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Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 05 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 2 de 45 1 ± LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA O Código Tributário Nacional inicia o seu Livro Segundo a partir do art. 96, tratando do tema ³/HJLVODomR� 7ULEXWiULD´. Mas o que vem a ser Legislação Tributária? Muitos candidatos desconhecem quais são as fontes do Direito Tributário. Tais fontes são divididas pelo ilustre Vittorio Cassone1 em materiais e formais. As fontes materiais (ou reais) representam os fatos que justificam a tributação, como, por exemplo, o patrimônio, os serviços, a importação, a exportação a transmissão de propriedade etc. Contudo, as fontes materiais por si só não são capazes de fazer surgir a obrigação tributária, pois é necessário que elas (as fontes materiais) tomem uma forma. Tal forma diz respeito ao processo de elaboração de atos normativos, como as leis ou medidas provisórias, capazes de estabelecer uma relação jurídico-tributária entre o sujeito ativo (União, por exemplo) e o contribuinte. Como consequência desse processo legislativo, por assim dizer, temos as denominadas fontes formais, que foram rotuladas no art. 96 do CTN como legislação tributária, nos seguintes termos: Art. 96. A expressão "legislação tributária" compreende as leis, os tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas complementares que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes. ³3URIHVVRU��HQWmR�TXHU�GL]HU�TXH�DV� IRQWHV� IRUPDLV�GR�'LUHLWR�7ULEXWiULR� são as leis, tratados internacionais, decretos e as normas complementares? Exatamente! Guarde isso: todas as normas que versem, no todo ou em parte (atenção!), sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes (matéria tributária de um modo geral) integram a legislação tributária! Até mesmo a CF/88 integra a legislação tributária (sendo fonte do Direito Tributário), sendo esta a base de todas as outras! Nesse contexto, é importante ter em mente o conceito de ato normativo. Trata-se de hipóteses normativas que são aplicadas às pessoas de 1 CASSONE, Vittorio. Direito Tributário. 15ª Edição. 2003. Pág. 45 Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 05 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 5 de 45 XPD� OHL�FRPSOHPHQWDU��SRLV�H[LJH�³PDLRULD�DEVROXWD´�SDUD�DSURYDomR�GH�XPD� LC). Em matéria tributária, vários aspectos foram submetidos à lei complementar, inclusive a instituição de alguns tributos. Os alunos sempre sentem necessidade de saber quais são os assuntos sujeitos à lei complementar. Eu diria que o contato com a disciplina (leitura do nosso curso + leitura da CF/88 + resolução de questões) fará com que você memorize naturalmente. De acordo com a jurisprudência do STF, não há hierarquia entre lei complementar e lei ordinária! Contudo, vamos citar abaixo os casos de lei complementar! Em relação à instituição de tributos, estão submetidos à lei complementar: x Empréstimo Compulsório (EC); x Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF); x Impostos Residuais (I.Res.); x Contribuições Sociais Residuais (CSR). Em regulação à regulamentação específica de alguns tributos, fica a lei complementar responsável pelas seguintes funções: x ITCMD: em casos relacionados ao exterior (ler art. 155, § 1º, III, ³a´ e ³b´); x ICMS: como dito na aula anterior (se necessário, retorne e leia), temas que possam gerar conflitos entre os Estados, situações peculiares ao ICMS e base de cálculo e contribuintes (ler DUW�����������;,,��³D´�D�³L´�; x ISS: define serviços tributáveis pelo ISS, fixa alíquotas mínimas e máximas, exclui sua incidência sobre as exportações de serviços e regula a forma como os benefícios fiscais são concedidos (ler art. 156, III, c/c art. 156, § 3º, I, II, e III); x Contribuições Sociais: fixa limites para a concessão de isenção ou anistia de algumas contribuições sociais (art. 195, § 11). Além do que já foi visto, a CF/88 também concedeu três importantes funções para a lei complementar, quais sejam: x Dispor sobre conflitos de competência em matéria tributária; x Regular as limitações constitucionais ao poder de tributar; x Estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária. Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 05 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 11 de 45 Presidente da República, e que foram substituídos pelas medidas provisórias na CF/88. Uma pergunta que se faz é: se foram substituídos pelas MPs, porque ainda existem decretos-leis em vigor? Foram recepcionados pela atual CF por conterem conteúdos com ela compatíveis. Não confunda decretos-leis com decretos! Decretos-leis possuem força de lei. Decretos, em matéria tributária, não possuem força de lei. 1.9 ± Tratados e Convenções Internacionais ,QLFLDOPHQWH�� FDEH� GHVWDFDU� TXH� ³WUDWDGRV´� H� ³FRQYHQo}HV´� são expressões sinônimas e dizem respeito a acordos bilaterais (entre duas partes) ou multilateral (entre diversas partes). De acordo com as lições de Bernardo Ribeiro de Moraes: ³7UDWDGR��RX�FRQYHQomR�� LQWHUQDFLRQDO�YHP�D�VHU�R�DWR� MXUtGLFR� ILUPDGR� entre dois ou mais Estados, mediante seus respectivos órgãos competentes, com o objetivo de estabelecer normas comuns de direito LQWHUQDFLRQDO�´ (MORAES, Bernardo Ribeiro de. Compêndio de direito tributário. 3ª Edição. Pág. 26) Até o momento, a FGV não cobrou no o conhecimento do assuntos tratados internacionais em matéria tributária. Contudo, acreditamos, pela análise de provas anteriores, que o assunto deve ser cobrado com base no art. 98, do CTN. Vejamos: Art. 98. Os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha. De acordo com a literalidade do dispositivo, os tratados internacionais revogam ou modificam a legislação tributária, devendo ser observados pela legislação supHUYHQLHQWH�� $� H[SUHVVmR� ³UHYRJDP� RX� PRGLILFDP´� JHURX� IRUWH� discussão doutrinária e jurisprudencial, que não parecem ser relevantes para a nossa preparação rumo ao Exame de Ordem! Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 05 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 13 de 45 Os decretos não foram considerados pelo CTN como normas complementares. Por falar em normas complementares, vamos estudá-las?! 1.11 ± Normas Complementares Continuando nosso estudo, pergunta-se: se os decretos, atos normativos secundários, não são normas complementares, o que viriam a ser tais normas? O art. 100 do CTN estabelece o seguinte: Art. 100. São normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos decretos: I - os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas; II - as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa; III - as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas; IV - os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Vamos estudar a seguir cada um dos quatro tipos de normas complementares. 1.11.1 ± Atos Normativos Expedidos pelas Autoridades Administrativas Os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas são normas secundárias, de caráter geral e abstrato, com objetivo de orientar contribuintes ou instruir servidores públicos, na realização de atos e procedimentos administrativos relativos a tributos. Dessa forma, tais atos normativos são normas complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais edos decretos. Destaque-se que pode haver hierarquia entre os atos normativos, a depender do grau hierárquico da autoridade que os expediu. Assim, por exemplo, no âmbito do Ministério da Fazenda, as portarias ministeriais são superiores às instruções normativas, pois o Ministro da Fazenda (edita Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 05 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 14 de 45 portarias ministeriais) ocupa posição hierárquica superior ao Secretário da Receita Federal (edita instruções normativas). São exemplos desses atos normativos as portarias ministeriais e as instruções normativas (como acabamos de ver), as ordens de serviço, os pareceres normativos, atos declaratórios normativos etc. Os atos normativos não vinculam o Poder Judiciário. 