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ANOTAÇÕES DE AULAS TÓPICO “RECURSOS NATURAIS - CONCEITOS BÁSICOS” 1 1- Introdução O termo "recursos naturais" tem significados diferentes para diferentes pessoas. Owen (1980) define recursos naturais como qualquer porção do nosso ambiente natural - solo, água, floresta, pastagem, animais silvestres, minerais, etc. - que o homem possa utilizar para promoção de seu bem estar. Dasmann (1964) conceitua recurso natural com qualquer material básico ou primário que tenha utilidade e valor para o Homem. Esses dois conceitos, de acordo com Fuertes (1964), alinham-se com o conceito estático de recursos naturais. Para Fuertes, os recursos naturais podem aumentar ou contrair de acordo com os esforços do homem (conceito dinâmico). As qualidades e as características da natureza praticamente não têm limites. Algumas são importantes em certo estágio do desenvolvimento humano, outras são desconhecidas ou mesmos inúteis para o homem. O papel da tecnologia em revelar/tornar qualidades da natureza úteis às necessidades do homem é bem conhecido. O caso do petróleo ilustra muito bem isto. "Ouro negro", no sentido econômico, surgiu somente quando o Homem desenvolveu tecnologia para extrair e processar o petróleo. O urânio, que já foi uma curiosidade química, tornou-se um elemento de valor estratégico da noite para o dia, quando os Estados Unidos explodiram a sua primeira bomba atômica. No entanto, como as descobertas até agora estiveram sempre além das expectativas, hoje existe urânio em abundância no mercado. Evidentemente, nem a tecnologia nem a extração do valor da natureza se fazem de graça; muitas coisas são tecnologicamente possíveis, porém não são viáveis do ponto de vista econômico. Por exemplo, a água salgada pode ser transformada em água doce para "fazer florescerem as áreas áridas", mas até agora os custos são proibitivos, exceto em casos muito especiais. Outro exemplo vem do xisto betuminoso. Existe tecnologia para obter do xisto todos os derivados do petróleo. No entanto, o custo de produção de derivados de petróleo dessa fonte não é, na atualidade, uma proposição viável, em termos econômicos. Mas, no futuro, poderá tornar-se viável se por ventura ocorrerem avanços tecnológicos reduzindo custos de produção ou se houver escassez de petróleo no mercado originada pela redução das reservas petrolíferas ou por conflitos (guerras) diminuindo ou interrompendo o fluxo de petróleo das regiões produtoras para as regiões consumidoras. As metas que o homem busca atingir com o uso dos recursos naturais são igualmente importantes e às vezes são ignoradas ou consideradas de forma inapropriada. Uma meta possível seria a exploração de florestas para a obtenção do máximo de lucro possível proveniente da explotação de madeira. Neste caso, por tratar-se de meta bem definida e quantificável, a economia possui ferramentas apropriadas para realizar este tipo de análise. No entanto, em muitos casos o valor do recurso somente pode ser medido com muita dificuldade ou mesmo não pode ser expresso em termos monetários. Um exemplo prático nos dias de hoje é o uso de terras com vegetação nativa como reservas ecológicas, para conservação da biodiversidade e/ou fins recreativos, ou o uso de 1 Professor Laércio L. Leite, disciplina: Ciências do Ambiente grandes quantidades de minérios, trabalho e capital para finalidades de defesa nacional. Pode-se afirmar que em cada um desses casos, o objetivo é maximizar alguma coisa, seja uma satisfação pessoal que não pode ser medida facilmente em termos monetários, seja a segurança nacional, seja outra variável qualquer. O problema de metas toma-se especialmente difícil quando se considera o uso de recursos em diferentes países e culturas. O que parece irracional para nós pode ser a coisa mais lógica do mundo para uma pessoa de outra região da terra. Em alguns países africanos, do gafanhoto faz-se um prato muito apreciado. Na culinária da Coréia do Sul a cachorro é tão popular quanto a carne bovina aqui no Brasil. 