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Texto: Sociedade civil e participação no Brasil democrático (2010) (Leonardo Avritzer) � Até os anos 1980, o Brasil foi um país com baixa propensão participativa � Formas verticais de organização da sociabilidade política � Concentração do poder na propriedade da terra � Proliferação do clientelismo no interior do sistema político na maior parte do séc. XX � Porto Alegre (FRACAB): anticlientelismo e relativa autonomia frente ao Estado � Meados dos anos 1970: “sociedade civil autônoma e democrática” � Crescimento exponencial das associações civis, em especial das associações comunitárias � Reavaliação da ideia de direitos � Defesa da ideia da autonomia organizacional � Defesa de formas públicas de apresentação de demandas e de negociação com o Estado Redefinição da maneira de fazer política, com aumento significativo do número de associações comunitárias e de sua forma de relação com o Estado � Constituinte: formas híbridas de participação � Saúde � Assistência social � Meio ambiente � Criança e adolescente � Mais conselheiros do que vereadores no Brasil � Objetivo do artigo: abordar de maneira articulada o surgimento de uma sociedade civil democrática mais forte e mais ativa no Brasil, no final dos anos 1970, e a proliferação de formas de participação no País. � Texto dividido em duas seções: � 1ª) Principais especificidades da sociedade civil brasileira, apontando para seu caráter popular e voltado para a intervenção nas políticas públicas � 2ª) Funcionamento das instituições participativas no Brasil, em especial, os conselhos de políticas e os orçamentos participativos A participação da sociedade civil nas políticas públicas amplia a presença desta e melhora a qualidade da representação no País � Crescimento das formas de organização da sociedade civil no Brasil foi um dos elementos mais importantes da democratização do País � Principais tipos de associações que cresceram fortemente, nos anos 1980, foram as comunitárias e as profissionais � Maior presença do associativismo e das formas de organização da sociedade civil na cena política (processo constituinte – 1986-1987) � Constituição de 1988 abriu espaço, por meio de legislação específica, para práticas participativas nas áreas de políticas públicas, em particular na saúde, na assistência social, nas políticas urbanas e no meio ambiente � O próprio processo constituinte tornou-se a origem de um conjunto de instituições participativas que foram normatizadas nos anos 1990, como conselhos tutelares e de política ou as formas de participação em nível local � Começo dos anos 1990: proliferação de organizações não-governamentais (ONGs) � “ONGs incluem uma variedade ampla de grupos e instituições que são inteiramente ou largamente independentes do governo, e caracterizadas por serem mais humanitárias ou cooperativas do que por serem comerciais e objetivas” (definição do Banco Mundial) � Destaque desta conceituação: � NÃO constituir parte do governo, mesmo apresentando caráter cooperativo � Caso brasileiro: � Forte reivindicação de autonomia da sociedade civil por parte de atores sociais � Trajetória de luta contra o autoritarismo � Pauta de reivindicações bastante precisa, centrada na autonomia dos sujeitos � Participação ativa nas diversas áreas temáticas das políticas públicas � Entidades filiadas à ABONG: � Participação popular � Educação � Direitos humanos � Gênero � Outras associações da sociedade civil organizada: � Saúde � Questões urbanas � Assistência social � Questões da terra � Sociedade civil brasileira � Grande crescimento de associações civis locais, em especial nas grandes cidades � Grande crescimento de ONGs, em especial no Sudeste e no Nordeste � Características dessas associações são distintas, bem como de suas formas de participação nas políticas públicas � Associações civis são associações de base (como associações comunitárias e sindicatos) � ONGs tendem a ser associações de interesses mais gerais, com objetivo de formulação de políticas públicas em algumas áreas � Conselhos de políticas e orçamentos participativos instituições participativas que, de fato, influenciaram as políticas públicas no Brasil � Legislações federais que estabeleceram a participação em conselhos nos diferentes níveis administrativos: � LOS – Lei Orgânica da Saúde � LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social � Estatuto da Criança e do Adolescente � Estatuto da Cidade � Conselhos são instituições híbridas nas quais há participação de atores do Executivo e de atores da sociedade civil relacionados com a área temática na qual o conselho atua � Formato institucional a partir de legislação local � Princípio da paridade � Conselhos de Saúde e de Assistência Social � Tendência democratizadora � Levantamento de um conjunto de queixas e demandas sobre