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Relatório Final Mapeamento e Diagnóstico Ambiental do Território do Mosaico Mantiqueira – Subsídios à Identificação de Áreas Prioritárias e elaboração de Programa de Pagamento por Serviços Ambientais Bolsista: Ane Elisa Silva Bicudo Orientador: Profa. Dra. Danúbia Caporusso Bargos 2017 APRESENTAÇÃO Título do Projeto: Mapeamento e Diagnóstico Ambiental da APA Mantiqueira – Subsídios à Identificação de Áreas Prioritárias e elaboração de Programa de Pagamento por Serviços Ambientais Bolsista: Ane Elisa Silva Bicudo Orientador: Profa. Dra. Danúbia Caporusso Bargos Processo: Linha de Fomento: Pesquisa - Programa unificado de bolsas Período de Vigência do Projeto: Agosto/2016 – Agosto/2017 Período do Relatório: Agosto/2016 – Agosto/2017 ___________________________________ Ane Elisa Silva Bicudo ___________________________________ Profa. Dra. Danúbia Caporusso Bargos RESUMO DO PROJETO O principal objetivo deste projeto consiste na realização de um diagnóstico socioambiental da Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira, a fim de subsidiar a identificação de áreas prioritárias para implantação de um Programa de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e, consequentemente, promover a manutenção da qualidade dos recursos hídricos da região. Para o alcance deste objetivo, serão utilizados dados socioeconômicos disponibilizados pelo IBGE e a base cartográfica digital dos municípios, o que produzirá um conjunto de dados e informações para ampliação do conhecimento sobre a área estudada; além de contribuir para a criação de um banco de dados espaciais que poderá auxiliar o poder público na elaboração de políticas e programas para gestão ambiental adequada da área. INTRODUÇÃO Este relatório tem como objetivo apresentar as principais atividades desenvolvidas pela bolsista Ane Elisa Silva Bicudo durante o período de Agosto de 2016 a Julho de 2017, referentes ao projeto de pesquisa “Mapeamento e Diagnóstico Ambiental do Território do Mosaico Mantiqueira – Subsídios à Identificação de Áreas Prioritárias e elaboração de Programa de Pagamento por Serviços Ambientais”, fomentada pelo Programa Unificado de Bolsas – 2016/2017 da Universidade de São Paulo, sob a orientação da professora Dra. Danúbia Caporusso Bargos. Devido à grande dificuldade para aquisição dos dados necessários para o Mapeamento e Diagnóstico Ambiental da área que compreende o Mosaico Mantiqueira, houve a necessidade de adaptação do projeto para uma escala menor. Assim, os resultados aqui apresentados compreendem as análises realizadas para a Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira (APASM). O relatório está dividido em cinco partes: Na 1ª seção são apresentados os objetivos e a justificativa do projeto; Na 2ª seção é apresentado um resumo das atividades desenvolvidas, buscando evidenciar aspectos gerais do desenvolvimento do projeto; Na 3ª seção são apresentados os resultados encontrados em relação à seleção de prioritárias; Na 4ª seção é feita uma descrição da área correspondente à APA Mantiqueira e uma análise acerca dos dados e informações levantadas sobre a região. Na 5ª seção são colocadas as principais conclusões que foram obtidas a partir dos resultados do projeto. Na 6ª seção do relatório estão listadas as referências bibliográficas utilizadas até o momento. 1. JUSTIFICATIVA E OBJETIVO A Serra da Mantiqueira é uma das mais importantes cadeias montanhosas do sudeste brasileiro. Estende-se entre os estados de São Paulo (30%), Rio de Janeiro (10%) e Minas Gerais (60%), abrangendo municípios cujas altitudes variam entre 1.000 e 3.000 metros. A formação geológica desse maciço rochoso é da era Arqueana, ou seja, ocorreu há mais de 2,5 bilhões de anos. Em função da altitude, o clima da Serra Mantiqueira conta com temperaturas amenas ao longo do ano, podendo observar geadas durante o inverno. Nos picos mais elevados, também há registros de precipitações de neve. Os Biomas correspondentes à região da Serra da Mantiqueira são: a Mata Atlântica e a Mata de Araucárias. Apesar de ainda possuir grande diversidade biológica, a região da Mantiqueira encontra-se reduzida a pequenas áreas, devido ao intenso desmatamento ocorrido ao longo dos anos. A taxa anual de desmatamento até 1998 era de 5,76% ao ano e, da vegetação original da Mata Atlântica, restavam apenas 152.702 km², correspondendo a 12% da área total (Fundação SOS Mata Atlântica/ INPE/ IS,1998). A Serra da Mantiqueira é considerada um nascedouro de bacias hidrográficas fundamentais para os três estados (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais). Devido à crescente necessidade da definição de bacias para abastecimento público, a área tem ganhado maior importância. Assim, torna-se latente a necessidade da elaboração de políticas e programas de proteção dos recursos hídricos da Serra da Mantiqueira. É válido ressaltar que a proteção da natureza sempre se depara com duas questões complexas: o estabelecimento de áreas prioritárias para proteção e as formas de viabilizar essa proteção em longo prazo. Nesta perspectiva, tanto implementação quanto viabilização das áreas selecionadas para preservação representam um dos maiores desafios da atualidade Para o gerenciamento dos recursos e do meio ambiente, deve-se considerar as interdependências das partes dos ecossistemas. A relação entre a degradação ambiental e a perda dos benefícios gerados em um ambiente equilibrado torna evidente a interdependência entre a saúde dos ecossistemas e a manutenção dos sistemas econômicos e sociais. Desse modo, há a necessidade de políticas ambientais para manutenção e qualidade do ecossistema. No Brasil, as políticas para a conservação têm como base as Unidades de Conservação (UC). Conforme o artigo 2º do Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC – Lei n° 9.985 de 18 de julho de 2000) entende-se por Unidades de conservação o “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”. Todavia, as UCs são unidades isoladas sem ocorrência de fluxo gênico entre as populações ocasionando fragmentação. Sendo esse problema também apontado pelo Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2001), ao afirmar que as UCs tornaram-se um “arquipélago de parques e reservas isolados, frequentemente pressionados por todos os lados e inadequados para garantir, a longo prazo, a proteção das espécies de plantas e animais que contêm” (p. 10). Para a ocorrência dos processos ecológicos são necessárias imensas áreas. O SNUC organiza as unidades de conservação de acordo com seus objetivos de manejo e tipos de uso (atividades), surgindo assim dois grupos: I- Proteção Integral e II- Uso Sustentável, cujos objetivos podem ser observados na Tabela 1. Tabela 1 – Classificação das Unidades de Conservação a partirde seus objetivos e atividades GRUPO I GRUPO II OBJETIVO Preservar a natureza, de modo que apenas é permitido o uso indireto dos seus recursos naturais. Visa conciliar a conservação da natureza com o uso sustentável dos recursos humanos, sendo permitida a presença humana nas áreas protegidas. ATIVIDADES Recreação em contato com a natureza, turismo ecológico, pesquisa científica, educação, etc. Coleta e uso dos recursos naturais com o cuidado de mantê-los constantes e de não desequilibrar os processos ecológicos. Fonte: SNUC, 2000 O SNUC subdivide esses dois grupos em 12 categorias complementares, conforme a Tabela 2: Tabela 2 – Subcategorias dos Grupos classificatórios de Unidades de Conservação GRUPO I Estação Ecológica Reserva Biológica Parque Nacional Monumento Natural Refúgio de vida Silvestre GRUPO II Área de Relevante Interesse Ecológico Reserva