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Resumo de História Medieval - Jerome Baschet

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Resumo de História Medieval 
Jerome Baschet
- A fusão Romano-Germânica:
A crise econômico-militar que alastrou o Baixo Império romano impediu que este se mantivesse materialmente, e a queda do Império tornou-se iminente após as conhecidas popularmente como Invasões Bárbaras. Os “Bárbaros”, ou povos germânicos, eram caracterizados por um certo nomadismo, que os levava a migrar conforme as pressões externas fossem se aguçando. Não se sabe ao certo o motivo das migrações germânicas para o Ocidente Europeu, mas é possível afirmar que o resultado desses movimentos foi, com certeza, um ataque mesmo que não intencional em alguns casos, às estruturas e instituições pilares do Império Romano. Assim, Baschet demonstra que, somando-se às crises fiscais e militares que o Império passava, essas migrações fizeram com que as localidades, em detrimento do centro do Império, passassem a não enxergar mais sentido em manter a unidade política, econômica e militar que era a marca do Império Romano. A chamada “fusão romano-germânica” pelo autor, caracteriza-se pela gradual e lenta assimilação mútua de aspectos culturais, que marcou a queda do Império Romano mais do que a própria queda de Roma. É importante enxergar como um processo este acontecimento, já que os deslocamentos, as mensagens e os próprios acontecimentos repercutiam em uma velocidade muito menor. O resultado foi, portanto, uma cultura marcada por aspectos Romanos, como o próprio Direito e a Intelectualidade (Em Roma, respeitar as leis era um pré requisito para ser cidadão, e a característica letrada que possuía uma elite governante era um resultado da convivência urbana que permitia uma convivência e um maior contato com questões políticas), sem contar a Igreja Católica, instituição que talvez tenha ganho mais prestígio com a perda da autoridade política do Imperador e a passagem da mesma para os chefes locais (duques, condes e marqueses). A vinda dos germânicos, notáveis guerreiros e agricultores, para os antigos territórios romanos, levou os chefes locais que antes respondiam à autoridade central imperial a verem vantagens significativas em, vendo a crise pela qual passava o Império, integrar os povos germânicos ao seu controle regional, por meio de alianças entre os chefes locais, casamentos, acordos de paz, pagamentos de tributos (em parte da produção), entre outros recursos políticos. Com isso, um novo sistema vinha se formando, que conferia um poder maior aos governantes regionais, por meio de uma conciliação entre os interesses dos povos germânicos e dos ex-governantes romanos.
-O fim da Escavidão:
No Império Romano, a forma de trabalho que mais se destacava pela produtividade era o trabalho escravo. Era utilizado para a produção de azeite, vinho e cereais, principalmente, produtos de maior movimentação no mercado romano, especialmente utilizados para o chamado Grande Comércio, ou seja, além das fronteiras do Império. Com o colapso da autoridade central, esta instituição tendeu a perder importância, e aos poucos foi se dissolvendo em meios às novas práticas e relações de trabalho que vinham surgindo. Existem 4 hipóteses principais para o fim da escravidão e estas são: a econômica, da qual Marc Bloch é um dos maiores defensores, a religiosa, a militar e a marxista. A econômica aborda o fim da escravidão a partir de um escopo puramente financeiro, considerando que a partir de certo momento, a escravidão foi se tornando um fardo para os senhores de terras, e mais custosa, tendo em vista que era necessário comprar um escravo e ainda mantê-lo, fornecendo víveres e vestimentas básicas. A explicação militar, por sua vez, aborda a questão de um outro ponto de vista, mas que complementa o raciocínio anterior. Se levarmos em conta que o Império mantinha seus escravos a partir de suas conquistas territoriais (o que não é totalmente verídico), então teremos, a partir da crise militar que se alastra, e o fim das vitórias, um fim também na acumulação de escravos para o mercado interno, o que acarretaria em uma subida nos preços dos mesmos, levando à novas soluções para as relações de trabalho a partir dali. A explicação religiosa busca entender o fim da escravidão a partir de uma perspectiva eclesiástica, de modo que com a vitória do cristianismo no século II, a adesão à esta religião teria levado os escravos à frequentarem cada vez mais os locais de celebração dos ritos, as igrejas, o que os teria integrado à sociedade do período e partilhado os mesmos valores, assim se inserindo como um membro da comunidade e não mais como uma propriedade. Por fim, a explicação marxista busca nos registros de resistência de escravos, como ocorriam em casos de fuga, motins ou até mesmo de assassinato de senhores, compreender o fim dessa instituição a partir da criação de uma rede de solidariedade entre trabalhadores livres e não-livres, de modo a promover a indistinção destes cativos. Em outras palavras, os escravos se viam cada vez mais inseridos no meio social, e cada vez menos os outros os viam como escravos, o que fazia com que, ainda com a queda da autoridade central, fosse quase impossível controlar todas as fugas de escravos que ocorriam, levando, em certo momento, ao desgaste e à dissolução da instituição.
