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Medo de envelhecer ou de parecer

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GERONTOLOGIA
v. 10 – n. 2
São Paulo
dez., 2007
GERONTOLOGIA
v. 10 – n. 2
revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 1-267
ISSN 1516-2567
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Reitora Nadir Gouvêa Kfouri/PUC-SP“
Revista Kairós : gerontologia / Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento. Programa de Estudos 
Pós-Graduados em Gerontologia – PUC-SP. Ano 1, n. 1 (1998) – São Paulo : EDUC, 1998-
Anual até 2000
Semestral a partir de 2001 (v. 4, n. 1)
Cadernos Temáticos: Estética e envelhecimento (2002); Psicogerontologia: contribuições da psicanálise 
ao envelhecimento (2002); Memória Viva-Cidadania Ativa (2005).
ISSN 1516-2567
1. Gerontologia – Periódicos. I. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Núcleo de Estudo e Pesquisa 
do Envelhecimento (NEPE). Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia.
CDD 618.97005
Publicação do Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia – PUC-SP
Indexada no Index Psi Periódicos (www.bvs-psi.org.br); na base de dados LILACS – Literatura Latino- 
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde/BIREME e na base de dados em Ciências Sociais e Humani-
dades CLASE (UNAM – México).
Editoras Responsáveis
Beltrina Côrte e Suzana A. Rocha Medeiros
Editora Assistente
Vera T. Brandão
Secretária
Maria Bernadete Maciel Correia
Conselho
Alexandre Kalache (Ageing and Life Course Noncommunicable Diseases Prevention and Health Promotion 
(NPH) World Health Organization, Geneva), Andre Chevance (Université de Picardie Jules Verne/Faculté 
de Philosophie Sciences Humaines et Sociales), Anita Liberalesso Neri (Unicamp), Diana Singer (Universi-
dad Maimónides/Argentina), Ecléa Bosi (USP), Edvaldo Souza Couto (UFBA), Jack Messy (Université Paris 
12/França), José Ferreira-Alves (Universidade do Minho/Portugal), Maria de Lurdes Quaresma (Gerontologia 
Social do ISSSL/Portugal), Marília Smith (Unifesp/EPM), Nara Costa Rodrigues (ANG), Sára Nigri Goldman 
(UFRJ), Sergio Antonio Carlos (UFRS), Teresinha da Silva (Harvard University), Vani Moreira Kenski (USP), 
Verónica Montes de Oca (Instituto de Investigaciones Sociales/México)
Pareceristas
Adriana Frohlich Mercadante (UF do Paraná), Amparo Caridade (Unicap/PE), Ana Maria Ramos Sanchez Varella 
(Unip/SP), Ângela Machado (USP/SP), Célia Pereira Caldas (UnATI/RJ), Delia Catullo Goldfarb (Cogeae/SP), 
Deusivania Vieira da Silva Falcão (USP/SP), Edvaldo Souza Couto (UFBA/BA), Elisabeth F. Mercadante (PUC/SP), 
Eucenir Fredini Rocha (USP/SP), Jacy Marcondes Duarte (UNISA/SP), Leila Marrach Basto de Albuquerque 
(Unesp/Rio Claro), Liliana Souza (UA/Portugal), Marcia Pontes Mendonça (UFSC/SP), Maria das Graças Leal 
(Sedes Sapientiae/SP), Maria Helena Villas Boas Concone (PUC/SP), Marisa Pereira Gonçalves (UnB/DF), Nadia 
Dumara Ruiz Silveira (PUC/SP), Otávio de Tolêdo Nóbrega (UCB/DF), Pedro Celso Campos (Unesp/Bauru), 
Ricardo Iacub (Universidade de Buenos Aires/Argentina), Rosa Helena Porto Gusmão (FEMB/PA), Rosa Maria 
da Exaltação Coutrim (UFOP/PE), Rosana Soares Lima (USP/SP), Roseli Vasconcelos (Uniban/SP), Ruth G. 
da Costa Lopes (PUC/SP), Sergio Antonio Carlos (UFRGS/RS), Silvana Tótora (PUC/SP), Suzana A. Rocha 
Medeiros (PUC/SP), Tomiko Born (SBGG), Ursula Karsch (PUC/SP), Vânia Gico (UFRN/RN), Vera Lúcia dos 
Santos Alves (Santa Casa/SP), Vicente Faleiros (UCB/DF), Virginia Viguera (FHCE-UNLP/Argentina), Vitória 
Kachar (IMES/ABC), Wania Regina Lima (UFP/Portugal), Wilson Madeira Filho (UFF/RJ)
EDUC – Editora da PUC-SP
Direção
Miguel Chaia
Coordenação Editorial
Sonia Montone
Revisão de Textos em Português
Sonia Rangel
Revisão de Textos em Inglês
Carolina Siqueira M. Ventura
Editoração Eletrônica
Waldir Antonio Alves
William Martins
Capa
Sara Rosa
Secretário
Ronaldo Decicino
Rua Monte Alegre, 971 – sala 38CA
05014-001 – São Paulo – SP
Tel./Fax: (11) 3670-8085
E-mail: educ@pucsp.br
Site: www.pucsp.br/educ
A revista Kairós, surgida em 1998, é o resultado da dedicação e do empenho 
de um grupo de pesquisadores ligados ao Núcleo de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento 
(Nepe) e ao Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia, da PUC-SP, com 
o objetivo de publicar estudos relacionados ao tema envelhecimento.
Ela funda-se na interdisciplinaridade, pretendendo romper com concepções 
estereotipadas e fragmentadas. Seu propósito primordial concentra-se na busca de uma 
visão de síntese, considerando a velhice como totalidade.
Pretende ser um veículo de divulgação de um novo saber relativo ao processo de 
envelhecimento e da velhice e está aberta à participação de todos os estudiosos que, com 
suas reflexões, ajudem a superar a carga pejorativa que tem acompanhado essa etapa 
da vida humana.
O nome dado à revista é uma homenagem ao professor Joel Martins, que demons-
trou com sua vida que o ser humano pode sempre se desenvolver. Que não somos apenas 
Cronos, um tempo determinado, mas Kairós, energia acumulada pelas experiências 
vividas.
Em 2001, a revista, que era anual, passa a ser semestral e, a partir de então, 
toda edição lançada em junho ganha uma apresentação editorial diferenciada, uma 
vez que sempre será a socialização dos resultados obtidos, sistematizados e impressos das 
Semanas de Gerontologia, eventos realizados anualmente pelo próprio Programa e que 
fazem parte de um novo método de trabalho acadêmico, a partir da troca de idéias e a 
permanência da crítica intelectual ante os desafios que nos impõe a longevidade. 
Portanto, um dos números, sempre o ímpar (n. 1), da revista, que tem a intenção 
de resgatar e atualizar o papel da teoria a partir de debates, mesas-redondas, depoi-
mentos, histórias de vida, etc., em uma perspectiva interdisciplinar, terá um formato 
editorial diferente, não diferindo, contudo, no plano da preocupação teórico-intelectual 
das revistas científicas em Ciências Humanas, que incluem artigos, pesquisas, resenhas, 
como se enquadra a edição número par da Revista Kairós.
Revista Kairós
Caderno Kairós
O Caderno Temático da revista Kairós é mais uma modalidade de apresentação 
dos trabalhos desenvolvidos no Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia, 
da PUC-SP. Ele nasce com a intenção de ser um veículo de fácil circulação, ágil e de 
leituras temáticas, buscando refletir sobre as múltiplas dimensões do envelhecimento e 
da velhice vivida.
Longe de representar qualquer solução de continuidade ante o perfil já consagrado 
da revista, o lançamento de edições centradas na análise e reflexão de temas específicos é 
uma resposta, do Programa, às demandas explicitadas, em várias ocasiões, por alunos, 
professores e por muitos dos que participam das atividades promovidas pelo Nepe.
Dentre os objetivos dos números temáticos, ocupa lugar central a socialização dos 
exercícios interdisciplinares realizados por diversas atividades do Programa, alicerçados 
em três dimensões da existência humana – Família, Comunidade e Estado. Espaços 
especialmente ricos, criativos e estimulantes que buscam a edificação de um novo saber 
sobre a velhice e o processo de envelhecimento. Exercícios que vêm perseguindo, ao longo do 
tempo, a difícil tarefa de promover a superação das tradicionais fronteiras que separam 
e isolam os saberes específicos.
Por isso, os artigos reunidos em cada número do Caderno Temático da revista 
Kairós devem ser pensados como parte de um movimento que, estreitamente afinado 
às diretrizes que norteiam o Programa de Estudos Pós-Graduados em Gerontologia, 
orienta-se na e pela construção de um pensamento complexo. De um pensamento que, 
em nome da recomposição do todo, sabe, como bem salientou Edgar Morin, que não é 
nem onisciente, nem completo, nem certo; que é sempre local, situado que está em um 
tempo e um lugar.
As opiniões emitidas não expressam necessariamente a posição da revista/caderno. 
Reprodução permitida desde que citada a fonte.
Política editorialA revista Kairós tem se consolidado como um veículo de divulgação de 
um novo saber relativo ao processo de envelhecimento, promovendo uma outra 
percepção da velhice, a qual procura entender o sentido dessa etapa da vida 
humana muito além das fronteiras da biologia, da genética e da fisiologia.
A proposta editorial da revista/caderno temático Kairós funda-se, 
portanto, na interdisciplinaridade a partir da troca de idéias e do exercício da 
crítica intelectual ante os desafios que nos impõe a velhice como totalidade 
e a longevidade, concentrando-se na busca de uma visão de síntese, uma vez 
que se orienta na e pela construção de um pensamento complexo.