1.11.2 ± As Decisões dos Órgãos Singulares ou Coletivos de Jurisdição Administrativa, a que a Lei Atribua Eficácia Normativa Com base nos princípios do contraditório e da ampla defesa, na administração tributária existem órgãos administrativos, cuja função é julgar as impugnações dos contribuintes frente às imposições tributárias. As decisões desses órgãos produzem efeitos concretos (não são abstratas) em relação a contribuintes determinados (não são gerais). Essa é a regra. Contudo, o que se permite no art. 100, II, do CTN, é que a lei atribua eficácia normativa (caráter geral e abstrato) às decisões dos órgãos administrativos responsáveis pelo julgamento dos recursos apresentados pelos contribuintes. A regra é que as decisões dos órgãos de jurisdição administrativa não possuem eficácia normativa, salvo por expressa disposição legal! Guarde isso! Citemos, como exemplo, a atribuição do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), órgão julgador de segunda instância no Processo Administrativo Fiscal no âmbito federal, para editar súmulas com efeitos vinculantes para os demais órgãos da administração tributária federal. As referidas súmulas são editadas após reiteradas decisões no mesmo sentido, e, como se pode ver, possuem evidente eficácia normativa. 1.11.3 ± As Práticas Reiteradamente Observadas pelas Autoridades Administrativas Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 05 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 15 de 45 As práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas nada mais são do que os usos e costumes por ela adotados. Trata-se, então, da praxe administrativa. Diante do princípio da legalidade, somente lei pode instituir tributos. Podemos dizer também que as leis permanecem em vigor até que outra a modifique ou revogue (art. 2º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro). Como consequência das restrições acima ditas, os usos e costumes somente podem ter finalidade interpretativa, não podendo introduzir novas normas nem revogar aquelas já existentes. Nesse sentido, os usos e costumes em matéria tributária ocorrem, por exemplo, quando determinada norma é interpretada pela autoridade administrativa num sentido, e os contribuintes seguem tal entendimento como correto. 1.11.4 ± Os Convênios que Entre si Celebrem a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios Os convênios (também denominados ajustes de cooperação ou de colaboração) são firmados pelas pessoas políticas, quais sejam a União, os Estados, o DF e os Municípios, na busca do aprimoramento das atividades de fiscalização e arrecadação tributária. São atos infralegais celebrados pelo Poder Executivo, não inovando, portanto, a ordem jurídica. Ademais, de acordo com a jurisprudência do STF (ADI 1.857/SC), não é exigida a aprovação do Poder Legislativo, diferentemente do que ocorre com os tratados internacionais. Os convênios fiscais podem ser celebrados com os seguintes objetivos específicos: x Permuta de informações entre os entes federados (ler art. 199 do CTN); x Reconhecimento de extraterritorialidade da legislação tributária (ler art. 102 do CTN); x Uniformização de procedimentos (obrigações acessórias). Não se preocupe em entender, apenas faça uma leitura atenta aos dispositivos acima mencionados. Todos os conceitos serão devidamente explicados em momento oportuno. ³3URIHVVRU��HVVHV�FRQYrQLRV�VmR�RV�PHVPRV�TXH�RV�(VWDGRV�FHOHEUDP�QR� kPELWR�GR�&21)$=��UHODWLYDPHQWH�DR�,&06"´�Não, não são os mesmos. Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 05 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 20 de 45 B) podem instituir e cobrar seus impostos, desde que celebrem convênio para estabelecer normas gerais. C) podem instituir e cobrar seus impostos, pois possuem competência legislativa plena até que a lei complementar venha a ser editada. D) podem instituir e cobrar seus impostos, desde que seja publicada Medida Provisória autorizando. Comentário: Realmente, o art. 146, III, a, da Constituição Federal estabelece que lei complementar deve trazer a definição dos fatos geradores, da base de cálculo e dos contribuintes dos impostos previstos na Constituição. Contudo, isso não significa que, não existindo tal lei complementar, os impostos estaduais não possam ser instituídos pelos respectivos Estados e pelo DF, haja vista a previsão no art. 24, § 3º, da CF/88, no sentido de que na ausência de lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Isso ocorre na prática com o IPVA, motivo pelo qual o STF entendeu que se aplica o disposto no art. 24, § 3º, da CF/88. Portanto, os Estados estão autorizados a exercer competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades, relativamente