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Artigo sobre a diversidade cultural e a luta pela igualdade

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Revista Observatório da Diversidade Cultural
Volume 01, nº 01 (2014)
www.observatoriodadiversidade.org.br/revista
A DIVERSIDADE CULTURAL E O DIREITO À IGUALDADE E À DIFERENÇA
Weslaine Wellida Gomes1
Resumo: 
O artigo propõe uma reflexão acerca dos possíveis entendimentos de diversidade cultural. Esta, que 
se tornou nas últimas décadas, um elemento central para a discussão acerca do desenvolvimento 
humano, ancorado em valores como justiça, paz, liberdade, participação e igualdade. Em nossa 
abordagem exploramos os dilemas colocados pelo princípio da igualdade política no campo cultural, 
quando se trata de estabelecer os marcos da livre manifestação das práticas culturais em democracias 
de base liberal.
Palavras-chave: Democracia, Igualdade e Diversidade Cultural.
Abstract: 
The article suggests a reflection on the possible comprehensions of cultural diversity, that has become, 
in the last decades, a central element for discussions about human development, based on principles 
such as justice, peace, liberty, participation and equality. Dilemas caused by the principle of political 
equality in the cultural field when establishing the standards of free manifestations of cultural practices 
in liberal democracies will be asserted.
Key words: Democracy, Equality and Cultural Diversity.
1 Atriz e socióloga. Possui graduação em Ciências Sociais e Mestrado em Ciência Política, ambos pela Universidade Federal de 
Minas Gerais (UFMG). Possui formação em teatro pelo Curso Técnico de Formação de Atores do Teatro Universitário, também 
pela UFMG. E-mail: wes.wellida@hotmail.com
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Revista Observatório da Diversidade Cultural
Volume 01, nº 01 (2014)
www.observatoriodadiversidade.org.br/revista
1. INTRODUÇÃO
As discussões atuais sobre democratização cultural – ou democracia cultural, como defende Isaura 
Botelho (2001) – convergem para um ponto: a necessidade de um Estado democrático reconhecer a 
diversidade cultural que compõe as sociedades modernas.
Numa democracia participativa a cultura deve ser encarada como expressão de cidadania, um dos objetivos 
de governo deve ser, então, o da promoção das formas culturais de todos os grupos sociais, segundo as 
necessidades e desejos de cada um, procurando incentivar a participação popular no processo de criação 
cultural, promovendo modos de autogestão das iniciativas culturais (CALABRE, 2007, p. 102).
O reconhecimento e a valorização das múltiplas práticas culturais é uma das disposições presentes 
em muitos organismos internacionais, entre eles, a Unesco, um dos organismos mais importantes 
do sistema das Organizações Unidas. Criada em 1945, a Unesco procura funcionar como espaço de 
cooperação entre os países no âmbito da educação, ciência e cultura. Para tanto, são estabelecidas 
normas de orientação na área cultural, por meio de instrumentos jurídicos, com o intuito de proteger 
a cultura em suas várias manifestações.
A diversidade cultural é compreendida pela Unesco como a “multiplicidade de formas pelas quais as 
culturas dos grupos e sociedades encontram sua expressão” (UNESCO, 2005, p. 5), tendo os direitos 
culturais como marco. Os direitos culturais são reconhecidos como “parte integrante dos direitos 
humanos, que são universais, indissociáveis e interdependentes” (UNESCO, 2002, p. 3), abarcando o 
direito à 1) criação e difusão cultural, 2) participação na vida cultural, 3) respeito às identidades e 4) o 
livre exercício das práticas culturais. 
O Brasil é signatário de importantes atos normativos da Unesco, como a Declaração Universal sobre a 
Diversidade Cultural (2002) e a Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões 
Culturais (2005), ratificada pelo Brasil em 2006. O país reconhece ainda os direitos culturais e os 
contempla no artigo 215 da Constituição de 1988: “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos 
direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão 
das manifestações culturais” (BRASIL, 1989, Constituição Federal, artigo 215). 
