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Apostila Gestao de agua e saneamento

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GESTÃO DE ÁGUA E 
SANEAMENTO 
 
Autores: 
Prof. Daniel Fernandes Novaes Pimenta 
[professordanielpimenta@gmail.com] 
Prof.(a) Paula Afonso de Oliveira 
Pimenta [ambiental.paula@gmail.com] 
 
Poços de Caldas – Minas Gerais 
2016 
 
NATUREZA
ÁGUA
VIDA
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 1 
 
Sumário 
Aula 1 – Água e seus usos múltiplos ............................................................................................. 2 
Tema 1.1 – Distribuição das águas e seus usos múltiplos ......................................................... 2 
Tema 1.2 – Bacia Hidrográfica ................................................................................................... 7 
Aula 2 – Características das águas naturais ................................................................................ 12 
Tema 2.1 – Características químicas das águas naturais ........................................................ 12 
Tema 2.2 – Características físicas e biológicas das águas naturais ......................................... 16 
Aula 3 – Poluição e contaminação dos mananciais..................................................................... 20 
Tema 3.1 – Poluição das águas ............................................................................................... 20 
Tema 3.2 – Autodepuração dos cursos d’água e IQA ............................................................. 25 
Aula 4 – Gestão de Recursos Hídricos ......................................................................................... 31 
Tema 4.1 – Gestão de Recursos Hídricos e a PNRH ................................................................ 31 
Tema 4.2 – Gestão de Recursos Hídricos e o SNGRH .............................................................. 35 
Aula 5 – Instrumentos de gestão ................................................................................................ 39 
Tema 5.1 – Plano de Recursos Hídricos e Enquadramento de corpos d’água ........................ 39 
Tema 5.2 – Outorga e Cobrança pelo uso da água ................................................................. 44 
Aula 6 – Manejo de bacias hidrográficas em áreas rurais........................................................... 48 
Tema 6.1 – Práticas Conservacionistas ................................................................................... 48 
Tema 6.2 – Serviços Ambientais: Água ................................................................................... 53 
Aula 7 – Manejo de bacias hidrográficas em áreas urbanas ....................................................... 57 
Tema 7.1 – Urbanização e Recursos Hídricos ......................................................................... 57 
Tema 7.2 – Drenagem Urbana ................................................................................................ 61 
Aula 8 – Saneamento básico – Parte I ......................................................................................... 66 
Tema 8.1 – Introdução ao saneamento básico ....................................................................... 66 
Tema 8.2 – Princípios do tratamento de águas residuárias. ................................................... 69 
Aula 9 – Saneamento básico – Parte II ........................................................................................ 74 
Tema 9.1 – Abastecimento de água: Tecnologias de tratamento. ......................................... 74 
Tema 9.2 – Abastecimento de água: Consumo, Adução, Reservação e Distribuição ............. 78 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO ............................................................................................................. 82 
SAIBA MAIS .................................................................................................................................. 93 
 
 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 2 
 
Gestão de Água e Saneamento 
Aula 1 – Água e seus usos múltiplos 
Tema 1.1 – Distribuição das águas e seus usos múltiplos 
Caro estudante, é com muita satisfação e prazer que lhe convido para iniciarmos essa 
disciplina, Gestão de Água e Saneamento. Vamos começar citando o saudoso poeta 
mineiro, Guimarães Rosa: 
“A água de boa qualidade é como a saúde ou a liberdade: 
só tem valor quando acaba” 
Guimarães Rosa 
 
Abriremos essa disciplina com essas sabias palavras, e a partir de agora vamos começar 
a construir os argumentos e contra-argumentos necessários para discutirmos esse tema 
tão importante: ÁGUA. 
Então vamos começar! 
Nossa primeira aula versará sobre o Tema 1.1 – Distribuição das águas e seus usos 
múltiplos – e tem como objetivo apresentar-lhe alguns temas que são fundamentais para 
a gestão das águas: 
• Distribuição da água no Planeta 
• Ciclo hidrológico 
• Usos múltiplos da água 
• Situação hídrica do Brasil 
• Escassez hídrica 
Para começarmos nossas discussões sobre o gerenciamento, a organização, a 
administração e o uso racional da água, vamos definir o que é água e o que é recurso 
hídrico, vamos conhecer o modo como a água está distribuída no planeta Terra e avaliar 
como a humanidade tem utilizado esse recurso. 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 3 
 
O que é água? 
O termo água refere-se, via de regra, ao mineral ou elemento natural, constituído por duas 
moléculas de hidrogênio e uma molécula de oxigênio (H20), que é encontrado em seu 
estado líquido a temperatura ambiente e apresenta uma série de propriedades específicas 
e extraordinárias, como elevado calor específico (1,0 cal/g.ºC), baixa viscosidade, tensão 
superficial, e principalmente uma elevada capacidade de dissolução de inúmeras 
substâncias químicas e gases (LIBÂNIO, 2010). Desse modo, podemos dizer que água 
“pura” é um conceito hipotético, uma vez que a água apresenta elevada capacidade de 
dissolução e transporte e, em seu percurso, superficial ou subterrâneo, pode incorporar 
um grande número de substâncias. 
Onde está a água? 
Nada está parado, tudo está em movimento, os planetas estão se movendo, as placas 
tectônicas também. E a água, onde está? Está nas profundezas do solo, na atmosfera, nos 
oceanos, na superfície, está sempre em movimento cíclico, no ciclo hidrológico. 
Definindo: 
Ciclo hidrológico: Processo natural de circulação da água na terra, onde o sol é fonte 
primária de energia e “motor” de todo o processo (Figura 1). 
 
Figura 1 – Ciclo Hidrológico. Fonte: FINOTTI et al, 2009. 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 4 
 
A maior parte da água do planeta encontra-se nos oceanos, que contém 97,5% de toda a 
água existente no globo, sendo, portanto, água salgada. Os 2,5% restantes, são de água 
doce, com baixa salinidade. Sabemos também, que aproximadamente 75% das superfícies 
do nosso planeta são ocupadas por água, no entanto, uma pequena parcela desse todo está 
disponível para os seres humanos. 
É sabido que menos de 1% de toda a água do planeta está prontamente disponível para os 
seres humanos, pois uma grande parte está nos oceanos e outra parcela significativa de 
água doce está congelada e inacessível nas calotas polares. 
Começamos então a fazer algumas inferências: 
Sabendo que temos pouca água disponível, começamos, então, a pensar a gestão de águas 
não só pela ótica da hidrologia, que é a ciência que trata da água na terra, mas também 
pela ótica da economia, que é a ciência que estuda relações entre a demanda e o consumo 
dos recursos. 
Observe que agora utilizamos a palavra recurso, surge, então, o próximo questionamento. 
O que é recurso hídrico? 
Quando há abundância de água, ela pode ser tratada como bem livre, sem valor 
econômico, entretanto, com o crescimento da demanda começam a surgir conflitosentre 
usos e usuários da água que passa a ser escassa, precisando, então, ser gerida como bem 
econômico. 
Neste cenário passamos a considerar que a água é um bem de domínio público e um 
recurso natural limitado, dotado de valor econômico, como regulamentado pela lei federal 
9433/97 (Política Nacional de Recursos Hídricos - PNRH), uma lei de grande importância 
para nossos estudos e que será abordada várias vezes ao longo dessa disciplina. 
Usos múltiplos 
Utilizamos a água para diferentes finalidades, estas podem ser divididas em dois grupos 
genéricos de uso. Alguns usos implicam na retirada de água das coleções hídricas, 
enquanto, outros estão associados a atividades que se desenvolvem no próprio ambiente 
aquático: 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 5 
 
Uso consuntivo: Quando a água é captada do manancial superficial ou subterrâneo e 
somente parte dela retorna ao reservatório natural. Usos nos quais há perdas entre o que 
é derivado e o que retorna ao manancial. 
Exemplo: Abastecimento de água, abastecimento industrial, irrigação. 
Uso não consuntivo: Toda a água captada retorna ao manancial de origem. Embora não 
haja perdas de água em termos quantitativos, pode haver poluição durante este tipo de 
uso e perdas qualitativas podem ser observadas. 
Exemplo: Geração de energia elétrica, navegação fluvial, aquicultura, recreação e 
harmonia paisagística, diluição, assimilação e transporte de esgoto e resíduos líquido. 
Escassez Hídrica 
Durante muito tempo a água foi tratada como um bem livre, ou seja, acreditava-se na 
abundância de água e não se acreditava na sua finitude, dado ao fato do volume de água 
no planeta não se alterar e estar sempre em movimento cíclico (ciclo hidrológico). 
Contudo, este conceito se alterou e a água a passa a ser considerada como um recurso 
natural com valor econômico, sendo cada vez mais recorrente a preocupação de todos os 
setores da sociedade com a escassez quantitativa e qualitativa da água. 
Escassez quantitativa: É a escassez proveniente da falta de recurso em quantidade 
adequada para determinado uso. Naturalmente há no planeta uma distribuição desigual 
da água, há regiões do planeta com muita água disponível e outras que vivem em graves 
condições de seca. 
Escassez qualitativa: É a escassez proveniente da falta de recurso em qualidade 
adequada para determinado uso. Este é um tipo de escassez que decorre da poluição das 
águas subterrâneas e superficiais, principalmente pelo lançamento de esgoto in natura. 
 
