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Seja bem Vindo! Curso TOC- Transtorno Obsessivo Compulsivo CursosOnlineSP.com.br Carga horária: 60hs Conteúdo Programático: O que é transtorno? O que é obsessão? O que é compulsão O que é TOC O que não é TOC Identificação e tratamento Como identificar o TOC Possíveis Causas para o TOC Tipos de Tratamento Pós-tratamento Tipos de TOC Organização e limpeza Dúvidas e verificações Pensamentos e impulsos Sequências e coleções Relatos de pacientes Bibliografia O que é transtorno? Ao consultar o dicionário Michaelis sobre a palavra “transtorno”, encontra-se a seguinte definição: “1. Ação ou efeito de transtornar. 2 Contrariedade, contratempo, decepção. 3 Prejuízo. 4 Perturbação do juízo. 5 Desarranjo.” Em outras palavras, o significado de transtorno é quando existe um desequilíbrio, uma desordem em determinado sistema. No caso de transtornos mentais, é uma perturbação na mentalidade e na sanidade de um indivíduo. Uma pessoa que é portadora de qualquer tipo de transtorno é aquela que não está em equilíbrio consigo mesma, com relação à mente, ao corpo, a sua funcionalidade e aos seus objetivos. O transtorno para o âmbito psicológico é aquilo que altera o comportamento, os pensamentos e as ações de um indivíduo. Possivelmente os pensamentos que flutuam na cabeça desse portador de transtorno não estão em ordem racional ou não fazem sentido para as demais pessoas à volta dele. Por isso, quando é detectado que uma pessoa tem um transtorno, ela passa a ser apontada e até discriminada pelas pessoas que a rodeiam. Essa reação, na realidade, se trata de falta de informação e preconceito, pois as pessoas que não têm noção de quão grave é um transtorno, geralmente iniciam um afastamento do portador e fazem dele um foco de piadas. As pessoas não portadoras de transtornos não conseguem entender os motivos ou não veem lógica nas ações de pessoas portadoras de transtornos. Um exemplo é o transtorno alimentar. Uma garota de 1,60m e que pesa 50 kg acredita que precisa perder mais dez quilos para atingir o “corpo perfeito”, corpo esse dito e detalhado pela mídia e não por um especialista em Nutrição ou um médico. Essa garota não tem uma profissão em que é exigido um corpo magérrimo e que qualquer curva significa um castigo ou uma detenção, como ocorre muito no mundo de modelos, dançarinos e celebridades. A garota simplesmente disse para si mesma que precisa baixar mais ainda seu peso e que somente quando sentir seus ossos é que o peso estará correto. Ela não se limita para garantir o objetivo de pesar 40 kg e começa a mudar seu comportamento, não apenas sua aparência física. É iniciado um processo de uso de ferramentas inadequadas, mas que a ajudam no seu objetivo: perder peso. Ela até tenta pedir auxílio para conseguir diminuir seu peso, mas as pessoas as quais ela recorreu somente disseram: “Para quê? Você está com um corpo ótimo; não precisa diminuir mais nada. Se perder mais peso, você some”. Nesse momento, a garota percebe que ninguém mais a entende e que os outros não enxergam o que ela vê: uma garota acima do peso e que não consegue diminuir os quilos em seu corpo. Com uma busca e com cuidado para não ser descoberta, a garota consegue meios para garantir que seu peso diminua, sem prescrição nem acompanhamento profissional, ou de um nutricionista ou de um médico, com especialização em perda de peso. O mal que essa garota faz contra seu corpo é sem limites, pois ela aprende a disfarçar seus métodos de emagrecimento e as pessoas que a rodeiam não percebem que algo está errado. Em resumo, na cabeça da garota, ela precisa emagrecer cada vez mais e nunca encontra um ponto de satisfação, pois jamais irá aceitará que seu corpo está esbelto e perfeito e isso se transforma em uma obsessão, fazendo com que ela não meça esforços para atingir seu objetivo, mesmo que sua saúde seja altamente prejudicada. As demais pessoas, como estão “fora da cabeça” da garota, não entendem o motivo de ela querer emagrecer mais, se já está abaixo do seu peso ideal, nem por que ela “escolhe” a opção de se machucar, somente em prol do emagrecimento. Transtornos e suas deferenças Teresa Pigott analisa os diferentes tipos de transtorno que existem e os compara com o TOC, explicando o motivo de as pessoas confundirem os sintomas de outros distúrbios com os sintomas do transtorno obsessivo- compulsivo. Quando o TOC é diagnosticado, o clínico responsável deve observar se os sintomas estão ligados ou relacionados com os seguintes transtornos: - Transtornos aditivos; - Transtorno de ansiedade devido a uma condição médica geral; - Transtorno disfórmico corporal; - Transtorno delirante ou transtorno psicótico sem outra especificação; - Transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de pânico, transtorno de estresse pós-traumático; - Hipocondria - Episódio depressivo maior (ou transtorno do humor); - Transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva; - Fobias; - Esquizofrenia; - Transtorno de ansiedade induzido por substância; - Superstições e comportamentos repetitivos de verificação; - Tiques ou síndrome de Tourette. Transtornos aditivos Embora rotulados como “compulsivos”, os comportamentos aditivos, como comer em excesso ou demonstrar comportamento sexual acima do comum, não são, de fato, compulsões de TOC. Esses transtornos aditivos causam certo prazer no indivíduo, como jogar ou ingerir grandes quantidades de substâncias químicas. A pessoa, quando decide parar com tais problemas não pensa na liberdade como objetivo e sim no afastamento dos prejuízos que eles causam. Um exemplo de prejuízo causado por esses transtornos aditivos é a perda de dinheiro. Pessoas que precisam jogar ou se empanturrar de bebida alcoólica ou comida hipotecam casa, carro, deixam de pagar a escola dos filhos e põem em risco a saúde dos familiares. Tudo em função do vício. Essas pessoas não fazem rituais e não acreditam que se não o fizerem, algo de ruim irá acontecer a elas ou aos seus familiares, como ocorre no TOC. Portadores de TOC demonstram a compulsão por executar determinadas tarefas, justamento porque seu pensamento é esse: se ele não fizer tal tarefa, algo de terrível irá acontecer. Transtorno de ansiedade Nesse transtorno de ansiedade, o clínico responsável deve esclarecer se a ansiedade do paciente está correlacionada com os sintomas do TOC. O histórico médico, os resultados laboratoriais e o exame físico são essenciais para confirmar tal situação. As condições médicas gerais que podem causar ansiedade incluem: - Problemas endócrinos como hipertireoidismo, hipotireoidismo ou hiperglicemia, conhecida também por Diabetes. - Problemas cardíacos como insuficiência cardíaca ou arritmia (batimento irregular do coração). - Problemas pulmonares como doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema, asma), embolia, pneumonia ou hiperventilação. - Problemas nutricionais como deficiência de vitaminas B12 ou porfiria. - Outras condições como neoplasmas (tumores,câncer) ou encefalite. Transtorno disfórmico corporal O que é um sintoma comum na maioria dos transtornos mentais é a presença de pensamentos, imagens e comportamentos recorrentes ou intrusivos. Portanto, a existência desses sintomas não é útil para diagnosticar o TOC. O clínico responsável deve compreender a situação, por meio do histórico médico e exame físico, a fim de estabelecer a origem desse sintoma. Se, por exemplo, a preocupação com a aparência é na realidade uma fobia relacionada com defeito físico significa que provavelmente o paciente apresenta um viés para o desenvolvimento do TOC. Em outras palavras, o clínico responsável deve procurar outros sintomas, para fazer a ligação de qual doença está começando a comandar seu organismo, em especial sua mente. O transtorno disfórmico corporal (TDC) tem como característica principal a preocupação excessiva com um defeito imaginário ou um pequeno defeito na aparência. É também conhecido popularmente como feiúra imaginária. As preocupações mais comuns são em relação ao rosto, às orelhas e aos genitais. Também são frequentes preocupações relacionadas ao nariz, aos cabelos, a pintas e à quantidade de pelos, que os pacientes consideram defeitos. Geralmente os indivíduos que sofrem desse transtorno passaram por consultórios de cirurgia plástica ou dermatologistas antes de procurar o psicólogo ou o psiquiatra. Eventualmente realizaram cirurgias com finalidades estéticas desnecessárias, que não eliminaram suas queixas. Calcula-se que entre 7% e 15% dos que procuram cirurgia plástica por razões estéticas sejam portadores de TDC. O TDC pode ser confundido com o TOC em razão das preocupações persistentes (pensamentos intrusivos) verificações (diante do espelho) e busca de reasseguramentos, comuns no quadro. Como os sintomas de ansiedade surgem sobretudo em situações de exposição pública, os indivíduos tendem a evitá-las. Apresentam boa resposta