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pessoa com epilepsia e o mercado de trabalho

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Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.1 - Jul./Ago. 2011. 
 637 
 
A PESSOA COM EPILEPSIA E O MERCADO DE TRABALHO 
 
 
THE PERSON WITH EPILEPSY AND THE LABOR MARKET 
 
Adaliany Darly Fernandes Cardoso 
Enfermeira. Graduada pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG. 
 
Neila Maria de Morais Pinto 
Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Especialista em Ativação de Processos de Ensino na 
Formação Superior de Profissionais da Saúde. Docente do Curso de Enfermagem do Centro 
Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG. 
 
RESUMO 
 
O trabalho ocupa lugar central na dinâmica da sociedade moderna. Dessa forma, os controles 
culturais desfavoráveis ao ajustamento social do epiléptico dificultam-lhe o acesso ao mercado de 
trabalho e, portanto, a estabilidade social, contribuindo para seu isolamento e favorecendo 
consequentemente a existência de patologias psicossociais. A epilepsia ainda carrega grandes mitos, 
tabus e preconceitos, dificultando assim a vida de pessoas que enfrentam esse problema de saúde. 
O objetivo da pesquisa foi conhecer como ocorre a inserção de pessoas com epilepsia, na sociedade 
em especial no âmbito do trabalho. Trata-se de um estudo do tipo descritivo com abordagem 
qualitativa. A coleta de dados foi realizada com as pessoas com epilepsia que freqüentam a 
Associação de Portadores de Epilepsia (AAPE) do município de Ipatinga/MG. Como instrumento foi 
elaborado uma entrevista semiestruturada contendo perguntas que caracterizavam as dificuldades 
enfrentadas pelas pessoas com epilepsia na tentativa de inserção no mercado de trabalho ou mesmo 
no convívio social. Os resultados obtidos no presente estudo demonstram que grande parte dos 
epilépticos sofre ou já sofreram algum tipo de exclusão social dificultando assim as condições de vida 
dos mesmos é até de seus familiares. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Epilepsia. Trabalho. 
 
ABSTRACT 
 
The work plays a central role in the dynamics of modern society.Thus, cultural controls unfavorable 
social adjustment of epileptic hinder him access to the labor market and thus social stability, 
contributing to their isolation and thus favoring the existence of psychosocial dysfunctions. 
Epilepsy still carries great myths, taboos and prejudices, thus hindering the lives of people who face 
this health problem. The research objective was to learn through stories of people with epilepsy, 
difficulties in integration into society especially in the work. This is a descriptive study with a qualitative 
approach. Data collection was performed with epilepsy who attend the Association of People with 
Epilepsy (EPAA) of Ipatinga / MG. Instrument was developed as a semistructured interview containing 
questions that characterized the difficulties faced by epileptic in trying to insertion in the labor market 
or in social life. The results of this study show that most epileptics suffering or have suffered some 
kind of social exclusion, making it hard living conditions of those is up and their families. 
 
KEY WORDS: Epilepsia. Work. 
 
INTRODUÇÃO 
 
A palavra epilepsia é de origem grega e significa “ser tomado”. Esse nome 
surgiu devido à patologia ser vista pela sociedade daquela época como sendo de 
 