BONS ESTUDOS! 
 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 6 
 
Referências: 
BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos 
Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta 
o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 
de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. 
FINOTTI, Alexandra R. et al. Monitoramento de recursos hídricos em áreas urbanas. 
Caxias do Sul: Educs, 2009. 272 p. 
LIBÂNIO, M. Fundamentos de qualidade e tratamento de água. Campinas: Átomo, 2010. 
Tucci, C. 2000. (org.) Hidrologia – ciência e aplicação. Editora da Universidade, ABRH, 
Porto Alegre. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 7 
 
Gestão de Água e Saneamento 
Aula 1 – Água e seus usos múltiplos 
Tema 1.2 – Bacia Hidrográfica 
Caro estudante, daremos início ao Tema 1.2 com uma bela observação poética dos 
fenômenos hidrológicos que estudaremos: 
Uma gota de chuva 
A mais, e o ventre grávido 
Estremeceu, da terra. 
Através de antigos 
Sedimentos, rochas 
Ignoradas, ouro 
Carvão, ferro e mármore 
Um fio cristalino 
Distante milênios 
Partiu fragilmente 
Sequioso de espaço 
Em busca de luz. 
 
Um rio nasceu. 
(Antologia Poética Vinicius de Morais, 1954) 
 
A chuva, a terra, os sedimentos, as rochas, a luz, o rio, são todas partes fundamentais da 
nossa existência neste planeta, que a bilhões de anos têm evoluído até este ambiente atual, 
rico em recursos naturais e com uma atmosfera hospitaleira. Conhecer o ciclo da água 
doce no planeta e os processos de precipitação, escoamento superficial e infiltração, são 
fundamentais para gerir os recursos hídricos e controlar a salubridade ambiental 
(saneamento). Estes conhecimentos podem ser mais facilmente assimilados e aplicados 
quando definimos a bacia hidrográfica como o espaço destinado para o estudo e o 
planejamento ambiental e urbano. 
O que é uma Bacia Hidrográfica? 
 Podemos definir bacia hidrográfica como sendo: 
a) A área definida topograficamente, drenada por um curso d’água ou um sistema 
conectado de cursos d’água, tal que toda vazão efluente seja descarregada por uma 
simples saída. 
b) Uma área natural de captação de água da chuva que faz convergir os escoamentos 
para um único ponto de saída, seu exutório. Ademais, a rede de drenagem é 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 8 
 
composta por vários afluentes que confluem para um leito de cota mais baixa (rio 
principal), que desagua até a foz (TUCCI, 2007) 
c) A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política 
Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento 
de Recursos Hídricos (Lei 9.433/97) 
 
Figura 2 - Desenho esquemático de uma bacia hidrográfica. Fonte: Adaptado de Tucci, 2007. 
 
A bacia hidrográfica é delimitada por dois tipos de divisores e águas: divisor freático e 
divisor topográfico. O divisor freático é, em geral, determinado pela estrutura geológica 
dos terrenos, sendo influenciado pela topografia, estabelecendo os limites dos 
reservatórios de água subterrânea, de onde é derivado o deflúvio básico da bacia. Já o 
divisor topográfico consiste na linha imaginária que acompanha as maiores altitudes do 
local e topos de morros, separando uma bacia da outra (TONELLO, 2005). 
Conhecer a bacia hidrográfica é conhecer também como os fatores naturais e antrópicos 
se interagem e geram os impactos positivos e negativos que visualizamos na bacia 
hidrográfica rural e urbana. 
Precipitação; Infiltração e Escoamento Superficial. 
Precipitação 
A precipitação pode ser definida como a água proveniente da condensação do vapor 
d’água da atmosfera que é depositada na superfície terrestre. Há diferentes formas da água 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 9 
 
se deslocar da atmosfera para a superfície, mas a forma mais comum e conhecida é a 
precipitação de água na forma líquida, a chuva. 
Vamos considerar a chuva a nossa variável de entrada (“input”) no ciclo da água, ou seja, 
será a partir dela que analisaremos o sistema hidrológico e iniciaremos nossas 
observações sobre a infiltração e o escoamento superficial. 
Infiltração 
Infiltração é a passagem de água da superfície para o interior do solo. Processo que 
depende fundamentalmente da água disponível para infiltrar (chuva) e da quantidade de 
água presente no solo. A infiltração é fundamental para garantir água em quantidade e 
qualidade adequada no período de seca (estiagem), pois esta água que infiltra, abastece o 
interior do solo e alimenta as nascentes e cursos d’água, quando não está chovendo, 
evento este, conhecido como deflúvio de base (vazão de água subterrânea). 
Aumentando a infiltração podemos aumentar a disponibilidade hídrica nos períodos de 
estiagem, sendo fundamental para tanto, a preservação da vegetação nos topos de morro, 
nas encostas, no entorno das nascentes e rios. O processo de infiltração também é 
fundamental para controlar o escoamento superficial e evitar a erosão hídrica e as 
inundações.Escoamento superficial 
O escoamento superficial refere-se ao deslocamento da água pela superfície, sendo um 
dos segmentos do processo hidrológico. Imaginemos a seguinte situação: 
Condensação do vapor de água  Precipitação  Infiltração  Escoamento superficial 
A água da chuva que atinge um solo seco irá ser rapidamente deslocada para o interior do 
solo, que está avido por água. Aos poucos, esse solo atingirá sua capacidade máxima de 
reter água e passará a permitir que apenas uma fração constante da água da chuva penetre 
no solo. A partir desse momento, uma fração da água infiltra e a outra escoa pelo terreno, 
formando o escoamento superficial. 
Bacias Hidrográficas Urbanizadas 
Ao avaliarmos uma bacia hidrográfica urbanizada nos deparamos com uma série de 
fatores negativos, quanto à qualidade e à quantidade do recurso e às condições de higidez 
do ambiente. Podemos citar: 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 10 
 
• Impermeabilização do solo; 
• Aumento do escoamento superficial e redução da infiltração; 
• Deslizamentos de massa e inundações recorrentes; 
• Lançamento de efluentes (esgoto doméstico); 
• Má disposição dos resíduos sólidos (lixo urbano); 
• Aumento da demanda por água tratada 
A urbanização gera uma série de impactos nos recursos hídricos, que reduzem a qualidade 
e a quantidade de água disponível, em contrapartida, observa-se um aumento na demanda 
por água tratada. Surgindo então a pergunta, como vamos abastecer a população urbana 
com água de qualidade e em quantidade adequada? 
Como produzir água? 
Todo e qualquer trabalho que se faça na superfície para segurar a água, evitando ou 
dificultando a formação de enxurradas, irá permitir maiores taxas de infiltração e lençóis 
freáticos com mais água (VALENTE e GOMES, 2001). O lençol é, portanto, um 
fantástico reservatório subterrâneo capaz de regularizar vazões de cursos d'água em 
bacias de captação. Usar tal capacidade é mais inteligente do que construir reservatórios 
superficiais (barragens) para armazenar água (VALENTE e GOMES, 2001). Evitando 
ainda, que a água das chuvas escoe rapidamente, e possa a vir causar desastrosas 
inundações. 
BONS ESTUDOS! 
Referências: 
BRASIL. Lei 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos 
Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, 
regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal e altera o art. 1º da Lei 
nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro 
de 1989. 
TONELLO, K. C. Análise hidroambiental da bacia hidrográfica da cachoeira das Pombas, 
Guanhães, MG. 2005. 69p. Tese (Doutorado em Ciências Florestal) – Universidade 
Federal de Viçosa, Viçosa. 
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TUCCI, C. E. M. Hidrologia: ciência e aplicação. 4. ed. Porto Alegre: Editora da 
UFRGS/ABRH, 2007. 943p. 
VALENTE, O.F.; GOMES, M.A. Revitalização da capacidade de produção de água da 
Microbacia do Ribeirão São Bartolomeu – Viçosa – MG. Projeto preparado pelo 
Programa de Gestão de Bacias Hidrográficas do Centro Mineiro para Conservação da 
Natureza (CMCN), Viçosa – MG, janeiro, 2001, 44p 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 12 
 
Gestão de Água e Saneamento 
Aula 2 – Características das águas naturais 
Tema 2.1 – Características químicas das águas naturais 
Caro estudante, daremos início a nossa segunda aula e vamos abordar um tema muito 
interessante e fundamental: Características das Águas Naturais. 
Mas antes de iniciarmos, pense um pouco sobre as reflexões de Heráclito de Éfeso, 
elaboradas em tempos bem remotos. 
 