2- Classificações de recursos naturais Por se tratar de classificações utilitárias e não natural (classificação zoológica ou vegetal), não existe uma classificação de recursos naturais de caráter genérico e de aceitação universal. Várias classificações já foram propostas. Os recursos naturais já foram classificados segundo a sua natureza em orgânicos e inorgânicos; de acordo com a sua utilidade em recursos economicamente explotáveis, pouco lucrativos e economicamente insignificantes; de acordo com a sua mobilidade em fixos e fluentes. Vamos analisar a classificação de Criacy-Wantrup, que é uma das mais populares e atende o escopo da disciplina Conservação de Recursos Naturais. Ciriacy-Wantrup (1960) classificaram os recursos naturais em duas classes (recursos não renováveis e recursos renováveis) e subdividiram essas classes em função da suscetibilidade dos recursos à deterioração provocada por fenômenos naturais ou pelo homem (ver quadro abaixo). Quadro 1: Classificação de recursos naturais proposta por Ciriacy-Wantup 1 - Recursos não-renováveis Quantidade total (reserva) não aumenta sensivelmente com o tempo 1.1 Aqueles cuja reserva não é afetada significativamente pela degradação natural. Ex.: Minerais metálicos in situ; carvão mineral. 1.2 Aqueles cuja reserva total pode ser afetada significativamente pela deterioração natural. Ex.: Gás natural (vazamento); metais sujeitos a oxidação. 2 - Recursos renováveis São aqueles que podem aumentar ou diminuir continua ou ininterruptamente. 2.1 Recursos que não são afetados significativamente pela ação do Homem. Ex.: Radiação solar, ventos, marés etc., 2.2 Recursos que são afetados significativamente pela ação antrópica. 2.2.1 A reversibilidade de uma diminuição não é caracterizada por uma faixa crítica. Ex.: Chuvas etc. 2.2.2 A reversibilidade de uma diminuição é caracterizada por uma faixa crítica. Ex.: Fauna silvestre; flora; florestas; águas subterrâneas. 3 – Gestão/Conservação de Recursos Naturais A classificação de Ciriacy-Wantrup, que categoriza os recursos naturais em duas classes (não renováveis e renováveis) e em cinco subclasses em função da suscetibilidade à deterioração natural ou provocada pelo homem, é bastante útil para fins de definição de estratégias de gestão de recursos naturais. Recursos genuinamente renováveis - animais e plantas - que possuem capacidade de procriarem requerem estratégias de manejo distintas daquelas demandadas por recursos não renováveis. De acordo com Criacy-Wantrup, a classe de recursos não renováveis inclui basicamente materiais inertes cujas taxas de formação são consideravelmente menores do que às taxas de utilização. O conceito de recurso não renovável aplica-se melhor aos minerais e depósitos petrolíferos. No caso do petróleo, estimam-se que ele está sendo consumido a uma taxa de pelo menos 1.000.000 vezes superior à taxa de concentração (formação), o que pressupõe a exaustão desse recurso no futuro. As implicações deste fato, em termos econômicos e sociais, têm sido objeto de preocupação em todo o mundo, principalmente nos países industrializados, cujas economias se assentam no consumo de petróleo. A partir de 1973 (1 a crise do Petróleo), que marcou o início da subida dos preços dos derivados de petróleo nos mercados internacionais, vários simpósios e tratados foram realizados, visando analisar a problemática envolvida referente à nossa dependência desse recurso e definir estratégias e alternativas para contornar essa situação insatisfatória. Estudando as conclusões e recomendações contidas nos documentos sobre esta matéria,conclui-se que a solução para esta questão envolve estratégias de ajustamentos de ordem técnica, econômica ou social. Não dispomos de tecnologias para manipular o processo natural de formação do recurso petróleo, com os conhecimentos que dispomos hoje. Com relação aos renováveis, que englobam os organismos vivos e outros fortemente associados aos seres vivos e afetados pelos seres vivos (água, e solo), as taxas de consumo e de formação podem ser compatibilizadas. As limitações para utilização de um dado recurso renovável não são limitadas por quantidades fixas, como no caso