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Campo Grande - MS 2017 ADRIANA MARTINS PRISÃO PREVENTIVA ADRIANA MARTINS PRISÃO PREVENTIVA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito, da Universidade Anhanguera – Uniderp, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientadora: Jamile Kassem Campo Grande – MS 2017 ADRIANA MARTINS PRISÃO PREVENTIVA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito, da Universidade Anhanguera – Uniderp, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito. BANCA EXAMINADORA Professor: Rene Mohr Professor: Taiyo Schaeffer Ferreira Campo Grande - MS, 06 de dezembro de 2017. Dedico este trabalho ao meu esposo, meu filho, meus pais, familiares e amigos que sempre me incentivaram. AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus por ter me capacitado e me dado força para chegar até aqui, aos meus professores por todo o conhecimento transmitido, aos meus colegas por me ajudarem e me apoiarem durante toda esta jornada, ao meu esposo André que segurou em minhas mãos me incentivando a não desistir e que sempre acreditou e torceu por mim, aos meus familiares por toda ajuda e compreensão nos meus momentos de angustia e dificuldade, aos meus amigos que entenderam a minha ausência, e principalmente ao meu filho Gustavo, que foi meu maior incentivo. MARTINS, Adriana. Prisão preventiva. 2017. Número total de folhas 51. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – ANHANGUERA-UNIDERP, Campo Grande - MS, 2017. RESUMO O presente trabalho de monografia tem o objetivo de desenvolver um estudo sobre a prisão preventiva, enfatizando os seus pressupostos, requisitos, decretação entre outros, porém todos pertinentes ao tema. Dessa forma, analisam-se os conceitos doutrinários sobre a prisão preventiva, da justiça das decisões jurisdicionais, da supremacia da Constituição, no que diz respeito à sua natureza constitucional, todos indispensáveis a uma melhor compreensão do tema em estudo, mostrando a eficácia dessa medida cautelar nos dias de hoje, estabelecendo as hipóteses de sua aplicação e situando-os dentro das correntes doutrinárias existentes acerca do tema. Por fim, justifica este trabalho o exame do instituto da prisão preventiva e social, baseado na doutrina, buscando-se esclarecer todos os pontos necessários para uma boa compreensão e sua aplicação no direito e nas relações sociais, posto que o tema é de grande importância aos seres humanos e à sociedade como um todo, pois somente por meio deste tipo de controle a sociedade pode viver uma vida justa e atingir o bem comum. Para a elaboração do presente trabalho, utilizou-se do método dogmático- jurídico, analisando-se obras jurídicas nacionais, bem como os artigos doutrinários publicados em revistas especializadas e na Internet. Palavras-chave: Prisão. Medida Cautelar. Prisão Preventiva. MARTINS, Adriana. Preventive detention. 2017. Número total de folhas 51. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – ANHANGUERA-UNIDERP, Campo Grande - MS, 2017. ABSTRACT The present work of monograph aims to develop a study on pre-trial detention, emphasizing their assumptions, requirements, decreeing among others, however all pertinent to the topic. In this way, it examines the doctrinal concepts on pre-trial detention, the Justice of judicial decisions, of the supremacy of the Constitution, as regards its constitutional nature, all essential to a better understanding of the subject under study, showing the effectiveness of restraining order these days, establishing the chances of your application and placing them within the existing doctrinal currents about the theme. Finally, this work justifies the review of pre-trial detention and social Institute, based on doctrine, seeking to clarify all points needed for a good understanding and its application in law and in social relations, since the topic is of great importance to humans and society as a whole, because only through this kind of control society can live a righteous life and achieve the common good. For the preparation of this study, we used the dogmatic and legal method, analyzing national legal works devoted to the study of the social impacts caused by the reduction of the age of majority, as well as the doctrinal articles published in specialized journals and on the Internet. Key words: Prison. Injunctive Relief. Preventive Detention SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9 1 BREVE HISTORICO SOBRE PRISÃO ................................................................. 12 1.1 ORIGEM DA PRISÃO ...................................................................................... 12 1.2 CONCEITO DE PRISÃO .................................................................................. 13 1.3 ESPÉCIES DE PRISÃO ................................................................................... 15 1.4 MANDADO DE PRISÃO .................................................................................. 16 2 O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO ............................................................... 19 2.1 CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA E LEGISLAÇÃO ............................................. 19 3 PRISÕES CAUTELARES ..................................................................................... 29 3.1 HISTÓRIA DAS PRISÕES CAUTELARES ...................................................... 29 3.2 PRISÃO CAUTELAR ....................................................................................... 30 3.3 ESPÉCIES DE PRISÃO PROCESSUAL CAUTELAR ..................................... 33 3.3.1 Prisão em Flagrante ................................................................................... 33 3.3.2 Prisão Temporária ..................................................................................... 36 3.3.3 Prisão Preventiva ...................................................................................... 37 3.3.4 Prisão em Decorrência da Pronúncia ........................................................ 38 4 PRISÃO PREVENTIVA .......................................................................................... 39 4.1 CONCEITO DE PRISÃO PREVENTIVA .......................................................... 39 4.2 ESPÉCIES DE PRISÃO PREVENTIVA ........................................................... 40 4.3 PRESSUPOSTOS DA PRISÃO PREVENTIVA ............................................... 40 4.3.1 Requisitos .................................................................................................. 41 4.4 HIPÓTESE DE DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA ........................... 42 4.5 HIPÓTESE QUE NÃO CABE PRISÃO PREVENTIVA ..................................... 43 4.6 FUNDAMENTAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA ............................................ 44 4.7 REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA ...................................................... 44 4.8 PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA E PRISÃO PREVENTIVA .............................. 45 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 47 REFERÊNCIAS......................................................................................................... 49 INTRODUÇÃO O presente trabalho trata de um projeto para elaboraçãodo trabalho de conclusão de curso de direito, cujo tema é a prisão preventiva. O tema do presente trabalho vem sendo muito discutido, não só por legisladores, mas também, por toda a sociedade, levantando importantes questões que devem ser analisadas, antes que se tomem quaisquer decisões sobre o referido assunto. A Lei nº 12.403, de 04 de maio de 2011, trouxe mudanças essenciais para o campo jurídico e para o cidadão, sendo considerado um avanço. Com dados atualizados que a presente monografia oferece, poderá a comunidade acadêmica e a sociedade civil tomar conhecimento das mudanças substanciais há muito esperadas, utilizando-se deste instrumento para ampliar conhecimento e evitar injustiças. Por se tratar de um novo instrumento processual, a referida Lei nº 12.403 de 2011 ainda será alvo de intensas discussões, e o presente trabalho pretende contribuir para o debate. Assim, ressalta-se que não se pode olvidar da situação do sistema penitenciário e da sua importância numa sociedade, elevando-o como um dos principais problemas encontrados na sociedade brasileira e que necessita de imediata solução, para que seja conservada a honra e a dignidade da pessoa humana, determinada pelo Art. 5º da Constituição Federal de 1988, cláusula pétrea e princípio fundamental e, principalmente, que seja garantida a justiça. Na doutrina processual penal, a prisão preventiva é tida como um mal necessário, porém imprescindível para o Estado, que a tem como uma medida de força, com a finalidade de se conservar o suspeito ou acusado distrito da culpa. O Código de Processo Penal procura acompanhar as transformações pelas quais passa a sociedade, ajustando-se, à medida que se faz necessário, à evolução tecnológica, sem deixar de cumprir as determinações existentes na Constituição Federal de 1988 relativas ao princípio da dignidade da pessoa humana. Buscar o direito do próximo não é deixar de fazer justiça e, sim, demonstrar a verdadeira justiça que deve ser aplicada. Não se pode curvar diante desta realidade tão desumana e tão humilhante, fazendo com que um ladrão de galinhas tenha o mesmo tratamento do que um homicida. 