Os direitos culturais são cada vez mais reconhecidos como parte de uma nova geração de direitos 
humanos, e colocam em pauta um dos fundamentos da República Brasileira: a cidadania. Segundo 
Francisco Cunha Filho (2010), “ter a cidadania como ‘Fundamento da República Brasileira’ corresponde 
à compreensão de que ela é inerente a toda e qualquer atividade estatal” (p. 183), abrangendo, portanto, 
a área cultural. Entretanto, antes de aprofundar nos marcos conceituais da noção atual de “cidadania 
cultural”, é preciso esclarecer a própria ideia de cidadania, dado que devido à grande apropriação do 
termo, este pode ser utilizado com sentidos diferentes (DAGNINO, 1994). 
No livro Cidadania, Classe Social e Status, que se tornou referência para os estudos sobre cidadania, T.H 
Marshall (1967) buscou compreender as relações existentes entre classe social, status e cidadania. Para 
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o autor, a cidadania pode ser compreendida como um conjunto de direitos, que se dividem em três 
dimensões: os direitos civis, os direitos políticos e os direitos sociais2. As três dimensões da cidadania 
não surgiram no mesmo período histórico, foram necessários três séculos para a consolidação da 
cidadania plena. No século XVIII, os direitos civis se afirmaram, no século XIX foi a vez dos direitos 
políticos e no século XX, os direitos sociais se efetivaram. Convém salientar que em sua análise sobre 
o desenvolvimento da cidadania, Marshall analisa a história da Inglaterra, embora o autor tenha a 
pretensão de formular uma teoria sobre a evolução da cidadania na sociedade moderna como um 
todo. Por isso, a “teoria da cidadania” proposta por Marshall não corresponde à realidade de outros 
países, entre eles, o Brasil. 
No Brasil, podemos destacar os estudos de José Murilo de Carvalho (2001) sobre o processo de 
construção da cidadania no país. O autor opera na mesma matriz conceitual fornecida por Marshall, 
mas afirma que o desenvolvimento da cidadania brasileira não obedeceu a sequência lógica e 
cronológica observada na Inglaterra. A formação da cidadania no Brasil teve origem em um processo 
mais complexo, onde houve recuos e avanços nas três dimensões de direitos. 
Em sua narrativa, Carvalho salienta de início que o período colonial teve forte influência sobre a 
construção dos direitos no país. Ao fim deste período, a maioria da população estava excluída dos 
direitos civis e políticos. “A herança colonial pesou mais na área dos direitos civis. O novo país herdou a 
escravidão, que negava a condição humana do escravo, herdou a grande propriedade rural, fechada à 
ação da lei, e herdou um Estado comprometido com o poder privado.” (CARVALHO, 2001, p. 45). 
Em oposição ao Brasil Colônia, o período de 1930-1945 se caracterizou pelo avanço nos direitos sociais. 
Para Carvalho, os trabalhadores foram incorporados à sociedade por meio de leis sociais e não de sua 
ação sindical e política independente. A ditadura do Estado Novo inverteu a ordem do surgimento 
dos direitos descrita por Marshall, ao deixar em segundo plano os direitos políticos. Estes últimos 
foram expandidos somente no período democrático, entre 1945-1964, quando novamente se viram 
relegados pelo Golpe de 64.
A ditadura militar se notabilizou pela restrição dos direitos civis e políticos. E, assim como no Estado 
Novo, os direitos sociais foram ampliados. Sobre este aspecto, Carvalho adverte que as ditaduras depois 
de 1930 procuraram compensar a falta de liberdade política com o fortalecimento dos direitos sociais. 
No entanto, o êxito desta tática foi maior durante o período varguistado que na ditadura militar. 
