Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TEMA: FISIOLOGIA IMUNOLÓGICA E EXERCÍCIO 1. INTRODUÇÃO É verdade que o exercício físico pode aumentar a chance de infecções, gripes e resfriados? Há relação entre o sistema imunológico e o estresse psicológico? Como avaliar o estresse psicológico, tão comum na sociedade atual? Como ajudar seu aluno a lidar com o estresse? A atividade física regular reduz o estresse? É verdade que o estresse psicológico favorece o aparecimento e a evolução de várias doenças? Quais os significados de termos comuns entre os seus alunos, como vacinas, alergias, imunodeficiências (inatas ou adquiridas), doenças autoimunes e tolerância imunológica? Se ao final da presente aula você tiver ideias mais claros relacionados a tais questões e passar a utilizar na prática profissional procedimentos que não utilizava anteriormente, ela terá cumprido seu papel. 2. SISTEMA IMUNOLÓGICO: FUNÇÕES E CARACTERÍSTICAS As principais funções do sistema imunológico no corpo humano são as seguintes (ROITT & DELVES, 2004): - Proteção contra agentes estranhos: uma série de pequenos organismos (vírus, bactérias, vermes e fungos) buscam entrar no nosso corpo para garantir sua sobrevivência. Além disso, não é raro nosso corpo ser atingido mecanicamente por, por exemplo, madeira e metais; - Destruição de células tumorais: em todos nós há uma série de células com potencial cancerígeno, ou seja, com alta capacidade de proliferação. O câncer, no entanto, não se desenvolve em todos nós porque nosso sistema imunológico remove tais células do organismo; - Remoção de células mortas: no nosso corpo há renovação (turnover) das células, processo pelo qual novas células substituem células mortas degradadas pelo sistema imunológico. É válido ressaltar que esta renovação é maior em alguns tipos celulares (sangue, pele, mucosas e fígado) e menor em outros (sistema nervoso). As respostas do sistema imunológico ou de defesa podem ser divididas em inespecíficas (aquelas que acontecem da mesma forma independentemente das características do invasor) e específicas (aquelas nas quais o sistema imunológico escolhe a “arma” mais apropriada para as características do invasor). As respostas inespecíficas, por sua vez, podem ser subdivididas em (ROITT & DELVES, 2004): Barreiras naturais: - Pele e mucosas: suas células são intimamente unidas e liberam secreções ligeiramente ácidas, que matam muitos microrganismos. Além disso, tais camadas apresentam propriedades lipofílicas, ou seja, não permitem a entrada de moléculas diluídas em água; - O sistema digestório libera ácido gástrico e enzimas que destroem muitos organismos invasores presentes nos alimentos; - A saliva e a lágrima contêm enzimas que destroem a parede celular de bactérias; - A presença de muco e cílios no sistema respiratório diminui a mobilidade de invasores; - O intestino humano apresenta bactérias benéficas que competem com as bactérias causadoras de doenças por nutrientes e locais de fixação no intestino, além de liberarem substâncias tóxicas contra as bactérias maléficas. Vale lembrar que uma consequência da utilização excessiva de antibióticos é a morte de tais bactérias benéficas. Inflamação: é caracterizada por apresentar as seguintes respostas na região do corpo que está sendo “atacada”: dilatação capilar; saída de proteínas e líquido dos vasos sanguíneos, gerando o edema; e presença de uma grande quantidade de células fagocitárias – ou seja, células capazes de englobar e digerir moléculas estranhas. Já as respostas específicas são realizadas por meio dos anticorpos, que são “armas” específicas para cada tipo de invasor. Esta capacidade do sistema imunológico de produzir uma nova “arma” para cada novo invasor é extremamente importante para a sobrevivência humana, pois novos microrganismos são criados constantemente por meio de alterações genéticas (mutações). Estas respostas específicas apresentam três propriedades importantes (ROITT & DELVES, 2004): - Sensibilidade: uma quantidade muito pequena de moléculas do invasor é capaz de desencadear a resposta; - Diversidade: nosso sistema imunológico tem a capacidade de reconhecer um dentre milhares de microrganismos e disparar uma resposta específica contra ele; - Memória: nosso sistema imunológico tem a peculiaridade de se “lembrar” das características do invasor quando ele entra em contato com o corpo