à terapia cognitivo-comportamental e a medicamentos. Transtornos delirantes A capacidade de uma pessoa para dar-se conta de que as obsessões ou as compulsões são irracionais ocorre ao longo de um continum. Em alguns indivíduos com TOC, o teste de realidade pode estar ausente e a obsessão pode alcançar proporções delirantes. Por exemplo, a pessoa realmente acredita que foi responsável pela queda de um avião pelo fato de tê-lo desejado. Em tais casos, a presença de características psicóticas pode justificar um diagnóstico adicional de transtorno delirante ou transtorno psicótico sem outra especificação. O especificador “com insight pobre” pode ser útil em situações que se encontram na fronteira entre a obsessão e o delírio. Por exemplo, um paciente obsessivo-compulsivo que se dá conta, na maior parte do tempo, de que não é responsável por quedas de aviões, mas que, ocasionalmente, fica preocupado se de fato causou alguma, seria diagnosticado como tendo TOC com insight pobre. Transtorno de ansiedade generalizada As pessoas que têm transtorno de ansiedade eneralizada experimentam preocupações excessivas e persistentes relacionadas a circunstâncias da vida real. Em contrapartida, aquelas que têm TOC vivenciam obsessões cujo conteúdo é mais provavelmente irrealista e encarado pelo paciente como inadequado. Por exemplo, preocupações persistentes, mas de alguma forma racionais a respeito das finanças, preocupações com a saúde ou com o próprio emprego seriam consideradas TAG, enquanto temores irracionais de provocar incêndio por deixar o fogão ligado ou de machucar seu filho com uma faca constituem obsessões. A marca registrada do transtorno do pânico é a presença de ataques de pânico espontâneos, não provocados. Embora certos pensamentos ou estímulos como, por exemplo, que germes possam precipitar ataques de ansiedade semelhantes ao pânico no TOC, os pacientes não experimentam ansiedade não provocada. Em vez disso, imagens intrusivas ou determinados estímulos desencadeiam a ansiedade no TOC. Imagens ou flashbacks recorrentes podem acontecer durante o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), mas tais sintomas surgem após um acontecimento ou tragédia com risco de morte que realmente já aconteceu. No TOC, os pensamentos intrusivos ou temores excessivos referem-se a fatos que poderiam ocorrer. O transtorno de ansiedade generalizada também é conhecido pela sigla TAG e sua principal característica é a presença excessiva da ansiedade. A evolução dessa ansiedade é a apreensão e a tensão psicológica. O TAG é facilmente confundido com o TOC porque ambos dividem um sintoma: verificações. A pessoa ansiosa ao extremo costuma fazer certificações repetidas vezes, a fim de ter certeza de que nada de ruim irá acontecer com sua saúde ou daqueles com quem ela se importa. Episódio depressivo maior Ruminações são comuns em indivíduos deprimidos e desenvolvem-se como parte de um humor depressivo. Tendem a se resolver com o tratamento efetivo da depressão. Diferentemente dos indivíduos com TOC, que tentam ignorar ou suprimir as obsessões, as pessoas depressivas não tentam suprimir ou ignorar suas preocupações depressivas. Tanto o TOC quanto a depressão maior geralmente envolvem sintomas de isolamento e distúrbio do sono. Entretanto, é a origem dessas perturbações, mais do que a perturbação em si, o que diferencia a depressão do TOC. Por exemplo, um distúrbio do sono causado pela preocupação obsessiva de ter causado uma catástrofe estaria relacionado ao transtorno, enquanto um distúrbio do sono acompanhado por um sentimento de desânimo e desesperança indicaria depressão. Transtorno da personalidade onsessivo-compulsiva Embora os nomes „TOC‟ e „transtorno da personalidade obsessivo- compulsiva‟ (TPOC) sejam similares, as apresentações clínicas são bem diferentes. O TPOC não envolve a presença de verdadeiras obsessões ou compulsões. Em vez disso, envolve um padrão dominante de preocupações com ordem, perfeccionismo, regras rígidas e controle, à custa de flexibilidade e disposição para fazer mudanças. Os indivíduos com TPOC não limpam nem verificam as coisas temendo uma tragédia. Simplesmente exigem ordem, perfeição e controle nas suas vidas. Acumular ou colecionar objetos de forma excessiva pode ser um sintoma de TPOC ou TOC. Se um indivíduo expressa sintomas de ambos os transtornos, o clínico pode estabelecer um diagnóstico duplo. Um problema frequentemente confundido com o TOC é o chamado transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva (TOPC). São indivíduos perfeccionistas, detalhistas, meticulosos, exigentes e rígidos em questão de moral, tanto consigo mesmos como com os outros, muito preocupados com pontualidade, ordem, organização e em não cometer falhas. Caracterizam-se, ainda, pelo excessivo devotamento ao trabalho e aos deveres, por serem emocionalmente contidos, controladores e centralizadores das decisões (só eles sabem fazer bem-feito), obstinados, tendo dificuldade em aceitar opiniões divergentes das suas. Apresentam dificuldade em desfazer-se de objetos usadosou inúteis, mesmo quando não têm valor sentimental – aspecto comum no TOC. Tendem a ser avarentos e pouco generosos. Alguns desses traços podem ser úteis, mas, quando exagerados a ponto de interferir nas relações interpessoais, configuram transtorno da personalidade. Esses pacientes sofrem quando suas opiniões e atitudes são contrariadas em função das circunstâncias (por exemplo, chegar atrasado a um evento, deixar de cumprir um compromisso, cometer uma falha ou ouvir uma crítica tronam-se incidentes causadores de grande sofrimento). Fora dessas situações, eles consideram sua maneira de ser correta e não sofrem com ela (egosintônicos). Não apresentam obsessões ou desconforto associado, nem são compelidos a realizar rituais. Entretanto, por serem perfeccionistas e muito exigentes, necessitam repetir tarefas (o que lembra um ritual), demoram a completá-las, podendo eventualmente ser caracterizados como compulsivos. Fobias A agorafobia é caracterizada pelo temor que a pessoa tem de passar por uma situação que lhe cause um ataque de ansiedade. Tipicamente, isso inclui estar em lugares com muitas pessoas ou sobre pontes, viajar para longe de casa e situações similares em que a pessoa sente-se sem condições de escapar. Uma preocupação limitada a um objeto, como cobras, ou situação temida seria diagnosticada como uma fobia específica ou fobia social. Um diagnóstico adicional de TOC pode ser justificado em caso de obsessões ou compulsões cujo conteúdo não esteja relacionado com outro transtorno mental. A fobia específica de doença deve ser diagnosticada em vez de TOC caso a principal preocupação do paciente envolva contrair uma doença (e não tê-la) e não existem rituais envolvidos. Esquizofrenia Similar a alguns delírios esquizofrênicos, o conteúdo das obsessões no TOC pode ser bastante bizarro, como a crença de que a pessoa pode acidentalmente selar a si mesma dentro de um envelope e ser depositada na caixa de correio. A diferença é que as pessoas obsessivo-compulsivas têm consciência da natureza irracional desses temores. De modo geral, não apresentam outros sintomas de psicose ou esquizofrenia, como marcada falha nas associações de ideais, alucinações proeminentes, afeto inadequado ou inserção de pensamento. Transtorno de ansiedade induzido por substância O diagnóstico de um transtorno de ansiedade induzido por substância envolve ansiedade excessiva julgada pelo clínico como diretamente relacionada ao efeito psicológico do abuso de substâncias, efeitos colaterais de um medicamento prescrito ou sem prescrição, ou exposição a toxinas. Os clínicos podem diferenciá-los do TOC por meio do exame cuidadoso da história (e, talvez, de um exame de droga na urina) para determinar se os sintomas de TOC foram desencadeados pelo uso ou pela interrupção do uso de substância ilícita, álcool ou medicamento. Superstições e comportamentos repetitivos de verificação Comportamentos supersticiosos, embora controlados com frequência na vida diária, levam a um diagnóstico de TOC se elaborados de modo repetitivo, parecerem ter conteúdo obsessivo e resultarem em prejuízo ou sofrimento clinicamente significativo. Por exemplo, um pensamento mágico que acione rituais que consomem mais de uma hora por dia. O que é obsessão? A American Psychiatric Association: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders divulgou um estudo em que estão separados os conceitos de que constroem o sentido de transtorno obsessivo-compulsivo. Esse estudo aponta três definições para o termo “obsessão”. 1. Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como intrusivos e inadequados e causam acentuada ansiedade ou sofrimento. 