ao IPVA. Este dispositivo foi estudado na nossa aula sobre competência tributária. Na dúvida, é só retornar lá e dar uma lida para relembrar. - Gabarito: Letra C 2 - VIGÊNCIA DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA 2�HVWXGR� GR� WHPD� ³9LJrQFLD� GD� /HJLVODomR� 7ULEXWiULD´� VHUi� GLYLGLGR� HP� vigência temporal e vigência espacial, para facilitar o aprendizado do aluno. A vigência temporal diz respeito ao estudo da legislação no tempo, isto é, quando uma lei começa a vigorar. Já a vigência espacial está relacionada ao território onde incidirá a legislação tributária. Fique ligado nas duas palavras-chave grifadas. 2.1 ± Vigência Temporal da Legislação Tributária Quando estudamos os princípios constitucionais tributários, PHQFLRQDPRV� GLYHUVDV� YH]HV� DV� SDODYUDV� ³YLJrQFLD´� H� ³SURGXomR� GH� HIHLWRV´�� Está lembrado? Vimos que, de acordo com o princípio da irretroatividade, por exemplo, não se pode cobrar tributo em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que instituiu ou aumentou tais tributos. Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 05 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 21 de 45 Estudamos também que, conforme o princípio da anterioridade, se uma lei majora um tributo em junho de 2010, por exemplo, a regra é que a majoração só venha a produzir efeitos em janeiro de 2011. Correto? Chegou, portanto, o momento de dirimirmos qualquer dúvida que tenha pairado sobre o assunto! Vamos lá! Na fase final do processo de elaboração de uma lei, ocorre a promulgação e publicação desse diploma normativo, temos uma lei que é presumivelmente válida, isto é, presume-se que a lei tenha sido elaborada seguindo-se os aspectos formais (iniciativa, quóruns de aprovação etc.) bem como os aspectos materiais (conteúdo compatível com o texto constitucional). Dissemos presunção de validade, pois a lei pode ser contestada a qualquer tempo no âmbito do Poder Judiciário. Com a publicação da lei, é necessário saber o momento em que ela passará a ter vigência, sendoeste, via de regra, o momento em que a lei começa a impor as suas regras aos destinatários. Vejamos o que diz o art. 8º da LC 95/1998 (Lei Complementar que estabelece as regras sobre elaboração de leis): Art. 8º A vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão. O que o dispositivo estabelece é que entre a publicação da lei e a sua vigência haja um prazo razoável para que as regras estabelecidas na lei tenham amplo conhecimento por parte dos cidadãos. Contudo, o mesmo dispositivo permite que a lei traga uma cláusula (em um artigo específico) que estabelece a vigência imediata, a partir da data de publicação da lei. Nesse contexto, estabelece o art. 1º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LINDB): Art. 1º Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada. Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 05 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 28 de 45 outra, subroga-se nos direitos desta, cuja legislação tributária aplicará até que entre em vigor a sua própria. O dispositivo retrata a possibilidade de haver a extraterritorialidade da legislação tributária quando houver desmembramento territorial, para se criar um novo ente político. Nesse caso específico, o CTN prevê que R�³HQWH�QRYR´� aplique, salvo disposição de lei em contrário, a legislação do município que foi desmembrado até que a sua entre em vigor. 3 ± APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA De posse do conhecimento sobre a vigência da lei tributária, aprendido no decorrer desta aula, somos capazes de compreender os dispositivos do CTN acerca da aplicação da legislação tributária. O que vem a ser aplicação da legislação tributária? Ora, trata-se de identificar a norma que será aplicada a cada caso concreto. É uma tarefa destinada ao aplicador da lei, que pode ser tanto a autoridade administrativa como a judiciária. Você se lembra de quando estudamos o princípio da irretroatividade em outra aula? Naquele momento, nós aprendemos que o marco temporal para definir o princípio da irretroatividade é a vigência da lei. Nesse sentido, o que o art. 150, III, a, da CF/88, proíbe é que se cobre tributos em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os instituiu