humano pela segunda vez, o que faz com que a resposta seja maior e mais rápida (Figura 1). Este é o princípio de funcionamento das vacinas, que serão apresentadas posteriormente. Figura 1 - Fonte: LOPES (2007) Por fim, nesta seção serão apresentados alguns dos principais órgãos e células do sistema imunológico. Alguns dos principais órgãos são descritos abaixo (ROITT & DELVES, 2004): - Linfonodos: filtram e, se necessário, respondem ao material estranho que drena pelos tecidos corporais; - Baço: filtra o sangue; remove eritrócitos e leucócitos não-funcionais; e responde ativamente a antígenos transportados pelo sangue; - Tecido linfoide não encapsulado: presente nas superfícies mucosas; - Timo e medula óssea: síntese de células do sistema imunológico. As células do sistema imunológico (neutrófilos, mastócitos, basófilos, monócitos, macrófagos, linfócitos, eosinófilos e células assassinas naturais) são subtipos dos leucócitos ou glóbulos brancos, que constituem as células do sangue juntamente com as plaquetas (responsáveis pela coagulação sanguínea) e os eritrócitos ou glóbulos vermelhos (responsáveis pelo transporte de oxigênio). Um fenômeno importante da ação das células imunológicas é a capacidade de chegarem ao local sendo atacado; isso ocorre principalmente por meio de um processo chamado quimiotaxia, que é caracterizado pelo direcionamento de tais células por meio de moléculas que são liberadas no local da lesão com a finalidade de atrair as células. Tais moléculas são como “bandeiras” que indicam o local que necessita das células do sistema de defesa. É por meio deste processo que as células do sistema imunológico, quando próximas do local lesado, por exemplo, diminuem a velocidade de movimento no sangue e aumentam a quantidade de moléculas de adesão à parede do capilar para realizar a diapedese, processo pelo qual as células migram do sangue para o interstício por meio das células endoteliais (parede dos capilares). As células do sistema imunológico apresentam uma variedade de mecanismos para matar células invasoras, alguns dos quais são apresentados a seguir (ROITT & DELVES, 2004): - Fagocitose: as células invasoras são englobadas para dentro das células de defesa; - Indução de apoptose: as células do sistema imunológico fazem com que as células invasoras se “suicidem”, ou seja, realizem morte celular programada (apoptose); - Lesão da membrana celular: a integridade da membrana de qualquer célula é extremamente importante para sua sobrevivência, pois é ela quem regula a entrada e a saída de moléculas. Portanto, a lesão de tal membrana dos microrganismos pelas células imunológicas gera a morte celular; - Produção de citocinas e espécies reativas de oxigênio: tais moléculas são tóxicas e sua produção leva os invasores à morte. 3. CONCEITOS RELACIONADOS AO SISTEMA IMUNOLÓGICO Neste momento, é importante clarificarmos alguns conceitos relacionados ao sistema imunológico que são comuns entre seus alunos/pacientes/clientes (ROITT & DELVES, 2004): Tolerância imunológica Um princípio básico de funcionamento do sistema imunológico é que ele ataca apenas as moléculas estranhas. Por outro lado, ele “tolera” as moléculaspertencentes ao corpo humano. Esta caracterização do que é próprio ao corpo ocorre no período perinatal, quando os componentes do corpo entram em contato com o sistema imunológico e são “registrados”. É interessante ressaltar que a gestação de uma criança é uma exceção a esta regra, pois nesta situação o “corpo estranho” se instaura vários anos após o nascimento da mãe e não é rejeitado. Por fim, vale ressaltar que em algumas regiões do corpo (cérebro, câmara anterior do olho e testículo), os antígenos, que são os corpos estranhos, não induzem reações imunológicas. Isso é positivo porque algumas vezes as respostas imunológicas são mais lesivas do que o insulto antigênico que as provocou. Daí a importância de drogas imunossupressoras e anti-inflamatórias em algumas situações. Para melhor entender tal situação, pense em um acidente de trânsito em uma via com grande fluxo de veículos. A presença de uma viatura policial e de socorro é fundamental; no entanto, quanto maior o número de viaturas, maior o congestionamento formado. Vacinas O princípio das vacinas modernas é o mesmo desde a Idade Média na China – quando as pessoas inalavam pó preparado a partir da ferida de uma doença, a varíola - e na Índia, onde a crosta da ferida era colocada em contato com pequenas lesões cutâneas. Antes de explicar tal princípio, vale citar que a origem etimológica da palavra vacina é o termo latim vacca, que significa vaca. Mas qual a relação entre a vaca e a vacina? Por volta de ano de 1800, devido à beleza da pele das ordenhadoras, estudiosos suspeitaram que a exposição delas ao vírus da vacínia, que gera doença nas vacas – mas não nas pessoas –, gerava uma proteção contra a varíola, a doença humana. Para testar tal hipótese, o vírus da vacínia foi injetado em crianças com o objetivo de garantir prevenção à varíola. E funcionou! A ideia básica do funcionamento da vacina é que ela contém o microrganismo morto ou atenuado: ele é capaz de fazer o sistema imunológico gerar uma memória em relação a tal microrganismo. Se o microrganismo atacar o organismo protegido, o sistema imunológico será capaz de produzir uma quantidade muito maior de anticorpos, muito mais rapidamente. Vale lembrar que a vacina funciona especificamente para o microrganismo que ela contém. Como há vários vírus que causam gripe, por exemplo, um indivíduo pode contrair gripe mesmo que esteja vacinado contra ela. Os estudiosos Pasteur, Calmette e Guérin tiveram papel crucial no desenvolvimento inicial das vacinas. Pasteur esqueceu o bacilo da cólera acidentalmente em uma bancada por meses no verão, observando que ele perdeu grande parte da capacidade de provocar a doença, funcionando muito bem para induzir a memória no sistema imunológico. Já Calmette e Guérin estavam trabalhando com o bacilo que causa tuberculose em 1908 quando descobriram que cultivá-lo com vesícula biliar atenuava seu potencial. Daí a sigla BCG (bacilo de Calmette-Guérin) da vacina utilizada até hoje. Alergias As alergias acometem pelo menos 10% da população e são caracterizadas por uma hipersensibilidade do sistema imunológico, ou seja, é quando determinados estímulos (pólen da grama, pelos de animais, fezes de ácaros, ovo, leite, arroz, morango, amoxicilina, tinturas de cabelo, neomicina, níquel, ouro) geram uma resposta imunológica, diferentemente do que acontece na maioria das pessoas, nas quais tais estímulos não estimulam nosso sistema de defesa. Nesse sentido, a utilização de fumo e de β-bloqueadores na gravidez aumenta consideravelmente a chance da criança desenvolver alergias. Por fim, é interessante ressaltar que alguns pesquisadores defendem que as crianças não devem ser criadas nas melhores condições de higiene possíveis nos primeiros anos de vida, pois isso reduz o número de substâncias que causam alergia “registradas” como pertencentes ao corpo, o que aumenta a chance de alergias futuras. Imunodeficiências Imunodeficiências são situações nas quais há uma deficiência no sistema no sistema imunológico, quando ele não consegue desempenhar bem suas funções. Elas podem ser inatas ou adquiridas. As inatas são extremamente raras e ocorrem devido a causas genéticas - a forma mais grave ocorre uma vez a cada 80.000 nascidos vivos. As imunodeficiências adquiridas, por sua vez, são bem mais frequentes (AIDS, por exemplo) e ocorrem devido a infecções virais, nutrição inadequada (principalmente devido a deficiências em ferro, zinco e selênio), excesso de contato com radiação (raios X) e/ou utilização de medicamentos citotóxicos e corticosteroides. Transplante de órgãos Um desafio ao procedimento de transplante de órgãos (que inclui transplante de medula óssea) é evitar que o sistema imunológico do receptor interprete o órgão recebido como um corpo estanho e, portanto, ataque-o. Para evitar tal problema, podem ser utilizadas drogas imunossupressoras. Além disso, outra estratégia é procurar compatibilidade entre os sistemas HLA do doador e do receptor. No entanto, nem sempre esta é uma tarefa fácil, pois a chance de compatibilidade é de 25% entre irmãos(as), 6,25% entre primos(as) e um em 100.000 na população geral. Doenças autoimunes Doenças autoimunes ocorrem quando o sistema imunológico ataca as células do próprio corpo. Tais doenças, dentre as quais se encontram o diabetes e a artrite reumatoide, são mais prevalentes em idosos e em mulheres. Suas causas são genéticas, relacionadas a deficiências nutricionais e/ou a contato com microrganismos. 