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2. Normas Gerais do Direito Brasileiro. Interpretação da norma jurídica. Direito subjetivo. Direito protestativo. Faculdade jurídica. Direitos imprescritíveis. Lesão de direito. Relação jurídica e situações jurídicas. Situações subjetivas existenciais e situações subjetivas patrimoniais – 
As normas gerais do direito brasileiro têm previsão no Decreto Lei n° 4657/42 alterada pela lei (antiga Lei de Introdução ao Código civil). 
A Lei de Introdução ao Código ao Civil Brasileiro ou “Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro” é o complexo de disposições preliminares que antecedem ao Código Civil, formando um conjunto de normas que regem a aplicação, a interpretação, a vigência, a eficácia e as dimensões espaços-temporais de toda a legislação brasileira. O LINDB é uma Lex legum (norma sobre norma) ou um jus supra jura (Direito sobre Direito), ou seja, um superdireito, responsável pela coordenação de todo o ordenamento jurídico brasileiro.
Ensina Cristiano Chaves:
“As principais funções da LINDB são: a) determinar o início da obrigatoriedade das leis (art.Iº); b) regular a vigência e eficácia das normas jurídicas (arts.1º e 2º); c) impor a eficácia geral e abstrata da obrigatoriedade da lei, inadmitindo a ignorância da lei vigente (art. 3º); d) traçar os mecanismos de integração da norma legal, para a hipótese de lacuna na norma (art. 4º); e) delimitar os critérios de hermenêutica, de interpretação da lei (art. 5º); f) regulamentar o direito intertemporal (art. 6º); g) regulamentar o direito internacional privado no Brasil (arts. 7º a 17), abarcando normas relacionadas à pessoa e à família (arts. 7º e 11), aos bens (art. 8º), às obrigações (art. 9º), à sucessão (art. 10), à competência da autoridade judiciária brasileira (art. 12), à prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro (art. 13), à prova da legislação de outros países (art. 14), à execução da sentença proferida por juiz estrangeiro (art. 15), à proibição do retorno (art. 16), aos limites da aplicação da lei e atos judiciais de outro país no Brasil (art. 17) e, finalmente, aos atos civis praticados por autoridades consulares brasileiras no estrangeiro (arts. 18 e 19). Trata-se, nessa linha de entendimento, de lei geral que serve para orientar, servir como norte, à edição e efetiva aplicação da norma jurídica em nosso país”. Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald. Direito Civil – Teoria Geral, 7ª Edição.. Rio de Janeiro: Ed.Lúmen Júris, 2008. p. 48.
Interpretação do Direito (Exegese Jurídica)
A Interpretação das Normas é tratada pela “Hermenêutica Jurídica”, teoria científica que tem por objeto o estudo e a sistematização dos processos aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito. “A Hermenêutica abrange a interpretação e a integração e, quiçá, a própria aplicação, que é a finalidade última de toda interpretação e integração”.
A necessidade de interpretação surge a todo o momento no mundo jurídico, pois, muitas vezes, o texto legal é ambíguo e não fixa o verdadeiro significado que o legislador quis estatuir.
Ensina Savigny (Savigny, Apud, Washington de B. Monteiro, op. Cit. p. 35) que a interpretação é a reconstituição do pensamento contido na Lei. Interpretar a Lei será, pois, reconstruir a “mens legis”, seja para entender corretamente seu sentido, seja para suprir-lhes as lacunas.
(art. 5º da LINDB - LICC - conteúdo: dos critérios de hermenêutica jurídica)
“Art. 5º - Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”.
a) Fins sociais e Bem Comum são expressões metafísicas e de difícil compreensão. Todavia, acreditamos que o legislador, ao usar a expressão fins sociais, estava se referindo às resultantes mestras do ordenamento político, visando o bem-estar, a prosperidade dos indivíduos e da sociedade, bem como a atualização do entendimento da lei, dando-lhe uma interpretação que atenda ao momento histórico da sociedade.
Quanto ao bem comum, sabemos que é o conjunto de condições concretas, que permitem a todos os homens um nível de vida a altura da dignidade de pessoa humana. É o bem comum que impele os homens para o ideal de justiça, aumentando-lhe a felicidade e contribuindo para o seu aprimoramento.