ou majorou. Na mesma linha, o CTN assim dispôs: Art. 105. A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos geradores futuros e aos pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência tenha tido início mas não esteja completa nos termos do artigo 116. Destaque-se que os fatos geradores pendentes são aqueles que já tiveram início, mas que ainda não estão concluídos. Ou melhor, são fatos que se dão por iniciados na vigência de uma lei e, quando se completam, outra lei está vigente. O exemplo mais claro que podemos trazer no momento, para explicar os fatos geradores pendentes, sem nos aprofundarmos no estudo do fato gerador, é o imposto de renda, cujo fato gerador é concluído em uma determinada data do ano, sendo fruto de diversos fatos isolados (diversos rendimentos) ocorridos no decorrer desse período. Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 05 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 29 de 45 Há quem defenda a incompatibilidade da aplicação da legislação tributária aos fatos geradores pendentes, com base no argumento de que há colisão com o princípio da irretroatividade. Mas quanto a isso não é necessário ter preocupação, já que a FGV ainda não abordou o tema no Exame de Ordem e, caso venha cobrá-lo, a tendência é fazê-lo de forma literal, tal como tem feito em relação aos outros dispositivos do CTN. Dando continuidade à nossa aula, estudamos também que a CF/88 não prevê nenhuma exceção ao princípio da irretroatividade. Contudo, segundo o CTN, há duas permissões para se aplicar a lei retroativamente. São elas: a lei interpretativa e a lei mais benigna ao infrator. A regra é a irretroatividade. A lei só pode retroagir para interpretar ou para beneficiar o infrator. 3.1 ± Lei Expressamente Interpretativa A redação do CTN em favor da aplicação retroativa da lei interpretativa é a seguinte: Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; O que seria uma lei interpretativa e em que hipótese ela vem a ser editada? Algumas normas editadas pelo Poder Legislativo acabam gerando grandes controvérsias no momento de sua aplicação. Há leis que contêm dispositivos que geram diversas interpretações. Nesses casos, normalmente o contribuinte busca auxílio ao Judiciário, que emite decisões sobre qual interpretação deve prevalecer. No entanto, tais decisões somente possuem efeitos inter partes (ou seja, somente entre as partes que compõem a lide). É nesse momento em que o Poder Legislativo tem nas mãos o poder de resolver as controvérsias, editando uma nova lei que com o único objetivo de trazer uma interpretação uniforme à lei controversa. Essa é a lei interpretativa objeto de nosso estudo. Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 05 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 30 de 45 A interpretação de uma lei, sendo feita por intermédio de outra lei, é denominada interpretação autêntica. Como o seu objetivo é unicamente interpretar outra lei, pode-se dizer que não há inovação do ordenamento jurídico, já que não serão criados novos direitos ou obrigações. Como não há modificação, e sim interpretação, a lei retroage à data da lei interpretada, produzindo efeitos desde então, como se fosse a própria lei interpretada. Nada mais do que lógico, certo? Ressalte-se que o art. 106, I, assevera que a retroatividade ocorrerá em ³TXDOTXHU� FDVR´�� ,VVR� VLJQLILFD� TXH� D� OHL� SRGH� UHWURDJLU� WDQWR� SDUD� H[LJLU� eventuais diferenças não pagas de tributos, como para restituir tributo que acabou sendo pago a mais pelo contribuinte. Contudo, a mesma regra que autoriza a retroação em qualquer caso, proíbe que isso seja feito com o objetivo de punir o contribuinte. Ora, se o contribuinte deixou de pagar certo tributo, por conta da dúbia interpretação da legislação tributária, a lei interpretativa posterior pode dirimir as dúvidas, acarretando o pagamento do tributo, mas não a imposição de penalidades! Há que se destacar também que a lei expressamente interpretativa não interfere nas decisões finais no âmbito do Poder Judiciário, isto é, caso a lei interpretativa só venha surgir após uma apreciação judicial transitada em julgado, não é possível haver alteração da decisão, tendo em vista a preservação da coisa julgada. 