Particular do Patrimônio Natural Área de Proteção Ambiental Reserva Extrativista Floresta Nacional Reserva de Desenvolvimento Sustentável Reserva de Fauna Fonte: SNUC, 2000 A Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira está classificada no grupo II como Área de Uso Sustentável. De acordo com o Art. 15 da Lei nº 9.985, de 18 de Julho de 2000, uma APA é: uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas, e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais (BRASIL, 2000) Buscando integrar e ampliar as várias ações já existentes para a conservação do patrimônio natural e cultural da Serra da Mantiqueira, o Ministério do Meio Ambiente criou por meio da Portaria nº 351 de 11 de dezembro de 2006 o Mosaico Mantiqueira, que é composto por 17 Unidades de Conservação (UC). Além de existirem essas áreas protegidas, gerenciadas por instâncias públicas (municipais, estaduais e federal), existem também as Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPN, administradas por instâncias privadas. Das 17 UC públicas que compõem o Mosaico Mantiqueira, nove são de uso sustentável, que é o caso da APA da Serra da Mantiqueira. A APA Federal da Serra da Mantiqueira foi criada em 1985 pelo Presidente da República José Sarney, com o objetivo de: Garantir a conservação do conjunto paisagístico e da cultura regional, bem como proteger e preservar: parte de uma das maiores cadeias montanhosas do sudeste brasileiro; a flora endêmica e andina; os remanescentes dos bosques de araucária; a continuidade da cobertura vegetal do espigão central e das manchas de vegetação primitiva; a vida selvagem, principalmente as espécies ameaçadas de extinção (BRASIL, 1985). Para o aumento e integração dessas áreas é necessária a implantação de políticas como a valoração dos serviços ambientais. De maneira geral, as técnicas de valoração ambiental buscam atribuir um valor monetário aos serviços prestados pelos ecossistemas e ao custo gerado pela degradação do meio ambiente, buscando dessa forma incentivar a conservação dos recursos naturais e seu uso de forma sustentável. Neste contexto, de acordo com SILVA, E.K.G. et al (2015), o pagamento por serviços ambientais (PSA) é um instrumento econômico de gestão ambiental, voltado à transferência de benefícios ou recursos financeiros para os promotores da preservação ou restauração de áreas naturais que por sua vez contribuem para a manutenção dos serviços ambientais. Dentre as modalidades de PSA mais conhecidas estão: o ICMS ecológico, o mercado de carbono, o REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação florestal) e os projetos de proteção e manutenção da qualidade e quantidade dos recursos hídricos. Sendo assim, o principal objetivo desse projeto, cujos resultados são aqui apresentados, consiste na realização de um diagnóstico ambiental da área correspondente à APA Federal da Serra da Mantiqueira para formação de uma sólida base de dados espaciais que servirá de subsídio para identificação de áreas prioritárias para implantação do Programa de Pagamentos por Serviços Ambientais, buscando assim a aplicação dessas políticas e consequentemente, a manutenção da qualidade dos recursos hídricos da região. 2. RESUMO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 2.1 Aspectos metodológicos A metodologia para o desenvolvimento da pesquisa proposta pode ser dividida em duas fases distintas, sendo uma voltada ao levantamento de dados e metodologias para identificação de áreas prioritárias para implantação de programas de pagamento por serviços ambientais (PSA); e outra voltada à elaboração da base de dados georreferenciados, necessários para a realização das análises qualiquantitativas relacionadas à elaboração do diagnóstico socioambiental da APASM. Para o levantamento de dados e metodologias para identificação de áreas prioritárias para implantação de programas de pagamento por serviços ambientais (PSA) foi realizada uma pesquisa bibliográfica de casos envolvendo: (i) metodologias de seleção de variáveis importantes e identificação de áreas prioritárias (ii) sucessos e fracassos em relação à aplicação da Política de Pagamentos por Serviços Ambientais. O levantamento bibliográfico geral e específico foi realizado a partir de consultas a sites oficiais como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), além das secretarias estaduais do meio ambiente. Também foram examinados livros, monografias, dissertações e teses e artigos científicos disponíveis no acervo da Universidade de São Paulo e nas bases virtuais de outras instituições de ensino e pesquisa. Em busca do melhor método de análise e seleção de áreas prioritárias, foi realizada uma compilação de metodologias utilizadas no âmbito de Pagamentos por Serviços Ambientais e de ponderação de variáveis qualitativas. Foram levantados também dados referentes à história, economia e uso dos recursos naturais dos municípios que compõem a APASM. Nessa perspectiva, foram pesquisadas quais as variáveis e metodologias mais usadas ou mais importantes para definição de áreas prioritárias na elaboração de PSA; quais as variáveis socioeconômicas mais relevantes na área considerada; e quais as experiências mais bem sucedidas em PSA no Brasil e no exterior. Durante toda a fase de levantamento bibliográfico foram realizadas reuniões com a orientadora para discussões sobre a pesquisa e delimitação de objetivos a serem cumpridos dentro do cronograma proposto. A fase seguinte do projeto foi a elaboração da base de dados georreferenciados. Essa base foi construída a partir de dados e informações cartográficas e de sensoriamento remoto fornecidos pelo (a): Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Fundação João Pinheiro, entre outros. Uma vez recortada a área referente a APA da Serra da Mantiqueira, foi possível gerar os arquivos de pontos cotados da região, dos cursos d’água (hidrografia) e das curvas de nível. A partir do arquivo vetorial(formato shapefile) referente aos cursos d’água da área, foi criado o arquivo vetorial de feições pontuais com a localização das nascentes da APASM. Para isso, foi utilizada a função “Vertice to Points – DANGLE” implementada na ferramenta Arctoolbox do ArcGis 10.4. A função Vertice to Points gera um ponto no início de cada linha que representa um canal da área selecionada, seguindo o sentido de criação de cada uma delas. Todos os pontos de nascentes gerados foram verificados e aqueles que não simbolizavam uma nascente foram deletados. Em seguida, foram criadas as feições representativas das áreas de preservação permanente através da função “Buffer” tendo como base os arquivos referentes aos cursos d’agua e às nascentes da APASM. Por fim, para realização das análises envolvendo as variáveis e indicadores sociais dos municípios da APASM foram espacializados também alguns dados qualitativos e quantitativos disponíveis no site do IBGE, do ICMBio e do Atlas Brasil, tais como: crescimento populacional (Censo 2010- Estimativa Populacional 2016); taxa de mortalidade, taxa de analfabetismo, porcentagem de pessoas que vivem em domicílios com água tratada, coleta de lixo ou energia elétrica, Índice de Desenvolvimento Humano (IDHM); área total do município; área do município na APA e representatividade do município na APA. 3.2 Revisão Teórica Para dar sequência ao projeto, foram abordados vários subtópicos pertinentes para melhor compreensão e domínio do assunto. Neste levantamento, foram pesquisados sobre a Política de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), a legislação vigente e também sobre as técnicas de geoprocessamento a serem empregadas para a realização do mapeamento das variáveis socioambientais selecionadas e do diagnóstico ambiental da APA da Serra da Mantiqueira. 