“Um homem nunca se banha duas vezes no mesmo rio. Porque o homem nunca é o 
mesmo. E nunca é o mesmo rio” 
 Heráclito de Éfeso (470 d.C) 
 
Para verificarmos as condições de um ambiente natural e controlar a qualidade e a 
quantidade da água em dado local, é essencial selecionarmos algumas características para 
monitoramento e controle. Uma máxima do controle ambiental é “Só controla quem 
mede”. Para avaliarmos a presença ou a ausência de poluentes é necessário conhecermos 
as características de uma água limpa e de uma água poluída. Precisamos medir as 
variáveis adequadas para podermos controlar e gerir os ambientes naturais e antrópicos. 
As características das águas naturais podem ser subdivididas em três grupos: 
 Características químicas; 
 Características Físicas; e 
 Características Biológicas 
O Tema 2.1 irá tratar das características químicas. Vamos lá! 
Características químicas 
pH: Representa a concentração de íons hidrogênio H+ (em escala logarítmica), dando 
uma indicação sobre a condição de acidez (pH < 7), neutralidade (pH = 7) ou alcalinidade 
(pH > 7) da água. Como o pH é expresso em escala logarítmica, o incremento ou 
decréscimo de uma unidade de pH corresponde, respectivamente, um aumento de dez 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 13 
 
vezes em alcalinidade e acidez. A maioria das águas naturais superficiais tendem a 
apresentar um pH próximo da neutralidade devido a sua capacidade de tamponamento. 
Alcalinidade: Representa a capacidade das águas em neutralizar ácidos e minimizar 
variações significativas nas águas naturais (tamponamento). A alcalinidade natural é 
devida principalmente a bicarbonatos, originários da dissolução de rochas (ex. calcário) 
e da própria reação do CO2 com a água. As formas principais de alcalinidade são devido 
à bicarbonatos (HCO3
-), carbonatos (CO3
2-) e hidróxidos (OH-). 
Acidez: Representa a capacidade das águas em neutralizar bases e minimizar variações 
significativas nas águas naturais (tamponamento). Estão presentes na água alguns gases 
dissolvidos como o CO2 (acidez carbônica) e também alguns ácidos provenientes da 
matéria orgânica dissolvida na água (ácidos húmicos e fúlvicos), que conferem acidez 
natural às águas. 
Dureza: A presença de cátions multivalentes, principalmente cálcio (Ca2+) e magnésio 
Mg2+) conferem dureza as águas. Esta característica está associada à redução da formação 
de espuma na água quando em contato com sabão e também está relacionada com os 
problemas de incrustações nas tubulações e reservatórios de água quente. Conhecendo a 
dureza de uma água podemos prever esses problemas e também conhecer um pouco sobre 
as características geológicas da bacia hidrográfica. 
Nitrogênio: O nitrogênio está presente em diferentes ambientes (ar, água e solo), em 
concentrações e formas distintas (ciclo do nitrogênio). As formas mais importantes de 
nitrogênio em corpos d’água são: Nitrogênio orgânico ( N-org); Nitrogênio amoniacal 
(N-NH3 ou N-NH4
+); Nitrito (NO2
- ) e Nitrato (NO3
-) (Figura 1) 
O nitrogênio, assim como o fósforo, é considerado nutriente essencial para o crescimento 
de algas, plantas aquáticas e cianobactérias. 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 14 
 
 
Figura 3 - Ciclo do nitrogênio 
 
Fósforo: No ambiente aquático, o fósforo pode se apresentar nas formas orgânica ou 
inorgânica, solúvel (matéria orgânica dissolvida) ou particulada (biomassa ou compostos 
minerais). A parcela orgânica é proveniente do fósforo que está presente nos organismos 
aquáticos e outras matérias externas que porventura podem compor esta parcela. A 
parcela inorgânica se deve a lixiviação de rochas fosfatadas e está relacionada com as 
características geológicas da bacia hidrográfica. 
 Por estar presente no ambiente em menores concentrações que o nitrogênio, é 
considerado, por vezes, o nutriente limitante ao crescimento de algas, plantas aquáticas, 
e cianobactérias. 
Oxigênio dissolvido: Consideradoum dos mais importantes parâmetros de controle da 
poluição das águas naturais, principalmente no que se refere às águas superficiais (rios e 
lagos). O controle da concentração de oxigênio dissolvido na água está relacionado a dois 
fatores importantes: 
a) Solubilidade do oxigênio na água: A concentração máxima de oxigênio na água 
(na saturação) é naturalmente baixa, devido a sua baixa solubilidade. Ao nível do 
mar, por exemplo, a concentração de saturação é igual a 9,2 mg/L. 
b) Manutenção da vida aquática: A concentração de oxigênio dissolvido na água 
deve ser mantida acima de 5mg/L para que se preservem condições mínimas para 
existência de peixes e uma vida aquática equilibrada. 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 15 
 
Demanda bioquímica de Oxigênio (DBO): Representa a medida da quantidade de 
oxigênio necessária para a estabilização bioquímica da matéria orgânica presente em uma 
amostra, sendo, portanto, uma medida indireta da matéria orgânica biodegradável sob 
condições padronizadas. 
Demanda química de Oxigênio (DQO): Representa a medida de oxigênio requerido 
para a estabilização da matéria orgânica contida em uma amostra, suscetível à oxidação 
por um oxidante químico forte. Este método computa tanto a fração biodegradável da 
matéria orgânica quanto à fração não biodegradável. 
A DQO e a DBO são medidas de controle fundamentais para a caracterização do grau de 
poluição de um corpo d’água, pois, retratam de forma indireta o teor de matéria orgânica 
presente. 
As águas naturais limpas apresentam baixas concentrações de DBO, em torno de 5 mg/L, 
já o esgoto sanitário, que muitas das vezes é lançado in natura no ambiente, possui DBO 
em torno de 300 mg/L e DQO de 600 mg/L. 
 
Referências: 
LIBÂNIO, M. Fundamentos de qualidade e tratamento de água. Campinas: Átomo, 2010. 
VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos, 3. ed. 
Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade 
Federal de Minas Gerais, v. 4, 2005. 452p. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 16 
 
Gestão de Água e Saneamento 
Aula 2 – Características das águas naturais 
Tema 2.2 – Características físicas e biológicas das águas naturais 
Caro estudante, continuaremos a definir as características das águas naturais nesse Tema 
2.2. Como mencionado anteriormente, as características das águas naturais podem ser 
subdivididas em três grupos: 
 Características químicas; 
 Características Físicas; e 
 Características Biológicas 
Vamos lá! 
Características físicas 
Turbidez 
A turbidez refere-se à interferência à passagem da luz através do líquido, sendo um 
indicativo indireto da quantidade de partículas coloidais e suspensas na amostra de água. 
A turbidez deve-se entre outras coisas, a presença de fragmentos de areia, silte, matéria 
orgânica e inorgânica particulada. Um parâmetro fundamental para os sistemas de 
abastecimento de água, que fazem uso dessa variável para definir desde o manancial de 
captação até a tecnologia de tratamento a ser utilizada pela Estação de Tratamento de 
Água (ETA). Em geral, a turbidez da água bruta de mananciais superficiais apresenta 
variações sazonais significativas entre os períodos de chuva e estiagem. 
Cor 
A cor refere-se à redução da intensidade da luz ao atravessar uma amostra de água, 
devido, entre outros aspectos, à presença de substâncias dissolvidas, geralmente 
compostos orgânicos, como os ácidos húmicos e fúlvicos, e também inorgânicos, 
principalmente ferro e manganês, que conferem naturalmente cor as águas. O lançamento 
de efluentes industriais, também podem conferir cor as águas e caracterizar cor em 
ambiente poluído. 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 17 
 
Sabor e Odor 
Dado ao fato de que a interação entre o gosto e odor, define o sabor, estas características 
são tratadas de forma conjunta. Naturalmente as águas podem apresentar gosto e odor, 
dado a elevada capacidade de solubilizar diferentes compostos, em estado sólido, líquido 
e gasoso. Assim como a cor, as águas podem apresentar sabor e odor de origem natural 
ou antropogênica. Característica muito utilizada para avaliar a qualidade das águas 
tratadas para abastecimento doméstico, tendo em vista que é necessário atender, além de 
padrões de potabilidade para substâncias químicas que representam risco à saúde, os 
padrões organolépticos. Analise a Figura 1 abaixo e identifique as características que 
apresentamos até então. 
Figura 4 - Padrão organoléptico de potabilidade. Fonte: Adaptado de Ministério da Saúde, 2011. 
Temperatura 
A temperatura está relacionada com a medida da intensidade de calor na água, 
influenciando nas propriedades da mesma e no modo como se dá as interações da água 
com o ambiente. Destacaremos algumas variáveis que estão diretamente relacionadas 
com a temperatura: 
i. Velocidade das reações químicas 
ii. Metabolismo dos microrganismos presentes 
iii. Concentração de oxigênio dissolvido 
iv. Solubilidade das substâncias 
Naturalmente a água sofre variações de temperatura ao longo do dia e das estações do 
ano, devido à energia irradiada pelo sol e pela localização da massa líquida no planeta. 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 18 
 
As variações podem ainda ser provocadas por despejos industriais e por águas de torres 
de resfriamento lançadas nos corpos receptores (rio ou lago). 
Características Biológicas 
Bactérias Coliformes 
Uma grande variedade de seres vivos habita os ambientes aquáticos, entre estes uma 
infinidade de microrganismos, que em grande monta são inofensivos aos seres humanos. 
Contudo, há também inúmeros organismos patogênicos, ou seja, capazes de causarem 
doenças infecciosas. A pesquisa direta dos patógenos (bactérias, vírus, helmintos e 
protozoários) demanda muito tempo e custos elevados, sendo portando, inviável como 
analise de rotina, para tanto, faz-se uso de organismos indicadores. 
O que são organismos indicadores de contaminação fecal? 
São organismos capazes de informar ou indicar que um ambiente foi contaminado por 
fezes e com isso as possibilidades (probabilidade) de encontrar organismos patogênicos 
são elevadas. Além desse requisito, outros devem ser atendidos para classificarmos um 
organismo como indicador de contaminação fecal: 
i. Presentes em grandes quantidades nas fezes 
ii. Facilmente isolados em laboratório 
iii. A análise deve ser rápida e econômica 
iv. Predominantemente não patógenas (ou baixa ifectividade) 
As bactérias do grupo coliformes são consideradas indicadores de contaminação fecal e 
mais especificamente a Escherichia coli (E.Coli) que é um indicador inequívoco de 
contaminação fecal. A identificação rápida e econômica da bactéria E.Coli, é fundamental 
no controle da poluição das águas por fezes de animais de sangue quente e na 
identificação de lançamentos de esgotos domésticos no ambiente aquático. 
Algas e Cianobactérias 
Algas e cianobactérias são organismos presentes em praticamente todo ambiente aquático 
superficial. Em condições de equilíbrio ecológico a presença desses organismos não 
apresenta nenhum inconveniente, contudo a floração e o crescimento descontrolado é um 
indicativo de poluição (eutrofização) e traz inúmeros problemas, como: 
I. Sabor e odor nas águas de abastecimento 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 19 
 
II. Redução na carreira de filtração nas ETA’s 
III. Presença de cianotoxinas em concentrações significativas 
O controle dos ambientes aquáticos é fundamental para evitarmos inúmeros problemas 
ambientais, valendo sempre a máxima “É melhor prevenir que remediar”. 
 
