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DIREITO CONSTITUCIONAL - EFEITOS DA PROMULGAÇÃO DE UMA NOVA CONSTITUIÇÃO

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DIREITO CONSTITUCIONAL
ENTRADA EM VIGOR DE UMA NOVA CONSTITUIÇÃO
As normas de uma nova constituição projetam-se sobre todo o ordenamento jurídico, revogando tudo aquilo que com elas não sejam compatíveis e dando um novo fundamento de validade às normas recepcionadas. 
VACATIO CONSTITUTIONIS
Normalmente as constituições contém cláusula especial que determina o momento no qual o seu texto começará a vigorar, não havendo cláusula expressa entende-se que a vigência é imediata, a partir da sua promulgação.
Caso haja cláusula diversa haverá a chamada vacatio constitutionis (vacância da Constituição). Nesse período, embora já publicada, a nova Constituição não tem vigência e ordem jurídica continua a ser regida pela Constituição que já existia.
A nossa constituição entrou em vigor na data de sua publicação, contudo, havia dispositivos da CF, ADCT cujo prazo de vigência foi outro, contado a partir da vigência da CF/88. Art. 34 ADTC – a maior parte do novo sistema tributário nacional somente entrou em vigor no primeiro dia do quinto mês seguinte a promulgação da CF.
RETROATIVIDADE MÍNIMA
O constituinte originário não está obrigado a respeitar o ato jurídico perfeito ou a coisa julgada, podendo fazer com que as normas da nova constituição retroajam a fatos passados e modifiquem situações jurídicas já consolidadas no ordenamento pretérito. 
Normas constitucionais, salvo disposição em contrário, possuem retroatividade mínima STF
retroatividade mínima da CF – alcança efeitos futuros de negócios celebrados no passado: prestações futuras (vencíveis a partir da sua entrada em vigor) de negócios celebrados no passado
Mas há ainda a possibilidade de retroatividade máxima ou média:
Média – quando a norma alcança prestações pendentes (vencidas e ainda não adimplidas) de negócios passados
Máxima – quando a norma alcança fatos já consumados no passado, ainda que sejam aqueles atingidos pela coisa julgada – como foi o caso da proibição de indexação do salário-mínimo para qualquer fim
Apesar do exposto, alguns dispositivos da CF podem ter disposição que indiquem retroatividade média ou máxima, como foi o caso do art. 51 do ADCT que determina a revisão das doações, vendas e concessões de terras públicas desde o ano de 1962 (retroatividade máxima).
A retroatividade acima mencionada só se aplica as normas constitucionais federais, as constituições dos estados sujeitam-se a proteção do direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada (em regra não podem retroagir), da mesma forma para as normas infraconstitucionais.
ENTRADA EM VIGOR DA NOVA CONSTITUIÇÃO E CONSTITUIÇÃO PRETÉRITA
Toda a constituição antiga é revogada pela entrada em vigor da nova constituição, independente dos dispositivos da constituição pretérita serem compatíveis com o novo ordenamento, não há recepção da constituição antiga. Essa é a posição dominante da doutrina.
DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO
A doutrina minoritária considera a possibilidade que a promulgação de uma nova constituição não acarretaria obrigatoriamente a revogação completa da constituição anterior.
Seria necessário examinar dispositivos por dispositivos a fim de verificar a compatibilidade com a nova constituição, assim os dispositivos incompatíveis seriam revogados, enquanto os compatíveis seriam recepcionados. 
Os dispositivos compatíveis então seriam recepcionados com status de lei.
A doutrina majoritária entende que isso pode acontecer, contudo, é necessário que o texto da nova constituição preveja expressamente essa possibilidade, seja para artigos determinados ou de forma genérica.
DIREITO ORDINÁRIO PRÉ-CONSTITUCIONAL
As leis anteriores a nova constituição são aproveitadas, desde que seu conteúdo não seja contrário ao novo ordenamento constitucional.
Todas as espécies normativas infraconstitucionais não compatíveis com a nova constituição são revogadas.
Porém, para alguns autores (minoritários em sua opinião) a revogação de alguma norma obrigatoriamente pressupõe o conflito com outra de mesma natureza, de mesma hierarquia, motivo pelo qual a Constituição não revogaria as normas infraconstitucionais com ela incompatíveis e sim haveria a denominada inconstitucionalidade superveniente. 
INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE
É o fenômeno jurídico através do qual uma norma se torna inconstitucional em razão da promulgação de uma nova constituição. 
Esse entendimento NÃO é adotado pelo STF, segundo o qual só haveria mera revogação da norma. Não há como se falar em inconstitucionalidade superveniente porque o juízo de constitucionalidade não pode ser feito diante de uma constituição que não existia no momento da edição da lei.
Se fosse permitido, contudo, a inconstitucionalidade superveniente, a declaração de inconstitucionalidade das leis pelos tribunais do Poder Judiciário só poderia ser feita mediante decisão da maioria absoluta do plenário ou órgão especial do tribunal (reserva de plenário), pois órgãos fracionários dos tribunais (câmaras, turmas, seções) não podem declarar a inconstitucionalidade das leis ou atos normativos do Poder Público, por força do art. 97 da CF.
Mas como o entendimento se refere a simples revogação os tribunais não estão obrigados a obediência da reserva de plenário.
O STF não admite a impugnação do direito pré-constitucional em ação direta de inconstitucionalidade.
DIREITO ORDINÁRIO PRÉ CONSTITUCIONAL INCOMPATÍVEL/COMPATÍVEL
As leis anteriores a nova Constituição são aproveitadas, desde que o seu conteúdo não conflite com o novo texto constitucional. É necessário analisar o direito constitucional pretérito para verificar se há compatibilização.
Direito ordinário pré-constitucional incompatível
As normas do direito ordinário não compatíveis com a constituição não poderão persistir no ordenamento jurídico, assim essas normas são revogadas pela nova Constituição, esse é o entendimento consagrado pelo STF e pela doutrina majoritária. A revogação não alcança só as leis incompatíveis, mas decretos, regimentos, portarias, atos administrativos em geral…
Alguns doutrinadores consideram que a revogação pressupõe o confronto de normas de mesma natureza, de mesma hierarquia, assim uma Constituição só poderia revogar outra Constituição, uma lei só poderia revogar outra lei e assim por diante. Por esse raciocínio que é minoritário, haveria a inconstitucionalidade superveniente do direito subconstitucional anterior e incompatível com a nova Constituição. 
Inconstitucionalidade superveniente
O direito subconstitucional incompatível com a nova constituição não seria revogado por esta, mas se tornaria inconstitucional em face da nova carta maior.
Inconstitucionalidade superveniente é o fenômeno no qual uma norma se tonaria inconstitucional em um momento futuro, depois de sua entrada em vigor, em razão da promulgação de uma nova constituição, com ela conflitante.
Mas segundo o STF uma lei só pode ser considerada inconstitucional em confronto com a Constituição de sua época e não em razão de uma constituição futura. O juízo de constitucionalidade pressupõe contemporaneidade com a lei e a Constituição.
Assim, para o STF e a doutrina majoritária, uma lei só pode ser considerada inconstitucional em confronto com a Constituição de sua época e o confronto de uma lei e uma Constituição posterior a ela se resolveria pelo instituto da revogação ou recepção (se compatível).
Sobre essa questão ainda é interessante ressaltar que se considerarmos a possibilidade de inconstitucionalidade superveniente, temos o seguinte cenário:
A atual Constituição Federal só permite a declaração de inconstitucionalidade das leis pelos tribunais do Poder Judiciário mediante decisão da maioria absoluta do plenário ou do órgão especial do tribunal (art. 97), ou seja, os órgãos fracionários do tribunal não podem declarar a inconstitucionalidade das leis ou ato normativo do Poder Público. Essa regra recebe o nome de reserva de plenário.
Entretanto, se entendermos que existe revogação e não inconstitucionalidade da norma, os
tribunais, na apreciação da validade do direito pré-constitucional não estão obrigados à obediência da reserva de plenário e os próprios órgãos fracionários podem, sem a necessidade de submeter a controvérsia ao plenário, reconhecer a revogação (ou recepção, se for o caso) da norma. 
Por fim, o STF não admite a impugnação do direito pré-constitucional em ação direta de inconstitucionalidade.