2.2.1 Breve Histórico sobre a Política de Pagamentos por Serviços Ambientais no Brasil A Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados aprovou em dezembro de 2010 o Projeto de Lei (PL) nº 792/2007, que cria a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais. Esse projeto estabelece parâmetros para compensar financeiramente iniciativas de conservação e recuperação, tendo como alvos prioritários: 1) Ações de conservação dos recursos hídricos; 2) Conservação em áreas de elevada diversidade biológica (UCs e Terras Indígenas); 3) Recuperação e conservação dos solos e recomposição da cobertura vegetal de áreas degradas através do sistema agro florestal ou plantio de espécies nativas; 4) Captura e retenção de carbono nos solos por meio da adoção de práticas mais sustentáveis de manejo de sistemas agrícolas, agroflorestais e silvo pastoris; 5) Coleta seletiva de lixo (ISA, 2010) No Brasil, o Governo Federal não possui uma base legal única para tratar da Política de PSA. Apesar disso, existem alguns marcos históricos do PSA no Brasil que merecem destaque (Figura 1): Figura 1 – Marcos Históricos do PSA no Brasil. FONTE: Ministério do Meio Ambiente, 2012 O Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), ou Política Nacional de Recursos Hídricos, foi estabelecido pela Lei nº 9.433/97. Apesar de ter sido criado em 1997, o documento final foi aprovado pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) apenas em 30 de janeiro de 2006. A finalidade geral do Plano é: estabelecer um pacto nacional para a definição de diretrizes e políticas públicas voltadas para a melhoria da oferta da água, em quantidade e qualidade, gerenciando as demandas e considerando ser a água um elemento estruturante para a implementação das políticas setoriais, sob a ótica do desenvolvimento sustentável e da inclusão social (BRASIL, 1997). No âmbito internacional, mas com potencialidade de direcionar políticas e programas a níveis nacional e regional, ainda em 1997, foi criado o Protocolo de Quioto, que consiste em: (...) um tratado complementar à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, definindo metas de redução de emissões para os países desenvolvidos e os que à época, apresentavam economia em transição para o capitalismo, considerados os responsáveis históricos pela mudança atual do clima (MMA, s/d). Embora tenha sido criado em 1997, o Protocolo foi ratificado pelo governo brasileiro em 23 de agosto de 2002 e entrou em vigor apenas em 16 de fevereiro de 2005, pois uma das exigências era que um mínimo de 55% dos países-membros da Convenção e que fossem responsáveis por, pelo menos 55% do total das emissões de 1990, ratificasse o Protocolo. A principal preocupação dos países que ratificaram o Protocolo de Quioto consiste no aumento da temperatura média do planeta, devido ao acúmulo de gases estufa na atmosfera. Segundo a síntese sobre o Protocolo de Quioto de Decicino para o site Universo Online (UOL), esses países se comprometeram a promover: [...] o aumento da eficiência energética em setores da economia; algumas práticas sustentáveis de manejo florestal, florestamento e reflorestamento; formas sustentáveis de agricultura, pesquisa, desenvolvimento e aumento do uso de formas novas e renováveis de energia; pesquisas de tecnologias de sequestro de dióxido de carbono e de tecnologias ambientalmente seguras (avançadas e inovadoras); redução gradual ou eliminação de incentivos fiscais, isenções tributárias e tarifárias e também de subsídios para todos os setores emissores de gases de efeito estufa que sejam contrários ao objetivo do protocolo; limitação e/ou redução de emissões de metano por meio de sua recuperação e utilização no tratamento de resíduos, bem como na produção, no transporte e na distribuição de energia (DECICINO, 2007). Tendo em vista essa “crescente preocupação da sociedade com o aumento da temperatura média do planeta, causado pela emissão e acúmulo de gases de efeito estufa” (OLIVEIRA e ALTAFIN, 2008), a agricultura familiar tem se deparado com um ambiente favorável para sua expansão, principalmente nos locais de interesse sob o ponto de vista da conservação ambiental. A agricultura familiar tem uma característica peculiar que á a relação com a floresta. Sendo assim, novos modelos de incentivo à produção rural de maneira mais sustentável têm surgido ao longo dos anos. Um desses modelos é o Programa de Desenvolvimento Sustentável da Produção Familiar Rural da Amazônia – PROAMBIENTE, resultado da organização de movimentos locais, com o apoio de pesquisadores e acadêmicos. Outro programa de incentivo a agricultores e pequenos produtores rurais é o Programa Bolsa Verde, atuante no Estado de Minas Gerais, que prevê duas modalidades específicas: a manutenção e a recuperação da vegetação nativa. A concessão do incentivo financeiro aos proprietários e posseiros foi instituída pela Lei 17.727, de 13 de agosto de 2008 e regulamentada pelo Decreto 45.113, de 05 de Junho de 2009. O incentivo é proporcional à dimensão da área preservada. Juntamente com o Programa Bolsa Verde, foi criado o Programa Produtor de Água da Agência Nacional das Águas, que tem como principal enfoque o estímulo à política de Pagamentos por Serviços Ambientais na conservação dos recursos hídricos brasileiros. O Programa foi desenvolvido a partir da necessidade de se desenvolver instrumentos de gestão que visem à conservação e o uso eficiente e racional da Água. De acordo com o Manual Operativo da Agência Nacional das Águas, juntamente com o Ministério do Meio Ambiente, é dessa maneira que surge o princípio do “provedor- recebedor”, “que defende que quem contribui para melhorar a disponibilidade quali-quantitativa de água, adotando práticas sustentáveis, deve receber por esse serviço prestado à bacia hidrográfica”(ANA, 2012, p.11). A iniciativa da Agência Nacional das Águas de criar um Programa que incentive a produção de água teve como consequência outros projetos no território brasileiro, tais como: Projeto Conservador das Águas (Extrema – MG); Programa Produtor de água do PCJ (Bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí); Projeto Pipiripau (Pipiripau– DF); Projeto Oásis (Apucarana – PR); Produtores de Água e Floresta (Guandu – RJ); Projeto Produtor de Água (Camburiú – SC); Programa Produtor de Água (Guariroba – MS). Dos projetos acima citados, o Projeto “Conservador das Águas” da cidade de Extrema (MG) se destaca por ser pioneiro no Brasil na utilização da Política de Pagamentos por Serviços Ambientais em Gestão Ambiental, além de associar a educação ambiental às suas ações. Esse projeto ganhou dezenas de prêmios, dentre eles o Prêmio Caixa de Melhores Práticas em Gestão Local (2011/2012) e o Prêmio Internacional por Melhores Práticas para a Melhoria das Condições de Vida, concedido pelo Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos, o ONU Habitat. Além disso, esse Projeto vem sendo assunto de dissertações e teses acadêmicas, livros e reportagens nacionais e internacionais. Os objetivos gerais do Projeto consistem em “manter a qualidade dos mananciais de Extrema e promover a adequação das propriedades rurais” (PEREIRA, P.H. et al, 2016, p.5). Os objetivos específicos englobam recuperar e manter as áreas de preservação permanente, estabelecer práticas que conservem o solo, implementar sistemas de saneamento ambiental e estimular a averbação da Reserva Legal. Um dos resultados que comprovam o sucesso do Projeto Conservador de Águas é a quantidade de árvores plantadas ao longo de sua implementação (cerca de 754.153 árvores até 2014). Os demais Projetos