3.2 ± Lei mais benigna sobre penalidades De acordo com o art. 106 do CTN, temos o seguinte: Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: (...) II - tratando-se de ato não definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infração; b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo; Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 05 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 35 de 45 4.2 ± Classificação quanto aos modos Essa classificação se resume aos métodos utilizados para interpretar as leis, que se resumem nos seguintes: Interpretação Gramatical (literal) Æ Leva emconsideração tão somente o sentido das palavras do texto legal, ignorando os demais aspectos. Interpretação Sistemática (ou sistêmica) Æ A interpretação leva em consideração todo o ordenamento jurídico vigente, em vez de só observar o texto legal. Como consequência, deve-se respeitar as normas de hierarquia superior. Interpretação Histórica Æ O objetivo nessa interpretação é entender a intenção do legislador, ao criar a norma, com base no contexto cultural, social, político e econômico da época em que foi editada. Considera-se a evolução dos conceitos ao longo do tempo. Interpretação Teleológica Æ Busca-se a finalidade da norma, isto é, os objetivos que o legislador possuía ao criar a norma. Os critérios podem ser utilizados cumulativamente, não havendo qualquer hierarquia entre eles. 4.3 ± Classificação quanto aos efeitos Nem sempre o legislador diz (insere no texto) exatamente o que queria dizer (sua intenção). Nesses casos, pode ocorrer de o texto dizer menos ou mais do que deveria ser dito. Na primeira situação ± quando o legislador diz menos do que era sua real intenção, o intérprete da lei necessita realizar interpretação extensiva ou ampliativa. Caso contrário ± quando o legislador extrapola o que realmente pretendia dizer ± cabe ao intérprete, percebendo a situação, realizar a interpretação restritiva, ou seja, restringe-se o conteúdo exposto na norma. Por último, há casos em que o interpretador da lei chega à conclusão de que o que foi expresso na lei condiz com a intenção real do legislador, que faz com que a interpretação seja declaratória, isto é, sem ajustes ampliativos ou restritivos. Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 05 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 36 de 45 4.4 ± Interpretação da Legislação Tributária no CTN Para iniciar o nosso estudo acerca da interpretação da legislação tributária com base no CTN, é necessário saber que o próprio Código estabeleceu que a legislação tributária será interpretada com base em seus dispositivos: Art. 107. A legislação tributária será interpretada conforme o disposto neste Capítulo. Abra o seu CTN e observe que a as regras sobre interpretação e integração (este conceito será estudado ainda nesta aula) foram estabelecidas nos arts. 107 a 112. A respeito da interpretação, o CTN estabeleceu duas maneiras específicas de se interpretar a legislação tributária: interpretação literal e interpretação benigna em matéria de infrações. Além disso, o CTN também disciplina a utilização dos princípios e conceitos do direito privado na seara tributária. Veremos cada um desses conceitos a partir de agora. Vamos lá! 4.4.1 ± Interpretação Literal Como regra geral, todos estão sujeitos ao pagamento dos tributos, bem como ao cumprimento de obrigações acessórias, que são nada menos do que deveres instrumentais que auxiliam a fiscalização tributária, como a obrigação de emitir notas fiscais, entregar declarações, escriturar livros etc. Contudo, como toda regra tem sua exceção, há casos em que o tributo deixa de ser pago. Também há situações em que o cumprimento das obrigações acessórias é dispensado. É nesses casos que se opera a interpretação literal, conforme preceitua o CTN, em seu art. 111. Trata-se de exceções cuja interpretação, se fosse extensiva, poderia inverter a situação: as exceções poderiam se tornar a regra, e a regra, as exceções. Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre: I - suspensão ou exclusão do crédito tributário; II - outorga de isenção; III - dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias. Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 05 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 38 de 45 4.4.2 ± Interpretação mais Benigna em Matéria de Infrações Da mesma forma que vimos que é possível aplicar retroativamente a legislação mais benéfica em matéria de infrações tributárias, novamente o CTN direciona suas regras em favor do acusado, adotando o princípio in dubio, pro reo (na dúvida, interpreta-se em favor do acusado). Segundo a doutrina, são regras pertencentes ao já comentado Direito Tributário Penal. Lembre-se de que a mesma observação feita em relação à aplicação retroativa das leis sobre penalidades aplica-se na interpretação mais benigna: a interpretação em favor do acusado só se faz possível em matéria de infrações. Com efeito, se houver alguma dúvida sobre a aplicação de alíquota de determinado tributo, não se deve adotar interpretação nem favorável ao acusado nem ao fisco. Vejamos, então, o que diz o art. 112 do CTN: Art. 112. A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades, interpreta-se da maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida quanto: I - à capitulação legal do fato; II - à natureza ou às circunstâncias materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seus efeitos; III - à autoria, imputabilidade, ou punibilidade; IV - à natureza da penalidade aplicável, ou à sua graduação. Os quatro incisos se referem às situações que podem suscitar a dúvida, permitindo-se a interpretação benigna. Basicamente, significa verificar se o fato se enquadra na infração prevista na lei, ou em quais das leis se aplica (caso haja previsões legais relativas a fatos semelhantes). É possível que também surjam dúvidas sobre a autoria, isto é, se o indivíduo realmente praticou a situação prevista em lei ou mesmo em relação ao conteúdo e alcance da norma punitiva. Neste ponto, é relevante demonstrar o entendimento do ilustre Luciano Amaro (grifamos): ³'H�TXDOTXHU�PRGR��R�SULQFtSLR�LQ�G~ELR�SUR�UHR��TXH�LQIRUPD�R�preceito codificado, tem uma aplicação ampla: qualquer que seja a dúvida, sobre a interpretação da lei punitiva ou sobre a valorização dos fatos concretos efetivamente ocorridos, a solução há de ser a mais favorável ao acusado�´ (AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. 14ª Edição. 2008. Editora Saraiva.) Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 05 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 39 de 45 De acordo com o STJ (REsp 178.427/SP), não havendo dúvida, o art. 112 do CTN não pode ser aplicado! Por último, cabe ressaltar que não há nenhum dispositivo no CTN que depende a interpretação da legislação tributária em favor do fisco. 1mR�FDLD�QHVVD�³SHJDGLQKD´. 4.4.3 ± Utilização dos Princípios Gerais do Direito Privado Já estudamos que o Direito Tributário é ramo do Direito Público. Não obstante tal fato, percebe-se que há estreita relação do Direito Tributário com o Direito Privado e seus princípios e conceitos. Assim, para fins de incidência do ITCMD e do ITBI, por exemplo, utilizam-se, respectivamente, os conceitos de doação e venda, estipulados no Direito Privado. Muitas das vezes em que tais conceitos são utilizados no âmbito do Direito Tributário, o legislador não define os define. Nesses casos, o intérprete da legislação deve se socorrer aos princípios de onde os conceitos se originaram, que é o Direito Privado. Por esse motivo, foi previsto no art. 109 do CTN o seguinte: Art. 109. Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa da definição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas, mas não para definição dos respectivos efeitos tributários. Note que o CTN estabeleceu que os princípios gerais do Direito Privado, embora sejam utilizados para explicar os referidos conceitos, não podem ser utilizados para definir efeitos tributários, tarefa que cabe às leis tributárias. O que seria essa definição de efeitos tributários? Vamos exemplificar com os mesmos impostos citados acima: ITCMD e ITBI. Sabe-se que o ITCMD incide sobre as transmissões a título gratuito,e o ITBI, sobre transmissões onerosas. Vamos supor que o ITCMD seja mais oneroso do que o ITBI. Nesse sentido, imaginemos que certo cidadão decida doar um imóvel ao seu filho. Sabendo da incidência mais onerosa do ITCMD, ambos celebram um Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 05 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 