto de incutir fundando temor (artigo 151 do CC). Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor referencial (artigo 153 do CC).
ESTADO DE PERIGO – caracteriza-se quando uma pessoa assume obrigação excessivamente onerosa, para salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano, conhecido pela outra parte (artigo 156 do CC).
LESÃO – Ocorre quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta (artigo157 do CC).
FRAUDE CONTRA CREDORES – pratica fraudes contra credores o devedor insolvente, ou na iminência de o ser, que desfalca seu patrimônio, onerando ou alienando bens, subtraindo-os à garantia comum dos credores (artigos 158 a 165 do CC). Caracteriza-se também a fraude pela simulação de dívidas, pagamento de dívida não vencida, remissão de dívidas, etc., desde que estes atos acarretem ou agravem a insolvência do devedor. Tais atos fraudulentos podem ser anulados.
12. NULIDADES. Atos nulos e atos anuláveis.
A falta de algum elemento substancial do ato jurídico torna-o nulo (nulidade absoluta) ou anulável (nulidade relativa).
É nulo o ato jurídico:
I – Quando praticado por pessoa absolutamente incapaz (menores de 16 anos, loucos de todo gênero; surdos-mudos que puderem exprimir a sua vontade);
II – Quando for ilícito ou impossível ou indeterminável o seu objeto (dívidas de jogo, venda de terrenos em marte);
III – O motivo determinante comum a ambas as partes, for ilícito;
IV – Quando não revestir a forma prescrita em lei (contrato verbal de seguro);
V - Quando for preterida alguma solenidade que a lei considera essencial para a sua validade (solenidades do casamento civil);
VI – Tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VII – Quando a lei taxativamente o declarar nulo ou proibir-lhe a prática sem combinar (alguma outra) sanção (casamento contraído perante autoridade incompetente, artigo 166 do CC).
É anulável o ato jurídico (além dos casos expressos em lei): 
I – Quando praticado por pessoa relativamente incapaz (maiores de 16 e menores de 18 anos);
II – Quando viciado por erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.
A diferença entre ato nulo e ato anulável é uma diferença de grau ou de gravidade.
Da violação de preconceitos de ordem pública surge o ato nulo (nulidade absoluta), podendo esta nulidade ser argüida a qualquer tempo, por qualquer pessoa ou pelo Ministério Público. A nulidade absoluta deve ser pronunciada de ofício, pelo juiz, quando conhecer do ato ou dos seus efeitos. O ato nulo não pode ser convalidado nem ratificado.
O ato anulável (nulidade relativa), ao contrário pode ser ratificado pelas partes. Só os interessados diretos podem alegar a nulidade relativa. O Ministério Público não pode argüi-la e o juiz não pode declará-la de ofício sem provocação da parte.
Alguns doutrinadores referem-se a uma terceira categoria, a dos atos inexistentes, em que o grau de nulidade seria tão grande e tão patente, que não necessitaria ser declarado em juízo, como o casamento de pessoas do mesmo sexo ou a compra e venda em que não se tenha fixado o preço.
13. SIMULAÇÃO
No direito anterior a simulação figurava entre os atos anuláveis, como o defeito do ato jurídico (artigo 102 do CC de 1916).
No Código Civil atual a simulação torna o ato nulo (nulidade absoluta).
A simulação consiste na realização de um negócio jurídico aparente, que não corresponde à real intenção das partes. Trata-se de ação bilateral, para enganar terceiros ou contornar a lei.
Diz-se absoluta a simulação quando as partes não desejam realizar negócio algum, como na compra e venda fictícia, entre amigos, só para ludibriar credores.
A simulação relativa (também chamada simulação) ocorre quando o negócio jurídico é um disfarce, para a obtenção dos efeitos de um outro negócio, constitutivo do verdadeiro objetivo das partes. Exemplo: é uma compra e venda para disfarçar uma doação.