10 As pessoas que cometerem crimes menores poderão ficar em liberdade, tendo sua prisão convertida em uma das medidas cautelares trazidas pela nova Lei. Ainda muito questionada será a referida Lei, pois para a sociedade qualquer um que cometa um crime, por menor que seja e independente do motivo, é criminoso passível de se manter em cadeia, sem direito a fiança ou liberdade. A sociedade está tão cansada da impunidade e da liberdade de se cometer crimes, que não consegue vislumbrar os benefícios que a referida Lei trouxe. De que adianta prender pessoas que cometem crimes menores, se a possibilidade dela conseguir uma liberdade provisória ou um Habeas Corpus é premente? Ou mesmo, de se lotar cadeias e delegacias se as condições de reabilitação e de sobrevivência, que dirá de convivência com outros presos de grande periculosidade, não se fazem presentes? Essas e outras questões referentes à promulgação da referida Lei devem ser respondidas em trabalhos futuros, quando a mesma já tiver sido alvo da jurisprudência e da doutrina dominante. Optou-se pelo tema prisão preventiva, por ser de muita importância, não só para a maior segurança do país, bem como para um meio de norteamento da sociedade, pois o que seria da civilização sem um poder mantedor. Contudo, no mundo jurídico, não poderia ser diferente, pois todas as relações referentes a este tema vêm tão somente para reforçar a ordem, dando um fim sincero e justo, seja para assegurar eventual execução da pena, seja por conveniência da instrução criminal, isto é, para impedir que o indiciado ou acusado, por manobras, atrapalhe ou impeça a produção de provas na instrução ou obste o regular prosseguimento da ação penal. Questiona-se: Quais são os requisitos da prisão preventiva? Tal estudo tem por objetivo analisar e expor o entendimento sobre prisão preventiva, bem como o seu cabimento, pressupostos, requisitos, fundamentação e finalidade, objetivando e destacando assim a sua importância no meio social, para que se consiga manter a ordem pública que é essencial para o sucesso de uma sociedade. Trata-se de uma medida cautelar, que merece ser estudada. Ela ocorre antes do trânsito em julgado da sentença condenatória, não com a intenção de punição, mas de prevenir e impedir o cometimento de novos delitos ou que a conduta do 11 indivíduo possa interferir na apuração dos fatos e na aplicação da sanção do crime praticado. Desse modo é que, pretende-se analisar institutos fundamentais para uma correta estruturação e desenvolvimento do tema objeto de estudo. Busca-se conceituar a origem da prisão, conceito e espécies de prisão, demonstrando os requisitos essenciais a sua formação, bem como sua classificação, posto tratar-se de elemento essencial para a formação da prisão preventiva. O objetivo geral do presente trabalho foi conhecer os principais requisitos da prisão preventiva e as alterações sofridas com a promulgação da Lei nº 12.403/2011, identificando aspectos da nova lei e em que essa contribui para a sociedade. Os objetivos específicos foram: Levantar, através de estudo bibliográfico, a história, fundamento e conceito sobre prisões cautelares e identificar a prisão preventiva, espécies, pressupostos, hipótese e fundamentação. Para a elaboração do presente trabalho, utilizou-se do método dogmático- jurídico, analisando-se obras jurídicas nacionais, bem como os artigos doutrinários publicados em revistas especializadas e na Internet. 1 BREVE HISTORICO SOBRE PRISÃO Nesse capítulo será apresentado breve histórico sobre a prisão, pois não se pode entrar no mérito do tema em questão “Prisão Preventiva”, sem antes abordar a história da prisão, como surgiu, por que é aplicada, quais são os tipos de prisões cautelares, entres outros requisitos importante para elucidação do tema em tela. 1.1 ORIGEM DA PRISÃO Nesse tópico apresenta-se a origem da prisão, de acordo com diversos autores. Leão (2007) afirma que, no Brasil, com a proclamação da independência em 1822, a Constituição Imperial de 1824 admitiu a prisão provisória, mediante ordem escrita do juiz. O Código de Processo Criminal do Império, de 1832, previu também a prisão sem culpa formada para os crimes inafiançáveis, por ordem escrita da autoridade legítima, até que o Código de Processo Penal de 1941, respaldado no Código italiano de 1930, veio sistematizar com rigor dogmático, a prisão provisória no processo penal brasileiro. Em Roma para maior ilustração, Sznick (1995, p. 300), refere-se que naquela época a prisão só era usada para servos, raramente usada para homens livres, empregada só em caso de confissão; da mesma forma, na Idade Média, onde o Direito Canônico era de sistema inquisitório e usava a prisão como meio para obter a confissão, conseguida por meio de tortura. No século XVIII, Portugal adotou um misto de direito canônico e romano, fundindo os processos acusatório com o inquisitório que veio a vigorar no Brasil. Prisão, a palavra tem sua origem no latim “prehensio”, de “prehendere” (prender, segurar, agarrar) tanto significa o ato de prender ou o ato de agarrar uma coisa ou pessoa, assim prender ou agarrar são equivalentes à prisão, significando o estado de estar preso ou encarcerado (LEÃO, 2007). A prisão é uma exigência dolorosa, porém indispensável. Idealizada como uma das formas de apenamento, a prisão é relativamente contemporânea. Sua ascendência é apontada na penitência do direito eclesiástico, no final do século XVI, contudo,a moderna sistematização dessa espécie de medida repressiva, enquanto punição judiciária, data de fins do século XVIII e início do século passado, 13 com o Código Criminal de 1808 na França. A partir de então, passou a ser considerada a pena das sociedades civilizadas (LEÃO, 2007). Assim, Frederico Marques (1956, p. 125), vem reforçar que, nos tempos que antecedem o movimento humanista do século XVIII, a prisão era o instrumento de punição mais cruel e desumano possível, com tonalidades bárbaras e rudes dos castigos, impostos pelas legislações monarquistas absolutistas vigorantes na época. Sendo, assim, a prisão era utilizada tão somente como forma instrumentária de conservação do indiciado no distrito da culpa, a fim de assegurar a tramitação do processo e posterior aplicação das sanções definitivas, que, quase sempre, eram muito desumanas, como o açoite, o arrastamento, a morte, a empalação e outras. De modo que, na sua origem mais remota, a prisão tinha apenas um caráter provisório e instrumental (LEÃO, 2007). Diante disso, para melhor datar, a primeira prisão com o caráter dos dias de hoje o moderno, foi empregada como visto antes, no século XVI na Holanda, sendo chamada como pena privativa de liberdade, ou prisão, ou ainda pena carcerária (MARQUES, 1956). Encerrando esse breve histórico sobre a origem da prisão, passa-se ao conceito de prisão. 1.2 CONCEITO DE PRISÃO Apresenta-se o conceito de prisão, conforme a visão de alguns autores, como Mirabete (2006), Beccaria (2000) e outros. Segundo Mirabete (2006), a prisão, em significado jurídico, é a privação da liberdade de locomoção, ou seja, do direito de ir e vir, por motivo ilícito ou por ordem legal. Entretanto, o termo tem vários significados no direito pátrio, pois pode significar a pena privativa de liberdade, ato da captura e a custódia, sendo estes dois termos utilizados também como sinônimos de prisão. Beccaria (2000, p.61) vem dar o seu valoroso adendo a respeito do conceito de prisão: Concede-se, em geral, aos magistrados incumbidos de fazer as leis, um direito que contraria o fim da sociedade, que é a segurança pessoal; refiro-me ao direito de prender, de modo discricionário, os cidadãos, de vedar a liberdade ao inimigo sob pretexto frívolo e, 14 consequentemente, de deixar em liberdade os seus protegidos, apesar de todas as evidencias do delito. Para Capez (2005), o conceito de prisão: é tão-só a privação de liberdade de movimentação do indiciado, por ordem expressa da autoridade competente ou em caso de flagrante delito. Sznick (2005), vem fortalecer o conceito sobre a prisão, deixando claro que, a seu ver, toda a prisão se resolve em uma supressão da liberdade de alguém, mediante uma limitação da liberdade. Assim, não é simplesmente prender alguém; para que aconteça tal procedimento; deve-se assegurar, que o mesmo seja devido. A liberdade é fundamento constitucional para todos os cidadãos, como depreender do Artigo 5º, LXI da Constituição Federal, com os incisos subsequentes LXII, LXIII, LXIV e LV, que vêm formalizar a maneira pela qual deve formalizar a prisão: Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no pais a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade nos termos seguintes: [...] LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; LXII – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada; LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado; LXIV – o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial; LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária [...]