2 De acordo com Marshall: Direitos civis - “(...) são os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade 
perante a lei. Eles se desdobram na garantia de ir e vir, de escolher o trabalho, de manifestar o pensamento, de organizar-se, 
de ter respeitada a inviolabilidade do lar e da correspondência, de não ser preso a não ser pela autoridade competente e de 
acordo com as leis, de não ser condenado sem processo legal regular.(...) Sua pedra de toque é a liberdade individual.” (p. 9)
Direitos políticos - “Estes se referem à participação do cidadão no governo da sociedade. Seu exercício é limitado a parcela da 
população e consiste na capacidade de fazer demonstrações políticas, de organizar partidos, de votar, de ser votado. Em geral, 
quando se fala de direitos políticos, é do direito do voto que se está falando. Se pode haver direitos civis sem direitos políticos, 
o contrário não é viável. (...) Sua essência é a idéia de autogoverno.” (p. 9-10)
Direitos sociais – “garantem a participação na riqueza coletiva. Eles incluem o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, 
à saúde, à aposentadoria. (...) Em tese, eles podem existir sem os direitos civis e certamente sem os direitos políticos. Podem 
mesmo ser usados em substituição aos direitos políticos. (...) A idéia central em que se baseiam é a da justiça social.” (p. 10) 
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No momento de redemocratização até os anos 2000, quando termina a análise do autor, há recuos 
e avanços nas três dimensões dos direitos, sendo a promulgação da Constituição de 1988, um marco 
para os direitos civis. Entretanto, os direitos civis, a base da sequência de direitos estabelecida por 
Marshall, continuam inacessíveis a grande parcela da população. No Brasil, o desenvolvimento da 
cidadania iniciou-se com os direitos sociais, seguidos pelos direitos políticos e civis. A inversão desta 
sequência, segundo Carvalho, trouxe consequências negativas para a democracia brasileira, entre as 
quais podemos destacar algumas que interessam a este artigo.
A primeira consequência diz respeito ao desgaste da convicção democrática da sociedade brasileira, 
baseada na falta de confiança nas instituições, principalmente daquelas ligadas ao Legislativo. A 
segunda consequência apontada pelo autor é o alto consumismo, que compromete a possibilidade de 
avanços democráticos, na medida em que desvia o foco da luta por direito político, civil e social.
A cultura do consumo dificulta o nó que torna tão lenta a marcha da cidadania entre nós, qual 
seja, a incapacidade do sistema representativo de produzir resultados que impliquem a redução da 
desigualdade e o fim da divisão dos brasileiros em castas separadas pela educação, pela renda, pela 
cor (CARVALHO, 2001, p. 229).
A era do “direito ao consumo” tem como fio condutor a supremacia dos interesses do mercado sobre os 
interesses públicos. Neste cenário em que predomina a competição por uma maior compra e venda de 
mercadorias, a produção cultural e artística corre o risco de se submeter também à lógica do mercado, 
vinculando-se às variações de preço e demanda. Sob esta ótica, a cultura passa a ser encarada como 
um produto rentável a ser comercializado, diferente da compreensão de cultura como experiência 
humana, modos de vida, vinculada à valores simbólicos, que defendemos neste artigo. Ademais, há 
a dificuldade de assegurar a cultura como direito social, em um contexto em que grande parte da 
população encontra-se ainda excluída dos direitos civis.
2. IGUALDADE POLÍTICA E OS DIREITOS DE CIDADANIA CULTURAL
Não obstante as dificuldades enfrentadas pelo setor cultural no processo de construção de uma política 
cultural democrática, há um esforço analítico para estabelecer aqueles que seriam os fundamentos da 
noção de cidadania cultural. Para Cunha Filho (2010), o conceito de cidadania cultural tal como tem 
sido esboçado atualmente contempla:
1)Definição antropológica de cultura, 2) política cultural como direitos igualitários dos cidadãos, 3) 
criatividade e inovação, 4) resguardo das memórias coletivas e 5) acatamento da legislação cultural 
considerada legítima (CUNHA FILHO, 2010, p. 185). 
Ainda segundo o autor, é possível identificar no ordenamento jurídico brasileiro formas previstas 
do exercício da cidadania cultural. A mais significativa delas – assumindo que cidadania apreende 
essencialmente a ideia de participação – é a intervenção na criação de leis, bem como sua fiscalização.