- Métodos de Interpretação: 
A) Método da Escola de Exegese ou Método Tradicional - considera a norma legislativa como dogma devendo o intérprete limitar-se a pesquisar a “vontade do legislador” (Code Napoléon).
B) Método Histórico Evolutivo ou da Escola Atualizada do Direito - sua grande característica consiste em dar vida aos códigos, levando em conta às tradições, o sistema vigente como um todo, os seus princípios e as exigências do momento de sua aplicação (interação entre o Direito Positivo e a Realidade Social). A Jurisprudência é a grande ferramenta deste método.
C) Método da Escola do Direito Livre - sacrifica a certeza e a segurança do Direito, determinadas pela codificação, em benefício da Justiça. A tarefa do juiz é a de descobrir o direito na realidade social e não nos códigos. Entre nós, seguindo esse método, encontramos os juristas ligados a Escola do Direito Alternativo.
OBS: 
1º Método (Tradicional) - sacrifica a Justiça em benefício da Segurança, mantendo vivo um direito morto;
2º Método (Histórico Evolutivo) - não impede as transformações jurídicas, nem coloca o intérprete contra os códigos. É mais compatível com o equilíbrio da Segurança com a Justiça;
3º Método (Direito Livre) - sacrifica a segurança em benefício da justiça.
D) Fases, Momentos ou Processos da Interpretação:
i) Interpretação Gramatical ou Literal (Filológica) - parte da norma, baseando o significado das palavras empregadas pelo legislador, não isoladamente, mas em conexão lógica e sintática com as demais. Ela dá prevalência ao sentido técnico das mesmas, sobre o usual. É a que estabelece o sentido objetivo da lei com base em sua letra, ou seja, realiza a interpretação por meio da literalidade do dispositivo normativo em face das regras gramaticais vigentes;
ii) Interpretação Lógica ou Racional - é a que se baseia na investigação do “ratio legis” (razão, fato gerador do Direito), buscando o sentido e o alcance da lei, aplicando ao dispositivo um conjunto de regras tradicionais e precisas, tomadas de empréstimo da Lógica Formal (Silogística), ou seja, é a investigação do fim ou da razão da lei para fixar-lhe a seu real sentido.
No processo racional, encontramos:
a) “mens legislatori” (a mensagem ou o espírito do legislador); a “mens legis” (o espírito da lei); a “ occasio legis”(tempo em que foi elaborada a lei); o argumento a “contrario sensu” (o significado da norma por exclusão); o argumento a “fortiori”(quem pode mais pode menos).
b) Interpretação Sistemática ou Orgânica - é a que considera o caráter estrutural do Direito, não interpretando isoladamente as normas, mas sim, adaptando o sentido da norma ou espírito do sistema.
c) Interpretação Histórica - é a interpretação fundada em documentos históricos do Direito (projetos de lei, debates do Legislativo, pareceres, emendas etc) - (não tem força vinculativa para fixar o sentido real da “mens legis”);
d) Interpretação Sociológica ou Teleológica - É a investigação dos motivos provocadores da lei e de seus efeitos sociais, e conferir se ele atende às necessidades econômicas, políticas e sociais da exegese (vê o sistema jurídico como um subsistema do sistema social, e não como um sistema autônomo).
QC
Na interpretação lógica (ou racional) procura-se apurar o sentido, o alcance, a finalidade da norma, por meio de raciocínios lógicos. Assim, extrai-se da lei uma regra ou um princípio que essa lei não definiu ou enunciou expressamente, mas que ficou implícito. Podemos assim exemplificar: a) uma lei que reconhece um direito também deve proporcionar os meios para atingir esse direito: b) a lei que permite o mais também permite o menos (ex.: se há a permissão para se vender um bem imóvel em uma determinada situação, conclui-se que um bem móvel também pode ser vendido nessamesma situação); c) a lei que proíbe o menos também proíbe o mais (ex.: se é proibido ao depositário usar a coisa depositava, conclui-se que também é proibido consumi-la). Quando isso é feito comparativamente dentro de um mesmo sistema jurídico (e não considerando a norma de forma isolada), chamamos de interpretação lógico-sistemática.
