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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/281861449 Trade Marketing: marketing por meio dos varejistas Article · August 2015 CITATIONS 0 READS 494 1 author: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Sports Marketing View project Edson Coutinho Da Silva University Centre FEI 83 PUBLICATIONS 41 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Edson Coutinho Da Silva on 18 September 2015. The user has requested enhancement of the downloaded file. Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 10, n. 10, p. 6-141, jan./jun., 2015. 80 Trade Marketing: marketing por meio dos varejistas Autor: Edson Coutinho da Silva: Pós-Doutorado em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo – FEA-USP e Professor no Centro Universitário da FEI – São Bernardo do Campo - SP E-mail: coutinho_ed@yahoo.com.br Resumo O Trade Marketing no Brasil surgiu no final da década de 1990, em resposta às mudanças econômicas, políticas e sociais que ocorreram nessa época, como o fim do período inflacionário, a importância crescente dos intermediários e a oferta maior que a demanda. Nesta década, o conceito de Trade Marketing ainda estava em formação, contudo, já se mencionava a necessidade de realizar ações de Marketing aos varejistas. O varejo passou por três revoluções: o crescimento de múltiplos canais de venda; aumento de poder e surgimento dele como função especializada nas organizações. Os fabricantes reconheceram a necessidade de tratar o varejista como cliente, compreendendo suas estratégias e propondo soluções alternativas e customizadas visando à colaboração mútua na cadeia de suprimentos. O Trade Marketing é definido como um processo estratégico, no qual o objetivo é aperfeiçoar a relação entre fabricantes e varejistas, tendo em vista o consumidor final, uma vez que é no varejo que os consumidores interagem e mantêm contato com os produtos e/ou serviços dos fabricantes, principalmente os das grandes marcas. Este ensaio tem o objetivo de debater e discutir esta relação entre fabricante e varejistas, sob a perspectiva dos conceitos de Trade Marketing. Palavras-chave: Trade Marketing; Marketing; Marketing de Varejo; e Canais de Distribuição. Abstract The Trade Marketing in Brazil began in the late 1990s, in response to economic, political and social changes that have happened during this time, as the end or the inflationary period, the growing importance of intermediaries and supply greater than demand. In this decade, this concept is still being built; however, already understand the need for marketing actions to retailers. Retailers experienced three stages: growth of multiples sales channels, increase in the retailed power, and the emergence of retail as a specialized function in organizations. The producers recognized the need to understand the retailer as a customer, where they propose strategies and alternative solutions and customized aiming at mutual collaboration in the supply chain. The Trade Marketing is defined as a strategic process, in which the goals is to improve the relationship between producers and retailers, focusing on the consumer, since retail is where consumers interact with products and/or services to producers, in particular, of the “famous” brands. Finally, this paper proposes to debate and discuss the relationship between producers and retailers, from the perspective of the concepts of Trade Marketing. Keywords: Trade Marketing; Marketing; Retail Marketing; and Distribution Channel. 1 Introdução O canal de distribuição é um elemento do composto de marketing (“P” de praça), e pode ser compreendido como uma das variáveis controláveis da estratégia de marketing dos produtores, utilizadas para ir a encontro às variáveis incontroláveis do ambiente, visando competitividade para Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 10, n. 10, p. 6-141, jan./jun., 2015. 81 obter melhores resultados junto ao consumidor final. No entanto, a ideia de compreender o canal de distribuição como uma variável controlável dos fabricantes, já não ocorre em todos os setores do mercado. Essa relação implícita de subordinação do canal de distribuição perante a indústria também não deve ser considerada em todos os setores de negócios. Realizando um breve resgate histórico, foi por meio da Revolução Industrial, no final do século XVIII e início do século XIX, com o início do processo de produção em massa de produtos, que os varejistas ganharam importância, uma vez que os produtores não conseguiam comercializar diretamente seus produtos e necessitavam que os mesmos fossem distribuídos com eficiência. De forma geral, o varejo tornava-se ali, uma atividade pouco técnica, composta por pequenas lojas familiares, dependentes de grandes atacadistas, geralmente controlados pelos mesmos e também por produtores. No século XX começa-se a verificar a formação e o fortalecimento de grandes redes de varejo, geralmente através de lojas de departamentos, que visam sua independência e liberdade de concorrência, estabelecendo suas próprias estratégias e políticas próprias de comercialização e, também, de marketing. Há de se reconhecer que os varejistas realizam atividades importantes para a cadeia de valor, uma vez que são eles quem se envolvem no processo de venda de produtos e/ou serviços para atender as necessidades pessoais dos consumidores finais. Os varejistas têm o poder de criar valor aos produtos e/ou serviços, disponibilizando os mesmos em horários, períodos do mês ou do ano convenientes e, ainda, realizando a