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Direito Internacional Público e Privado Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Reinaldo Zychan de Moraes Revisão Textual: Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco Relações Diplomáticas e Consulares • Introdução • Chefe de Estado • Relações Entre Sujeitos de Direito Internacional • Relações Diplomáticas • Relações Consulares · Mostrar que em um mundo cada vez mais globalizado, as relações que envolvem os Estados e as organizações internacionais se tornam cada vez mais frequentes e envolvem temas variados. · Evidenciar que o comércio internacional tomou impulsos nunca an- tes vistos. · Provar que o trânsito de pessoas nas fronteiras dos países ocorre com crescente incremento pelas mais variadas razões, entre as quais em situações extremamente díspares, tais como o aumento do turismo e o grande número de refugiados. · Argumentar que tudo isso mostra que essas relações precisam ser bem estudadas e conhecidas. OBJETIVO DE APRENDIZADO Relações Diplomáticas e Consulares Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como o seu “momento do estudo”. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo. No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Relações Diplomáticas e Consulares Introdução Muito embora não seja uma obrigação, todo Estado necessita manter relações com outros Estados e com organizações internacionais, sendo que essa capacidade de firmar esse tipo de relações é um dos elementos caracterizadores desse tipo de pessoa jurídica de Direito Internacional. Até mesmo para que o Estado receba reconhecimento de outros Estados e organizações internacionais, é necessário que relações diplomáticas sejam, ainda que minimamente, estabelecidas. Uma das bases das relações diplomáticas é o direito de legação, que é o direito de enviar e de receber diplomatas, o qual somente é reconhecido aos sujeitos de direito internacional. Especificando-o, temos os direitos de legação: • Ativa – que se realiza quando há a remessa de missões diplomáticas para outro Estado; • Passiva – que se refere ao direito de receber, em seu território, missões diplomáticas enviadas por outro Estado. Entre dois sujeitos de Direito Internacional, o exercício do direito de legação parte do pressuposto de que ambos aceitam a existência soberana um do outro e que desejam estabelecer relações diplomáticas, sendo que essas são realizadas pelas missões diplomáticas. Há uma nomenclatura específica, utilizada para identificar o Estado que exerce o seu direito de legação ativa ou passiva; dessa forma, temos o Estado de: • Origem ou acreditante – é aquele que, no exercício de seu direito de legação ativa, envia uma missão diplomática para representá-lo; • Acolhimento ou acreditado – é quem, no exercício de seu direito de legação passiva, recebe uma missão diplomática em seu território para que esta, em nome do Estado acreditante, mantenha relações diplomáticas. 8 9 Chefe de Estado Muito embora a doutrina aponte outras possibilidades, em geral, os Estados Modernos adotam dois tipos básicos de formas de governo, a saber: • República; • Monarquia constitucional. • Decorre dessa classificação a possibilidade de dois tipos de sistemas de governo: • Presidencialismo; • Parlamentarismo. Combinando-se as formas e os sistemas de governo, temos, basicamente, três possibilidades mais comuns, ou seja, as monarquias parlamentaristas, as repúblicas presidencialistas e as repúblicas parlamentaristas. Não há compatibilidade na combi- nação da monarquia com o presi- dencialismo, em razão da acumu- lação de poderes característicos deste último. Nas monarquias e repúblicas parlamentaristas há duas funções distintas: • Chefe de Estado é uma função desempenhada pelo rei – imperador ou outro tipo de denominação semelhante –, ou pelo presidente da República, de modo que se caracteriza, em especial, pela responsabilidade de manter relações diplomáticas com outros Estados e com as organizações internacionais; • Chefe de Governo, função desempenhada pelo primeiro ministro – ou de- nominação semelhante –, que é o encarregado de realizar a gestão interna do país. Já nas repúblicas presidencialistas essas duas funções são realizadas por uma pessoa no desempenho do cargo de presidente da República. É certo, contudo, que essa consagrada classificação apresenta certas dificuldades quando verificamos o que ocorre nos Estados Modernos, pois: • Cabe ao direito interno estabelecer a exata distribuição de tarefas entre os chefes de Estado e de Governo, razão pela qual, em muitos casos, essa divisão de funções se dá, exatamente, da forma acima indicada; • Em muitos Estados, sobretudo naqueles que adotam a monarquia como forma de governo, o rei – ou equivalente – desempenha funções mais limitadas, tanto interna como externamente, o que acarreta maiores atribuições, inclusive no âmbito internacional, para o primeiro ministro – chefe de Governo. 