2. Os pensamentos, impulsos ou imagens não são meras preocupações excessivas com problemas da vida real. 3. A pessoa tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou neutralizá-los com algum outro pensamento ou ação. 4. A pessoa reconhece que os pensamentos, impulsos ou imagens obsessivas são produto de sua própria mente (não impostos a partir de fora, como na inserção de pensamentos). Para complementar, colocaremos o conceito de obsessão de acordo com Aristides Volpato, em seu livro TOC: Manual de terapia cognitivo- comportamental para o transtorno obsessivo-compulsivo. As obsessões são pensamentos ou impulsos que invadem a mente de forma repetitiva e persistente. Podem ainda ser imagens, palavras, frases, números, músicas, etc. Sentidas como estranhas ou impróprias, as obsessões geralmente são acompanhadas de medo, angústia, culpa ou desprazer. O indivíduo, no caso do TOC, mesmo desejando ou se esforçando, não consegue afastá-las ou suprimi-las de sua mente. Apesar de serem consideradas absurdas ou ilógicas, causam ansiedade, medo, aflição ou desconforto, que a pessoa tenta neutralizar realizando rituais/compulsões ou evitações (não tocar, evitar certos lugares). Obsessões mais comuns: - Preocupação excessiva com sujeira, germes contaminação; - Dúvidas; - Preocupação com simetria, exatidão, ordem, sequência ou alinhamento; - Pensamentos, imagens ou impulsos de ferir, insultar ou agredir as pessoas; - Pensamentos, cenas ou impulsos indesejáveis e impróprios relacionados a sexo (comportamento sexual violento, abuso sexual decrianças, homossexualidade, palavras obscenas); - Preocupação em armazenar, poupar, guardar coisas inúteis ou economizar; - Religião (pecado, culpa, escrupulosidade, sacrilégios ou blasfêmias); - Pensamentos supersticiosos: preocupação com números especiais, cores de roupa, datas e horários (podem provocar desgraças); - Palavras, nomes, cenas ou músicas instrumentais e indesejáveis. Como as obsessões se originam? Nossa mente é quase que permanentemente invadida ou “bombardeada” por pensamentos involuntários, também chamados de pensamentos automáticos. Essas “invasões” são um fenômeno universal e fazem parte da atividade mental normal. Elas ocorrem espontaneamente e da mesma forma que surgem, desaparecem. Como não acarretam preocupação para a maioria das pessoas, que não dão importância a elas, facilmente são esquecidas. Entretanto, para alguns desses individuos mais senséveis, a ocorrência de alguns desses pensamentos (de contaminação, responsabilidade, de conteúdo agressivo, obsceno ou sexual) é interpretada como indicativa de algum risco: de que está havendo ameaça à sua saúde ou à de sua família, de que pode vir a cometer ato criminoso ou moralmente inaceitável. Acredita-se que essa interpretação errônea e catastrófica da presença desses pensamentos, em razão da aflição que provoca, faz com que certos pensamentos intrusivos normais se transformem em obsessões, levando a pessoa a agir, tentando neutralizá-los (fazer um ritual, evitar, tentar afastar o pensamento no sentido de diminuir as consequências desastrosas imaginadas e a aflição sentida. O que é compulsão? Conforme o mesmo estudo da American Psychiatric Association: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, a compulsão tem por definição: 1. Comportamentos repetitivos (lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que a pessoa sesente compelida a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas. 2. Os comportamentos ou atos mentais visam prevenir ou reduzir o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida, entretanto, esses comportamentos ou atos mentais não têm uma conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar ou são claramente excessivas. A. Em algum ponto durante o curso do transtorno, o indivíduo reconheceu que as obsessões ou compulsões são excessivas ou irracionais. B. As obsessões ou compulsões causam acentuado sofrimento, consomem tempo (tomam mais de uma hora por dia) ou interferem significativamente na rotina, no funcionamento ocupacional (ou acadêmico), em atividades ou relacionamentos sociais habituais do indivíduo. C. Se outro transtorno do Eixo I está presente, o conteúdo das obsessões ou compulsões não fica restrito a ele. Por exemplo, - Preocupação com alimentos em caso de um Transtorno de Alimentação; - Arrancar os cabelos pela presença de Tricotilomania; - Preocupação com a aparência na presença de Transtorno Dismórfico Corporal; - Preocupação com drogas na presença de Transtorno por Uso de Substância; - Preocupação em ter uma doença grave na presença de Hipocondria; - Preocupação com anseios ou fantasias sexuais na presença de uma parafilia; - Ruminações de culpa em caso de Transtorno Depressivo Maior. Já para Aristides Volpato, compulsões são comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos, executados em resposta a obsessões ou em virtude de regras que devem ser seguidas rigidamente. Os exemplos mais comuns são lavar as mãos, fazer verificações, contar, repetir frases ou números, alinhar, repetir perguntas etc. As compulsões aliviam momentaniamente a ansiedade associada às obsessões, levando o indivíduo a executá-las toda vez que sua mente é invadida por uma obsessão. Por esse motivo, diz-se que as compulsões têm relação funcional (de aliviar a aflição) com as obsessões. E, como são bem-sucedidas, o indivíduo é tentado a repeti-las em vez de enfrentar seus medos, o que acaba por perpetuá-los. A pessoa se tona prisioneira dos seus rituais. Nem sempre as compulsões apresentam conexão realística com o que desejam prevenir (por exemplo, alinhar chinelos ao lado da cama antes de deitar para que não aconteça algo ruim no dia seguinte, dar três batidas em uma pedra da calçada ao sair de casa para que a mão não adoeça). Nesse caso, por trás desses rituais existe um pensamento ou obsessão de conteúdo mágico, muito semelhante ao que ocorre na superstição. Os dois termos (compulsões e rituais) são utilizados praticamente como sinônimos, embora o termo “ritual” possa gerar alguma confusão na medida em que as religiões e muitos grupos culturais adotam comportamentos ritualísticos e contagens nas suas práticas: ajoelhar-se três vezes, rezar seis ave-marias, ladainhas, rezar três ou cinco vezes ao dia, benzer-se ao passar diante de uma igreja. Existem rituais para batizados, casamentos, funerais etc. Além disso, certos costumes culturais, como a cerimônia do chá entre os japoneses, o cachimbo da paz entre os índios ou o funeral com honras militares, envolvem ritos que lembram as compulsões do TOC. Por esse motivo, há certa preferência pelo termo “compulsão” quando se fala de TOC. Compulsões mais comuns: - Lavagem ou limpeza; - Verificações ou controle; - Repetições ou confirmações; - Contagens; - Ordem, simetria, sequência ou alinhamentos; - Acumular, guardar ou colecionar coisas inúteis (colecionismo), poupar ou economizar; - Compulsões mentais: rezar, repetir palavras, números, frases; - Diversas: tocar, olhar, bater de leve, confessar, estalar os dedos. Compulsões mentais Algumas compulsões não são percebidas pelas demais pessoas, pois são realizadas mentalmente e não mediante comportamentos motores observáveis. Elas têm a mesma finalidade: reduzir a aflição associada a um pensamento. Exemplos: - Repetir palavras especiais ou frases; - Rezar; - Relembrar cenas ou imagens; - Contar ou repetir números; - Fazer listas; - Marcar datas; - Tentar afastar pensamentos indesejáveis, substituindo-os por pensamentos contrários. A origem das compulsões Atualmente se acredita que as compulsões existam em razão das obsessões: são realizadas com a finalidade de aliviar ou neutralizar a aflição, o desconforto e o medo. Certas compulsões (como dar uma olhada para o lado, tocar, raspar, estalar os dedos, fechar a mão com força etc.) são realizadas sem que qualquer pensamento as preceda. Trata-se apenas de uma sensação de desconforto ou tensão física que necessita ser aliviada ou descarregada e que precede a realização desses rituais motores. O que é TOC? De acordo com Aristides Volpato, especialista em transtorno obsessivo- compulsivo, o TOC caracteriza-se por pensamentos, frases, palavras, cenas ou impulsos que invadem a consciência, involuntários ou impróprios, persistentes e recorrentes – as obsessões –, geralmente acompanhados de aflição ou medo e tentativas de ignorar, suprimir ou neutralizar esses pensamentos através da realização de atos repetitivos e estereotipados – as compulsões ou rituais. Para os especialistas brasileiros, o TOC recebe o nome também de transtorno de ansiedade. Sua classificação acompanha o medo extremo de objetos, animais e lugares, conhecido por fobias; a fobia de social, que abrange o medo de ter contato com as pessoas ou a exposição pública; o transtorno de pânico (ansiedade extrema, repulsa de voltar a um lugar em que um ataque de ansiedade já ocorreu); e a ansiedade generalizada. Pelo tempo que tomam, pelo desconforto que provocam ou pelo que levam o paciente a executar ou a evitar, comprometem as rotinas diárias, o desempenho profissional e as relações interpessoais. Para