o funcionamento de postos de saúde � Organização mais eficiente das políticas públicas na área da assistência social � Única entre as instituições discutidas neste artigo que a criação não é decorrência direta da Constituição de 1988 � Orçamento participativo (OP) é uma forma de balancear a articulação entre representação e participação ampla da população, por meio da cessão da soberania por aqueles que a detêm enquanto resultado de um processo eleitoral � Principais experiências: � Porto Alegre � Belo Horizonte � São Paulo � Recife � Até 1997: cunho fundamentalmente partidário � Maior parte dos municípios era do PT � 53 experiências: � 62% PT � 72% campo da esquerda (PSB, PDT e PCdoB) � A partir de 1997: tendência à expansão do OP e à pluralização no universo partidário � 2000-2004: � 170 experiências � 47% PT � 57% campo da esquerda � Entre 2000 e 2004, há um crescimento do número de experiências no espectro político centrista, ou seja, partidos como PMDB e PSDB � Concentração regional nos estados de RS, SP e MG � Baixa presença nos estados das regiões N e NE � As experiências de OP têm se ampliado no Brasil, tanto no número quanto na influência política � Originalmente partindo de um repertório político limitado a partidos de esquerda, em especial o PT, essas experiências hoje atingem o espectro do centro e da esquerda e envolvem um número significativo de partidos políticos � Qual é o impacto dessas formas de participação no sistema político como um todo? � De fato, ocorreu, no Brasil pós-1988, a combinação entre representação e participação almejada pelo legislador constitucional? 1ª) Gestões participativas exitosas contribuem para a continuidade das experiências administrativas 2ª) Existem limites políticos claros às experiências de participação no Brasil hoje (regional) 3ª) Pluralização dos formatos participativos no Brasil hoje (conselhos, OP, audiências públicas...) � Governo Lula adotou orientação genericamente participativa desde o início de seu 1º mandato � Propensão a incrementar políticas participativas traduziu-se em diversos tipos de políticas: � Consultas com entidades da sociedade civil para a elaboração do Plano Plurianual (PPA) � Reforço dos conselhos de políticas nas áreas em que já existiam e criação de conselhos em áreas sem tradição de participação � Realização de um conjunto de conferências que ajudaram a estabelecer prioridades dos diferentes ministérios � LOS, LOAS, ECA e CONAMA formaram, até o começo do governo Lula, o cerne dos conselhos nacionais � Estes são os conselhos organizadores de políticas sociais que contam com a participação da sociedade civil organizada � Surgiram por meio da ação de movimento da sociedade civil durante a constituinte ou depoisdela � Implicaram a estruturação da participação nos três níveis da federação � Conselho Nacional se articula com políticas participativas estaduais e municipais � Em geral, controlam algum instrumento de financiamento de políticas públicas � Até 2006, foram realizadas 36 conferências nacionais, durante o governo Lula � 9 em 2003 � 8 em 2004 � 9 em 2005 � 8 em 2006 � Diversos papéis relevantes, como a criação de uma agenda da sociedade civil em áreas importantes de políticas públicas � As diferentes agendas da sociedade civil, no Brasil, até o governo Lula, eram agendas basicamente locais � As conferências nacionais iniciaram o projeto de criação de uma agenda nacional da sociedade civil, em áreas como meio ambiente, saúde e segurança pública � Elementos homogêneos: � Quase todas foram convocadas por iniciativa do Poder Executivo � Todas têm uma periodicidade que pode variar de anual para a cada quatro anos, mas sendo o mais comum a realização em biênios � Elementos de diferenciação: � Tradição de participação da sociedade civil em uma área específica � Preparação das conferências em unidades da federação � Caráter deliberativo ou consultivo � Existência e número de resoluções � Nas conferências realizadas por setores da sociedade civil com tradição de organização setorial, houve uma participação regionalizada e inclusiva dos 26 estados � Já as conferências de setores sem tradição participativa anterior não tiveram, em geral, fases estaduais � As conferências implicaram o relacionamento do governo federal com uma sociedade civil mais consolidada setorialmente � Associações com longa tradição em áreas importantes das políticas sociais consolidaram, nessas conferências, uma agenda nacional para os respectivos setores � A questão que se coloca hoje é como organizar e integrar essas demandas ou como priorizar e implementar essas agendas � Diversas são as áreas cujas políticas participativas dizem respeito às decisões das outras áreas � Passo principal a ser dado: integração das políticas participativas, no nível federal
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