A publicação periódica de artigos que trazem o universo novo de co-
nhecimento gestado pela Gerontologia e que fazem uma reflexão sobre essas 
etapas da existência humana tem resgatado e atualizado o papel da teoria a 
partir de debates, mesas-redondas, depoimentos, histórias de vida, relatos, 
além de artigos, pesquisas e resenhas.
Editorial 9
revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 1-267
Sumário
Editorial ......................................................................................13
Artigos (Articles)
Medo de envelhecer ou de parecer? ...............................................19
(Fear of growing old or of looking old?)
 Maria Helena Villas Bôas Concone
Um breve ensaio sobre a aceitação da beleza 
na efemeridade dos corpos ...........................................................45
(A brief essay on the acceptance of beauty 
in the ephemeralness of the bodies) 
 Marilda Silveira Lopes, Rodrigo Caetano Arantes e 
Ruth Gelehrter da Costa Lopes 
Verdejar-envelhecer: que combinação é essa? ................................63
(Turning green – aging: what combination is this?)
 Adriana Barin de Azevedo e Ricardo Niquetti
Imagens cinematográficas da velhice: 
um enfoque gerontológico ...........................................................75
(Movie images of old age: a gerontological approach)
 Denise Mendonça de Melo, Fabiana Regina Chinaglia 
 de Freitas Di Nucci e Paula Casalini Domingues 
10 Editorial
revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 1-267
A velhice não contemplada: invisibilidade das demandas 
sociais da pessoa idosa em Fernando de Noronha – 
Nordeste do Brasil .......................................................................91
(The invisibility of the social demands of the elderly in 
Fernando de Noronha – Northeast of Brazil)
 Sálvea de Oliveira Campelo e Paiva, Eduardo Maia Freese 
de Carvalho e Carlos Feitosa Luna
Conselhos de Representação: espaços para os idosos 
se organizarem na defesa de seus direitos ....................................107
(Representation Councils: spaces for the social organization 
of the elderly in the defense of their rights)
 Márcia Aparecida Fraga Bernardes
Educação permanente na atenção à saúde de idosos ....................123
(Permanent education in the care of aged patients)
 Maria Cristina Pedro Biz e José Antonio Maia 
Formador de formador: características educacionais 
e profissionais de acadêmicos que ensinam na formação 
continuada stricto sensu em Gerontologia no Brasil ......................135
(Teacher of educators: The educational and professional 
characteristics of academics teaching post-graduate courses 
on gerontology in Brazil)
 Tereza Lins
O impacto da informática na vida do idoso ................................153
(The impact of information technology on the life of the elderly)
 Rosana Alfinito Kreis, Vicente Paulo Alves, 
Carmen Jansen Cárdenas e Margô Gomes de Oliveira Karnikowski 
Lazer e tempo livre na “terceira idade”: potencialidades 
e limites no trabalho social com idosos .......................................169
(Leisure and free time in “third age”: potentialities 
and limits in the social work with aged people)
 Solange Maria Teixeira
Editorial 11
revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 1-267
Implicações psicossociais do envelhecimento: o caso da cirurgia 
de revascularização do miocárdio em mulheres idosas .................189
(Psychosocial Implications of Aging: the case of myocardial 
revascularization surgery on aged women) 
 Patrícia Fonseca Caetano da Silva e Célia Pereira Caldas
Perfil clínico-demográfico dos pacientes inseridos em um 
programa de assistência domiciliária no município de São Paulo ....205
(Clinical and demographic profile of patients assisted by 
a homecare program in the city of São Paulo)
 Carina Corrêa Bastos, Naira Dutra Lemos e Andréia Nóbrega Mello 
Qualidade de vida em um grupo de idosos de Veranópolis ..........225
(Quality of life in a group of elderly people from Veranópolis)
 Waleska P. Farenzena, Irani de L. Argimon, Emílio Moriguchi e 
Mirna W. Portuguez 
A importância do bom funcionamento do sistema mastigatório 
para o processo digestivo dos idosos ...........................................245
(The importance of the good functioning of the masticatory 
system for the digestive process of the elderly)
 Fernando Luiz Brunetti Montenegro, Leonardo Marchini, 
Ruy Fonseca Brunetti e Carlos Eduardo Manetta
 
Resenha (Review)
A roda da vida ...........................................................................259
(The wheel of life)
 Lenina Lopes Soares Silva
Normas para publicação ............................................................265
Editorial 13
revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 13-17
Editorial
Organizar uma edição é sempre tarefa árdua. Primeiro, poucos 
são os editores científicos (raríssimos) remunerados para executar tal 
trabalho. Segundo, separar um tempo (e que tempo) para isso, entre 
orientações, aulas, casa e filhos (especialmente as mulheres), não é fácil. 
Fins de semana, feriados e muitas noites devoram esse fazer. Tudo por 
amor à ciência. No caso, à Gerontologia, que tem no Brasil raríssimas 
publicações. E que devoção! Organizar uma revista científica conta pou-
co ou quase nada para a produção individual do pesquisador/editor. 
Assumido o trabalho (quase sempre solitário) de edição, o editor 
fica às voltas com vários artigos. Muitos não entram por problemas de 
espaço e de prioridade, outros, por questão de qualidade. Todos querem 
publicar, pois hoje essa produção é muito valorizada no meio acadêmi-
co. Apesar das dificuldades esta é uma etapa enriquecedora, quando 
e-mails vão e voltam entre pareceristas, editores e autores, na tentativa 
de sempre melhorar o texto, de torná-lo mais compreensível, completo 
e agradável. Uma vez selecionados os artigos, passa-se à outra fase, 
organizando-os em uma ordem de leitura. Qual deles colocar em primei-
ro lugar? Como traçar um caminho a ser percorrido pelos leitores? Essa 
é uma empreitada difícil, uma vez que, ao se falar em envelhecimento e 
velhice, tudo parece ser prioritário. Mas não dá para pensar muito, pois 
os prazos de gráfica e editora pressionam. Como fazer? Nesta edição, 
os artigos foram organizados por temas afins.
14 Editorial
revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 13-17
É assim que abrem a revista as reflexões de uma antropóloga 
que envelhece e rejeita cada vez mais as secas reflexões que parecem 
colocar o ser humano sob um microscópio, como se não fizéssemos 
parte daquilo que analisamos. Trata-se do artigo intitulado “Medo de 
envelhecer ou de parecer?” Nele a autora tece considerações sobre o 
medo do envelhecer apoiadas em experiências, conversas e crônicas, 
embora não exclusivamente, para depois buscar uma abordagem mais 
acadêmica, mas que complete, uma vez que mergulho e descolamento 
são complementares. 
Reflexão que, em “Verdejar-envelhecer: que combinação é essa?”, 
discorre sobre o envelhecimento como acontecimento em cujo contexto 
a velhiceé traçada a partir de uma noção de envelhecer associada à de 
verdejar, a qual propicia meios de criar saúde na produção de diferentes 
modos de vida. Como é o caso de “Um breve ensaio sobre a aceitação 
da beleza na efemeridade dos corpos”, texto que identifica a relação 
entre a beleza corporal e a longevidade por meio dos paradigmas que 
ligam o culto do corpo e a estética da beleza nas relações sociais. Nessa 
perspectiva, a opinião dos idosos é essencial para uma compreensão do 
significado da beleza nesse momento de suas vidas.
Não só. O significado da velhice pode ser dado também pela 
conjugação do conhecimento gerontológico com as influências cultu-
rais da produção cinematográfica, articulando as diversas facetas do 
envelhecimento humano na complexidade de seus aspectos biológicos, 
psicológicos e sociais. É o que trata o artigo “Imagens cinematográficas 
da velhice: um enfoque gerontológico”, tendo como referencial as teorias 
life-span e life-course, com a exposição imagética da velhice, no início do 
século XXI, por meio do filme Lições para toda vida. 
Não devemos falar em velhice, mas em velhices. E é delas que 
trata o texto “A velhice não contemplada: invisibilidade das deman-
das sociais da pessoa idosa em Fernando de Noronha – Nordeste do 
Brasil”. O artigo apresenta informações epidemiológicas e reflexões 
sobre os padrões e as desigualdades no processo de envelhecimento 
com base em uma pesquisa e uma leitura crítica, analisando o Índice 
de Desenvolvimento Humano (IDH), a prevalência de déficit cogni-
Editorial 15
revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 13-17
tivo, as taxas de envelhecimento e condições de vida encontradas na 
ilha. Tópicos que reforçam o tom de invisibilidade e negligência das 
demandas sociais do segmento mais velho da população no conteúdo 
das políticas públicas do país. 
Bases fundamentais para o surgimento de organizações sociais 
que fortalecerão o segmento, destacando o grande valor dos Conselhos 
de Representação como espaços de participação e mobilização do idoso 
na defesa de seus direitos. Por isso, o artigo “Conselhos de Representa-
ção: espaços para os idosos se organizarem na defesa de seus direitos” 
observa as normas jurídicas no Estado Democrático de Direito, que têm, 
entre outros objetivos, regular o convívio social, estabelecer obrigações 
e direitos no relacionamento interpessoal e na relação das pessoas com 
o Estado. Independentemente do seu conteúdo, a aplicação efetiva das 
normas jurídicas é que vai determinar seu alcance, sua relevância. 
Já o artigo “Educação permanente na atenção à saúde de ido-
sos” discute a formação de profissionais na atenção à saúde do idoso. 
Com base na escuta de gestores da saúde e na análise dos dados con-
frontados com a literatura, evidenciaram-se dois eixos norteadores: 
qualidade de vida e competência profissional. A inter-relação dos 
dois eixos pode constituir uma estratégia operacional de capacitação 
profissional permanente.
