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DIREITO DO TRABALHO I PROFESSOR JOÃO LUÍS PRIÁTICO SAPUCAIA BRASÍLIA – DF 2017.2 DIREITO DO TRABALHO I 1. EMENTA: Evolução História do Direito do Trabalho. Denominação. Conceito. Divisões da Matéria. Autonomia do Direito do Trabalho. Posição Enciclopédica do Direito do Trabalho. Relações do Direito do Trabalho com os demais ramos do Direito. Relações do Direito do Trabalho com áreas. Fontes do Direito do Trabalho. Aplicação das Normas do Direito do Trabalho. Princípios do Direito do Trabalho. Direito Internacional do Trabalho. Contrato Individual de Trabalho. Contrato de Trabalho. Empregado. Terceirização. Empregador. Poder de Direção do Empregador. Remuneração. Equiparação Salarial. Alteração do Contrato de Trabalho. Interrupção e Suspensão do Contrato de Trabalho. Cessação do Contrato de Trabalho. Assistência na Rescisão do Contrato de Trabalho. Aviso Prévio. Estabilidade. Indenização. FGTS. 2. OBJETIVOS: Geral: Reconhecer a importância do ensino do Direito para a compreensão das relações jurídico-sociais, habilitando o acadêmico a um aprendizado com formação humanística. Específicos: 1 - Habilitar o acadêmico para ler, compreender e elaborar textos, atos e documentos jurídicos normativos utilizando as normas técnico-jurídicas; 2 - Utilizar corretamente a terminologia jurídica da Ciência do Direito, compreendendo a relação dos conceitos jurídicos. 3 - Habilitar o acadêmico na aplicação da moderna hermenêutica dos princípios e dos direitos fundamentais, com o objetivo na constitucionalização do Direito; 4 - Compreender a relação dos conceitos jurídicos; 5 - Proporcionar o exercício de uma praxis jurídica ligada à complexidade do contexto atual, numa perspectiva interdisciplinar; 5 - Promover a extensão aberta à população visando a difusão e integração do conteúdo teórico ao prático. 6 - Apresentar visão crítica e multidisciplinar das relações trabalhistas, máxime no tocante aos princípios e fontes do direito material do trabalho, à relação de emprego e ao contrato de trabalho à luz das repercussões da Emenda Constitucional 45/04, ao salário, abrangendo seus componentes e distinguindo-o, conceitualmente, de remuneração, à jornada de trabalho, à extinção do contrato de trabalho, bem como às questões trabalhistas que estão na ordem do dia, tais como flexibilização, dano moral e trabalho escravo, todos relacionados à materialização dos direitos fundamentais. 3. UNIDADES E CONTEÚDOS: UNIDADE DIDÁTICA I - EVOLUÇÃO HISTÓRIA DO DIREITO DO TRABALHO: O Trabalho Humano no Tempo. Surgimento do Direito do Trabalho. Evolução do Direito do Trabalho no Brasil e no Mundo. UNIDADE DIDÁTICA II - CONCEITO, FONTES, PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO DIREITO DO TRABALHO: Conceito, Autonomia e Natureza Jurídica do Direito do Trabalho. Princípios Gerais do Direito do Trabalho. Fontes do Direito do Trabalho. Interpretação e Aplicação das Normas Trabalhistas. UNIDADE DIDÁTICA III - RELAÇÕES DO DIREITO DO TRABALHO COM OS DEMAIS RAMOS DO DIREITO: A relação do Direito do Trabalho com o Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Penal, Direito Tributário, Direito Empresarial, Direito Previdenciário e o Direito Administrativo. UNIDADE DIDÁTICA IV - NORMAS PERTINENTES AOS CONTRATOS DE TRABALHO: Relação de Trabalho X Relação de Emprego. Distinção entre Atividade e Trabalho. Requisitos e Elementos Caracterizadores da Relação de Emprego. O Poder de Direção do Empregador. O Regulamento da Empresa. Conceito e Natureza Jurídica do Contrato de Trabalho. Características do Contrato de Trabalho. Contratos de Prazo Determinado. Alterações do Contrato de Trabalho. Suspensão e Interrupção do Contrato de Trabalho. 