9 UNIDADE Relações Diplomáticas e Consulares Diante desse quadro e respeitando as peculiaridades estabelecidas pelas normas de direito interno, em regra, as relações entre Estados se dão por atuação de seus respectivos chefes de Estado; contudo, há várias questões que, em virtude do acima exposto, são da alçada do chefe de Governo. Já nas repúblicas presidencialistas, tais como no caso brasileiro, essa dificuldade não se apresenta. “O direito internacional considera o chefe de Estado [...] seja este o monarca ou o presidente da República, como órgão par excellence encarregado das relações internacionais, a não ser que haja uma declaração formal em contrário” (ACCIOLY; SILVA; CASELLA, 2014, p. 401). Outra questão que também é relevante diz respeito à constatação de que, nor- malmente, o Poder Legislativo também tem uma atuação na condução das relações externas, em especial, no que se refere à participação desse poder em ratificações de tratados e na nomeação de chefes de missões diplomáticas permanentes. Deve também ser destacado o papel que, no Poder Executivo, é realizado pelo ministro das relações exteriores que, no Brasil e na maioria dos paísesda América Latina, é também conhecida como a de chanceler. Figura 1 – Palácio do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Fonte: Wikimedia Commons Trata-se do principal auxiliar do chefe do Poder Executivo na formulação e execução da política externa do Estado. Além disso, é chefe dos funcionários diplomáticos e consulares do país. Em razão dessa função, é esse ministro que, em muitos casos, representa o chefe do Poder Executivo em tratativas com outros Estados e com os membros das diversas missões diplomáticas que se encontram no território do Estado. 10 11 As Relações Internacionais na Constituição Federal Brasileira Nossa Constituição Federal estabelece os princípios norteadores de nossas relações internacionais, a saber: Constituição Federal Art. 4º – A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I – independência nacional; II – prevalência dos direitos humanos; III – autodeterminação dos povos; IV – não intervenção; V – igualdade entre os Estados; VI – defesa da paz; VII – solução pacífica dos conflitos; VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X – concessão de asilo político. Parágrafo único – A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. Esses princípios mostram, em resumo, que nosso país busca o pleno respeito dos direitos humanos e a cooperação entre os diversos Estados Nacionais. Outra disposição constitucional importante se refere à exigência de que os integrantes da carreira diplomática sejam brasileiros natos: Constituição Federal Art. 12 [...] § 3º – São privativos de brasileiro nato os cargos: [...] V – da carreira diplomática; Dentro da estrutura dos poderes da República, estabelece a Constituição Federal que cabe ao presidente da República: 11 UNIDADE Relações Diplomáticas e Consulares • A nomeação dos chefes de missões diplomáticas de caráter permanente; contudo, essa nomeação deve ser precedida de autorização do Senado Federal (Art. 52, Inc. IV); • Manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos (Art. 84, Inc. VII); • Celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional (Art. 84, Inc. VIII). Sobre este último item, deve ser esclarecido que esse referendo do Congresso Nacional somente será necessário se o instrumento internacional acarretar encargo ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional. Constituição Federal Art. 49 – É da competência exclusiva do Congresso Nacional: I – resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional; Relações Entre Sujeitos de Direito Internacional Em geral, podemos afirmar que as relações entre os sujeitos de Direito Internacional se desenvolvem de duas formas, as chamadas relações diplomáticas e consulares, as quais possuem como principal fundamento o consentimento mútuo entre os evolvidos. As relações diplomáticas cuidam dos interesses políticos dos sujeitos de Direito Internacional – relações Estado-Estado ou Estado-Organização Internacional. Para normatizar essas relações, o mais importante instrumento é a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (CVRD), assinada em 18 de abril de 1961 e incorporada ao nosso ordenamento interno pelo Decreto n.