É o que, em certa medida, o artigo “Formador de formador: 
características educacionais e profissionais de acadêmicos que ensinam 
na formação continuada stricto sensu em Gerontologia no Brasil” procura 
analisar. Esse estudo apresenta resultados de pesquisa realizada sobre o 
perfil do formador de formadores da formação continuada em Geronto-
logia no Brasil, com base em dados de acervo documental. Os resultados 
mostram que os formadores de formadores apresentam muitas caracte-
rísticas em comum e que, no Brasil, há indícios de um “perfil-tipo” do 
formador de profissionais educadores de adultos maiores, que ensinam 
nos cursos de Gerontologia stricto sensu. Cursos que têm como propó-
sito final atingir as pessoas idosas, grupo emergente obrigado a lidar 
diariamente com a proliferação das tecnologias comunicacionais. Daí o 
interesse em saber qual é “O impacto da informática na vida do idoso”. 
16 Editorial
revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 13-17
Esse texto aborda as transformações das tecnologias de comunicação e 
de informação, uma vez que elas têm despertado um grande interesse 
entre os idosos quanto ao aprendizado, especialmente da informática, 
considerando os benefícios que pode oferecer às suas vidas. 
Muitas vezes, esse aprendizado se dá na ocupação do tempo livre 
ou como simples lazer, como abordado no artigo “Lazer e tempo livre na 
‘terceira idade’: potencialidades e limites no trabalho social com idosos”, 
apresenta uma crítica aos programas dirigidos à terceira idade que visam 
a ocupação do tempo livre com atividades de lazer e recreação com base 
nas crítica aos fundamentos teóricos e ideológicos que os orientam e de 
onde emanam as potencialidades no trabalho social com idosos.
A compreensão dos significados e impactos da intervenção cirúr-
gica também faz parte desta edição, que procura também identificar 
as “Implicações psicossociais do envelhecimento: o caso da cirurgia de 
revascularização do miocárdio em mulheres idosas”. Com base em 
uma revisão da literatura científica, esse texto contribui para um co-
nhecimento que objetiva a promoção de condições para o tratamento 
de idosas que necessitam realizar essa complexa cirurgia. 
Procura-se também identificar as características clínicas e demo-
gráficas de pacientes inseridos no Programa de Assistência Domiciliar 
ao Idoso (PADI), discutido no artigo “Perfil clínico-demográfico dos 
pacientes inseridos em um programa de assistência domiciliária no 
município de São Paulo”, por meio de um estudo transversal descriti-
vo feito mediante um questionário baseado no material de avaliação 
multiprofissional inicial do programa. 
São estudos que procuram verificar também o bem-estar do 
segmento idoso, como é o caso do artigo “Qualidade de vida em um 
grupo de idosos de Veranópolis”, o qual, por meio do WHOQOL-Bref, 
avaliou um grupo e seus resultados apontaram ter ele boa qualidade 
de vida por realizar atividades de lazer, não utilizar medicação diária 
e estar livre de sintomas depressivos. E, por último, esta edição assi-
nala “A importância do bom funcionamento do sistema mastigatório 
para o processo digestivo dos idosos”, fazendo uma correlação entre a 
importância da boa função dentária e sua capacidade na ingestão de 
Editorial 17
revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 13-17
nutrientes-chave, de vital necessidade para o estado de saúde geral 
que permitirá ao idoso enfrentar as prováveis vicissitudes da terceira 
idade. 
Encerramos este número com a resenha “A roda da vida”, pois 
pensar a vida como uma roda é, com certeza, refletir sobre a circularidade 
dos movimentos das pessoas vivas, em especial daquelas que ficaram 
vivificadas em nossa memória e, de certa forma, compreender a vida 
como uma travessia entre o nascimento e a morte, sem que esta última 
signifique um fim. É nesse sentido que a médica psiquiatra Elisabeth 
Kübler-Ross (1926- 2004), suíça radicada nos Estados Unidos traduz 
sua vida na autobiografia intitulada A roda da vida: memórias do viver 
e do morrer. 
Memórias que, certamente, percorremos cotidianamente e traça-
mos no nosso processo de envelhecer. Como cada um de nós a trilhará é 
outra história, que contaremos no próximo número. Não deixe de ler!
Beltrina Côrte
Suzana A. Rocha Medeiros 
Vera Brandão
 
revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 19-44
Medo de envelhecer ou de parecer?
Maria Helena Villas Bôas Concone1
RESUMO: com base em reflexões de uma antropóloga que envelhece e rejeita 
cada vez mais as secas reflexões que parecem nos colocar sob um microscópio, 
como se não fizéssemos parte daquilo que analisamos, este artigo tece considera-
ções sobre o medo do envelhecer apoiadas em experiências, conversas e crônicas, 
embora não exclusivamente, para depois buscar uma abordagem complementar, 
mais acadêmica. Momento de mergulho/deslocamento.Palavras-chave: medo; envelhecer; parecer.
ABSTRACT: Based on reflections of an anthropologist who is growing old and rejects 
the arid reflections that seem to put us under a microscope, as if we were not part of what 
we analyze, this article discusses the fear of growing old based on experiences, conversations 
and narratives. Then, it searches for an academic approach that can complete the author’s 
ideas on the subject, as immersing and distancing oneself are complementary actions.
Keywords: fear; to grow old; to look old.
Dividi este artigo em três tópicos. Começo com algumas consi-
derações menos comprometidas com referências bibliográficas e mais 
apoiadas em experiências, conversas e crônicas, embora não exclusiva-
mente. No segundo e no terceiro tópicos buscarei uma abordagem mais 
acadêmica. Mas são partes que se completam, mergulho e descolamento 
são complementares. Rejeito cada vez mais as reflexões secas que pa-
recem nos colocar sob um microscópio, como se não fizéssemos parte 
1 Agradeço aos alunos da minha classe do Pós em Gerontologia, de 2007, pelas 
contribuições ao texto.
20 Maria Helena Villas Bôas Concone
revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 19-44
daquilo que analisamos. Vejo a antropologia, que enriqueceu minha vida 
intelectual e pessoal, como ciência, busca de interpretação, disciplina e 
forma de pensar, instrumento que ajuda a refletir e viver. Se as nossas 
opções intelectuais ou acadêmicas se mantiverem apenas nesse nível, 
isoladas do cotidiano, serão opções de superfície, estéreis.
Desse modo, quero justificar a forma deste texto e avisar que não 
se trata, ou não se trata exclusivamente, de uma reflexão antropológica 
sobre o envelhecimento, mas sim de reflexões de uma antropóloga que 
envelhece. 
Medo de envelhecer
Um pequeno evento recente pode servir de ponto de partida 
para algumas ponderações. 
Na nossa Universidade, como em muitas outras, há os famosos 
cursos para a terceira idade. Dois dias na semana, os elevadores lotam 
de senhoras (sobretudo elas) de várias idades e formas, bem arrumadas, 
cabelos azuis, unhas feitas. Entram e lotam, adonando-se, visivelmente 
alegres, dos espaços universitários, para irritação mal contida, quando 
não sarcástica, dos usuários habituais. Em um desses dias, num horário 
tranqüilo, estava eu no elevador, quando entraram duas mulheres: uma 
jovem, evidentemente aluna, e outra nem tanto, professora da área de 
pós-graduação. Esta última entrou comentando com desaprovação a 
questão dos elevadores lotados pela “turma da terceira idade”. Disse 
então (talvez numa meia desculpa): “Resolvi ser solidária e ceder lugar, 
porque afinal mais um pouco eu também estarei lá”. Sem dúvida, seu 
pertencimento não parecia nada distante.
Essa postura, evidentemente, não é privilégio das universidades. 
Ouvi de uma mulher, empregada doméstica, que declarava orgulhosa 
seus insuspeitados 54 anos, reclamação equivalente: “Por que essa ter-
ceira idade não toma ônibus em outro horário? Por que ‘os velhinhos’ 
vão no horário de ônibus cheio, quando a gente tá cansada?”
O que esses episódios cotidianos podem revelar?
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Primeiro, que “velho” ou “da terceira idade” é o outro; nos casos 
acima, é aquele outro “fora do lugar”, que ocupa “os nossos espaços”, 
que incomoda. 
Ora, é inegável que os idosos estão na universidade porque esta – 
por numerosas razões – abriu a eles seus espaços. Por princípio, têm 
tanto direito de estar lá quanto qualquer outro aluno. Por que então 
nos incomodam tanto? É inegável também o direito de qualquer pessoa 
tomar o ônibus no horário que for necessário; é pouco provável que “os 
velhinhos” escolhessem propositalmente o horário do rush para tomar o 
ônibus. Mas, e se fosse esse o caso? Poderíamos estranhar a preferência, 
mas nunca negar o direito de ir e vir (no caso, provavelmente, com 
desconforto semelhante ao dos demais). Por que seriam “os velhinhos” 
mais responsáveis que outros passageiros pelo ônibus lotado? O que 
nos incomoda? Seguramente, não é a eventualidade de ter que ceder 
lugar; isso praticamente não acontece.
Comentando esses fatos com uma gerontóloga, ela devolveu 
retoricamente a pergunta – “o que nos incomoda tanto?” – e respondeu 
ela mesma: “Creio que é medo da morte”.
Em outras palavras, a presença de idosos “nos nossos espaços” 
nos confrontaria com a passagem do tempo para nós próprios, nos 
obrigaria a encarar nossa fragilidade e nossa finitude.
A morte atemoriza-nos e a passagem dos anos aproxima-nos 
dela. Parafraseando Marx, estamos habituados a pensar (ou teorizar) 
sobre a “morte em si”, dificilmente sobre a morte “para si”. Negar o 
idoso de carne e osso seria negar a finitude.
De carne e osso porque o “idoso idealizado” é objeto de respeito, 
“pela sabedoria acumulada”, pela “experiência”, pela “memória”. A 
idealização do idoso é a contrapartida e o reforço da negação de fato. 