6. Extinção dos Contratos de Trabalho. Aviso Prévio. Distinção entre Salário e Remuneração. Salário in itineri e Salário in natura. Parcelas Salariais e Adicionais. Equiparação Salarial. UD I – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO TRABALHO S U M Á R I O 1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRABALHO HUMANO 2. EVOLUÇÃO INTERNACIONAL DO DIREITO DO TRABALHO 3. EVOLUÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL 1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO TRABALHO HUMANO 1ª FASE – ESCRAVIDÃO O vocábulo trabalho, em sua origem, foi carregado de um sentido de castigo. Desde o início da história da humanidade que o homem precisou buscar no trabalho a sua própria subsistência. Na própria Bíblia, no Antigo Testamento, o trabalho já foi considerado como um castigo imposto por Deus a Adão, em razão de sua desobediência ao provar da árvore da sabedoria, comendo o fruto proibido. O vocábulo trabalho vem do latim – TRIPALIUM, uma espécie de instrumento de tortura de três paus ou uma canga que pesava sobre os animais, quando utilizados para arar a terra. Já a expressão italiana lavoro e a inglesa labour derivam de labor, que em latim significa dor, sofrimento, esforço, fadiga, atividade penosa. Em grego, o correspondente de trabalho era ponos, que deu origem a palavra pena. Sob a égide do direito do Trabalho, o foco é a relação de trabalho subordinado, em torno do qual gravita a maioria de seus institutos. De Plácido e Silva (2009) conceitua trabalho como “... todo esforço físico, ou mesmo intelectual, na intenção de realizar ou fazer qualquer coisa”. Ao conceituar o trabalho sob o aspecto econômico pode-se afirmar que o mesmo consiste em toda atividade humana destinada à produção de um bem ou serviço. A evolução histórica do trabalho humano através dos séculos vem desde a antiguidade, com o trabalho escravo existente na Grécia antiga e no Império Romano. Se por um lado o trabalho sempre esteve associado à ideia de sofrimento, também sempre foi essencial ao atendimento das necessidades absolutas do homem. Assim, o homem passou a explorar o seu semelhante por intermédio da escravidão. A primeira forma de trabalho foi a escravidão, que decorreu das guerras de conquistas, onde os povos vencidos tornavam-se escravos e propriedade dos vencedores. O escravo era considerado um objeto, não possuindo qualquer tipo de direito. Seu trabalho perdurava no tempo indefinidamente enquanto ele se mantivesse vivo ou na condição de escravo. Os escravos eram os povos vencidos nas batalhas. A escravidão era vista como uma situação justa e necessária. Os escravos não tinham o reconhecimento da sua personalidade jurídica, equiparavam-se a um objeto qualquer, não tendo direitos ou liberdades, são obrigados a trabalhar, sem qualquer garantia, sem receber qualquer salário. O trabalho não era dignificante para o homem, representava punição, submissão. Na Grécia, Platão e Aristóteles entendiam que o trabalho tinha um sentido pejorativo, pois envolvia apenas a força física. O trabalho não tinha o significado de realização pessoal. Em Roma, o trabalho era considerado algo desonroso executado pelos escravos. No entanto, algumas pessoas se dispunham a locar suas energias ou o resultado de seu trabalho, em troca de pagamento, sendo essa situação regulada pela locatio conductio: locatio conductio rei à era o arrendamento de uma coisa. locatio conductio operarum à os serviços prestados eram pagos. locatio conductio operis à entrega de obra mediante pagamento. O primeiro grande golpe à escravidão foi a Revolução Francesa, que, em 1789, a proclamou indigna. Em 1857, a escravidão foi proscrita oficialmente dos territórios sob o domínio da Inglaterra. No Brasil a escravidão foi abolida tardiamente, pela Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, porém, nos dias dehoje, ainda acontecem alguns casos de escravidão, sobretudo em alguns países da África e da Ásia. O Código Penal prevê como crime o ato de reduzir alguém à condição análoga de escravo (art. 149). 2ª FASE – SERVIDÃO No fim da Idade Antiga, nos últimos anos dos Impérios Romano e Bizantino, o homem adotou o regime de colonato, ou seja, a predominância do trabalho agrário, em que o camponês retira da terra a sua subsistência, porém fica sujeito aos tributos que lhes são exigidos pelo proprietário da terra. Na Idade Média surge o regime da servidão à gleba, ou seja, os trabalhadores que cultivavam as terras em troca de proteção militar, que estavam ligados a um senhor, proprietário de extensas áreas. Era o início do regime feudal e o trabalho migrava da escravidão para a servidão e a terra era a grande produtora de riquezas e o servo era a mão-de-obra a ser apropriada. O feudalismo vigorou na Europa entre os séculos X e XIII, caracterizou-se por ser um regime pelo qual alguém se tornava vassalo (servo) de um senhor, em troca de proteção e do sustento. A condição de servo era hereditária, passava de pai para filho. 