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.1 - Jul./Ago. 2011. 
 638 
 
causa demoníaca ou espiritual, até antes de relatos definidos por Hipócrates, 
afirmando que epilepsia se tratava de uma doença do cérebro e não estava 
relacionada com espíritos (MIN, 2004). Somente no século XIX, pode-se estabelecer 
que “epilepsia é uma descarga elétrica anormal do tecido nervoso”, conclusão 
definida pelo médico John Huglins Jackson, e usada até hoje pela classe científica 
(SCOTT, 1993). 
A partir de então a epilepsia passou a ser vista como uma doença neurológica 
grave, crônica, porém comum, não é considerada uma doença contagiosa nem 
mental. Por um curto espaço de tempo, parte do cérebro deixa de funcionar de 
maneira habitual e passa a enviar descarga elétrica incorreta ao restante do sistema 
nervoso. Devido a essas modificações a Pessoa Com Epilepsia (PCE) apresenta 
alterações comportamentais súbitas, as chamadas “crises epilépticas”, que tendem a 
se repetir por toda sua vida (GOMES et al., 2006). 
Essas crises podem decorrer espontâneas ou secundárias a situações como: 
alterações vasculares, distúrbio eletrolítico, intoxicação, doenças degenerativas, 
febre. Seu início pode ser derivado ainda por um forte golpe na cabeça, abuso de 
álcool, drogas, infecção no cérebro, a causa pode estar ligada ainda a circunstâncias 
ocorridas antes do nascimento ou durante o parto. Na maioria dos casos tem 
etiologia desconhecida. O diagnóstico de epilepsia é clínico. O médico deve avaliar 
todos os aspectos de saúde do paciente, a procura de descobrir a natureza das 
crises, informações a respeito do que antecede, durante e depois a crise são de 
grande valia (JESUS; NOGUEIRA; OLIVEIRA , 2007). 
Apesar das decorrentes crises serem transitórias, o indivíduo diante da 
imprevisibilidade das mesmas, sente-se incapaz de administrar sua própria vida, 
podendo apresentar alterações psíquicas e dificuldade de relacionamento consigo e 
com a sociedade, além de tornar-se dependente de terceiros, fazendo assim com 
que se sinta inseguro e com extremo medo da morte (FERNANDES et al., 2001). 
Segundo estudos que retratam a epilepsia, constata-se que a decorrência de 
crises leva a múltiplas formas de exclusão e controle social das pessoas que vivem 
com epilepsia. Mitos, preconceitos, estigmas se fazem presente na sociedade, o que 
afeta negativamente a qualidade de vida dessas pessoas e de seus familiares 
(FERNANDES et al., 2004). O preconceito é a queixa principal de pessoas com 
epilepsia perante a sociedade, que ainda se alimenta de estigmas, tornando a vida 
desses mais difícil do que viver com as limitações físicas impostas pelas crises e 
tratamentos. Assim, este fator contribui para baixa autoestima desses indivíduos os 
levando a sentimentos de inferioridade e até mesmo, uma possível depressão 
(GUERREIRO, 2004). 
 São escassas as publicações sobre as ações de enfermagem para os 
indivíduos com epilepsia. No entanto, é de responsabilidade da equipe de saúde, 
incluindo a enfermagem, oferecer esclarecimentos a população sobre a doença, 
seus aspectos clínicos e cuidados com as pessoas que possuem essas 
necessidades, colaborando na elaboração de políticas públicas de saúde mais 
adequadas e que favoreçam a inserção de pessoas com epilepsia na sociedade 
como um todo. A participação de enfermeiro treinado no atendimento das PCE é 
atualmente estimulada com destaque principal em prover informações, 
aconselhamento, suporte e coordenação da atenção entre os níveis primários e 
secundários (KEDE; MULLER; GOMES, 2008). 
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.1 - Jul./Ago. 2011. 
 639 
 
Assim, justificam-se o desenvolvimento de pesquisas com esta temática no 
intuito de colaborar para diminuir mitos, tabus, preconceitos e discriminação, em 
especial os encontrados no âmbito do ambiente de trabalho, contribuindo, 
parcialmente, para o conhecimento das questões que envolvem pessoas com 
epilepsia. 
Deste modo, este estudo objetivou identificar a visão de pessoas com 
epilepsia sobre sua inclusão na sociedadee os fatores que interferem na 
inserção/participação no mercado de trabalho, contribuindo para o conhecimento 
das questões que envolvem esta parcela da população. 
 