- Resultado Final da Interpretação:
a) Interpretação Declarativa - é aquela em que a fórmula legal corresponde à “ratio legis”, ou seja, o resultado final da exegese do texto corresponde ao sentido inicialmente evidente (“verba legis” = “mens legis”);
b) Interpretação Corretiva - é a que corrige o sentido inicial da norma, ou seja, é aquela que corrige, amplia, restringe ou modifica o sentido da norma estabelecida inicialmente. Ela pode ser: Interpretação Extensiva, empregada quando o legislador tenha dito menos do que queria “minus dixit quam voluit” – (disse menos do que intencionara). Ela amplia a incompleta fórmula legislativa (“verba legis” < “mens legis”); Interpretação Restritiva, empregada quando o legislador tenha dito mais do que queria “plus dixti quam voluit” (disse mais do que pretendia), ou seja, é aquela que restringe a fórmula ampla demais da lei (“verba legis” > “mens legis”)
QC – TRF5
Na realidade o magistrado ao aplicar o benefício da impenhorabilidade do bem de família, não só à entidade familiar (texto legal), mas também às pessoas solteiras, separadas e viúvas, está dando um sentido mais abrangente à lei. Portanto estaria aplicando a interpretação extensiva. 
Da mesma forma o magistrado, ao dar aquela interpretação, está adaptando a finalidade da norma às novas exigências sociais. A LINDB retrata bem essa situação em seu art. 5°: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”. Por esse dispositivo o Juiz buscar o real sentido da lei e não se ater a um texto frio e literal da lei. Deve ele aplicar o que for mais justo, o que atende melhor ao bem comum. Trata-se, portanto, da interpretação teleológica (também chamada de sociológica ou finalística), que busca o fim (telos) da norma. Observem o entendimento do Superior Tribunal de Justiça a respeito: “A norma jurídica deve ser interpretada teleologicamente, buscando sempre realizar solução de interesse social. Se assim não for, a atividade judiciária será ociosa, inútil, mera homenagem à traição”.
- Interpretação em Função da Fonte:
a) Interpretação Autêntica - é a estabelecida pelo próprio legislador através de uma nova norma, tendo por objeto a norma anterior obscura (provoca a retroatividade da lei que foi interpretada);
b) Interpretação Jurisprudencial / Judicial (Direito vivo) - é a estabelecida pelas decisões judiciais, pelas sentenças e acórdãos dos tribunais; 
c) Interpretação Doutrinal - é a estabelecida pelos juristas, em suas obras, com o espírito científico;
d) Interpretação Administrativa - é a estabelecida pelos órgãos da Administração Pública através de despachos, decisões, circulares, portarias etc. Desta interpretação nasce a chamada Jurisprudência Administrativa, de pouco valor para o Poder Judiciário, mas extremamente importante para o Administrador Público. 
Lacuna em Direito:
(art.4º da LINDB - LICC - conteúdo: dos mecanismos de integração das normas, quando houver lacunas). 
“Art. 4º - Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de Direito”.
- Lacuna em Direito: a lacuna em Direito ocorre quando o Direito ou a lei não oferece solução jurídica para o caso “sub judice”; 
- Lacuna da Lei: se caracteriza quando a lei é completamente omissa em relação ao caso, ou ainda, quando a lei, anormalmente, apresenta duas disposições contraditórias, uma anulando a outra (Lacuna Formal);
- Lacuna do Direito: se caracteriza quando o Direito é omisso em relação ao caso (Lacuna Material).
- Métodos de Integração: a integração é um processo de preenchimento de lacunas existentes no Direito ou na lei, por elementos que a própria legislação oferece ou por princípios jurídicos, mediante operação lógica e juízo de valor:
a) Método de Auto-Integração: opera-se pelo aproveitamento de elementos do próprio ordenamento, ou seja, pelos próprios princípios do Direito (nega a existência de lacuna e sustenta ser completo o sistema jurídico);
b) Método de Hetero-Integração: opera-se com a aplicação de elementos estranhos ao sistema jurídico (equidade, natureza das coisas, justiça etc).