3ª FASE – CORPORAÇÕES DE OFÍCIO Com o surgimento das cidades independente dos regimes de feudos, que aumentou a migração do homem para essas localidades, o regime da servidão sofre duro impacto surgindo, assim, uma nova forma de organização do trabalho, as corporações de ofício. Estas tinham por objetivo estabelecer uma estrutura hierárquica, regular a capacidade produtiva e regulamentar a técnica de produção. As corporações de ofício apresentavam três personagens: mestres, companheiros e aprendizes. Aprendizes trabalhavam a partir dos 12 anos e ficavam sob a responsabilidade dos mestres que podiam impor-lhes castigos físicos. Se o aprendiz superasse as dificuldades dos ensinamentos, passava ao grau de companheiro. Este só passava a mestre se fosse aprovado em exame de obra-mestra. Também passavam à condição de mestre àqueles que casassem com a viúva do mestre ou com sua filha. Nesta época os trabalhadores passaram a tem um pouco mais de liberdade. A jornada de trabalho era muito longa, chegando até a 18 horas no verão, porém muitas vezes terminava ao pôr-do-sol, apenas por questão de qualidade do trabalho e não para proteger o trabalhador. Com a invenção do lampião a gás, em 1792, introduziu-se o trabalho noturno e a jornada diária passou a durar entre 12 a 14 horas. Com a Revolução Francesa, em 1789, interessava à nova classe política – a burguesia – que houvesse mão-de-obra abundante e livre para a respectiva contratação, dessa maneira, as corporações de ofício foram suprimidas, definitivamente, em 1791, pois foram consideradas incompatíveis com o ideal de liberdade daquele movimento social. Apesar de sua estrutura hierarquizada em três níveis estratificados (mestres, companheiros e aprendizes, as corporações de ofício representavam alguma proteção ao trabalhador, bem como a garantia de um trabalho). Com a proibição das corporações de ofício, o que se viu foi a degradação do ser humano, pois, em face da ampla liberdade contratual, sem qualquer tipo de proteção, sujeitou-se ao trabalho paga a preço vil e em condições subumanas, com exploração das mulheres e crianças. 4ª FASE REVOLUÇÃO INDUSTRIAL – SURGIMENTO DO DIREITO DO TRABALHO A quarta e mais importante fase da evolução do trabalho humano desenvolveu- se a partir da Revolução Industrial. O liberalismo do século XVIII pregava um Estado alheio à área econômica. Por outro lado, a revolução industrial acabou transformando o trabalho em emprego. Os trabalhadores, de maneira geral, passaram a trabalhar por salários, com vínculo de subordinação aos seus empregadores. Com o surgimento da máquina à vapor e dos novos métodos de produção agrícola, além da substituição do trabalho manual pelo trabalho com a utilização de máquinas, o desemprego passou a aumentar. Antes da Revolução Industrial, o capitalismo era essencialmente comercial, envolvendo atividades e bens decorrentes de relações comerciais nas áreas terrestres, marítimas ou colonial. A partir do Sec. XVIII, com a exploração de atividades industriais, surge um novo tipo de capitalismo, chamado de capitalismo industrial. A Revolução Industrial compreende o conjunto das transformações técnicas, sociais e econômicas que surgiram na Inglaterra no final do Sec. XVIII e início do Sec. XIX que posteriormente irradiou-se pela Europa e Estados Unidos. Caracterizou-se pela produção em massa, e pelo acúmulo de capitais, além de um crescente desemprego dado a produção industrial realizada pelo incremento das máquinas que substituiu o trabalho humano. As principais consequências da Revolução Industrial foram: a. Os avanços e as inovações tecnológicas trouxeram mudanças estruturais nas relações de trabalho com a divisão social e material do trabalho humano. b. Aumento quantitativo do rendimento do trabalho humano. c. Interação entre a ciência e a tecnologia que passou a ser indispensável ao desenvolvimento humano. d. Utilização de novas fontes de energia decorrentes da utilização da máquina à