º 56.435/65. Já as relações consulares abrangem temas significativamente variados, em especial aqueles ligados à promoção comercial e à prática de atos administrativos – notariais. Essas relações possuem como principal norma reitora a Convenção de Viena sobre Relações Consulares (CVRC), assinada em 24 de abril de 1963. Em nosso país, essa norma foi internalizada pelo Decreto n.º 61.078/67. O serviço diplomático, de que cuida a Convenção de 1961, goza de estatuto acentuadamente mais favorável que aquele próprio do serviço consular, versado na Convenção de 1963. Com efeito, é da tradição do direito das gentes não perder de vista a natureza diversa dessas instituições. O diplomata representa o Estado de origem junto à soberania local, e para o trato bilateral dos assuntos de Estado. Já o cônsul representa o Estado 12 13 de origem para o fim de cuidar, no território onde atue, de interesses privados – os de seus compatriotas que ali se encontrem a qualquer título, e os de elementos locais que tencionam, por exemplo, visitar aquele país, de lá importar bens, ou para lá exportar (REZEK, 2000, p. 160). Relações Diplomáticas O início da missão diplomática se dá com a nomeação do diplomata chefe da missão, sendo que, para que não haja constrangimentos, essa nomeação é precedida de uma consulta ao Estado acreditado, denominada de pedido de agrément, ou de agréation. Não havendo qualquer discordância, ocorrerá a nomeação. O chefe da missão permanente é nomeado pelo presidente da República, sendo que essa nomeação é precedida de aprovação do Senado Federal – como já foi visto. Com a nomeação, o diplomata recebe as credenciais, ou seja, uma carta de apresentação, assinada pelo chefe de Estado e referendada pelo ministro das rela- ções exteriores, que o acredita perante aquele Estado que o receberá. O início dos trabalhos do chefe da missão diplomática se dá após a acreditação, ou seja, do ato formal pelo qual o Estado de acolhimento recebe as credenciais do diplomata enviado pelo Estado de origem e o reconhece como representante deste. Segundo a CVRD, a acreditação também poderá ocorrer com a comunicação da chegada do chefe da missão diplomática ao Estado de acolhimento e a apresentação de cópia de suas credenciais ao Ministério das Relações Exteriores (Art. 13). Defi nições A CVRD apresenta, em seu Artigo 1º, algumas importantes definições que acabam por ser importantes elementos para a compreensão de suas disposições. A saber: • Chefe de missão é a pessoa encarregada pelo Estado acreditante de agir nessa qualidade; • Membros da missão são o chefe da missão e os elementos do pessoal dessa; • Membros do pessoal da missão são os elementos do pessoal diplomático, administrativo e técnico e do pessoal de serviço da missão; • Membros do pessoal diplomático são os elementos do pessoal da missão que tiverem a qualidade de diplomata; • Agente diplomático é o chefe da missão ou um membro do pessoal diplomático da missão; • Membros do pessoal administrativo e técnico são os elementos do pessoal da missão empregados no serviço administrativo e técnico dessa; 13 UNIDADE Relações Diplomáticas e Consulares • Membros do pessoal de serviço são os elementos do pessoal da missão empregados no serviço doméstico dessa; • Criado particular é a pessoa do serviço doméstico de um membro da missão que não seja empregado do Estado acreditante; • Locais da missão são os edifícios, ou parte desses, e terrenos anexos, seja quem for o seu proprietário, utilizados para as finalidades da missão, inclusive a residência do chefe da missão. Missão Diplomática A missão diplomática é formada pelo conjunto de diplomatas que repre- sentam um Estado perante outro sujeito de Direito Internacional – Estado ou organização internacional. CVRD Art. 20 – A missão e seu chefe terão o direito de usar a