também obtiveram sucesso, não nas mesmas proporções que o de Extrema (MG), porém conseguiram conquistar espaço em seus respectivos municípios, estando em vigência até hoje. É possível consultar informações detalhadas sobre esses Projetos no site da Agência Nacional das Águas. Em 2010, foi criado o Projeto Mina D’água em São Paulo, que tem grande importância por ser o Primeiro Projeto de PSA com base na Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC). Segundo a palestra “Experiências e Tendências em PSA para a Bacia do Paraíba do Sul”, ministrada por Glehn, as principais ações apoiadas por esse Projeto são: [...] conservação de remanescentes florestais; recuperação de matas ciliares e nascentes; plantio de mudas de espécies nativas e/ou execução de práticas que favoreçam a regeneração natural para a formação de corredores de biodiversidade; implantação de sistemas agroflorestais e silvo-pastoris; manejo de remanescentes florestais para controle de espécies competidoras; especialmente espécies exóticas invasoras; implantação de florestas comerciais em áreas contíguas aos remanescentes de vegetação nativa para a minimização de efeito de borda (GLEHN, 2014). Visto que a demanda por recursos naturais é crescente no nosso país e se faz cada vez mais necessário o uso racional do que se tem disponível, o uso da Política de Pagamento por Serviços Ambientais é uma ferramenta bastante útil de gestão. Entretanto, ainda existem alguns empecilhos no que concerne à sua aplicação no Brasil, tais como: indisponibilidade de recursos financeiros destinados a esse fim, falta de legislação específica que regulamente os mecanismos de transferência de recursos financeiros para seus provedores, dificuldade em definir áreas prioritárias para sua implementação, entre outros. 2.2.2 Conceito de Pagamento por Serviços Ambientais Uma política de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) pode ser definida como: uma transação voluntária, na qual um serviço ambiental bem definido, ou um uso da terra que possa assegurar este serviço, é adquirido por, pelo menos, um comprador e no mínimo, um provedor, sob a condição de que ele garanta a provisão do serviço (WUNDER, 2005, p.3). Segundo, Seehusen e Prem (2011), a ideia básica dessa política consiste em recompensar financeiramente aqueles que produzem ou mantêm os serviços ambientais, ou incentivar outros a garantirem o fornecimento de serviços ambientais. Diferentemente de instrumentos de comando e controle, o PSA é feito de maneira voluntária e pressupõe que potenciais provedores têm alternativas de uso da terra. Assim, para que um sistema de pagamentos por serviços ambientais seja implementado, é necessário que haja a demanda (compradores) e a oferta (provedores). Os compradores podem ser qualquer pessoa física ou jurídica: ONGs, empresas privadas, governos estaduais ou municipais, etc (WUNDER et al., 2008). Vale ressaltar que a disposição para pagar por serviços ambientais ainda é baixa e por isso, faz-se necessário pensar em estratégias para induzir a formação de demanda. Atualmente, a formação de demanda se dá basicamente por duas formas: 1) O governo assume o papel de comprador de serviços ambientais; e 2) Os direitos de propriedade são definidos a partir de leis, acordos ou regulamentações. “Os provedores são aqueles que dirigem instituições de assistência e/ou beneficência. São importantes para manter o funcionamento dos serviços ambientais ao adotarem atividades de proteção, manejo dos recursos naturais ou uso da terra sustentáveis e podem ser tanto os detentores dos serviços ambientais, como um intermediário” (PREM e SEEHUSUN, s/d). Frequentemente, o provedor intermediário é um governo municipal, estadual ou nacional e nesse caso, ele é compensado por tomar alguma decisão, como por exemplo a criação de uma unidade de conservação no município. Com a aprovação do novo Código Florestal Brasileiro (Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, oriunda do Projeto de Lei nº 1.876/99), o Poder Executivo Federal, detentor do poder de cumprir com a legislação ambiental, passou a ter o dever de promover programas de apoio à conservação do meio ambiente, como o pagamento ou incentivo a serviços ambientais. Os Serviços ambientais são os benefícios gerados a partir de ações de manejo dos sistemas naturais, com a finalidade de sustentar a vida no planeta. Esses serviços são divididos pela Avaliação Ecossistêmica do Milênio (realizada pelo Ministério do Meio Ambiente) em quatro grupos: regulação, suporte, suprimento e culturais, descritos na tabela a seguir: Tabela 3 – Serviços Ambientais divididos pela Avaliação Ecossistêmica do Milênio I - Regulação - dos processos ecossistêmicos 1. promoção de microclimas, para reduzir a variação da temperatura média; 2. estabelecimento de plantios com função de quebra-ventos, para a diminuição da velocidade dos ventos ou para impedir a formação de túneis de vento; 3. instalação de estruturas para reduzir a erosão do solo e da ocorrência de enchentes; 4. instalação de estruturas para reduzir o escoamento superficial de águas e o depósito de resíduos nos corpos d’água; 5. estabelecimento de áreas verdes ou de reflorestamentos para reduzir a ocorrência de doenças crônicas em seres humanos; 6. estabelecimento de áreas verdes ou reflorestamentos para reduzir a ocorrência de doenças transmissíveis por animais e plantas silvestres para as populações domésticas e de humanos; 7. reciclagem de resíduos sólidos ou líquidos para reduzir sua absorção por plantas e a deposição no lençol freático de metais pesados, minerais e microorganismos prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente; 8. estabelecimento de cobertura vegetal que funcione como barreira à poluição sonora; 9. implantação de cobertura vegetal que contribua para a melhoria daqualidade da água e para menores taxas de evapotranspiração vegetal; 10. instalação de apiários ou estruturas semelhantes, que contribuam para o aumento das populações de insetos polinizadores; II - SUPORTE – que promovam os seguintes serviços ambientais 11. manutenção da biodiversidade e das populações vegetais e animais, mediante melhoria nas condições do habitat; 12. adoção de sistemas agrícolas que favoreçam aumento do depósito de matéria orgânica no solo; 13. regulação da composição química da atmosfera; 14. regulação climática, pela regulação da temperatura global, das chuvas e de outros processos climáticos biologicamente mediados no nível global ou local; 15. ciclagem de nutrientes do solo, pelo aumento no seu armazenamento, reciclagem interna, processamento ou aquisição externa; III - SUPRIMENTO – dos bens proporcionados pelo meio ambiente, com os seguintes efeitos 16. promoção do aumento da produtividade agropecuária e da redução do crescimento da área cultivada e do desmatamento; 17. promoção da economia no uso de água presente no ecossistema ou da sua retenção, aumentando sua disponibilidade; 18. produção de biocombustíveis visando redução no consumo de combustíveis fósseis; 19. ações de conversão da energia solar para produção de madeira destinada à produção de energia; 20. ações de conversão da energia solar para produção de madeira destinada à produção ou uso industrial; 21. ações de conversão da energia solar para produção de produtos florestais não madeireiros; 22. ações de conversão da energia solar para produção de fibras; IV – CULTURAIS 23. ações que contribuam para a estética do cenário rural, por criação de barreira visual ou modificação da paisagem, inclusive mediante sistemas de uso da terra; 24. ações que contribuam para a identificação regional e para a emissão de selos de proteção da