Excepcionalmente, poderá até subsistir o negócio jurídico desejado, se por acaso o contrato fictício contiver requisitos para tanto, de substância e de forma (artigo 167, segunda parte, e artigo 170 do CC). Hipótese, porém, de difícil alcance prático, diante da natureza da matéria.
14. ATOS ILÍCITOS E RESPONSABILIDADE CIVIL
Ato ilícito é o ato contrário ao direito, do qual resulta dano para outrem. A conseqüência do ato ilícito, na esfera civil, é obrigação de reparar o dano (responsabilidade civil).
O dano pode ser material ou moral. Dano material é o que afeta o patrimônio. Dano moral é o dano não econômico, que afeta diretamente a pessoa, física ou moralmente (em vez de “dano moral”, melhor seria dizer “dano pessoal”).
“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (artigo 186 do CC).
O abuso de direito constitui também o ato ilícito, assim entendido o seu exercício além dos limites razoáveis, econômicos, sociais, de boa-fé, ou de bons costumes (art. 187 do CC).
Deve haver um nexo causal entre a conduta do agente e o evento lesivo. Se não houver esse nexo, não haverá culpa, nem dolo, mas apenas caso fortuito ou força maior (caso fortuito é o fato imprevisível, força maior é o fato previsível, mas inevitável).
Responsabilidade objetiva. Em certos casos, a responsabilidade civil pode ser objetiva, independente de culpa, como ocorre na responsabilidade das estradas de ferro (artigo 17 do Dec. 2681/1912), ou no caso de coisas caídas de uma habilitação (artigo 938 do CC).
Pode haver compensação de culpas. Se o prejudicado também for culpado, em parte, a indenização terá redução proporcional.
15. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA.
Prazo de prescrição é o prazo dado pela lei para reclamar, em juízo ou fora dele, contra a violação de um direito (artigo 189 do CC). Prescreve, por exemplo, em três anos, a pretensão de obter ressarcimento de dano, por ato ilícito, a partir da data do fato (artigo 206, parágrafo 3º, V do CC).
Prazo de decadência é o prazo fixado pela lei, ou convenção, dentro do qual a pessoa poderá exercer um direito, uma faculdade ou uma opção (artigo 207 do CC). Decai, por exemplo, do direito de arrependimento da compra realizada o adquirente que não o exerce em 07 dias, a contar do recebimento do produto, se a encomenda foi feita por telefone (artigo 49 do CDC).
A prescrição nasce depois da violação do direito. A decadência nasce com o próprio direito. A prescrição extingue a pretensão de agir em Juízo ou fora dele contra a violação do direito. A decadência extingue o próprio direito. Os prazos de prescrição no Código Civil, estão relacionados nos artigos 205 e 206 na Parte Geral. Os prazos de decadência encontram-se esparsos, na Parte Especial, junto ao artigo a que se refere.
Os prazos de prescrição podem ser interrompidos (uma só vez), ou suspensos. Os prazos de decadência, salvo disposição em contrário, são contínuos e peremptórios, não podendo ser interrompidos e nem suspensos.
A prescrição pode ser interrompida (uma só vez), por diversos meios, como protesto judicial, a citação e outras diligências previstas no artigo 202 do CC. Interrompida a prescrição, volta ela a correr novamente, por inteiro, a partir do momento em que foi interrompida. No caso de suspensão, porém, o curso do prazo é bloqueado, por um determinado fato, voltando a correr depois por força de outro fato, apenas pelo tempo restante, não se contando o tempo em que ficou suspensa. A prescrição, por exemplo, é suspensa no tempo em que o titular do direito estiver servindo as Forças Armadas, em tempo de guerra (art. 198, III, CC).
Em certos casos a prescrição é impedida, não podendo nem começar a correr. Não corre a prescrição entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal (artigo 197, I, CC). Não corre a prescrição, entre várias outras hipóteses, contra os menores de 16 anos (artigo 198, I, do CC).
Há também certos direitos que são imprescritíveis, como o do marido de contestar a paternidade dos filhos nascidos de sua mulher (artigo 1601, do CC).

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