 METODOLOGIA 
 
Trata-se de um estudo do tipo descritivo com abordagem qualitativa. Foram 
considerados como critérios de inclusão pessoas com epilepsia que frequentam a 
Associação de Apoio a Portadores de Epilepsia (AAPE), no município de Ipatinga-
MG e que fossem maiores de 18 anos de idade. 
Na AAPE os participantes recebem apoio psicológico, para direcionamento de 
muitos que ainda estão em período de descoberta da doença. São realizadas 
reuniões semanais com o grupo, onde se motiva os mesmos a procurarem por um 
espaço na sociedade, além de capacitá-los para enfrentar a luta incessante do 
cotidiano, que inclui a busca de inserção no mercado de trabalho. No período da 
coleta de dados, maio a junho de 2010, a AAPE contava com cerca de 500 pessoas 
cadastradas, porém 76 pessoas associados participavam freqüentemente das 
reuniões divididos em grupos de aproximadamente 20 participantes por reunião. 
O projeto de pesquisa foi aprovado pela Associação de Apoio a Portadores de 
Epilepsia do município de Ipatinga–MG através da assinatura do Termo de 
Autorização para Realização da Pesquisa. 
Para a coleta de dados a pesquisadora se dirigiu à AAPE no horário das 
reuniões semanais, abordando as pessoas com epilepsia explicando-lhes o objetivo 
da pesquisa, assim como sua participação voluntária na mesma. Após a assinatura 
no termo de consentimento livre e esclarecido as entrevistas foram realizadas com 
as pessoas que compreenderam os procedimentos do estudo e manifestaram 
desejo de participar. Pelas características do método qualitativo de pesquisa, a 
mostra foi sendo definida pelo grau de saturação teórica das categorias 
estruturadas. Participaram do estudo 10 destes associados. 
Como instrumento para a coleta de dados, aplicou-se um roteiro de entrevista 
de autorelato estruturado contendo perguntas que revelam como ocorre a inserção 
de pessoa com epilepsia ao buscar oportunidade no mercado de trabalho. 
As entrevistas foram aplicadas em uma sala disponibilizada dentro do espaço 
físico da própria Associação, com horário agendado e adequado ao tempo do 
entrevistado, sendo gravadas em aparelho digital adequado a esta função. Cada 
pessoa foi abordada uma única vez, com tempo aproximado de 10 minutos para 
duração do encontro. 
Para análise dos dados, inicialmente foi realizada a transcrição dos relatos, 
leitura minuciosa e repetida das respostas obtidas, selecionadas as informações 
relevantes para o estudo, destacadas as idéias centrais. A partir da análise e 
interpretação dos dados, estabeleceu-se uma relação entre a visão dos pesquisados 
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.1 - Jul./Ago. 2011. 
 640 
 
e o referencial teórico que geraram duas categorias de discussão: como a sociedade 
me vê sendo epiléptico e a inserção do trabalhador com epilepsia no contexto de 
trabalho. Como garantia de preservação do anonimato dos participantes, os mesmos 
foram identificados através da letra “P” de Participante acrescido de um número 
seqüencial. Esta pesquisa contemplou a Resolução 196/96 do Conselho Nacional 
em Saúde que regulamenta pesquisa com seres humanos (BRASIL, 2006). 
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
Os dados de caracterização da amostra estão apresentados na TAB.1. 
Verificou-se que 6 dos participantes eram do sexo masculino e 4 do sexo feminino. 
Estes resultados, estão em concordância com Guerreiro et al. (2000) que referem 
discreta predominância da epilepsia no sexo masculino em relação ao sexo 
feminino. 
 
TABELA 1 - Caracterização dos participantes da pesquisa. Ipatinga, MG, 2010. 
Variáveis Freqüência (n) Percentual (%) 
Sexo 
Masculino 
Feminino 
Total 
 
Faixa etária 
30-39 
40-49 
50-59 
Total 
 
Estado civil 
Solteiros 
Casados 
Total 
 
Escolaridade 
Fundamental Completo 
Fundamental Incompleto 
Ensino Médio Incompleto 
Total 
 
Renda Pessoal 
Sem renda 
1 a 2 salários mínimo 
3 a mais salários mínimos 
Total 
 
 06 
 04 
 10 
 
 
 05 
 04 
 01 
 10 
 
 
 03 
 07 
 10 
 
 
 02 
 04 
 04 
 10 
 
 
 05 
 03 
 02 
 10 
 
 60 
 40 
 100 
 
 
 50 
 40 
 10 
 100 
 
 
 30 
 70 
 100 
 
 
 20 
 40 
 40 
 100 
 
 
 50 
 30 
 20 
 100 
FONTE: dados da pesquisa 
 
Quanto à idade, a média foi de 40 anos, sendo 33 a menor e 51 a maior idade, 
dos sujeitos, demonstrando que estão numa fase bastante produtiva da vida. No que 
se refere à escolaridade, quatro participantes chegaram ao ensino médio, porém 
sem concluí-lo. O nível de escolaridade baixo da amostra é preocupante, pois pode 
ser fator desfavorável na qualidade do autocuidado, além de interferir negativamente 
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.1 - Jul./Ago. 2011. 
 641 
 
na empregabilidade, pois empregadores poderão utilizá-lo como critério de exclusão 
na contratação ou utilizá-lo para oferecer salários mais baixos. 
A renda pessoal revela situação financeira delicada atingindo grande parte da 
amostra. Muitas vezes os custos com o tratamento são onerosos e a renda salarial 
torna-se insuficiente para atender todas as necessidades básicas do indivíduo, 
apresentando-se como fator limitador de acesso a medicamentos, exames e outros 
procedimentos que favoreçam o cuidado. 
 
