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Refere-se ao estudo das caracteríscticas que identificam ou determinam uma estrutura de mercado: concentração industrial (Cap. 5), diferenciação de produtos (Cap. 6), barreiras estruturais à entrada (Cap. 7), mudanças tecnológicas (Cap. 8) Parte II – Análise Estrutural dos Mercados Capítulo 5 - Concentração Industrial 5.1 Introdução As medidas de concentração pretendem captar de que forma agentes econômicos apresentam um comportamento dominante em determinado mercado. Para verificar qual é a participação de uma firma (empresa) em um mercado, os diferentes indicadores de concentração industrial consideram, por exemplo, a participação de cada empresa no total das vendas do setor. As medidas de concentração industrial são úteis para indicar preliminarmente os setores para os quais se espera que o poder de mercado seja significativo. 5.2 Medidas de Concentração As medidas de concentração (ou índices de concentração) pretendem fornecer uma indicação da concorrência existente em um determinado mercado. Quanto maior for o valor do índice de concentração industrial, menor é o grau de concorrência entre as empresas de um determinado mercado e mais concentrado estará o poder de mercado de uma ou poucas empresas. O poder de mercado está relacionado à capacidade de uma empresa controlar o preço de venda de um produto. Mas alta concentração não garante que poder de mercado será exercido. 5.2 Medidas de Concentração Quanto maior a concentração em um mercado, maior é a habilidade em reduzir a competição e coordenar preços. O aumento da concentração industrial facilita a colusão entre as firmas vendedoras. Medidas de concentração parciais ou positivas: não usam os dados da totalidade das empresas em operação na indústria em estudo. Exemplo: 𝐶𝑅 𝑘 (Concentration Ratio ou razão de concentração). Medidas de concentração sumárias: requerem dados de todas as empresas de um mercado. Exemplo: índice de concentração de Hirschman-Herfindahl (HH ou HHI) 5.2.3 Razões de Concentração A razão de concentração de ordem k é um índice (parcial ou positivo) que fornece a parcela de mercado das k maiores empresas da indústria (k = 1, 2, ..., n). Assim, 𝐶𝑅 𝑘 = 𝑠𝑖 𝑘 𝑖=1 em que 𝑠𝑖 é a participação da i-ésima maior firma. Quanto maior o valor do índice, maior é o poder de mercado exercido pelas k maiores empresas. CR(4) = participação das 4 maiores firmas (empresas) neste mercado; CR(8) = participação da 8 maiores firmas (empresas) neste mercado. 5.2.3 Razões de Concentração Qual variável usar para mensurar a concentração de mercado usando o índice Razão de Concentração? Participação da empresa nas vendas totais de uma indústria, produção física em relação à produção total de uma indústria, capacidade produtiva instalada, emprego, valor adicionado. Aplicações empíricas 1) Análise da estrutura de mercado do segmento de massas alimentícias e de biscoitos no Brasil. A razão de concentração [CR(4) e CR(8)] foi calculada utilizando-se o faturamento das maiores empresas em cada segmento, para os anos de 1995 a 2001. Fonte: FERREIRA JÚNIOR, Sílvio. Ajustamentos na agroindústria de segundo processamento de trigo no Brasil, de 1995 a 2001. 