Portanto, no silêncio da lei, deve o julgador, a ordem mencionada no art. 4º da LINDB, lançar mão do processo de auto-integração ou de expansão do ordenamento jurídico, através da analogia, dos costumes e dos princípios gerais de Direito, para não deixar sem solução o caso por ele considerado.
DIREITO SUBJETIVO
Direito objetivo: norma agendi. Para Washington de Barros Monteiro: “o direito objetivo é o conjunto das regras jurídicas; 
direito subjetivo é o meio de satisfazer interesses humanos (hominum causa omne jus constitutumsit)”. O segundo deriva do primeiro – o direito subjetivo deriva do direito objetivo.
Direito subjetivo: poder ou uma faculdade advinda de uma regra interposta pelo Estado.
Direito subjetivo: facultas agendi. Apresenta-se como uma faculdade que o titular deste direito tem de usá-lo ou não na proteção do bem jurídico garantido pela norma agendi (direito objetivo), podendo até mesmo dispô-lo, pois este tipo de direito tem como prerrogativa sua a potencialidade de uso ou não pelo seu titular.
A Relação Jurídica, seus Elementos e sua Ligação com o Direito Subjetivo:
A relação jurídica corresponde às relações intersubjetivas que acontecem sempre entre dois ou mais sujeitos. Ela existe, pois o homem, por ser um animal social, necessita estar sempre se relacionando com o próximo para a garantia de sua própria sobrevivência. Neste contexto, o direito exerce um papel fundamental, pois é ele quem vai regular estas relações jurídicas, atuando, dessa forma, como um apaziguador social e como uma forma de controle deste mesmo meio.
Relação jurídica é o meio pelo qual o direito subjetivo se realiza. 
Relação processual: juiz partes # Relação pública: Estado é parte # Relação privada: entre particulares.
- Relação jurídica: é o vínculo jurídico entre pessoas, em virtude do qual uma das partes terá um direito subjetivo e a outra um dever jurídico em relação a determinado objeto.
- Elementos essenciais para a sua formação, são eles: os sujeitos, o objeto e o vínculo jurídico 
- Sujeitos:
Ativo: direito subjetivo: correspondem a aqueles que possuem direitos oriundos da relação.
Passivo: dever jurídico: são aqueles sobre os quais recai um dever decorrente da obrigação assumida pela relação.
- Objeto: mediato: finalidade 
 Imediato: coisa
-Vínculo Jurídico: liame jurídico
Portanto, inseparáveis são os conceitos de direito subjetivo, relação jurídica, sujeitos e objeto.
Classificação de direitos subjetivos:
1 – Espécies: 
a) Direito subjetivo propriamente dito: direito a uma prestação. Neste caso, o titular depende de uma conduta do sujeito passivo que possui um dever a uma prestação de dar, fazer ou não fazer alguma coisa.
b) Direito Potestativo: aquele exercido pelo titular de per si, não é necessária a aceitação da outra parte.
O Dever Jurídico Subjetivo: dever e obrigação – corresponde ao sentido oposto de direito subjetivo. É a situação onde a pessoa é obrigada a dar, fazer ou não fazer algo em benefício de outrem por determinação do direito objetivo.
Espécies de dever jurídico:
a) Contratual, Extracontratual ou legal;
b) Positivo (exige uma ação) ou Negativo (exige uma omissão ou abstenção da conduta).
c) Permanente (não se extingue com o cumprimento) ou Transitório (se extingue com o seu cumprimento).
O direito objetivo garante o exercício do direito subjetivo, que gera o dever jurídico.
RELAÇÃO JURÍDICA E SITUAÇÃO JURÍDICA
A "relação jurídica" destina-se a fornecer-nos uma fórmula para melhor compreender o modode subjetivação das normas jurídicas, isto é, o modo como atua a regulamentação da lei sobre a vida social. A vida social é naturalmente uma sucessão de fatos; a relação jurídica não pode, por isso, considerar-se estaticamente, mas na sua dinâmica; a vida social é movimento e mutação e este dinamismo reflete-se no nascimento, modificação e extinção das relações jurídicas.