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A filósofa Marilena Chauí (2006) vincula a ideia de cidadania cultural à compreensão da cultura como 
direito dos cidadãos, separando-os da figura do consumidor e do contribuinte. A autora também 
adota um conceito ampliado de cultura para estabelecer os marcos do que considera direito à 
cultura. Entre eles encontram-se os direitos 1) à produção cultural, 2) à participação nas decisões 
do fazer cultural, 3) à formação cultural e artística pública, 4) à experimentação do novo e 5) à 
informação e à comunicação.
Podemos observar que a noção de cidadania cultural proposta por Chauí apresenta fortes elementos 
vinculados a ideia democrática, como pluralismo, inclusão e igualdade. Dessa forma, não é sem 
propósito que podemos nos referir à uma cidadania cultural, já que este “campo” de cidadania possui 
especificidades que “justificam um exercício diferenciado deste fundamento republicano e democrático” 
(CUNHA FILHO, 2010, p. 199). 
Este esforço empreendido pela comunidade cultural de demarcar um campo de pesquisa e atuação 
em um cenário global, sem desconsiderar suas particularidades, nos remete a um dos desafios da 
área: lidar com as diferenças. Este desafio se torna ainda maior em um contexto de pluralismo cultural 
caracterizado pela presença de diferentes práticas culturais de grupos e comunidades. 
A igualdade política é um dos princípios centrais da democracia liberal. Tal princípio baseia-se no direito 
ao tratamento igual, por parte do Estado, à todos os cidadãos. O entendimento jurídico de que “todos 
são iguais perante a lei” sem distinções de qualquer natureza é uma das maiores expressões deste 
princípio. No entanto, a garantia legal da igualdade não tem sido capaz de promover sua realização 
na vida cotidiana dos cidadãos, como podemos observar nas lutas e reivindicações dos diversos 
movimentos sociais. Outra questão a ser colocada é a articulação entre o direito à igualdade e o direito 
à diferença, bem como, entre os direitos individuais, de matriz liberal, e os direitos coletivos. 
O direito à igualdade possui uma origem liberal, sendo um legado da Revolução Francesa, onde estavam 
presentes os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade. As premissas da doutrina liberal podem 
ser encontradas na obra Da Liberdade de John Stuart Mill (1964), na qual o conceito de liberdade 
defendido pelo autor centra-se na ideia da liberdade negativa, isto é, o conceito de liberdade está 
baseado no direito de não interferência do Estado ou mesmo da sociedade na vida dos indivíduos. 
Ao Estado cabe interferência somente se algum dano for produzido ao indivíduo. A igualdade, nesta 
perspectiva, adquire a forma negativa do direito a não ser discriminado. As políticas estatais não 
devem promover nenhum tipo de diferenciação entre os cidadãos, o que será questionado por outras 
correntes de pensamento. Mas, por ora, no cenário apresentado pelo liberalismo político, o indivíduo 
e sua autonomia tornam-se valores que nortearão toda a doutrina jurídica ocidental e as políticas 
desenvolvidas por Estados liberais. 
A doutrinaliberal passou por reformulações ao longo da história, bem como, o entendimento do 
princípio de igualdade. Estas reformulaçãoes podem ser observadas na teoria da justiça de John Rawls 
(1997), na qual estão presentes tanto direitos negativos, isto é, direitos de não-interferência - direito 
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que os outros não me prejudiquem - tanto direitos positivos - direitos a que outros me assistam em 
algumas necessidades básicas.
A concepção de justiça igualitária proposta por Rawls, dá importância aos direitos positivos, e 
considera até mesmo a omissão de indivíduos e instituições sociais um problema em sociedades 
justas. O igualitarismo reconhece que as diferentes posições ocupadas pelos indivíduos na sociedade 
geram desigualdades, por isso, considera a estrutura social o objeto da justiça e admite que as únicas 
desigualdades aceitas sejam aquelas que visam a favorecer os mais desfavorecidos (GARGARELLA, 
2008). Nesta perspectiva, a realização da igualdade política compreende também o direito à intervenção 
estatal, a fim de garantir uma redistribuição de recursos para corrigir as diferenças materiais. 