Bons estudos e vamos seguindoem paz! 
 
Referências: 
LIBÂNIO, M. Fundamentos de qualidade e tratamento de água. Campinas: Átomo, 2010. 
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria Nº 2.914, de 12 de Dezembro de 2011. Dispõe sobre 
os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano 
e seu padrão de potabilidade. Brasília, 2011. 
VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos, 3. ed. 
Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade 
Federal de Minas Gerais, v. 4, 2005. 452p. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 20 
 
Gestão de Água e Saneamento 
Aula 3 – Poluição e contaminação dos mananciais 
Tema 3.1 – Poluição das águas 
Caro estudante, é com satisfação e consideração que damos início a mais uma aula. Um 
dos maiores poetas da língua portuguesa (João Cabral de Melo Neto) nos inspira a 
começar os estudos: 
 “A água, o vento, a claridade, 
de um lado o rio, no alto as nuvens, 
situavam na natureza o edifício 
crescendo de suas forças simples” 
(MELO NETO, 1994) 
Vamos Lá! 
 
Poluição das águas 
A temática dos recursos hídricos vem sendo discutida de forma mais intensa pela 
sociedade atual, preocupada com a rápida degradação (aspectos quantitativos e 
qualitativos) do recurso em questão e com a sua relação direta com a redução na qualidade 
de vida das populações. 
O Brasil tornou-se nas últimas décadas um país predominantemente urbano, e está em 
processo de constante urbanização. A expansão das cidades, de forma desordenada e 
inadequada, tem potencializado os impactos negativos ao meio ambiente e poluído 
principalmente as águas superficiais e subterrâneas das bacias hidrográficas urbanas. 
Concomitantemente a essa crescente poluição, a concentração da população nas cidades 
tem aumentado a demanda por água tratada em um ambiente degradado, criando cenários 
de escassez de água cada vez mais recorrentes. 
É fundamental destacarmos também a degradação da água nos ambientes rurais, dado que 
o Brasil, embora seja um país urbano, tem boa parte de sua economia fundamentada na 
agropecuária, e demanda grandes quantidades de área agricultável e água de boa 
qualidade para estes setores. A poluição das águas nas bacias rurais está relacionada, 
principalmente com o arraste de sedimentos, nutrientes e agrotóxicos para as coleções de 
águas. 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 21 
 
Mas a final, o que é Poluição? Como devemos conceituar? 
POLUIÇÃO 
A Politica Nacional do Meio Ambiente – PNMA (Lei 6938/1981) definiu poluição da 
seguinte forma: 
Poluição é a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou 
indiretamente: 
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; 
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; 
c) afetem desfavoravelmente a biota; 
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; 
e) lançem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; 
A PNMA definiu ainda que é o agente poluidor: 
POLUIDOR 
“Poluidor é a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta 
ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental” (PNMA, 1981) 
 De posse destes conceitos, temos condições de definirmos, o que é poluição das águas e 
quem é o agente poluidor das águas, correto? Sim, temos condições para tanto, contudo, 
precisamos ainda definir, ou melhor, diferenciar poluição e contaminação. 
Poluição das águas: qualquer alteração que prejudique o uso a que se destina. 
Contaminação das águas: toda alteração associada a riscos sanitários, ou seja, que 
podem causar danos à saúde humana, caso a água seja utilizada. 
Valendo destacar a seguinte máxima: 
“Toda água contaminada está poluída, mas nem toda água poluída está 
contaminada”. 
Pois bem, é de consenso que estamos poluindo e degradando nosso recurso mais precioso, 
vamos agora, então, destacar alguns importantes poluentes e quais são seus efeitos no 
meio ambiente (Figura 1). Precisamos conhecer os poluentes, suas formas de interação 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 22 
 
com meio, suas fontes poluidoras e principalmente seus efeitos poluidores, para que 
possamos evitar e remediar a poluição. 
 
Figura 5 - Poluentes e seus efeitos poluidores. 
Fontes poluidoras 
Há diferentes fontes poluidoras (pontuais ou difusas) e diferentes agentes poluidores, 
podendo ser estes, de origem natural ou antrópica, e estarem localizados no meio urbano 
ou rural. Destacam-se as seguintes fontes: 
1. Esgotos domésticos 
2. Efluentes industriais 
3. Resíduos sólidos 
4. Pesticidas, fertilizantes e detergentes 
5. Carreamento de partículas do solo 
6. Percolação do chorume dos depósitos de lixo 
 
Poluição Pontual: Os poluentes gerados são lançados nos cursos d’água de modo 
concentrado, a exemplo do lançamento de esgoto doméstico e do efluente industrial, que 
realizam uma descarga pontual em um dado local do rio ou lago. 
Poluição Difusa: Os poluentes são careados pelas águas pluviais e atingem os cursos 
d´água de forma difusa, ou seja, em diferentes segmentos ao longo do rio, a exemplo da 
drenagem pluvial urbana, dos agrotóxicos e fertilizantes utilizados no meio rural. 
Poluente Efeito poluidor
Consumo de oxigênio
 - desequilíbrio ecológico
 - Mortandade de peixes
Crescimento excessivo de algas e cianobnactérias (eutrofização)
- Toxicidade aos peixes (amônia)
- Methemoglobinia (nitrito)
- Poluição de águas subterrâneas
Doenças de veiculação hídrica 
 - Organismos nocivos à saúde humana 
Assoreamento
 - Perda de volume útil do corpo d'água
 - micropoluentes inorgânicos 
 - Substâncias nocivas à saúde humana e a vida aquática
Matéria orgânica não biodegradável - Toxicidade
(Ex. pesticidas, detergentes, fármacos, POPs, etc.) - Espuma
 - Bioacumulação 
Metais pesados (As, Cd, Cr, Cu, Hg, Ni, Pb, Zn, etc.)
Matéria orgânica biodegradável (DBO)
Nutrientes(N,P)
Patógenos 
Sólidos em suspensão (SS)
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 23 
 
Observação: Destaca-se que a poluição pontual é, por vezes, mais fácil de ser 
identificada e por isso remediada ou evitada. Contudo, a poluição difusa exige maiores 
esforços para coibir e identificar a fonte poluidora, exigindo que os órgãos ambientais 
preconizem as campanhas de conscientização junto aos entes envolvidos nas atividades 
potencialmente poluidoras. 
A ocupação urbana sem controle degrada os sistemas aquáticos pela introdução de fontes 
de poluição, como os efluentes domésticos e industriais, e o escoamento superficial 
urbano que contêm poluentes que podem alterar as características físico-químicas da água 
e prejudicar a comunidade biológica. 
Assoreamento 
A instalação de lotes residenciais e a implantação de obras públicas promovem uma 
intensa movimentação de terra nas bacias hidrográficas, com alterações significativas na 
topografia local, para permitir o assentamento da obra. A realização de cortes profundos 
e aterros de compensação podem deixar expostos às ações erosivas substratos frágeis. 
Neste cenário, vemos a água carrear inúmeras partículas sólidas para as cotas mais baixas 
do terreno (a calha do rio), promovendo uma constante deposição de sedimentos, que 
definimos como assoreamento. Os principais impactos negativos desse tipo de poluição 
estão relacionados à redução do volume útil dos cursos d’água, e ao aumento das 
inundações e também da deterioração da qualidade da água. 
Eutrofização 
A eutrofização é o crescimento excessivo das plantas aquáticas, tanto planctônicas quanto 
aderidas, a níveis tais que sejam consideradoscomo causadores de interferências com os 
usos desejáveis do corpo d’água (Thomann e Mueller, 1987). A ocorrência da 
eutrofização está relacionada com o aporte de nutrientes (nitrogênio – N; fósforo – P) 
tanto em ambiente urbano (lançamento de esgoto doméstico) como rural (lixiviação de 
fertilizantes). Os principais impactos negativos estão relacionados à redução do oxigênio 
dissolvido e a produção de toxinas provenientes do crescimento excessivo de 
cianobactérias. 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 24 
 
Referências 
BRASIL. LEI Nº 6.938, DE 31 DE AGOSTO DE 1981. Dispõe sobre a Política acional 
do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras 
providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 1981. 
THOMANN, R. VB., MUELLER, J. A. PRINCIPLES OF SURFACE WATER 
QUALITY MODELING AND CONTROL. New York: Harper & Row, 1987. 
VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos, 3. ed. 
Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade 
Federal de Minas Gerais, v. 4, 2005. 452p. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 25 
 
Gestão de Água e Saneamento 
Aula 3 – Poluição e contaminação dos mananciais 
Tema 3.2 – Autodepuração dos cursos d’água e IQA 
Caro estudante, neste Tema 3.2, avaliaremos uma interessante capacidade do meio 
ambiente aquático, a capacidade de autodepuração. Iniciaremos nossos estudos com a 
ótica da filosofia ambiental: 
Reconhecer as forças da natureza, perceber a sua grandeza, e 
buscar um convívio harmonioso, exigirá atitudes e reflexões 
sinceras dos seres humanos para com a mesma. E acredite: A 
natureza sempre nos surpreenderá com suas demonstrações 
espontâneas de força. 
 