Nessa linha de idealização respeitosa jamais entraria em consideração 
que um idoso no ônibus na hora do rush pudesse ser, por exemplo, um 
“velho batedor de carteiras”... Por quê? Porque parece um contra-senso. 
Afinal é um idoso, por definição indefeso e “bom”. No idoso de carne 
e osso, entretanto, a sabedoria é relativa, a experiência ultrapassada, a 
memória repetitiva e a bondade cansativa ou inexistente.
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Creio que, realmente, o medo da morte deva ser um aspecto 
de especial preocupação do gerontólogo (para me limitar a esse pro-
fissional). De fato, a não ser em casos especiais (grupos com pacientes 
terminais), a morte não é assunto de discussão. Familiares, por exemplo, 
não costumam falar da morte ou raramente sentem-se aptos a tocar 
no assunto. Afinal, “não se fala em corda em casa de enforcado”... É 
preciso disfarçar, animar, “pôr para cima”.
Há, entretanto, outras razões para o temor do envelhecimento. 
Outras razões socioculturais. É dessas que quero falar mais à frente. 
Por agora, uma última excursão pela conhecida verdade de que “velho 
é o outro”.
Uma deliciosa crônica de Fernando Veríssimo no “Estadão” (10 
de setembro de 2006), começa assim: “O primeiro sinal foi quando uma 
senhora se levantou para me dar o lugar num ônibus”. Continua com o 
estranhamento do autor, que diz, mais adiante: “A partir daí, passei a 
notar que as pessoas me tratavam de um modo diferente.(...). Cheguei 
a desenvolver algumas teorias. (...) Finalmente, na semana passada, 
tudo se esclareceu”. Conta então que, no Rio, tendo tomado um táxi 
para ir do aeroporto ao hotel, o carro teve um problema e “parou na 
ensolarada Lagoa”; o motorista, pelo rádio, pediu ajuda a outro táxi e 
enfatizou a urgência da situação: “Estou aqui com um idoso debaixo 
do sol”: “Olhei em volta. Idoso? Onde estava o idoso? E então tive a 
revelação. O idoso era eu!” 
Essa crônica lembra história semelhante, contada com humor 
por uma professora amiga. Também nesse caso a revelação do “estado 
de idoso” veio dos outros. Todos nós, que chegamos no limiar da ve-
lhice (velhice, aliás, tem limiar?) já vivemos, num momento ou outro, 
“revelações” semelhantes: um braço não solicitado que nos apóia na 
escada, um lugar oferecido no ônibus (raro, mas pode acontecer) ou, 
finalmente, o indiscutível direito de usar “a fila dos idosos” (no banco, 
no supermercado ou onde quer que seja) indicada solicitamente por 
algum funcionário. Quantos de nós já não resistimos antes de se valer 
do indesejado “privilégio”?
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Depois de algumas considerações sobre a palavra idoso (“Curiosa 
palavra. O que acumulou idade... Se é que não significa alguém que está 
indo, alguém em processode ida. Em contraste com os que ficam, os 
ficosos”), Veríssimo termina a crônica dizendo: “Preciso começar a agir 
como um idoso. Dizem que entre eles idoso não fala em quem chega 
à velhice como alguém à beira do túmulo. Dizem que está na zona de 
rebaixamento. Vou ter que aprender o jargão da categoria”.
Velho é o outro, sem dúvida, pois o autor fala “deles”, não usa 
nós; ou, no mínimo, está negaceando, protelando, o que parece inevi-
tável: “mudar de categoria”. Morte aqui também está presente, seja na 
interpretação (“idoso” como contrário de “ficoso”), seja na brincadeira 
(jocosamente tratada como “zona de rebaixamento”). A jocosidade é 
também uma forma de exorcismo... 
A passagem do tempo, apontada pelos outros, colhe-nos de 
surpresa; parece abrupta e não processual. Há alguns anos, numa outra 
crônica, igualmente memorável, Mario Prata reclamava a necessidade 
de reconhecer um período de passagem: assim como reconhecemos o 
período de adolescência, como difícil ajuste entre a infância e a juventude, 
deveríamos reconhecer um período de “envelhescência” equivalente – a 
passagem da idade adulta para a senescência...
Nessas revelações há um desajuste, ou melhor, um descompasso 
entre Cronos e Kairós. Cronos como passagem do tempo marcada pelo 
acúmulo dos aniversários é detectada primeiro pelos outros (“Como en-
velheceu fulano! Como está acabada beltrana!”); nós mesmos envelhece-
mos conosco, nos acompanhamos, vivemos Kairós, enquanto deslizamos 
pelo tempo cronológico sem grandes rupturas; nos reconhecemos, a 
partir de dentro, sem saltos, de modo contínuo. O susto vem de fora. 
Hoje, cada vez mais, pode vir desse alter ego que é o espelho... que 
me compara comigo mesma. Reverso do retrato de Dorian Gray: não 
me reconheço no reflexo. Não sou eu. Não sou mais eu mesma. Talvez 
me reconheça de modo mais cabal nas fotos mais antigas... 
O sentimento kairós é forte, entretanto, e abre a possibilidade 
de uma avaliação atualizada, melhor, sempre renovada de si mesmo. 
Há pouco tempo, uma amiga na casa dos setenta me disse: “Não penso 
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em mim como velha, penso em mim como eu mesma; eu sou Fulana, 
em outra fase da vida e mais realizada hoje”. Ela é, aliás, uma mulher 
que completou o ensino médio depois dos 40, fez Universidade aos 50 
e no final dos seus 60 anos defendeu um mestrado. Depois disso, ao 
contrário da propalada queda inexorável marcada pelo envelhecimen-
to (o envelhecimento seria, então, literalmente caduco), essa mulher 
verdadeiramente desabrochou, pesquisando e escrevendo.
Exemplos semelhantes não são raros. Embora convivendo com 
a diversidade individual (e, evidentemente, sociocultural, da qual tra-
taremos mais além) do envelhecimento, há um generalizante modelo 
social de velho, altamente medicalizado, construído em oposição ao 
de jovem. É o que mostra Elisabeth Mercadante (para nos apoiarmos 
no seu competente estudo) quando discute a velhice como identidade 
estigmatizada: 
O conhecimento da existência de um modelo social amplo e 
geral de velho, presente no imaginário social, que se constrói 
pela contraposição à identidade de jovem, levou-nos a pensar 
sobre questões relativas à construção da identidade do idoso e 
de como essa mesma identidade é sentida e vivida por aqueles 
indivíduos classificados como velhos. (2003, p. 56) 
Ora, os indivíduos assim classificados, eles mesmos, buscam 
reconstruir as classificações gerais, nuançando-as e tecendo novas 
classificações capazes de conter diferenças e, eventualmente, livrá-los 
do estigma. Alguns depoimentos colhidos por aquela pesquisadora 
(pp. 58-59) e que tomo agora de empréstimo, ilustram esse processo.
 Para esses entrevistados (entre os 60 e os 80 e mais anos), ser 
velho significa:
“Ter perdido a energia física, mas ter ganho em experiência” 
(homem, 70 anos)
“Ficar sendo cuidado por outras pessoas” (mulher, 69)
“Ser fraco de corpo e forte de espírito” (homem, 68)
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“Ser velho é não ter mais saúde, é ser um esclerosado” 
(homem, 84)
“Ser velho é não ter mais lucidez” (mulher, 76)
“Ser velho é ficar doente e solitário” (homem, 63)
“Ficar cheio de rugas e depender dos outros é igual a velhice” 
(mulher, 69)
“Ser velho é perder a beleza, a de fora e a de dentro” (mulher, 
70 anos)
Como se pode notar nessas falas, colhidas ao acaso entre os de-
poimentos trazidos no trabalho acima citado, todos os entrevistados 
usam um claro marcador para a velhice. Se há falas que reconhecem 
algum ganho na passagem da idade (experiência, fortaleza de espírito), a 
maioria sinaliza as perdas (vividas direta ou indiretamente e, sobretudo, 
temidas). Paradoxalmente, são essas mesmas perdas, genericamente 
identificadas, que podem separar o sujeito enunciante dos “verdadeiros 
velhos” (não ter saúde e ser esclerosado, perder a autonomia, perder 
a beleza, perder a saúde, perder a memória, perder o senso). É como 
se essas falas dissessem que “ser velho é ser gagá, o que não é o meu 
caso”, “é ser dependente, o que também não é meu caso”, e assim por 
diante. As falas reconstroem as diferenças, repõem a individualidade. 
Como foram sublinhadas por Mercadante, elas indicam, enfim, que 
“velho é o outro”.
Há um esforço no sentido de escapar das generalizações e do 
estigma da velhice, esforço que aparece no discurso, nas ações (“man-
ter o corpo ativo e a mente alerta”), nos cuidados e, quando houver 
a possibilidade, na interferência direta sobre as marcas corporais (o 
crescimento da “cosmetologia” e das plásticas corretivas e estéticas é 
um indicador importante).2
2 Falar de cirurgias plásticas, recursos cosméticos e outros constitui ponto sensível. É 
evidente que não se pode “condenar” tais recursos ou quem a eles recorre. Trata-
se de recursos importantes para manter ou recuperar a auto-estima (para falar só 
desta). Não podemos esquecer que beleza sempre foi valorizada em toda e qualquer 
realidade sociocultural e, embora haja variações culturais dos padrões valorizados, 
alguns estudiosos apontam para certos traços universalmente considerados como 
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As considerações dos depoentes, na sua maioria, assinalam de 
fato características presentes no corpo como demarcadoras de idade 
(perda de beleza, rugas, doenças, dificuldade de movimentos, etc.). 