. (BRASIL, 2014, p. 8). A Constituição Federal garante, em seu Artigo 5º, LXI, e descreve que o cidadão somente será tolhido de seu direito de ir e vir, em virtude de prisão em flagrante ou por ordem escrita de autoridade judicial. Além desses casos, somente se justifica a prisão administrativa, que pode vir a ser apreciada judicialmente, em caso de revelar-se à ilegalidade, ainda que pese a impossibilidade de exame de sua conveniência ou motivação, pois foge à esfera judicial a apreciação do mérito do ato administrativo. Assim, a prisão continua sendo uma necessidade social que encontra amparo no direito constitucional. Porém, quando tiver caráter antecipado, provisório, cautelar ou prévio, deve estar rigidamente enquadrado dentro da 15 previsão legal e obediente aos princípios constitucionais e jurídicos que norteiam o sistema jurídico brasileiro. Neste sentido, entende-se que a prisão se exprime em uma pena privativa de liberdade, onde um indivíduo que está sendo indiciado ou condenado por algo ilícito cometido, é recolhido ou encarcerado a um lugar destinado a este fim, para que cumpra uma pena imposta por determinação legal de um magistrado. 1.3 ESPÉCIES DE PRISÃO Também se faz distinção das espécies de prisões no direito brasileiro, explica Mirabete (2006), existem duas: prisão penal, que tem seu caráter penal e a prisão sem pena, que incide no processual penal, civil, administrativo e disciplinar. Portanto, pode-se concluir que a prisão penal tem uma finalidade de costume repressivo, ocorrendo após o trânsito em julgado da sentença condenatória, em que se impôs pena privativa de liberdade. Conforme a doutrina, a prisão-pena ou prisão penal: É aquela imposta em virtude de sentença condenatória transitada em julgado, ou seja, trata-se da privação da liberdade determinada com finalidade de executar a decisão judicial, após o devido processo legal, na qual se determinou o cumprimento de pena privativa de liberdade (CAPEZ, 2005, p. 228). Sendo a prisão sem pena ou processual, Capez (2005, p. 228), vislumbra a prisão de natureza meramente processual, atribuída com a escopo cautelar, designada a garantir o bom procedimento da investigação criminal, do processo penal ou da execução da pena ou, ainda, impedir que, solto, o sujeito continue praticando delitos. Depende do preenchimento dos pressupostos do periculum in mora e do fumus boni iuris. Com isso, não se pode deixar de salientar que, para que seja imposta uma prisão sem pena de sentido estritamente cautelar, deve-se ater à importância de dois requisitos essenciais na imposição desta pena, que são o periculum in mora e o fumus boni iuris, assim, sem estes, não há como ocorrer a prisão sem pena. De acordo com Bonfim (2012), na prisão cautelar devem existir os indícios suficientes de autoria ou participação (fumus comissi delicti) e a existência de risco social ou processual (periculum in libertatis). 16 De acordo com Bonfim (2012), existem 4 espécies: civil, administrativo, disciplinar e processual (provisória ou cautelar). A prisão civil, de caráter coercitivo e excepcional, só existe no ordenamento jurídico brasileiro em casos de depositário infiel e devedor de alimentos provenientes dos liames do direito de família, conforme determina o Art. 5º, LXVII, da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 2014). Todavia, ressalta Bonfim (2012) que é pacífico na doutrina a inadmissibilidade da prisão do depositário infiel, mesmo com sua previsão constitucional, conforme entendimento doSTF, Súmula 25 e do STJ, Súmula 419. A prisão administrativa, apesar de não estar estabelecida pela Constituição Federal de 1988, é cabível se for decretada por autoridade judiciária, para cumprimento de obrigação e não é prisão processual. A prisão disciplinar é de âmbito militar apenas. Conclui-se que a prisão sem pena tem a finalidade de manter o acusado antes de sua condenação, em um lugar fixo, para que se possa atingir e apurar o correto, não dando margem para que o indiciado mude a prova do crime que se quer apurar e nem que este venha a fugir da cidade, dificultando, assim, a aplicação de uma pena futura. 1.4 MANDADO DE PRISÃO Para que aconteça o ato da prisão, como se pode notar, é obrigatório que esta seja efetuada mediante uma ordem, que emana de um poder, ou melhor, de uma autoridade competente. Assim, quando a prisão é ordenada pela autoridade competente, deve-se no ato ser expedido o mandado de prisão, tendo seus requisitos constantes no artigo 285 do CPP; se no momento da prisão o indiciado se negar a prisão, poderá ser empregado o uso da força pelos agentes, porém, terá que ser lavrado no auto de prisão conforme diz o artigo 284 do Código de Processo Penal (NOGUEIRA, 1995). O Código de Processo Penal, em seu artigo 285, caput, parágrafo único e seguintes alíneas a, b, c e d, mostra os requisitos básicos do mandado de prisão, são eles: Art. 285 - A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o respectivo mandado. Parágrafo único. O mandando de prisão: será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade; designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu nome, alcunha ou sinais característicos; mencionará 17 a infração penal que motivar a prisão; declarará o valor da fiança arbitrada, quando afiançável a infração; será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe execução (BRASIL, 2014, p. 629). Assim, como especifica Mirabete (2006, p. 363): São nulos e inexequíveis os mandados expedidos por autoridade incompetente, não assinados pelo juiz (no caso não há verdadeiramente mandado), que não precisem a pessoa a ser capturada e que não contenham o fundamento da prisão. A desobediência a outros requisitos menores, como não conter a indicação a quem é dirigido, por exemplo, não prejudicara a execução. O mandado de prisão, no ponto de vista de Capez (2005, p. 228): “é o instrumento escrito que corporifica a ordem judicial de prisão”; sendo assim, o mandado é feito por escrito e tem de se ater aos seus requisitos que são de muita importância para a sua eficácia e validade. Salienta o ilustre doutrinador Nogueira (1995), que o mandado de prisão deve ser enviado ao oficial de justiça e este deverá cumpri-lo, com ajuda da polícia, para sua maior segurança, ou somente deixar que a polícia cumpra o mandado, já que tem melhores meios para fazê-lo. Não se pode deixar de lembrar, que não é permitida a prisão do cidadão eleitor na época das eleições, desde 5 dias antes até 48 horas depois da escolha dos candidatos, salvo em flagrante delito ou em virtude de sentença penal condenatória, não cabendo outro tipo de prisão. Deste modo, esclarece-se sobre os horários em que são permitidas as prisão em domicílio, dispõe a Constituição Federal, em seu Artigo 5º, XI, que dia: “A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela pode penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre ou para prestar socorro, ou durante o dia, por determinação judicial”. Ademais, Capez (2005, p. 231), diz ter duas distinções: a violação durante o dia e a violação durante a noite: a) no período da noite, somente se pode adentrar o domicílio alheio, em quatro presunções, que é com o consentimento do morador, flagrante delito, desastre ou para prestar socorro; b) durante o dia, existem cinco tipos hipótese que são as quatros presunções do período da noite, mais uma que é mediante a mandado judicial de prisão ou busca e apreensão, sendo assim ao anoitecer, não se realiza nenhuma diligências no domicílio. 18 A seguir, apresentam-se breves notas sobre as espécies de prisão, incluindo a prisão preventiva, que será vista em capítulo específico. 19 2 O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO O presente capítulo explana sobre o sistema penitenciário, enquanto trajetória histórica e legislação de aplicação cotidiana dos presídios, ressaltando a falência do sistema prisional. 