bandeira e o escudo do Estado acreditante nos locais da missão, inclusive na residência do chefe da missão e nos seus meios de transporte. Missão Permanente Pode ter diversas naturezas: • Embaixadas – responsáveis pela representação política; • Consulados – praticam atos voltados à representação comercial e atos administrativos notariais; • Delegações,missões ou escritórios – realizam, de forma mais reduzida, alguns dos trabalhos que seriam próprios de embaixadas e/ou consulados. Em razão do baixo volume de relações diplomáticas e comerciais, bem como para propiciar a racionalização de gastos na manutenção de missões diplomáticas, é possível que: • Um Estado seja representado pela missão diplomática de outro Estado. É o que ocorre, por exemplo, se o Estado A solicita que o Estado B realize a sua representação perante o Estado C; CVRD Art. 6º – Dois ou mais Estados poderão acreditar a mesma pessoa como chefe de missão perante outro Estado, a não ser que o Estado acreditado a isso se oponha. • Um Estado pode manter uma missão diplomática que o represente em vários Estados de determinada região. Assim, por exemplo, a missão diplomática de A, situada no Estado B, realiza também a sua representação nos Estados C, D e E, todos vizinhos. 14 15 CVRD Art. 5º: § 1º – O Estado acreditante poderá depois de haver feito a devida notificação aos Estados creditados interessados, nomear um chefe de missão ou designar qualquer membro do pessoal diplomático perante dois ou mais Estados, a não ser que um dos Estados acreditados a isso se oponha expressamente. Missão Temporária ou Especial É enviada a um Estado ou organização internacional com o objetivo de realizar tarefa determinada ou para participar de negociação específica. Como exemplos desse tipo de missão, temos aquelas formadas especificamente para prestigiar a cerimônia de posse de um chefe de Estado ou de Governo de um Estado com quem se mantém relações diplomáticas, ou ainda para participar de convenção internacional que discute a formação de um novo tratado multilateral. Pessoal da Missão Diplomática Cada Estado tem ampla liberdade de escolher o pessoal que atuará em sua repre- sentação, porém, em regra, devem possuir a nacionalidade do Estado acreditante. Há várias situações em que foram nomeados para atuar como embaixadores brasileiros pessoas que não faziam parte da carreira diplomática, sendo um exemplo notório o ex- presidente da República Itamar Franco que, em 1995, foi nomeado para servir como embaixador brasileiro em Portugal. Nesse particular, leia a matéria da Folha de São Paulo, edição de 17 de março de 1995, com o título Itamar Franco aceita ser embaixador em Portugal, e disponível em: https://goo.gl/W8A1cQ Ex pl or Segundo o nosso sistema constitucional, como foi mencionado, em se tratando de diplomatas de carreira, somente é admissível que sejam brasileiros natos; contudo, brasileiros naturalizados e estrangeiros – e que, portanto, não integram essa carreira – podem desempenhar outras atividades na missão, tais como as de membros do pessoal administrativo e técnico ou do pessoal de serviço. Há, porém, uma limitação, pois o Estado acreditado: • Pode não consentir que uma pessoa que possui a sua nacionalidade exerça funções na missão diplomática; • Mesmo que inicialmente tenha consentido nessa situação, o Estado acreditado pode voltar atrás a qualquer tempo; • Esse mesmo direito pode ser exercido em relação a estrangeiros que não sejam nacionais do Estado acreditante. 15 UNIDADE Relações Diplomáticas e Consulares O Estado acreditado poderá, sem a necessidade de justificar a sua decisão, notificar o Estado acreditante que o chefe da missão ou qualquer membro do pessoal diplomático da missão é persona non grata, ou que qualquer outro membro da missão não é aceitável. Nesse caso, o Estado acreditante deverá: • Retirar essa pessoa da missão diplomática; ou • Dar por terminada as suas funções na missão, desvinculando-a da representação do Estado acreditante. Isso somente ocorre em situações extremamente graves, tais como no caso da prática de crimes ou de crises diplomáticas mais sérias. CVRD Art. 9º: § 1º – O Estado acreditado poderá a qualquer momento, e sem ser obrigado a justificar a sua decisão, notificar ao Estado acreditante que o chefe da missão ou qualquer membro do pessoal diplomático da missão é persona non grata ou