vapor, fazendo alavancar novas técnicas de produção. e. Incremento de trabalhadores, gerando divisão e especialização do trabalho. f. Necessidade de imobilização de capitais para aquisição de máquinas, gerando um incremento do comércio livre e na divisão internacional do trabalho. g. O crescimento demográfico acentuado gerou aumento do número de trabalhadores industriais, em detrimento dos trabalhadores do campo, ocasionando os problemas urbanos e diminuição da população agrária, com a emigração internas para as grandes cidades e fez surgir uma nova classe social o proletariado urbano industrial. h. O trabalhador passou a sujeitar-se a uma série de regras trabalhistas, com excessiva jornada diária de trabalho, gerando a exploração desumana do trabalho do menor e das mulheres, escassez dos postos de trabalho e más condições laborais. 2. EVOLUÇÃO INTERNACIONAL DO DIREITO DO TRABALHO 1ª FASE – FINAL DO SEC XVIII ATÉ O MANIFESTO COMUNISTA DE 1848 A partir da Revolução Industrial, com o surgimento do trabalho assalariado, as bases do regime jurídico, pelo prisma liberal repousam na liberdade para contratar e na autonomia plena da vontade. Porém, a realidade histórica demonstrou que o ideal liberal era insuficiente para evitar a exploração desumana do trabalhador, daí a necessidade de se editar normas, regulamentos e regramentos que norteassem as relações trabalhistas e protegessem o trabalhador, embrionárias do Direito do Trabalho, que elegeu como valor a proteção à dignidade do ser humano e, como fato, a desigualdade concreta entre o proletariado em face do regime capitalista, objetivando a equiparação jurídica do capital e do trabalho. Os trabalhadores começaram a se reunir para reivindicar melhores salários; diminuir as excessivas jornadas de trabalho, que chegavam a 16 horas diárias e limitar a exploração dos menores e mulheres que ocupavam postos de trabalho por salários mais baixos. No início o patrão era o proprietário das máquinas, detendo os meios de produção, exercia o poder de mando em relação ao trabalhador, caracterizando assim a desigualdade na relação trabalhista e o desemprego em massa que causava conturbações sociais. Por isso mesmo, o Estado passou a intervir nas relações de trabalho, conferindo uma maiorproteção jurídica e econômica ao trabalhador, surgindo daí as primeiras normas jurídicas trabalhistas. O trabalho se dividiu e passou a ser mais organizado e estruturado. Nessa primeira fase ainda não se tem um Direito do Trabalho sistematizado. As leis são dispersas e apresentavam um conteúdo proibitivo, não dispondo de direitos aos trabalhadores. Ainda não havia uma pressão operária significativa e os acontecimentos que mereceram destaque nos principais países foram os seguintes: INGLATERRA Em 1790, com o surgimento da máquina a vapor, aumentou o número de trabalhadores desempregados. Em 1802, a Lei de Peel, deu mais amparo aos trabalhadores menores, proibiu o trabalho noturno de menores e limitando a jornada diária de trabalho para 12 horas. O trabalho não poderia iniciar antes das 6 horas e nem prosseguir após às 21H. Em 1819, foi aprovada uma lei proibindo o trabalho de menores de 9 anos. Em 1847, a jornada de trabalho foi fixada em dez horas diárias. FRANÇA Em 1791, a Lei Chapelier, que extinguiu as corporações de ofício, inclusive proibindo-se a coligação de empresários e trabalhadores. Em 1830, eclode revolução operária em Lyon, em função do salário mínimo. Em 1839, aprovada lei proibindo o trabalho de menores de 9 anos e fixada jornada de trabalho para os menores de 16 anos em 10 horas diária. Em 1848, a jornada de trabalho foi fixada em 10 horas diárias, sendo 11 horas em Paris. SUÍCA Em 1833 fundou-se a primeira associação operária. Em 1848, Karl Max e Friedrich Engels, editam a obra o Manifesto Comunista, marcando o final desse período. 