Aristides, esse transtorno tem origem biológica e psicossocial, ou seja, não é apenas um estado físico ou um estado mental da pessoa. Ela não escolhe, simplesmente, ser obsessiva por algo. Dada essa perspectiva, a etiologia, a apresentação clínica, o curso, o prognóstico e a resposta a tratamentos tomam caminhos diferentes para cada indivíduo, pois é preciso analisar o transtorno, o que levou o paciente a desenvolvê-lo, características mentais e peculiaridades genéticas. Os sintomas que apontam que o indivíduo tem TOC provocam mudanças extremas, não somente de comportamento, como também de pensamentos (obsessões como dúvidas, preocupações excessivas, pensamentos de conteúdo impróprio ou “ruim”) e de emoções (medo, aflição, culpa, depressão, desconforto). Os medos e as aflições são a razão principal de o indivíduo com TOC realizar os rituais, as obsessões e as compulsões que dominam sua mente. Os portadores do transtorno obsessivo-compulsivo acreditam que se não realizarem exatamente essas tarefas algo de terrível vai acontecer com eles ou com seus amigos e familiares. A mesma linha de raciocínio está presente em pacientes que apresentam obsessão por limpeza e higiene, ou seja, que têm medo extremo de se contaminar. O temor é de que se segurar uma maçaneta diretamente com a mão, ao sair do banheiro, certamente ele irá se contaminar com micro-organismo e irá adoecer. JáGail Steketee, também especialista no assunto, diz que o transtorno obsessivo-compulsivo é um transtorno de ansiedade que envolve obsessão ou compulsão recorrentes que consomem tempo ou causam grandes dificuldades na vida diária. Obsessões consistem em pensamentos, imagens ou impulsos recorrentes, acompanhados de angústia, experimentados como indesejáveis e irracionais, porém difíceis, se não impossíveis, de ignorar ou resistir. Por sua vez, compulsões são condutas ou ações geralmente desencadeadas por obsessões. Apesar de o TOC ser um problema bastante antigo, acreditava-se que ele atingia pouquíssimas pessoas, mas essa não é a realidade. O transtorno obsessivo-compulsivo atinge quase 3% da população. Entende-se que, ao longo da vida, as pessoas desenvolvem a obsessão por algo, seja por números, por organização ou por rotina. No livro Transtorno onsessivo-compulsivo: as mais recentes estratégias de avaliação e tratamento, existe a informação de que quase três milhões de norte-americanos sofrem de TOC alguma época determinada, com algo em torno de 7,45 milhões de pessoas apresentando sintomas de TOC em algum momento da vida. Esse transtorno mental está entre os mais conhecidos e mais comuns nos Estados Unidos, marcando presença duas vezes maior que a esquizofrenia, um dos piores transtornos mentais existentes. Após muitos estudos, compreendeu-se que esse transtorno inicia-se ainda na infância, evoluindo ao final da adolescência e, na maioria dos casos, acompanhando o paciente para o resto de sua vida. É provável que de um terço à metade dos adultos que sofrem desse transtorno tenham apresentado sintomas durante a infância. Os avanços com relação à análise e ao tratamento do TOC nas últimas duas décadas culminaram no crescimento do número de crianças tratadas. Na verdade, os estudos mostram que o transtorno em crianças de até 18 anos tem incidência entre 0,06% e 2%. O sexo não é um limitante para o desenvolvimento do TOC, porém, quando falamos de crianças, os meninos são mais atingidos. Entre um e dois terços das pessoas portadoras do transtorno obsessivo-compulsivo desenvolveram o TOC após um momento traumático na vida, como a morte de um ente querido, uma gravidez, um nascimento ou problemas relacionados à sexualidade do paciente. Existem outras características, como aponta Gail Steketee: - Pouco mais da metade dos portadores de TOC são mulheres; - As pessoas que têm TOC possuem inteligência acima da média; - A idade de pico de início para os homens situa-se entre os 13 e os 15 anos; - A idade de pico de início para as mulheres situa-se entre os 20 e os 24 anos; - O início geralmente ocorre de forma gradual. Muitos portadores dessa doença esperam anos antes de procurar tratamento. Na verdade, uma pesquisa feita com pacientes obsessivo- compulsivos revelou uma demora média de sete anos entre o início dos sintomas e o momento em que se procura tratamento. Essa hesitação pode ser devido à vergonha e ao embaraço, pois as pessoas com TOC geralmente desconhecem o fato de muitas outras possuírem sintomas semelhantes. Minorias étnicas, como os afro-americanos, os americanos e os asiáticos-americanos, frequentemente lutam contra obstáculos adicionais que podem adiar ainda mais a identificação e o tratamento do TOC, incluindo nível mais alto de desconfiança em relação aos profissionais de saúde mental, relutância em procurar ajuda fora do contexto familiar ou da comunidade étnica e maior hesitação em usar medicamentos prescritos. A qualidade de vida dos portadores comumente é muito pior do que a da população em geral. A gravidade do transtorno varia de leve (rituais minuciosos, como alinhar objetos na escrivaninha antes de conseguir iniciar alguma atividade) até grave (realizar ritual de duas ou três horas antes de conseguir ir para a cama). Muitos dos rituais do TOC precisam ser executados em uma sequência específica que, se for interrompida, deve ser refeita desde o começo. Tais rituais podem ser particularmente incapacitantes na medida em que, de modo geral, consomem muitas horas do dia do indivíduo. Muitos pacientes obsessivos-compulsivos vivenciam uma diminuição significativa em sua capacidade funcional, incluindo perda do emprego, separação conjugal e perda dos relacionamentos interpessoais. Na verdade, o início mais precoce do TOC nos homens provavelmente contribui para a sua surpreendente baixa taxa de casamento, cerca de 25%. Alguns tipos de TOC não são prejudiciais à saúde do paciente, mas é preciso levar em consideração o nível de desenvolvimento/evolução, a idade do paciente, o tipo de obsessão e como essa obsessão afeta o cotidiano do paciente. Colocamos abaixo três exemplos de transtorno obsessivo-compulsivo. A primeira imagem se refere àquelas pessoas que apresentam obsessão com a limpeza e que têm fobias extremas, medos e aflições de se contaminarem. Por isso, lavam as mãos insistentemente. O desenho mostra uma pilha de sabonetes ao lado do indivíduo, ilustrando que ele realmente demonstra uma obsessão com relação à limpeza e higiene. A segunda figura traz a imagem de um homem limpando o registro do chuveiro com uma escova de dentes. Aqui também é notada a limpeza excessiva, mas diferente do desenho anterior, o indivíduo não tem medo de se contaminar. O uso da luva e da escova de dentes demonstra o desespero do indivíduo em manter cada local da sua casa impecavelmente limpo. Para indivíduos com TOC, não basta apenas passar um pano, é preciso esfregar e esfregar. Já na terceira figura, a obsessão demonstrada é a da organização. Nota- se que as camisas foram todas organizadas por cor e por contrates, assim como os cabides estão todos virados para o mesmo lado. Há uma brincadeira na capa desse livro Mente e Manias, que é a presença da camisa vermelha em meio ao mar de camisas azuis. No caso de pessoas com TOC, essa camisa vermelha cria uma inquietação e enquanto a camisa vermelha não estiver com as demais camisas vermelhas, a pessoa não encontra sossego e fica irritada, de modo que não para de pensar na tal da camisa vermelha. A organização desse armário é exagerada. Cada indivíduo tem uma maneira de organizar suas roupas, por tamanho, cor ou estação, mas quando isso se torna uma obsessão, há algum problema. Não é porque uma pessoa tem o armário organizado que significa que ela tem transtorno obsessivo-compulsivo. O nível da organização pode dar um indício de seu comportamento: se essa pessoa é apenas organizada ou se ela tem uma obsessão. O que não é TOC Como vimos acima, os sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo são vários e facilmente confundidos com manias, rituais e superstições. Por isso, dividimos uma parte deste curso para que você saiba reconhecer o que pode ser sintoma e o que é apenas uma mania diária. A seguir, usaremos informações retiradas do livro de Aristides Volpato e do livro de Teresa Pigott. Todas as pessoas têm manias e superstições, pois isso faz parte da vida em sociedade e da própria cultura, porém, há momentos em que essas manias e rituais saem do controle e é nessa hora que a atenção deve ser dobrada. O aumento da violência é um dos fatores que fez com que a sociedade desenvolvesse um enorme medo até mesmo dentro de casa, pois lugar algum está livre de pessoas criminosas. Devido a isso, muitas pessoas começarama verificar as trancas de portas e janelas de suas casas, para que ninguém indesejado pudesse adentrar na residência. Essa verificação é natural até o momento que ela é feita apenas umaou duas vezes. O problema é que essa