Nessas marcas, a perda da beleza (“do frescor” e “do viço”) aparece 
como elemento primordial. É de se notar, também, que o padrão de 
beleza implícito é o da juventude – beleza “perde-se”, não se admite 
a possibilidade de outros padrões ou de padrões alternativos; não há, 
para esse tópico, uma fala correspondente àquela que diz: “perde-se 
energia, mas ganha-se experiência”. 
O trabalho de Mercadante mostra, ainda, que os entrevistados 
relacionam imediatamente corpo doente e velhice. Tal fato não seria 
de admirar, dado que nosso modelo social de velho é fortemente bio-
médico. No que se refere a essa relação, entretanto, há ambigüidades 
quando tomada a ótica do próprio idoso – se a doença genericamente 
aponta para a velhice, esse não é o caso dos entrevistados, que vêm 
“suas” doenças, “somente como doenças” e não como algo relacionado 
à idade ou indicativas da sua própria condição de velhos.
sinais de beleza (rosto de proporções equilibradas, por exemplo, ou estatura masculina 
elevada) e que estariam relacionados à necessidades da reprodução da espécie (levando 
os indivíduos a acentuarem os indicadores do dimorfismo sexual, a buscarem sinais 
considerados como indicadores de virilidade ou de feminilidade, de saúde ou, ainda, 
de capacidade reprodutiva – quadris largos em mulheres, por exemplo). Esse é um 
campo complexo,que não pode ser abordado apenas da perspectiva biológica e do 
comportamento da espécie; exige uma abordagem que não perca tal complexidade 
(basta um olhar para os padrões conflitantes em uma mesma sociedade, na qual 
figuras andróginas convivem com a busca de acentuar o dimorfismo – implantes 
de silicone nos seios, por exemplo – ou a figura feminina longilínea, “tubo”, que se 
afasta do padrão “violão”). Esse será tema de outras reflexões. No momento, gostaría-
mos de reforçar a idéia de que, no que tange à velhice, o padrão de beleza continua 
sendo o de juventude e nesse sentido podemos assistir a algumas distorções: busca 
incessante de “retocar a juventude” (muitas vezes com riscos para a própria saúde, 
causados pelo número de cirurgias ou outros processos mais ou menos invasivos), 
produzindo máscaras constrangedoras; a depressão diante da perda do “viço juvenil”; 
a desvalorização de si; a desistência de buscar significados mais duradouros para a 
própria vida e assim por diante. 
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“Tenho uma artrite que me incomoda muito, mas ela já está co-
migo há muitos e muitos anos. Minha mãe sofria dessa mesma doença. 
Eu acho que herdei dela” (homem, 70 anos)
“Eu não tenho qualquer problema de doença. Não tenho coleste-
rol, nada na urina e nada também no fígado. Talvez só um pouquinho 
de reumatismo que não relaciono com a minha idade” (homem, 65)
“Eu sou uma pessoa muito saudável, não tenho qualquer doença 
grave e as coisas que sinto e tenho de vez em quando, acho que acontecem 
por problemas que vivo no dia-a-dia” (mulher, 68). (Ibid., p. 59)
Há, pois, um reconhecimento implícito de que saúde e doença 
são “coisas próprias da vida”, independentes da idade: algumas doen-
ças ou afecções são percebidas como idiossincráticas (“está comigo há 
muitos anos”) ou familiares (“herdei da minha mãe”), são antes marcas 
individualizadoras e não classificatórias.3
Outro ponto que aparece bastante nos depoimentos citados (e que 
pode ser ouvido também em conversas informais) indica um horizonte 
temido: a perda da autonomia, a dependência dos outros. Há também 
aqui uma certa ambigüidade, pois, embora haja uma concepção mais ou 
menos implícita de que a dependência é um fato inescapável – “já que 
é própria ou ‘natural’ da velhice” – os sujeitos enunciantes procuram 
afastá-la de seu destino pessoal. De novo, a biografia familiar serve de 
anteparo: “meu pai morreu com mais de 80, lúcido e ativo”. Assim, 
a questão da “inescapabilidade” dessa condição (geralmente associada 
mais à “natureza biológica intrínseca à humanidade” e menos a uma 
construção sociocultural da velhice) pode, entretanto, admitir exceções 
das quais “eu e minha família somos um exemplo”.
Relacionado a esse temor da dependência, o medo da solidão ex-
pressa-se também como decorrente de “um fato natural” e não social e 
3 Claro que falar em “traços familiares” como heranças genéticas já faz parte das 
concepções correntes, entrou para a linguagem comum; a mídia ajuda no sentido 
de uma certa vulgarização da perspectiva científica e biogenética. A discussão desses 
fatores exige reflexão específica. Por agora, quero apenas mostrar como padrões 
classificatórios podem ser travestidos em sinais individualizadores na fala de pessoas 
que ultrapassaram, ou quase, a marca dos 70 anos.
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cultural, como realmente é: ser velho é estar à margem, não ser querido 
por perto (o que seria “natural”). Como dizem alguns entrevistados da 
pesquisa citada, “ser velho é ficar doente e solitário”, “velho não é uma 
pessoa alegre, velho é recalcado”.
Discutindo o processo de medicalização do envelhecimento, que 
leva a uma concepção da velhice como “uma doença em si mesma”,4 o 
psicanalista argentino Ricardo Iacub, depois de várias considerações rela-
tivas às mudanças nas concepções de velhice na história do pensamento 
no mundo Ocidental, mostra o surgimento, a partir do século XIX, de 
mais uma limitação atribuída ao velho: a velhice é des-sexuada; nas suas 
palavras, a “mudança na percepção da velhice produziu o aparecimento 
de novos significados em sua erótica” (2007, p. 70). 
O autor aponta, no correr do período do século retrasado até 
nossos dias, noções que se modificam, mas se interligam: “As noções de 
vida e sexualidade começaram a ser ligadas de um modo determinante 
(sendo) a abstinência da sexualidade (vista como) um meio para evitar 
o envelhecimento”. Numa segunda articulação, percebe-se a “velhice 
como um retorno ao inorgânico”; haveria “um aumento da pulsão de 
morte devido às mudanças biológicas associadas à sexualidade (assim) 
concebeu-se o velho como um indivíduo carente de energia, que ao ir 
se retirando gradualmente deste mundo, favorecia o desenvolvimento 
da espécie humana”. Finalmente, um “conjunto de quadros patológicos 
definiram o desejo sexual referido à velhice e foi construída uma peculiar 
forma de perversão denominada ‘gerontofilia’” (ibid., p. 70).
Gerontofilia define, então, o interesse sexual pelo(a) velho(a) como 
patológico. No nosso meio social, sem fazer concessão a patologias, 
atribui-se imediatamente “segundas intenções” ou “interesses escusos” 
4 Não é possível, quando se aborda o tema da medicalização, deixar de fazer referência 
a um autor e a um livro seu poucas vezes lembrados. Trata-se de Ivan Illich, em A 
expropriação da saúde. Nêmesis da Medicina (Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1977). 
No preâmbulo do livro, o autor avisa: “Neste ensaio eu encaro a empresa médica 
como paradigma para ilustrar a instituição industrial”. Em que pesem as posições 
extremamente polêmicas (e sem dúvida datadas) e às vezes radicais, o uso alargado do 
conceito de iatrogênese e a análise da construção de uma “sociedade mórbida” graças 
ao processo crescente de medicalização merecem ser visitados ou revisitados.
Medo de envelhecer ou de parecer? 29
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àqueles que mantêm relações com pessoas “idosas” (ou que apresen-
tem diferenças etárias superiores ao esperado). Normalmente, julga-se 
haver por trás da relação um interesse financeiro. Até pouco tempo, 
aceitava-se com maior facilidade que homens mais velhos se casassem 
com mulheres jovens; era quase “natural”, embora a relação ficasse 
sempre sob suspeita, por parte de familiares e da sociedade em geral 
(mostra-se maior complacência quando a relação envolve homens mais 
velhos, porém considerados bonitos e famosos). Esse quadro demorou 
mais para ser aceito quando a parceria era entre homens mais jovens e 
mulheres “maduras”. Algumas situações contemporâneas envolvendo 
mulheres com amplo trânsito midiático parecem reverter em parte essa 
situação de desigualdade entre os gêneros (embora os casos de grande 
visibilidade sejam de mulheres famosas).
Patologia ou segundas intenções rondam aqueles que se apro-
ximam romanticamente de pessoas “velhas”. E os próprios velhos? 
Como são percebidos? “Tarado” ou “safado” são algumas das acusações 
possíveis; há também a acusação de trouxa e “velho babão”. Mulheres 
acima dos 70 causam ainda maior estranheza. Claramente, parece que, 
em qualquer caso, mas sobretudo para as mulheres, está-se diante 
de “herotismo fora do lugar”. A relação entre dois idosos (um novo 
casamento, por exemplo), quase sempre é tratada com complacência – 
a mesma que se mostraria para com duas crianças pequenas que se 
querem (Que gracinha! Que bonitinhos!).
Creio que pudemos perceber que há um temor ligado ao envelhe-
cimento, um medo de ser velho. Medo mais que justificado, dado que 
o envelhecimento é visto quase que exclusivamente como uma fase de 
perdas: perdas físicas, perdas sociais, perdas psíquicas, perdas afetivas. 
Não deixa de ser um horizontetenebroso que é necessário afastar.
Nesse sentido, a perspectiva antropológica pode nos ajudar a 
“desnaturalizar a velhice”, mostrá-la como uma construção sociocul-
tural e histórica. Cultural e socialmente variável no tempo e no espaço. 
Velhice e envelhecimento não foram e de fato não são vistos sempre 
da mesma maneira.
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Velhice e envelhecimento como construtos
A velhice como construto sociocultural e histórico constitui, 
assim, um ponto de importância na presente reflexão. Vou procurar 
colocar rapidamente os pontos-chave da visão antropológica, antes 
do terceiro e último item, mesmo correndo risco nos dois extremos – 
descomplicar e perder a complexidade do fenômeno ou resumir per-
dendo clareza...