2ª FASE – DO MANIFESTO COMUNISTA DE 1848 ATÉ 1919 Essa fase ficou marcada por uma intensa pressão operária e inúmeros movimentos grevistas. O avanço do capitalismo e da exploração desmesurada da força de trabalho levou à organização e à luta dos trabalhadores, levando a sistematização do Direito do Trabalho. Nesta fase surgiram as leis de proteção ao trabalho que asseguraram: (a) limitação da liberdade contratual; (b) surgimento da administração pública do trabalho; (c) criação de uma jurisdição especializada e (d) reconhecimento do poder de determinação coletiva das condições de trabalho (autonomia coletiva privada), deixando-se de se punir a greve. O marco final dessa fase ocorre com o término da 1ª Guerra Mundial e a celebração do Tratado de Versalhes, com o qual criou-se a Organização Internacional do Trabalho. Os principais acontecimentos que mereceram destaque nos países do mundo foram: FRANÇA Em 1848, a Europa foi sacudida por uma série de revoluções de cunho liberal, que aspiravam a grandes transformações políticas, econômicas e sociais. A revolução irrompeu inicialmente na França onde adeptos do sufrágio universal e uma minoria socialista derrubaram a monarquia de julho e criaram a 2ª República. Em 1864 foi reconhecido o direito de greve e, em 1876, foi realizado o 1º Congresso Operário, quatro anos mais tarde foi fundado o Partido Operário. Em 1889, no Congresso Internacional dos Trabalhadores, fixou-se a jornada de 8 horas diárias (somente votada por lei em 1919) e instituído o dia 1º de maio como o Dia do Trabalho. INGLATERRA Na cidade de Liverpool adotou-se jornada de oito horas de trabalho. Em 1897, estabeleceu-se legislação sobre acidentes no trabalho. Desenvolvimento do sindicalismo de lutas de classes, entre 1912 e 1919. Em 1914, o Partido Trabalhista propõe que as questões proletárias sejam solucionadas por intermédio de entendimento entre as partes. Fixação da arbitragem obrigatória durante a guerra, em 1915. ITÁLIA Em 1891, divulgação da Encíclica Rerum Novarum, pelo Papa Leão XIII, abordando a temática do trabalho segundo a visão da Igreja. Abordava uma reação contra o sistema de danos e injustiças que pesavam sobre o trabalho dos homens. ALEMANHA Em 1890, foi realizada a Conferência Internacional de proteção ao operário. Promulgação da Constituição de Weimar, em 1919, que tratava de uma série de matérias de direito social, entre outras: (a) trabalho sob a proteção estatal; (b) garantia quanto à liberdade de associação; (c) sistematização do Direito do Trabalho. ESTADOS UNIDOS Em 1º de maio de 1886, em Chicago, foram organizadas greves e manifestações por garantias e melhorias laborais (redução da jornada de 13 para 8 horas). A polícia entrou em choque com os manifestantes e uma pessoa não identificada lançou uma bomba contra a multidão, matando quatro manifestantes e três policiais. Oito líderes trabalhistas foram presos e julgados responsáveis. Um suicidou-se na prisão, quatro foram enforcados e três libertados depois de sete anos de prisão. RÚSSIA Eclosão das primeiras lutas operárias, em 1904 e promulgação da Constituição de 1905 e ocorrência de uma greve geral. Em 1917, ocorre a Revolução Comunista. MÉXICO A Carta de 1917 inicia o processo mundial relativo à constitucionalização das normas de proteção ao trabalho. Estabelecia jornada de 8 horas, proibição de trabalho de menores de 12 anos, limitação da jornada dos menores de 16 anos a 6 horas, jornada noturna máxima de 7 horas, descanso semanal, proteção à maternidade, salário mínimo, direito de sindicalização e de greve, indenização de dispensa, seguro social e proteção contra acidentes do trabalho. 3ª FASE – DE 1919 ATÉ OS DIAS ATUAIS O marco inicial desse período é a celebração do Tratado de Versalhes que preconizava nove princípios gerais relativos à regularização do trabalho. O início dessa fase caracterizou-se por uma maior intervenção estatal, como forma de elaboração de um regulamento das relações de trabalho, visando à harmonização do TRABALHO X CAPITAL. O Estado disciplinou diversas normas tais como o trabalho das mulheres e dos menores, a jornada de trabalho, a segurança e a medicina no trabalho, os salários e os mecanismos para controle dos conflitos trabalhistas. Atualmente, ocorrem os seguintes fenômenos na sociedade capitalista: (a) implementos de processos informatizados de produção; (b) avanços no campo da engenharia genética e das telecomunicações; (c) surgimento de blocos econômicos e de áreas de livre comércio, com o incremento das relações comerciais internacionais e (d) aumento da interdependência dos mercados mundiais. A