Nada cresce sem limites. Crescimento e limites aparecem juntos em várias combinações 
na realidade natural. O conceito de resiliência é um conceito bem interessante para 
definirmos como “prólogo” desse Tema 3.2. 
Resiliência: capacidade de um sistema suportar perturbações ambientais, mantendo sua 
estrutura e padrão geral de comportamento. 
Os corpos de água que se recuperarem mais rapidamente após os impactos do lançamento 
de efluentes domésticos ou industriais, serão classificados como de alta resiliência a estes 
tipos de perturbações. 
Matéria Orgânica 
O lançamento de matéria orgânica (MO) decomponível é um dos principais poluentes do 
ambiente aquático, devido ao consumo de oxigênio dissolvido no processo de degradação 
dessa matéria pelas bactérias decompositoras aeróbias, que utilizam o oxigênio como 
aceptor final de elétrons na respiração (Reação 1). 
MO + O.D + Bactérias aeróbias  CO2 + H2O + Energia + Novas Bactérias (Reação 1) 
O ambiente aquático possui naturalmente baixas concentrações de oxigênio dissolvido 
(O.D), e a manutenção de concentrações de O.D > 5 mg/L é essencial para termos um 
meio ecologicamente equilibrado. Concentrações de O.D < 5 mg/L são capazes de 
promover a evasão de algumas espécies de peixes e a morte de outras por asfixia. Sendo, 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 26 
 
portanto, a matéria orgânica (expressa em termos de DBO ou DQO) e o O.D os dois dos 
mais importantes parâmetros de avaliação da poluição nas águas superficiais. 
Ambientes poluídos com matéria orgânica e a consequente mortandade de peixes por 
asfixia é um evento recorrente no Brasil, devido principalmente, ao lançamento de esgoto 
doméstico sem qualquer tipo de tratamento. A maioria dos munícipios não possui 
sistemas de tratamento de esgotos. 
Autodepuração dos cursos d’água 
A capacidade dos cursos d´água em assimilar a poluição por matéria orgânica, por meio 
de mecanismos essencialmente naturais, envolvendo operações e processos físico-
químicos e biológicos, é denominada de autodepuração dos cursos d’água. 
A restauração do equilíbrio do meio aquático após as alterações induzidas pelos despejos 
líquidos, geralmente esgoto doméstico, ocorre em etapas sequenciais de autodepuração, 
sendo estas, apresentadas na Figura 1: 
 
Figura 6 - Zonas de autodepuração. Fonte: Adaptado de Braga et al.,2005. 
Na Figura 1 estão grafadas duas importantes variáveis para o controle da poluição: 
Oxigênio dissolvido e DBO. Observe o comportamento destas variáveis antes do despejo 
de esgoto e após as etapas de depuração. 
 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 27 
 
Zona de degradação 
A zona de degradação inicia-se logo após o despejo do esgoto no curso d’água e apresenta 
elevada concentração de matéria orgânica potencialmente decomponível (polímeros 
orgânicos); elevada concentração de sólidos, conferindo turbidez à água; inicia-se uma 
forte adaptação e proliferação bactérias aeróbias, que encontram um meio rico em 
alimento e propício ao crescimento bacteriano. A matéria orgânica (DBO) começa a ser 
consumida. 
Zona de decomposição ativa 
Na zona de decomposição ativa, as bactérias que degradam a DBO já estão mais 
adaptadas ao novo ambiente pós-impacto e degradam ativamente a matéria orgânica à 
custa do oxigênio dissolvido presente na água. A água apresenta seu estado mais 
deteriorado em função da acentuada queda do O.D e coloração ainda muito escura e com 
depósitos de lodo no fundo do corpo d´água. A concentração de O.D atinge seu mínimo 
e pode chegar até a zerar, criando um ambiente anaeróbio, quando o ambiente recebe 
esgoto in natura. 
Nesta fase. os processos de desoxigenação, retirada de oxigênio da massa líquida, 
prevalecem aos processos que adicionam oxigênio (reaeração). 
Um dos objetivos do tratamento de esgoto é reduzir a matéria orgânica presente e garantir 
que após o lançamento no corpo receptor, o O.D mínimo seja maior que 5,0 mg.L-1, 
evitando a evasão e mortandade de peixes por asfixia. 
Zona de recuperação 
Ao findar dessas fases de excessivo consumo de oxigênio, a concentração de DBO está 
bem abaixo do valor inicial encontrado na zona de degradação e há prevalência de 
material estável, não passivo de decomposição. Dessa forma, começa-se observar que os 
processos de reaeração estão prevalecendo e aumentando os valores de O.D. 
Uma maneira natural de aumentar a concentração de oxigênio na massa líquida (corpo 
receptor) é através das trocas gasosas que ocorrem entre o oxigênio dissolvido na 
superfície líquida e o oxigênio gasoso presente na atmosfera. 
A capacidade do líquido em absorver oxigênio atmosférico é diretamente proporcional a 
falta de oxigênio existente no mesmo. Quanto maior for o déficit, maior a “avidez” da 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 28 
 
massa líquida pelo oxigênio, implicando em uma taxa de transferência maior (vide Figura 
2). 
Neste momento, a água está mais clara e tem um aspecto estético mais agradável, já pode-
se observar a redução do número de bactérias e o aparecimento de algas, que contribuem 
para adicionar oxigênio na água pela fotossíntese. 
 
 
Figura 7 - Equilíbrio dos gases na massa líquida. 
 
Zona de águas limpas 
Na zona de águas limpas, a água apresenta aspectos estéticos próximos ao das águas antes 
da poluição (a montante do ponto de lançamento). A matéria orgânica foi toda 
estabilizada e não mais promove o consumo de oxigênio. Inicia-se um processo de 
restabelecimento da cadeia alimentar natural, com o aparecimento de espécies de peixes 
que tinham abandonado o ambiente e o aparecimento de novos e diversificados 
organismos, restaurando o equilíbrio ecológico. 
Índice de qualidade da água - IQA 
A qualidade da água reflete as alterações ocorridas em uma bacia, uma vez que é 
influenciada por diversos fatores como clima, cobertura vegetal, topografia,geologia e o 
uso e o manejo do solo. A avaliação da qualidade do recurso hídrico possibilita o 
conhecimento sobre o grau de degradação do curso d’água e, assim, permite a adoção de 
práticas que evitem a perda da qualidade ambiental na área. 
Neste contexto, surge uma interessante metodologia denominada de índice de qualidade 
de água – IQA, que objetiva a obtenção de informações de forma resumida e facilmente 
interpretável, para permitir inferências objetivas sobre a qualidade do ambiente aquático 
a ser avaliado. 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 29 
 
O IQA foi desenvolvido pela National Sanitation Foundation dos Estados Unidos em 
1970, através de pesquisa de opinião junto a vários especialistas da área ambiental. 
Os especialistas selecionaram os parâmetros a serem avaliados e seus respectivos pesos 
(Wi), em função do grau de importância de cada parâmetro, apresentados na Figura 3. 
 
Figura 8 – Parâmetros e seus respectivos pesos para o cálculo do IQA. FONTE: Portal da qualidade da 
água, 2015. 
Para o cálculo do IQA, faz-se uma análise laboratorial dos parâmetros acima citados em 
uma amostra de água. De posse dos resultados numéricos para todos esses parâmetros 
que possuem unidades de medição distintas, consulta-se gráficos específicos 
(http://portalpnqa.ana.gov.br/indicadores-indice-aguas.aspx) que transformarão estes 
resultados em um (qi), número que varia de 0 a 100, com o objetivo de padronizar as 
unidade de medição. Eleva-se o (qi) de cada parâmetro ao seu peso, e por fim, realiza-se 
o produtório destes parâmetros. Com o valor do IQA, enquadra-se o ambiente a ser 
avaliado em níveis de qualidade (Figura 4). 
Tabela 1 - Classificação da qualidade da água em função do IQA. 
Nível de Qualidade Intervalo do IQA Cor de referência 
Excelente IQA > 90 Azul 
Bom 70 a 90 Verde 
Médio 50 a 70 Amarelo 
Ruim 25 a 50 Marrom 
Muito ruim 0 a 25 Vermelho 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 30 
 
Bons Estudos! 
Referências 
BRAGA, B. et al. Introdução à Engenharia Ambiental: o desafio do desenvolvimento 
sustentável. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. 
LIBÂNIO, M. Fundamentos de qualidade e tratamento de água. Campinas: Átomo, 2010. 
THOMANN, R. VB., MUELLER, J. A. PRINCIPLES OF SURFACE WATER 
QUALITY MODELING AND CONTROL. New York: Harper & Row, 1987. 
VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos, 3. ed. 
Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade 
Federal de Minas Gerais, v. 4, 2005. 452p. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 31 
 
Gestão de Água e Saneamento 
Aula 4 – Gestão de Recursos Hídricos 
Tema 4.1 – Gestão de Recursos Hídricos e a PNRH 
Caro estudante, estamos começamos mais uma aula e para nos instigar a refletir sobre o 
tema, começamos citando um poema de Fernando Pessoa, publicado no Livro do 
Desassossego em 1984. 
 