A cultura é sempre uma ação de construção do mundo, do mundo 
dos homens, do mundo da cultura... 
Nomear é uma ação criadora por excelência. Assim, toda cultura – 
qualquer cultura – dá nomes, classifica, cria categorias, empresta sen-
tidos. Toda e qualquer cultura sofre mudanças, modifica-se no correr 
do tempo; novos arranjos societários, novos modos de trabalho, de 
técnicas e conhecimentos dialogam entre si, reforçam-se, anulam-se 
ou enfraquecem; há, enfim, um jogo contínuo que tece os processos 
socioculturais. 
Claro está que toda realidade sociocultural vive períodos de 
maior ou de menor estabilidade, de mudanças mais lentas ou mais 
aceleradas. É inegável que as culturas humanas, nos últimos dois sé-
culos, mas especialmente de meados do século XX ao início do atual, 
têm vivido um processo de intenso movimento, de intensas mudanças. 
Tais mudanças aceleradas ocorrem de modo mais visível nas socieda-
des ditas modernas, sendo nelas especialmente notável o peso que se 
atribui às mesmas mudanças. Como aponta Georges Balandier, dois 
movimentos incidem sobre tais sociedades: o das mudanças reais e o 
dos significados a elas atribuídos. Em outras palavras, as sociedades 
modernas dão um peso positivo, valorizam as mudanças, as inovações, 
o novo, enquanto as sociedades tradicionais dão um peso positivo à 
permanência, à reprodução do mesmo, à tradição. Não significa que 
nas primeiras não haja permanências e nem que as segundas não vivam 
mudanças. Não se pode perder de vista, entretanto, que a valorização 
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positiva do “novo”, da “mudança”, da “inovação”, da “modernização” 
torna-se, ela mesma, uma força de mudança, um importante fator a 
um tempo cultural e ideológico. 
Voltemos ao envelhecimento e à velhice. Não se pode ignorar 
que a velhice é também uma construção sociocultural, isto é, sendo um 
dado da realidade de qualquer sociedade humana, está sujeita às ações 
nominadoras da cultura (atribuição de nome, classificação, significação, 
etc.); a noção de velhice depende, basicamente, do estabelecimento de 
demarcações socioculturais. Além disso, encontramos no envelheci-
mento aspectos universais (biológicos), conquanto seus ritmos variem 
por numerosas razões (biológicas e outras). De fato, pode-se dizer que 
o envelhecimento é a um tempo biológico e sociocultural. Assim, tal 
como a noção de corpo (que, como se viu, é referência importante na 
nossa percepção de velho), a noção de envelhecimento também goza de 
uma dupla natureza: biológica e sociocultural. Essas duas dimensões se 
imbricam, dialogam e digladiam. Além disso, as realidades da velhice 
e do envelhecimento, embora submetidas às suas próprias lógicas, são 
de fato interdependentes.
As construções de que falei são universais (porque presentes em 
toda e qualquer cultura) e ao mesmo tempo variáveis (porque construí-
das com base em lógicas culturais e histórias sociais diversas). Alguns 
exemplos podem clarear melhor esses pontos.
Comecemos com culturas bantos tradicionais. 
Falando delas, o religioso e antropólogo Asúa Altuña (1974) 
aponta que 
[...] (as) primeiras associações banto brotam das divisões de 
sexo e idade. Como estruturas sociais primárias estratificam a 
vida social e colaboram na sua conformação, porque o acesso 
a elas se vai realizando dentro de cada classe ou irmandade 
etária. (...) Os indivíduos do mesmo sexo, geração e parentela, 
formam as irmandades. (Estas) estruturam uma estratificação 
paralela ao parentesco (e seus) fins são educativos, religiosos, 
sociais políticos e, antigamente, guerreiros. 
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Segundo esse estudioso, tais irmandades ou classes de idade, na 
sua forma mais generalizada compreendem quatro divisões, das quais 
a “primeira abrange as crianças dos 3 aos 9 anos; podendo ir até os 
12.5 A segunda (abrange) todos os iniciados nos ritos da puberdade, 
ainda solteiros; os homens casados e pais de família formam a terceira; 
a quarta, a mais respeitada e poderosa é a dos velhos”.
A passagem de uma categoria a outra implica um ritual de 
passagem específico, que, no caso dos membros do sexo masculino, é 
sempre obrigatório. Tais ritos são vistos como momentos públicos de 
instrução e também tecem e fortificam os vínculos entre os membros 
de cada classe etária (“o que não impede que no seu interior se estabe-
leçam alianças particulares”).
Nas classes etárias masculinas, as crianças não iniciadas são 
consideradas “pré-homens, social, moral e religiosamente”; isso, evi-
dentemente, não significa que não sejam protegidas e mimadas pelos 
adultos. É um período de aprendizagem, pois o não iniciado é perce-
bido como “algo inacabado”. Depois da iniciação, a criança passa para 
a classe seguinte, sendo, a partir de então, um membro de direito e de 
fato da sociedade. A grande liberdade sexual dos jovens é uma forma 
de realização do ideal do grupo, pois “a possibilidade de procriar” é que 
lhes dá a “plenitude vital e viril que os realiza individual e socialmente”. 
A fase da juventude é também de aprendizagem dos trabalhos da vida 
adulta e de cooperação nas atividades do grupo. 
São os homens casados que “dão consistência ao grupo”, assegu-
rando sua subsistência e sua sobrevivência como grupo. 
Finalmente, os velhos (“classe de mais respeito e prestígio”), 
são os conhecedores de toda a tradição, dominam o direito e formam 
a assembléia política dirigente; são temidos por sua força vital e pelo 
manejo competente da magia, são os “sacerdotes familiares” detentores 
dos ritos comunitários. “Vivem com plenitude vital.”
5 Note-se que a classe das crianças inclui os membros entre os 3 e os 9 ou 12 anos, 
isto significa que antes dos 3 não estão contidos em nenhuma classe; são preciosas 
promessas para o futuro se podemos dizer assim.
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Nessas sociedades, as mulheres passam pelas mesmas classes 
etárias e, segundo Altuña, “embora não desempenhem um papel social 
decisivo” (em termos de parentesco ou em termos políticos – se bem 
que é a matrilinhagem que define as pertenças), a “matrona é presti-
giada e influente”.
Segundo o mesmo autor, a solidariedade banto é uma “exigência 
natural e sobretudo estrutural da sua filosofia e religião”; fundamenta-
se na unidade de vida, na relação recíproca entre descendentes de um 
mesmo antepassado. “A solidão, o individualismo, além de repugnarem 
e serem incompreensíveis, acarretar-lhes-iam o desespero e o aniqui-
lamento.” Nessas sociedades, “o homem só não existe” (Asúa Altuña, 
1985, p. 159 e ss).
Antes de Altuña, Tempels (1965), também falando sobre a filo-
sofia banto, mostra que esses povos concebem o universo como feito de 
energia (matéria é energia), e a energia ou força vital que está presente 
em todas as coisas percorre os grupos familiares apresentando-se nos 
vivos e nos mortos.As passagens de uma classe etária a outra implicam 
crescimento de energia vital e, nesse sentido, os maiores depositários 
dessa energia são os velhos (já cumpriram quase todas as fases) e os 
ancestrais mortos (passaram pelo último rito: a morte). Sabedoria é 
fator de energia vital e a sabedoria cresce no correr da vida, acrescen-
ta-se a cada rito de passagem. O que diferencia vivos e mortos não é, 
pois, a quantidade de energia vital – que é maior nos últimos –, mas 
a possibilidade de agir no sentido de captar a energia existente. Só os 
homens vivos podem fazê-lo e os velhos, como “sacerdotes familiares”, 
garantem, graças ao seu conhecimento dos ritos, que a energia vital 
dos ancestrais mortos fortaleça os vivos, permitindo, ao mesmo tempo, 
que os ancestrais continuem a existir (a falta de descendência e, por 
conseguinte, a ausência de ritos a eles voltados, acarretaria a verdadeira 
morte dos ancestrais). 
Ora, como se pode perceber, em sociedades que constroem seu 
mundo a partir desses parâmetros, o significado de ser velho não é o 
mesmo significado nosso. Aquelas idéias de perda e de degradação física 
e social não têm, aqui, qualquer lugar.
34 Maria Helena Villas Bôas Concone
revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 19-44
No contexto da sociedade brasileira, que, majoritariamente, se 
pauta pelos padrões das sociedades ocidentais modernas, vamos re-
encontrar nas religiões afro-brasileiras o reconhecimento do papel da 
ancestralidade e o peso positivo da senioridade. Nos núcleos religiosos 
em que a iniciação é um fator fundamental para o crescimento pessoal 
e a construção de saber, a idade é fator de respeito social e religioso. 
De fato, embora não haja, necessariamente, nos dias que correm, uma 
superposição absoluta entre idade cronológica e fase de iniciação, nos 
grupos mais tradicionais, graças ao tempo que medeia entre uma fase 
iniciática e outra, a idade cronologicamente maior tem maiores chances 
de coincidir com os estágios mais altos de iniciação. Nesse sentido, nesses 
grupos, além do respeito merecido pelo velho enquanto tal (independen-
temente da sua posição religiosa e seu conhecimento), há o respeito pelo 
saber acumulado daqueles que viveram sucessivos processos iniciáticos 
e que acumularam não apenas idade, mas especialmente saber. Há, por 
assim dizer, uma potencialização do respeito.