identidade geográfica; 25. ações que contribuam para a evolução do conhecimento, através do desenvolvimento de pesquisas; 26. ações que contribuam para a inspiração e a criatividade artística local; 27. ações que contribuam para a promoção de aprendizagem, através de programas educacionais; 28. ações que contribuam para a socialização, através de atividades religiosas; 29. ações que contribuam para a promoção de atividades recreativas e de ecoturismo. Fonte: Núcleo de Estudos e Pesquisas do Senado, 2011 2.2.3 Áreas de preservação permanente (APP) Conforme o Código Florestal Brasileiro (Lei nº 12.651/2012), as áreas de preservação permanente são: Áreas, cobertas ou não por vegetação nativa, localizadas na zona rural ou urbana, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. (BRASIL, 2012). O Código Florestal vigente atualmente no Brasil estabelece como áreas de preservação permanente (APPs) as florestas e demais formas de vegetação natural situadas às margens de lagos ou rios (perenes ou não); nos altos de morro; nas restingas e manguezais; nas encostas com declividade acentuada e nas bordas de tabuleiros ou chapadas com inclinação maior que 45º; e nas áreas em altitude superior a 1.800 metros, com qualquer cobertura vegetal. Já os cursos d’água são classificados pela mesma lei como sendo: perenes (com escoamento superficial durante todo o ano); intermitentes (não apresentam escoamento superficial durante todo o ano); e efêmeros (possuem escoamento superficial apenas durante períodos de precipitação. As nascentes por sua vez são definidas como um afloramento natural do lençol freático que representa perenidade, enquanto o olho d’água considera o afloramento do lençol freático intermitente (BRASIL, 2012). Os critérios para delimitação da extensão de uma Área de Preservação Permanente também são estabelecidos no Código Florestal Brasileiro, de acordo com a sua extensão (cursos d’agua, lagos e lagoas) e tipo (nascentes, topos de morro, encostas) (Tabela 4). Tabela 4 - Áreas de Preservação Permanente de acordo com o Código Florestal Brasileiro Área de Preservação Permanente Critério para delimitação Extensão da APP Rios e Cursos d'água Largura do Rio (metros) Largura da faixa marginal da APP (metros) <10 30 10 - 50 50 50 - 200 100 200 - 600 200 >600 500 Nascentes ou olhos d'água perenes APP com raio de 50 metros ao redor da nascente e dos olhos d'água perenes Lagos e Lagoas Localização Largura da faixa marginal da APP (m) Área urbana 30 Área rural, com corpo d'água < 20 hectares de superfície 50 Área rural, com corpo d'água > 20 hectares de superfície 100 Em acumulações naturais ou artificiais de água com superfície <1 ha fica dispensada a reserva da faixa de proteção No entorno de reservatórios artificiais de água que não decorram de barramento ou represamento de cursos d'água naturais não será exigida APP Topos de Morro/ Montes/ Montanhas/ Serras APPs delimitadas a partir da curva de nível correspondente a 2/3 da altura mínima da elevação em relação à base (esses tipos de APPs devem possuir altura mínima de 100 m e inclinação média de 25°) Encostas APPs com declividade >45°, equivalente a 100% na linha de maior declive Fonte: Código Florestal Brasileiro, 2012 A classificação do relevo em percentuais a partir da declividade, importante para a delimitação das APP’s de topo de morro, é realizada no Brasil pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA (Tabela 5). Tabela 5 – Declividades em Percentuais a partir de classes de Relevo Classe de Relevo Declividade (%) Plano 0 – 3 Suave Ondulado 3 – 8 Ondulado 8 – 20 Forte Ondulado 20 – 45 Montanhoso 45 – 75 Escarpado >75 Fonte: EMBRAPA, 1979 3. SELEÇÃO DE ÁREAS PRIORITÁRIAS A pesquisa ambiental parte dos seguintes pressupostos (Xavier-da-Silva, 1999b): Todo fenômeno é passível de ser localizado; Todo fenômeno tem sua extensão determinável; Todo fenômeno está em constante alteração; Todo fenômeno apresenta-se com relacionamentos (nenhum fenômeno é totalmente isolado). O Decreto 5.092, de 21 de maio de 2004, definiu que o Ministério do Meio Ambiente (MMA) deveria definir as regras para identificação de áreas prioritárias (Biomas) para a conservação, utilização sustentável e repartição dos benefícios da biodiversidade. O processo de seleção e identificação de áreas prioritárias nesse caso foi feito com base na abordagem denominada Planejamento Sistemático da Conservação (PSC), de Margules e Pressey (2010), na qual todos os alvos de conservação são definidos inicialmente pela prioridade de conservação, importância biológica e urgência de ação. Ainda que o responsável pelas diretrizes de identificação de áreas prioritárias seja o Ministério do Meio Ambiente, em pesquisas na área ambiental não se tem uma regra para a escolha do método a ser utilizado, pois cada local de estudo possui suas peculiaridades. Além disso, a aplicação da compensação por serviços ambientais é bastante limitada, pois existem muitas lacunas de informação que norteiam a tomada de decisão. Durante a fase de levantamento bibliográfico, foram encontrados diversos trabalhos referentes à seleção de áreas prioritárias e subsídios para seleção de critérios utilizados na identificação de áreas prioritárias para implementação de programas de pagamento por serviços ambientais. Os estudos encontrados foram classificados em: (a) trabalhos e projetos queutilizavam em sua metodologia seleção de áreas prioritárias para implementação da Política de Pagamentos Ambientais, porém não davam enfoque nos critérios de elegibilidade das áreas (b) aqueles que davam enfoque nos critérios; e (c) pesquisas com variáveis qualitativas ambientais de modo geral que tinham como base dar subsídios a outros projetos. Dos 32 artigos selecionados, 18 continham informações acerca de critérios de elegibilidade, 6 não apresentaram nenhum tipo de seleção de variáveis (critérios), 8 eram informativos (Código Florestal, PSA, Análise de dados ambientais, etc.) e 9 utilizavam ferramentas do Geoprocessamento em alguma etapa de sua metodologia. No primeiro caso (a), os tipos de áreas de interesse são generalizados sem o estabelecimento de critérios claros de elegibilidade das áreas, como por exemplo, o Programa “Produtor de Água na Bacia Hidrográfica Piracicaba/Capivari/Jundiaí”, que informava apenas os pré-requisitos para que um proprietário rural participasse da seleção (os proprietários rurais devem ter propriedades rurais inseridas total ou parcialmente dentro dos limites das microbacias, além de incluir no projeto mínimo 15% da área de preservação permanente (APP) e a concordância com pelo menos 25% do proposto pelos técnicos no projeto ideal). No segundo caso (b), os autores além de elegerem alguns pré– requisitos para selecionar os proprietários rurais, também descreveram os critérios de seleção para as propriedades. Os principais critérios estipulados estão descritos na Tabela 6: Tabela 6 – Critérios para identificação de áreas prioritárias para implementação de programas de PSA encontrados no material bibliográfico consultado. Variáveis Ocorrência Percentual A m b ie n ta is Presença de cursos d'água e nascentes 4 6% Ocorrência de espécies de fauna ameaçadas de extinção 3 4% Grau de conservação da Cobertura Vegetal 14 20% Importância da Área para produção de água 6 8% Qualidade da água 3 4% Conservação da Biodiversidade 2 3% Índices Pluviométricos 5 7% Declividade 5 7% Litologia 3 4% Susceptibilidade à erosão 6 8% Proximidade às UC's 3 4% Tamanho de fragmentos e Distância entre eles 1 1% Atividade Agrícola e Pecuária 1 1% Contaminação do Solo 1 1% Conectividade 3 4% S o ci a is Tamanho da propriedade 4 6% Posses que já recebam compensações por