comunicação visual dos mesmos. Os varejos facilitam as trocas diversificando as formas e prazos de pagamento e vendendo em quantidades ideais ao consumidor final. Podem oferecer uma experiência de compra agradável, utilizando-se de uma atmosfera atraente, serviços úteis, informações sobre o produto e/ou serviço e outras gentilezas. Fabricantes e varejistas têm um objetivo em comum, que é a conquista do consumidor final, e para o alcance de tal objetivo necessitam um do outro, porém, os mesmos, sempre procuram melhorar seus ganhos individuais em suas negociações, surgindo uma situação de conflito nas relações. Este conflito pode ser encarado como positivo na relação, uma vez que demonstra que ao menos o relacionamento existe, e sendo alto o custo de abandono da relação, torna-se mais vantajoso solucionar as áreas críticas do conflito. Para a solução de conflitos, o poder aparece como um grande influenciador. Assim sendo, o poder pode ser definitivo como a habilidade de controlar os outros membros do canal, tornando-os dependentes e suscetíveis a conceder favores aos outros participantes do canal. Hoje, ocorreu uma mudança de poder nas relações entre produtores e varejistas. O aumento do poder dos varejistas nas negociações e a forte influência que passaram a exercer no processo de decisão de compra dos consumidores finais fizeram com que os fabricantes buscassem um novo foco nas suas estratégias de marketing dirigidas ao consumidor final. O Trade Marketing surge como uma alternativa que as fabricantes vêm encontrando para gerenciar o relacionamento com seus canais de distribuição, visando à estratégia, à estrutura e à operação de seus produtos e/ou serviços na dinâmica do varejo, com o objetivo de atender melhor e mais rentavelmente os seus clientes varejistas e os consumidoresfinais de seus produtos e/ou serviços. Afinal de contas, é no varejo que os consumidores finais mantêm contato com os produtos e/ou serviços dos grandes fabricantes (PENNA, 2008). Este ensaio se propõe a debater a relação entre fabricantes e varejistas na perspectiva do Trade Marketing, pois esta mudança de poder trouxe como consequência à transferência do poder de negociação das “mãos” dos fabricantes para as “mãos” dos varejistas, que, por sua vez, passaram a elaborar as suas próprias ações de marketing, buscando criar sua própria imagem junto ao consumidor final. O desenvolvimento de marcas próprias, o excesso de marcas e produtos e a consequente falta de espaço para exposição deles no ponto de venda, a concentração do varejo, a especialização dos canais de vendas e a infidelidade do consumidor, são características importantes a serem consideradas pelos fabricantes para o desenvolvimento de suas estratégias de marketing. Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 10, n. 10, p. 6-141, jan./jun., 2015. 82 2 Trade Marketing: Ações de Marketing por meio dos Varejistas Nota-se que a palavra “Trade”, que traduzida literalmente significa comércio, tem sido cada vez mais utilizada entre os profissionais de marketing e vendas. Não se trata do significado tradicionalmente voltado ao comércio exterior – ou internacional –, um termo utilizado para indicar negócios conduzidos entre organizações de países distintos através das Trade Companies. No Brasil ele sofreu uma modificação, ela está associada aos intermediários; os clientes responsáveis pela distribuição dos produtos ao consumidor. O termo “Trade”, utilizado no mercado interno ganhou notoriedade a partir do momento que os intermediários, principalmente o varejo, passaram a ter mais poder no canal de distribuição. Na verdade, estes foram chamados de “Trade” por aquelas organizações nitidamente influenciadas pelas escolas de Marketing dos Estados Unidos. O canal de distribuição, de um simples papel de facilitador dos fabricantes, os intermediários passaram a decidir o que seria disponibilizado aos consumidores finais, como e quando seria e por quanto seria. Consequentemente, numa situação totalmente nova, os fabricantes passaram a depender fundamentalmente das decisões do varejo, bem como dos distribuidores (ARAÚJO e D’ANDREA, 2010). O Trade Marketing no país é entendido como uma estratégia de marketing utilizada para gerenciar o desenvolvimento das relações entre fabricantes e canais de distribuição, com o intuito de diferenciar os produtos e/ou serviços dos fabricantes no ponto de venda. O conceito de Trade Marketing se baseia em compreender o cliente varejista não como um mero canal de passagem para o consumidor final, mas sim, como um cliente, como um consumidor que é independente, que tem suas necessidades e seus desejos e que deve ser conquistado para que dê preferência ao produto da organização frente ao produto da concorrência (MOTTA, MACHLINE e SANTOS e 2007). O canal de distribuição é mais do que o simples local onde os produtos estão disponíveis aos consumidores finais. É necessário entender que os canais têm necessidades e prioridades distintas, respondendo de forma diferente ao que produtores e fornecedores proporcionam a eles, de modo a modificar seu comportamento e lealdade com o passar do tempo. Contudo, trata-los como clientes é essencial, aplicando estratégias e utilizando ferramentas como segmentação e administração de relacionamento nas situações em que os interesses dos players – fabricantes, intermediários e shoppers – são opostos. Há três perspectivas que as organizações moldam acerca de seus clientes: como consumidor, shopper e buyer (ARAÚJO, D’ANDREA e LIMA JR., 2010): (a) Consumidor é aquele que utiliza determinado produto