-A regionalização e ruralização da vida social:
O fim da autoridade Imperial levou, ao mesmo tempo e na mesma proporção, ao fortalecimento do poder local e à ruralização da vida social devido à interrupção de diversas rotas comerciais atingidas pelas migrações germânicas. Não havia garantia de segurança, como havia antes, para um andarilho poder financiar longas empreitadas de modo a buscar grandes retornos, o que levou o comércio a se restringir às áreas rurais e aos produtos básicos de sobrevivência. A regionalização pode ser explicada a partir da hipótese da fusão romano-germânica, que acabou coincidindo e levando à priorização da vida no campo, já que haveria recursos técnicos suficientes (mas não abundantes), para lá se viver. Os camponeses livres (Alódios) do antigo Império se viram cada vez mais em contato com a autoridade local e cada vez mais sujeitos ao seu controle. O mesmo ocorria com os escravos, que vinham cada vez mais se misturando à nova lógica social do regime senhorial, na qual a dependência mútua era característica. Dessa forma, pode-se dizer que com a ruralização e regionalização, em detrimento da urbanização e da centralização do antigo Império, novas relações passaram a se estabelecer, não mais centradas na vida comercial das cidades e no rendimento fiscal da capital a partir das exportações e do Grande Comércio, mas sim relacionadas à vida comunitária, que fazia com que cada localidade possuísse leis próprias estabelecidas pelo governante daquele lugar. A influência do direito romano está presente neste aspecto da vida social do Regime Senhorial, que prezava pela confiança acima de tudo, mas também pelo respeito às leis, como era o caso dos francos, e dos visigodos. Nesse novo sistema, um acordo era firmado entre o camponês o senhor, de modo que este garantia-lhe proteção em troca do pagamento de um tributo, pago em espécie. A monetarização da sociedade Imperial era altíssima devido ao convívio urbano e ao grande volume de comércio que se movimentava, enquanto aquela da sociedade de regime senhorial praticamente desaparece, e só irá retornar na Idade Média com maior intensidade durante o Renascimento Carolíngio, e depois, com o advento das cidades modernas a partir dos séculos X e XI.