“A consciência da inconsciência da vida é o mais 
antigo imposto à inteligência. Há inteligências 
inconscientes - brilhos do espírito, correntes do 
entendimento, mistérios e filosofias - que têm o 
mesmo automatismo que os reflexos corpóreos, que 
a gestão que o fígado e os rins fazem de suas 
secreções”. (Fernando Pessoa) 
 
Vamos Lá! 
 
Gestão de Recursos Hídricos 
A gestão das águas fundamenta-se em atividades analíticas, críticas e, sobretudo 
organizacionais, para buscar a elaboração de modelos de avaliação e gestão (MAG), 
capazes de orientar as tomadas de decisões em diferentes setores da sociedade, com o 
objetivo de orientar o uso, o controle e a proteção dos recursos hídricos. Podemos citar 
como atividades norteadoras as ações governamentais: Leis; Normas; Decretos e 
Regulamentos; e as ações técnicas: Produção de artigos científicos e Notas técnicas. 
A necessidade de aprimorar e buscar novas formas de gerir os recursos hídricos decorre 
das mudanças comportamentais das sociedades, que estão em franco processo de 
crescimento e concentração das populações e também das alterações que o Planeta tem 
sofrido, na recorrência de eventos tidos como extremos: secas, inundações, tufões, e 
terremotos. A aglomeração da população e a ocorrência de eventos extremos criam 
cenários de vulnerabilidade ambiental, e a água, como bem essencial para a manutenção 
da vida, figura como um dos recursos a ser protegido e controlado de forma racional e 
humanista. 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 32 
 
Princípios norteadores da Gestão das águas (Adaptado de Ramos e Silva, 2001): 
 A avaliação dos benefícios coletivos resultantes da utilização da água deve levar 
em conta as várias componentes da qualidade de vida: nível de vida, condições de 
vida e qualidade do ambiente. 
 A unidade básica de gestão dos recursos hídricos deve ser a bacia hidrográfica. 
 A capacidade de autodepuração dos cursos d´água deve ser considerada como um 
recurso natural cuja utilização é legítima, devendo os benefícios dessa utilização, 
reverter para a coletividade; a utilização dos cursos de água como meio receptor 
de efluentes rejeitados não deve, contudo, provocar a ruptura dos ciclos 
ecológicos que garantem os processos de autodepuração. 
 A gestão das águas deve abranger tanto as águas interiores superficiais e 
subterrâneas como as águas marítimas costeiras. 
 A gestão dos recursos hídricos deve considerar a estreita relação existente entre 
os problemas de quantidade e qualidade das águas. 
 A gestão dos recursos hídricos deve processar-se no quadro do ordenamento do 
território, visando à compatibilização, nos âmbitos regional, nacional e 
internacional, do desenvolvimento econômico e social, com os valores do 
ambiente. 
 A crescente utilização dos recursos hídricos, bem como a unidade destes em cada 
bacia hidrográfica, acentua a incompatibilidade da gestão das águas com sua 
propriedade privada. 
 Todas as utilizações dos recursos hídricos, com exceção das correspondentes às 
captações diretas de água de caráter individual, para a satisfação de necessidades 
básicas, devem estar sujeitas a autorização do Estado. 
 Para pôr em prática uma política de gestão das águas é essencial assegurar a 
participação das populações por meio de mecanismos devidamente 
institucionalizados. 
 A autoridade em matéria de gestão dos recursos hídricos deve pertencer ao Estado. 
 Na definição de uma política de gestão de águas devem participar todas as 
entidades com intervenção nos problemas da água. Todavia, a responsabilidade 
pela execução dessa política deve competir a um único órgão que coordene, em 
todos os níveis, a atuação daquelas entidades em relação aos problemas das águas. 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 33 
 
 
Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) 
O legislador editou em 1997 a PNRH, descrita abaixo, como uma ação governamental 
que busca nortear a sociedade na gestão de águas, segundo os princípios 
supramencionados. 
LEI Nº 9.433, DE 8 DE JANEIRO DE 1997, Institui a Política Nacional de Recursos 
Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, 
regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal e altera o art. 1º da Lei 
nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro 
de 1989 (http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=370 ) 
No Brasil, a PNRH surge devido aos cenários futuros preocupantes com relação à 
disponibilidade de água doce suficiente para abastecer as futuras gerações. Podemos 
vivenciar atualmente essa realidade e não mais uma projeção, por isso,destaca-se a 
importância desta lei, no trabalho de buscar um gerenciamento adequado. 
Princípios básicos da lei: 
 A adoção da bacia hidrográfica como unidade de planejamento; 
 A consideração dos múltiplos usos da água; 
 O reconhecimento da água como um bem finito, vulnerável e dotado de valor 
econômico; e 
 A necessidade da consideração da gestão descentralizada e participativa desse 
recurso. 
Objetivos básicos da lei: 
 Assegurar à atual e as futuras gerações a necessária disponibilidade de água. 
 A utilização racional e integrada dos recursos hídricos. 
 Apresentação e a defesa contra eventos hidrológicos críticos naturais ou 
antrópicos. 
Instrumentos de Gestão: 
 Planos de recursos hídricos (PNRH) 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 34 
 
 Outorga de direito de uso 
 Cobrança pelo uso da água 
 Enquadramento dos Corpos d’água em classes de uso (Resolução 357 do 
CONAMA) 
 Sistema Nacional de Informações sobre recursos hídricos 
 
Modelo de Gestão: Sistêmico e Participativo 
O crescimento da demanda por água aumenta a necessidade de planejamento e de gestão 
dos recursos hídricos. Um diferente modo de pensamento, o pensamento sistêmico, tem 
contribuído efetivamente para as demandas atuais relacionadas à preservação dos 
recursos hídricos e objetiva entender o todo, detectar padrões e inter-relacionamentos e 
aprender a reestruturar essas inter-relações de forma mais harmoniosa. Com base nestes 
conceitos, podemos definir três instrumentos fundamentais: 
1. Planejamento estratégico por bacia hidrográfica 
2. Tomadas de decisão multilaterais e descentralizadas 
3. Estabelecimento de instrumentos legais financeiros para compatibilizar as ações 
Bons Estudos! 
 
Referências 
RAMOS, M.M., SILVA, D.D. Geografia das águas. Brasília, DF; ABEAS: Viçosa, MG: 
UFV, DEA, 2001. 83p. (Curso de Uso Racional dos Recursos Naturais e seu Reflexos no 
Meio Ambiente. Módulo 10) 
BRASIL. Política Nacional de Recursos Hídricos. Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997. 
MMA/ SRH, 1997. 
 
 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 35 
 
Gestão de Água e Saneamento 
Aula 4 – Gestão de Recursos Hídricos 
Tema 4.2 – Gestão de Recursos Hídricos e o SNGRH 
 
Caro estudante, vamos continuar nossos estudos sobre a Gestão de Recursos Hídricos! 
 
Iniciamos nossos estudos com uma reflexão apresentada pelo Prof. Dr. Carlos E. M. 
Tucci, um dos grandes pesquisadores brasileiros da área de recursos hídricos. 
 
 
“A infraestrutura desenvolvida para a sociedade se baseia numa 
probabilidade ou risco de ocorrência de eventos naturais, tanto 
para disponibilidade hídrica como para eventos extremos de 
inundações, além de acidentes. Como na vida de qualquer pessoa, 
assumimos um risco ao atravessar a rua, dirigir um carro, no tipo 
de alimentação, entre outros. Da mesma forma, quando é realizado 
um projeto de abastecimento de água, a disponibilidade hídrica de 
um manancial tem um risco de ser menor que a demanda da cidade 
ou quando ocupamos uma área com uma casa, existe um potencial 
risco de inundação maior ou menor de acordo com o local. Estas 
condições são inerentes a vários cenários da vida da população” 
(TUCCI, 2015). 
 
Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos - SNGRH 
Quando falamos em gerenciar, precisamos conhecer o nosso foco gerencial, e para tanto, 
é essencial buscar dados e gerar informações sobre os recursos hídricos, para que 
possamos conhecer a conjuntura atual em diferentes níveis, nacional, estadual e 
municipal. Se tratando de Brasil, um enorme país e com uma diversidade incrível de 
ambientes naturais e características culturais, o gerenciamento adequado das informações 
sobre os RH é fundamental para auxiliar os profissionais na proposição de ações 
gerenciais em diferentes escalas. 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 36 
 
A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH, 1997) criou o Sistema Nacional de 
Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGRH), responsável pela geração de 
informações sobre recursos hídricos, sendo estes dados coletados, tratados, armazenados, 
recuperados e, posteriormente, incorporados ao Sistema Nacional de Informações sobre 
Recursos Hídricos (SNIRH), de modo a subsidiar a gestão de recursos hídricos. 
Para exemplificar o que estamos descrevendo, observe as informações apresentadas no 
Encarte Especial sobre a Crise Hídrica (Conjuntura Recursos Hídricos no Brasil, Informe 
2014) na Figura 1e 2. 
 