e/ou serviço. (b) Shopper – freguês – é aquele que realiza o papel de compra no ponto de venda, onde este pode ou não ser consumidor. (c) Buyer é aquele que efetivamente compra determinado produto no ponto de venda. Assim, o desenvolvimento do Trade Marketing se deu num contexto marcado pela existência de três fatores: a restrição ao número de marcas no ponto de venda; o shopper estimulado e indeciso; e objetivos adversos entre varejistas e fornecedores. Nesse contexto, o Trade Marketing surge com o objetivo de reduzir; ou se possível extinguir, os conflitos que ocorrem nos canais de distribuição. Na perspectiva do fabricante, o objetivo é gerenciar o grau de concentração de vendas, evitando dependência, e assegurar que as estratégias de marca sejam mantidas no ponto de venda. Já os intermediários, visam garantir a rentabilidade dos principais clientes e adequar o portfólio de produtos, preços, promoções de venda, táticas de merchandising e logística segundo as suas necessidades. Entender detalhadamente o comportamento do shopper, bem como seus hábitos e situações de compra, é também um objetivo que visa possibilitar a influência do mesmo no ponto de venda. Para Alvarez (2006), a palavra: “intermediários”, não são mais apropriadas para descrever o varejista atual, uma vez que pressupõe um paradigma de Marketing, onde o varejista deverá aceitar que o produtor determine os produtos que irão ser comercializados no canal de distribuição. Isto representa uma realidade cada vez menos presente nos mercados de produtos de consumo de Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 10, n. 10, p. 6-141, jan./jun., 2015. 83 marcas. Portanto, os varejistas deixaram de ter uma escolha limitada para as linhas de produtos que comercializavam, e passaram a ter um grande número de opções na maioria das linhas, podendo assim, exercitar seu poder de seleção. Embora as motivações de compra desses varejistas possam ser menos emocionais que as de um consumidor final, as ações de Marketing serão aplicáveis da mesma forma e são essas ações de Trade Marketing que as organizações produtoras podem utilizar para se diferenciar dos concorrentes. É possível constatar que, à medida que os varejistas se expandem e passam a adotar avançadas tecnologias de informação e de gestão, estas passam a desempenhar um papel cada vez mais importante na modernização do sistema de distribuição e da economia brasileira. Constata-se que a participação crescente de marcas próprias demonstra que os varejistas estão assumindo cada vez mais este controle com o objetivo de interagir diretamente com o consumidor e, o que por sua vez, pode enfraquecer as marcas dos grandes fabricantes. Nesse sentido, os varejistas aumentam seu poder de barganha se fortalecendo com o consumidor final, uma vez que possuem hoje, avançados programas tecnológicos para interagir com os mesmos (DUPUIS e TISSIER-DESBORDES, 1996). 3 Evolução do Trade Marketing nas Organizações Assim como o Marketing no início foi confundido com as atividades de propaganda, o Trade Marketing é muitas vezes interpretado como uma ação de merchandising ou promoção de venda no varejo. Por mais que as ações de merchandising e promoção de venda feitas do ponto de venda sejam de extrema importância e sejam a parte mais visível do Trade Marketing, o conceito abrange uma responsabilidade e uma visão muito mais ampla das estratégias de comercialização da organização, que ao não ser implantada, faz com que se deixe de aproveitar oportunidades de diferenciação competitiva nas relações estabelecidas com os clientes varejistas. Não há dúvidas de que o conceito de Trade Marketing está calcado nas mudanças ocorridas nos participantes do ambiente de negócios, como apresentam Christopher e Peck (2004): (a)o fabricante, que com as estratégias de segmentação e posicionamento amplia cada vez mais seu portfólio de produtos gerando uma proliferação de marcas e variedade de itens de produtos; (b) o canal de distribuição com a crescente concentração de poder econômico em poucas redes de varejo e com a construção da sua própria imagem e consequente lançamento de produtos de marca própria; (c) o consumidor, que começa a manter uma relação mais estreita com o varejo e que para a maioria das categorias de produtos decide a compra no ponto de venda, sendo fortemente influenciado pelas ações dos varejistas, pela disponibilidade e pela atratividade do produto no momento da compra. No entanto, estas mudanças fizeram com que as relações entre fabricantes, varejistas e consumidores finais se tornassem mais competitivas, mais críticas e mais complexas. Constata-se que a visão de curto prazo, de que uma vez feita à venda do produto ao varejista encerra-se a responsabilidade do fornecedor, é substituída pela visão complexa de médio e longo prazo, de desenvolvimento de negócios em conjunto que melhorem a venda ao consumidor final e que tragam melhores resultados a todos os envolvidos no processo. É neste contexto que surge o conceito de Trade Marketing como forma de orientar e apoiar as atividades de Marketing e vendas, trabalhando em conjunto para conseguir satisfazer as necessidades do consumidor final e do cliente varejista. Tradicionalmente, as ações de Marketing se concentravam majoritariamente no consumidor final – Marketing Pull – e as ações de venda se concentravam majoritariamente nos clientes – Marketing Push – não considerando o momento da compra no ponto de venda que é realizada pelo shopper (LIRA, 2002). O conceito de Trade Marketing entende que o contato do consumidor com o produto e com o consumidor com o produto e/ou serviço e com o ambiente competitivo se dá no ponto de venda e que a estratégia de Marketing deve estar visível para o consumidor nesse espaço e nesse momento de decisão de compra. Nesse caso, a função do Trade Marketing vem acompanhando a evolução da aplicação do conceito, transformando-se cada vez mais em uma atividade estratégica e num centro Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 10, n. 10, p. 6-141, jan./jun., 2015. 