2.1 CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA E LEGISLAÇÃO É notório o fato que há prejuízo no ato de institucionalizar sujeitos, não somente em presídios, mas em manicômios, asilos, albergues, abrigos dentre outros. A própria legislação brasileira destaca a questão da institucionalização, como último recurso de atendimento ao indivíduo, pois vínculos familiares devem ser preservados e garantidos. Destaca-se que: Os processos pelos quais o eu da pessoa é mortificado são relativamente padronizados nas instituições totais a análise desse processo pode nos auxiliar a ver as disposições que os estabelecimentos comuns devem garantir, a fim de que seus membros possam preservar seu eu civil (GOFFMAN, 1974, p. 24). Uma característica importante, que se pode identificar nos presos, é o conceito de “morte civil”, pois os mesmos podem enfrentar uma perda temporária de seus direitos, porém alguns serão permanentemente negados durante o cumprimento da pena (AVENA, 2011). Identifica-se a transformação física dos institucionalizados, que acabam emagrecendo ou ganhando peso. Alguns acabam descuidando-se de sua própria higiene (AVENA, 2011). Também há mudanças no vocabulário, pois o internado acaba criando uma linguagem própria para se comunicar como forma de se auto excluir das demais pessoas que estão no mesmo ambiente (AVENA, 2011). Dessa forma, gradativamente, ocorre a chamada institucionalização, fazendo com que o indivíduo se adapte à nova vida e, com isso, aprenda novos valores culturais, sendo que, em alguns casos, deixa de lado a “bagagem” que trouxe antes de entrar na instituição (AVENA, 2011). Este é um fator muito importante, pois é por meio dessas mudanças alguns não conseguem socializar-se ao cotidiano fora da instituição, pois a clausura acaba fazendo com que este não consiga mais viver sem aquela rotina de horários e convenções (BRITTO, 1926). 20 Acrescenta-se que esses processos são influenciados pela trajetória histórica do sistema penal, mediante a evolução do estabelecimento das penas. Destaca-se que a seguinte passagem: Nessa noite escura, em que transcorre a Idade Média, a autoridade não tem a força de que carece para impor-se aos povos, e a inteligência não tem bastantes luzes para compreender a necessidade de chamar a si o direito de castigar os culpados. Assim, porém, ela adquire essa força, arrebata ao indivíduo a faculdade de castigar para exercitá-la por si mesma. É quando alvorece o conceito de pena e do delito. O direito de punir fica em mãos dos reis e de seus instrumentos, como uma conservação da divindade delegada aos seus mandatários (BRITTO, 1926, p. 31). O início da reforma das instituições penais se deu com o movimento filosófico do século XVIII e o avanço das ciências determinou o conhecimento de certos fatores do crime, até então desconhecidos da humanidade. No Brasil, a estrutura da execução penal, bem como a administração da política penitenciária, definiram- se por algumas normas relativas das quais citam-se: O Livro de Provisões, de 13 de setembro de 1566, que tratou da investidura de Francisco Fernandes,como Alcaide e Carcereiro da Colônia; o Ato assinado pelo Capitão-Mor Estácio de Sá, —seus poderes eram amplos, a ponto do seu arbítrio constituir a lei—. O Aljube, —cárcere de foro eclesiástico, encostada ao Morro da Conceição no Rio de Janeiro e subterrânea de um lado, construído entre 1735 e 1740, pelo Bispo Dom Frei Antônio de Guadalupe—, que funcionou como estabelecimento prisional e passou à prisão comum em 1808; as Cartas Régias de 1745 (D. João V) e de 1769 (D. José I), que determinavam maior atenção às leis de aplicação de penas nos casos de desobediência às determinações régias e da construção de uma Casa de Detenção, em local onde hoje está o Conjunto Penal da Rua Frei Caneca no Rio de Janeiro, dentre outras mais (SUSEPE, 1998, p. 6). Em 1885, o Brasil ainda tentava implantar o sistema Auburniano, como refere Foucault (1994): o modelo de Auburn prescreve a cela individual durante a noite, o trabalho e as refeições em comum, mas sob a regra do silêncio absoluto, os detentos só podendo falar com os guardas, com a permissão destes e em voz baixa. Mas, era um sistema com mais de 50 anos, considerado como superado. O Código Penal de 1890, com o advento da República, demonstrou atraso nas ideias liberais da Constituição de 24 de fevereiro de 1891. As penas previstas neste Código eram: prisão celular, banimento, reclusão, prisão com trabalho obrigatório, prisão disciplinar, interdição, suspensão e perda de emprego público e multa. Abolia-se a pena de morte, a de galés e o banimento judicial. 21 A execução em estabelecimentos especiais, com isolamento em celas e trabalho obrigatório, indicava a aplicação do sistema progressivo Irlandês, “[...] centralizava-se na diminuição que a intensidade da pena experimenta como consequência da conduta e do comportamento do recluso”; o sentenciado, após o cumprimento da metade do tempo de pena, poderia ser transferido para alguma penitenciária agrícola e o bom comportamento remeteria ao livramento condicional. As penas deixam de ser aplicadas fisicamente nos corpos (açoite, suplícios, exposição pública, etc.) para ocorrerem sobre os corpos como penas “morais”, nas quais a prisão seria, ao fim do século XVIII, o lugar de disciplinização e correção do indivíduo. Velhas medidas com novas roupagens (SUSEPE, 1998, p. 6). Neste período, nas inspeções realizadas nos presídios evidenciavam-se as péssimas condições de higiene, bem como a problemática da superlotação e maus tratos, o que se referia à inexistência de definição de um sistema penitenciário, de uma política administrativa e de recuperação do preso (MORAES, 1923). O país não possuía condições de manter os presos em celas, colônias agrícolas e, consequentemente, a executar o livramento condicional, onde o próprio legislador reconhecia: Enquanto não entrar em execução o sistema penitenciário, a pena de prisão celular será cumprida como a de prisão com trabalho, nos estabelecimentos penitenciários existentes, segundo o regime atual; e nos lugares que os não houver, será convertida em prisão simples com aumento da sexta parte do tempo (MORAES, 1923, p. 51). A constituição não determinou a unificação dos regimes penitenciários, pelo fato de o Código Penal obrigatório para todo o país, não pode tolerar mais de um regime. O Código Penal de 1940 adotou o sistema progressivo, que consistia em medir a duração da pena por uma soma de trabalho e de boa conduta impostas aos condenados. As penas principais são de reclusão, detenção e multa. Adotou a substituição da severidade pela benignidade e os castigos pelos prêmios (SUSEPE, 1998). Ficou instituído o livramento condicional e os regimes progressivos, além de uma quarta etapa na execução da pena, que permite ao preso, antes do livramento condicional, trabalhar em lugares externos ao presídio, com vigilância discreta (SUSEPE, 1998). O código sofreu várias mudanças, entre as principais, a Lei nº 7.209, de 11 de julho de 1984, que reformou a Parte Geral (Reforma Penal de 1984). A Constituição da República, de 18 de setembro de 1946, no seu Art. 141 e seus 22 parágrafos, definia que a lei penal regulará a individualização da pena e só retroagirá quando em benefício do réu (SUSEPE, 1998). Nos seus parágrafos seguintes, expressava que nenhuma pena passaria da pessoa do delinquente; não haveria pena de morte, banimento, confisco nem caráter perpétuo, ficando ressalvada a pena de morte conforme disposto na legislação militar, em tempo de guerra com país estrangeiro (SUSEPE, 1998). Destaca-se o quanto a legislação penal está defasada, pois ao se analisar a reforma do ano de 1946 até os dias contemporâneos, muitas coisas já mudaram em termos de legislações, bem como o perfil das pessoas apenadas, assim como os órgãos que trabalham nesta área, também sofreram grandes transformações (SUSEPE, 1998). Em relação à legislação, observa-se que está bem ordenada e legitimada enquanto formalidade, porém quanto à sua aplicabilidade, ainda há um longo caminho a ser percorrido para ampliação de qualidade nos serviços penitenciários e, no geral, da Segurança Pública. Tornam-se relevantes breves considerações sobre leis que estão relacionadas a este tema e sua aplicação dentro da realidade social em questão (AVENA, 2011). A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela Resolução 217 da Assembleia Geral das Nações Unidas determina que: Com o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios estados, membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição (DECLARAÇÃO, 1948, p. 1). Para Avena (2011), ao se analisar a realidade atual dos presídios, nota-se uma nítida desarticulação e descumprimento desta instituição, em termos de direitos humanos. Isso se estende não somente ao apenado, mas também ao trabalhador prisional, pois ambos necessitam ser respeitados em seus direitos. Não se percebe a promoção do respeito ao direito, mas sim “negociações” de favores. Neste caso, fica evidente que a própria legislação não tem legitimidade, apesar de exposta em documentos, porém sem aplicabilidade na realidade social em que se insere (AVENA, 2011). 