Direito ordinário pré-constitucional compatível
Se as leis em vigor antes da nova Constituição são com ela compatíveis elas serão recepcionadas. Essas leis perdem o suporte de validade que lhes dava a Constituição anterior (com a revogação desta), mas ao mesmo tempo elas recebem da Constituição promulgada novo fundamento de validade.
Mas nem todo o direito ordinário compatível com a nova Constituição poderá ser recepcionado, é necessário cumprir os seguintes quesitos:
- estar em vigor no momento da promulgação da nova Constituição;
- ter conteúdo compatível com a nova Constituição
- ter sido produzido de modo válido (de acordo com a Constituição de sua época).
As normas não vigentes quando da promulgação da nova Constituição não podem ser recepcionadas, podem, contudo, sofrer repristinação.
Se a norma foi produzida em desacordo com a Constituição da sua época, não poderá ser recepcionada por uma Constituição futura, ainda que esteja em vigor. Se a lei nasceu com um vício da inconstitucionalidade (congênito) não é juridicamente possível a ocorrência da constitucionalidade superveniente.
Ainda, uma lei que foi editada em desarmonia com o texto constitucional anterior não pode ser aproveitada posteriormente por emenda constitucional. Ainda que a emenda constitucional superveniente estabeleça novo tratamento à matéria de modo que passe a ser compatível o texto da lei com as novas disposições constitucionais, não será juridicamente possível a recepção. Esse entendimento, contudo, não é pacífico na doutrina.
O STF também entende que se uma lei é inconstitucional ante uma Constituição vigente no momento de sua edição, não se mostra juridicamente possível que uma norma constitucional ulterior a convalide. O STF tem demonstrado que o sistema brasileiro não contempla a figura da constitucionalidade superveniente – não admite a convalidação de lei inconstitucional por norma constitucional futura.
Averiguação de compatibilidade do direito ordinário anterior com a nova Constituição e funcionamento da recepção das normas compatíveis
A compatibilidade verificada é a compatibilidade material, ou seja, é verificado se o conteúdo é compatível com a nova Constituição, não sendo relevantes aspectos formais (em relação a exigência formal anterior para uma norma a exigência formal anterior para a mesma norma na nova Constituição; não importa nem mesmo se a espécie normativa continuará existindo).
Se a velha Constituição exigia para determinada matéria a edição de lei ordinária e agora a nova Constituição só permitir o tratamento dessa matéria, por exemplo, por lei complementar, a recepção da norma não resta prejudicada se foi validamente produzida no ordenamento constitucional anterior. A norma apenas ingressará no novo ordenamento constitucional com status diferente, é a nova Constituição que determinará o status da norma. O caso em comento, a lei ingressaria no novo ordenamento jurídico como lei complementar e no novo ordenamento jurídico só poderia ser alterada ou revogada por outra lei complementar ou ato normativo de hierarquia superior, como uma emenda à Constituição. Exemplo disso é o Código Tributário Nacional.
O mesmo raciocínio funciona de forma contrária, se a nova constituição permite que determinada matéria seja regulada por lei ordinária e há uma lei complementar pretérita a nova constituição que trata dessa matéria, a lei complementar será recepcionada com status de lei ordinária, podendo, no novo ordenamento constitucional, ser alterada ou revogada por leis ordinárias.
O status que a norma será recepcionada não depende do status que foi editada no ordenamento anterior, mas que espécie normativa a nova Constituição permite ou determina para a matéria de que trata essa lei.
Podemos ter ainda a questão da mudança do ente federado competente para a edição da matéria, sem prejuízo da recepção da lei.
Se anteriormente a competência para tratar de determinada matéria for da União e a nova Constituição atribui essa competência aos estados ou municípios, a lei federal pretérita poderá ser recepcionada com força de lei estadual ou municipal, se a lei em questão foi validamente editada e for compatível com a nova Constituição.
A recepção da norma pode ainda alcançar apenas uma parte do ato normativo, pois a análise da compatibilidade deve ser feita de forma individualizada, dispositivo por dispositivo. Ainda pode ocorrer a recepção de dispositivos da mesma lei com status legal diferentes. 
O importante é que a norma tenha sido produzida de forma válida e seja materialmente compatível.