outro programa 1 1% Turismo 1 1% Urbanização 4 6% Vulnerabilidade Social - falta de infraestrutura 1 1% Fonte: Artigos e Dissertações diversos No terceiro caso (c), os pesquisadores tinham como finalidade explorar novas maneiras de tratar as variáveis ambientais, além da estatística simples. Foram constatados exemplos da utilização de técnicas de: Análise Hierárquica dos Pesos: desenvolvida pelo Prof. Thomas Saaty, na Universidade da Pensilvânia, o aplicativo auxilia na atribuição dos pesos dos planos de informação. Entretanto, o especialista ainda deve definir a hierarquia entre as variáveis e os pesos a serem atribuídos. Metodologia Delphi (Figura 2): é “uma técnica para a busca de um consenso de opiniões de um grupo de especialistas a respeito de eventos futuros” (WRIGHT; GIOVINAZZO, 2000). Figura 2 – Metodologia Delphi Fonte: Giovinazzo, 2001 Um dos artigos selecionados trata especificamente de uma proposta metodológica de priorização de municípios para implementação de Programas de Pagamentos por Serviços Ambientais no Estado do Rio de Janeiro. Para a pesquisa, foram utilizados metadados municipais, disponibilizados no site do Banco Multidimensional de Estatísticas do IBGE. Diante das inúmeras variáveis disponíveis na Plataforma, os autores selecionaram 36 variáveis (Tabela 7) que foram agrupadas em três eixos temáticos: impactos ambientais, aparato institucional e ações ambientais. A partir dessa classificação, foram atribuídos valores de 1 ou 0 para a ocorrência ou não, respectivamente, da variável. De acordo com o critério estabelecido, um município poderia assumir o valor máximo de 14 no eixo impactos ambientais, 15 no eixo aparato institucional e sete no eixo ações ambientais (FERNANDES e BOTELHO, 2016). Tabela 7 – Variáveis selecionadas organizadas por eixo temático Eixos temáticos Variáveis Impactos ambientais Alteração ambiental que tenha afetado a vida da população Alteração que tenha prejudicado a paisagem Assoreamento de corpo de água no município Atividade agrícola prejudicada por problema ambiental Atividade pecuária prejudicada por problema ambiental Contaminação do solo Degradação de áreas legalmente protegidas Desmatamento Escassez do recurso água Poluição do ar Poluição do recurso água Queimadas Redução da quantidade/diversidade ou perda qualidade do pescado Outras ocorrências impactantes Aparato Institucional Estrutura Institucional Agenda 21 local (diagnóstico/metodologia) Fundo Municipal de Meio Ambiente – existência Legislação específica para a questão ambiental – existência Órgão responsável pelo meio ambiente – secretaria municipal específica Consórcio intermunicipal Convênio e acordo administrativo Conselho municipal de meio ambiente - existência Recursos financeiros específicos para a área ambiental Empresa pública Entidades de ensino e pesquisa Aparato Institucional Recursos financeiros específicos para a área ambiental Iniciativa privada Instituição/órgão internacional Organização não governamental (ONG) Órgão público Outras fontes de recursos PSA Fonte: FERNANDES, BOTELHO (2016) 4. CARACTERIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA ÁREA ESTUDADA A APA da Serra da Mantiqueira é uma área correspondente a 421.804,46 hectares (aproximadamente 58% do Mosaico Mantiqueira) e está distribuída em 29 municípios localizados nos estados de Minas Gerais (66%), São Paulo (6,5%) e Rio de Janeiro (27,5%) (Figura 3). A maioria dos municípios da APA Mantiqueira estão localizados em grandes altitudes (Figura 4), sendo que o município Queluz possui a menor Altitude (426 metros) e Campos do Jordão a maior altitude (1628 metros). Segundo o Censo 2010, a cidade mais populosa da APASM é Resende (RJ) e a cidade menos populosa é Alagoa (MG). A média de número de habitantes nos municípios que compõem a APASM é de 27.322,52 habitantes e 7 municípios estão acima dessa média e 22 estão abaixo. A cidade de Cruzeiro (SP) possui a maior densidade demográfica (Tabela 8), ou seja, maior quantidade de habitantes por quilômetro quadrado e Aiuruoca (MG) possui a menor e a cidade de Aiuruoca possui a menor. A densidade demográfica média dos municípios da APASM é de 65,59 habitantes por km² e 9 municípios estão acima dessa média e 20 abaixo. Figura 3 – Mapa da área de estudo Figura 4 – Mapa de Altimetria da APA Mantiqueira Tabela 8 – Censo 2010, Crescimento populacional, Densidade, Área e Porcentagem do Município na APA e Altitude Fonte: IBGE, 2010 MUNICÍPIO ÁREA TOTAL (HA) DENSIDADE (hab/ km²) PORCENTAGEM DO MUNICÍPIO DENTRO DA APA ALTITUDE((m) Aiuruoca (MG) 64910 9,5 35,3% 1.160,40 Alagoa (MG) 16276 16,6 100% 1.112,10 Baependi (MG) 74986 24,4 60,2% 895,3 Bocaina de Minas (MG) 50150 10 88,7% 1.166,90 Bom Jardim de Minas (MG) 39566 16,4 0,3% 1.128,80 Delfim Moreira (MG) 40808 19,5 100% 1.218 Itamonte (MG) 43087 32,5 58,9% 900,8 Itanhandu (MG) 14296 99,2 21,4% 920,8 Liberdade (MG) 40094 13,3 41,6% 1.136,20 Marmelópolis (MG) 10719 27,7 100% 1.290,70Passa Quatro (MG) 27663 56,3 43,5% 936,5 Passa-Vinte (MG) 24592 8,5 41,8% 845,1 Piranguçu (MG) 16975 30,7 59% 892,6 Pouso Alto (MG) 26026 23,9 20% 892,3 Santa Rita de Jacutinga (MG) 42090 11,9 0,01% 646,8 Virgínia (MG) 32580 26,5 25,2% 942,6 Wenceslau Brás (MG) 13764 18,5 100% 959,6 Itatiaia (RJ) 25227 128,1 9,8% 410 Resende (RJ) 111099 107,8 23,2% 400 Campos do Jordão (SP) 29094 164,3 57,2% 1.628 Cruzeiro (SP) 30583 251,9 34,6% 506 Guaratinguetá (SP) 75115 149,9 35,5% 537 Lavrinhas (SP) 16684 39,5 45,5% 545 Lorena (SP) 41558 198,6 0,3% 528 Pindamonhangaba (SP) 72880 201,7 25,2% 526 Piquete (SP) 17626 80 46,2% 636 Queluz (SP) 25055 45,1 39,1% 426 Santo Antônio do Pinhal (SP) 13243 49 8,4% 1072 São Bento do Sapucaí (SP) 25227 41,5 100% 888 Média 36619,76 65,59 45,55% 867,16 Outro fator importante a ser considerado é a porcentagem que cada município está inserido na APASM (Figura 5), pois alguns deles (Bom Jardim de Minas - MG, Santa Rita de Jacutinga - MG e Lorena - SP), apesar de constarem nos dados, possuem uma área muito pequena (menor que 1%) integrando a Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira. Existem 19 municípios que possuem menos de 50% de sua área inserida na APASM, por outro lado, cinco municípios estão inseridos totalmente na APASM: Alagoa (MG), Delfim Moreira (MG), Marmelópolis (MG), Wenceslau Braz (MG) e São Bento do Sapucaí (SP). Em relação a projeção de crescimento populacional dos municípios da APASM pode-se considerar que este indicador acompanha a tendência nacional. Nos últimos anos, grande parte dos municípios brasileiros apresentaram redução nas suas taxas de natalidade, apesar do aumento da expectativa de vida da população no mesmo período. Essas alterações na estrutura populacional devem-se a diversos fatores, tais como: urbanização, planejamento familiar, queda da fecundidade, utilização de métodos contraceptivos, inserção da mulher no mercado de trabalho, entre outros. No caso dos municípios da APASM, a média de crescimento populacional é de 4,3%, sendo que 15 estão abaixo dessa média e 14 estão acima (Tabela 9). Quatro das cidades da APASM possuem uma estimativa de crescimento populacional negativa (Liberdade, Marmelópolis, Pouso Alto e Piquete), o que indica um decréscimo da população ao longo dos anos. Figura 5 – Porcentagem dos Municípios na APA Mantiqueira Tabela 9 – Projeção do Crescimento Populacional dos Municípios da APA Mantiqueira Fonte: IBGE, 2010 4.1 Indicadores Sociais Além do crescimento populacional, outro índice importante que revela algumas características dos municípios é o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM). O IDHM brasileiro considera as mesmas variáveis do IDH global - longevidade, educação e