O conteúdo da relação jurídica é constituído pelo direito subjetivo, que a norma assegura, e pelo correspondente dever que impõe.
Como elementos da relação jurídica são de indicar:
Os Sujeitos: O direito subjetivo e o dever jurídico são um poder e um dever de certas pessoas, que estão entre si em relação: sujeito ativo, o titular do direito; sujeito passivo, o titular do dever.
Objeto: Objeto da relação jurídica é o próprio objeto do direito subjetivo, são as coisas ou utilidades sobre que incide o interesse legítimo do sujeito ativo a que se refere o dever do sujeito passivo.
Fato Jurídico: A relação jurídica é como que o fenômeno jurídico mais simples na complexidade da vida jurídica; esta será composta de relações jurídicas, duma multiplicidade inesgotável de relações jurídicas, que nascem, se transformam e se extinguem. Os fatos jurídicos são os fatos que dão origem à constituição duma relação jurídica (fatos constitutivos), à modificação duma relação jurídica (fatos modificativos) ou à extinção de uma relação jurídica (fatos extintivos).
A Garantia: O nome dado a este elemento da relação jurídica revela o propósito primacial de análise das relações de direito privado. O direito caracteriza-se pela coercibilidade que acompanha os seus preceitos. À infração dos deveres que as normas jurídicas impõem, segue-se um procedimento sancionatório, a aplicação de sanções jurídicas. A sanção em matéria de direito privado não atua geralmente por iniciativa direta do Estado, mas a solicitação dos titulares dos correspondentes direitos subjetivos. E toma, sobretudo, a forma de uma reparação, da garantia de obter coativamente à realização do interesse reconhecido por lei, ou indenização equivalente.
SITUAÇÃO JURÍDICA
A finalidade da jurisdição é disciplinar uma determinada situação jurídica, e o que justifica a jurisdição é essa determinada situação jurídica e não uma relação jurídica. 
A noção moderna de situação jurídica é de conceito genérico, capaz de compreender toda e qualquer situação da vida social regulada pelo direito, o que nem sempre configura relação jurídica em sentido estrito, mas algo que se põe no mundo dos fatos, isto é, na ordem de concreção e no plano da eficácia.
A situação jurídica divide-se em duas modalidades:
1) Situação jurídica uniposicional, inerentes aos direitos absolutos, como os reais;
2) Situação jurídica relacional, exclusivas dos direitos relativos, como os de créditos.
A moderna situação jurídica ou situação de fato regulada pelo direito compreende toda e qualquer situação de fato na qual incida norma de direito, adequando o homem, enquanto situados diante dos fatos, de atos humanos exteriores e de coisas.
A situação jurídica é gênero, do qual a situação subjetiva relacional é espécie, cuja característica principal é a intersubjetividade, onde existe relação jurídica direta entre sujeito ativo e sujeito passivo, e apenas relação jurídica indireta entre o sujeito ativo e o objeto.
A lide, que é uma projeção da relação jurídica, revela um conflito privado de interesses, resultando sempre de uma relação jurídica controvertida, o que faz com que quando o juiz decide uma lide, decide também, uma relação jurídica que lhe é subjacente. Toda relação jurídica produz lide. Porém, a situação jurídica, por ser mais ampla e abrangente, nem sempre produz uma lide.
Assim, a situação jurídica é alternativa apresentada para superar o instituto básico da relação jurídica, referência do direito material, por definir esta o fenômeno da vinculação jurídica, como um todo, de forma incompleta.
SITUAÇÕES SUBJETIVAS EXISTENCIAIS E SITUAÇÕES SUBJETIVAS PATRIMONIAIS
Tratam-se das situações jurídicas da ordem do ter e da ordem do ser, em uma perspectiva voltada para o princípio fundante de nossa ordem jurídica: a dignidade da pessoa humana.
Desde os séculos XVIII e XIX o direito subjetivo é um conceito central e tem sido o pilar de sustentação de grande parte dos institutos jurídicos.
Com o direito subjetivo no centro, a lógica jurídica era entendia com base na presença reduzida de freios e na maior amplidão das liberdades individuais e daí também numa maior possibilidade de consecução da felicidade para os seres humanos. A autodeterminação, neste tipo de estruturação, não encontrava maiores entraves legais.