Como a sociedade me vê tendo epilepsia 
 
A trajetória histórica da epilepsia vem mostrar sua contribuição para os 
conceitos errôneos da atualidade. No cotidiano, é possível observar na sociedade 
em geral e em grande parte dos familiares que estes não sabem o que significa a 
doença, surgindo causas das mais absurdas, reforçando o estigma e preconceito, 
advindos dos tempos mais remotos. 
Os entrevistados destacaram situações de exclusão social, muitas vezes 
ocorridas no próprio lar, pelos familiares como sendo a visão que têm da sociedade 
à respeito das pessoas com epilepsia, motivados pelo estigma e preconceito em 
relação à doença. 
 
A sociedade é o seguinte, eles não aceitam a epilepsia, dentro da própria 
casa da gente, sempre tem aquele negócio de medo, insegurança, a gente 
quer ter segurança, eu tenho segurança em tudo que eu faço, mas sempre 
tem aquele negócio da gente ta demorando muito, e vão atrás vê porque 
você está demorando muito. E isso é ruim porque a gente quer ter 
liberdade. (P8) 
 
Excluída, depois que eu adoeci achei que tinha amigos, mais eu só tinha 
era clientes, as pessoas hoje tem medo da gente na maioria dos casos eles 
acham que epilepsiapega é um contexto muito antigo que as pessoas 
falavam que baba pega, então isso é uma discriminação muito grande, por 
parte até de familiares eu senti que minha família se afastou de mim [...] 
(P10) 
 
À partir do momento que ocorre uma crise epiléptica e presença de salivação 
excessiva (mais conhecida popularmente como “baba”) instala-se um olhar diferente, 
um olhar estigmatizante sobre a pessoa com epilepsia, o que pode ser exemplificado 
através da fala de P10 quando cita que a salivação é vista pela população, de 
maneira errônea, como forma de contágio da epilepsia. 
O que condiz com o estudo de Guerreiro (2004), que declara que a queixa mais 
comum entre pessoas com epilepsia é o preconceito baseado em estigmas 
apresentados pela doença, como a idéia de que a sialorréia (salivação abundante) 
seria um meio de transmissão da doença. Situações do cotidiano confirmam a 
discriminação com pessoas com epilepsia como relatado pelos pesquisados: 
 
[...] a gente sente que as pessoas têm discriminação demais, por exemplo, 
eu chego na casa das pessoas elas me servem em copos separados, com 
medo de pegar epilepsia. (P10) 
 
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.1 - Jul./Ago. 2011. 
 642 
 
Muito preconceito, na sociedade sobre epilepsia, abuso, discriminação já 
me negaram água eu passando mal, me negaram socorro. (P1) 
 
Os estigmas, preconceitos e medo, que esta doença ainda carrega por parte da 
sociedade se dão muitas vezes por falta de informação correta sobre o que 
desencadeia as crises, alimentando dessa forma condições inadequadas para 
convivência ou tratamento cotidiano de uma pessoa com epilepsia, levando muitas 
vezes essas pessoas a um isolamento social. 
Como apoio social alguns entrevistados citaram a participação em igreja e na 
associação AAPE, locais onde se sentem mais encorajados. Nesse sentido, 
destacam-se as seguintes narrativas: 
[...] amigos eu quase não tenho, hoje meus amigos são aqui na associação 
e na minha igreja. (P2) 
 
[...] hoje até que não é tanto depois que surgiu associação, porque eu me 
sentia uma pessoa ruim, agora me sinto melhor. (P9) 
 
O estigma e discriminação associados à epilepsia influenciam negativamente 
na qualidade de vida da pessoa e de sua família, muitas vezes impedindo-as de 
conduzir suas vidas dignamente, com interações significativas na sociedade. Assim, 
a participação em associações que buscam defender os direitos das pessoas com 
epilepsia, torna-se importante por oferecer mais segurança e diminuir a sensação de 
inferioridade, o que vai de encontro ao estudo de Fernandes et al.(2004) que 
ressaltam que a participação em grupos proporciona obtenção de melhores 
informações sobre epilepsia e, conseqüentemente, diminuição do preconceito 
associado. 
As associações ou os grupos de pacientes com epilepsia podem ser 
considerados um encontro de pessoas que compartilham da mesma problemática e, 
através dos mesmos, é criado um espaço que permite a troca de experiências e 
vivências. Auxilia no conhecimento de informações, na discussão de medos, 
ansiedades e confusões a respeito desta condição, sendo considerada uma 
oportunidade para compartilhar idéias, expressar sentimentos e trocar experiências. 
Além disso, as pessoas podem aumentar seus conhecimentos, discutir mágoas e 
desconfortos relacionados à epilepsia (FERNANDES, 2004). 
A TAB. 2 apresenta o perfil clínico dos participantes no que se refere ao uso de 
medicamentos antiepilépticos e frequência das crises de epilepsia. 
 . 
TABELA 2 - Perfil Clínico dos participantes. Ipatinga, MG, 2010. 
Variáveis Freqüência (n) Percentual (%) 
Freqüência das crises epilépticas 
Diária 
Semanais 
Controlada 
Total 
 