23 A Lei de execuções penais (Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984), em seu Artigo 1°, traz como objetivo, a efetivação das disposições das sentenças ou decisões criminais com condições harmônicas para integração social do condenado e do internado. Sendo assim, para que o sujeito possa cumprir sua pena de forma legal, a LEP deve ser levada em consideração, enquanto garantia de direito (BRASIL, 2014). A Lei de Execuções Penais, em seu Artigo 8°, declara que ao condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas a individualização da execução (BRASIL, 2014). Neste caso, o parágrafo único ainda salienta que, o condenado poderá obter o direito a pena privativa de liberdade em regime semiaberto. Quanto aos dados sobre o sistema penal Brasileiro destaca-se que, em janeiro de 2013, a população carcerária no Brasil é de 501.237 pessoas, para uma capacidade projetada de 341.456 pessoas e 2.904 estabelecimentos prisionais e 523 penitenciárias, um déficit de 159.781 vagas (BRASIL,2013), o que revela a superlotação e como consequência, a falta de condições de abrigar toda essa população. Tabela 1:Números do sistema prisional brasileiro, 2013. Capacidade Projetada 341.456 Déficit de Vagas 159.781 Presos 501.237 Presos Masculinos 469.690 Presos Femininos 31.547 Presos Provisórios 192.767 Presos Civis 1.285 Presos em Delegacias 2.685 Estabelecimentos 2.904 Penitenciárias 523 Colônias agrícolas, industriais ou similares 37 Casas de Albergado 67 Cadeias Públicas, Casas de Detenção ou similares 1.818 Hospitais de Custódia e tratamento psiquiátrico 29 Delegacias 255 Outras informações Unidades Materno Infantil 54 Bibliotecas 663 Presas gestantes 438 Presos em trabalho externo 144 Presos em trabalho interno 373 24 Presos estudando 279 Fugas 10 Fonte: Conselho Nacional de Justiça, Sistema Geopresídios, 2013. O número de vagas disponível no sistema penitenciário Brasileiro para o regime fechado é de 341.456. Estão sendo ocupadas, neste mesmo regime, 469.690 vagas masculinas e 31.547 vagas femininas, sendo o total de vagas ocupadas de 501.237. Esses dados mostram a realidade do atual sistema prisional Brasileiro com uma superlotação evidente e crescente (BRASIL, 2013). A macrocomunidade nos presídios é de conhecimento do poder público, no entanto, cada vez mais a população carcerária cresce e poucos presídios são construídos para atender à demanda das condenações (ARRUDA, 2013). A superpopulação nos presídios representa uma verdadeira afronta aos direitos fundamentais. Nesse aspecto, basta citar o art. 5º, XLIX, da Carta Magna (a qual assegura aos presos o respeito à integridade física e moral), bem como lembrar que a dignidade da pessoa humana é um dos princípios basilares da Constituição (ARRUDA, 2013). A própria Lei de Execução Penal (LEP), no seu art. 88, estabelece que o cumprimento da pena se dê em cela individual, com área mínima de seis metros quadrados. Ademais, o art. 85 da LEP prevê que deve haver compatibilidade entre a estrutura física do presídio e a sua capacidade de lotação (ARRRUDA, 2013). A superlotação tem como efeito imediato a violação a normas e princípios constitucionais, trazendo como consequência para aquele que foi submetido a uma pena privativa de liberdade uma "sobrepena", uma vez que a convivência no presídio trará uma aflição maior do que a própria sanção imposta, impedindo que possa existir qualquer tipo de ressocialização e atendimento à população carcerária, o que faz surgir forte tensão, violência e constantes rebeliões. (AVENA, 2011). A crise que se apresenta hoje no sistema penitenciário tem sua origem em diversos fatores que vão além da falta de ressocialização dos criminosos, uma vez que a situação social do país apresenta-se de maneira precária, posto que a maior parte da população sofre pela falta de recursos econômicos e de assistência por parte do Estado (MOURA, 2009). Esta peculiaridade traz como consequência uma diminuição das condições materiais dos indivíduos, levando-lhes à miserabilidade e, por vias transversas, ao 25 cometimento de crimes, embora isto não seja uma regra, e sim uma constatação a partir da realidade dos encarcerados (MOURA, 2009). Vasconcelos et al. (2011) afirmam que os condenados não possuem assistência no fornecimento de alimentação de qualidade, as instalações além de insuficientes são pouco arejadas, sem uma estrutura que permita ventilação e iluminação, com dependências sanitárias deterioradas. As condições de higiene não só das celas, ainda conforme Vasconcelos et al. (2011), mas em todos os demais espaços só demonstram o abandono dos apenados que também não tem assistência médica, que fora o tratamento das patologias, possui um aspecto preventivo de grande importância. Este descaso também se repete em vários outros campos, como no da educação e nas práticas de incentivo para a reintegração à vida em liberdade, como nas oficinas que ensinem novos ofícios e nos trabalhos alternativos suficientes para todos (VASCONCELOS et al., 2011). Na questão do apoio jurídico, a maioria não tem recursos financeiros e veem na esfera pública a única esperança de ajuda, deparando-se com a falta de defensores públicos e com a falta de preocupação destes para com seus casos (VASCONCELOS et al., 2011). Quando o apenado tem apoio familiar, onde seus entes fazem visitas regulares, não há tanta necessidade de se fazer contato com a rede para a obtenção de roupas e material de higiene, porém quando o mesmo vem de família desprovida destes recursos, cabe ao Estado proporcionar isto ao mesmo e, dessa forma, o Assistente Social entra em contato com a rede, para sua obtenção (MOURA, 2009). O fato de a família proporcionar atendimento ao apenado, não reduz as responsabilidades do Estado, pois o atendimento penitenciário deve ser destinado a todos os reclusos. Entretanto, há que se referendar a importância da família (MOURA, 2009). Destaca-se a importância da família, visto ser o centro de todo o estabelecimento de relações sociais dos sujeitos. É a primeira sociedade em que o indivíduo participa e seu ponto de apoio (AVENA, 2011). A família deve ser importante na recuperação dos apenados, uma vez que são pessoas com as quais já existe um elo. A família pode contribuir na inserção do 26 apenado ao convívio da sociedade novamente, desde que preparada para esse fim (AVENA, 2011). Há necessidade que a família acredite apoiar e, principalmente, exerça afeto pelo apenado. O apenado precisa sentir-se seguro, perto das pessoas que lhe deem apoio e acreditam no seu potencial de mudança, para depois caminhar para outros grupos (VASCONCELOS et al., 2011). Por isso, a importância da família, tanto no momento no qual o sujeito está sob encarceramento quanto quando em seu retorno à sociedade. Infelizmente, muitas famílias não possuem uma estrutura sólida de laços para dar o apoio necessário a esse sujeito. Nesse caso, há necessidade de profissionais da área social que estabeleçam o suporte para família e apenado (VASCONCELOS et al., 2011). Destaca-se ainda, o Artigo 84, o qual indica que o preso provisório ficará separado do condenado por sentença transitada em julgado. Nesse caso, o preso primário cumprirá pena em seção distinta daquela reservada para os reincidentes e o preso que, ao tempo do fato, era funcionário da administração da justiça criminal ficará em dependência separada (BRASIL, 2014). Nesse sentido, observa-se que essa questão torna-se inatingível, uma vez que todos os presídios estão superlotados, não há possibilidade de separá-los de acordo com sua pena, também a maioria dos presídios não possui celas especiais e todo o espaço que há vago é preenchido por apenados, não importando se ele é reincidente, provisório ou se já tem condenação. O que se pode ver aqui é uma grande contradição da lei com a realidade (VASCONCELOS et al., 2011). Há necessidade que o Estado priorize o entendimento de que o sistema de segurança pública está para além do espaço interno dos presídios, buscando a ressocialização dos apenados com qualidade. Mais que espaço físico adequado, há necessidade de busca de cidadania e participação do preso em processos que permeiam sua pena e vivência no sistema (VASCONCELOS et al., 2011). Pontuam-se alguns dados do Estado de Mato Grosso do Sul, a partir dos quais se pode ver o perfil do preso no geral. Encontram-se no sistema prisional aproximadamente 11.833 apenados, sendo 1.116 mulheres e 10.717 homens; embora o percentual significativo seja o de homens, é notório o aumento do número de mulheres presas (BRASIL, 2013). 27A questão da falta de acesso à educação é preocupante, pois pode contribuir com a redução da inserção no mercado de trabalho, podendo resultar em iniciação à criminalidade para suprimento de necessidades. A reincidência no sistema carcerário é um ponto que deve ser considerado como de grande importância, visto indicar que o processo de ressocialização não está sendo plenamente efetivado, quando então o Estado deveria colocar em ação novas práticas, para que não haja mais reincidência. Ressalta-se que, o termo reincidência tem significado de tornar a incidir, recair ou, ainda, repetir determinado ato juridicamente (VASCONCELOS et al., 2011). A reincidência é a situação daquele que pratica um fato punível quando definitivamente condenado por crime anterior; isto é, aquele que volta a delinquir, após ter sofrido uma condenação anterior (VASCONCELOS et al., 2011). O atendimento às necessidades dos apenados precisa ser garantido por meio da atuação de profissionais habilitados, com conhecimento no campo das políticas públicas de atendimento, que precisam ser acessadas por todos os cidadãos (VASCONCELOS et al., 2011). Dentro do sistema penitenciário brasileiro, a Lei de Execuções Penais (LEP, nº 7.210 de 11/07/84), em seu Artigo 10, dispõe sobre a assistência ao preso e ao internado, como dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade, estendendo-se esta ao egresso (BRASIL, 1984). A assistência será: material; à saúde; jurídica; educacional; religiosa e social. A assistência material compreende alimentação, vestuário e instalações higiênicas, porém isso não é plenamente satisfeito. A saúde pública no sistema prisional é inexistente. O Censo Penitenciário Nacional, realizado em 1994, indicou que 1/3 da população carcerária é portadora do vírus HIV. Isto se deve às instalações precárias, grande circulação e migração de pessoas, insalubridade, falta de atendimento médico, além das práticas de risco existentes nos presídios brasileiros - por exemplo, o uso de drogas e as relações sexuais sem a devida prevenção (VASCONCELOS et al., 2011). Conforme Arruda (2013), a situação da saúde pública nos presídios é tão degradante que na maioria das vezes o preso tem que sair da unidade prisional para receber o tratamento médico adequado. Os ambulatórios que sobrevivem à má administração não possuem as mínimas condições para a devida assistência médica. 