que outro membro do pessoal da missão não é aceitável. O Estado acreditante, conforme o caso, retirará a pessoa em questão ou dará por terminadas as suas funções na missão. Uma pessoa poderá ser declarada non grata ou não aceitável mesmo antes de chegar ao território do Estado acreditado. § 2º – Se o Estado acreditante se recusar a cumprir, ou não cumpre, dentro de um prazo razoável, as obrigações que lhe incumbem, nos termos do Parágrafo 1º deste Artigo, o Estado acreditado poderá recusar- se a reconhecer tal pessoa como membro da missão. Inviolabilidade do Agente Diplomático A CVRD estabelece uma série de disposições sobre a inviolabilidade dos agentes diplomáticos: CVRD Art. 29 – A pessoa do agente diplomático é inviolável. Não poderá ser objeto de nenhuma forma de detenção ou prisão. O Estado acreditado tratá-lo-á com o devido respeito e adotará todas as medidas adequadas para impedir qualquer ofensa à sua pessoa, liberdade ou dignidade. Art. 30: § 1º – A residência particular do agente diplomático goza da mesma inviolabilidade e proteção que os locais da missão. § 2º – Seus documentos, sua correspondência e, sob reserva do disposto no Parágrafo 3º do Artigo 31, seus bens gozarão igualmente de inviolabilidade. 16 17 Art. 31: § 1º – O agente diplomático gozará de imunidade de jurisdição penal do Estado acreditado. Gozará também da imunidade de jurisdição civil e administrativa, a não ser que se trate de: a) uma ação real sobre imóvel privado situado no território do Estado acreditado, salvo se o agente diplomático o possuir por conta do Estado acreditado para os fins da missão. b) uma ação sucessória na qual o agente diplomático figure, a título privado e não em nome do Estado, como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário. c) uma ação referente a qualquer profissão liberal ou atividade comercial exercida pelo agente diplomático no Estado acreditado fora de suas funções oficiais. § 2º – O agente diplomático não é obrigado a prestar depoimento como testemunha. § 3º – O agente diplomático não está sujeito a nenhuma medida de execução a não ser nos casos previstos nas alíneas “a”, “b” e “c” do Parágrafo 1º deste Artigo e desde que a execução possa realizar-se sem afetar a inviolabilidade de sua pessoa ou residência. § 4º – A imunidade de jurisdição de um agente diplomático no Estado acreditado não o isenta da jurisdição do Estado acreditante. Observe, em especial, o disposto no Artigo 31, Parágrafo 4º, que prescreve que o agente diplomático está imune à jurisdição do país acreditado, mas poderá responder por sua conduta no país acreditante. Com algumas ressalvas, essa imunidade também abrange, nos termos do Artigo 37 da CVRD, os membros: • Da família do agente diplomático que com esse convivam, desde que não sejam nacionais do Estado acreditado; • Do pessoal administrativo e técnico da missão, assim como os membros de suas famílias que com esses convivam, desde que não sejam nacionais do Estado acreditado. Nesse particular deve ser observado que o Código Penal brasileiro, apesar de ser anterior à CVRD não apresenta incompatibilidade com essa em relação a crimes praticados por agentes diplomáticos – situação essa expressamente disposta no Artigo 31, Parágrafo 1º. Código Penal Art. 5º – Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de Direito Internacional, ao crime cometido no território nacional. 17 UNIDADE Relações Diplomáticas e Consulares Ou seja, nos crimes praticados no território nacional é aplicada a Lei penal brasileira e é a Justiça brasileira a competente para o processo e julgamento; contudo, essa regra é excetuada se houver algum tratado internacional que estabeleça situaçõesespeciais, tais como no caso que envolvem crimes praticados por agentes diplomáticos. É importante destacar que o Estado acreditante poderá, por ato expresso, renunciar a essa imunidade de jurisdição. CVRD Art. 32: § 1º – O Estado acreditante pode renunciar à imunidade de jurisdição dos seus agentes diplomáticos e das pessoas que gozam de imunidade nos termos do Artigo 37. § 2º – A renúncia será sempre expressa. Local da Missão Diplomática Compreende o conjunto de instalações físicas e imóveis ocupados pela missão diplomática. Em geral, tais locais são adquiridos pelo Estado acreditante, contudo, poderão, em razão de acordo, estarem sob cessão oferecida pelo Estado acreditado. O