Apesar da mudança de perspectiva na questão dos direitos positivos, Farid Vanegas (2009) afirma que 
o princípio de igualdade liberal baseia-se no valor do indivíduo e não do grupo à qual ele pertence, 
por isso, mesmo com as reformulações, os problemas relacionados à tensão entre os direitos do grupo 
e os direitos do indivíduo frente ao grupo persistem. Dessa forma, as teorias liberais “clássicas” de 
justiça são insuficientes para a discussão sobre os direitos coletivos, direitos de grupos minoritários 
que historicamente foram alijados do status de cidadania (MARSHALL, 1967).
Na tentativa de propor respostas frente à tensão existente nas democracias atuais entre o entendimento 
liberal de igualdade e as diferenças culturais de grupos minoritários, surgiram correntes teóricas como o 
multiculturalismo. No entanto, os pressupostos multiculturais de respeito e tolerância entre as diferentes 
culturas são questionados, pois, para os críticos desta corrente, o multiculturalismo propõe a “integração 
de culturas subordinadas a uma cultura hegemônica ou majoritária, que em certo sentido as toleraria ou 
apoiaria como uma estratégia para manter precisamente seu controle” (GARCIA, 2009, p. 67)3. 
Muitos movimentos sociais têm reivindicado a diferença em suas lutas por reconhecimento. O 
movimento feminista, que questiona o padrão masculino como referência, o movimento negro, que se 
afirma como tal em oposição ao “branco”, os movimentos LGBTs, que propõem outras formas de viver 
a sexualidade fora dos parâmetros da heterossexualidade, os movimentos indígenas que demarcam 
seu modo de vida fora do paradigma da modernidade. Esta reivindicação da diferença é importante 
para tais grupos e comunidades, pois contribuem para o reconhecimento das experiências comuns de 
opressão e para uma representação positiva destes mesmos sujeitos. A reivindicação da diferença – e 
também da identidade – destes grupos tem funcionado como uma estratégia política para lutar contra 
sistemas históricos de dominação e opressão.
Ochy Curiel (2009) argumenta, entretanto, que os problemas da política da diferença e da identidade 
residem no fato de que esta não modifica a lógica de dominação do capitalismo atual e se assenta 
sobre o discurso da tolerância: tolera-se o diferente sempre quando este não coloca em risco o status 
3 Tradução nossa: “(...) integración de culturas subordinadas a una cultura hegemónica o mayoritaria, que en cierto sentido 
las toleraria o apoyaría como una estrategia para mantener precisamente su control”. GARCIA, Camilo B. ¿Multiculturalismo 
o Interculturalidad? In: GONZÁLEZ, D e RENJIFO, N. (org.). Derecho, Interculturalidad y Resistencia Étnica. Bogotá: Digiprint 
Editores E.U, 2009.
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quo. Assim, a política não atua sobre as bases do sistema capitalista que produz as diferenças e não 
questiona o porquê da existência do machismo, racismo, homo e lesbofobia e demais formas de 
discriminação negativa. 
O multiculturalismo insere-se nesta dinâmica da tolerância ao diferente e, dessa forma, incapaz de 
promover uma igualdade política substantiva, que vá além da minimização desta falta de integração 
entre as culturas.
Para Tomaz Silva (2000) o chamado “multiculturalismo”, em geral, apóia-se em um vago e benevolente 
apelo à tolerância e ao respeito para com a diversidade e a diferença. É particularmente problemática, 
nessas perspectivas, a ideia de diversidade. Parece difícil que em uma perspectiva que se limita a 
proclamar a existência da diversidade possa servir de base para uma pedagogia que coloque no seu 
centro a crítica política da identidade e da diferença. Na perspectiva da diversidade, a diferença e 
a identidade tendem a ser neutralizadas, cristalizadas, essencializadas. São tomadas como dados ou 
fatos da vida social diante dos quais se deve tomar posições. Em geral a posição socialmente aceita e 
recomedada é de respeito e tolerância para com a diversidade e a diferença. Mas será que as questões 
da identidade e da diferença se esgotam nessa posição liberal? (SILVA, 2000, p. 73).