4. RELAÇÕES ENTRE ATIVIDADE FÍSICA E SISTEMA IMUNOLÓGICO Uma primeira relação importante entre a atividade física e o sistema imunológico é a teoria da janela aberta, segundo a qual de 3 a 72 horas após uma sessão de treinamento físico intenso e prolongado o indivíduo fica mais susceptível a infecções, principalmente respiratórias (gripes, resfriados). Tal teoria é bem aceita e tem sido comprovada por diferentes estudos. Para reduzir a incidência de tais infecções, algumas medidas são necessárias (ROSA & VAISBERG, 2002): - Alimentação balanceada (vitaminas e minerais); - Evitar supertreinamento; - Sono adequado e regular; - Evitar perda de massa corporal acelerada; - Evitar levar as mãos aos olhos e ao nariz; - Evitar pessoas com sintomas e multidões; - Vacinação regular contra gripe. Também é fundamental saber que a atividade física programada de intensidade moderada, realizada de forma regular, melhora as defesas do nosso organismo, ou seja, faz com que nosso sistema imunológico fique mais eficiente. Uma possível explicação para tal efeito da atividade física é a redução da sensibilidade ao cortisol pelas células do sistema imunológico, que são inibidas por tal hormônio (Figura 2) (LEANDRO et al., 2002; LEANDRO et al., 2007). Figura 2 - Fonte: SILVA (2002) Por outro lado, o treinamento físico de alta intensidade tem o efeito contrário no sistema imunológico, ou seja, diminui sua eficiência. Isso pode ser uma explicação para a alta prevalência de infecções, gripes e resfriados em atletas de alto nível. A causa para tal efeito pode ser uma produção excessiva de espécies reativas de oxigênio, prejudicais às células imunológicas. De fato, foi verificado que a apoptose está associada à elevação da produção de espécies reativas de oxigênio (LEANDRO et al., 2002; LEANDRO et al., 2007). Além da atividade física, vários outros fatores interferem no funcionamento do sistema imunológico, dentre os quais se destacam as deficiências nutricionais, a ausência de quantidade e qualidade adequadas de sono e o estresse psicológico. O estresse psicológico será abordado na próxima seção. Como exemplodas questões relacionadas ao sono e aos aspectos nutricionais, vale citar que a atividade das células assassinas naturais, extremamente importantes ao nosso sistema de defesa, é aumentada com a adição de ácidos graxos ômega 3 na dieta e reduzida como consequência da redução do sono e do excesso de consumo de álcool (ROBINSON et al., 1998). 5. ESTRESSE, SISTEMA IMUNOLÓGICO E ATIVIDADE FÍSICA Uma atividade prática interessante de ser realizada neste momento é comparar os valores de frequência cardíaca (medidos com frequencímetro ou sem auxílio de aparelho) e pressão arterial de dois indivíduos (um com alto e outro com baixo nível de estresse) – os sujeitos podem ser escolhidos com base nos resultados do Inventário dos Sintomas de Estresse, questionário que avalia os níveis de estresse em repouso e em resposta a uma situação de estresse psicológico, o teste de conflito palavra-cor. Este inventário pode ser muito útil na sua atuação profissional. Você pode, por exemplo, aplicá-lo nos seus alunos/clientes/pacientes antes do início do programa de atividade física e a cada seis meses de programa. Com isso você avaliará o efeito do seu programa, além de saber quais pessoas precisam de tratamento devido aos níveis elevados de estresse (LIPP & GUEVARA, 1994). O estresse é uma condição psicológica que tem relação com depressão, ansiedade, desordem do pânico e isolamento social. Ele pode ser provocado pela quantidade e qualidade das relações sociais, por eventos crônicos (convívio com violência, barulho, desigualdades sociais, poluição, trânsito intenso, corrupção) e agudos (morte ou doença de familiares e amigos; começo e final de relacionamentos amorosos) e por características psicossociais do trabalho (quantidade de trabalho, tomada de decisões, relações sociais) (BUNKER et al., 2003). O estudioso Louis Pasteur (1822-1895), já citado nesta aula, foi um dos primeiros a relacionar o estresse com o sistema imunológico. Com sua capacidade incrível de observação, ele percebeu que galinhas expostas a condições estressantes eram mais susceptíveis a infecções bacterianas do que galinhas não estressadas. Outro pesquisador importante no estudo das respostas ao estresse foi o canadense Hans Selye (1907-1982), que tinha a ilustração abaixo, que ficava em sua sala, como uma das fontes de inspiração para os seus estudos (Figura 3). Figura 3 - Fonte: GREENWOOD et