28 Dessa forma, os presídios são um importante meio de transmissão da tuberculose e de desenvolvimento de formas resistentes da bactéria causadora da moléstia. Impende salientar que as doenças não ficam restritas aos muros dos presídios, pois muitas são levadas para a sociedade pelos servidores penitenciários, bem como pelos parentes dos presos, e com as visitas íntimas a sua propagação só faz aumentar (ARRUDA, 2013). A superlotação das celas, afirma Assis (2007), sua precariedade e insalubridade tornam as prisões um ambiente propício à proliferação de epidemias e ao contágio de doenças. Todos esses fatores estruturais, como também a má- alimentação dos presos, seu sedentarismo, o uso de drogas, a falta de higiene e toda a lugubridade da prisão fazem com que o preso que ali adentrou numa condição sadia de lá não saia sem ser acometido de uma doença ou com sua resistência física e saúde fragilizadas. Essa realidade é presente em todo o país. Integrantes da Comissão de Direitos Humanos da subseção do Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) visitaram, no dia 23/03/2012, o mini presídio Hildebrando de Souza, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, e encontraram presos recém-operados e com feridas à mostra. A comissão visitou a unidade depois de denúncias de superlotação e más condições no local. O prédio foi parcialmente interditado em maio de 2011, mas no final desse mesmo ano, o governo do estado recorreu à decisão. Em abril de 2012, o Tribunal de Justiça manteve a interdição parcial. A cadeia tem 513 presos onde cabem apenas 172. Com a interdição, o limite tolerável é de 300 presos (GAZETA DO POVO, 2013). Dessa forma, observa-se que a realidade prisional brasileira está muito longe de recuperar um preso, que sobrevive nessas prisões em condições sub-humanas. A seguir, apresentam-se as prisões cautelares. 3 PRISÕES CAUTELARES Neste capítulo apresentam-se as prisões cautelares, posto que para dar ênfase ao tema prisão preventiva, não se pode deixar passar vago o entendimento sobre o que é uma prisão cautelar, quais outras prisões cautelares existentes, além da prisão preventiva, que é uma prisão cautelar e o principal propósito em tela. 3.1 HISTÓRIA DAS PRISÕES CAUTELARES Faz-se nesse tópico um leve comentário sobre cada uma das espécies de prisão cautelar, sem aprofundar, somente como meio de entendimento amplo sobre o assunto. Conforme Nogueira Júnior: [...] na origem, a prisão cautelar é anterior à existência da prisão como pena, a qual só veio configurar na história muito depois que a humanidade já conhecia a privação da liberdade. Assim, antes da prisão passar a ser estritamente cumprimento de pena, ela se destinava a reter o condenado até a efetiva execução de sua punição, a qual era sempre corporal ou infamante. No direito romano, a custódia dos acusados se fazia pelo acorrentamento ou pela segregação, podendo estas ocorrer em estabelecimentos estatais ou em casas particulares, destinando-se a assegurar a presença do réu no processo. Posteriormente, a punição ganhou uma conotação de vingança e de castigo espiritual, acreditando- se que, através dela, poderia se reduzir a ira divina e regenerar ou purificar a alma do delinquente, cometendo-se todas as atrocidades e violência em nome de Deus (2007, p.1). Em seguida, o mesmo autor descreve que, no direito eclesiástico, penitência é o melhor tipo de se punir alguém; desse modo, segundo já falado, a custódia do incriminado precede, até mesmo a pena privativa de liberdade. Com isso, foram então feitas prisões chamadas penitenciárias, onde os indiciados cumpririam penitência e esperariam o período até o momento de serem levados para a fogueira, surgindo, a partir deste momento, denominação de penitenciária, usada como lugar onde fica o acusado ou condenado (NOGUEIRA JÚNIOR, 2007). Seguindo a evolução histórica, passa-se para a Idade Média, onde Igreja tinha o poder de punir, diz Nogueira Júnior: Com a criação do Santo Ofício da Inquisição, a prisão cautelar adquire maior importância, na medida em que o processo inquisitório baseava-se na confissão como a “rainha das provas”, sendo imprescindível a tortura e a consequente restrição da liberdade. Mesmo cometendo todas as atrocidades já ressaltadas, os Tribunais Inquisitórios instituíram um processo sumário para proferir o julgamento, ou seja, nasce o processo 30 penal moderno, embora não fossem respeitados entre outros princípios, o contraditório e a ampla defesa. (2007, p.1). Já no Estado Moderno, certifica Nogueira (2007, p.1): “a prisão cautelar, baseada no princípio do devido processo legal começa a adquirir seus contornos atuais”, assim surgindo na Holanda, em 1595, com a construção de um presídio masculino e depois um feminino, para execução da pena privativa de liberdade, porém existindo ainda prisão cautelar, como ferramenta para a consumação do processo. Adentra-se na história da prisão cautelar no Brasil, onde a legislação pátria é inspirada por estatutos jurídicos de outros países, buscando ajustar as normas internas de Direito as evoluções mundiais. Diante disto, cita-se Nogueira Júnior que fala sobre o Brasil: Durante a colonização, o Brasil submeteu-se,inicialmente, às legislações oriundas de Portugal, denominadas Ordenações Afonsinas, seguindo-se as Manuelinas (1514) e por fim, as Filipinas (1603). Nesse período a prisão era tida somente como medida cautelar e não como sanção autônoma, exacerbando-se as sanções corporais e infamantes, notadamente a pena de morte (2007, p.1). Assim, em 1822, com a proclamação da Independência, as Ordenações Filipinas ficaram sem efeitos e alguns juristas brasileiros começaram a aditar à legislação os princípios da igualdade de todos os homens perante a lei, personificação da pena e utilidade pública da lei penal; porém, a prisão cautelar é tradição jurídica, assim a legislação da era republicana e o Código de Processo do Império autorizavam a prisão do indiciado sem culpa formada, do mesmo modo como o da prática de delitos sem fiança. Com isso, finaliza-se a história do surgimento da prisão cautelar, lembrando que, atualmente, é encontrada a figura da prisão cautelar em quase todo o estado de direito, sendo utilizada sempre, conforme os limites legais, para que não ofenda as garantias individuais dos cidadãos. 3.2 PRISÃO CAUTELAR Nesse tópico apresenta-se a prisão cautelar, na opinião de vários autores. Conforme as palavras do ilustre jurista Rangel (2005, p .603): “prisão cautelar é uma espécie de medida cautelar, ou seja, é aquela que recai sobre o indivíduo, privando-o de sua liberdade de locomoção, mesmo sem sentença 31 definitiva”; sendo assim, esta é uma contenção da liberdade do indivíduo antes do trânsito em julgado. Na prisão cautelar, para que possa ser decretada tem de ocorrer dois requisitos indispensáveis, que é o fumus boni iuris, traduzindo, é a fumaça do bom direito, que significa a possibilidade jurídica do pedido, de onde foi tirado o dito popular “onde há fumaça há fogo” e o periculum in mora, que é a possibilidade de resultar perigo de dano ou de lesão, baseado em um temor que se o indiciado não for recolhido ele pode mudar provas ou entre outras coisas do fato ocorrido (SZNICK, 2005). Sendo assim, a prisão cautelar tem como finalidade proteger o processo principal, que é o processo de conhecimento, sendo esta uma medida de urgência e necessidade, para que possa ser feito um juízo final sem nenhuma complicação e ao final dar uma aplicação penal justa. Contudo, em sua doutrina, Rangel (2005, p. 605) enumera as características mais importantes das medidas cautelares: a) Jurisdicionalidade: as medidas cautelares estão submetidas, em primeiro lugar, à análise judicial de sua adoção, por se tratarem de medidas de restrição a direitos consagrados na Constituição da República e nas Convenções Internacionais, só podendo ser adotadas por decisão judicial fundamentada da autoridade competente. Excepcionalmente, determinadas medidas podem ser adotadas, em um primeiro momento, por órgãos ou pessoas que