Mariela Pitombo (2007) afirma que o multiculturalismo tornou-se a ideologia acionada pela Unesco, 
em 1991, no Fórum sobre Cultura e Democracia, dado que para a instituição ele promoveria de forma 
melhor o exercício da diversidade e a autonomia das sociedades. Ainda segundo a autora, as críticas ao 
multiculturalismo advindas das correntes teóricas que compõem os Estudos Culturais foram muitas, e 
atualmente a Unesco, no que tange à questão da diversidade cultural, oscila entre a universalidade e 
o particularismo.
Na última Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, em 2005, 
é possível encontrar como princípio primeiro da Convenção o respeito aos direitos humanos e às 
liberdades fundamentais, estando a proteção da diversidade cultural vinculada à garantia destes direitos 
consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Este entendimento da Unesco – e também 
de muitos países, dado que a organização orienta mundialmente as diretrizes das políticas culturais – de 
que os direitos culturais são parte do desenvolvimento dos direitos humanos, coloca muitos impasses 
entre aqueles direitos fundamentais e os direitos de grupos minoritários. Em uma democracia liberal, o 
indivíduo é o centro dos direitos, como já salientamos, a ele sendo garantidos o direito a vida, dignidade, 
liberdade, igualdade. Deste pressuposto é possível que haja interpretações de que os direitos culturais 
ou étnicos de grupos são derivados destes direitos humanos universais. O problema reside no fato de 
que não há apenas um entendimento do que seja liberdade, dignidade, direito à vida, deduzindo daí que 
os entendimentos das diferentes culturas não são os mesmos. Camilo Garcia (2009) afirma que não se 
trata de colocar as comunidades e grupos minoritários como violadores dos direitos humanos, caso suas 
práticas culturais não se harmonizem com os últimos, mas de reconhecer que o princípio de igualdade 
opera de forma diferente na tradição liberal e em certas tradições culturais coletivas.
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No Brasil, Alexandre Barbalho (2007) afirma que na última década, no plano nacional, houve uma 
mudança de perspectiva no tratamento dado às questões da identidade e diferença. O Ministério da 
Culturaassumiu uma postura mais democrática ao reconhecer o pluralismo das práticas culturais e 
as várias identidades que compõem a sociedade brasileira. Tal postura diferenciou-se das observadas 
anteriormente no país, onde um discurso agregador e essencialista foi utilizado para integrar a nação 
em torno de uma única identidade nacional, a exemplo dos governos autoritários das décadas de 
1930/40 e 1960/70. Mas, apesar dos avanços, Barbalho argumenta que faz-se necessário colocar na 
raiz das discussões os conflitos existentes entre a diversidade e a identidade.
A questão que se coloca é como uma política pública de cultura além de trabalhar com as identidades 
e a diversidade, pode incorporar as diferenças. Como lidar com as manifestações culturais que não se 
encaixam harmoniosamente como peças de um quebra-cabeça porque suas arestas não permitem 
(BARBALHO, 2007, p. 57).
 Para o autor, no Brasil ainda prevalece o desafio de se avançar em um entendimento de diversidade 
cultural que não busque simplesmente a harmonia, o respeito e o bom convívio entre as diferentes 
culturas, mas que reconheça os conflitos entre as identidades e as diferenças, como parte das 
políticas culturais. 
No entanto, ao multiculturalismo liberal e a tensão entre a igualdade, a diferença e a identidade dos 
grupos minoritários, foram dadas respostas políticas que buscaram convergir o direito à igualdade 
e à diferença. Uma destas respostas que pensamos ser válida em um contexto de grande opressão 
e desigualdade social, é dada por Nancy Fraser (2003), que propõe uma política que combine o 
reconhecimento das diferenças culturais frente à injustiça cultural e políticas redistributivas frente à 
injustiça material. Contrapondo-se a Axel Honneth (2003), que apresenta em sua teoria uma visão do 
reconhecimento como autorrealização e a Taylor (1994), que trata das identidades por meio de sua 
noção de autenticidade, para Fraser, a redistribuição e o reconhecimento são paradigmas de justiça, 
que informam as lutas atuais (PINTO, 2008). Embora estas lutas surjam quase sempre juntas, elas 
possuem lógicas diferentes: a distribuição estaria associada ao fim da diferenciação dos grupos e o 
reconhecimento àquilo que é particular ao grupo.