Em religiões não iniciáticas, mas igualmente hierarquizadas, 
os cargos mais altos na hierarquia religiosa correspondem também, 
de modo geral, aos mais velhos. A Igreja católica é um bom exemplo 
da correspondência, mesmo que não absoluta, entre idade e posição 
na hierarquia. Chegar a bispo ainda jovem é muito mais uma situação 
festejada por sua excepcionalidade do que uma regra. Isso sem falar 
em outras posições...
Exemplos de diversidade numa perspectiva temporal, histórica, 
no mundo ocidental europeu, no que concerne ao significado das dife-
rentes idades, podem ser encontrados nos ricos trabalhos do historiador 
francês Philippe Ariès. Em sua História social da criança e da família, ele 
discute a história da educação nos aspectos que “revelam o progresso do 
sentimento da infância na mentalidade comum”. Se, na Idade Média, 
a demarcação das idades não importava, no caminho da modernidade 
assiste-se ao aumento da disciplina, do valor a ela atribuído e do papel 
que devia representar na formação das pessoas, e, pouco a pouco, vão 
Medo de envelhecer ou de parecer? 35
revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 19-44
se institucionalizando classes etárias; nesse processo, o papel desem-
penhado pela escola foi fundamental. Nas palavras de Ariès, na Idade 
Média, as escolas e os colégios que
[...] eram reservadas a um pequeno grupo de clérigos e mistu-
ravam as diferentes idades dentro de um espírito de liberdade 
de costumes, tornaram-se no início dos tempos modernos um 
meio de isolar cada vez mais as crianças durante um período de 
formação tanto moral como intelectual, de adestrá-las graças 
a uma disciplina mais autoritária e desse modo, separá-las dos 
adultos. (1981, p. 165) 
Mais adiante, o autor indica que, no século XII, podiam-se 
encontrar numa escola todas as idades da vida (pueros, adolescentes, 
juvenes, senes), “pois não havia uma palavra para designar o adulto e 
as pessoas passavam sem transição de juvenes a senes”. O mesmo autor 
aponta que essa mesma situação podia ser encontrada no século XV e 
que “essa mistura de idades continuava fora da escola” (p. 167). 
 O sociólogo alemão Martin Kohll (1989), que toma Ariès como 
referência, apresentando um texto de discussão sobre “Ciclo de Vida”, 
entendido por ele como uma instituição social (um construto), mostra 
que o modelo de “institucionalização do curso da vida” por ele anali-
sado constituiu um fato da sociedade moderna, paralelo à construção 
da noção de individualização e acompanhando as transformações do 
sistema de trabalho. 
No que concerne ao nosso tema, Kohll destaca “a construção legal 
e administrativa da demarcação das idades”, sendo o código napoleô-
nico “o primeiro a introduzir precisas demarcações etárias” (1989). Se 
a infância e a juventude como idades de vida separadas da vida adulta 
são normatizadas a partir do sistema escolar e de demarcações legais 
(responsabilidade civil, penal, política), a velhice é definida pelo sistema 
de aposentadoria. Assim, a velhice “como idade distinta do ponto de 
vista estrutural e cronológico é um produto bastante moderno”, diz o 
sociólogo. A criação dos sistemas públicos de seguridade social (processo 
que teve a Alemanha como precursora: primeira caixa de aposentadoria 
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revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 19-44
pública e obrigatória) ajudou a constituir um curso de vida “marcado 
pela segurança e pela continuidade”, mas também aparece como “um 
novo tipo de controle político e social”.
O mesmo sociólogo aponta, ainda, que depois dos anos 60 do 
século XX há uma mudança significativa nas sociedades européias (que 
toma como referência). Assiste-se, nessas sociedades, a um processo de 
“desinstitucionalização” do curso de vida, uma nítida desinstitucionali-
zação do ciclo familiar: variação nas idades de casamento e nas idades 
consideradas adequadas para ter filhos, proporção crescente de pessoas 
não casadas, queda de natalidade, entre outras variações motivadas 
por escolhas pessoais. Há, ainda, flexibilização relativa da trajetória 
profissional e mudanças no “código biográfico” graças a um crescente 
processo de individualização.
Ora, embora o campo de reflexão de Kohll fosse a Europa dos 
anos 80, não é preciso lembrar que tais mudanças são praticamente 
universais. Também no Brasil, não obstante as nossas profundas dife-
renças internas (sociais e regionais), vivemos um processo de mudança 
social e populacional de largo alcance. Do ponto de vista no qual nos 
colocamos (o que é ser velho no Brasil, quando se é considerado velho 
no Brasil), pode-se ver que a questão da aposentadoria não desempenha 
mais o mesmo papel que já desempenhou, de demarcador importante 
no ciclo de vida, no arranjo biográfico; isto é, do estabelecimento de 
“um antes” e “um depois”. Seja pela mudança de composição etária 
da nossa população, seja pelos baixos patamares das remunerações da 
aposentadoria, seja pelas mudanças no sistema de empregos e de em-
pregabilidade, seja pelo aumento da informalidade, o fato é que o ciclo 
de vida institucionalizado está sofrendo mudanças. A demarcação das 
idades não é a mesma de cinqüenta anos atrás. Houve um aumento do 
período de dependência dos filhos, um atraso da idade adulta, maiores 
exigências de escolaridade – freqüentemente incompatíveis com as po-
sições de trabalho em oferta no mercado –, mudança nas expectativas 
de constituir família, entre outros pontos a serem considerados. Numpanorama de retraimento do mercado formal de trabalho, cresceu o 
número de aposentados, especialmente de mulheres aposentadas que 
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revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 19-44
sustentam, com os magros recursos da aposentadoria, suas famílias 
compostas de seus filhos, netos e outros dependentes; aumentou o 
número de aposentados que continuam trabalhando para compensar 
os baixos salários da aposentadoria e, finalmente, assiste-se também no 
Brasil ao retraimento do Estado ante as obrigações sociais das políticas 
de seguridade e de aposentadoria.
Ora, é inegável que essas mudanças vão repercutir nas definições 
do que é ser velho nas sociedades modernas. O aumento significativo 
da porcentagem de pessoas acima dos 60 anos na população mundial, 
e também na brasileira, sem dúvida, é outro fator de mudança. Já 
encontramos novas formas de perceber o “envelhescente” e o idoso, 
formas que se insinuam insufladas pelas mudanças, pelas diferenças de 
poder aquisitivo anteriores e posteriores à aposentadoria, e também por 
uma certa “consciência de categoria” que de maneira mais ou menos 
tímida vai se instalando. Malgrado as diferenças de poder aquisitivo e as 
diferenças de valores das aposentadorias pública e privada, surge entre 
nós um mercado (diferenciado segundo a clientela visada) voltado para 
a “terceira idade” (viagens, oferta de produtos que vão de vestuário a 
saúde e beleza); também os clubes, associações e grupos da “terceira 
idade” (às vezes chamados “da melhor idade”) engrossam o movimento 
na direção da “consciência de categoria”, consciência de pertencimento, 
construção de uma nova perspectiva do envelhecimento.
Em um artigo onde discute envelhecimento e sentimento do 
corpo, Alda Britto da Motta afirma que
[...] a modernidade capitalista construiu uma visão segmentar 
das idades: periodiza as gerações, constrói e desconstrói idades, 
quase a cada século inventa mais uma; (...) recentemente – 
década de 60 – inventa uma “terceira idade”, inserção de um 
novo período entre a maturidade e a velhice, ao mesmo tempo 
negação desta. (2004, p. 38)
Pode-se dizer, então, que estamos em um período de mudanças. 
Apesar disso, entretanto, não seria exagero afirmar que, no Brasil, 
convivemos com dois tipos polarizados de representação sobre o ser 
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revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 19-44
idoso, como dissemos no início – de um lado há as representações que 
o valorizam (respeito, sabedoria, etc.) e de outro, as que o desvalori-
zam (decadência, passadismo, etc.). As primeiras expressam uma visão 
tradicional e extremamente formalizada, quase caricatural, e apontam 
para um ideal de respeito (ou talvez de respeito ideal). As segundas, não 
menos caricatas, de sabor mais contemporâneo, apontam para novas 
concepções que trazem embutida uma ideologia positiva do novo e 
da modernidade. Não por acaso essas representações “modernas” têm 
igualmente um caráter biologizante.
Alda Britto da Motta afirma que “provavelmente a maior parte 
dos estudos sobre o envelhecimento e a velhice, pelo menos no Brasil, 
refere-se ao campo da saúde e áreas correlatas”. Reclamando da falta 
de uma verdadeira conexão com “envelhescentes”, a socióloga assinala: 
“A sensação é de encontrar neles corpos classificatoriamente naturais, 
ao mesmo tempo simbolicamente descorporificados e mudos”. 
 No texto anteriormente citado, Mercadante discute o pro-
cesso de construção cultural da identidade do idoso mostrando que as 
qualidades que lhe são atribuídas, embora amplas, são de modo geral 
negativas, definindo-o como sujeito em declínio físico e social. A autora 
problematiza assim a questão: 
Tendo em vista esse modelo social ideológico, que atribui quali-
dades negativas aos velhos – degradação física e social – (e) que 
ao fazer isso lhes nega um futuro, avaliamos como é possível 
então para o idoso pensar novas formas de vida futura, novas 
alternativas para a velhice. (2003, p. 56)
A construção de uma identidade social contrastiva, em que o 
novo é o valor e a medida, é sem dúvida responsável pela dificuldade 
de encontrar tais formas alternativas. Algumas considerações sobre esse 
último tópico encerram estas reflexões.
Medo de envelhecer ou de parecer? 39
revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 19-44
Medo de parecer
Se a velhice atemoriza e o único modelo apreciado socialmente é 
(majoritariamente) de juventude, a questão que mobiliza grande parte 
dos brasileiros “envelhescentes” é a de “retardar o envelhecimento” ou 
apagá-lo.