intervenção estatal e a organização dos trabalhadores foram elementos essenciais para o surgimento e desenvolvimento do Direito do Trabalho. No mundo moderno, com as alterações que vem sofrendo a sociedade capitalista contemporânea, o Direito do Trabalho vem sofrendo mudanças que exigem a adoção de novos mecanismos visando a uma maior flexibilização das normas trabalhistas. A nova realidade econômica gera várias críticas quanto ao modelo de intervencionismo estatal. O mundo estatal rígido de proteção é insuficiente para a tutela do trabalhador, em face das novas técnicas de trabalho. Qualquer que seja o novo modelo sugerido para o Direito do Trabalho, é imperioso que a dignidade do trabalhador seja mantida, como meio de se evitar o retorno a uma situação degradante do ser humano. Os principais fatos que mereceram destaque nos países do mundo foram: ITÁLIA Ocupação de usinas siderúrgicas por grevistas, em agosto de 1920 e eclosão de greves gerais em 1922 e 1969. Proibição de greves e início do corporativismo, criação do sindicato único, em 1926 e com a ruptura em 1949. Edição da Carta del Lavoro, em 1927. FRANÇA Grevegeral em 1934 com uma série de conflitos e vítimas. Em 1936, celebração do acordo de Martignon, a respeito das convenções coletivas, em 1936. Greve geral em Paris, 1952 e dos funcionários públicos, em 1959, e em toda a França em 1968. ALEMANHA Realização da greve geral nacional de 1920, com grande crise econômica gerando mais de 5.500.000 desempregados. Nomeação de Hitler como chanceler e avanço do nazismo. INGLATERRA Greve nos transportes, em 1926 e proibição das greves, em 1929. Adoção de nova lei de greves, em 1971 e eclosão de greves nos serviços públicos, em 1972/73. 3. EVOLUÇÃO DO DIREITO DO TRABALHO NO BRASIL A evolução do Direito do Trabalho no Brasil pode ser dividida em três fases: (a) da Independência - 1822 até a Abolição da Escravatura - 1888; (b) da Abolição da Escravatura - 1888 até a Revolução de 1930; (c) da Revolução de 1930 até os dias atuais 1ª Fase: da Independência até a Abolição da Escravatura O primeiro período foi marcado pelo trabalho escravo, o que não contribuiu para o desenvolvimento da legislação trabalhista. À época vigia a Constituição de 1824 que consagrava a filosofia liberal da revolução francesa assegurando a liberdade de trabalho, porém, sem tratar dos direitos sociais do trabalhador. Nossa primeira Carta proibiu as corporações de ofício. 2ª Fase: da Abolição da Escravatura até a Revolução de 1930 A Constituição de 1891 reconheceu a liberdade de associação de forma genérica. As modificações ocorridas na Europa decorrentes da 1ª Guerra Mundial e o surgimento da Organização Internacional do Trabalho - OIT, em 1919, incentivaram a criação de normas trabalhistas no país. 3ª Fase: da Revolução de 1930 até os dias atuais Getúlio Vargas iniciou a formação de uma política trabalhista em 1930, culminando com a edição da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, em 1° de maio de 1943, editada pelo Decreto-lei n° 5.452. O Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio foi criado em 1930, passando a expedir decretos sobre profissões, trabalhos das mulheres (1932), salário mínimo (1936), Justiça do Trabalho (1939), etc. A Constituição de 1934 é a primeira a tratar especificamente do Direito do Trabalho. Instituiu a Justiça do Trabalho no Brasil, porém ainda era um órgão sem autonomia e subordinado ao Poder Executivo. Garantia a liberdade sindical, isonomia salarial, salário mínimo, jornada de oito horas de trabalho, proteção do trabalho das mulheres e menores, repouso semanal e férias anuais remuneradas. A Constituição de 1937, marca uma fase intervencionista do Estado, tinha cunho eminentemente corporativista, inspirada na Carta del Lavoro Italiana, de 1927 e na Constituição polonesa. Instituiu o sindicato único, vinculado ao Estado e exercendo funções delegadas de poder público, podendo haver intervenção do Estado. A greve e o lockout foram considerados recursos antissociais, nocivos ao trabalho e ao capital e incompatível com os interesses da produção nacional. A Constituição de 1946 é considerada uma Carta democrática, rompendo com o corporativismo da Carta anterior e, pela