Os abusos e distorções se fizerem crescentes e flagrantes, exigindo do direito uma solução. Daí o surgimento da noção de situação jurídica como significativa de uma ordem inovadora que atribui direitos, mas também exige contrapartidas dos seus titulares.
A passagem do Estado liberal para o Estado social abriu espaço para a possibilidade de se ponderar os direitos privados e as necessidades públicas, considerando a massa de cidadãos excluídos pelos processos históricos e econômicos.
Vejamos o que aduz Marcelo Benacchio sobre a noção contemporânea de direito subjetivo:
(...) para as compreensões contemporâneas, o direito subjetivo fornece ao seu titular uma esfera de proteção jurídica contra atos dos não-titulares, havendo, nesse âmbito, dois lados, um interno, voltado contra aquele a quem o direito subjetivo é exercido, e outro externo, referentemente à garantia da própria existência do direito subjetivo em si. (BENACCHIO, Marcelo. Direito subjetivo - situação jurídica – relação jurídica. In: Lotufo, Renan; Nanni, Giovanni Ettore (Coord.). Teoria geral do direito civil. São Paulo: Atlas, 2008, p. 195)
Vejamos também a formulação de Orlando Gomes, para quem direito subjetivo é “um interesse protegido pelo ordenamento jurídico mediante um poder atribuído à vontade individual”. (ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil. Teoria Geral. Relações e Situações Jurídicas. 2ª edição. Vol. 3. Ed. Saraiva. 2010.)
Neste mesmo sentido é o entendimento de Vicente Rao. Senão vejamos:
O direito subjetivo é o poder de ação determinado pela vontade que, manifestando-se através das relações entre as pessoas, recai sobre os atos ou bens materiais ou imateriais e é disciplinado e protegido pela ordem jurídica a fim de assegurar a todos e a cada qual o livre exercício de suas aptidões naturais, em benefício próprio, ou outrem, ou comunhão social. (Apud. BENACCHIO, 2008, p.192-193).
O direito subjetivo, concepção clássica que norteou grande parte dos institutos jurídicos, passa então por reformulações de modo que já não é mais possível vê-lo, hodiernamente, com o mesmo olhar de tempos passados.
Com efeito, a noção de situação jurídica vem com a missão de revisitar as construções jurídicas doutrinárias e os diplomas legais a fim de conferir novo entendimento acerca dos direitos reais e obrigacionais, assim como dar novo sentido aos conceitos e acepções que já não revelam um significado que corresponda à realidade e necessidades modernas.
As situações jurídicas podem ser de duas ordens distintas: da ordem do ser ou da ordem do ter. O critério para se aferir se uma determinada situação jurídica pertence a uma ou outra ordem é a patrimonialidade do objeto em questão. Se este objeto tiver caráter patrimonial, ou seja, se guardar relação direta com um valor pecuniário, esta situação será da ordem do ter.
Na prática é difícil separar estas duas categorias completamente. No dia a dia, muito comumente elas se confundem e se complementam. Mas é importante destacar que as situações jurídicas patrimoniais servem à realização das faculdades humanas e desenvolvimento das personalidades individuais.
Nas palavras da autora Rose Melo Vencelau Meireles: “Assim, deve-se entender por patrimonial a situação jurídica subjetiva que tenha equivalente pecuniário, ou seja, que possa ser expresso em dinheiro no momento de formação da relaçãojurídica”. (MEIRELES, Rose Melo Vencelau. Autonomia Privada e Dignidade Humana. Rio de Janeiro:ed. Renovar. 2009, p.33)
Ao contrário, se não for possível estabelecer diretamente um valor em dinheiro para este objeto, ele será não patrimonial, da ordem do ser.
Importante destacar que nem todas as situações não patrimoniais são existenciais, pois, nem todas dizem respeito a direitos da personalidade. Assim, existem as situações não patrimoniais lato sensu e stricto sensu. A situação não patrimonial lato sensu engloba as situações personalíssimas e as não aferíveis materialmente e a situação não patrimonial stricto sensu engloba só as personalíssimas ou existenciais.