local onde está situada a missão diplomática é considerado território do Es- tado acreditante? Ex pl or Apesar de algumas pessoas acharem que isso é verdade, não faz sentido mencionar que esse local é território do Estado acreditante. Pense na seguinte situação: alguém aluga uma casa para que nessa ocorra a instalação da embaixada de determinado Estado. Nesse caso, se fosse verdade que o local passou a ser “território estrangeiro”, como ficaria o direito do proprietário do imóvel? E se depois de alguns anos a embaixada mudasse para outro endereço, o “território estrangeiro” também mudaria de lugar? Ex pl or Contudo, isso não significa que não haja a proteção do local da missão pela CVRD. Proteção dos Locais da Missão A CVRD estabelece a inviolabilidade dos locais da missão. 18 19 CVRD Art. 22: § 1º – Os locais da missão são invioláveis. Os agentes do Estado acreditado não poderão neles penetrar sem o consentimento do chefe da missão. § 2º – O Estado acreditado tem a obrigação especial de adotar todas as medidas apropriadas para proteger os locais da missão contra qualquer intrusão ou dano e evitar perturbações à tranquilidade da missão ou ofensas à sua dignidade. § 3º – Os locais da missão, em mobiliário e demais bens neles situados, assim como os meios de transporte da missão, não poderão ser objeto de busca, requisição, embargo ou medida de execução. Essa inviolabilidade também se estende aos arquivos e documentos da missão, onde quer que se encontrem. CVRD Art. 24 – Os arquivos e documentos da missão são invioláveis, em qualquer momento e onde quer que se encontrem. Funções da Missão Diplomática Estão previstas, em especial, no Artigo 3º da CVRD. CVRD Art. 3: § 1º – As funções de uma missão diplomática consistem, entre outras, em: a) representar o Estado acreditante perante o Estado acreditado; b) proteger no Estado acreditado os interesses do Estado acreditante e de seus nacionais, dentro dos limites permitidos pelo Direito Internacional; c) negociar com o governo do Estado acreditado; d) inteirar-se por todos os meios lícitos das condições existentes e da evolução dos acontecimentos no Estado acreditado e informar a esse respeito o governo do Estado acreditante; e) promover relações amistosas e desenvolver as relações econômicas, culturais e científicas entre o Estado acreditante e o Estado acreditado. § 2º – Nenhuma disposição da presente Convenção poderá ser interpretada como impedindo o exercício de funções consulares pela missão diplomática. 19 UNIDADE Relações Diplomáticas e Consulares Relações Consulares As relações consulares possuem objeto próprio e forma de tratamento similar para o pessoal consular e aos locais consulares, porém, com menos extensão de algumas práticas e imunidades. Os consulados são repartições públicas, estabelecidas pelos Estados, em portos e cidades de outros Estados, com a missão de velar pelos seus interesses comerciais, prestar assistência e proteção de seus nacionais, legalizar documentos, exercer a polícia de navegação e fornecer informações de natureza econômica e comercial sobre o país ou distrito onde se acham instalados (ACCIOLY; SILVA; CASELLA, 2014, p. 417). Precisamos destacar, contudo, que em razão da diversidade de missões, o rompimento de relações diplomáticas não acarreta a invalidação de relações consulares, sendo que, quando isso ocorrer, o Estado receptor – aquele que recebe a representação consular de outro Estado – deve respeitar e proteger o local consular, seus bens e arquivos, mesmo que estejam em guerra. Funções Consulares Estão dispostas no Artigo 5º da CVRC, cuja redação é a seguinte: CVRC Art. 5º – As funções consulares consistem em: a) proteger, no Estado receptor, os interesses do Estado que envia e de seus nacionais, pessoas físicas ou jurídicas, dentro dos limites permitidos pelo Direito Internacional; b) fomentar o desenvolvimento das relações comerciais, econômicas, culturais e científicas entre o Estado que envia e o Estado receptor e promover ainda relações amistosas entre eles, de conformidade com as disposições da presente Convenção; c) informar-se, por todos os meios lícitos, das condições e da evolução da vida comercial, econômica, cultural e científica do Estado receptor, informar a respeito o governo do Estado que envia e fornecer dados às pessoas interessadas; d) expedir passaporte e documentos