-A Religião, os bispos e os monastérios:
Podemos classificar a Igreja Católica como talvez o eixo de todo esse período conhecido como Idade Média. Para a Alta Idade Média, mais especificamente, devemos ter em mente que a Igreja ainda lutava contra heresias, como era o caso do Arianismo entre os Visigodos, de modo a buscar se estabelecer como uma unidade doutrinária. Os bispos nicenos queriam à todo custo eliminar diferenças para que o controle estabelecido sobre os diversos setores sociais fosse cada vez maior. A assimilação do cristianismo pelos povosgermânicos foi, talvez, o fator chave para que estes povos fossem aceitos e não alvo de perseguição, já que sua cultura era rústica e politeísta, típica de povos “pagãos”. Os pagãos foram alvo de intensa perseguição, de modo que a Igreja buscava fazê-los compreender a justa fé, por meio de diversos recursos, como inclusive a substituição de ídolos ou de locais de adoração de deuses pagãos por ídolos cristãos ou santuários e até Igrejas onde se pudesse professar o cristianismo. Era uma demonstração de grandeza de uma fé em relação à outra, de superioridade. Nas cidades, ou no que havia restado delas, os bispos eram quem governavam, recolhiam o fisco, faziam as leis; enquanto isso, nos campos, os monastérios ganharam grande destaque como meio para o cristianismo, que possuía suas raízes na urbanidade, se inserir no campo, onde as práticas pagãs eram mais comuns. Assim, foi o papel incansável dos bispos e monges que permitiu ao cristianismo toda sua relevância cultural que teve durante a Idade Média. Os monastérios serviam, ainda, como locais de adoração e de transcrição dos textos sagrados, além de outros, de modo que se tornariam os principais centros intelectuais da Alta Idade Média, cujas discussões estariam muito ainda voltadas à um ideal romano de sabedoria das letras, algo que depois o Renascimento Carolíngio irá também resgatar com maior força. 
-O Renascimento Carolíngio:
Finalmente, o Renascimento Carolíngio pode ser classificado como a forma mais bem sucedida de tentativa de restabelecimento de um Império, baseado nas estruturas e instituições fundamentais do Império Romano. Apesar de Bizâncio ter sobrevivido, estava, no período carolíngio, sob as tormentas da crise iconoclasta e das invasões germânicas, muçulmanas e sérvias, além de outros povos, como os próprios mongóis. Portanto, nesse período é possível notar, para o Ocidente Medieval, a estruturação de um Império que teve suas raízes na derrubada do Rei Merovíngio Clóvis pelo prefeito do Palácio, Carlos Martel. Carlos Martel ganhou notável prestígio após seu desempenho militar contra os muçulmanos no norte da Península Ibérica, e deixara um legado de grande confiança para a dinastia carolíngia. A confiança era tanta que, sob Carlos Magno, foi possível notar uma integração tanto econômica como militar deste território, de modo que o Imperador passou a gozar de enorme prestígio. No ano 800, Carlos Magno foi coroado pelo bispo de Roma, gesto simbólico que demonstraria a importância dele para a Igreja Católica. A coroação de Carlos Magno possui um caráter de retorno à uma lógica imperial há muito tempo perdida, na qual a Igreja e o Estado caminhavam juntos em seus interesses. Ainda, este gesto demonstra também o não reconhecimento por parte do bispo de Roma da autoridade Imperial de Bizância, que se via cada vez mais enfraquecida, buscando nos carolíngios um apoio tanto político como militar, já que Roma sofria com os ataques dos Lombardos no norte da Península Itálica. Esse acordo fez com que até a morte de Carlos Magno, em 814, a unidade do Império Carolíngio se mantivesse, de modo que fora possível estimular empreendimentos como investimentos em educação, especialmente a gramática, além da própria construção do Palácio de Aix-la-Chapelle, que se inspirava muito no modelo da Basílica de São Vital, em Ravena, construída por Justiniano I no século VI. O modelo romano dos novos empreendimentos, fosse nas letras, fosse na arquitetura, só vem a corroborar a tese de que o Império Carolíngio buscava a todo momento uma restauração das estruturas materiais e intelectuais características dos tempos imperiais. Contudo, o próprio Jacques Le Goff nos diz que, por toda a Idade Média, o que ocorreram foram diversas tentativas de restauração de uma autoridade baseada no modelo romano, já que aqueles tempos áureos eram, ao menos para as elites governantes, um exemplo a ser copiado, de modo que a nostalgia de um grande império sempre perpassou entre os governantes medievais.

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