41 de 45 Ora, quando a CF/88, por exemplo, define que os Municípios possuem competência tributária para instituir IPTU sobre os bens imóveis, não seria razoável que tais entes, com o objetivo de ampliar a sua competência, definissem que são bens imóveis as embarcações. Se isso fosse permitido, os entes federados seriam capazes de subverter a intenção do legislador constituinte, ao definir os limites da competência tributária de cada ente federado. Seguindo essa linha de entendimento, a interpretação a contrariu sensu do art. 110 do CTN permite inferir que os institutos, conceitos e formas de Direito Privado não previstos na CF/88 podem ser alterados pela legislação tributária. Temos, como exemplo previsto na legislação tributária federal, a equiparação das pessoas físicas à pessoa jurídica, como é o caso das empresas individuais. Ou seja, há extensão (ou alteração) do conceito de pessoa jurídica, por meio da equiparação. 5 - INTEGRAÇÃO DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA É evidente que há, no Sistema Tributário Nacional, uma infinidade de normas regulando as relações jurídico-tributárias estabelecidas entre o Fisco e os contribuintes. Contudo, obviamente, nem todas as situações possíveis de ocorrerem no mundo concreto foram previstas abstratamente nas leis. É nesse ponto que surgem as lacunas deixadas pelo legislador. Diante do exposto, pergunto: pode o aplicador da lei (o juiz ou a autoridade fiscal) deixar de solucionar o caso concreto, alegando que não há lei que regule especificamente aquela situação? É claro que não. Amigo(a), o DSOLFDGRU�WHP�TXH�³GDU�XP�MHLWR´� ³&RPR�VH�ID]�LVVR"´ Deve-se suprir a lacuna da lei, utilizando-se a técnica prevista na própria lei, denominada integração. Trata-se de criar uma solução para casos ainda não previstos na lei. Diz-se que a integração tem efeito constitutivo das leis. Note bem a distinção entre interpretação e integração: Direito Tributário para XXIII Exame da OAB Curso de Teoria e Questões Prof. Fábio Dutra- Aula 05 Prof. Fábio Dutra www.estrategiaconcursos.com.br Página 43 de 45 respeitar a ordem das modalidades de integração, conforme disposto no art. 108 do CTN. Vejamos o que significa cada uma das modalidades de integração previstas no texto do CTN. De início, surge a analogia, pautada no princípio da isonomia, que tem por objetivo encontrar norma jurídica que se aplique a casos semelhantes ao que não foi previsto. Busca-se por normas que são aplicáveis a casos similares, partindo-se do pressuposto de que o legislador, se houvesse oportunidade, legislaria de igual maneira para o caso apresentado. Caso não tenha sido possível encontrar casos similares, parte-se para a próxima modalidade de integração, que prevê o uso dos princípios gerais de Direito Tributário. Quais seriam esses princípios? Como exemplo, podemos citar a capacidade contributiva, o não confisco, a não limitação ao tráfego de pessoas e bens etc. Após essa modalidade, o terceiro método de integração prevê a ampliação do leque dos princípios gerais a serem utilizados, abrangendo todos aqueles pertencentes ao Direito Público. Cite-se, como exemplo, o contraditório e a ampla defesa. Por último, o aplicador, caso não consiga enquadrar o caso desprovido de normatividade a nenhuma das modalidades acima explicadas, deve criar a solução que considere mais justa. Assim, o conceito de equidade está intimamente relacionado à justiça. Para facilitar a memorização da sequência das técnicas, observe que a discricionariedade do aplicador da lei aumenta à medida que se parte para a SUy[LPD�³HWDSD´��5HSDUH�TXH�QD�DQDORJLD��D�EXVFD�p�SHOD�SUHYLVmR�OHJDO�GH�XP� caso semelhante ± muito próximo. Não há discricionariedade na escolha das modalidades de integração, sendo necessário obedecer a ordem prevista no art. 108 do CTN. Posteriormente, o aplicador tem a possibilidade de aplicar os princípios do Direito Tributário e, mais adiante, os postulados do Direito Público, que são, evidentemente, mais genéricos do que os primeiros. Por fim, parte-se para a solução mais justa. Vistos todos esses conceitos, devemos ainda atentar para a observação que foi feita nos parágrafos do art. 108, relativamente à analogia e à equidade.
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