84 de resultados. Devido à abrangência de suas atividades, o responsável pela área de Trade Marketing deve ter uma visão multidisciplinar e capacidade para desenvolver um forte pode de interação pessoal e de negociação. Em sua atividade diária, na perspectiva da organização, o Trade Marketing estará lidando com diversos assuntos relativos à área de Marketing, dentre elas: produto, interação das ações de comunicação, comportamento do consumidor, informações de mercado, posicionamento de preços; tratará ainda de aspectos de vendas, de planos promocionais, de logística de entregas, de finanças, programação de produção, dentre outros. Na ótica do cliente, o Trade Marketing estará trabalhando assuntos relativos à exposição de produtos – merchandising –, giro dos estoques, margem de rentabilidade, motivação da equipe de vendas do cliente, promoções e campanhas de vendas, etc (PRADO et al., 2010). De certo modo, as atividades diárias do profissional de Trade Marketing estão voltadas às soluções de problemas, buscando a harmonia e o relacionamento duradouro com o cliente, por meio de negociações que conduzam à cooperação e não ao conflito. Mediante isso, a atividade de Trade Marketing deve manter a independência com relação a vendas e ao Marketing e ter um orçamento próprio; pouco importando se formalmente está subordinada a outra área. O entendimento do conceito de Trade Marketing deve estar presente em toda a organização. O desafio do profissional da área é conquistar seu espaço como orientador de Marketing e vendas em suas relações finais com o cliente e com consumidores finais e não apenas como mero suporte, estabelecendo a partir das fronteiras de sua área de atuação. Segundo Castillo (2000), o sistema de Trade Marketing tem que evoluir de sua atividade essencialmente operacional para uma atividade estruturada e planejada por canal e cliente, e/ou marca e produtos, que oriente as ações operacionais de Marketing e vendas nos pontos de venda. Tais ações de Trade Marketing podem e devem ser planejadas. O fato de terem muitas possibilidades de variação e de atenderem as mais diversas situações reforça a necessidade de planejamento. Ao olhar a evolução da implantação do conceito, pode se entender que alguns dos grandes desafios são: (a) consolidação das atividades comerciais; (b) entendimento do conceito pela organização; (c) e ampliação de suas atividades. Entretanto, há novos espaços a se conquistar com o Trade Marketing (CHRISTOPHER e PECK, 2004): (a) a delimitação das responsabilidades e o espaço a ser ocupado entre as atividades de Marketing e vendas; (b) o desenvolvimento da sistemática de planejamento por clientes e por atividades, antecipando-se às demandas do cliente, e de Marketing e vendas; (c) e um sistema de estabelecimento de objetivos e controle dos resultados de suas ações procurando medir a efetividade e pelo retorno dos investimentos realizados. De certo modo, a implantação da fase operacional está bastante avançada, resta agora evoluir nestes próximos anos para a fase de orientação estratégica, onde se poderá aproveitar todo o potencial do conceito de Trade Marketing. 4 Compreendendo as Atividades do Profissional de Trade Marketing Para os que atuam na área de Marketing, a função de Trade Marketing não é absolutamente nova, uma vez que as organizações de venda já admitem a importância dos seus principais clientes, que têm uma alta participação no faturamento e algumas já criaram a função do gerente de contas especiais – key account managers – para atendê-los. No entanto, a novidade está na maneira como este atendimento está sendo efetuado; com atividades técnicas e objetivos precisos de participação e rentabilidade por cliente. O profissional de Trade Marketing é denominado de Trade Marketer. Eles realizam várias atividades, tais como (ALVAREZ, 2008): (a) marcas: os padrões de atividades para as marcas nos diversos canais de venda devem ser sempre atualizados; (b) radar do varejo: deve manter sua organização atualizada sobre informações pertinentes ao varejo e aos concorrentes: promoções de vendas, lançamentos de novos produtos; novos formatos de loja; além de verificar no ser mercado Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 10, n. 10, p. 6-141, jan./jun., 2015. 85 de atuação, atividades que sejam de interesse para suas marcas; (c) informações de mercado: gerenciar o processo de gerar e compartilhar informações de mercado e o comportamento do comprador por canal e categoria, localizando as oportunidades regionais; (d) e mensuração: deve avaliar e, também, compartilhar o desempenho das ações promocionais executadas nos canais, gerando a mantendo uma inteligência de mercado que ofereça um permanente aprendizado de tendências de comportamento de compra em seu mercado. Davies (1993) apresenta uma série de atributos que um gerente de Trade Marketing deve possuir: (a) poder de desenvolver relacionamentos duradouros ao longo do tempo; (b) alto nível intelectual; (c) um estrategista de negócios, que domine números e finanças; (d) habilidades de relacionamentos interpessoais e perfeita