al. (1996) A partir destes estudos iniciais, uma série de estudos posteriores tem mostrado forte relação entre eventos estressantes (abusos sexuais e traumas na infância; mortes de familiares e amigos; final de relacionamentos amorosos; pressão no trabalho; desentendimentos familiares) e o aparecimento e/ou a progressão acelerada de várias doenças (infecções, artrite, câncer, diabetes, obesidade, AIDS e doenças cardíacas) (HERPERTZ et al., 2002). Outro exemplo: um terremoto (evento estressante) aumenta em 35% o número de infartos. Uma população que também merece atenção são as grávidas, pois tem sido demonstrado que o excesso de estresse na gravidez está relacionado com as seguintes características nos filhos: maior prevalência de esquizofrenia, menos interação social e maior ansiedade e sensação de desamparo (WEINSTOCK, 2001). Até o momento, só comentamos aspectos negativos do estresse. No entanto, se ele apresentasse apenas tais aspectos, não se manteria ao longo da evolução. O estresse é extremamente importante à sobrevivência do organismo, pois ele gera uma série de respostas fisiológicas nas situações de “luta ou fuga”, como aumento da função cardíaca, maior aporte de oxigênio e nutrientes para o sistema nervoso, além de incremento na frequência respiratória, na gliconeogênese e na lipólise. Além disso, certo nível de estresse é fundamental para crescermos, nos desenvolvermos e produzirmos. Aliás, um grupo de pesquisadores defende que as Guerras Mundiais foram os períodos nos quais a humanidade mais se desenvolveu, com especial destaque para a aviação na I Guerra Mundial e para a computação/instrumentos de radar na II Guerra Mundial. Em conclusão, o estresse só é maléfico ao organismo quando ocorre em excesso. Uma ferramenta extremamente importante no combate ao estresse, um problema que tem aumentado vertiginosamente na sociedade moderna, é a atividade física regular. De fato, uma séria de estudos tem demonstrado uma correlação inversa entre níveis de estresse e atividade física (PIRES et al., 2004). Por fim, gostaria de deixar uma mensagem do filósofo Shantideva para reflexão, principalmente aos mais estressados: “Se houver uma forma de superar o sofrimento, não há necessidade de nos preocuparmos; se não houver como superar o sofrimento, de nada adianta nos preocuparmos.” 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste momento, peço que você releia a Introdução desta aula, inclusive aquelas questões iniciais, para ver se seus objetivos, lá delineados, foram cumpridos. Gostaria agora de deixar seis dicas aos profissionais que trabalham com pessoas portadoras de doenças e/ou deficiências (SPIEGEL et al., 1981; SMYTH et al., 1999): 1. O prognóstico da doença/deficiência é pior em pacientes que deixam que os outros cuidem de si, evitando atividades que causam dor. Portanto, tenha como objetivo treinar seus alunos para as atividades da vida diária para que se tornem mais independentes; 2. Mostrar que todas as pessoas têm problemas. Isso é importante porque muitas vezes algumas pessoas acreditam que só elas têm dificuldades. Além disso, se tudo fosse perfeito, qual seria o sentido da vida? 3. Não esconder os sentimentos melhora o prognóstico. É importante que os alunos tenham bem claro quais são seus problemas e o que estão fazendo para evitá- los e/ou administrá-los; 4. Reforçar que nem tudo está ao nosso alcance. É importante sempre lembrar ao aluno que muitas vezes a resolução de seus problemas não depende nem dele nem dos profissionais da saúde; 5. Passar a usar capacidades não afetadas pela doença como meio de satisfação e felicidade (redefinir prioridades de vida); 6. Atividades em grupo favorecem a troca de experiências e o estabelecimento de relações fora do ambiente das aulas. Portanto, sempre priorize atividades em grupo com pessoas com o mesmo tipo de doença/deficiência. Por fim, gostaria de deixar quatro desafios a você, profissional. Acredito que aqueles que os seguirem terão sucesso garantido: 1. Questionar as tradições: seja extremamente crítico e questione mentalmente toda ação de cada profissional. O fato de algo ser feito da mesma forma há muito tempo não significa que aquela é a melhor forma de se fazer – pode até ser um mito! 2. Planejar, executar e avaliar a intervenção profissional com base em evidências científicas (artigos científicos): para não trabalhar com base em mitos, sempre procure ler e agir profissionalmente, ou seja, guiada(o) por conhecimentos científicos; 3. Utilizar o método científico no dia-a-dia profissional: caso não haja artigos científicos sobre determinado assunto que você tenha dúvida, faça você mesmo um experimento! 