verificação, depois que passa da quinta, sexta, vigésima vez, se torna um sintoma de transtorno obsessivo- compulsivo. Outro exemplo é quando uma pessoa está se preparando para uma avaliação que demanda muita dedicação, fazendo com que ela tenha que repetir inúmeras vezes uma lista, a fim de ter certeza de que a memorização teve sucesso. Quando estamos preparando uma viagem também verificamos se todos os itens da lista foram cumpridos para a arrumação das malas e a organização da viagem. Nesse caso verificamos nas bagagens: - Objetos pessoais; - Roupas para as temperaturas esperadas no local de estadia; - Acessórios necessários; - Calçados; - Roupas íntimas; - Objetos de higiene pessoal; - Lençóis e toalhas (se necessário). Quanto à organização da viagem: - Se os documentos estão todos de acordo; - Se as passagens foram compradas e estão em mãos; - Se foi feita a manutenção adequada do veículo de transporte; - Se alguma conta ou pendência que terá seu vencimento durante a viagem foi devidamente paga; - No caso de viagens para o exterior, se os vistos e os passaportes estão em ordem. Um sentimento comum quando iniciamos uma viagem é de que algo ficou para trás e, geralmente, esquecemos algo. Mas em geral é algo que é possível comprar no local para onde estamos nos encaminhando. Algumas pessoas se preocupam, quando saem de casa se desligaram todas as luzes ou se o gás está devidamente fechado. São preocupações comuns e naturais. As lâmpadas ligadas causam desperdício e o gás ligado pode resultar em um incêndio. As dúvidas, outro sintoma de TOC, também são algo constante na vida cotidiana, como decidir se comprar um carro é a melhor opção ou se continuar utilizando transporte público, pois o veículo tem um gasto muito maior e as finanças da casa devem ser levadas em consideração. Mesmo com relação aos atos sexuais, as dúvidas invadem a cabeça das pessoas. Um exemplo é o sexo casual, que faz com que muitas pessoas, após a relação, se sintam intrigadas se contraiu uma doença ou se pode ter engravidado, pela ausência de um preservativo ou por ele ter rompido durante a relação sexual. Essas situações e preocupações somente se transformam em sintomas de transtorno obsessivo-compulsivo se não são esquecidas ou resolvidas dentro de um período de tempo e se o sofrimento e a aflição que as rodeiam modificam completamente a rotina daquela pessoa. Apresentações clínicas que devem ser distinguidas do TOC Nem sempre o diagnóstico do TOC é simples ou está claro. Há uma diversidade de apresentações clínicas psiquiátricas com as quais se confunde. Além disso, muitas vezes a pessoa pode ser portadora de mais de uma psicopatologia ao mesmo tempo (as co-morbidades), o que tem implicações importantes para o plano geral de tratamento. Depressão É muito comum que portadores de TOC apresentem também depressão, seja como condição separada (co-morbidade) como consequência do comprometimento das atividades diárias ou das relações interpessoais, ou até mesmo em decorrência de pensamentos catastróficos ou de culpa, relacionados ao excesso de responsabilidade, ou pensamentos inadequados, pelos quais se condena. As pessoas, quando estão deprimidas, deixam a mente mais propensa a receber pensamentos negativos, que podem ser sobre si mesmo, sobre a sociedade ou sobre o futuro. Desesperança, desamparo, culpa ou sentimento de falha são as sensações que dominam a mente das pessoas com depressão. Esse processo de ficar repetindo inúmeras vezes tal sofrimento pode ser confundido com um dos sintomas do TOC. A depressão é caracterizada pela presença de tristeza, diminuição do interesse pela vida, perda de peso, insônia, fadiga ou perda de energia, dificuldade de se concentrar, pensamentos de morte e sentimento de inutilidade ou culpa excessiva. Fobias específicas O medo é um dos sintomas do TOC, mas é preciso ser analisado com muito cuidado, já que ter medo é uma condição natural do ser humano. O medo extremo, no entanto, deve ser tomado como um sintoma e levado diretamente a um médico especializado. No caso de fobias, como são chamados esses medos extremos, osindivíduos portadores de TOC têm várias, principalmente com relação a germes e àqueles que possam prejudicar sua saúde. Para se proteger, evitam tocar em objetos desconhecidos ou usar banheiros de locais fora de sua casa. Isso acarreta em hipervigilância e num desconforto para a pessoa e para aqueles que a rodeiam. Porém, esse sintoma deve ser avaliado para ver o motivo dessa evitação. Se a causa for o medo de insetos, animais ou microrganismos, a pessoa somente apresenta sintoma de alguma fobia. Agora, se o motivo for o medo de se contaminar porque a pessoa desconhece aquele lugar ou acredita que vai ficar doente se tocar, encostar ou usar determinado objeto, então o sintoma está mais ligado com o TOC. Dependência de drogas e álcool As pessoas que são dependentes químicas têm uma preocupação constante: como obter a droga. A partir daí, demais pensamentos invadem a cabeça do dependente, que afetam diretamente em seu comportamento e seu cotidiano. Entre eles, podemos citar: quando será a próxima vez que a pessoa irá consumir a droga, quais amigos também fazem uso dela, quanto vai gastar para obtê-la, a quais locais deve ir para consegui-la. Dado esses pensamentos, a pessoa torna-se obsessiva com a droga e, quando passa próximo de usuários ou de locais de venda, sente a incontrolável vontade de consumir a droga, o que é visto como uma compulsão. Mas o problema aqui deve ser analisado separadamente, porque a causa da obsessão e da compulsão está ligada à dependência da droga e não a um transtorno mental. Transtorno da alimentação: anorexia nervosa, comer compulsivamente e bilimia nervosa Os transtornos da alimentação podem ser confundidos com o TOC. Nessas condições, a comida, o peso, as calorias, enfim, a imagem corporal vira obsessão, pois ocupa boa parte do tempo do paciente, que tem percepção errada de sua imagem corporal e do seu peso. Mesmo muito magros, esses pacientes acreditam que estão obesos ou, pelo menos, que estão acima do peso. Esses transtornos da alimentação podem estar ligados ao TOC, mas devem ser avaliados precisamente por um especialista. Na anorexia nervosa, além da preocupação constante em fazer dieta e perder peso, são comuns rituais como organizar a comida na despensa, calcular calorias todo o tempo e fazer exercícios compulsivamente para perder peso. Modelos, bailarinas, celebridades, executivas e pessoas que estão num ambiente em que são um ponto de referência para os demais com relação à aparência, principalmente, desenvolvem esses problemas de maneira bastante comuns. A mídia ajuda muito a colocar os pensamentos de “corpo perfeito” na cabeça das pessoas e algumas delas se deixam levar por tais padrões. É natural fazer uma dieta ou contar quantas calorias foram consumidas por dia se a pessoa está com um acompanhamento clínico especializado (nutricionista) e precisa manter tal peso para garantir seu emprego. O problemaocorre quando a pessoa passa dos limites e acredita que precisa apenas consumir 100 calorias diárias, quando o recomendado para manter a saúde em ordem é cerca de 2.500 calorias. Na bulimia nervosa, são comuns episódios em que o paciente, em situações de ansiedade, ingere grandes quantidades de comida em curto espaço de tempo, muitas vezes seguidos da indução de vômitos ou do uso de laxantes. Rituais como apalpar-se, pesar-se ou olhar-se no espelho inúmeras vezes são frequentes em ambos os quadros. A associação entre TOC e transtornos alimentares é comum. Uma paciente com anorexia nervosa e TOC, simultaneamente, se apalpava inúmeras vezes ao dia pra ver se conseguia sentir os ossos, pois acreditava que o peso ideal seria atingido quando os ossos fossem visíveis ou palpáveis. Além disso, alinhava meticulosamente as porções de comida no prato; atava com uma fita as embalagens de cereais depois de comê-los para jogá- los no lixo, pois acreditava que isso a impediria de engordar; alisava meticulosamente a margarina ao passá-la no pão, pois pensava que, dessa forma, comeria menos calorias; e gastava boa parte do seu tempo em ruminações sobre comida, calculando calorias de cada porção que ingeria ou que havia consumido no dia anterior. Superestimava a importância do peso – era tudo em sua vida –, além de ter percepção distorcida do mesmo – achava-se gorda tendo apensa 50kg. Essa paciente também apresentava sintomas típicos do TOC: - Obsessões com sujeira - Rituais de limpeza - Compulsões por alinhamento e simetria - Evitações - Verificações Transtornos Relacionados ao TOC Após alguns estudos que abrangem a herança genética, os sintomas e a resposta ao tratamento, foi possível chegar à conclusão de que existem transtornos que estão diretamente ligados ao TOC, mas que não são de fato sintomas de TOC. As características como alta impulsividade e subestimação dos riscos (cleptomania, compulsões sexuais, jogo