Figura 9 – Situação da Chuva no Brasil nos anos de 2012, 2013 e 2014. Fonte: Adaptado de ANA, 2014. 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 37 
 
 
Figura 10 - Criticidade das chuvas entre 2012 e 2014 no Sudeste. Fonte: Adaptado de ANA, 2014. 
Estas informações, apresentadas nos infográficos, são fundamentais para orientar as ações 
dos gestores que trabalham com saneamento, pois permitem direcionar as atividades no 
curto e médio prazo (ações emergenciais) e as ações preventivas de longo prazo. 
Objetivos do SNGRH: 
 Coordenar a gestão integrada das águas; 
 Arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos; 
 Implementar a PNRH; 
 Planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos RH; 
 Promover a cobrança pelo uso de RH. 
Buscando coordenar de modo integrado, o SNGRH, trabalha com um conjunto de ações 
e atua em todos os níveis (Federal, Estadual, e nas bacias hidrográficas). 
Agência Nacional de Águas - ANA 
A ANA é um órgão do governo federal encarregado de implementar PNRH e orientar a 
organização dos comitês de bacias hidrográficas. Indutor de iniciativas relacionadas à 
gestão de recursos hídricos: Pesquisa; Capacitação técnica; Educação ambiental; 
Conservação de água e solo. 
A LEI Nº 9984, DE 17 DE JULHO DE 2000, dispõe sobre a criação da Agência Nacional 
de Águas - ANA, entidade federal de implementação da Política Nacional de Recursos 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 38 
 
Hídricos e de coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, 
e dá outras providências. 
Algumas das atribuições da ANA: 
 Disciplinar, em caráter normativo, a implementação, a operacionalização, o 
controle e a avaliação dos instrumentos da Política Nacional de Recursos 
Hídricos. 
 Outorgar, por intermédio de autorização, o direito de uso de recursos hídricos em 
corpos de água de domínio da União. 
 Fiscalizar os usos de recursos hídricos nos corpos de água de domínio da União. 
 Elaborar estudos técnicos para subsidiar a definição, pelo Conselho Nacional de 
Recursos Hídricos, dos valores a serem cobrados pelo uso de recursos hídricos de 
domínio da União, com base nos mecanismos e quantitativos sugeridos pelos 
Comitês de Bacia Hidrográfica. 
 Estimular e apoiar as iniciativas voltadas para a criação de Comitês de Bacia 
Hidrográfica. 
 Implementar, em articulação com os Comitês de Bacia Hidrográfica, a cobrança 
pelo uso de recursos hídricos de domínio da União. 
 Arrecadar, distribuir e aplicar receitas auferidas por intermédio da cobrança pelo 
uso de recursos hídricos de domínio da União. 
Bons Estudos! 
 
Referências 
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Encarte especial sobre a crise hídrica. Disponível 
em:< http://conjuntura.ana.gov.br/>. Acesso em: 10 agosto 2015. 
BRASIL. Lei n° 9.984 de 17 de julho de 2000 – Cria a Agência Nacional dasÁguas. 
Brasília: 2000. 
BRASIL. Política Nacional de Recursos Hídricos. Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997. 
MMA/ SRH, 1997. 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 39 
 
Gestão de Água e Saneamento 
Aula 5 – Instrumentos de gestão 
Tema 5.1 – Plano de Recursos Hídricos e Enquadramentode corpos d’água 
Caro estudante, nossa aula 5 se propõem a estudar os instrumentos de gestão de recursos 
hídricos, propostos pela Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH). 
Vamos Refletir! 
A seguir apresentaremos trechos do livro de Jared Diamond – Colapso: como as 
sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. 
 
“Resultados desastrosos surgem das seguintes falhas da sociedade 
ou de grupos: não se antecipar ao surgimento do problema; não 
perceber quando o problema já está presente; não tentar resolver 
o problema, apesar de tê-lo percebido; e não conseguir resolver o 
problema, apesar das tentativas de solucioná-lo” (Diamond, 
2005). 
“Historicamente, duas escolhas, aparentemente, foram decisivas 
quanto ao sucesso ou fracasso das tentativas para lidar com 
ameaças de colapso: 1) o planejamento de longo prazo e 2) a 
disposição de indivíduos e da sociedade para reconsiderar valores 
básicos” (Diamond, 2005). 
 
A PNRH definiu os seguintes instrumentos para regulamentação do uso, controle e 
proteção dos recursos hídricos: 
 Plano de recursos hídricos; 
 Enquadramento de recursos hídricos; 
 Sistema de informações sobre recursos hídricos; 
 Outorga do direito de uso dos recursos hídricos; e 
 Cobrança pelo uso da água. 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 40 
 
Plano de Recursos Hídricos 
Os Planos de Recursos Hídricos são instrumentos de planejamento que servem para 
orientar a sociedade e, mais particularmente, a atuação dos gestores, no que diz respeito 
ao uso, recuperação, proteção, conservação e desenvolvimento dos recursos hídricos 
(ANA, 2011). Um instrumento previsto pela Lei das Águas e que deve ser elaborado em 
3 níveis: 
 Plano Nacional de Recursos Hídricos 
 Plano Estadual de Recursos Hídricos 
 Plano de Bacia Hidrográfica 
Segundo a Lei das Águas, são planos diretores que visam fundamentar e orientar a 
implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e a gestão das águas. Devem 
ser formulados com uma visão de longo prazo, sendo que em geral, trabalham com 
horizontes entre dez e vinte anos, acompanhados de revisões periódicas. 
Pensar de forma sistêmica é fundamental para a resolução de problemas ambientais, 
principalmente os problemas envolvendo a gestão de recursos hídricos, onde as variáveis 
de controle estão sempre interligadas. 
Um ciclo virtuoso e importante é: Planejamento-ação-indução-controle-
aperfeiçoamento. Estas ações são estratégias essenciais para identificar, agir, e corrigir 
os problemas relacionados à preservação dos recursos hídricos e à melhoria da gestão das 
águas. 
A Figura 1 apresenta os instrumentos de gestão da PNRH. 
 
Figura 11 - Instrumentos da PNRH. Fonte: Adaptado de ANA, 2011. 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 41 
 
O processo de planejamento deve ser capaz de fazer uma análise crítica dos cenários 
atuais e futuros, orientado por três situações: 
 Situação atual dos recursos hídricos; 
 Situação desejada; e 
 Situação possível 
A situação possível deve levar em conta a capacidade financeira da sociedade e as 
perspectivas futuras para a região. 
Qual é o conteúdo básico do Plano de Recursos Hídricos? 
 Diagnóstico ambiental; 
 Análise de alternativas de crescimento demográfico e de atividade produtivas; 
 Balanço de disponibilidades e demandas futuras dos RH; 
 Metas de racionalização de uso; 
 Medidas, programas e projetos a serem implantados; 
 Prioridades para outorga; 
 Diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso de RH; 
 Propostas para a criação de áreas sujeitas a restrições de uso. 
 Quais são os objetivos do Plano de Recursos Hídricos? 
1. Definição de uma agenda de recursos hídricos, identificando ações de gestão, 
programas, projetos, obras e investimentos prioritários, dentro de um contexto que 
inclua os órgãos governamentais, a sociedade civil, os usuários e as diferentes 
instituições que participam do gerenciamento dos recursos hídricos; 
2. Compatibilização do uso, controle e proteção dos recursos hídricos às aspirações 
sociais; 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 42 
 
3. Atendimento das demandas de água com foco no desenvolvimento sustentável 
(econômico; social e ambiental); 
4. Plano de Recursos Hídricos e Enquadramento dos corpos de água com equilíbrio 
entre oferta e demanda de água, de modo a assegurar as disponibilidades hídricas 
em quantidade, qualidade e confiabilidade adequada aos diferentes usuários; 
5. Orientação do uso dos recursos hídricos por meio de processo interativo, 
considerando variações do ciclo hidrológico e dos cenários de desenvolvimento. 
Enquadramento dos cursos d’água 
O Enquadramento dos cursos d’água é um instrumento proposto pela Lei das Águas e 
regulamentado pela Resolução CONAMA 357/05, que dispõe sobre a classificação dos 
corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento. 
O enquadramento é o estabelecimento do nível de qualidade (classe) a ser alcançado ou 
mantido em um segmento de corpo de água ao longo do tempo, em função dos usos 
preponderantes atuais e futuros da água. 
Objetivos do enquadramento: 
 Assegurar às águas qualidade compatível com os usos mais exigentes a que forem 
destinadas; 
 Diminuir os custos de combate à poluição das águas, mediante ações preventivas 
permanentes. 
A tabela abaixo (Tabela 1) apresenta os usos preponderantes e suas respectivas classes de 
enquadramento, segundo a Resolução CONAMA 357/05. 
Acesse a resolução: http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 43 
 
Tabela 1 - Usos preponderantes de água doce em função das classes de enquadramento. Fonte: Adaptado 
de CONAMA 357/05. 
Bons Estudos! 
 