apresentação; (e) desenvolvimento de relacionamentos pessoais; (f) orientado para a prestação de serviços; (g) profundo conhecedor do varejo; (h) compreendeos motivos que influenciam as compras dos varejistas; (i) competência de coordenar as várias atividades e funções dentro de sua organização, orientando-as para o atendimento das necessidades dos varejistas; (j) criativo e perseverante; (k) poder de influenciar os altos níveis da organização, tanto do produtor como do varejista. Se o Trade Marketing considera cada cliente como um mercado, a aplicação dos elementos de seu composto será utilizada para maximizar a participação e a lucratividade em cada cliente individualmente. Nesta mesma linha de desenvolvimento conceitual, Randall (1994) destaca os 4 (quatro) Ps – produto, preço, praça e promoção – e os adapta da seguinte maneira: (a) Produto: deve ser orientado com uma perspectiva ampliada da marca, uma vez que a importância desta junto ao consumidor final é que determinará o nível de influência do produtor sobre o varejista. Na concepção do Trade Marketing, o papel do varejista deve ser levado em consideração a partir da concepção do produto; avaliando como este novo produto ou marca se adéqua a política dos principais clientes; qual o espaço da gôndola que irá ser necessário, qual a margem de rentabilidade que será gerada; qual a embalagem de venda e transporte será mais adequada; quais as demandas em termos de suporte ao ponto de venda serão exigidas pelos clientes; e como é a adequação frente às características de concentração e tamanho da carteira de clientes. (b) Preço: continuará a ser o ponto crítico da negociação, e somente a importância da marca junto ao consumidor final é que poderá diminuir um pouco a influência deste item no processo de negociação. O produtor deverá orientar a negociação para o valor que está sendo oferecido ao cliente por meio de: entregas especiais, diminuição de manuseio; e abastecimento contínuo, dentre outras ações que o beneficiem em termos de redução de custos. Para efeito de apuração dos resultados obtidos através dos preços estabelecidos na negociação, deverá ser feito o controle de todos os gastos realizados em cada atividade, considerando os custos dos benefícios oferecidos e alocando-os junto ao resultado dos produtos negociados. (c) Praça: a relação e o posicionamento junto ao mercado varejista devem ser entendidos em seus aspectos mais amplos: inter-relação entre Marketing, vendas, logística, manufatura, compras e desenvolvimento de fornecedores, deve ser entendida e assimilada por toda organização. A estrutura do mercado varejista quanto à importância dos participantes, seus papéis e concentração devem ser avaliados e contemplados na estratégia de posicionamento da organização no mercado. Assim, os elementos do Trade Marketing Mix permitirão que a organização aplique e desenvolva uma nova política de mercado voltada para o consumidor final, por meio do desenvolvimento de suas relações de negócios com os varejistas. (d) Promoção: a avaliação dos gastos de comunicação e promoção deve considerar as demandas e necessidades do ponto de venda. Quanto mais forte a marca for junto ao consumidor final, menor será a necessidade de aplicar verbas de promoção junto aos varejistas, permitindo um gasto mais junto ao consumidor final. Quando a marca e o produto não têm um forte apelo de imagem junto ao consumidor final, é necessário aumentar a proporção de gastos com campanhas promocionais junto ao varejista ao ponto de venda. Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 10, n. 10, p. 6-141, jan./jun., 2015. 86 Reconhece-se, a partir de Durand e Tiezzi (2010) que a aplicação dos conceitos de Trade Marketing na organização pode ser feita formalmente, com a formação de uma estrutura que contemple a função específica do Trade Marketing, junto às funções de vendas e Marketing ou produto; ou de maneira informal com o estabelecimento das ações de vendas e Marketing e do gerenciamento de contas especiais. De certo modo, a organização pode ser formada com business teams, que são grupos formados com a participação de diversos setores para estudar um projeto ou negócio específico, e por gerentes de contas especiais ou nacionais e de categorias, que são funções responsáveis por um grupo pequeno de clientes especiais. As políticas estariam sendo estabelecidas pelo grupo de trabalho, e os gerentes de contas teriam autonomia para tomar decisões táticas de acordo com as políticas estabelecidas. Mesmo para diferentes modelos de organização, devem ser atendidos os seguintes critérios: foco no consumidor, foco no cliente, busca da solução dos problemas do cliente e do benefício da organização, um objetivo realista de prestar um serviço diferenciado e um objetivo realista de melhorar a rentabilidade do negócio do varejista e da organização. Cabe mencionar que as ações e a operacionalização do conceito de Trade Marketing não se contrapõem às ações de vendas e Marketing tradicionais, a sua diferenciação está no fato de tratar o mercado de consumidores em geral e os principais clientes em particular e em reconhecer a independência e a influência dos clientes no processo de decisão de compra junto ao consumidor final (WYNER, 2002). 