A revogação ou recepção do direito ordinário anterior não precisa ser expressa, promulgada a nova Constituição, mesmo que não haja nenhum dispositivo que no seu texto assim disponha, ocorre tacitamente, naquele momento, a revogação e a recepção. 
Pode ocorrer posteriormente a promulgação de uma nova Constituição que ante a um caso concreto haja dúvida sobre a recepção ou revogação de uma lei, porém a revogação ou recepção ocorrer na data da promulgação do novo texto constitucional, não importa em que data isso seja declarado pelo Poder Judiciário. Há o reconhecimento da revogação ou recepção somente.
Por fim, as emendas constitucionais têm o mesmo efeito sobre o direito ordinário a elas anterior, no que concerne à revogação ou recepção das normas. 
DIREITO ORDINÁRIO PRÉ-CONSTITUCIONAL NÃO VIGENTE
Se uma norma não estiver vigente no momento de promulgação de uma nova Constituição não podemos falar no instituto da recepção.
A nova Constituição não restaura, automaticamente e tacitamente, a vigência das leis que não estejam mais em vigor no momento de sua promulgação. Se o legislador assim desejar que seja feito, é necessário que haja disposição expressa nesse sentido. Neste caso há a repristinação da norma.
DIREITO ORDINÁRIO EM PERÍODO DE VACATIO LEGIS
Geralmente a lei entra em vigor no momento de sua publicação (o que ocorre quando há disposição expressa a esse respeito), mas pode ser que o legislador determine momento posterior para isso ou ainda seja omisso (caso em que a lei entrará em vigor em todo país em 45 dias depois de oficialmente publicada e nos estados estrangeiros depois de 3 meses, art 1° da LINDB). O período entre a publicação e a entrada em vigor da lei é chamado de vacatio legis.
Sobre a lei que estava em vacatio legis no momento de promulgação de uma nova Constituição, embora não haja consenso na doutrina, a posição dominante é que a lei vacante não entrará em vigor no novo ordenamento constitucional, ou seja, não poderá ser recepcionada pela nova Constituição.
A recepção exige que o direito anterior seja válido, materialmente compatível com a nova constituição e esteja em vigor na data da promulgação da nova Constituição.
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DO DIREITO PRÉ- CONSTITUCIONALIDADE
- Controle de constitucionalidade do direito pré-constitucional em face da Constituição antiga
Trata-se da possibilidade de solicitar ao Poder Judiciário a declaração de invalidade de uma lei antiga em face de uma Constituição antiga (a vigente na época da edição da lei). Essa possibilidade existe porque o indivíduo pode ter sido afetado pela lei e questão, logo ele tem a intenção de afastar a aplicação da lei. Trata-se de impugnação do direito pré-constitucional, a decisão será de uma declaração de inconstitucionalidade ou constitucionalidade e não revogação ou recepção.
Nesse caso será analisada a compatibilidade formal e material da lei ordinária anterior a nova Constituição em relação à Constituição antiga (vigente na época de sua edição).
Não se pode fazer esse procedimento mediante
controle abstrato no STF (ou seja, por ação direta de constitucionalidade, ação declaratória de constitucionalidade ou arguição de descumprimento de preceito fundamental). Porque o STF diz que o controle abstrato visa proteger somente a Constituição vigente no momento em que ele é exercido. Assim a validade do direito pré-constitucional só poderá ser discutida no controle difuso, diante de um caso concreto, podendo a questão ser levada ao STF por meio do recurso extraordinário.
- aferição de validade do direito pré-constitucional em confronto com a Constituição futura
Esse controle de constitucionalidade não visa à declaração da inconstitucionalidade de norma pré- constitucional, pois como vimos não de pode falar em inconstitucionalidade de uma lei em face de uma Constituição posterior a ela.
Assim, se o poder Judiciário entender que a lei pré-constitucional é incompatível com anova Constituição a declarará revogada e, se compatível, recepcionada. A averiguação de compatibilidade só é material.
O Poder Judiciário pode apreciar essa questão por meio de controle difuso ou por meio de arguição de descumprimento de prefeito fundamental, no controle abstrato, proposta por um dos legitimados pela CF (art. 103) perante o STF. No controle difuso as decisões proferidas pelo Poder Judiciário só valerão para as partes do processo (inter partes), no controle abstrato são dotadas em eficácia geral (erga omnes).

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