de viagem aos nacionais do Estado que envia, bem como visto e documentos apropriados às pessoas que desejarem viajar para o referido Estado; e) prestar ajuda e assistência aos nacionais, pessoas físicas ou jurídicas, do Estado que envia; f) agir na qualidade de notário e oficial de registro civil, exercer funções similares, assim como outras de caráter administrativo, sempre que não contrariem as leis e regulamentos do Estado receptor; 20 21 g) resguardar, de acordo com as leis e regulamentos do Estado receptor, os interesses dos nacionais do Estado que envia, pessoas físicas ou jurídicas, nos casos de sucessão por morte verificada no território do Estado receptor; h) resguardar, nos limites fixados pelas leis e regulamentos do Estado receptor, os interesses dos menores e dos incapazes, nacionais do país que envia, particularmente quando para eles for requerida a instituição de tutela ou curatela; i) representar os nacionais do país que envia e tomar as medidas convenientes para sua representação perante os tribunais e outras autoridades do Estado receptor, de conformidade com a prática e os procedimentos em vigor neste último, visando conseguir, de acordo com as leis e regulamentos do mesmo, a adoção de medidas provisórias para a salvaguarda dos direitos e interesses destes nacionais, quando, por estarem ausentes ou por qualquer outra causa, não possam os mesmos defendê-los em tempo útil; j) comunicar decisões judiciais e extrajudiciais e executar comissões rogatórias de conformidade com os acordos internacionais em vigor, ou, em sua falta, de qualquer outra maneira compatível com as leis e regulamentos do Estado receptor; k) exercer, de conformidade com as leis e regulamentos do Estado que envia, os direitos de controle e de inspeção sobre as embarcações que tenham a nacionalidade do Estado que envia, e sobre as aeronaves nele matriculadas, bem como sobre suas tripulações; l) prestar assistência às embarcações e aeronaves a que se refere à alínea “k” do presente Artigo e também às tripulações; receber as declarações sobre as viagens dessas embarcações examinar e visar os documentos de bordo e, sem prejuízo dos poderes das autoridades do Estado receptor, abrir inquéritos sobre os incidentes ocorridos durante a travessia e resolver todo tipo de litígio que possa surgir entre o capitão, os oficiais e os marinheiros, sempre que autorizado pelas leis e regulamentos do Estado que envia; m) exercer todas as demais funções confiadas à repartição consular pelo Estado que envia, as quais não sejam proibidas pelas leis e regulamentos do Estado receptor, ou às quais este não se oponha, ou ainda as que lhe sejamatribuídas pelos acordos internacionais em vigor entre o Estado que envia e o Estado receptor. 21 UNIDADE Relações Diplomáticas e Consulares Pessoal Consular O chefe da repartição consular pode pertencer a quatro categorias: • Cônsules-gerais; • Cônsules; • Vice-cônsules; • Agentes consulares. Os funcionários consulares devem ter, em regra, a mesma nacionalidade do Estado que envia, sendo que a nomeação de pessoas da nacionalidade do Estado receptor somente poderá ocorrer com a sua concordância. CVRC Art. 22 – Nacionalidade dos funcionários consulares: § 1º – Os funcionários consulares deverão, em princípio, ter a nacionalidade do Estado que envia. § 2º – Os funcionários consulares só poderão ser escolhidos dentre os nacionais do Estado receptor com o consentimento expresso desse Estado o qual poderá retirá-lo a qualquer momento. § 3º – O Estado receptor poderá reservar-se o mesmo direito em relação aos nacionais de um terceiro Estado que não forem também nacionais do Estado que envia. Com a concordância do Estado receptor, dois ou mais Estados podem nomear a mesma pessoa como funcionário consular. Assim como ocorre com o chefe da missão diplomática, a nomeação de um cônsul é precedida de consulta ao Estado que o receberá, mediante exequatur. CVRC Art. 12 – Exequatur: § 1º – O chefe da repartição consular será admitido no exercício de suas funções por uma autorização do Estado receptor denominada exequatur, qualquer que seja a forma dessa autorização. § 2º – O Estado que negar a concessão de um exequatur não estará obrigado a comunicar ao Estado que envia os motivos dessa recusa. § 3º – Sem prejuízo das disposições dos artigos 13 e 15, o chefe da repartição consular não poderá iniciar suas funções antes de ter recebido o exequatur. A amplitude da inviolabilidade dos agentes diplomáticos não se repete em relação aos funcionários consulares, pois estes poderão ser presos “em crimes graves” e em razão de decisão judicial. 