não a judiciária, tais como a prisão em flagrante ou a busca e apreensão em domicílio do indiciado, com seu consentimento, mas deverão ser submetidas, a posteriori, ao crivo do judiciário, para análise da sua legalidade. Até porque tais medidas, em tese, poderão admitir uma imputação penal e, desde já, antecipam-se os efeitos de eventual sanção que será aplicada. Não é outra a razão pela qual, uma vez preso durante o curso do processo, o tempo de prisão temporária será computada na pena a ser imposta, através da detração penal (art. 42 do CP). Sendra, Catena e Domínguez (apud RANGEL, 2005, p. 605) acrescentam que: A jurisdicionalidade é a necessidade de que a restrição dos direitos e bens assegurado na Constituição e nas Convenções Internacionais somente pode ser feita por decisão judicial, fim de evitar excessos ou abuso de poder . Rangel (2005, p. 605) continua afirmando: b) Acessoriedade, ou seja, a medida cautelar segue a sorte da medida principal, dela sendo dependente, pois, na medida em que há o resultado 32 do processo principal, a medida cautelar perde sua eficácia. Portanto, há uma vinculação da medida cautelar ao resultado da medida principal, quando esta for dada àquela, deixará de existir. Assim, a medida cautelar é acessória, vinculada à principal. Se houver qualquer resultado na medida principal, essa medida acessória deixa de existir. c) Instrumentalidade hipotética, dá-se porque a medida cautelar serve de instrumento, de modo e de meio para se atingir a medida principal. É como se o direito material discutido no processo de conhecimento fosse provável ao autor e o instrumento para se atingir esse possível direito fosse exatamente a medida cautelar. Por isto dizemos que a medida cautelar serve, hipoteticamente, de instrumento para se atingir a medida principal (RANGEL, 2005, p. 605). Destarte, a medida cautelar é o instrumento incerto para se conseguir a medida principal; incerto porque ainda não se tem a certeza de que a medida principal irá se efetivar. d) Provisoriedade, ou seja, a medida cautelar dura enquanto não for proferida a medida principal e enquanto os requisitos que a autorizam estiverem presentes. A medida cautelar tem duração limitada àquele período de tempo que deverá transcorrer entre a instauração do procedimento cautelar e a promulgação do procedimento definitivo. Frederico marques professa: os efeitos da medida cautelar persistem enquanto não emana do judiciário a providência jurisdicional que ela procura garantir e tutelar (RANGEL, 2005, p. 605). Destarte, a medida cautelar é temporária, ou seja, dura apenas para garantir uma determinada situação enquanto não for proferida a decisão principal. Sendra, Catena e Domínguez (apud RANGEL, 2005, p. 607) adicionam que: e) Homogeneidade: A medida cautelar a ser adotada deve ser proporcional a eventual resultado favorável ao pedido do autor, não sendo admissível que a restrição à liberdade, durante o curso do processo, seja mais severa que a sanção que será aplicada, caso o pedido seja julgado procedente. A homogeneidade da medida é exatamente a proporcionalidade que deve existir entre o que está sendo dado e o que será concedido. Exemplo: admite-se prisão preventiva em um crime de furto simples? A resposta é negativa. Tal crime, primeiro, permite a suspensão condicional do processo. A medida cautelar deve ter conformidade com o resultado obtido, não podendo ser mais severo que a pena aplicada, para que não se perca a racionalidade. Segundo, se houver condenação, não haverá pena privativa de liberdade face à possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade, pela pena restritiva de direitos. Nesse caso, não haveria homogeneidade entre a prisão preventiva a ser decretada e eventual condenação a ser proferida. O mal causado durante o curso do processo é bem maior do que aquele 33 que, possivelmente, poderia ser infligido ao acusado, quando de seu término. Entendemos, em uma visão sistemática do sistema penal como um todo, que, nos crimes de médio potencial ofensivo, ou seja, aqueles que admitiam a suspensão condicional do processo (cf. art.89 da lei nº 9.009/95) (RANGEL, 2005, p. 605). Dessa forma, se o acusado tiver passado pela privação de liberdade antes de o processo terminar, havendo condenação, o mesmo não poderá ser privado de liberdade, com tempo equivalente ao que cumpriu. Não mais se admite a prisão cautelar, seja a manutenção da prisão em flagrante ou a decretação de prisão preventiva. Não podemos confundir prisão em flagrante no crime de furto simples (ou agora até o qualificado, diante do novo entendimento da suspensão condicional do processo em crimes com pena com pena simples de até 2 anos), por exemplo, com sua manutenção até o final do processo. Preso em flagrante delito, deve ser concedida a liberdadeprovisória por ausência de homogeneidade. O mesmo deve ocorrer nos crimes que, em tese, admitem a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direito. Assim, estaremos operando com uma visão sistemática das medidas cautelares (RANGEL, 2005, p. 605). Não se pode deixar de citar que o tempo é fundamental, pois este tem um papel importantíssimo na medida cautelar, quer seja na concessão ou na revogação, sendo imposta devido à morosidade do processo normal, demora não pode ocasionar lesão, deixando, no real, a ineficácia da decisão final. Sendo assim, o intento da prisão cautelar é tão somente para que possa garantir uma prestação jurisdicional de execução ou de conhecimento. 3.3 ESPÉCIES DE PRISÃO PROCESSUAL CAUTELAR São cinco espécies de prisão cautelar; são elas: a Prisão em Flagrante, Prisão temporária, Prisão preventiva, que é o tema da referida monografia, que será aprofundada nos próximos capítulos, prisão em Decorrência de Pronúncia e Prisão em Decorrência de Sentença Condenatória Recorrível. 3.3.1 Prisão em Flagrante Nesse item apresenta-se a prisão em flagrante, conforme alguns autores. A palavra flagrante é derivada do latim “flagrans” que significa arder abrasador; é empregada, figuradamente, para significar o que é claro, o evidente, o aparente, ou para designar tudo o que se dá à ação, ou seja o crime está acontecendo ou acabou de acontecer (CAPEZ, 2005). 34 O código de processo penal, em seu artigo 301, diz: “Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito”, assim, qualquer indivíduo seja ela civil ou militar, poderá prender quem esteja cometendo um crime, sendo que este último tem a obrigação, já o cidadão tem a faculdade de decidir se comunica a autoridade ou efetua a detenção. Como sequência, o artigo 302 e seus incisos do código de processo penal, que versa sobre o flagrante delito, diz: Art. 302 - Considera-se em flagrante delito quem: I - está cometendo a infração penal; II - acaba de cometê-la; III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor da infração; IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração. (BRASIL, 2014, p. 631). O Código de Processo Penal que versa sobre o flagrante delito diz: “Art. 303 - Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito, enquanto não cessar a permanência”, assim entende que, até o momento em que se prende, o acusado continua sendo flagrante delito (BRASIL, 2014). Em série, o artigo 304 e seus incisos do código de processo penal que versa sobre o flagrante delito diz: Art. 304 Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando, a autoridade, afinal, o auto. § 1º - Resultando das respostas, fundada a suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos do inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja. § 2º - A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a apresentação do preso à autoridade. § 3º Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença deste (BRASIL, 2014, p. 631). O Código de Processo Penal que versa sobre o flagrante delito diz: “Art. 305 - Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer pessoa designada pela 35 autoridade lavrará o auto, depois de prestado o compromisso legal”, podendo assim, qualquer cidadão, porém deve ser indicada pela autoridade legal (BRASIL, 2014, p. 631). Sobre a prisão do indiciado, o código diz: Art. 306 - A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou a pessoa por ele indicada. § 1º Dentro em 24h (vinte e quatro horas) depois da prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante acompanhado de todas as oitivas colhidas e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública. § 2º No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e o das testemunhas (BRASIL, 2014, p. 631). Assim como, se o fato for cometido na vista da autoridade ou contra essa no exercício de suas funções, terá nos autos sobre fato ocorrido, a narração da voz de prisão, as declarações do preso e os depoimentos das testemunhas, sendo depois assinado por estas e remetido prontamente ao juiz a quem couber tomar ciência do fato criminoso assim diz o artigo 307 do CPP (BRASIL, 2014). Sendo assim, é indispensável à citação desses três artigos do Código de Processo penal a seguir, que diz a respeito do lugar, da prisão e do Ministério Público: Art. 308 - Não havendo autoridade no lugar em que se tiver efetuado a prisão, o preso será logo apresentado à do lugar mais próximo. Art. 309 - Se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade, depois de lavrado o auto de prisão em flagrante. Art. 310 - Quando o juiz verificar pelo auto de prisão em flagrante que o agente praticou o fato, nas condições do Art. 23, do Código Penal - reforma penal 1984, poderá, depois de ouvir o Ministério Público, conceder ao réu liberdade provisória, mediante termo de comparecimento a todos os atos do processo, sob pena de revogação. (BRASIL, 2014, p. 632). Assim, descreve o flagrante delito para o entendimento de natureza jurídica, como sendo o tempo em que o crime for cometido, na hora em que se presencia o fato, sendo visto por todos ali presentes, como sendo o crime no momento consumado ou somente tentado. (RANGEL, 2005). 