dos não renováveis, mas sim pela velocidade de formação do recurso em questão. Os processos e às vezes as taxas de formação e os locais de concentração dos recursos renováveis podem ser manipulados pelo homem. A conservação dos recursos renováveis envolve o estabelecimento de um balanço entre os sistemas naturais (taxa de formação) e a demanda (taxa de consumo), a fim de se atingir uma estabilidade ou produção sustentada. O estabelecimento de políticas e estratégias para utilização racional dos recursos naturais tem que levar em consideração as características básicas "regeneração" e "interdependência". Os recursos renováveis são capazes de autoreproduzirem, o mesmo não acontece com os recursos não renováveis. Por exemplo, se em um dado ecossistema uma determinada espécie esteja ameaçada de extinção devido à caça excessiva, a sua população pode ser aumentada se a caça indiscriminada for evitada. Com relação à interdependência, sabe-se que os recursos renováveis (flora, fauna, água, solo e ar) estão intrinsecamente relacionados. Isto significa que o manejo de um deles pode afetar os outros em nível de processos naturais de formação. Ao desmatar uma floresta não se afeta apenas o componente fitomassa (madeira), o balanço hídrico, as águas superficiais e subterrâneas são também afetadas. Maiores quantidades de radiação e chuvas chegarão ao solo interferindo sobre os processos erosivos e de formação de solos. A qualidade das águas nos rios e reservatórios é alterada e, consequentemente, os animais aquáticos podem ser afetados. Com a remoção da vegetação, alteram-se os hábitats, a disponibilidade de alimentos, de abrigo, de áreas de reprodução e, tudo isso, afeta a fauna terrestre. Com os recursos não renováveis não se observa o mesmo fenômeno de inter-relacionamento. A extração de carvão mineral de uma jazida não interfere sobre a quantidade de outros minérios por ventura existentes na mesma região. Evidentemente, cada categoria de recursos requer técnicas de gestão específicas. Para os recursos não renováveis um bom manejo consiste basicamente na eliminação de desperdícios e no aumento da eficiência. Dessa forma, é possível dilatar o tempo de exploração de um recurso não renovável, utilizando-o apenas nos processos onde ele é indispensável e insubstituível. No entanto, uma vez utilizado, o recurso eventualmente desaparece (ou se exaure). No caso dos recursos renováveis, manejo racional envolve o estabelecimento de práticas, as quais deverão manter as produções sustentáveis. Com manejo florestal adequado, árvores podem ser derrubadas anualmente e indefinidamente. Da mesma forma, com manejo animal adequado, animais podem ser abatidos anualmente sem riscos de levar espécies à extinção. No passado estas duas categorias de recursos - renováveis e não renováveis - eram frequentemente confundidas. Acreditava-se, por exemplo, que a fauna silvestre desapareceria fatalmente. Conservação significava isolamento. Assim os representantes da fauna eram colocados em refúgios supostamente invioláveis. Hoje sabemos que a melhor maneira de manter uma boa parte da fauna silvestre é manejando-a (usando-a) racionalmente. Os recursos naturais e o homem estão intimamente relacionados. Uma proposta de conservação que procura enfatizar apenas um dos recursos, ignorando os demais, levará a dificuldades, porque o ambiente físico, os recursos bióticos (organismos vivos) e o homem formam um todo. 4 – Referências citadas no texto CIRIACY-WANTRUP, S. V. Significado y Classificácion de los Recursos. In: Conservácion de los Recursos - Economia y Politica. Flores, Edmundo (trad.). Fondo de Cultura Econômica. México, pp. 40-52. 1960. DASMANN, R. F. The Nature ofNatura1 Resources. In: Environmenta1 Conservation, 53 Ed. John-Wiley, New York, pp 11-33. 1964. FUERTES, C. H. Geografia dos Recursos Naturais. Boletim Geográfico. Ano: XXXIII, número 181, pp. 417-428.1964. OWEN, O. S. Natural Resources Classification. In Natural Resources Conservation – An Ecological Approach, 33 Ed. MacMillan, New York, pp. 15-19. 1980.
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