Faz uso de medicação 
Sim 
Não 
Total 
 
 02 
 02 
 06 
 10 
 
 10 
 00 
 10 
 
 20 
 20 
 60 
 100 
 
 100 
 00 
 100 
FONTE: dados da pesquisa 
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.1 - Jul./Ago. 2011. 
 643 
 
Um dos cuidados fundamentais que a pessoa com epilepsia deve ter com sua 
saúde é o uso frequente e correto da medicação para controle das crises. A TAB. 2 
demonstra que nesta pesquisa 100% dos participantes fazem uso de fármaco 
controlado e que apesar deste uso 40% apresentam crises. 
 Sarmento e Minayo-Gomez (2000) ressaltam que, com o tratamento 
medicamentoso, 75% dos pacientes ficam assintomáticos e cerca de 5% têm crises 
eventuais. Assim, a enfermagem tem importante papel como mediadora da pessoa 
com epilepsia e a sua inclusão social e no mercado de trabalho contribuindo com a 
orientação no uso correto e regular da medicação, buscando favorecer na 
estabilidade da saúde, colaborando para evitar problemas psicossociais 
 
 
A inserção do trabalhador com epilepsia no contexto de trabalho 
 
 
A TAB. 3 apresenta as características profissionais dos pesquisados. Somente 
um participante alegou estar no mercado formal de trabalho, os demais ou estão no 
mercado informal ou aposentados. Contrariamente, em relação a experiências 
anteriores de trabalho, nove já trabalharam formalmente. 
Segundo Cafer et al. (2005), a falta de trabalho ou impossibilidade de trabalhar 
pode ser um evento estressor que acarreta prejuízos tanto na sociedade quanto 
perdas de produtividade social e familiar. 
A não admissão ou a demissão do trabalho devido ao fato de ter epilepsia foi 
revelada pelos participantes o que pode ser característico de ausência de 
informações corretas ou preconceito do empregador em relação à doença. Uma em 
cada cinco pessoas com epilepsia é demitida do trabalho e a razão para isso é a 
doença. Porém, o empregador nem sempre informa o motivo real da demissão. 
Legalmente, a empresa não pode demitir por causa de um acometimento ou porque 
o trabalhador é portador de uma doença. Assim, o motivo pode ser mascarado pelas 
mais diversas razões, inclusive por “corte de gastos”, entre outros. Dessa forma, fica 
o empregado sem recursos para argumentar ou questionar sua demissão (JESUS; 
NOGUEIRA; OLIVEIRA, 2007). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.1 - Jul./Ago. 2011. 
 644 
 
 
TABELA 3 - Distribuição da amostra segundo situação trabalhista. Ipatinga, MG, 2010. 
Variáveis Freqüência (n) Percentual (%) 
Situação trabalhista atual 
Empregado 
Desempregado 
Total 
 
Já teve emprego anteriormente 
Sim 
Não 
Total 
 
Número de empregos nos últimos 
três anos 
0-1 
2-3 
4-5 
Total 
 
Já deixou de ser admitido por 
causa da epilepsia? 
Sim 
Não 
Total 
 
Já foi demitido de algum outro 
emprego por causa da doença? 
Sim 
Não 
Total 
 
 01 
 09 
 10 
 
 
 09 
 01 
 10 
 
 
 
 06 
 01 
 03 
 1007 
 03 
 10 
 
 
 
 06 
 04 
 10 
 
 10 
 90 
 100 
 
 
 90 
 10 
 100 
 
 
 
 60 
 10 
 30 
 100 
 
 
 
 70 
 30 
 100 
 
 
 
 60 
 40 
 100 
FONTE: dados da pesquisa 
 
Segundo Guerreiro (2004), geralmente as pessoas com epilepsia escondem 
sua condição ao procurarem emprego, no entanto as faltas por doença e os 
acidentes de trabalho não são mais freqüentes em pessoas com epilepsia do que 
nos demais empregados. Ansiedade, medo, insegurança, foram sentimentos citados 
que geralmente são desencadeados e tornam-se prejudiciais quando pessoas com 
epilepsia tentam entrar no mercado de trabalho. 
 