patológico), se encontram num extremo da linha de raciocínio, enquanto no outro extremo há preocupação excessiva com a possibilidade de prejuízos e compulsividade. Podemos ainda dizer que ao longo dessa linha existe a tricotilomania, o transtorno de Tourette, as compulsões por compras e as compulsões por comida. Listamos a seguir esses transtornos mais detalhadamente para que você tenha melhor conhecimento sobre eles e sobre seus sintomas. É importante entender por que algumas pessoas confundem tais transtornos com TOC. Hipocondria Como definição mais simples, a hipocondria é a preocupação excessiva e persistente de ser infectado por alguma doença grave. Os sintomas físicos, tanto próprios quanto os sintomas das pessoas ao redor, incomodam e fazem com que a pessoa hipocondríaca acredite que está doente. Um exemplo é começar a se coçar perto de um indivíduo hipocondríaco. Você começa a se coçar porque um pernilongo acabou de aplicar uma picada em seu braço. Você nota que ao seu lado uma pessoa também começa a se coçar e que depois de instantes essa pessoa ainda está se coçando. No braço, nas pernas, na cabeça e qualquer outra parte do corpo que esteja ao seu alcance. Esse é o sintoma mais visível de uma pessoa que tem problemas com a hipocondria: ela inicia uma compulsão, apenas baseada em sintomas físicos de si mesmo ou de outras pessoas. Muitas vezes esses sintomas não significam nada. É como se cada vez que uma pessoa hipocondríaca tivesse uma dor de cabeça, seu único pensamento é que irá morrer. Essa pessoa tem a certeza de que está com algum problema sério na cabeça e que não vai conseguir se curar “a tempo”. As idas ao médico não aliviam a angústia de um hipocondríaco, pois ele não consegue acreditar que não há nada de errado com seu corpo. Usando o exemplo da dor de cabeça, o indivíduo faz tomografias, biópsias, exames mais complexos e, mesmo assim, não é convencido de que está com a saúde perfeita. No âmbito popular, as pessoas hipocondríacas ganharam a fama de terem “mania de doença”, pois qualquer dor no corpo é motivo para tomar remédios e ficar de repouso. Tricotilomania Como dissemos anteriormente, a tricotilomania se trata da compulsão de arrancar os próprios cabelos, em porções grandes. Ansiedade e estresse são os gatilhos para um problema desse porte. A sensação de prazer, alívio e satisfação após arrancar os cabelos demonstra que o indivíduo não sente uma obsessão. O couro cabeludo não é a única região de onde os cabelos podem ser arrancados. A região pubiana e anal, sobrancelhas, cílios e axilas também são alvos para pessoas que são portadoras desse problema. A tricotilomania não é considerada TOC, justamente porque não é desencadeada por uma obsessão. Tiques Os tiques são muito comuns em pessoas inquietas, principalmente em momentos de ansiedade ou de nervosismo. Movimentos motores involuntários, sem um ritmo ou padrão aparente ou vocalizações são os sintomas dos tiques. Os tiques mais comuns são: - Piscar os olhos - Torcer o nariz - Contrair o pescoço - Encolher os ombros - Contrair os lábios ou a testa - Grunhir - Fungar Porém, existem tiques mais complexos, como: - Fazer gestos - Pular - Tocar - Bater - Chutar - Cheirar repetidamente um objeto - Acocorar-se - Dobrar os joelhos - Imitar o comportamento de outra pessoa. Transtorno de Tourette (TT) É uma condição neurológica que se caracteriza por movimentos involuntários do corpo (tiques) e vocalizações (tiques vocais). Afeta aproximadamente 200.000 pessoas nos Estados Unidos e ocorre em uma a cada 2.000 crianças. Os sintomas começam geralmente antes dos 18 anos e duram pelo menos um ano. Os meninos são afetados três vezes mais do que as meninas. Em poucos casos as vocalizações incluem frases ou palavras inapropriadas (palavrões) – a chamada coprolalia –, que não são nem voluntárias, nem intencionais. Muitas crianças com o transtorno de Tourette ou com transtorno de tique apresentam outras co-morbidades, como transtorno de déficit de atenção com ou sem hiperatividade ou TOC. É importante distinguir entre tiques e rituais repetitivos do TOC porque os tratamentos são diferentes. Portadores de TOC que apresentam tiques ou transtorno de Tourette não respondem à terapia de exposição e prevenção de rituais e aos medicamentos antiobsessivos quando usados isoladamente. Transtorno de impulsos Beliscar-se, ferir-se, infligir-se lesões (como coceira excessiva, mordidas noslábios, mordidas nos lábios, coceira exagerada nos olhos ou tentar arrancá-los, arranhões) são sintomas do transtorno de impulsos. Os indivíduos portadores desse problema costumam usar roupas compridas, para que as lesões que ele mesmo provoca não sejam vistas pelas demais pessoas. Não é raro quando essas lesões infecionam ou inflamam, pois como o paciente não quer que ninguém descubra e cobre as feridas, acaba abafando o local e propiciando a região para a proliferação de micro- organismos. Comprar compulsivo, jogo patológico, sexo compulsivo Esses três problemas, comprar compulsivo, jogo patológico ou sexo compulsivo são frequentemente confundidos com sintomas de TOC porque, de certa forma, demonstram obsessões e causam sofrimento e angústia extremos.O que os distingue do TOC é o prazer que o indivíduo sente se comportando dessa maneira, mesmo que após a ação o arrependimento bata. As compulsões do TOC não causam prazer algum ao paciente. Essas acões são feitas sem medo nem receios, o que écompletamente o oposto dos sintomas de TOC. Os portadores de TOC têm medo excessivo de prejudicar a si mesmo e a quem está ao seu redor. Como identificar o TOC De acordo com Gail Steketee, embora um número incontável de pessoas com TOC associe determinado acontecimento da vida ao começo do seu transtorno, muitas outras não conseguem identificar qualquer fator precipitante específico. Características comuns presentes no TOC incluem: - Ideias obsessivas: pensamentos que invadem a consciência (palavras, frases, rimas) e interferem no fluxo normal do pensamento, causando sua desarticulação, além de sofrimento emocional. O conteúdo das obsessões muitas vezes refere-se a obscenidades, blasfêmias ou absurdos. - Imagens obsessivas: imagens vívidas, frequentemente retratando cenas violentas, sexuais ou perturbadoras (por exemplo, assassinato de uma criança, colisão de carros, excrementos, relação sexual dos pais) que aparecem repetitivamente. - Convicções obsessivas: crenças baseadas em pressupostos irracionais, tais como: “pensar equivale a agir” (por exemplo, pensar que meu filho está doente fará com que ele morra). - Ruminações obsessivas: dúvidas ou argumentações mentais acompanhadas de medo (ou comportamentos ritualísticos – por exemplo, “Tranquei a porta? Desliguei ou gás?”) que objetivam evitar ou aliviar o dano imaginado ou as consequências temidas. - Impulsos obsessivos: impulsos indesejados referentes a danos à própria pessoa (por exemplo, saltar de uma janela), agressão a outras pessoas (sufocar um bebê) ou comportamentos potencialmente humilhantes (gritar obscenidades dentro da igreja). - Medos obsessivos: ansiedade intensa tanto em relação a objetos/itens específicos (sujeira, doença, animais, sangue etc.) ou a situações/locais específicos (banheiros públicos, hospitais etc.), quanto a entrar em contato com uma situação específica ou a realizar determinadas ações. - Rituais compulsivos: ações repetitivas (contar, tocar, ordenar, verificar, organizar, limpar, armazenar etc.) que produzem alívio da obsessão. Sintomas Os sintomas do TOC usualmente oscilam na sua gravidade ao longo do tempo e podem até mesmo desaparecer por completo com ou sem tratamento. Os intervalos livres são, em geral, seguidos pelo ressurgimento dos sintomas durante um período de maior estresse ou em resposta a alguma alteração biológica ou no ambiente. Estudos de longo prazo demonstram que nove em cada dez indivíduos obsessivos-compulsivos experimentam altos e baixos nos sintomas, sendo rara a manutenção das remissões. Esses pacientes também passam pela experiência do aumento dos sintomas, que é desencadeado por estresse. Grande parte dos pacientes que sofrem de TOC demonstra certa flutuação com relação aos sintomas, ou seja, eles tem picos de sintomas e de repente esses sintomas desaparecem. Os números indicam que cerca de 15% dos pacientes que têm transtorno obsessivo-compulsivo seguirão um curso de deterioração, com declínio progressivo do funcionamento social e ocupacional. Os indivíduos que apresentam TOC podem demonstrar muitos ou somente alguns dos sintomas típicos. Como existem diversos tipos desse transtorno, é impossível prever todos os sintomas ou mesmo identificá-los sem antes executar uma bateria de exames. O sofrimento é uma das maneiras de perceber a presença do transtorno obsessivo-compulsivo, pois ele afeta diretamente o ambiente de trabalho e as relações interpessoais, ou seja, a rotina do indivíduo que tem TOC muda completamente