Britto da Motta, citada acima, afirma que 
[...] a ainda majoritária terceira idade começa a ser muito lu-
crativa para uma série de organizadores/gestores de atividades, 
produtos e serviços para esta faixa etária (...) no cotidiano, en-
tretanto, as idades ainda são percebidas principalmente como 
parte do passar do tempo, mimetizando como duração e ritmo 
os ciclos da natureza e as estações, o que é expresso no corpo 
das pessoas. Diz-se “completar 15 primaveras”, “estar na flor 
da idade”, “ainda viçosa aos 50 anos”, “bem conservado/a”, “no 
inverno da vida”, etc.
Complementa a autora dizendo que o tempo da “natureza” é 
expresso no universo da cultura, busca em seguida na literatura “ima-
gens cruéis da velhice especialmente a das mulheres”.
Borges Pereira (2000), falando da linguagem do corpo na so-
ciedade brasileira, afirma que o “progressivo desnudamento do corpo, 
em especial do corpo feminino, está associado ao que a mídia chama 
freqüentemente de ‘culto ao corpo’ o que nada mais é do que a exaltação 
da beleza física em si, independentemente de atributos morais”.
Claro está que o corpo e os cuidados com o corpo sempre foram 
objeto de preocupação dos homens e mulheres em todas as sociedades, 
entretanto, as reflexões sobre o corpo ganham visibilidade ao longo 
do último século. Ligia Amparo da Silva Santos, em preciosa tese 
de doutorado, toma a si a tarefa de “pontuar as especificidades (das 
questões referentes ao corpo) no mundo contemporâneo”. Entre tais 
especificidades nos modos de pensar, representar e agir sobre o corpo, 
Silva Santos destaca o papel da mídia e da tecnociência, a exposição e a 
exploração da intimidade do corpo, as manipulações do corpo graças à 
40 Maria Helena Villas Bôas Concone
revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 19-44
biotecnologia (cirurgias plásticas, implantes, transplantes, mudança de 
sexo), a engenharia genética, a reprodução artificial. Todo um campo de 
saber e uma enorme área voltada à comunicação empenhadas, cada uma 
a seu modo, em “libertar o corpo” de suas amarras anatômicas. Estamos, 
diz a autora, diante de uma antropomorfia, reconstrução completa da 
corporalidade em que há exibição contínua da transformação.
Além disso, se “prolongar a vida, preservar o corpo e a saúde 
sempre foram preocupações da humanidade (...), no mundo atual tais 
práticas contam com um aparato científico que produz incessantemente 
novos recursos (...)”. O conceito de saúde se reatualiza, sendo entendido 
não como um dado, mas como uma tarefa; saúde não é definida por 
um estado e sim por um conjunto de comportamentos. Culto ao corpo 
como autocuidado define a perspectiva contemporânea.
Lembra Ligia que, coerentemente com a centralidade do corpo no 
mundo contemporâneo, “o corpo também é o marketing de si mesmo”: 
“É na sua aparência, tonicidade, juventude e magreza que revelamos 
quem somos, a chave do sucesso, mas também do fracasso”.
É difícil atingir metas tão exigentes e, sobretudo, é difícil manter 
“tonicidade, juventude e magreza” independentemente do tempo e das 
modificações corporais...
Em artigo que discute modernidade e velhice, Vera Almeida 
(2003) afirma que encontrar na juventude modelode ser e de agir é 
uma tendência relacionada ao individualismo moderno e antecede os 
anos 80. De fato, podemos dizer que vem de muito mais longe, o que 
temos é um acirramento do modelo. Citando Lash, Almeida levanta 
a questão de que os 
[...] conteúdos individualistas da sociedade atual e o conseqüente 
culto do eu seriam mais responsáveis que o “culto da juventude” 
pelo horror à velhice. A personalidade narcísica dominante só 
teria a perder com o declínio dos atributos mais valorizados 
como beleza, encanto, poder, celebridade, atributos que segundo 
Lash “geralmente declinam com o tempo”.
Medo de envelhecer ou de parecer? 41
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Claro está que “culto à juventude”, narcisismo e individualismo 
são faces da mesma moeda (que seria a identidade de idoso), a qual, por 
sua vez, é uma das faces da identidade sociocultural contemporânea. 
Não há porque afirmar, por exemplo, o declínio do poder (com o en-
velhecimento) fora de um modelo específico de sociedade e de cultura. 
Os “nossos bantos” acrescentavam poder à medida que envelheciam.
Qualquer que seja a ordem desses fatores, entretanto, há nas 
sociedades modernas – e o Brasil alia-se a essa tendência – um esfor-
ço constante de “retardar o envelhecimento”, aderindo a comporta-
mentos mais descontraídos, roupas menos convencionais, buscando 
saúde através de comportamentos “responsáveis” (controle alimentar, 
exercícios, abandono de hábitos “pouco saudáveis”, etc.), recorrendo 
à cosmetologia ou à cirurgia plástica, e assim por diante. O indivíduo 
é representado como autônomo e responsável por suas opções; saúde 
e doença, beleza e feiúra são de sua responsabilidade, dependem das 
suas escolhas, das suas ações. 
Como “velhice e doença” formam um par nas nossas represen-
tações, a busca do envelhecimento saudável fica entre a obrigação e a 
contradição – a meta inalcançável. 
Temos que reconhecer que, enquanto não construirmos um 
forte modelo alternativo de velhice, os caminhos continuarão restritos. 
Continuaremos a reproduzir modelos “exógenos” e estigmatizadores. 
Não por convicção, mas por adesão.
Como fugir desse círculo? Como já dissemos antes, as mudanças 
na composição etária da população mundial e nacional serão o fator mais 
significativo para mudanças de concepção e busca de novas perspectivas 
individuais e sociais. Derrubar mitos arraigados (feiúra, doença, taras, 
demência, perdas, falta de memória, ausência de perspectivas, sala de 
espera da morte) não é tarefa rápida ou fácil. Mas já está em andamento. 
A geração idosa de hoje já é diferente daquela que a precedeu. Como 
também já é diferente a geração jovem.
Há pouco, o jornal Folha de S. Paulo dedicou um caderno inteiro 
à discussão das questões relacionadas à beleza. Numa entrevista rápida 
com uma jovem apresentadora de TV e ex-miss Brasil, o entrevistador 
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revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 19-44
perguntou: “Você tem medo de envelhecer?”. A resposta foi incisiva: 
“Sim”. Depois ela completou: “Acredito que até lá vou mudar minhas 
prioridades”. Creio que esse é o melhor recado que uma jovem poderia 
dar às gerações mais velhas e também às novas: mudar prioridades, 
encontrar novos interesses, investir em outras capacidades. Note-se que 
esse é um recado otimista: ela não fala em fim (como dizem alguns, 
“encerrar o expediente”, “pendurar as chuteiras”) nem em “recomeço”, 
mas em continuidade.
Pode-se aprender de muitas maneiras.
Para encerrar, vou voltar ao início, isto é, falar da relação kairós 
e cronos. Através de outra cultura.
Num pequeno livro de comentários de um chefe de uma ilha do 
arquipélago de Samoa, lemos o seguinte:
Todo Papalagui (o “branco” europeu) é possuído pelo medo de 
perder o seu tempo. Por isso, todos sabem exatamente (e não só 
os homens, mas as mulheres e as criancinhas) quantas vezes a 
lua e o sol saíram desde que, pela primeira vez, viram a grande 
luz. De fato, isto é tão sério que a certos intervalos de tempo 
se fazem festas com flores e comes e bebes. (...) Ter tantos anos 
significa ter vivido um número preciso de luas. É perigosa essa 
maneira de indagar e contar o número das luas porque assim 
se chega a saber quantas luas dura a vida da maior parte dos 
homens. Todos prestam muita atenção nisso e, passando um 
número muito grande de luas, dizem: “Agora, não vou demorar 
a morrer”. E então essas pessoas perdem a alegria e morrem 
mesmo dentro de pouco tempo.
(...)
Acho que o tempo lhe escapa tal qual cobra na mão molhada 
justamente porque o segura com força demais. O Papalagui 
não espera que o tempo venha até ele, mas sai ao seu encalço, 
sempre, sempre, com as mãos estendidas (...) Mas o tempo é 
quieto, pacato, gosta de descansar, de deitar-se à vontade na 
esteira. (...) Nunca o tempo nos falta, nunca nos enfastia (...) 
Não precisamos de mais tempo do que temos e, no entanto, 
temos tempo que chega. Sabemos que no devido tempo o Grande 
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Espírito nos chamará quando for da sua vontade, mesmo que 
não saibamos quantas luas nossas passaram.
Devemos livrar o pobre Papalagui, tão confuso, da sua loucura. 
Devemos devolver-lhe o verdadeiro sentido do tempo que perdeu: “o 
homem tem muito mais tempo do que é capaz de usar” (Scheurmann, 
s.d., pp. 51-52).
Referências
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TEMPELS, P. (1965). La philosophie Bantou. Presence africaine. Paris.
Data de recebimento: 14/6/2007; Data de aceite: 20/7/2007.
Maria Helena Villas Bôas Concone – Antropóloga. Professora doutora titular 
do Departamento de Antropologia da PUC-SP. Docente do Programa de Estudos 
Pós-Graduados em Gerontologia e do Programa de Estudos Pós-Graduados em 
Ciências Sociais, ambos da PUC-SP. E-mail: trcconcone@yahoo.com.br
revista Kairós, São Paulo, 10(2), dez. 2007, pp. 45-61
Um breve ensaio sobre a aceitação 
da beleza na efemeridade dos corpos�
Marilda Silveira Lopes 
Rodrigo Caetano Arantes 
Ruth Gelehrter da Costa Lopes
RESUMO: o trabalho pretende identificar a relação entre a beleza corporal e a 
longevidade através dos

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