Eu me questiono no caso, eu não tenho condições, porque o fato da 
ansiedade que eu sofro às vezes limita eu mesma de procurar um trabalho 
diferente do que eu fazia, eu já me sinto insegura. (P2) 
 
Depois que fui demitido eu fico um pouco inseguro, porque eu vou ter que 
mentir, eu tenho medo de fichar e acontecer outra crise. Inclusive eu estou 
afastado há 8 anos, a companhia me mandou embora, e hoje tentando lutar 
na justiça federal. (P5) 
 
Os entrevistados foram unânimes ao relatarem que, as condições não são 
favoráveis, as portas encontram-se fechadas, para entrar no mercado de trabalho. E 
que a discriminação por serem pessoas com epilepsia influencia no momento da 
entrevista. 
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.1 - Jul./Ago. 2011. 
 645 
 
Fechado, porque as pessoas que eu conheço que tem epilepsia não 
conseguem nenhum emprego começando pela na triagem pra fazer 
entrevista de emprego, a primeira coisa que eles perguntam se faz uso de 
algum medicamento controlado e se tem algum tipo de doença, se a pessoa 
fala que tem epilepsia nenhuma empresa contrata. (P2) 
 
Eu acho muito difícil, pra pessoa conseguir fichar hoje, ela tem que mentir, 
porque se a pessoa fala que sofre as crises e que toma remédio controlado, 
nenhuma firma concede essa oportunidade de trabalho. (P7) 
 
A dificuldade em falar as verdadeiras condições de saúde, o uso de 
medicamentos controlados, durante a entrevista de emprego foram as questões 
mais alegadas pelos entrevistados, pois muitas vezes é necessário esconder as 
mesmas para garantir uma oportunidade de trabalho. Nessa perspectiva, Salgado e 
Souza (2002) identificaram o desemprego como um dos problemas que mais afeta 
uma pessoa com epilepsia na fase adulta. Diante da possibilidade de emprego os 
pacientes, geralmente, escolhem não informar aos empregadores sobre sua 
condição de saúde, por medo de exclusão. 
Uma vez inserida no mercado de trabalho a discriminação aparece 
novamente como problema rotineiro enfrentado por quem tem epilepsia. Além disso, 
certos efeitos da medicação como alterações cognitivas, podem reduzir a habilidade 
no trabalho. Levando o paciente a desenvolver uma autoavaliação negativa de si 
mesmo e do ambiente, e limitando sua tentativa de procurar um emprego melhor e 
suas relações de trabalho (SALGADO; SOUZA, 2002). 
 
CONCLUSÃO 
Com base nos dados encontrados foi possível evidenciar existência de 
estigmas e preconceitos da sociedade segundo a visão das pessoas com epilepsia 
pesquisadas. Os resultados mostraram que já passaram por algum tipo de 
transtorno para inserção na sociedade, o que os levam a se oprimirem devido a 
condições conflitantes que existem na relação entre sociedade e a patologia. Devido 
a essa relação conflitante até mesmo com o mundo do trabalho, frequentemente a 
pessoa com epilepsia é levada a renunciar a seus direitos o que lhe traz 
repercussões adversas na vida cotidiana, afetando sua saúde física e mental. 
Diante de tais condições, o enfermeiro por ter um contato mais próximo com a 
população, pode usar dessa proximidade para esclarecer dúvidas sobre a patologia; 
assim como promover a conscientização do indivíduo com epilepsia garantindo-lhe 
autoconfiança. Pois, como visto a epilepsia alimenta estigmas por falta de 
conhecimento correto de suas causas. Observa-se a necessidade de orientação da 
sociedade em geral visando a desmistificação de tabus e mitos, garantindo a 
qualidade de vida de pessoas com epilepsia, favorecendo para a implementação de 
políticas públicas sociais e de saúde voltadas para este segmento da população, 
influenciando na preparação para inserção e permanência do indivíduo com 
epilepsia no mercado de trabalho. 
 
REFERÊNCIAS 
Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.1 - Jul./Ago. 2011. 
 646 
 
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10 de outubro de 1996. Estabelece diretrizes e normas regulamentadoras de 
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