renda, entretanto ajusta a metodologia global ao contexto brasileiro e à disponibilidade de indicadores nacionais. Desse modo, as vertentes do IDHM mostram um pouco da história dos municípios em três dimensões do desenvolvimento humano. Esse índice é MUNICÍPIO CENSO 2010 CRESCIMENTO POPULACIONAL (2010-2016) Aiuruoca (MG) 6162 1,01% Alagoa (MG) 2709 1,73% Baependi (MG) 18307 5,16% Bocaina de Minas (MG) 5007 3,46% Bom Jardim de Minas (MG) 6501 2,26% Delfim Moreira (MG) 7971 2,91% Itamonte (MG) 14003 9,03% Itanhandu (MG) 14175 7,23% Liberdade (MG) 5346 -0,49% Marmelópolis (MG) 2968 -1,68% Passa Quatro (MG) 15582 5,33% Passa-Vinte (MG) 2079 1,39% Piranguçu (MG) 5217 5,33% Pouso Alto (MG) 6213 -0,05% Santa Rita de Jacutinga (MG) 4993 1,22% Virgínia (MG) 8623 2,84% Wenceslau Brás (MG) 2553 2,47% Itatiaia (RJ) 28783 3,94% Resende (RJ) 119769 5,27% Campos do Jordão (SP) 47789 7,05% Cruzeiro (SP) 77039 5,67% Guaratinguetá (SP) 112072 6,86% Lavrinhas (SP) 6590 7,77% Lorena (SP) 82537 6,11% Pindamonhangaba (SP) 146995 10,43% Piquete (SP) 14107 -0,42% Queluz (SP) 11309 12,98% Santo Antônio do Pinhal (SP) 6486 4,59% São Bento do Sapucaí (SP) 10468 3,94% Média 27322,52 4,3% importante, pois “populariza o conceito de desenvolvimento centralizado nas pessoas, possibilita a comparação entre os municípios brasileiros ao longo do tempo e estimula os formuladores e implementadores de políticas públicas no nível municipal a buscarem melhores que priorizem a melhoria da qualidade de vida da população” (ATLAS BRASIL, s/d). De acordo com a pesquisa feita pelas instituições PNUD Brasil, Ipea e a Fundação João Pinheiro, de todos os municípios da APASM, apenas 10 possuem IDHM maior que o IDHM do Brasil (0,727), sendo Guaratinguetá o município com maior IDHM (0,798) e Bocaina de Minas com menor IDHM (0,645) dentre todos os municípios da APASM (Figura 6). A média do IDHM dos municípios da APASM é de 0,708 e 14 municípios estão acima dessa média e 15 municípios estão abaixo. As instituições responsáveis pelo cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano classificam-no em 5 classes: IDHM entre 0 - 0,499: Muito Baixo Desenvolvimento Humano; IDHM entre 0,500 - 0,599: Baixo Desenvolvimento Humano; IDHM entre 0,600 - 0,699: Médio Desenvolvimento Humano; IDHM entre 0,700 - 0,799: Alto Desenvolvimento Humano; IDHM entre 0,800 e 1: Muito Alto Desenvolvimento Humano. Desse modo, nenhum município está inserido nas classificações de Muito Baixo, Baixo ou Muito Alto Desenvolvimento Humano. Da totalidade dos municípios integrantes da APASM, 13 são classificados como Médio Desenvolvimento Humano; e 16 são classificados como Muito Alto Desenvolvimento Humano. Figura 6 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal A renda per capita também é um indicador importante para a caracterização dos municípios integrantes da APASM, pois trata-se de um indicador relacionado à avaliação do grau de desenvolvimento econômico de um determinado lugar. Essa avaliação é feita a partir da razão entre o somatório de todos os rendimentos de todos os indivíduos residentes no lugar de referência e número total desses indivíduos. Na APASM, a renda per capita dos municípios é variada (Figura 7) e 24 dos 29 municípios da APASM estão abaixo da renda per capita nacional (R$793,87), a média da Renda Per capita dos municípios da APASM é de R$610,58. O município de Guaratinguetá (SP) possui a maior renda per capita (R$926,78) e Marmelópolis a menor (R$367,73). Figura 7 – Renda Per capita dos municípios da APA Mantiqueira Mais um indicador importante é a taxa de mortalidade infantil. A taxa mortalidade infantil corresponde ao número de crianças de um determinado local que morrem antes de completar 1 ano, a cada mil nascidas vivas. Esse indicador social é importante para conhecimento das informações acerca dos serviços de saneamento ambiental, disponibilidade de alimentos no local, pois a desnutrição ainda é um dos fatores responsáveis por óbitos no Brasil, condição de hospitais, entre outros. No Brasil, essa taxa tem apresentado queda ao longo dos anos (em 2010, a taxa era de 16,7) e os municípios da APASM acompanham essa tendência (Figura 8). A média da Taxa de Mortalidade Infantil dos municípios da APASM é de 14,65, sendo que 15 dos municípios integrantes da APASM se encontram acima dessa média e 14 abaixo (Tabela 10). Tabela 10 – Taxa de Mortalidade Infantil e Taxa de Analfabetismo Fonte: PNUD Brasil,IPEA, IBGE e Fundação João Pinheiro Lugar Mortalidade infantil (2010) Taxa de analfabetismo - 11 a 14 anos (2010) Taxa de analfabetismo - 15 anos ou mais (2010) Brasil 16,7 3,24 9,61 Aiuruoca (MG) 12,1 1,25 14,07 Alagoa (MG) 15,4 1,56 14,44 Baependi (MG) 15,4 1,38 10,05 Bocaina de Minas (MG) 14,0 0,93 17,66 Bom Jardim de Minas (MG) 16,4 1,27 11,80 Delfim Moreira (MG) 15,0 1,56 9,19 Itamonte (MG) 13,6 0,77 6,01 Itanhandu (MG) 12,1 0,59 4,63 Liberdade (MG) 15,3 1,60 14,92 Marmelópolis (MG) 18,0 0,84 10,28 Passa Quatro (MG) 13,0 1,24 5,76 Passa-Vinte (MG) 17,7 3,60 13,31 Piranguçu (MG) 18,0 1,94 10,83 Pouso Alto (MG) 14,1 1,49 8,51 Santa Rita de Jacutinga (MG) 16,0 2,86 12,31 Virgínia (MG) 15,7 2,46 12,51 Wenceslau Braz (MG) 14,5 1,75 5,53 Itatiaia (RJ) 13,8 2,20 5,83 Resende (RJ) 13,9 1,39 4,21 Campos do Jordão (SP) 13,1 1,76 4,41 Cruzeiro (SP) 11,5 1,11 2,86 Guaratinguetá (SP) 8,7 1,27 2,91 Lavrinhas (SP) 15,7 1,34 6,33 Lorena (SP) 13,9 1,18 3,69 Pindamonhangaba (SP) 12,9 1,19 3,87 Piquete (SP) 15,7 0,69 4,80 Queluz (SP) 15,7 1,31 6,53 Santo Antônio do Pinhal (SP) 16,8 1,23 8,08 São Bento do Sapucaí (SP) 16,8 1,27 8,45 MÉDIA APA 14,5 1,48 8,41 Figura 8 – Espacialização da Mortalidade Infantil na APA Mantiqueira Nessa pesquisa, também foram levantados dados em duas faixas etárias diferentes no que concerne à taxa de analfabetismo: 11 a 14 anos e a partir de 15 anos. Essas taxas são calculadas a partir da razão entre a população da faixa etária correspondente que não saber ler nem escrever um bilhete simples e o total de pessoas nessa mesma faixa etária multiplicada por 100. 𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝐴𝑛𝑎𝑙𝑓𝑎𝑏𝑒𝑡𝑖𝑠𝑚𝑜 = 𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑎𝑛𝑎𝑙𝑓𝑎𝑏𝑒𝑡𝑎 𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑇𝑜𝑡𝑎𝑙 ∗ 100 O analfabetismo é um dado que revela as desigualdades sociais históricas. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a região na qual está inserida a APASM (Sudeste) possui a segunda menor taxa de analfabetismo do Brasil, seguida pelo Sul em primeiro lugar: Figura 9 – Evolução das taxas de analfabetismo por região Fonte: IBGE, 2010 A média da taxa de Analfabetismo (11-14 anos) dos municípios da APASM é baixa, cerca de 1,48%; 11 cidades possuem essa taxa superior à média e 18 possuem a taxa inferior. O município com maior número de analfabetos nessa faixa etária é Passa-Vinte (3,6%), enquanto o município com o menor número é Itanhandu (0,69%). A média da taxa de Analfabetismo dos habitantes com mais de 15 anos (Figura 10) é maior, cerca de 8,41 %; 14 cidades possuem essa taxa superior à média e 15 cidades possuem a taxa inferir. O município com maior número de analfabetos com mais de 15 anos é Bocaina de Minas (17,66%), enquanto o município de Cruzeiro possui o menor número (2,86%). Figura 10 – Taxa de Analfabetismo (15 anos os mais) nos Municípios da APA Mantiqueira 4.2 Características de habitação Em relação às características de habitação dos municípios integrantes da APASM, foram analisados os dados relacionados ao saneamento básico: porcentagem da população em municípios com água encanada e porcentagem da população em municípios com coleta de lixo; e porcentagem da população em domicílios com energia elétrica, conforme dados disponibilizados pelas instituições PNUD Brasil, Ipea e a Fundação João Pinheiro (Tabela 11). No Brasil, as diretrizes para o Saneamento Básico são dadas pela Lei 11.445/2007, que estabelece, entre outros fatores, quais os serviços públicos de saneamento básico serão prestados: “abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente” (BRASIL, 2007). Grande parte dos problemas relacionados ao saneamento básico estão diretamente ligados ao meio ambiente. Um exemplo disso é “a diarreia que, com mais de quatro bilhões de casos por ano, é uma das doenças que mais atinge a humanidade” (SILVA, 2007, p.8). Assim, “pode-se concluir que Saneamento equivale a saúde” (SILVA, 2007, p.7) e que investir em saneamento pode significar em economia. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, “para cada R$1,00 investido no setor de saneamento, economiza-se R$4,00 na área de medicina curativa” (SILVA, 2007, p.9). O município de Wenceslau Braz está totalmente inserido na APA e menos de 50% da população reside em domicílios com água encanada. A cidade de Delfim Moreira também está totalmente inserida na APA e pouco mais de 60% da população reside em domicílios com acesso à rede de abastecimento de água potável. O restante dos municípios possui mais de 70% da população em domicílios com acesso à água encanada. Outro dado importante a se analisar é o esgotamento sanitário. Apenas 5 municípios da APASM possuem tratamento de esgoto (Itanhandu, Pindamonhangaba, Lorena, Guaratinguetá e São Bento do Sapucaí). Desse modo, a média de volume de esgoto coletado (m³/dia) da APASM é muito baixa (333,72). Esses dados indicam que esses municípios devem investir ainda mais para que toda a população tenha acesso à água encanada e ao tratamento de esgoto e são importantes, visto que muitas vezes a ocorrência de epidemias e a taxa de mortalidade infantil estão relacionadas à falta de saneamento básico e afetam diretamente a qualidade de vida da população. Em relação às outras duas variáveis, todos os municípios da APA Mantiqueira possuem mais de 90% da população residente em domicílios com coleta de lixo e com acesso à rede elétrica, o que indica grande desenvolvimento no sentido de conforto, bem estar, segurança e lazer. Tabela 11 – Dados sobre as características de habitação Lugar % da população em domicílios com água encanada (2010) % da população em domicílios com coleta de lixo (2010) % da população em domicílios com energia elétrica (2010) Brasil 92,72 97,02 98,58 Aiuruoca (MG) 70,74 99,76 98,59 Alagoa (MG) 71,02 98,19 99,23 Baependi (MG) 86,83 99,42 98,77 Bocaina de Minas (MG) 72,80 97,81 97,93 Bom Jardim de Minas (MG) 94,68 98,88 98,01 Delfim Moreira (MG) 67,69 99,51 99,31 Itamonte (MG) 74,13 99,44 98,96 Itanhandu (MG) 94,83 99,61 99,84 Liberdade (MG) 88,25 99,02 95,03 Marmelópolis (MG) 75,80 99,52 99,07 Passa Quatro (MG) 91,31 98,99 99,82 Passa-Vinte (MG) 88,51 100,00 97,09 Piranguçu (MG) 70,04 100,00 99,17 Pouso Alto (MG) 82,90 96,46 99,39 Santa Rita de Jacutinga(MG) 91,76 93,01 98,96 Virgínia (MG) 76,37 100,00 99,61 Wenceslau Braz (MG) 44,96 100,00 99,52 Itatiaia (RJ) 93,42 97,83 99,47 Resende (RJ) 98,28 99,76 99,89 Campos do Jordão (SP) 92,06 99,35 100,00 Cruzeiro (SP) 98,56 99,46 99,77 Guaratinguetá (SP) 99,09 99,76 99,85 Lavrinhas (SP) 95,21 99,41 99,95 Lorena (SP) 98,88 99,62 99,68 Pindamonhangaba (SP) 99,01 99,11 99,66 Piquete (SP) 95,74 99,84 99,84 Queluz (SP) 84,52 96,93 99,63 Santo Antônio do Pinhal (SP) 77,89 99,57 99,85 São Bento do Sapucaí (SP) 82,30 99,41 99,96 MÉDIA 84,74 98,95 99,17 Fonte: PNUD Brasil, IPEA e Fundação João Pinheiro, 2010 4.3 Hidrografia Com base no arquivo vetorial de feições pontuais gerado a partir do arquivo que representa os cursos d’agua no território da APASM (Figura 11), a área estudada conta com mais de 9.658 nascentes perenes. O Código Florestal Brasileiro determina que a Área de Preservação Permanente (APP) de uma nascente deve ter um raio de 50 metros. As APPs da APA da Serra da Mantiqueira compreendem a uma área de aproximadamente 7.565 hectares e aproximadamente10.335.600 m de cursos d’água (córregos e rios). Tendo a APA uma área igual a 4.218.044.600 m² (421.804 hectares), a porcentagem correspondente a APPs de nascente é de 1,8% da área total da APASM (Tabela 12). Tabela 12 – Áreas Correspondentes Local Área Correspondente (hectares) APA Mantiqueira 421.804 APP de nascente 7.564 Porcentagem de APP de nascente na APA Mantiqueira 1,8% Fonte: IBGE, 2010 Figura 11 – Mapa da Hidrografia da APA Mantiqueira 5. CONCLUSÃO A partir dos artigos e dissertações pesquisados, foram encontradas diversas metodologias que podem ser utilizadas para elaboração de um Programa de Pagamentos por Serviços Ambientais na Área de Proteção Ambiental da Serra Mantiqueira. Como já mencionado, a metodologia utilizada no artigo se destaca por ter objetivos semelhantes ao desse projeto “PROPOSTA METODOLÓGICA DE PRIORIZAÇÃO DE MUNICÍPIOS PARA IMPLANTAÇÃO DE PROGRAMAS DE PAGAMENTO POR SERVIÇOS AMBIENTAIS (PSA)”. Sendo assim, poderá ser feita uma adaptação das variáveis utilizadas no artigo para a Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira, podendo ser consultadas no Banco Multidimensional de Estatísticas do IBGE. O levantamento socioambiental dos municípios que compõem a APASM evidenciou a importância do desenvolvimento ambiental (proteção e manutenção dos recursos naturais) da área para a preservação dos recursos naturais. Alguns municípios se sobressaem por não terem boa infraestrutura e necessitam de atenção por parte do poder público e seus gestores; caso contrário, nascentes e cursos d’água correm o risco de serem poluídos e grandes reservas naturais devastadas acarretando sérios problemas ao ecossistema e biodiversidade local. Além disso, esse levantamento colaborou para a caracterização da população desses municípios, a partir de levantamentos de indicadores como IDHM, Renda Per Capita, Taxa de Analfabetismo, Mortalidade Infantil, Coleta de esgoto, Disponibilidade de água encanada, acesso à rede elétrica, entre outros. Outra conclusão importante evidenciada por esse projeto foi a real necessidade de determinar um método de seleção de áreas prioritárias para implementação da política de PSA na APA Mantiqueira, visto que grande parte dos municípios estudados não possuem verba para financiamento de projetos e programas dessa natureza. A participação no desenvolvimento neste projeto foi essencial para aprofundar meus conhecimentos nas áreas de: gestão ambiental, de geoprocessamento e planejamento urbano. Na área de gestão ambiental pude entrar em contato com diversas formas que existem de aplicar a Política de Pagamento por Serviços Ambientais; na área de geoprocessamento aprendi mais funções do software de geoprocessamento ArcGIS além das vistas na disciplina de “Sistemas de Informação Geográfica”; e na área de planejamento urbano tive contato com diversos órgãos públicos e percebi a dificuldade de se obter dados para aplicar em pesquisas. Além disso, pude aplicar alguns dos conceitos vistos em aulas da graduação; o que considero ter sido muito importante para complementar minha formação como Engenheira Ambiental e ampliar meus horizontes em relação a minha atuação no Mercado de trabalho. 6. REFERÊNCIAS ANA. Manual Operativo do Programa Produtor de Água. 2012. Disponível em: <http://produtordeagua.ana.gov.br/Portals/0/DocsDNN6/documentos/Manual Operativo Versão 2012 01_10_12.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2017. 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ANEXO I ANEXO II ANEXO III ANEXO IV ANEXO V
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