Referências 
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Manual de Outorga. Disponível em:< 
http://arquivos.ana.gov.br/institucional/sof/MANUALDEProcedimentosTecnicoseAdmi
nistrativosdeOUTORGAdeDireitodeUsodeRecursosHidricosdaANA.pdf>. Acesso em: 
03 de abril 2015. 
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Planos de recursos hídricos e enquadramento dos 
corpos de água. Disponível em: < 
http://cbhvelhas.org.br/images/CBHVELHAS/arquivosgerais/CadernosDeCapacitacao5
_%20Plano_comite_editoracao.pdf> Acesso em: 20 de abril 2015. 
CONSELHO NACIONAL DE MEIO AMBIENTE. Resolução Normativa n° 357. 
Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu 
enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, 
e dá outras providências. Brasília, 17 de mar. de 2005. 
BRASIL. Política Nacional de Recursos Hídricos. Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997. 
MMA/ SRH, 1997. 
DIAMOND, J. Colapso: Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. São 
Paulo, Record, 2005. 
Usos Classe 
Especial 1 2 3 4 
Abastecimento para consumo humano X X X X 
Preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas X 
Preservação de ambientes aquáticos em unidades de conservação de 
proteção integral 
X 
Proteção das comunidades aquáticas X X 
Recreação de contato primário (*) X X 
Irrigação X X X 
Aqüicultura e atividade de pesca X 
Pesca amadora X 
Dessedentação de animais X 
Recreação de contato secundário X 
Navegação X 
Harmonia paisagística X 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 44 
 
Gestão de Água e Saneamento 
Aula 5 – Instrumentos de gestão 
Tema 5.2 – Outorga e Cobrança pelo uso da água 
 
Vamos continuar nossos estudos sobre os instrumentos de gestão! 
“A água desempenha múltiplas funções, seja para atendimento das 
necessidades básicas humanas, animais e para a manutenção dos 
ecossistemas, seja como insumo na maioria dosprocessos 
produtivos. Estas múltiplas atribuições e conotações da água, 
devido ao seu caráter indispensável à vida, tornam essencial a 
normatização do seu uso, com uma legislação específica e atuação 
efetiva do poder público.” (Manual de Outorga, ANA). 
Como visto anteriormente, a PNRH definiu os seguintes instrumentos para 
regulamentação do uso, controle e proteção dos recursos hídricos: 
 Plano de recursos hídricos 
 Enquadramento de recursos hídricos; 
 Sistema de informações sobre recursos hídricos; 
 Outorga do direito de uso dos recursos hídricos; e 
 Cobrança pelo uso da água. 
 
Outorga 
O Brasil possui uma das mais modernas leis de gerenciamento de recursos hídricos do 
mundo, e procedimento de outorga do direito de uso dos recursos hídricos é um dos 
instrumentos legais de gestão. 
Objetivo: 
1. Assegurar o controle da quantidade e qualidade dos usos da água; e 
2. Assegurar o direito ao acesso à água. 
 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 45 
 
O que é Outorga? 
A outorga é o ato administrativo mediante o qual o poder público outorgante (União, 
estado ou Distrito Federal) faculta ao outorgado (requerente) o direito de uso de recursos 
hídricos, por prazo determinado, nos termos e nas condições expressas no respectivo ato. 
Quais usos estão sujeitos à outorga? 
Estão sujeitos à outorga, segundo a PNRH, os seguintes usos: 
 Derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para 
consumo final, inclusive abastecimento público ou insumo de processo produtivo; 
 Extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de 
processo produtivo; 
 Lançamento de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, 
com o fim de sua diluição, transporte ou disposição; 
 Aproveitamento dos potenciais hidrelétricos; 
 Outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente 
em um corpo de água. 
Modalidades de Outorga 
1. Autorização: Obras, serviços ou atividades que não são de utilidade pública. 
Prazo máximo: 05 anos 
2. Concessão: Obras, serviços ou atividades de utilidade pública. Prazo máximo: 20 
anos; 
3. Cadastro: Usos insignificantes. Prazo máximo: 03 anos. 
Quem emite a outorga? 
Órgão ambiental público detentor do domínio hídrico. As coleções de água que banham 
mais de um estado são de domínio da união, e os demais são de responsabilidade dos 
estados. 
União: Agência Nacional de Águas – ANA 
Estados: órgãos determinados pela legislação 
 
 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 46 
 
Quais usos não estão sujeitos à outorga? 
 Uso para satisfação de necessidades de pequenos núcleos populacionais, meio 
rural; 
 Derivações, captações e lançamentos insignificantes; 
 Acumulações insignificantes 
 
Vazões Outorgáveis 
As vazões para outorga em cursos superficiais são definidas pelo poder público 
outorgante (Federal ou Estadual) e faz uso dos valores de vazões mínimas ou de estiagem 
para a concessão de uso aos usuários dos recursos hídricos. O legislador procurou, por 
meio da avaliação das vazões mínimas, gerenciar as possíveis situações de conflito de uso 
da água nos momentos de estiagem. 
Um exemplo clássico de vazões mínimas é a Q7,10 (vazão mínima de 7 dias de duração e 
10 anos de tempo de retorno) que é utilizada para estudos de qualidade da água em rios e 
na vazão mínima a ser mantida nos rios após o uso da água no processo de outorga. Outro 
procedimento para avaliar as vazões mínimas é por intermédio da curva de permanência, 
que permite a obtenção, por exemplo, da Q95 (vazão com 95% de permanência no tempo). 
A quantidade a ser outorgada varia com o regime do rio e em função da legislação 
estadual. Em rios de regime permanente ou rios perenes, a outorga é usualmente feita com 
base na Q7,10 ou na Q95, atribuindo-se valores percentuais a elas, ou seja, outorgando-se 
apenas parte destes valores de vazões mínimas. 
A agência nacional de águas (ANA) determina que a vazão de água a ser coletada e 
outorgada deve ser no máximo igual de 70% da Q95, podendo variar em função da região. 
A ANA considera que vazões de captação menores ou iguais que 1L/s (Q ≤ 1L/s) são 
insignificantes e não exigem pedidos de outorga, o usuário deve apenas fazer um cadastro 
simples declarando uso insignificante. Devido às peculiaridades de nosso país, cada 
estado deve estabelecer seus critérios, vale ressaltar, que a legislação Estatual pode propor 
critérios, mas estes devem ser iguais ou mais restritivos do que os critérios propostos pela 
ANA. 
 
 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 47 
 
Suspensão da Outorga 
A suspensão da outorga pode ocorrer nos seguintes casos: 
 Não cumprimento dos termos da outorga pelo outorgado; 
 Ausência de uso por três anos consecutivos; 
 Necessidade premente de água para situações de calamidade; 
 Necessidade de prevenir ou reverter grave degradação ambiental; 
 Atender usos prioritários de interesse coletivo; 
 Necessidade de manter características de navegabilidade. 
Cobrança pelo Uso da Água 
Devem ser definidos critérios e diretrizes para subsidiar o processo de cobrança pelo uso 
da água seguindo-se as mesmas orientações requeridas para aplicação do instrumento de 
outorga, acrescidas de esclarecimentos sobre o que cobrar, como cobrar, de quem cobrar 
e para que cobrar o uso da água. Essas orientações devem ser adequadas às características 
específicas da bacia, incluindo uma análise preliminar sobre a viabilidade econômica da 
cobrança. 
Um dos avanços do sistema de cobrança proposto como ferramenta de gestão de recursos 
hídricos, diz respeito à destinação dos recursos financeiros arrecadados, que devem ser 
usados para financiar a recuperação e a preservação dos recursos hídricos: 
 Financiamento de estudos, programas, projetos e obras incluídas no plano de RH; 
 Despesas de implantação e custeio administrativo de órgãos e entidades 
integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de RH; 
Referências 
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Manual de Outorga. Disponível em:< 
http://arquivos.ana.gov.br/institucional/sof/MANUALDEProcedimentosTecnicoseAdmi
nistrativosdeOUTORGAdeDireitodeUsodeRecursosHidricosdaANA.pdf>. Acesso em: 
03 de abril 2015. 
BRASIL. Política Nacional de Recursos Hídricos. Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997. 
MMA/ SRH, 1997. 
GESTÃO DE ÁGUA E SANEAMENTO 48 
 
Gestão de Água e Saneamento 
Aula 6 – Manejo de bacias hidrográficas em áreas rurais 
Tema 6.1 – Práticas Conservacionistas 
Caro estudante, vamos iniciar nossa aula 6! 
Começaremos fazendo uma leitura sobre alguns aspectos tratados pela Filosofia 
Ambiental. O texto abaixo é parte de uma entrevista do professor da Universidade de 
Washington, Amós Nascimento, em Seattle: 
“Estética e responsabilidade ambiental: O que seria isso? Para 
dar uma curta resposta, é simplesmente estar mais atento às várias 
formas de percepção, de modo a poder entender e captar o que se 
passa no meio ambiente e entender eventos e situações como 
“questões” que merecem nossa atenção e resposta. O processo de 
estar mais atento e sensível ao meio ambiente, a discutir mais 
sobre isso, a interagir com várias esferas, requer uma atenção 
mais refinada e atenta. Isso é o que eu denomino “estética 
ambiental”. O processo de resposta a isso é diferente. Com base 
nas percepções, problemas e questões levantadas, somos 
motivados e às vezes forçados a dar alguma 
resposta. Responsabilidade, em sentido lato, é a habilidade de dar 
respostas. Vem daí, portanto, o meu conceito de responsabilidade 
ambiental. Portanto, a responsabilidade ambiental é um processo 
posterior,

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