5 O Escopo de Atividades do Trade Marketing Há de se destacar que o Trade Marketing tem diversas ações que devem ser planejadas. Esta necessidade de planejamento pode e deve ser intensificada devido ao fato de existirem inúmeras possibilidades de variação e das mesmas atenderem diferentes situações. Tem que se considerar que o Trade Marketing possui 4 (quatro) escopos diferentes: estratégico, tático, operacional e suporte à decisão. No nível estratégico, os objetivos visam maximizar a rentabilidade por canal ou linha de produtos e a imagem da marca; no tático, os objetivos são crescimento de vendas, participação de mercado e melhor relacionamento com os canais; no operacional, o propósito é alinhar a execução da estratégia definida; e o nível de suporte à decisão compreende a análise da competitividade, da diferenciação e da eficiência em custos (ALEXANDER e SILVA, 2002). Cada um desses escopos possui interfaces internas e são caracterizados por alguns processos principais: (a) o estratégico tem como interfaces internas: vendas, Marketing, finanças, suprimentos e logística, serviço ao cliente, recursos humanos e tecnologia da informação; seus principais processos são: revisão do plano de conta e canal (interno) e orçamento anual; (b) o tático tem como interfaces internas: vendas, Marketing, recursos humanos, relações públicas e merchandising; e seus principais processos são: planejamento de calendário promocional, desenvolvimento de um “menu” promocional, colaboração com clientes e planejamento de demanda; (c) operacional com interfaces internas: vendas, finanças, recursos humanos, tecnologia da informação e merchandising; seus processos norteadores são: gerenciamento de equipe de merchandising, definição de indicadores- chave e acompanhamento; (d) e suporte decisão interage com: Marketing, vendas e tecnologia da informação; e seus processos são: acompanhamento de concorrentes e mercado. Para colocar o Trade Marketing em funcionamento, as ações de merchandising e promoções de venda executadas no ponto de venda são de grande importância e, possivelmente é a parte mais visível do Trade Marketing. Contudo, seu conceito envolve uma responsabilidade e uma visão muito mais ampla da estratégia de comercialização da empresa, que, ao não serem consideradas, oportunidades de diferenciação competitiva deixam de ser aproveitadas nas relações desenvolvidas com clientes varejistas. Para tanto, as razões de compra desses varejistas podem ser menos emocionais que as de um consumidor final, entretanto,as ações de marketing serão aplicáveis da mesma maneira, e são essas ações de Trade Marketing que os fabricantes podem utilizar como forma de se diferenciar dentro do varejo. Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 10, n. 10, p. 6-141, jan./jun., 2015. 87 Merchandising tem origem na palavra inglesa “merchandise” que significa mercadoria. É possível definir merchandising como um conjunto de todos os meios usados nas lojas de varejo com o objetivo de dar ênfase a todas as atividades do complexo mercadológico – embalagem, preço, propaganda – com o objetivo de aumentar as vendas aos consumidores. É um conjunto de técnicas responsáveis pela informação e apresentação destacada dos produtos na loja, de maneira tal que acelere sua rotatividade. Cabe aqui destacar algumas atividades do merchandising: (a) displays bem posicionados e bem confeccionados; (b) prateleiras bem projetadas em alturas eficazes e práticas; (c) disposição visualmente agradável e com acesso fácil de seu produto na gôndola ou prateleira; (d) cartazes e banners bem posicionados, com comunicação clara, objetiva e com mensagens que impulsione o consumidor a compra; (e) balcões bem posicionados e distribuídos de maneira eficiente; (f) e comunicação visual de informação bem clara e visível no ponto de venda (BLESSA, 2008). É nesta variável que se identifica o maior grau de desenvolvimento da atividade de Trade Marketing. É necessário respeitar e assegurar o posicionamento do produto definido por Marketing no ponto de venda, dar suporte às ações de comunicação estabelecidas por Marketing e, sobretudo, integrar as ações dos diversos produtos de tal maneira que exista uma presença contínua da organização no ponto de venda. No caso da promoção de vendas, consiste em um conjunto de diversificado de ferramentas de incentivo, em sua maioria em curto prazo, que visa estimular a compra mais rápida ou em maior volume de produtos ou serviços específicos por consumidor ou comércio. Envolve o uso de técnicas de incentivo para gerar uma resposta específica num mercado do segmento de consumo. Contudo, é a pressão de marketing exercida na mídia e fora dela por um período predeterminado e limitado visando ao consumidor e ao varejista, para estimular experiências com um produto, aumentar a demanda dos consumidores ou melhorar a disponibilidade do produto no ponto de venda. Tradicionalmente, os investimentos em ações de propaganda eram dirigidos ao consumidor final com o propósito de gerar uma demanda de mercado. Esta ação assumia que o fato de haver demanda seria o suficiente para estimular o varejista a comprar os produtos. A partir da década de 1990, a proporção desses investimentos destinados aos consumidores finais diminui em relação às promoções realizadas com os varejistas. Desse modo, as ações de comunicação devem ser mantidas junto ao consumidor final como forma de estimular o desejo pelo produto e manter a marca, porém, a influência dos varejistas no processo deve ser considerada e avaliações devem ser realizadas sobre o que será aplicado no ponto de venda como descontos ou campanhas nas revistas destinadas ao setor e o que será destinado ao consumidor final através de ações de promoção no ponto de venda. Força de vendas pode ser definida como um elo básico entre a organização e seus varejistas. O papel fundamental da força de vendas é desenvolver as estratégias