22 23 CVRC Art. 41 – Inviolabilidade pessoal dos funcionários consulares: § 1º – Os funcionários consulares não poderão ser detidos ou presos preventivamente, exceto em caso de crime grave e em decorrência de decisão de autoridade judiciária competente. § 2º – Exceto no caso previsto no Parágrafo 1º do presente Artigo, os funcionários consulares não podem ser presos nem submetidos a qualquer outra forma de limitação de sua liberdade pessoal, senão em decorrência de sentença judiciária definitiva. § 3º – Quando se instaurar processo penal contra um funcionário consu- lar, este será obrigado a comparecer perante as autoridades competentes. Todavia, as diligências serão conduzidas com as deferências devidas à sua posição oficial e, exceto no caso previsto no Parágrafo 1º deste Artigo, de maneira a que perturbe o menos possível o exercício das funções consu- lares. Quando, nas circunstâncias previstas no Parágrafo 1º deste Artigo, for necessário decretar a prisão preventiva de um funcionário consular, o processo correspondente deverá iniciar-se sem a menor demora. Locais Consulares Os locais consulares também possuem inviolabilidade, nos termos da CVRC. CVRC Art. 31 – Inviolabilidade dos locais consulares: § 1º – Os locais consulares serão invioláveis na medida do previsto pelo presente Artigo. § 2º – As autoridades do Estado receptor não poderão penetrar na parte dos locais consulares que a repartição consular utilizar exclusivamente para as necessidades de seu trabalho, a não ser com o consentimento do chefe da repartição consular, da pessoa por ele designada ou do chefe da missão diplomática do Estado que envia. Todavia, o consentimento do chefe da repartição consular poderá ser presumido em caso de incêndio ou outro sinistro que exija medidas de proteção imediata. § 3º – Sem prejuízo das disposições do Parágrafo 2º do presente Artigo, o Estado receptor terá a obrigação especial de tomar as medidas apropriadas para proteger os locais consulares contra qualquer invasão ou dano, bem como para impedir que se perturbe a tranquilidade da repartição consular ou se atente contra a sua dignidade. Assim como ocorre com os locais das missões diplomáticas – embaixadas –, deve também ser destacado que, além de garantir a inviolabilidade dos locais consulares, o Estado receptor deve adotar providências adequadas para preservá- los de qualquer tipo de invasão e dano – o que inclui especial atenção, por exemplo, a furtos e roubos – e impedimentos que causem a perturbação da tranquilidade para o desenvolvimento de suas atividades – tais como protestos contra medidas adotadas pelo Estado de origem – ou dignidade. 23 UNIDADE Relações Diplomáticas e Consulares Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Ministério das Relações Exteriores BRASIL. Ministério das Relações Exteriores. Brasília, DF, [20--]. https://goo.gl/mzi76 Leitura Constituição Federal BRASIL. Constituição Federal. Brasília, DF, 1988. https://goo.gl/HwJ1Q ______. Decreto n.º 61.078, de 26 de julho de 1967 ______. Decreto n.º 61.078, de 26 de julho de 1967. Promulga a Convenção de Viena sobre Relações Consulares (CVRC). Brasília, DF, 1967. https://goo.gl/FTHkhU ______. Decreto n.º 56.435, de 8 de junho de 1965 ______. Decreto n.º 56.435, de 8 de junho de 1965. Promulga a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (CVRD). Brasília, DF, 1965. https://goo.gl/OGhrnw 24 25 Referências ACCIOLY, H.; SILVA, G. E. do N.; CASELLA, P. B. Manual de Direito Internacional Público. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. ARAÚJO, L. I. de A. Curso de Direito Internacional Público. 10. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. HUSEK, C. R. Curso de Direito Internacional Público. 14. ed. São Paulo: LTr, 2017. REZEK, J. F. Direito Internacional Público. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2000. SEITENFUS, R. Manual das Organizações Internacionais. 3. ed. Porto Alegre, RS: Livraria do Advogado, 2003. VARELLA, M. D. Direito Internacional Público. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 25
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