80 p. Dissertação (Mestrado em Economia Aplicada) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2003. Análise da estrutura de mercado do segmento de massas alimentícias e de biscoitos no Brasil Período Massas alimentícias Biscoitos e bolachas CR(4) CR(8) CR(4) CR(8) 1995 0,2156 0,3264 0,2733 0,3358 1996 0,2201 0,3465 0,2366 0,3009 1997 0,2062 0,3316 0,2351 0,2925 1998 0,2243 0,3314 0,2370 0,3029 1999 0,2249 0,3314 0,3246 0,3898 2000 0,2643 0,3868 0,3334 0,4062 2001 0,3569 0,4852 0,3677 0,4554 TGC 7,27% a. a. 5,16% a. a. 7,02% a. a. 6,64% a. a. Fonte: Ferreira Júnior (2003). Aplicações empíricas 2) Análise da concentração de mercado na distribuição de etanol combustível. A razão de concentração [CR(4) e CR(10)] foi calculada utilizando-se a participação das distribuidoras nas vendas nacionais de álcool etílico hidratado, de 2000 a 2009. Fonte: BEIRAL, Paula Rúbia Simões; MORAES, Márcia Azanha Ferraz Dias de.; BACCHI, Mirian Rumenos Piedade. Concentração e poder de mercado na distribuição de etanol combustível: análise sob a ótica da nova organização industrial empírica. Revista Economia Aplicada, v. 17, n. 2, 2013, p. 251-274. Análise da concentração de mercado no segmento de distribuição de álcool etílico hidratado no Brasil Fonte: BEIRAL; MORAES; BACCHI (2013). Exercício de fixação Calcule as razões de concentração CR(4), CR(8) e CR(10) para as usinas de açúcar da região Centro-Sul na safra 2000/2001 Unidade Produção de açúcar (mil toneladas) 1 Da Barra 341,24 2 São Martinho 416,64 3 Santa Elisa 375,52 4 São João 222,5 5 Barra Grande 176,21 6 São José 207,73 7 Bonfim 245,01 8 Santa Cruz 153,35 9 Costa Pinto 227,04 10 Iracema 151,92 Total Região Centro-Sul 12.635,94 Exercício de fixação – Como calcular o CR(k)? Passo 1 – Ordenar as empresas de forma decrescente (iniciar pela empresa que apresentou a maior produção na safra 2000/2001); Passo 2 – Calcular o CR(k): 𝐶𝑅 𝑘 = 𝑠𝑖 𝑘 𝑖=1 em que 𝑠𝑖 é a participação da i-ésima maior firma. Exercício de fixação - Resultados Unidade Produção de açúcar (mil t) Participação de cada empresa no total produzido pelo setor 2 São Martinho 416,64 =(416,64/12.635,94)*100= 3,2972% 3 Santa Elisa 375,52 =(375,52/12.635,94)*100= 2,9718% 1 Da Barra 341,24 =(341,24/12.635,94)*100= 2,7005% 7 Bonfim 245,01 =(245,01/12.635,94)*100= 1,9389% 9 Costa Pinto 227,04 =(227,04/12.635,94)*100= 1,7967% 4 São João 222,5 =(222,5/12.635,94)*100= 1,7608% 6 São José 207,73 =(207,73/12.635,94)*100= 1,6439% 5 Barra Grande 176,21 =(176,21/12.635,94)*100= 1,3945% 8 Santa Cruz 153,35 =(153,35/12.635,94)*100= 1,2136% 10 Iracema 151,92 =(151,92/12.635,94)*100= 1,2022% Total Região Centro-Sul 12.635,94 CR(4) = 3,2972+2,9718+2,7005+1,9389 = 10,9084 CR(8) = 10,9084 +1,7967+1,7608+1,6439+1,3945 = 17,5043 CR(10) = 17,5043+1,2136+1,2022 =19,9201 Deficiências da medida de concentração de mercados CR(k) 1) O CR(k) não capta as desigualdades. Por exemplo, o CR(4) é o mesmo para as quatro firmas, independentemente se cada uma delas tiver participação igual a 25% ou se uma tiver partiipação de 70% e as outras 3 tiverem 10% do mercado cada uma. * O desempenho em cada um destes casos pode ser bastante diferente. 2) Fusões ou transferências de mercado que ocorram com estas empresas não alteram o valor do índice se a participação da nova empresa estiver abaixo da k-ésima posição. 5.2.4 Índice de Hirschman-Herfindahl (HH) Trata-se do índice definido por: 𝐻𝐻 = 𝑠𝑖 2 𝑛 𝑖=1 em que 𝑠𝑖 é a participação de cada firma no mercado. Esta fórmula pode ser reescrita como 𝐻𝐻 = 𝑠𝑖(𝑠𝑖) 𝑛 𝑖=1 , o que evidencia a estrutura de pesos implícita no índice HH. Elevar cada parcela de mercado ao quadrado implica atribuir um peso maior às empresas relativamente maiores. Quanto maior for HH, mais elevada será a concentração e, portanto, menor a concorrência entre os produtores. 