e, devido à suas manias excessivas, as pessoas com as quais ele se relaciona acabam tomando distância dele ou mesmo se irritando com tais manias. Há relatos de indivíduos com TOC que foram obrigados a manter uma vida totalmente caseira por causa de suas obsessões. As pessoas a sua volta se afastaram ou faziam críticas preconceituosas, fazendo com que o único local seguro fosse o isolamento. Às vezes, o motivo da reclusão é a extrema evolução do transtorno. O indivíduo fica tão submisso às suas obsessões que não consegue sair de casa, ou porque tem receio de contrair alguma doença ou porque não consegue atingir seu objetivo, como fazer contagem de carros ou de casa de determinadas cores e tamanhos. Manter-se confinado em casa faz com que o indivíduo sinta controle da situação, pois em sua própria casa ele pode limpar, alinhar, organizar tudo que invade sua mente, sem que haja influência externa e, principalmente, “sem risco” de contaminação. Gail Steketee lista os principais sintomas do transtorno obsessivo- compulsivo. Evitação das situações temidas/estímulos relacionados com as obsessões As pessoas com TOC podem experimentar a necessidade de evitar uma série de situações ou estímulos temidos, mudando radicalmente seu estilo de vida por esse motivo. Por exemplo, temores obsessivos relacionados com sujeira ou contaminação resultam na evitação de banheiros públicos ou de apertar as mãos de pessoas estranhas. Avaliação exagerada da importância dos pensamentos e senso de responsabilidade patológico As pessoas com TOC frequentemente sentem culpa e medo de que seus pensamentos causem dano aos outros ou façam com que algo terrível aconteça, porque muitas delas acreditam que ter um pensamento é o mesmo que concretizá-lo. Além disso, muitas pessoas com TOC agem de modo compulsivo porque acreditam que a falha em “corrigir” um problema é equivalente a causá- lo. Suas compulsões são uma forma de desfazer ou consertar algo que temem que possam ter feito errado ou que possa resultar em dano a outras pessoas. Por exemplo, remover uma pedra da estrada para que o carro seguinte não bata nela e haja um acidente. Superestimação do dano Outra característica do transtorno é uma tendência a superestimar a probabilidade dos danos e a gravidade das consequências. As pessoas com TOC podem supor que um ambiente é perigoso até que seja provada sua segurança. Isso contrasta nitidamente com um pressuposto comum de que tudo está bem a menos que o perigo seja óbvio. Preocupação e ruminações excessivas Indivíduos ansiosos podem envolver-se frequentemente em preocupações pessoais e/ou familiares, vinculadas ou não às suas obsessões. Além disso, podem usar sedativos em excesso para tentar combater os sintomas. É possível ainda que tentem controlar seus temores por meio da utilização de álcool ou de hipnóticos. Avaliações clínicas Esses sintomas listados acima podem ser observados por qualquer pessoa, sem que esta tenha conhecimento médico ou mental. Portanto, esses sintomas são visíveis e podem ser indícios de que o transtorno obsessivo-compulsivo está se desenvolvendo ou até mesmo que já tenha dominado o indivíduo. Para garantir que a pessoa tem TOC é preciso fazer algumas análises e exames. Entre eles, há entrevistas clínicas, instrumentos autoaplicáveis, entrevistas estruturas, avaliações comportamentais, avaliações psicométricas e resultados de exames laboratoriais e físicos. Entrevistas clínicas O que é pesquisado e perguntado para o paciente e para os familiaressão informações sobre obsessões e rituais, história médica, história psiquiátrica individual e familiar, funcionamento social e ocupacional, papel dos familiares e insight do paciente. O clínico responsável pela entrevista também faz perguntas relacionadas com os estímulos externos (luzes acesas, assistir tragédias), estímulos internos (pensamentos, imagens, impulsos) e comportamento por evitação (não ir a um banheiro público com receio de infectar-se com algum agente nocivo à saúde) Essa entrevista ajuda a separar casos de TOC e casos de aparecimento de sintomas secundários a infecções, lesões agudas ou doença cerebral. Essa etapa de separação é de extrema importância, pois o tratamento de TOC é completamente diferente do tratamento para os demais problemas de saúde, tanto mental quanto físico História médica A origem do TOC também pode advir de doenças ou complicações de lesões anteriores, como problemas cerebrais, abuso de substâncias sem prescrição médica, doenças crônicas, transtornos anteriores e desordem mental. Problemas cerebrais: podemos citar alguns danos no cérebro que podem evoluir para um transtorno obsessivo-compulsivo: - Tumor cerebral - Vasos sanguíneos fora do padrão - Dano cerebral causado por falta de oxigênio (anoxia) - Exposição tóxica - Infecção cerebral - Doença cerebral degenerativa (Parkinson, Huntington, demência) Abuso de substâncias sem prescrição médica: essas substâncias podem ser desde drogas ilegais até excesso de uso de medicamentos, com ou sem prescrição médica: - Anfetamina - Estimulante - Cocaína - Crack - Pílulas de emagrecimento - Alucinógenos Doenças crônicas: as doenças sem cura e que afetam completamente a rotina do indivíduo podem ser gatilhos para o aparecimento do TOC: - Diabetes melito - Tireoide instável Transtornos anteriores: os transtornos que podem afetar diretamente em obsessões e compulsões são: - Transtornos de aprendizagem - Transtornos de desenvolvimento - Retardo mental - Autismo - Síndrome de Asperger Desordem mental: não existe uma comprovação de que desordem mental seja o principal motivo do desenvolvimento do TOC, mas entende-se que é uma das principais causas: - Depressão - Pânico - Ansiedade generalizada - Agorafobia (medo de sair em público) - Estresse pós-traumático - Esquizofrenia - Hipocondria - Jogo compulsivo - Tricotilomania (mania de arrancar os cabelos) História psiquiátrica individual e familiar Essa etapa tem por base a idade que os sintomas de TOC apareceram, o nível de desenvolvimento dos sintomas e os padrões, estresses significativos e constatação de desordem de personalidade ou de doenças psiquiátricas. Os históricos de saúde mental e física do paciente e de seus familiares são essenciais para elaborar um tratamento, pois sem essas informações não é possível avaliar de forma adequada o estado do paciente e nem como garantir o melhor tratamento para ele. Indícios de transtornos mentais na família são informações valiosas para o diagnóstico do paciente, pois talvez seu transtorno obsessivo- compulsivo seja apenas uma “herança genética”. Em outras palavras, quando um paciente tem histórico familiar de transtornos mentais, como esquizofrenia, demência e até mesmo TOC, entende-se que ele tem mais predisposição do que as demais pessoas. As chances são maiores para ele desenvolver o TOC, mas pode acontecer de, durante toda a vida, ele não demonstrar qualquer sintoma. Funcionamento social e ocupacional Nessa etapa, os entrevistadores clínicos responsáveis devem formular questões relacionadas ao desempenho escolar e o desempenho profissional, da quantidade de amigos e o comportamento com eles, o histórico de namoros, e relacionamentos íntimos e a socialização. As perguntas mais comuns são, de acordo com Gail Steketee: - “Quanto tempo por dia você gasta com suas obsessões e rituais?” - “Os sintomas já lhe causaram muita aflição?” - “Suas obsessões e compulsões interferiram em seu funcionamento ocupacional ou escolar, levando-o a perder o emprego ou a abandonar a escola?” - “Seus sintomas interferiram em seus relacionamentos sociais ou familiares?” - “Seus sintomas já causaram sofrimento acentuado em suas atividades ou relações sociais?” Após obter as respostas, os clínicos responsáveis analisam as informações e separam os pacientes de acordo com a gravidade de seus sintomas. Sabe-se que pacientes com sintomas moderados respondem melhor ao tratamento, pois a doença ainda não evoluiu muito e é possível detê-la antes que ela domine o paciente e altere toda a sua rotina. Papel dos familiares A família afeta diretamente no andamento do tratamento, pois não é raro um dos familiares ajudar ou contribuir para a obsessão ou para a compulsão do paciente. Muitas vezes a família se acomoda aos rituais exagerados do paciente sem oferecer ajuda ou se mantendo submissa ao transtorno do paciente. Isso é bastante preocupante porque o TOC é uma doença muito grave e precisa ser diagnosticada e curada. O que precisa ser analisado pelos clínicos responsáveis é: - Maior disfunção familiar - Sofrimento familiar - Rejeição por parte dos familiares - Aumento na gravidade dos sintomas Insight do paciente Um significativo número de pacientes conseguem entender que seus rituais, compulsões ou obsessões são irracionais e decidem, a partir de então, buscar ajuda e iniciar um tratamento. Esses pacientes têm maior chance de respostas positivas durante o tratamento, pois já compreendem