de Marketing relacional. Vender não deve ser sinônimo de batalhas com o cliente. Assim sendo, ao realizar a venda por meio de relacionamento é uma atividade que deve acentuar a personalização e a empatia do vendedor. O objetivo da parceria promove a construção de uma relação de confiança recíproca entre comprador e vendedor em que os dois lados saem ganhando. Nota-se que as principais diferenças da venda por meio de um relacionamento de parceria são: o foco do vendedor será construir e manter uma relação permanente com o cliente, o trabalho de uma força de vendas versus o trabalho individual do vendedor e foco nas comunicações interpessoais, na administração de conflitos versus a influência nas decisões de compra. Em Trade Marketing, há outra questão que deve ser observada é a gestão de contas-chave. O foco é estabelecer um relacionamento duradouro com os principais clientes, por meio da criação de valor e não necessariamente do aumento do volume de vendas. O mesmo utiliza diversos modos de aproximação para gerenciar os clientes especiais. Para realizar tal função, os gerentes de contas- chave são amparados por uma equipe formada por pessoas com diferentes funções como produção, finanças, logística, Marketing, entre outras; e deve trabalhar como um coordenador interno da organização produtora, orientando decisões e definindo padrão de contato com os funcionários do Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 10, n. 10, p. 6-141, jan./jun., 2015. 88 cliente, atividades essas que vão contribuir para o desenvolvimento de relações positivas, fortes e duradouras com os clientes (MIRANDA, 1997). O gerenciamento dos conflitos é outra questão a ser tratada pelo Trade Marketing. Os canais de distribuição são sistemas sociais, por esse motivo, não há como fugir da dimensão fundamental característica a todos os sistemas sociais – o conflito. Rosembloom (1999) apresenta alguns pontos fundamentais para atenuar os conflitos: (a) comunicação mais frequente e efetiva; (b) definir canais para demonstrar insatisfações; (c) realizar uma análise crítica das ações passadas; (d) criar e implementar divisão equilibrada dos recursos do sistema; (e) estabelecer uma distribuição mais equilibrada de poder em seus relacionamentos; (f) estabelecer padrões de atuação para servir de base para eventuais futuros conflitos; (g) definir um comitê constante para que os conflitos existentes nos canais sejam avaliados; (h) e utilizar formas de arbitragem quando necessário. É fato que a rentabilidade do varejo está baseada na velocidade com que os estoques são vendidos e nas margens que são conseguidas em cada produto. Essas margens são influenciadas fortemente pelo giro dos estoques. Num mercado com fornecimento constante, os varejistas não precisam manter estoques, procurando minimizar comprometimento e riscos possíveis com o capital investido em produtos. O serviço prestado pelo fabricante no sentido de otimizar a relação de risco de estoque e de margens, pode ser um diferencial favorável na conquista do varejista. Uma ferramenta que está sendo cada vez mais utilizada é a troca eletrônica de dados, o Eletronic Data Interchange (EDI) em que, a partir de acordos de volumes mínimos de estoques e de entrega, existe uma comunicação eletrônica direta entre varejista e fabricantes com o objetivo de abastecer automaticamente os produtos e/ou serviços no ponto de venda conforme a demanda efetiva. O EDI otimiza o volume de estoque ao mínimo necessário para que não ocorram perdas de vendas por falta de produtos e, paralelamente, ter o mínimo de recursos monetários investidos nesse estoque. Na visão de Portella (2008), este nível de serviço e atendimento não será igual para todos os clientes. O mesmo deverá ser adaptado a cada varejista conforme a sua demanda e sua capacidade. Levando em conta que as vendas aos grandes varejistas são relevantes nos volumes realizados pela organização, é essencial que seja mensurado o custo de atender a cada varejista, uma vez que isso influenciará diretamente na margem de rentabilidade e deve desta forma, ser levado em consideração no estabelecimento de preços e na avaliação de atratividade do negóciocom aquele cliente em particular. Diante disso, as ações de Trade Marketing assumem, cada vez mais, uma posição de destaque como direcionadoras do desenvolvimento empresarial dos fabricantes e, devido a isso, seus gestores estão sendo fortemente contestados pela ausência ou dificuldade de explicar os gastos crescentes na área, fazendo com que ocorra muita exigência por parte da alta administração, da mesma forma como já ocorre com os profissionais de Marketing das organizações. Há de se considerar que a avaliação de desempenho em Marketing introduz, nesse contexto desafiador aos gestores de Trade Marketing a oportunidade de que sejam controladas as atividades que mais geram vendas e margens incrementais ao produtor e as que não geram retorno satisfatório sobre o investimento, considerando o custo de oportunidade de capital da organização, mediante mensuração desses resultados, ocorrerá melhorias com relação à facilidade e assertividade em direcionar os investimentos para otimização da utilização da verba que é concedida a esses gestores (GUISSONI et al., 2010). 6 Considerações Finais Constata-se que até a década de 1990 o mercado brasileiro tinha a seguinte cenário: (a) eram poucos fabricantes: a qualidade de seus produtos era efetivamente superior aos seus concorrentes diretos, suas marcas eram fortes a ponto de serem confundidas com seu segmento de mercado; (b) em função da inflação reinante até então, o melhor argumento de vendas era “compra porque os preços Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 10, n. 10, p. 6-141, jan./jun., 2015. 