5.2.4 Índice de Hirschman-Herfindahl (HH) 1 𝑛 ≤ 𝐻𝐻 ≤ 1 Se 𝐻𝐻 = 1 𝑛 , então o mercado é concorrencial; Se 𝐻𝐻 = 1, então o mercado é monopolístico. Monopólio: 𝑛 = 1 ⇒ 𝐻𝐻= 1 n firmas iguais ou com a mesma participação de mercado: 𝐻𝐻 = 1 𝑛 HH tende a zero para a competição perfeita: 𝑛 → ∞ . 5.2.4.2 Uso normativo: regulação e defesa da concorrência Merger Guidelines (EUA), desde 1980 tem usado o HH em substituição ao CR(k). As agências antitruste trabalham com índices HH calculados a partir de participações de mercado medidas com base em 100. Nesse caso, o índice pode potencialmente variar entre 0 e 10.000. Três são as faixas propostas no Mergers Guidelines para balizar as análises preliminares de processos de fusões, considerando-se os valores potenciais do índice após a fusão entre duas empresas: 1. 0 ≤ HH < 1000: não existe preocupação quanto à competição na indústria, caso a fusão se concretize; 2. 1000 ≤ HH ≤ 1800: existe preocupação quanto à competição se o aumento do índice for igual a 100 pontos, com relação ao índice pré-fusão; 3. HH > 1800: existe preocupação quanto à competição se o aumento do índice for maior ou igual a 50 pontos, com relação à situação inicial (pré-fusão). Exemplo: Uso do HH para avaliação de fusões nos EUA Considera-se uma indústria composta de quatro empresas com as participações de mercado (percentuais) de 40, 30, 20 e 10, respectivamente: HH pré-fusão = 402 + 302 + 202 + 102 = 1600 + 900 + 400 + 100 = 3000 A terceira e a quarta empresa resolvem fundir-se (abrem processo de fusão na agência reguladora): HH pós-fusão = 402 + 302 + 302 = 1600 + 900 + 900 = 3400 𝐻𝐻𝑝ó𝑠 −𝐻𝐻𝑝𝑟é = 3400 − 3000 = 400 > 50 𝑜 𝑟𝑒𝑔𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜𝑟 𝑡𝑒𝑟á 𝑠𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑎𝑙𝑒𝑟𝑡𝑎 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑟𝑎 𝑡𝑎𝑙 𝑓𝑢𝑠ã𝑜. Exercício de fixação Calcule as razões de concentração CR(2) e CR(4) e o índice de Herfindahl- Hirschman (HH) das vendas de tratores de rodas (em unidades) por empresa em 2009 Empresa/Marca comercial Vendas de tratores (em unidades) Parcela de mercado de cada empresa/marca 1 AGCO-Massey Ferguson 13.960 30,88% 2 CNH-New Holland 10.808 23,90% 3 AGCO-Valtra 9.623 21,28% 4 John Deere 6.681 14,77% 5 Yanmar 1.625 3,59% 6 Agrale 2.108 4,66% 7 CNH-Case 401 0,88% Total 45.206 100 Exercício de fixação – Como calcular o CR(k)? Passo 1 – Ordenar as empresas de forma decrescente (iniciar pela empresa que apresentou a maior participação em vendas em 2009); Passo 2 – Calcular o CR(2) = 30,88 + 23,90 = 54,78 Passo 3 – Calcular o CR(4) = 54,78 + 21,28 + 14,77 = 90,83 Passo 4 – Interpretar: As duas maiores empresas do setor de tratores de rodas no Brasil detiveram 54,78% das vendas do setor em 2009. Quando considera-se as quatro maiores empresas, estas detiveram 90,8% deste mercado em 2009. O setor de tratores pode ser caracterizado como de estrutura oligopolizada. Exercício de fixação – Como calcular o HH? Passo 1 – Ordenar as empresas de forma decrescente (iniciar pela empresa que apresentou a maior participação em vendas em 2009); Passo 2 – Calcular o 𝐻𝐻 = 0,30882 + 0, 2392 + 0,21282 + 0, 14772 + 0,04662 + 0,03592 + 0,00882 = 0,095 + 0,0571 + 0,0452 + 0,0218 + 0,002171 + 0,00128 + 0,00007744 = 0,2226 Passo 3 – Interpretar: O setor de tratores pode ser caracterizado como oligopolizado. Distancia-se do monopólio (ocorre quando HH = 1), e também da concorrência perfeita (HH = 0).
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