a gravidade de alguns dos seus atos, principalmente aqueles relacionados ao cotidiano, e estão dispostos a “melhorar”. Porém, não basta apenas que ele compreenda sua atual situação. É preciso fazer com que ele veja como sua rotina mudou e como ela afetou as demais pessoas a sua volta. A busca do insight é um objetivo durante o tratamento, já que é a melhor formar de curar o paciente, pois assim ele percebe quanto mal está fazendo a si próprio e àqueles que o rodeiam. Insight é o termo usado para determinar quando uma pessoa compreende, de repente, algo como um exercício, uma doença ou um desafio. É aquele momento em que tudo que antes era confuso e sem sentido passa a ter racionalidade e sentido. Possíveis causas para o TOC Até recentemente acreditava-se que o TOC era uma doença exclusivamente psicológica. Após estudos mais complexos, graças ao avanço da tecnologia, pode-se entender que o transtorno obsessivo- compulsivo é também uma doença neuropsiquiátrica. As áreas cerebrais excitadas em pessoas com TOC são avaliadas por meio de medicamentos, estudos de neuroimagem e estudos funcionais de cérebro. Essas análises somadas às alterações da neuroquímica cerebral e a pesquisas genéticas ajudam a desvendar os mistérios que envolvem o transtorno obsessivo-compulsivo. Medicamentos reduzem a intensidade dos sintomas do TOC Descobriu-se que os medicamentos diminuem os sintomas obsessivo- compulsivos e, após essa descoberta, foi possível constatar que há irregularidades neuroquímicas relacionadas ao comportamento do ser humano. A serotonina, substância responsável pela sensação de prazer e que é produzida no cérebro,é um dos alvos dos medicamentos, pois o papel desses medicamentos é aumentar as doses da serotonina. De acordo com Aristides Volpato, a serotonina desempenha importante papel na transmissão de impulsos nervosos interneuronais (sinapse), especialmente em determinadas regiões do cérebro. Com a inibição da sua recaptação pelas células nervosas em decorrência do uso dos medicamentos que têm esse efeito, seus níveis se elevam nas sinapses, favorecendo a transmissão dos impulsos nervosos de uma célula para outra. Os antidepressivos são medicamentos que têm essa característica e recebem o nome de inibidores da recaptação da serotonina (IRSs), como a clomipramina. Há ainda os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs), como a fluoxetina, a paroxetina, a sertralina, o citalopram e a fluvoxamina. A constatação do efeito antiobsessivo de tais fármacos suscitou a suspeita de que possa existir associação entre o TOC e algum tipo de disfunção neuroquímica nas vias cerebrais que utilizam a serotonina. Por essa razão ela poderia estar envolvida no surgimento dos sintomas. As outras substâncias existentes no sistema nervoso, mesmo quando seus níveis são aumentados, não criam efeitos de melhora nem de piora nos sintomas do TOC. Hiperatividade em certas regiões Com o avanço da tecnologia é possível assistir o cérebro em funcionamento. Antigamente, somente se conseguia ter imagens do cérebro após a morte do paciente e apenas abrindo sua cabeça. A tomografia por emissão de fóton único (SPECT), a tomografia por emissão de pósitrons (PET) e a ressonância magnética (RM) são algumas das ferramentas utilizadas para analisar o comportamento do cérebro. Foram feitos exames em regiões específicas do cérebro e essas regiões foram comparadas entre pessoas portadoras do TOC e pessoas que não o tinham. As regiões analisadas foram: córtex frontal (parte mais frontal do cérebro) e gânglios basais (regiões mais profundas). Esses gânglios são constituídos pelo estriado e pelo tálamo. Os gânglios são responsáveis pelo comportamento, modulação dos movimentos, planejamento de sequência, aprendizagem por ensaio e erro e direcionamento cognitivo e motivacional. Essas funções costumam ser afetadas em pessoas portadoras de TOC. Um dos testes elaborados para examinar as regiões afetadas é provocar o medo. Um exemplo é colocar gelatina dentro de uma luva e pedir para que uma pessoa que tenha arrepios com relação à gelatina coloque as luvas. A reação de imediato da pessoa que coloca as luvas é de asco, nojo. A região do cérebro que foi ativada mostrou que o aumento da atividade cerebral observado em portadores de TOC diminui com a terapia comportamental e com o uso de medicamentos. Por meio dessa experiência, foi possível documentar, pela primeira vez, o efeito sobre o funcionamento do cérebro com relação a uma doença de natureza psicológica. Sintomas obsessivo-compulsivos em doenças neurológicas Traumatismos cranianos, tumores ou lesões na região do hipotálamo, epilepsia e acidentes vasculares cerebrais também podem causar o aparecimento de sintomas obsessivo-compulsivos. Ao mesmo tempo em que ocorria a epidemia de gripe ao final da Primeira Grande Guerra, que chegou a matar mais de 20 milhões de pessoas, acontecia em Viena um surto de encefalite letárgica. Essa doença recebeu essa descrição porque um dos sintomas mais presentes era a sonolência extrema. Muitas pessoas morreram por causa dessa doença, mas os sobreviventes, além de apresentarem problemas neurológicos, como Parkinson e paralisia ocular, desenvolveram obsessões e compulsões. Portanto, entendeu-se que doenças que se instalam ou que atacam o sistema nervoso são um gatilho para o desenvolvimento de sintomas obsessivo-compulsivos, mesmo que o paciente não apresente nenhuma ligação com TOC. Genética Depois de complexos estudos, notou-se que uma pessoa que tem no histórico familiar a presença do transtorno obsessivo-compulsivo é quatro a cinco vezes mais propícia a desenvolver alguma obsessão ou compulsão. Devido a esses estudos, o TOC é considerado como uma doença familiar. Também foi levado em conta o ambiente familiar. Por exemplo, se uma criança cresce num ambiente em que sua mãe e/ou seu pai não permitem que ninguém sente em sua cama com as roupas com as quais veio da rua, para que a cama não fique contaminada, ela vai acreditar que aquilo é algo normal e provavelmente terá a mesma atitude. Em gêmeos crescem para 20 a 40 vezes as chances de desenvolvimento de sintomas obsessivo-compulsivos. Os especialistas ainda não conseguiram descobrir quais são os genes que carregam essa predisposição genética para o desenvolvimento de TOC. Neurocirurgia Existem comprovações de que cerca de 20% dos pacientes não respondem somente a medicamentos e a terapias específicas, que são os tratamentos mais comuns para combater o TOC. Para essa porcentagem de pacientes é utilizada uma neurocirurgia, em que algumas regiões são modificadas a fim de melhorar o estado mental e comportamental do paciente. Porém, essa é uma das últimas escolhas para o tratamento, pois, além de muito perigosa, implica em abrir a cabeça do paciente, já que as regiões a serem alteradas se encontram na massa cinzenta e não no crânio. Teoria comportamental do TOC O livro TOC: Manual de terapia cognitvo-comportamental para o transtorno obsessivo-compulsivo traz uma linha de raciocínio elaborada por alguns especialistas sobre o aparecimento e as causas do transtorno obsessivo-compulsivo. A terapia comportamental parte do princípio de que os sintomas do TOC foram aprendidos e que é possível desaprendê-los. Aprendizagens erradas dariam origem aos sintomas e seriam também responsáveis pela sua manutenção. Vale a pena conhecer em profundidade os diversos modelos de aprendizagem, seus princípios ou leis, suas aplicações para a compreensão dos diferentes transtornos mentais e, em especial, suas contribuições para a compreensão do TOC. A teoria da aprendizagem procura explicar o motivo pelo qual os indivíduos mudam o comportamento na sua interação com o ambiente. De acordo com esse modelo, a aquisição de medos seria a alteração do comportamento decorrente de experiências com o meio ambiente. Essa forma de explicar a origem dos medos é utilizada não só para os temores e evitações do TOC, mas também para os que ocorrem em outros transtornos, como nas fobias específicas, na fobia social, no estresse pós- traumático e no pânico. Os autores ligados a essa teoria defendem a existência de diferentes formas de aprendizagem e dedicam grande esforço para estabelecer suas leis. Inúmeros estudos realizados com animais em laboratórios indicaram a aquisição de um novo comportamento, como, por exemplo, conseguir alimento ou evitar choque elétrico pressionando uma alavanca e os fatores que influenciavam a aquisição ou a aprendizagem. Também foram feitas experiências para observar como os animais poderiam adquirir (aprender) medos e posteriormente desaprendê-los. Especialmente os resultados das últimas pesquisas tiveram aplicações no tratamento de problemas clínicos como as fobias e o próprio TOC. O condicionamento clássico ou pavloviano Funções fisiológicas inatas (hábitos intestinais, sono, batimentos cardíacos, alimentação,
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