89 irão aumentar” e a consequência era uma distribuição sob pressão como o fluxo de produtos empurrado em direção ao consumidor; (c) a comunicação era em massa, o veículo principal era a televisão e a promoção de vendas tinha o objetivo de “baixar” o estoque no ponto de venda ou, então, mesmo ajudar a empurrar os estoques dos distribuidores e atacadista em direção ao varejo; (d) o consumidor fazia grandes compras para proteger seu salário ao final do mês e procurava não arriscar esta compra com marcas que não às tradicionais. Era, portanto, fiel a elas. Tinha baixo conhecimento das opções existentes e nãos e sentia seguro em arriscar trocar as tradicionais porque não se sentia protegido; (e) o varejo procurava ir em direção ao consumidor e a sua fidelidade. Por sinal esta sempre foi a sua missão: interpretar e disponibilizar a demanda desejada por seus clientes. Tinha baixo poder para influenciar qualquer modificação da “cesta de compras”; (f) e para provocar seus clientes, autorizava os grandes fabricantes e desenvolver ações de merchandising de grande impacto com grandes áreas de exposição e por ações de promoção de vendas do tipo “leve 3 pague 2” que em últimas palavras, ajudava a empurrar os estoques para a casa do consumidor. Os espaços gerenciados de exposição, a gôndola e os produtos e/ou serviços que ali eram expostos, eram determinados – gerenciados – com a estreita colaboração dos fabricantes, justificado pelas ações de comunicação – propaganda realizada pelos fabricantes. Contudo, aliado ao grande número de fabricantes que dividiu o “bolo” dos consumidores em “fatias” menores. Com potencial de volume menor, os investimentos em imagem de marca foram prejudicados pela baixa lucratividade resultante deste baixo volume e pela “guerra de preço baixo”. A solução, na maioria das vezes, para trabalhar a comunicação de marca tem sido a de investir no ponto de venda, garantindo de um lado, circulação de seus produtos e/ou serviços – o objetivo maior do varejista – e do outro prejudicando a construção de imagem de marca pelo imediatismo das ações pontuais. O varejo, por sua vez, ficou com a melhor parte da mudança deste cenário. De simples facilitador do processo de conduzir o produto ao consumidor final, passou a ter poder de decidir o que deve ser levado ao consumidor; e como deve ser levado: preço, local e exposição, destaque nas suas ações de comunicação e assim por diante. Se as decisões de compra dos clientes do varejo são tomadas no ponto de venda frente ao que ali está exposto, se os clientes aceitam experimentar opções do que comprar, se o número de fornecedores do varejo aumentou significativamente, se existem ao menos três grandes marcas como opção de compra em cada categoria de produto, por que não exercer este poder dentro desta situação? É uma situação clara e inevitável. Agora, para o fabricante vender ao consumidor terá que passar por este poder. Terá de “pagar pedágio” para chegar ao consumidor final. E é dentro deste cenário que vamos encontrar o desenvolvimento de uma nova área de competência do Marketing. O Marketing através dos intermediários. O Trade Marketing. Portanto, o foco fundamental do Trade Marketing é unir as necessidades dos consumidores com as necessidades do varejo e com a oferta de sua marca. O foco deve se concentrar nas relações entre o fabricante e o canal de distribuição para poder chegar ao consumidor. O consumidor continuará sendo estudado e focado pelo Marketing Tradicional – de troca. O Trade Marketing deverá ter intima ligação com o Marketing Tradicional para a continuidade à proposta de valor do produto e vice-versa. Porém, para que isto ocorra, as áreas de estudo do Trade Marketing deverá aplicar as variáveis controláveis do Marketing, conhecidas como os 4 Ps, na interface com o varejo. Enfim, o Trade Marketing propõe que seja difícil que um mesmo vendedor possa atender a diversos perfis de clientes. O pequeno varejo, as lojas de conveniência, aos supermercados, aos hipermercados e ainda as lojas de descontos não poderão receber o mesmo atendimento. É preciso especialização e foco. Tem que haver conhecimento específico das diversas cadeias de valores, saber as diferenças entre as cadeias de suprimentos. Os pequenos varejos não têm o comportamento de compra de um gigantesco supermercado e hipermercado, são distintos. Embora isso possa parecer óbvio, há fabricantes que usam o mesmo vendedor para atender a todos os perfis de clientes. Revista de Administração da FATEA - RAF Revista de Administração da Fatea, v. 10, n. 10, p. 6-141, jan./jun., 2015. 90 REFERÊNCIAS ALEXANDER, N.; SILVA, M. Emerging Markets and the Internationalization of Retailing: The Brazilian Experience. International Journal of Retail & Distribution Management, v. 30, n. 6, p. 300-314, jun. 2002. ALVAREZ, F. J. S. M. A Aplicação das Variáveis do Trade Marketing Mix nas Empresas de Produtos de Consumo no Brasil: Um Estudo da Frequência de Aplicação. In: Encontro de Marketing da ANPAD, 2006, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, abr. 2006. ALVAREZ, F. J. S. M. Trade Marketing: A Conquista do Consumidor no Ponto-de-Venda. São Paulo: Saraiva, 2008. ARAUJO, C. A.; D’ANDREA, R. Origem e Evolução do Trade Marketing. In: CÔNSOLI, M. A.; D’ANDREA, R. (Org.). Trade Marketing: Estratégias de Distribuição e Execução de Vendas. 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