Vejamos a elucidativa assertiva de Rose Melo Vencelau Meireles:
As situações existenciais pertencem à categoria do ser, na qual não existe dualidade entre sujeito e objeto, porque ambos representam o ser, e a titularidade é institucional, orgânica. A pessoa, portanto, é elemento interno e externo da relação jurídica, embora seja mais que isso, porque alcança patamar de valor. Com efeito, dizem-se existenciais as situações jurídicas pessoais ou personalíssimas no momento em que titularidade e realização coincidem com a existência mesma do valor. (apud MEIRELES, 2009, p.36)
Tanto as situações existenciais quanto as patrimoniais contribuem para o desenvolvimento da personalidade, uma vez que não há relação jurídica (mesmo as patrimoniais) que seja completamente dissociada dos interesses e da proteção da pessoa humana. 2
Os autores Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias sintetizam da seguinte maneira a questão: “Os bens, a propriedade e o patrimônio são instrumentos de uma vida digna”. (FARIAS & ROSENVALD, 2009, p.181)
Para se classificar uma situação como pertencente à ordem patrimonial ou não patrimonial é preciso inseri-la num contexto que considere a sociedade na qual estes critérios são estabelecidos. Neste sentido, vejamos as palavras de Rose Melo Vencelau Meireles:
(...) a caracterização da patrimonialidade da prestação independe da subjetiva apreciação das partes e deve-se ter em consideração o ambiente jurídico-social, além do momento histórico no qual a relação jurídica se realiza. Uma dada situação que se julgue não patrimonial em determinado momento histórico social pode tornar-se patrimonial em outro. (apud MEIRELES, 2009, p.29)
As situações jurídicas existenciais gozam de posição privilegiada em comparação às situações jurídicas patrimoniais. Isto não quer dizer uma importância pequena das questões relativas ao patrimônio, ao tráfego comercial, ao lucro e às riquezas em geral.
Significa, isto sim, que em caso de conflito entre as duas ordens, deve-se preconizar o ser humano com sua especial dignidade, valor fundante e estruturante de todo o nosso ordenamento jurídico.
Neste sentido, aduz o autor Gustavo Tepedino:
(...) há de se diferenciar, em primeiro lugar, as relações jurídicas patrimoniais das relações jurídicas existenciais, já que fundadas em lógicas díspares. Tal diversidade valorativa deve preceder, como premissa metodológica, à atividade interpretativa. A pessoa humana é o centro do ordenamento, impondo-se assim tratamento diferenciado entre os interesses patrimoniais e os existenciais. Em outras palavras, as situações patrimoniais devem ser funcionalizadas às existenciais. (TEPEDINO, Gustavo. Temas de Direito Civil. Tomo 3. Rio de Janeiro. ed. Renovar. 2009, p. 32)
O autor português José Oliveira Ascensão distingue as situações jurídicas em patrimoniais e pessoais3. Diz que as situações jurídicas pessoais são aquelas intransmissíveis (critério insuficiente), não patrimoniais (critério negativo: pessoais são as não patrimoniais), obrigacional (ou que não é real) e, por fim, estreitamente ligadas à personalidade. Já as patrimoniais seriam aquelas transmissíveis, que não são pessoais, suscetíveis de avaliação pecuniária e que se integram ao patrimônio. E conclui: “As situações jurídicas pessoais são aquelas em que há prevalente aspecto ético, e as patrimoniais aquelas cuja essência é compatível com a redução a um valor pecuniário” (ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito Civil. Teoria Geral. Relações e Situações Jurídicas. 2ª edição. Vol. 3. Ed. Saraiva. 2010, p.19).
Estas categorias não são estanques, confundindo-se muitas vezes nas relações jurídicas. Mesmo porque não há situação patrimonial que seja completamente dissociada dos interesses existenciais, sendo que a diferença se estabelece na forma mediata ou imediata que incidem.
Consoante a ideia kantiana de dignidade humana, “no reino dos fins tudo tem um preço ou uma dignidade.” Se é possível atribuir a uma coisa um preço, então ela é substituível. Ao contrário, quando não há equivalente para uma determinada coisa, então ela tem dignidade.

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