4. Implementar programas de atividade que gerem PRAZER e reduzam ESTRESSE nos alunos/clientes. Há uma série de estudos que mostram que os benefícios da atividade física e a permanência no programa é muito maior se o aluno/cliente sente prazer na prática. Portanto, se você “manda” seu aluno correr na esteira, pedalar naquela “bicicleta que não sai do lugar” e/ou fazer musculação, ele não gosta e você responde “vai que é bom para sua saúde”, cuidado! Você tem um problema extremamente grande para resolver e seu sucesso profissional está ameaçado.7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUNKER, S. J.; et al. "Stress" and coronary heart disease: psychosocial risk factors. Med J Aust, v. 178, n. 6, p. 272-276, 2003. GREENWOOD, D. C., et al. Coronary heart disease: a review of the role of psychosocial stress and social support. J Public Health Med, v. 18, n. 2, p. 221-231, 1996. HERPERTZ, S., et al. Association between psychosocial stress and psychosocial support in diabetic patients. Intern Congress Series, v. 1241, p. 51-58, 2002. LEANDRO, C. G., et al. Exercício físico e sistema imunológico: mecanismos e integrações. Rev Port Cienc Desporto, v. 2, n. 5, p. 80-90, 2002. LEANDRO, C. G., et al. Mecanismos adaptativos do sistema imunológico em resposta ao treinamento físico. Rev Bras Med Esporte, v. 13, n. 5, p. 343-348, 2007. LIPP, M. E. N.; GUEVARA, A J. H. Validação empírica do inventário de sintomas de stress (ISS). Est Psicol, v. 3, n. 11, p. 43-49, 1994. LOPES, S. Biologia. Ed. Saraiva, v. 1, 2007. MAIA, A. C. Emoções e sistema imunológico: um olhar sobre a psiconeuroimunologia. Psicol: Teoria, Invest e Prática, v. 2, p. 207-225, 2002. PIRES, E. A. G, et al.. Hábitos de atividade física e o estresse em adolescentes de Florianópolis - SC, Brasil. Rev Bras Cienc Mov, v. 12, n. 1, p. 51-56, 2004. ROBINSON L. E.; et al. Dietary long-chain (n-3) fatty acids facilitate immune cell activation in sedentary, but not exercise-trained rats. J Nutr, v. 128, p. 498-504, 1998. ROITT, I.; DELVES, P. J. Fundamentos de Imunologia. Ed. Guanabara Koogan, 2004. ROSA, L. F. P. B. C.; VAISBERG, M. W. Influências do exercício na resposta imune. Rev Bras Med Esporte, v. 8, n. 4, p. 167-172, 2002. SILVA, J. A. P. Psico-neuro-endocrino-imuno-reumatologia: explorando os mecanismos biológicos das manifestações psico-somáticas. Acta Reum Port, v. 27, p. 251-262, 2002. SMYTH, J. M., et al. Effects of writing about stressful experiences on symptom reduction in patients with asthma or rheumatoid arthritis, J Am Med Assoc, v. 281, p. 1304– 1309 1999. SPIEGEL, J. R., et al. Group support for patients with metastatic cancer. A randomized outcome study. Arch. Gen. Psychiatry, v. 38, p. 527–533, 1981. WEINSTOCK, M. Alterations induced by gestational stress in brain morphology and behaviour of the off-spring. Prog Neurobiol, v. 65, p. 427 TEMA: FISIOLOGIA IMNUNOLÓGICA E EXERCÍCIO EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 1) Assinale a alternativa errada. São células do sistema imunológico: A) Monócitos B) Mastócitos C) Eritrócitos D) Linfócitos 2) Marque a alternativa errada. São situações nas quais é interessante a utilização de imunossupressores/anti-inflamatórios: A) Alergias B) Em receptores de órgãos de transplante C) Doenças autoimunes D) Nenhuma das anteriores 3) Assinale a alternativa errada. São princípios básicos na intervenção com pessoas portadoras de doenças e/ou deficiências: A) Valorizar capacidades não afetadas pela doença/deficiência B) Priorizar atividades individuais C) Tornar o aluno/cliente/paciente independente D) Duas das anteriores 4) Marque a opção não correta. Os seguintes hormônios e glândulas estão envolvidos na relação entre o sistema imunológico e o estresse: A) Suprarrenais B) Cortisol C) Células do sistema imunológico D) Hipófise 5) Assinale a alternativa incorreta. O Inventário de Sintomas de Stress (ISS): A) Foi validado no Brasil B) Foi validado para qualquer idade C) Avalia 3 fases do estresse (alarme, resistência e esgotamento) D) Duas das anteriores RESPOSTAS 1 - C 2 - D 3 - D 4 - C 5 - D
Compartilhar