3.3.2 Prisão Temporária A Prisão Temporária foi criada por meio de uma Medida Provisória que é a de nº 111, de 24 de novembro de 1989, sendo também uma espécie de prisão cautelar, sendo depois substituída pela Lei nº 7960, de 21 de dezembro de 1989. 36 Assim, a Lei nº 7960/89 traz qual o momento da sua decretação, para que assim se possa entender melhor: Art. 1° Caberá prisão temporária: I - quando imprescindível para as investigações do inquérito policial; II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade; III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do indiciado nos seguintes crimes: a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°); b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° e 2°); c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°); e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único); g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combinação com o art. 223, caput, e parágrafo único); h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 caput, e parágrafo único); i) epidemia com resultadode morte (art. 267, § 1°); j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado com art. 285); l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal; m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outubro de 1956), em qualquer de suas formas típicas; n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro de 1976); o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de junho de 1986) (BRASIL, 2014, p. 1462) Mirabete (2006, p. 397) conceitua a prisão temporária: “Não se trata porém de medida exclusiva da legislação brasileira, pois adotam em outros países: Portugal, Espanha, França, Itália, Estados Unidos e etc.”, assim, nota-se que a prisão temporária, se tratando-se de uma medida acautelatória, somente pode ser decretada pela autoridade judiciária, conforme impõe a Constituição, tendo um tempo determinado: cinco dias, prorrogável por mais cinco, se necessário, com ressalva para crimes hediondos, em que o tempo e maior. A Lei nº 7960/89 traz qual, no período da sua prisão, o prazo para averiguação, Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face da representação da autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável por igual período, em caso de extrema e comprovada necessidade. § 1° Na hipótese de representação da autoridade policial, o Juiz, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público. § 2° O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24 (vinte e quatro) horas, contadas a partir do recebimento da representação ou do requerimento. 37 § 3° O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público e do Advogado, determinar que o preso lhe seja apresentado, solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial e submetê-lo a exame de corpo de delito. § 4° Decretada a prisão temporária, expedir-se-á mandado de prisão, em duas vias, uma das quais será entregue ao indiciado e servirá como nota de culpa. § 5° A prisão somente poderá ser executada depois da expedição de mandado judicial. § 6° Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso dos direitos previstos no art. 5° da Constituição Federal. § 7° Decorrido o prazo de cinco dias de detenção, o preso deverá ser posto imediatamente em liberdade, salvo se já tiver sido decretada sua prisão preventiva (BRASIL, 2014, p. 1462). Assim, a prisão temporária pode ser decretada, como conceitua Capez (2005, p. 248) naqueles crimes onde a lei permite a custódia, porém isso confrontaria o princípio da inocência e se prenderia uma pessoa por mera suspeita, por isso a prisão temporária, para se decretada, tem de ser apontada por um dos crimes constantes de enumeração legal e ter pelos menos um dos dois requisitos evidenciadores do periculum in mora. 3.3.3 Prisão Preventiva Este presente tópico trata do referido tema da monografia, que será aqui somente citado o conceito e os artigos em lei, pois, nos próximos capítulos, será aprofundado, com o objetivo de sanar todos os pontos importantes sobre este. Assim sendo, Tourinho Filho (2006, p.397) conceitua a prisão preventiva: “prisão cautelar de natureza processual”, sendo um estilo que antecipa sempre uma condenação definitiva. Os artigos 311 a 313 do Código de Processo Penal, importante neste momento, apenas para ilustrar um leve conceito sobre prisão preventiva: Art. 311 - Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução criminal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, ou do querelante, ou mediante representação da autoridade policial. Art. 312 - A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. Art. 313 - Em qualquer das circunstâncias, previstas no artigo anterior, será admitida a decretação da prisão preventiva nos crimes dolosos: I - punidos com reclusão; II - punidos com detenção, quando se apurar que o indiciado é vadio ou, havendo dúvida sobre a sua identidade, não fornecer ou não indicar elementos para esclarecê-la; 38 III - se o réu tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no Art. 64, I do Código Penal - reforma penal 1984. IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência. (BRASIL, 2014, p. 632). Com isso, a prisão preventiva, sendo uma medida cautelar, para que seja imposta, tem de conter alguns requisitos fundamentos, entre outros que serão tratados no último capítulo. 3.3.4 Prisão em Decorrência da Pronúncia A prisão por pronúncia faz parte das prisões cautelares, que são decretadas antes de uma sentença definitiva, tem como finalidade acautelatória, para que se tenha uma justa decisão, sem que ocorram contratempos no curso da ação. Conforme o artigo 408, § 1º e 2º do código processo penal versa: Art. 408. Não apresentada a resposta no prazo legal, o juiz nomeará defensor para oferecê-la em até 10 (dez) dias, concedendo-lhe vista dos autos. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008) (BRASIL, 2014, p. 642). Conforme as palavras de Rangel (2005, p. 661): Porém, não podemos estudar a prisão em decorrência de pronúncia de uma forma isolada, sem analisarmos os requisitos da prisão preventiva. Há que se fazer uma interpretação das duas modalidades de prisão, sempre olhando a prisão em decorrência da pronúncia à luz da prisão preventiva. A prisão preventiva passa a ser, assim, o centro de toda e qualquer prisão cautelar. Ou seja, havendo a presença dos requisitos que autorizam a prisão preventiva, o juiz, ao pronunciar o réu, mesmo sendo este primário ou de bons antecedentes, deverá decretar-lhe a prisão preventiva no corpo da pronúncia. O réu passa a ficar preso não em decorrência da pronuncia, mais, sim, preventivamente. Deste modo, para melhor entendimento, a prisão por pronuncia só tem nos processos do tribunal do júri, onde este se divide em duas fases, uma que é da denúncia até a pronúncia, e outra, do libelo, até o julgamento, sendo que a medida cautelar é proferida na primeira fase. 4 PRISÃO PREVENTIVA Neste capítulo trata-se enfim, do referido tema em destaque desta monografia, que é a prisão preventiva; tenta-se aqui esgotar todos os requisitos referentes a esta matéria, como o objetivo de sanar todas as dúvidas quanto aos pressupostos, cabimentos, requisitos entre outros. 4.1 CONCEITO DE PRISÃO PREVENTIVA Conforme abordado no item 2.4.3 deste trabalho, não se pode deixar de citar novamente alguns conceitos de prisão preventiva, para que, assim, possamos dar o devido prosseguimento e entendimento destes. Tourinho Filho (2006, p.397) conceitua a prisão preventiva: “prisão cautelar de natureza processual”, sendo um estilo que antecipa sempre uma condenação definitiva. Pode-se dizer que a prisão preventiva pode ser apresentada de dois tipos: em sentido lato sensu ou amplo, que é a custódia antes do trânsito em julgado da sentença, englobando todas as prisões cautelares, e a prisão preventiva em sentido estrito, como medida cautelar, onde o indivíduo perde sua liberdade por meio de decretação do juiz, durante o inquérito policial ou instrução criminal, com base pressupostos legais, resguardando, assim, o interesse social de segurança (MIRABETE 1997). Tem legitimidade para pedir a prisão preventiva, o Ministério
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