Jurgen Habermas (2002) ao discutir a necessidade de “inclusão com sensibilidade para as diferenças” 
das minorias “inatas” nas sociedades democráticas atuais, afirma que o problema destas minorias 
é mascarado pela leitura liberalista da autodeterminação democrática, isto porque os cidadãos, ao 
escolherem as regras e leis que orientarão sua conduta social, podem desconsiderar práticas culturais 
das minorias. 
O problema [das minorias inatas] também surge em sociedades democráticas, quando uma cultura 
majoritária, no exercício do poder político, impinge às minorias a sua forma de vida, negando assim aos 
cidadãos de origem cultural diversa uma efetiva igualdade de direitos. (HABERMAS, 2002, p. 170).
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O princípio majoritário não deve ser aplicado na regulação de temas que impeçam a livre manifestação 
das expressões culturais das minorias. Isto significa garantir a igualdade política dos cidadãos em um 
contexto de diversidade cultural.
Iris Young (1996) também apresenta respostas para uma política que contemple a diversidade cultural. 
A resposta para Young está na noção de cidadania diferenciada. Esta noção abarca a representação de 
grupos no espaço público levando em consideração suas particularidades e diferenças. Isto porque, 
segundo a autora, no processo de tomada de decisões a perspectiva de alguns grupos minoritários 
podem ser silenciadas por aqueles grupos e pessoas que historicamente sempre tiveram mais recursos 
de poder para fazer valer seus interesses. A defesa da cidadania diferenciada repousa na ideia de que, 
em uma sociedade que possui grupos privilegiados e grupos marginalizados, ao se optar pela omissão 
das experiências de vida particulares dos cidadãos e grupos marginalizados em nome de um ponto de 
vista geral, acaba-se por reproduzir o privilégio daqueles que tendem a dominar as discussões públicas. 
Neste sentido, a criação de mecanismos institucionais para o reconhecimento e a representação dos 
grupos oprimidos é apontada como uma medida capaz de contemplar, em condições de igualdade, a 
diversidade cultural das sociedades atuais.
Podemos encontrar na abordagem dos autores citados, elementos que nos oferecem apoio conceitual 
para a problematização das relações culturais nas atuais democracias. No horizonte teórico dos autores, 
está presente o intercâmbio entre o universal e o singular. Daquilo que é expressão do princípio de 
igualdade universal e das relações intersubjetivas travadas pelos sujeitos. Esta mesma interlocução 
pode ser observada atualmente no campo das políticas culturais. As vertentes de estudo do campo têm 
sinalizado para a necessidade de construção de um novo paradigma, que não se caracterize pela adoção 
de uma perspectiva multicultural, mas de uma perspectiva em que a diferença não seja traduzida como 
desigualdade (SANTOS, 2007). É nesse cenário, que a Diversidade Cultural articula-se com o princípio 
da igualdade: como um projeto político que busca garantir o direito dos diferentes de serem tratados 
igualmente, e com potencial positivo para orientar a elaboração de políticas culturais democráticas.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Consideramos que as questões aqui levantadas não esgotam a discussão acerca dos preceitos morais 
da democracia e sua relação com o campo da cultura, mas apontam para valores que informam sobre o 
caráter das políticas culturais elaboradas pelos órgãos públicos. Assim, embora sejam grandes os desafios 
para a construção de políticas que promovam, de fato, a diversidade cultural, sem hierarquizações de 
práticas, procuramos mostrar neste artigo que é possível conjugar o direito à igualdade, de caráter 
universalista, com o direito à diferença de grupos sociais, respeitando as particularidades de suas 
expressões culturais. Nesta perspectiva, a diversidade cultural é uma dimensão fundamental da 
igualdade. O princípio igualitário orientador das politicas públicas para a cultura baseia-se, assim, na 
noção de diversidade e de igualdade, que articulados, compõem o quadro das múltiplas identidades 
da população brasileira.
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Revista Observatório da Diversidade Cultural
Volume 01, nº 01 (2014)
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