primeira vez, subordinou a Justiça do Trabalho ao Poder Judiciário. Nela foram inseridos os direitos de participação nos lucros, o repou- so semanal remunerado, a estabilidade de emprego e o direito de greve, entre outros. Nesse período surgiram outras leis ordinárias que regulavam direitos trabalhistas: - Lei 605/49 à repouso semanal remunerado. - Lei 4.090/62 à 13° salário. - Lei 4.266/63 à salário família. A Carta de 1967 manteve os direitos trabalhistas das Constituições anteriores. No âmbito da legislação ordinária destacaram-se: - Lei 5.889/73 à Trabalhador rural. - Lei 5.859/72 à Trabalho dos empregados domésticos (revogada pela Lei Complementar 150/2015). - Lei 6.019/74 à Trabalhador temporário (alterada pela Lei 13.429/2017 – Lei da Terceirização. A Constituição de 1988 trata os direitos trabalhistas nos arts. 7° a 11, incluídos no Capítulo II – Dos Direitos Sociais, do Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais, ao passo que nas Cartas anteriores os direitos trabalhistas sempre eram inseridos no âmbito da ordem econômica e social. O art. 7° da CF trata de direitos individuais e tutelares do trabalho. Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos; II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário; III - fundo de garantia do tempo de serviço; IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho; VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo; VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável; VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria; IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno; X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa; XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei; XII - salário-família para os seus dependentes; XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei; (Redação dada pela Emenda nº 20, de 1998) XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; (vide Decreto- Lei nº 5.452, de 1943) XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva; XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos; XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal; (Vide Del 5.452, art. 59 § 1º) XVII - gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais do que o salário normal; XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a duração de cento e vinte dias; XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei; XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei; XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; XXIV - aposentadoria; XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até seis anos de idade em creches e pré-escolas; XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches e pré-escolas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho; XXVII - proteção em faceda automação, na forma da lei; XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa; XXIX - ação, quanto a créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de: a) cinco anos para o trabalhador urbano, até o limite de dois anos após a extinção do contrato; b) até dois anos após a extinção do contrato, para o trabalhador rural; XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000) a) (Revogada). (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000) b) (Revogada). (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000) XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência; XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos; XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de quatorze anos, salvo na condição de aprendiz; XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VIII, XV, XVII, XVIII, XIX, XXI e XXIV, bem como a sua integração à previdência social. Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência social. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 72, de 2013) O art. 8° versa sobre o sindicato e suas relações. O art. 9° especifica as regras sobre a greve. O art. 10 determina disposição sobre a participação dos trabalhadores em colegiados. O art. 11 menciona que nas empresas com mais de 200 empregados é assegurada a eleição de um representante dos trabalhadores para entendimentos com o empregador. Quanto a esse último dispositivo constitucional a Lei 13.467/2017, trouxe inovações, estabelecendo um colegiado de, no mínimo 3 e no máximo 7 membro como representantes dos empregados na empresa, in verbis: Art. 510-A. Nas empresas com mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de uma comissão para representá-los, com a finalidade de promover- lhes o entendimento direto com os empregadores. §1o A comissão será composta: I - nas empresas com mais de duzentos e até três mil empregados, por três membros; II - nas empresas com mais de três mil e até cinco mil empregados, por cinco membros; III - nas empresas com mais de cinco mil empregados, por sete membros. § 2o No caso de a empresa possuir empregados em vários Estados da Federação e no Distrito Federal, será assegurada a eleição de uma comissão de representantes dos empregados por Estado ou no Distrito Federal, na mesma forma estabelecida no § 1o deste artigo. Art. 510-B. A comissão de representantes dos empregados terá as seguintes atribuições: I - representar os empregados perante a administração da empresa; II - aprimorar o relacionamento entre a empresa e seus empregados com base nos princípios da boa-fé e do respeito mútuo; III - promover o diálogo e o entendimento no ambiente de trabalho com o fim de prevenir conflitos; IV - buscar soluções para os conflitos decorrentes da relação de trabalho, de forma rápida e eficaz, visando à efetiva aplicação das normas legais e contratuais; V - assegurar tratamento justo e imparcial aos empregados, impedindo qualquer forma de discriminação por motivo de sexo, idade, religião, opinião política ou atuação sindical; VI - encaminhar reivindicações específicas dos empregados de seu âmbito de representação; VII - acompanhar o cumprimento das leis trabalhistas, previdenciárias e das convenções coletivas e acordos coletivos de trabalho. § 1o As decisões da comissão de representantes dos empregados serão sempre colegiadas, observada a maioria simples. §2o A comissão organizará sua atuação de forma independente. Art. 510-C. A eleição será convocada, com antecedência mínima de trinta dias, contados do término do mandato anterior, por meio de edital que deverá ser fixado na empresa, com ampla publicidade, para inscrição de candidatura. § 1o Será formada comissão eleitoral, integrada por cinco empregados, não candidatos, para a organização e o acompanhamento do processo eleitoral, vedada a interferência da empresa e do sindicato da categoria. § 2o Os empregados da empresa poderão candidatar-se, exceto aqueles com contrato de trabalho por prazo determinado, com contrato suspenso ou que estejam em período de aviso prévio, ainda que indenizado. § 3o Serão eleitos membros da comissão de representantes dos empregados os candidatos mais votados, em votação secreta, vedado o voto por representação. §4o Acomissãotomarápossenoprimeirodiaútilseguinteàeleiçãoouaotérmino do mandato anterior. § 5o Se não houver candidatos suficientes, a comissão de representantes dos empregados poderá ser formada com número de membros inferior ao previsto no art. 510- A desta Consolidação. § 6o Se não houver registro de candidatura, será lavrada ata e convocada nova eleição no prazo de um ano. Art. 510-D. O mandato dos membros da comissão de representantes dos empregados será de um ano. § 1o O membro que houver exercido a função de representante dos empregados na comissão não poderá ser candidato nos dois períodos subsequentes. § 2o O mandato de membro de comissão de representantes dos empregados não implica suspensão ou interrupção do contrato de trabalho, devendo o empregado permanecer no exercício de suas funções. § 3o Desde o registro da candidatura até um ano após o fim do mandato, o membro da comissão de representantes dos empregados não poderá sofrer despedida arbitrária, entendendo-se como tal a que não se fundar em motivo disciplinar, técnico, econômico ou financeiro. § 4o Os documentos referentes ao processo eleitoral devem ser emitidos em duas vias, as quais permanecerão sob a guarda dos empregados e da empresa pelo prazo de cinco anos, à disposição para consulta de qualquer trabalhador interessado, do Ministério Público do Trabalho e do Ministério do Trabalho.
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